2. Eu sempre observei as paisagens da vida através de minhas janelas.
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na
ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo
costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o
céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no
ar. Eu era criança e achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me
completamente feliz. Houve um tempo em que a minha janela dava para
um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que
sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as
tinham criado?
3. E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais
criança, porém a minha alma ficava completamente feliz. Houve um
tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta
mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E
contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a
ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma
difícil Mas as crianças tinham tal impressão no rosto, e às vezes faziam
com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do
auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia
completamente feliz.
4. Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que
parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase
seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia
morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde, e,
em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega; era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim
não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava
completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em
flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para
a escola.
5. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos,
sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas
no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de
Lope de Veja. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo
está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto
completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades
certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não
existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
6. Este texto poético, abordando sensações e sentimentos individuais sobre
detalhes de pequenos eventos do dia a dia, está no livro “Escolha seu
sonho”, de autoria da escritora Cecília Meireles.
“É preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim”. Nesta frase está
resumida a lição mágica que abre as portas da sensibilidade para que
vejamos, com os olhos de ver, as coisas e as pessoas em sua essência.
Esta página nos fala da arte de viver e da arte de ser feliz. Quando nos
deparamos com este texto, fica impossível não fazer um paralelo com a
Doutrina Espírita, sim. Porque o Espiritismo tem aberto para todos nós
inúmeras janelas.
7. O conhecimento da Doutrina Espírita ampliou para nós os nossos
horizontes de entendimento. O Espiritismo, portanto, abriu para nós as
janelas do entendimento, descerrou para nós as janelas da compreensão,
ampliando os nossos horizontes. A doutrina nos permite enxergar além
dos horizontes materiais. O Espiritismo é sem dúvida bênçãos, caminhos
novos a nossa frente. O nosso propósito nesse trabalho é refletir
exatamente nessas questões. Como o Espiritismo tem influenciado a
nossa vida. Como a doutrina tem aberto para nós janelas de novas
possibilidades, induzindo-nos a pensar de maneira diferente; ver as
coisas de forma diferente; agir de forma diferente. Nós vamos então
recorrer a três conceitos muito importantes na existência, para possamos
juntos refletir.
8. Como o Espiritismo nos auxiliou a maneira de ver, entender essas
questões da vida. Vejamos primeiramente a questão da existência. O que
significa para nós viver aqui na Terra? Há aqueles que dizem que viver
aqui neste orbe é sofrer. Sendo a Terra um mundo de provas e expiações,
viver aqui é caminhar por um caminho de pedras, de espinhos. Viver na
Terra é derramar lágrimas. Esta é a opinião dos pessimistas, daqueles que
não conseguem enxergar nenhum prazer, nenhuma alegria na existência.
A vida no nosso planeta não é como pretendem os pessimistas, somente
dor e tristeza. A vida nos oferece muito mais. Se de um lado os
pessimistas afirmam que viver é sofrer, no outro extremo existem os
homens iludidos, que criaram uma ilusão a respeito da vida.
9. Para estes, a vida significa gozar, beber na taça dos prazeres todos os
instantes. Para eles a vida só tem sentido se eles estiverem aproveitando
intensamente a existência. Então, passam pela vida como se estivessem
deslizando de patins. Para eles a vida significa um passeio turístico, onde
eles insistem dizendo que querem aproveitar a vida. O Espiritismo vem
ao nosso encontro e abre janelas de entendimento, e nos explica: nós
somos espíritos, saímos da mão do Criador, simples e ignorantes. Deus
na sua grandeza nos oferece essa senda evolutiva, esse caminho de
experiências. Cada existência é um passo à frente, cada existência uma
nova conquista, um novo aprendizado. A nossa meta é a perfeição, a
plenitude, a conquista do reino dos céus.
10. Para a Doutrina Espírita, nós não somos apenas o corpo; o corpo é o
veículo da alma, é apenas um instrumento de manifestação. Nós somos
Espíritos. A vida na Terra passa a ter um significado muito importante.
Viver significa receber da bondade divina uma abençoada oportunidade
de crescimento, de aprendizado. Então a vida não é somente tristeza; a
vida não é somente prazeres. O Espiritismo nos diz que a vida é todo
esse complexo maravilhoso. Viver na Terra é receber uma grande
oportunidade de crescimento e de adquirir novos conhecimentos. A
Doutrina Espírita amplia a nossa visão. Então a vida na Terra, do berço
ao túmulo, passa a ter um sentido muito maior. Vejamos o significado da
dor, outro conceito importante para a nossa existência.
11. O que significa o sofrimento para nós? Como nós compreendemos a dor?
Há quem diga que a dor é castigo de Deus; fulano está sofrendo porque
Deus está castigando. Mas será que Deus castiga? João, o evangelista,
define o Criador com uma só palavra, no seu Evangelho: Deus é amor.
Ora, quem ama não castiga; quem ama, abençoa; quem ama, oferece
nova oportunidade. Então Deus não pode castigar os Seus filhos. Mas se
não é Deus quem nos castiga; se a nossa dor não tem causa nesse castigo
divino, onde a causa do nosso sofrimento? Quase sempre o homem quer
encontrar o culpado pra sua dor. Se não é Deus quem está nos
castigando, então nós sofremos por causa do outro. Eu sofro porque o
outro me faz sofrer.
12. O Espiritismo, nesse particular, abre para nós painéis grandiosos para o
entendimento da vida, porque ele nos apresenta a justiça divina,
afirmando que Deus é amor, explicando que nós sofremos não porque os
outros nos fazem sofrer. A causa dos nossos padecimentos não está no
próximo, por incrível possa parecer, o homem sofre exatamente porque
ele cria esse padecimento, E, aí, nós nos lembramos de Jesus que, há
mais de 2000 anos, já nos deu o entendimento dessa questão, a respeito
do sofrimento, quando Ele narra para nós a parábola da ovelha
desgarrada. Vejamos a narrativa do Mestre: Havia um pastor que estava
conduzindo um rebanho de ovelhas para um aprisco de segurança. A
caminho, uma das ovelhas se desgarrou e se afastou do rebanho.
13. O pastor, sempre atencioso, foi ao encontro da ovelha desgarrada e a
trouxe para o rebanho. Passa-se algum tempo, e novamente a ovelha se
afasta, vai mais longe, cai numa furna e se fere. O pastor, sempre zeloso,
vai ao encontro da ovelha, percebe que ela está ferida, não a conduz,
coloca-a sobre seus próprios ombros, aliviando seu cansaço e estresse
por estar perdida, e a traz novamente para a segurança do rebanho. A
jornada prossegue, e mais uma vez, a ovelha se desgarra, e dessa vez vai
longe, muito longe. Então, o pastor não podendo deixar o rebanho
sozinho, manda o cão ir em busca da ovelha perdida. O cão farejador
encontra a ovelha, avança sobre ela, usa de violência, força, e a ovelha
volta para o rebanho.
14. A imagem é perfeita. Jesus é o pastor; a Humanidade é o rebanho; nós
somos as ovelhas. E o Senhor está nos conduzindo por um caminho
seguro. A mensagem do Evangelho é uma diretriz segura para as nossas
almas, para nos conduzir ao aprisco de Deus. Porém, muitas vezes nós
somos aquela ovelha que saiu do caminho traçado, da orientação segura,
e nós nos afastamos. A bondade de Jesus vai e nos resgata indicando
novamente o caminho seguro. Novamente nos afastamos, erramos,
caímos, nos ferimos, e a bondade de Jesus nos recolhe, nos sustenta, e
nos mostra novamente a oportunidade pelo caminho seguro. Mas, muitas
vezes nós nos afastamos desse roteiro seguro, e vamos tão longe, tão
longe, que não é Deus que se esquece de nós, nós é que nos esquecemos
Dele. Então, a vida pede que um cão vá nos buscar.
15. O cão é a simbologia da dor. Essa mesma mensagem da parábola está
contida numa questão de O Livro dos Espíritos. Naturalmente, com
outras palavras, mas o sentido é o mesmo. Questão 614: Que se deve
entender por lei natural? “A lei natural é a lei de Deus. É a única
verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou
deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta”. Daí porque os
Espíritos afirmarem que o sofrimento tem causa em nós mesmos. O
Evangelho Segundo o Espiritismo afirma: Causas atuais e causas
anteriores das nossas aflições, mostrando sempre que a dor é uma
consequência natural do nosso afastamento da lei divina. O sofrimento,
portanto, não é como se diz castigo de Deus, e não é causado por outrem.
O sofrimento é criado por nós mesmos.
16. Muitas vezes a vida fala para nós a linguagem do amor, e nós não
ouvimos; a vida fala novamente a linguagem do amor e nós
permanecemos surdos. Então a vida fala a linguagem da dor, e, aí, nós
aprendemos o que precisamos aprender na vida, embora de uma maneira
mais difícil. Então a dor não é um processo punitivo como muitas vezes
se pensa; a dor é um processo educativo. A dor é a oportunidade de
aprendermos a lição que a vida está nos falando. A dor existe como
consequência dos nossos equívocos no presente e no passado. Portanto,
quando a dor surgir na nossa vida, nós precisamos ter o que a Doutrina
Espírita chama de fé raciocinada; nós precisamos tirar da dor o melhor, a
lição que precisamos aprender. Nós não podemos nos colocar na posição
de vítimas, de sofredores.
17. O Espiritismo então vem e renova para nós o conceito de dor. O
sofrimento tem causa em nossas atitudes. Toda vez que nos afastamos da
lei divina criamos o mecanismo do sofrimento, e Deus vai se valer desse
mecanismo para nos despertar para as lições que a vida precisa nos
oferecer. Vejamos finalmente um outro conceito na existência; o conceito
de felicidade, O que significa felicidade para nós? Há aqueles que dizem
que felicidade não existe, que é uma fantasia, uma ilusão. Há outros que
afirmam que a felicidade existe, sim. Porém, essa tal felicidade é só para
os outros, pra ela nada. Qual o nosso conceito de felicidade? A Doutrina
Espírita amplia para nós esse conceito de felicidade.
18. O Espiritismo nos diz que felicidade não está em algum lugar; que
felicidade não se adquire no supermercado; que felicidade não está
também em uma pessoa. A felicidade é um estado de espírito; é uma
maneira de ver as coisas da vida. Dessa forma, nós começamos a
entender essas almas nobres que são felizes, apesar de. Felicidade é uma
conquista íntima. Felicidade é um estado espiritual. Muitos têm o
conceito equivocado de que felicidade é algo só para depois da morte, só
depois que desencarnar. Mas a felicidade não está na vida física nem na
dimensão espiritual. A felicidade depende de nós. O indivíduo que diz eu
sou infeliz é porque ele não está contente com a felicidade possível. Ele
quer a felicidade impossível.
19. Há uma lenda oriental muito interessante, que trata exatamente dessa
nossa insatisfação para com as alegrias da vida, ela diz assim: havia um
mestre que, certa vez, passando por um caminho, encontrou um jovem
muito angustiado, muito infeliz. O mestre observou aquele rapaz e,
tentando reanimá-lo, ajuda-lo, disse assim para ele: jovem, você está
vendo essa pedra? Apontando para um calhau a sua frente. Sim, mestre,
estou vendo. O mestre então apontou o dedo indicador para ela e a pedra
se transformou em uma joia preciosa. O jovem pegou aquela
preciosidade nas mãos, e ficou feliz. O mestre então, satisfeito, foi
embora. Passado algum tempo, o mestre passou novamente por aquele
caminho; encontrou aquele mesmo jovem, e ele estava insatisfeito e
infeliz.
20. E o mestre para reanima-lo disse assim: jovem, você está vendo aquela
rocha? Sim, mestre, estou vendo. Então o mestre novamente apontou a
dedo indicador para o pedregulho, e ele ficou todo ornamentado de
pedras preciosas. O jovem então abraçou aquele tesouro, ficou vibrante e
feliz. O mestre se foi. Passado mais algum tempo, o mestre, no mesmo
caminho, encontrou aquele jovem, outra ves insatisfeito e infeliz com a
vida. Mais uma vez o mestre o atendeu, dizendo assim: Jovem, você está
vendo essa areia a nossa volta? Sim, mestre. Então o mestre novamente
apontou o dedo indicador e a areia se transformou em ouro em pó. Então,
de tanta felicidade, o jovem jogava aquela poeira dourada para cima,
estava feliz.
21. O mestre se foi. Passado mais algum tempo, o mestre passando por
aquele caminho, encontrou o jovem novamente infeliz, lamentando-se e
sofredor. Aí, o mestre mudou o diálogo e disse assim: jovem, eu me
lembro que três vezes eu passei por aqui e nessas três vezes eu tentei te
estimular, e você continua reclamando, lamentando que é infeliz. Então
me diga, o que você quer para ser feliz? O jovem levantou os olhos
rapidamente e respondeu assim para o mestre: a mestre, eu quero o seu
dedo.. A nossa velha insatisfação. O jovem não estava feliz com os
presentes que recebeu. Ele não ficou feliz com a felicidade que estava à
volta dele. Ele estava querendo a felicidade impossível. O Espiritismo
diz que a felicidade está dentro de nós.
22. Felicidade é uma decisão íntima, particular, depende de cada um de nós.
Por isso, é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim, tão belas.
Nesta frase está resumida a lição mágica que abre as portas da
sensibilidade para que vejamos, com os olhos de ver, as coisas e as
pessoas em sua essência. Encerramos este trabalho com a lúcida
ponderação de Raul Teixeira, que nos orienta que: “Podemos ser felizes,
na Terra, sem esperar a felicidade no reino dos céus, depois da morte,
porque aprendemos que a felicidade maior não é propriamente aquela
que apenas nós vivenciamos, mas aquela que experienciamos, doando-
nos aos outros”.
23. Muita Paz!
Visite o meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é
levar as pessoas a uma reflexão sobre a vida.
Leia Kardec! Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!
O amanhã é sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!