A arte de viver e ser feliz através das pequenas coisas da vida
1.
2. Eu sempre observei as paisagens da vida através de minhas janelas.
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta
do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava
pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da
mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era
criança e achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me completamente
feliz.
Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal
oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas
flores? Quem as comprava?
3. Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve
existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de
alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma
ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde
uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore,
numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de
crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e
mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num
idioma difícil.
4. Mas as crianças tinham tal impressão no rosto, e às vezes faziam com as
mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório,
imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que
parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase
seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia
morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde, e, em
silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não
era uma rega; era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não
morresse.
5. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que
caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do
ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Veja.
Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no
seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
6. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Este texto poético, abordando sensações e sentimentos individuais sobre
detalhes de pequenos eventos do dia a dia, é de autoria da escritora
Cecília Meireles.
“É preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim”. Nesta frase está
resumida a lição mágica que abre as portas da sensibilidade para que
vejamos, com os olhos de ver, as coisas e as pessoas em sua essência.
7. Essa página, ela nos fala da arte de viver e da arte de ser feliz. Se
analisarmos bem o texto, fica impossível nós não fazermos um paralelo
dele com a Doutrina Espírita, porque o Espiritismo tem aberto para todos
nós inúmeras janelas. O conhecimento da Doutrina Espírita amplia para
nós os nossos horizontes de entendimento. Abriu para nós a janela da
compreensão, ampliando nossos conhecimentos. Esta doutrina nos
permite enxergar além dos horizontes materiais. O Espiritismo é, sem
dúvida alguma, bênçãos, novos caminhos à nossa frente. O propósito
desse PPS é fazer refletir essas questões: como o Espiritismo tem
influenciado nossas vidas;
8. Como a doutrina tem aberto para nós janelas de novas possibilidades,
permitindo-nos pensar de maneira diferente, ver as coisas de modo
diferente, agir de forma diferente. Por isso, nós vamos recorrer a três
conceitos muito importantes na existência, para que possamos, juntos,
refletir como o Espiritismo nos auxilia a mudar a maneira de ver,
entender, essas questões da vida. Vejamos, primeiramente, a questão da
existência; o que significa para nós viver aqui na Terra. Há aqueles que
dizem que viver aqui neste orbe é sofrer. Sendo a Terra um mundo de
provas e expiações, viver aqui é caminhar por um caminho de pedras, de
espinhos. Viver na Terra é derramar lágrimas.
9. Essa é a opinião dos pessimistas; daqueles que não conseguem enxergar
nenhuma alegria na existência. A vida no nosso planeta não é como
pretendem os pessimistas, somente dor e tristeza. A vida nos oferece
muito mais. Se de um lado os pessimistas afirmam que viver é sofrer, no
outro extremo existem os homens que criaram a ilusão a respeito da vida.
Para estes a vida significa gozar, beber na taça dos prazeres, todos os
instantes. Para eles só tem sentido se eles estiverem aproveitando
intensamente a existência. Passam pela vida como se estivessem
deslizando. Para eles a vida significa um passeio turístico, quando
insistem em dizer que querem aproveitar a vida.
10. De um lado os pessimistas, afirmando que viver é sofrer. Do outro
extremos as criaturas iludidas, acreditando que a vida só tem sentido
quando temos prazer. O Espiritismo vem ao nosso encontro; abre a janela
do entendimento e nos explica: nós somos Espíritos; saímos das mãos do
Criador, simples e ignorantes. Deus na sua grandeza nos oferece essa
senda evolutiva, esse caminho de experiências. Cada existência, uma
nova conquista, um novo aprendizado para a nossa meta, a perfeição, a
plenitude, a conquista do Reino dos Céus. Para a Doutrina Espírita, nós
não somos apenas o corpo. O corpo é o veículo da alma, que é apenas um
instrumento de uma manifestação.
11. A vida na Terra passa a ter um significado muito importante. Viver
significa receber da bondade divina uma abençoada oportunidade de
crescimento, de aprendizado. Então, a vida não é somente tristeza; a vida
não é somente prazeres. O Espiritismo diz que a vida é todo esse
complexo maravilhoso. Viver na Terra é receber uma grande oportunidade
de crescimento e de adquirir novos conhecimentos. A Doutrina Espírita
amplia a nossa visão, e a vida na Terra, do berço ao túmulo, passa a ter
para nós um sentido muito maior.
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br