O documento descreve a relação do autor com o mar e como ele o vê como uma fonte de purificação e felicidade. Ele encontra um homem sábio que explica o significado espiritual da água e como ela representa as emoções humanas. A partir daí, o autor passa a se sentir conectado com as águas do mar e a vê-lo como um companheiro que o ajuda a sonhar e viver.
1. Água – Fonte de felicidade
O mar foi algo que sempre apreciei, uma forma de vida invulgar; a
água cristalina, aquela simplicidade. Quando lá vou, consigo entrar dentro
do meu próprio ser, lavar-me por dentro, limpar as más influências. Se
calhar, é por isso que eu vou lá com tanta frequência. Há pessoas negras
por dentro, que respiram o ar que o demónio respira. Para mim, nadar entre
a inocência do fundo do mar é como purificar o meu interior, retirando,
assim, os desprezíveis comentários dessas pessoas. Por vezes, sinto a falta
de um “alguém” que me possa compreender.
Um dia, estava eu numa praia com falésias íngremes e areia fina e
sinuosa quando encontrei um homem, já de certa idade, sentado à beira-
mar, que, de alguma forma, me fez aproximar dele. Tomou a iniciativa e
interpelou-me:
– Não te sentes incompleto? Não sentes um vazio? Ouve, dentro de ti
existe um elemento que, provavelmente, já conheces, mas não sabes o seu
verdadeiro significado – a água.
Perplexo, ouvia o homem, atenta e cautelosamente.
– Para além de ser um bem essencial à vida no Planeta Terra, é ainda
um elemento espiritual. É fonte de vida e regeneração. É pura e
mensageira. Tenta procurar o teu lado sentimental e compreensivo, pois é o
que a representa. Sempre que entras na água do mar, estás a entregar-te ao
teu próprio destino. As ondas representam os movimentos das tuas
emoções. Porque é que será que elas estão sempre agitadas? Há algum
ódio, rancor, angústia no teu “ser”?
Fechei os olhos e, quando os abri, senti que estava preparado para o
encontro com a realidade que é a vida. Ergui-me, espreguiçando, e sorri.
Este foi o modo como consegui expressar o meu agradecimento àquele
grande e nobre homem. Entrei para o princípio do mar, mas não encontrei o
fim, apenas descobri a felicidade. Até ouso dizer que, a partir daquele dia,
me comecei a sentir como um ser descendente das águas do mar…
É tão doce e ternurento como uma balada de mãe e, para torná-la breve,
leve e suave, é absolutamente necessário pousar um momento em nós, em
mim… Não só o olhar, mas também o pensamento e, ao prolongar esse
momento, conseguir deixar-me entregue ao meu rumo já predestinado,
lembrando-me das águas vivas, senhoras do meu reino azul. Águas que
transbordam alegria e vida, pelo que é preciso deixar de parte a turbulência
e as tempestades. Nenhuma mente as aprecia e nenhuma água as quer...
Vejo uma luz direita ao céu, o meu céu interior que me dá a
oportunidade de abandonar o passado e navegar em águas tranquilas,
verdadeiras, de paz, de um azul tão genuíno que me permite compreender o
que são realmente. Por vezes, penso que gostava de conhecer melhor as
2. pessoas que me rodeiam, gostava que todos fossem límpidos como a água
do mar, mas não podem, porque são humanos e os humanos cometem
erros.
Como era, é e continuará a ser a água pura que Deus criou para o
Homem... O H2O formado por dois átomos de hidrogénio e um de
oxigénio, representando apenas um: a vida, com dois lugares no amor e um
na dedicação. Esta é uma ideia que me leva a crer que Deus, para criar a
água, teve ajuda de uma energia e de um brilho que demonstram que,
embora os planetas estejam separados, cada um no seu canto,
simultaneamente estão aliados por uma força. Essa força é a gravidade,
também conhecida como união. E é com união, com vivacidade, com
paixão que eu atribuo todos os dias da minha curta vida ao mar, o meu
companheiro autêntico que me ajuda a tomar uma decisão, a sonhar, a
viver… De uma coisa tenho a certeza: acima de tudo, o mar é fonte de
mistérios, algo que nunca eu nem ninguém teremos acesso, um elemento
que jamais dominaremos.
Ana Rita Coelho
Mariana Passarinho
Pedro Botas