Este documento discute a natureza humana e como o homem se relaciona com o mundo e o tempo. Ele argumenta que o homem se diferencia dos animais por sua inteligência e capacidade de cultura, que lhe permite adaptar o meio ambiente a si mesmo ao invés de ser rigidamente adaptado a um habitat específico. Também discute como o homem experiencia o tempo de forma única, tendo consciência de sua própria mortalidade.
4. Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar a relação entre o homem e a
cultura escrito com base em um estudo antropológico. O livro no qual esse
trabalho toma se baseia é Antropologia Filosófica de Edvino Aloisio Rabuske.
Edvino nasceu em Cerro Largo, Rio Grande do Sul, em primeiro de
novembro de 1932. Licenciou-se em filosofia pela UNISINOS (São Leopoldo) e
pela UFRGS (Porto Alegre). Fez doutorado em filosofia na Universidade de
Munique, na então República Federal Alemã, concluído em 1977. Iniciou-se no
magistério na UNISINOS, em 1963, passando posteriormente à PUCRS, onde
coordenou o curso de pós-graduação em filosofia (1986-88) e é professor titular
desde 1989.
O trabalho será dividido em duas partes. A primeira será focada no que é
o ser humano e suas relações interpessoais e com o meio externo. A segunda
será uma análise sobre um “ser de cultura”.
Como pontapé inicial, é necessário dizer as primeiras percepções de o
que é o Homem? Essa pergunta, de cunho filosófico tem várias interpretações
e um leque de possibilidades para uma resposta. Existem diversos pontos de
vista sobre a questão do Homem como um ser espiritual, animal e/ou cultural.
Mas até onde essas reflexões nos levam?
Biologicamente, o que é o Homem? Religiosamente, o que ele é? Em
diversas áreas no qual se pode estuda-lo, as respostas serão diversas e
nenhuma será uma resposta exata, pois assim como o meio onde ele habita,
que está em constante mudança, e o Homem também está; e olhá-lo através
de uma única vertente é limitar as respostas, cujas mesmas acreditamos ser
verdadeiras.
Aqui não será respondida essa questão do que é o Homem, mas sim
apresentar reflexões do Homem imerso na cultura e nisso suas características
que o difere dos demais animais e o torna um ser único.
5. Humano, Homem, Pessoa.
“Mesmo se o universo aniquilasse o homem, este ainda seria mais nobre
do que aquilo que o mata, porque sabe que morre; o universo não sabe. O
pensamento é, portanto, a nossa suprema dignidade” (PASCAL).
Uma das grandes características que define o homem, sem sombras de
dúvidas, é a sua inteligência. Mas a que se deve ao homem sua capacidade de
inteligência? Foi um presente divino? Uma ação alienígena? Ou uma
intervenção do meio ambiente? Mas o que diferente o cérebro do homem dos
demais animais? O que nos torna tão capacitados em relação aos demais
seres que habitam nosso planeta?
Uma das diversas coisas que nos fazem agir como seres pensantes são
nossas tomadas de decisões por base do conhecimento. Um animal não tem
tais experiências como o ser humano que busca diferentes experimentações
durante a vida. Os animais se limitam a ações monótonas. Vamos analisar, por
exemplo, a borboleta monarca. Um animalzinho que começa sua vida como
lagarta, alimenta-se e se transforma em casulo. Quando este eclode, ela
transforma-se em borboleta e depois começa sua jornada migratória. Ela sai do
norte dos Estados Unidos e do Sul do Canadá e percorre todo um trajeto até
chegar à região central do México, onde procriam. As borboletas monarcas
fazem esse trajeto, ininterruptamente todos os anos quando é chegado o
inverno nos países anglo-saxões.
“O animal está preso a determinadas
condições de vida: aprende a realidade sob
determinados pontos de vista, fixos pela
respectiva espécie, e reage de modo
instintivo, também fixado pela espécie.
Trata-se duma limitação qualitativa e
estrutural e não necessariamente espacial”.
(RABUSKE, 1986, página 24)
Com o homem é diferente. Ele não nasce com esse conhecimento pré-
programado. Ele adquire através de vivências.
6. O homem é um ser nu, com poucos pelos, nenhum instrumento agregado
ao corpo, como unhas nos ursos ou as dentições dos tubarões. Ele é um ser
desprovido de defesas próprias, porém ele teve de se reinventar, criar formas
de defesas.
“O Homem não possui um aparato instintivo
que lhe desse uma perfeita adaptação ao
meio ambiente. Os órgãos e membros do
corpo humano não são especializados. A
ausência de instintos seguros é
compensada pela capacidade cultural: o
homem não está ajustado ao meio
ambiente, mas ajusta criativamente o meio
ambiente a si mesmo. Compensa a
fraqueza dos órgãos pela construção e
utilização de instrumentos”. (RABUSKE,
1986, página 34)
Nesse ponto ao qual chegamos agora se vê uma semelhança para com o
animal dito irracional. O homem precisa se defender e com essa carência de
meios próprios de defesa, ele precisa permanecer vivo e transcender sua
espécie. Então, como é o homem no mundo? E sua atuação no meio externo,
em relação ao seu cotidiano de vivência? Como ele pode estar inserido no
meio ambiente e modifica-lo?
A forma como o homem se relaciona é ditado pelo meio em que vive. Mas
ele se adapta a outros lugares, diferente dos animais que são totalmente
integrados em um tipo de bioma. Seu corpo é formado para aquilo, suas
adaptações são específicas para aqueles tipos de regiões. Já o homem
consegue se adequar em diferentes lugares; em diferentes situações.
O homem é um ser que está no mundo e está com os outros seres. O
mundo é uma questão filosófica, pois para uma pessoa que vive em uma
cidade da China, ela possui uma visão de mundo diferente de outra que mora
na África. Mas essa conexão para com o mundo existe a interconexão para o
outro e isso que faz o homem pertencer a determinado lugar e somente com
relação com outros que o Homem está imerso na Cultura.
7. O Homem e o tempo
O Homem está ligado ao tempo. Todas as suas manifestações em todas
as décadas são fichadas em anos, dias, meses. As transformações no qual
podemos notar seja ela tanto na natureza quanto no meio social é vista através
do tempo e esse tempo muitas vezes está manifestado de maneiras discretas.
Envelhecemos ou nos cansamos se trabalharmos muito prolongadamente
e não podemos fugir à necessidade de ser realistas com respeito ao relógio e
ao calendário. O homem morre, como qualquer outra forma de vida, mas é o
animal que o sabe e pode prever a própria morte.
Mas isso não significa que o tempo seja quantitativo e que possa ser
ignorado. Só o fato de homem ter a noção de que vai morrer já é uma
demarcação temporal.
A cultura está muito atrelada a isso. Querer enterrar ou cremar ou jogar
os corpos mortos em rios é uma atitude cultural que se segue através do
tempo. A cultura nada mais é que uma forma demonstrativa de pensamentos e
ações adquiridos por um povo ao longo dos anos e de acordo com o local de
vivência.
O exemplo mais óbvio de como tememos a passagem do tempo é o medo
de envelhecer. Mas esse medo é, em geral, simbólico do fato de que sua
percepção cronológica está sempre os forçando a defrontar-se com a questão:
você está vivo, evoluindo ou apenas tentando evitar a decadência e a morte?
O mesmo é exato em relação à nossa idade cronológica. O importante
não é ter vinte, quarenta ou sessenta anos e sim preencher a própria
capacidade de opção consciente ao seu particular nível de desenvolvimento. É
por isso que uma criança sadia aos oito anos – conforme qualquer um pode
observar – é pessoa mais completa que um adulto neurótico de trinta anos. A
criança não é mais amadurecida no sentido cronológico, nem pode realizar
tanto quanto um adulto, ou cuidar tão bem de si mesma, porém é mais
amadurecida, se julgarmos a maturidade pela sinceridade da emoção,
8. originalidade e capacidade de fazer opções em assuntos adequados ao seu
estágio de desenvolvimento.
Por fim, o Homem tem noções de diversas ciências, sendo essas
integradas em sua vida. Mas o que mais lhe importa, atualmente, é a frieza de
uma moeda. Ainda temos muito que evoluir para podermos dizer “eu sou um
ser consciente”.