O texto descreve a retrospectiva fotográfica "Lar Fantasma" da artista palestiniana Ahlam Shibli, exibida em três países entre 2013-2014. A última série da exposição, intitulada "Morte", apresenta 68 fotografias tiradas em Nablus e questiona os limites entre arte e documentação ao retratar a memória do ausente. As imagens transportam o espectador para os espaços íntimos e coletivos do povo palestiniano.
2. Gaza não é a mais bela cidade. O seu litoral não é mais azul do que o das
outras cidades árabes. As suas laranjas não são as mais bonitas da bacia do
mediterrâneo.
Gaza não é a mais rica cidade. Não é a mais elegante ou a maior, mas
iguala a história de toda uma pátria, porque é a mais feia, pobre, miserável
e violenta aos olhos dos inimigos.
Porque, entre nós, é a mais capaz de perturbar a disposição e o conforto do
inimigo. Porque é o seu pesadelo. Porque é minada por laranjas, crianças
sem infância, velhos sem idade e mulheres sem desejos.
Por causa disto tudo é a mais bela, a mais pura e a mais rica entre nós e a
mais digna de amor.
Cometemos uma injustiça quando nós perguntamos: O que a tornou um
mito? Se tivéssemos dignidade, quebraríamos todos os nossos espelhos e
gritaríamos ou praguejaríamos se recusássemos de nos revoltar contra nós
próprios.
Cometemos uma injustiça contra Gaza quando a glorificamos, porque
tendonos encantado levarnosia ao limite da espera e Gaza não vem até
nós. Gaza não nos liberta. Gaza não tem cavalos, aviões, varinhas mágicas
ou escritórios nas cidades capitais.
Gaza libertase a si mesma dos nossos apanágios, nossa linguagem e, ao
mesmo tempo, dos nossos invasores. Quando a encontramos – num sonho
– talvez não nos reconheça, porque Gaza nasceu do fogo, enquanto nós
nascemos da espera e do grito por casas abandonadas.
11 a 19 de Abril: 15º CNP em Damas.
24 de Julho: cessarfogo israelopalestiniano no sul do Líbano.
7 de Agosto: anúncio do plano Fahd.
6 de Outubro: assassinato de Anouar elSadate.
25 de Novembro: cimeira árabe em Fés. Desentendimentos sobre o
plano Fahd.
1 de Dezembro: início da administração civil israelita na Cisjordânia e
em Gaza.
14 de Dezembro: Israel anexa os Golãs sírios.
18 de Março: dissolução da municipalidade de elBireh.
25 de Março: os presidentes das câmaras de Naplouse e Ramallah são
destituídos.
30 de Abril: destituição do presidente da câmara de Anabta.
4 e 5 de Junho: bombardeamentos da aviação israelita contra Beirute e
o sul do Líbano.
6 de Junho: início da invasão terrestre do Líbano pelas forças israelitas.
6 de Julho: destituição do presidente da câmara de Jenine.
9 de Julho: destituição do presidente da câmara de Gaza.
25 de Julho: Yasser Arafat assina em Beirute um documento em que
aprova «todas as resoluções das Nações Unidas» sobre a Palestina.
26 de Julho: dissolução da municipalidade de Qalqilya.
21 de Agosto a 3 de Setembro: evacuação dos combatentes
palestinianos de Beirute oeste.
1 de Setembro: plano Reagan sobre o Médio Oriente.
9 de Setembro: plano de paz árabe adoptado na cimeira de Fés.
14 de Setembro: o presidente libanês, Béchir Gemayel, é assassinado
num atentado.
15 e 16 de Setembro: Yasser Arafat é recebido em Roma, no Vaticano,
por João Paulo II.
16 a 18 de Setembro: massacres nos campos de refugiados
palestinianos Sabra e Chatila, em Beirute.
20 de Setembro: o rei Hussein propõe uma confederação jordano
palestiniana.
Silêncio por Gaza
Mahmoud Darwish
35
1982
1981
Silêncio por Gaza.................................................Mahamoud Darwish........2
O lar da Nakba ou ver as fotografias de AHlam Shibli...Ana da Palma........3
Nakba, o começo............................................................Pedro Pereira........6
Nablús, bastion de la resistencia popular palestina....Carlos de Urabá......10
Não é a televisão..........................................................................Toni......16
A arquitectura é uma arma.............................................Jorge Delmar......17
Resistir à Nakba...........................................................Joseph Massad......20
Cronologia de uma resistência......................................................GAP......302
Índice
GAP
4. da fotografia no campo da teoria, questionando a obra de arte e o registo
documental, misturando as suas respectivas sintaxes. Morte, o título da última
série, ecoa no título da exposição Lar Fantasma, tanto pelas palavras como pelo
que é representado. Concentrandome nas palavras «fantasma» e «morte» é fácil e
óbvio regressar aos primórdios da fotografia como retrato exacto do real, contudo,
apesar de todos os espectros indexados ao carácter deíctico da fotografia, aqui o
retrato em pose inserido no quotidiano é vida, sobretudo na última série: Morte.
Não é o retrato de uma pequena vida qualquer. É o rasto fantasma destas vidas
mortas ou encarceradas a bater no rosto da minha humanidade. Sendo uma
humanidade partilhada, as noções de arte e identidade que muitas vezes, no
campo da arte palestiniana, se têm confinado a aspectos regionalistas, são
ultrapassadas pela mise en abîme, a narrativa visual encaixada, em cada
fotografia. Éme dado a ver o que é visto no espaço do quotidiano palestiniano. A
linguagem deíctica é ligeiramente deslocada, tornandose refugiada da sua própria
sintaxe.
Uma casa, um lar, é um espaço íntimo, mas nestas fotografias a noção de lar é
alargada ao espaço social. O espaço colectivo palestiniano encaixa nos seis
princípios adiantados por Michel Foucault (2) e, na actualidade, tendo em conta as
circunstâncias criadas no terreno, pareceme acertado dizer que o espaço colectivo
palestiniano tornouse a heterotopia por excelência (3). As fotografias de Ahlam
Shibli levamme a percorrer ruas, lojas e lares povoados pelas pessoas que os
habitam. Entre interiores de casas e ruas do campo de refugiados de Nablus, o
espaço íntimo é o espaço colectivo onde o corpo palestiniano ausente resiste ao
ser exposto à memória e ao ser continuadamente actualizado.
Reposicionarme diante da última série de fotografias de Ahlam Shibli? Como me
heide posicionar sem interromper o pensamento múltiplo aquele que me leva a
objectar o tratamento visual e político veiculado pelos media dominantes; aquele
que me leva a relembrar a realidade contemplada no terreno, na Cisjordânia, em
2011; aquele que me leva a interligar a História do Médio Oriente, a História do
Ocidente, as culturas, as vidas das pessoas – ou a simples percepção diante da
recepção destas imagens? Impossível. O olhar é múltiplo e já vem contaminado,
carregado de vidas, representações e pequenas percepções. Não quero ver as
imagens de Morte apenas como a expressão artística e política de uma identidade.
Não quero? Mas não posso descontextualizálas, porque a realidade palestiniana é
esse corpo colectivo em contínua Nakba e porque o metatexto que acompanha
cada uma das imagens me impede de não ver neste trabalho o olho de uma
artista, mulher, palestiniana. Três aspectos que a cultura e o pensamento ocidental
regime sírio e as forças progressistas palestinianas.
12 de Abril: eleições municipais na Cisjordânia. Êxito dos simpatizantes
da OLP e dos nacionalistas de esquerda.
6 de Setembro: a Palestina é admitida como 21º membro da Liga árabe.
12 e 13 de Dezembro: o CCOLP decide a favor de um «Estado
palestiniano independente» em Damas.
Janeiro: encontros palestinoisraelitas oficiosos em Paris.
23 de Fevereiro: o chanceler austríaco, Bruno Kreisky, declara que os
responsáveis palestinianos «consideram como um facto a existência do
estado de Israel».
12 a 20 de Março: 13º CNP no Cairo. A OLP pede para participar de
forma autónoma nos esforços de paz no Médio Oriente e reclama um
«Estado nacional independente» para os Palestinianos. Yasser Arafat é
reeleito presidente do CEOLP, de que a FPLP já não faz parte por não
(2) Michel Foucault (2009). Le corps utopique. Les Heterotopies. Europe: Nouvelles Éditions Lign
(3) Consultar a primeira e próxima publicação da Casa Viva: a tradução colectiva do texto Le
corps utopique. Les Heterotopies de Michel Foucault.
33
1977
4
6. sempre adiada que nunca transita para lá do tempo histórico. Passado
mais de um século, para alguns desde 1881, ou revogados 66 anos, se
partirmos de um marco histórico amplamente documentado e registado
nos anais das nações, o povo palestiniano continua numa solidão
premente. Está murado numa imensa solidão mundial espelhandose nos
olhos mudos pasmados diante da nudez das imagens que nos chegam e a
mudez inculcada pela força da palavra retórica em que os argumentos se
nutrem de paradoxos, ou de lógicas retorcidas. Então a nudez desta
linguagem deíctica é como uma pedra aos olhos da humanidade e a
imagem muda do ausente é povoada pelos gestos e os sons do quotidiano.
28 de Fevereiro a 5 de Março: 8º CNP no Cairo.
7 a 13 de Julho: 9º CNP no Cairo. Khaled alFhoum novo presidente do
CNP. Entrada da FPLP e FLA no CEOLP.
13 a 17 de Julho ofensiva final do exército jordano contra as posições
palestinianas em Jerash e Ajloun.
Setembro/Novembro: conferência jordanopalestiniana acerca da
presença dos Fedayines na Jordânia.
15 de Março: o rei Hussein apresenta em Amã o seu projecto de um
Reino árabe unido com duas províncias federadas, a Jordânia
(Transjordânia) e a Palestina (Cisjordânia e Jerusalém Leste); o projecto
é rejeitado pela OLP e pelos Estados árabes.
28 de Março e 2 de Maio: eleições municipais na Cisjordânia.
11 de Abril: 10º CNP no Cairo.
8 de Julho: Ghassan Kanafani, escritor e membro do Comité Central da
FLLP, é assassinado numa explosão.
5 e 6 de Setembro: ataque de Setembro negro contra a equipa olímpica
israelita nos Jogos de Munique; 11 israelitas, 5 palestinianos e um polícia
alemão são mortos.
8 de Setembro: raides israelitas contras as bases e campos de refugiados
palestinianos no Líbano; mais de 200 mortos, maioritariamente civis.
16 e 17 de Setembro: operação israelita no Líbano; mais de 100 mortos.
Outubro: crise do Fatah no Líbano.
27 a 29 de Novembro: conferência dos partidos e movimentos
progressistas árabes em Beirute. Criação da Frente árabe de participação
na revolução palestiniana. Secretário: Kamal Joumblat.
6 a 12 de Janeiro: 11º CNP no Cairo. Criação do Conselho central da
OLP para assegurar a ligação entre o CNP e o CEOLP. O CNP cria a Frente
Nacional Unificada nos territórios ocupados.
3 de Fevereiro: o Rei Hussein aceita a ideia que a autodeterminação
palestiniana possa levar a um estado palestiniano independente.
9 e 10 de Abril: 3 dirigentes palestinianos – Abou Youssef, Kamal Nasser
e Kamal Adouane, são assassinados por soldados israelitas em Beirute.
Maio: enfrentamentos entre o exército libanês e os fedayines.
15 de Agosto: criação da Frente Nacional palestiniana nos territórios
ocupados.
6 a 24 de Outubro: guerra araboisraelita. Embargo sobre o petróleo.
Nakba, palavra árabe cujo significado, catástrofe, designa o êxodo
palestino de 1948, fruto do ataque das forças sionistas. Segundo dados da ONU,
cerca de 800.000 palestinos foram expulsos dos seus lares e das suas terras, entre
1947 e 1948. A ofensiva criminosa sionista, com o objetivo de ocupar e colonizar,
massacrando e eliminando árabes, procedendo a uma limpeza étnica, tal como de
um outro holocausto se tratasse, provocou largos milhares de refugiados.
A ONU, percebendo a situação catastrófica dos refugiados e da necessidade de os
fazer regressar à sua terra, aprovou a 11 de Dezembro de 1948, em Assembleia
Geral, a Resolução 194, a qual seria a primeira de muitas resoluções tendentes a
um acordo para o retorno dos refugiados ou para a compensação pelas perdas e
danos sofridos. Considerando também os descendentes dos refugiados de 1948, a
ONU considera que o número oficialmente de refugiados registados será superior
a 5 milhões, vivendo cerca de 1,5 milhões em 58 campos de refugiados
reconhecidos. Estão espalhados pela Jordânia, Síria, Faixa de Gaza e Cisjordânia,
incluindo Jerusalém Este. Vivem sem infraestruturas capazes, em condições sócio
económicas degradantes e com excesso de densidade populacional.
Nakba surge como contraposição ao holocausto, no sentido de limpeza étnica.
Mais de 80% dos habitantes árabes da região que viria a ser o estado de
Israel, abandonou suas cidades e aldeias. O avanço sionista em Haifa,
(4) Roland Barthes (2002:791). Oeuvres Complètes, V. Seuil: Paris. Tradução minha do original «La vie
est ainsi faite à coups de petites solitudes».
O COMEÇO
NAKBA
Pedro Pereira
6
1971
1972
1973
7. o Fatah aplica a teoria das «bases armadas» na Jordânia.
21 de Março: batalha de Karameh no vale do Jordão.
MarçoNovembro: Georges Habache é detido em Damas. Evadese com
a ajuda de Wadih Haddad.
15 de Abril Yasser Arafat sai da clandestinidade e é nomeado portavoz
oficial do Fatah.
10 a 17 de Julho: 4º Conselho Nacional Palestiniano (CNP) no Cairo.
Adopção de uma nova Carta Palestiniana. Rejeição da resolução 242.
Outono: primeiras bases palestinianas no Sul do Líbano.
1º de Janeiro: declaração dos 7 princípios do Fatah para um «Estado
palestiniano independente e democrático».
1 a 4 de Fevereiro: 5º CNP no Cairo. Os movimentos de guerrilha
tomam controlo da OLP. Yasser Arafat é eleito presidente da CEOLP.
Fevereiro: criação da Frente Democrática e Popular para a Libertação
da Palestina (FDPLP)por Nayef Hawatmeh.
3 de Abril: criação do Comando da luta armada palestiniana (CLAP)
comum a todos os movimentos de guerrilha.
1a 6 de Setembro: 6º CNP no Cairo.
6 de Novembro: apoio público oficial da União Soviética aos Fedayines.
10 de Dezembro: a Assembleia Geral das Nações Unidas reconhece a
existência do «povo palestiniano»
10 Março crise no seio da FPLP e criação da Frente Popular
Revolucionária para a Libertação da Palestina.
27 e 28 de Agosto: reunião extraordinária do CNP em Amã.
Desvio de 3 aviões pela FPLP.
Setembro: conflitos entre os fedayines e o exército jordano.
28 de Setembro: morte de Gamal Abdel Nasser.
13 de Outubro: assinatura do acordo jordanopalestiniano em Amã.
30 Maio a 4 de Junho: 7º CNP no Cairo. Criação do Comité Central da
OLP.
somado ao medo de um massacre, após o ocorrido entre 9 e 11 de Abril de 1948
em Deir Yaassin, pequena vila nas proximidades de Jerusalém onde ocorreu a
matança de mais de 120 civis palestinos desarmados, acrescido do colapso da
liderança palestiniana, originou essa fuga em pânico. Nakba reflete a ocupação e o
extermínio. Representa a força de um estado colonial que rouba e mata, em nome
de uma ideologia nacionalista e fascista, sem qualquer reconhecimento legal
internacional. Não respeita o direito internacional, não só as deliberações da ONU
como olvida a Convenção de Genebra. Israel é um estado fora da lei.
O primeiro governo israelita aprovou uma série de medidas impeditivas do
regresso dos refugiados a suas casas e às suas terras. Durante a Conferência de
Lausanne de 1949, Israel propôs o retorno de 100.000 refugiados à região, não
necessáriamente a suas casas e às suas terras, estando incluídos nestes 100.000 os
25.000 que regressaram sigilosamente e os 10.000 que se juntaram às famílias que
haviam sido separadas. Estas propostas obrigavam à aceitação de um tratado de
paz que passava pelo direito à manutenção do território ocupado e à obrigação
dos estados árabes recolherem os refugiados palestinos. Por razões morais e
políticas, tal proposta não foi aceite.
Os acontecimentos de 1948 são lembrados pelos palestinos, todos os anos,
no dia 15 de Maio, o dia seguinte à comemoração da independência de Israel, no
feriado que ficou conhecido como DIA de NAKBA. Como a memória é quase
sempre revolucionária, em fevereiro de 2010, o knesset, parlamento de Israel,
presidido por um membro do partido fascista likud no poder, aprovou a proibição
de qualquer manifestação no dia 15 de Maio. Afinal têm medo que a própria
verdade histórica se espalhe e possa ser motivo de curiosidade da sua população.
Para o Povo Palestino foi o começo do genocídio NAKBA.
PELA PALESTINA LIVRE E INDEPENDENTE A LUTA CONTINUA
As fronteiras de 1967, internacionalmente reconhecidas, deixam apenas
22% do território da Palestina histórica, divididos entre a Faixa de Gaza e a
Cisjordânia, sob controlo palestino. Desde a guerra de 1967 que Israel ocupa todo
o território. Mais de 40% da Cisjordânia está sob ocupação dos colonatos,
integrando as estradas exclusivas para colonos os muros de separação, os controlos
e bases militares israelitas. Os colonatos israelitas ocupam zonas estratégicas e são
verdadeiros postos avançados da ocupação. O muro da separação é a face mais
visível da anexação na Cisjordânia, variando entre uma estrutura de betão com
cerca de 8 metros de altura e zonas de arame farpado. Tem torres de vigia
espaçadas de 30 a 100 metros ao longo de toda a sua extensão, e uma largura
média de 60 metros. A sua construção tem sido feita à custa da destruição de
730
CRONOLOGIA DE UMA
RESISTÊNCIA
1968
1969
1970
PARTE 2 de 1968 a 1982
8. casas e da expulsão de populações palestinas. Mais de 1.600 Kms de estradas
exclusivas para colonos, ligam os colonatos entre si e fazem parte do muro da
separação. Quando completo, o muro da separação terá mais de 700kms, mais do
dobro da fronteira reconhecida. Vinte e oito comunidades palestinas (125 mil
habitantes) ficam cercados pelo muro, pelo menos por três lados.
Gaza situase na
costa mediterrânica
e tem cerca de 2
milhões de habitantes. A sua área, 364 km2, corresponde a uma área semelhante
ao concelho de Tomar, é uma das mais densamente povoadas do mundo. Como
afirmou a Shad Wadi, no encontro do Ceuta, se alguém atirar uma pedra pelo ar
normalmente acerta na cabeça de alguém. Desde Junho de 2007 que Israel sujeita
Gaza a um ilegal e cruel bloqueio, impedindo a circulação de pessoas e limitando
a um mínimo a entrada de qualquer produto, incluindo bens de primeira
necessidade como água, alimentos e medicamentos. Esta enorme concentração de
palestinos, cercados por tanques por terra e sem outra saída a não ser o mar, com
zona de limitação para a pesca vigiada por fragatas israelitas, não tem perspetivas
de melhoria de vida a não ser a luta como arma justa e libertadora. Sempre que
existe a possibilidade de entendimento entre as forças palestinas, Hamas e OLP, o
exército sionista ataca, bombardeando e matando em avanços terrestres. Foi
assim em 2014, onde o genocídio atingiu mais de dois mil mortos. O povo de
Gaza vive, há muitos anos, como se estivesse numa prisão a céu aberto. É urgente
que levantemos a bandeira deste povo, em nome duma Palestina livre e
independente.
SOMOS CLAROS! NÃO CONFUNDIMOS RELIGIÃO COM SIONISMO
Muita imprensa e muitos comentadores acolitados por alguns partidos, perfilam
demagógicamente pela teoria do conflito religioso. Procuram incutir esse
todos os Palestinianos, de «agrupamento» de todos os judeus do mundo nas suas
colónias, deixao insatisfeito e faz com que o seu projecto seja sempre um projecto
em curso. Se Israel se serviu desta situação para se apresentar enquanto vítima, a
vítima das suas próprias vítimas que se recusam em lhe dar a legitimidade de fazer
delas vítimas, Israel compreende, não só no seu inconsciente, mas também muito
conscientemente que o seu projecto será sempre reversível. A crueldade que
revelou e que continua de revelar para com o povo Palestiniano é directamente
proporcional à sua convicção de que esse povo tem a capacidade de desconstruir as
realizações de Israel e de inverter o seu projecto colonial. O problema para Israel
não é de crer ou de saber que não há um único lugar nas suas implantações
coloniais que não tenha tido uma população árabe, o seu problema vem do facto
que percebe que não há, hoje em dia, um único lugar do seu «Estado judeu»
imaginário, onde não haja uma população árabe «sempre presente» que reivindica
o que é seu. Se a Nakba permanece inacabada, é precisamente porque os
Palestinianos recusamse em se deixar transformar em mankubin.
Que possamos assistir às comemorações desde
ano (2008), não faz com que seja mais um ano
de Nakba, mas mais um ano de resistência à
Nakba. Aqueles que aconselham os
Palestinianos em aceitar a Nakba, sabem que
aceitar a Nakba seria permitirlhe que se
prolongue sem rédeas. Os Palestinianos têm
mais que fazer. A única forma de acabar com a
Nakba, afirmam os Palestinianos, é de
continuar a resistirlhe.
Joseph Massad é mestre de conferências em
história política e intelectual na universidade
de Columbia, New York.
AlAhram/Weekly Publicação n° 897 de 15 a
21 de Maio 2008
tradução: GAP
fotografias: Ana da Palma
8
fotografiadeAndaPalma
29
9. sentimento junto do senso comum, para que ninguém procure uma informação
rigorosa e histórica. Devemos começar por afirmar, tal qual o afirmam os judeus
ortodoxos que, em nome dos seus princípios religiosos, entendem que não existia
qualquer razão para a formação do estado de Israel, pois árabes e judeus sempre
viveram em paz na Palestina, cuidando amigávelmente dos filhos de cada um sem
qualquer impedimento étnico.
O Sionismo é uma ideologia política, com cerca de 100 anos, apoiandose
em príncipios colonialistas e fascizantes. Procurou suscitar apoios apelando a
sentimentos religiosos, patrióticos e racistas, para criar grupos terroristas e
criminosos para iniciar a invasão da Palestina, empurrando para fora das suas
terras os palestinos e matando quem se lhes opunha. Nestes grupos estavam
mercenários bem pagos. Com falsos pretextos de ocupação da terra prometida,
impulsionaram muitas pessoas de origem judaica de todo o mundo a virem para a
Palestina. Não pode haver confusão: não existe qualquer conflito religioso. Não
existe sequer conflito, pois estamos na presença de um processo de ocupação
permanente e diária, de perseguição étnica, e de um genocídio que se arrasta ao
longo dos tempos. O sionismo afirmavase como um movimento colonialista,
predisposto a tomar e colonizar a Palestina. Posteriormente, com o aparecimento
dos movimentos de libertação e a independência de muitos países colonizados, e a
consequente nova ordem internacional condenatória do colonialismo, os sionistas
retiram da sua cartilha o termo e passam a falar de colonatos como se de outra
coisa se tratasse. O partido Likud, extrema direita no poder, tem procurado
recrudescer o sentimento sionista. Os grupos fascistas perseguem não só palestinos
como apoiantes judeus da causa palestiniana. Nas prisões israelitas estão mais de
5.000 palestinos, havendo registos de tortura e relatos da prisão frequente de
crianças. Neste genocídio de 2014, meticulosamente preparado pelas forças
sionistas, o objetivo de limpeza étnica ficou bem expresso no ataque deliberado
contra as escolas da ONU onde se encontravam crianças. Israel e seus apoiantes,
não podem sair impunes de tais crimes.
Tal como pressupõe a nossa Constituição, era dever do governo português
fazêla cumprir quando diz: "Portugal regese nas relações internacionais pelos
princípios (...) do respeito pelos direitos do homem, dos direitos dos povos, da
igualdade entre os estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais (...),
reconhecendo ainda o direito à insurreição contra todas as formas de opressão" art.
7º da CRP. Mesmo a pretensa alegação de terrorismo, cai por terra quando está
pressuposto o direito à defesa e revolta contra o ocupante agressor. Todos fingem
não ver o que se passa, preferindo a cumplicidade criminosa. Apoiemos a
campanha BDS Boicote, Desinvestimento e Sanções pelo fim do apartheid
israelita, pelo fim de linha para os agressores, pelo apoio à vitória do POVO
PALESTINO. Um dia vamos todos vencer!
como lhes diz Israel, não haveria mais expulsões. Tenho que sublinhar que a
insistência sionista a favor de uma autodeslocação não visa apenas os
Palestinianos. Desde a sua criação até hoje em dia, o sionismo e Israel têm sempre
recomendado e continuam a recomendar ao mundo judeu de se autodeslocar
para Israel. Como os Palestinianos, grande parte dos judeus do exterior de Israel
continuam a resistir ao apelo de Israel de autodeslocação. Se Israel já não está em
medida de obrigar os judeus no exterior das suas fronteiras a virem para Israel (o
que fez frequentemente no passado), pode e tem a vontade de deslocar os
Palestinianos, independentemente da extensão da sua resistência.
A RESISTÊNCIA, É AGORA: hoje em dia, a resistência palestiniana está
activa em diversas frentes. Uma das campanhas chave que os Palestinianos em
Israel lançaram recentemente é de obrigar Israel a revogar as suas numerosas leis
racistas. Para esse efeito, um certo número de propostas e documentos já foram
publicados por organizações Palestinianas em Israel. Agora, há que
internacionalizar esta campanha. As Nações Unidas e outros fóruns mundiais
devem estar envolvidos nesta iniciativa para forçar Israel a revogar as suas leis
racistas. Isto não tem nada a ver com a tentativa demagógica de assimilar o
sionismo e o racismo como aconteceu nas Nações Unidas em 1975, aquando de
uma resolução elaborada com chavões esvaziados de conteúdo, pelo contrário,
tratase de demonstrar que Israel é racista pelas suas instituições e que governa
com leis racistas que devem ser revogadas. Os Palestinianos e os seus aliados
também empreenderam uma campanha internacional de desinvestimento e de
boicote a Israel até que cesse de violar o direito internacional pela ocupação
contínua da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e o cessar dos seus permanentes
crimes de guerra contra os Palestinianos. Tratase de outra campanha crucial e que
já teve um certo número de vitórias impressionantes. Isto não significa que o
sofrimento vá parar. Tem sido durante estes últimos anos que o sofrimento dos
habitantes da Faixa de Gaza foi maior, quando Israel os sancionou por terem
recusado o reino de um Israël Palöstinenserrat e dos seus colaboracionistas
Palestinianos impostos na Cisjordânia e que tentaram impor na Faixa de Gaza ao
procurarem em vão a queda do governo Palestiniano democraticamente eleito. Os
crimes de guerra de Israel contra os habitantes da Faixa de Gaza continuam numa
cadência acelerada, mas os habitantes de Gaza não têm outra escolha que de
permanecer vigilantes e de resistir. Mas ao resistirem à Nakba, os Palestinianos
tocam no coração do projecto sionista que pretende que a Nakba deve ser vista
como um acontecimento do passado. Ao resistirem a Israel, os Palestinianos
obrigam o mundo a assistir à Nakba, enquanto acção sempre a decorrer, hoje :
uma acção que, contrariamente às ideias sionistas, é na verdade reversível. Isto é
precisamente o que irrita Israel e o movimento sionista. A incapacidade de Israel
em levar a cabo a sua missão de colonização da Palestina, de expulsão de
928
10. Una de las más nefastas consecuencias que provocó la Nakba y la Naksa fue la
destrucción de la sociedad rural palestina (un genocidio que continúa hasta
nuestros días) Irremediablemente se cortó el vínculo con la madre tierra y sus
fuerzas telúricas. A partir de entonces miles y miles de campesinos se convirtieron
en refugiados o mendigos de la ayuda humanitaria. El modo de vida tradicional se
alteró por completo y poco a poco tuvieron que integrarse a la fuerza en el medio
urbano. Quizás el caso más patético sea el de las tribus nómadas beduinas
obligadas a sedentarizarse perdiendo para siempre su identidad. Hoy tan sólo el
15% de la población Palestina se desenvuelve en el ámbito rural. ¿Qué se puede
esperar de un pueblo despojado de los medios de producción y la soberanía
alimentaria? Nada más que resignarse a depender por completo de la economía
israelí. El Shekel como moneda de cambio es una clara imposición colonial que
dinamiza las relaciones sociales.
Los estudios antropológicos sostienen que la cultura popular se forja en el mundo
campesino. ¿Esa herencia que se transmite de generación en generación puede
echar raíces en el cemento y el asfalto?
No hay más que recorrer los campos para darse cuenta de la abrumadora tristeza
que se palpa en el ambiente. Ya no hay labradores que canten arando la tierra, ni
pastores que toquen el ney arreando los rebaños. Tampoco trinan los pájaros y ni
las abejas liban el néctar de las flores, los árboles frutales sedientos se marchitan.
La palestina idílica tan sólo permanece viva en los recuerdos de lo que fue y ya
nunca volverá.
La tradición oral ha sido reemplazada por los medios de comunicación de masas.
Sobre todo la televisión asume el papel de transmisor de las señas de identidad.
Así se constata al contemplar los enjambres de antenas parabólicas que se
multiplican sobre los techos de las casas y edificios. Al menos la realidad virtual
rompe el bloqueo y los transporta a otras dimensiones más placenteras. Esta noche
se juega el clásico de fútbol el Barça Real Madrid y la gente seguramente caerá
presa del delirium tremens.
Se cumplen 66 años de exilio, 66 amargos años de ausencia y para colmo en
estado de sitio permanente: campos de minas, alambradas, vallas electrificadas,
muros y barreras, checkpoints, asentamientos, cárceles, cuarteles, patrullas
militares…
do direito dos Palestinianos a resistir (resistência
garantida e considerada legal pelo direito internacional)
não visa apenas em negarlhes o uso das armas de fogo,
mas também da arte, dos livros, da música, das
manifestações e até de recorrer às Nações Unidas, de
ensinar a história Palestiniana, de contar a Nakba, de a
lembrar e comemorar. Esta Nakba que os planeadores
sionistas elaboraram no final do século 19 e que envolvia
a tomada de toda a Palestina, a expulsão de toda a sua
população árabe aborígene e de fazer dela Arabrein
(esvaziada de Árabes), esta Nakba continua firmemente.
Mas apesar da aquisição de terras ter começado nos anos
1880 e do roubo em massa do país se ter produzido em
1948, Israel não teve a possibilidade de tomar todo o
território. A confiscação de terras que continua em
JerusalémLeste e na Cisjordânia faz parte da Nakba. Os
projectos sionistas de fazer um Israel Arabrein avançam
sem perder tempo. Se Israel não tem a capacidade, ao
abrigo do direito internacional, de expulsar todos os
árabes, concebeu uma alternativa inteligente, ou seja,
encarcerar todos os que não pode expulsar no interior do
muro de apartheid que chamará Estado Palestiniano,
enquanto projecta expulsar todos os residentes
Palestinianos fora desse muro de apartheid, ou seja, os
cidadãos Palestinianos de Israel, para o interior desse
mesmo muro. O resultado será com efeito um Israel
Arabrein, no exterior do muro. A destruição de mais de
500 aldeias Palestinianas não aconteceu apenas em 1948,
mas desenvolveuse num processo que durou anos após a
conquista sionista. A expulsão dos Palestinianos das suas
terras começou nos anos 1880 e uma expulsão muito
mais importante do interior para o exterior da Palestina
começou seriamente em Novembro de 1947. É vital
lembrar que as forças sionistas expulsaram 400 000
Palestinianos das suas terras antes de 14 de Maio de
1948. Centenas e centenas de milhares foram forçados a
partir nos meses e nos anos seguintes, durante os anos
1950 e novamente em 1967. As expulsões nunca
acabaram. É a presença de Palestinianos que leva Israel a
expulsálos. Se os Palestinianos aceitassem de se auto
deslocar e portanto de deixar a Palestina,
Bastión de la
resistencia popular
palestina
Nablús
Carlos de Urabá
10 27
Los ecos de la Naksa
11. Esta primavera aunque los almendros en flor nos devuelvan por un instante la
esperanza de repente en el momento menos pensado los gendarmes gritan ¡alto! y
apuntándonos con sus fusiles nos obligan a identificarnos. Nosotros como turistas
podemos pasar sin problemas pero los palestinos deben demostrar su inocencia
pues siempre son sospechosos de haber cometido algún delito.
Nablús o la “pequeña Damasco” es una ciudad de unos 150.000 habitantes
–repartidos entre musulmanes 91%, cristianos 6% y samaritano 3% ubicada en un
fértil valle regado por manantiales y al abrigo de los montes Al Tour, Ebal y
Gerizim. Esta ciudad es un importante emporio económico del norte de Cisjordania
dedicada por entero al rubro de la agricultura (cereales, las vides, el aceite de
oliva) y las fábricas de jabón.
Igualmente los judíos
ortodoxos también
consideran a Nablús
una ciudad santa – a la
que llaman Shjém (la
antigua capital del
antiguo reino de Israel) pues así lo aseveran restos arqueológicos como la tumba
del patriarca José y el pozo de Jacob. Esta región geográfica la denominan con el
nombre de Samaria.
Por este motivo mitológico en sus alrededores se multiplican los asentamientos
judíos ortodoxos y ultraortodoxos de: Yitzhar, Braja, Itamar, Elon Moreh, Brecha,
Qadomen, Zaatara o Envan (cuartel militar). Los colonos aseguran que, tal y como
está escrito en las sagradas escrituras, sólo a ellos les pertenece la tierra bíblica de
leche y miel. La mayoría de estos extranjeros, que afirman ser descendientes del
rey David y el rey Salomón, son de origen americano o europeo. A estos
desalmados no les tiembla la mano a la hora de quemar los campos de cultivo,
cortar los árboles frutales o los olivos, matar el ganado o envenenar la tierra de los
campesinos palestinos a los que consideran poco menos que animales.
En Cisjordania viven aproximadamente 550.000 colonos israelíes
excepcional e não se limita apenas aos Israelitas. Não haverá, mais recentemente,
uma resistência no Iraque que se opõe à conclusão da missão de invasão dos
Estados Unidos que o Presidente Bush dizia «estar concluída» há cinco anos
atrás? E a resistência iraquiana às destruições que os americanos vieram infligir
ao Iraque que obriga o processo de destruição americano a se prolongar e a
missão americana a estar sempre inacabada.
O RACISMO SIONISTA: mais o que é que faz com que os Palestinianos
continuem a sua resistência numa Nakba que os Israelitas continuam de lhes
impor? Em suma, digamos que são as consequências e as vitórias. Outrora, Moshe
Dayan, com eloquência, descrevia a Nakba assim: «Aldeias judias foram
construídas no lugar de aldeias árabes. Nem sequer conheceis o nome dessas
aldeias árabes, e não tendes culpa porque os livros de geografia já não existem.
Não só já não existem, mas nem sequer existem as aldeias árabes. Nahlal ergueu
se no lugar de Mahlul, o kibutz Gvat no lugar de Jibta, o kibutz Sarid no lugar de
Huneifis, et KfarYehoshua no lugar de TelShaman. Não há um único lugar neste
país que anteriormente não tenha dito uma população árabe». O sucesso da
resistência Palestiniana à Nakba obrigou a um processo semelhante que visa a
renomear as vitórias sionistas e israelitas de uma forma permitida em grande
parte do mundo e até nos Estados Unidos mesmo que de uma forma mais
limitada. Fazendo eco às palavras de Dayan: a resistência Palestiniana e a
vitimização substituíram as conquistas e as vitórias sionistas. Muitos entre vós
nem conheceis o nome das vitórias sionistas, e não tendes culpa, porque os livros
de história e a propaganda sionistas, que as legitimaram, não são considerados
legítimos. Não só esses livros e essa propaganda perderam qualquer legitimidade,
mas as vitórias sionistas e israelitas não são reconhecidas como tal. A Nakba
ocupou o lugar da «guerra de independência de Israel», o apartheid substituiu a
«soberania judia», a expulsão dos Palestinianos substituiu o «Plano Dalet » e, até o
«regresso dos judeus às suas terras ancestrais», o racismo institucionalizado e
jurídico de Israel substituiu a «democracia israelita», os cidadãos Palestinianos de
Israel substituíram os «árabes israelitas», o povo Palestiniano substituiu as
«comunidades não judia na Palestina» tal como foram qualificadas na Declaração
Balfour e o « matful » palestiniano (cuscuz) substituiu o « cuscuz israelita » que
persiste em querer substituir o « matful » palestiniano. Não há nem uma única
vitória sionista neste país à qual os Palestinianos não tenham resistido e
contestado. Os Palestinianos resistiram e ainda continuam de resistir à Nakba
com determinação e recusamse em deixar as suas terras com greves,
manifestações e desobediência civil; pela arte, a música e a dança; com a poesia,
o teatro e os romances; pela escrita da sua própria História e a reivindicação da
sua própria geografia, pelo recurso à justiça local e internacional e das Nações
unidas. Os Palestinianos ainda resistem com pedras e fuziles. A negação
11
fotografiadeCarlosUrabá
26
12. repartidos en 120 asentamientos y puestos avanzados (unidos por una moderna
red de carreteras) cuya protección corre a cargo del Tzahal. Una de las principales
preocupaciones de los judíos ortodoxos es el incremento de la tasa de natalidad
con el fin de contrarrestar el alto crecimiento demográfico de los palestinos. 6 de
cada 10 judíos ortodoxos no trabajan pues se autoproclaman los legatarios de la
auténtica vida judía y por eso se dedican de tiempo completo a los estudios de la
Torá y el Talmud. El estado Israelí para recompensar su incondicional entrega a la
causa sionista les otorga una paga de 550 euros mensuales. Además, los colonos
ortodoxos y ultraortodoxos tienen una gran influencia en la vida política del país
gracias a la presión que ejercen a través del partido Shas y el Habait Hayehudí. El
brillante resultado obtenido en las últimas elecciones les ha valido el derecho a
formar parte del gabinete de Netanyahu (detentan las carteras del Ministerio del
Interior y la Vivienda)
Lo cierto es que la mayoría de estos colonos lo único que les interesa es
aprovechar las increíbles ofertas inmobiliarias, las subvenciones, ventajas fiscales y
los servicios públicos de primera categoría (colegios hospitales, universidades,
centros deportivos) que ofrece el gobierno israelí a los ciudadanos que habitan las
zonas de “alto riesgo”. Aparte de que muchos de ellos reciben ayudas del
Ministerio de Agricultura para la explotación de los campos de cultivo en los que
emplean mano de obra barata palestina (en Nablús el paro es del 55%). Así que
las ganancias de los empresarios son extraordinarias.
En el corazón de la ciudad de Nablús late el suq khan al Tujjar o AlBalad Al
Qadima el zoco donde desde muy tempranas horas de la mañana comienza el
ajetreo. Este mercado popular, al que calificaron los viajeros y cronistas románticos
como uno de los más pintorescos de Oriente Medio, aún conserva el esplendor de
otros tiempos. Su espectacular arquitectura otomana y restos arqueológicos
romanos así lo atestiguan. Lamentablemente el estado de conservación del
patrimonio artístico palestino es calamitoso y amenaza con desaparecer bajo los
escombros.
sionistas dizem que os refugiados não sofrem «por causa» da Nakba, mas por
recusaremse em «admitir» a Nakba e em aceitaremse enquanto mankubin.
É a mesma coisa para os Palestinianos da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e
de JerusalémLeste, os seus problemas não são a consequência da Nakba, mas,
como o defende Israel, da recusa árabe em aceitála. Os seus problemas nasceram
da guerra internacional de 1967 resultado da recusa árabe em aceitar a Nakba
como facto estabelecido. Se os Palestinianos e os seus aliados aceitassem de
confirmar a Nakba como um acontecimento passado e terminado, então as
desgraças, de que dizem ainda serem vítimas, desapareceriam imediatamente.
Afirmar que a Nakba é um acto contínuo de destruição, um acto não acabado, é
recusar de admitir que a «obra» está acabada. A resistência Palestiniana é
precisamente a parte inacabada da Nakba e da sua violência actual. Israel e os seus
apoiantes internacionais pretendem que se os Palestinianos tivessem aceite a
derrota e reconhecido a Nakba, se tivessem aceite a sua expulsão e cidadania de
terceira ordem em Israel e a conquista de 1967, não teriam mais desgraças. Os
israelitas dizemnos, se vós, Palestinianos, conheceis o infortúnio/a desgraça, é
porque nunca pararam de lutar contra a Nakba. Os Palestinianos resistem à Nakba
desde os anos 1880, quando os colonos judeus europeus os expulsaram de terras
compradas a proprietários ausentes e que os
impediram de trabalhar nas terras que os
Palestinianos cultivavam há séculos. Nos anos 1930, a
resistência Palestiniana tomou a forma de uma revolta
importante que durou três anos, contra o apoio
britânico aos sionistas que realizavam a Nakba. Os
Palestinianos também resistiram depois das acções dos
anos 1947/1948 em que a maior parte das terras
foram roubadas e confiscadas pelas leis racistas do
Estado judeu. Segundo Israel e o jornal «The New
York Times», a sua resistência contínua contra a
Nakba na Cisjordânia e na Faixa de Gaza é na verdade
um convite a novas Nakbas. Se os Palestinianos
autorizassem Israel em sitiálos na maior prisão a céu
aberto do mundo, chamada Gaza, sem lhe resistir,
Israel não os teria de bombardear, de matar as suas
crianças e de destruir as suas casas, apenas se
limitaria em esfomeálos e a mantêlos no interior do
muro do apartheid. Se os Palestinianos aceitassem
simplesmente o seu estatuto de mankubin, já não
haveria Nakba enquanto processo inacabado. Esta
lógica de conquista não é absolutamente
12
fotografiadeAnadaPalma
25
13. Lo más difícil quizás sea orientarse entre sus laberínticas callejuelas, es casi
imposible abrirse paso en el gentío se arremolina entorno a los puestos y
tenderetes donde se ofrecen un sinfín de productos típicos de la región: frutas,
hortalizas, verduras, carnes, especias, dátiles almendras, uvas pasas, aceitunas,
panes y en especial el dulce Kanafeh relleno de queso muy apreciado en la
gastronomía árabe. Nablús desde la más remota antigüedad adquirió fama por la
fabricación de jabón de comprobados efectos terapéuticos. Muchas de estas
fábricas de jabón fueron destruidas en 2002 por los bombardeos de los cazas F16
de la aviación israelí que las consideraban “nidos de terroristas”. Definitivamente
los estrategas judíos se han fijado el objetivo de demoler el patrimonio cultural
palestino.
Tras la derrota en la Nakba 1948 miles de palestinos procedentes de Lydda,
Ramle, Jaffa y de 60 pueblos y aldeas de la zona, se vieron obligados a refugiarse
en Nablús. Buena parte de estos desterrados pertenecían y pertenecen a la etnia
beduina. En un principio una gran parte buscaron asilo entre las cuevas que hay en
las montañas y otros levantaron sus tiendas o jaimas de manera provisional. Nadie
quería construir un asentamiento fijo pues todos deseaban volver a sus pueblos.
Pero la tragedia se fue alargando en el tiempo y resignados no tuvieron más
remedio que comenzar a edificar sus viviendas con cemento y ladrillo. Así
surgieron los campos de refugiados de Balata, Al Farah, Ayr, Askar y nuevo Askar.
El campo de Balata, fundado por la ONU en el año 1950 es el más antiguo de
Cisjordania y con sus 28.000 refugiados, el más grande de Palestina. Construido
sin planificación alguna, en apenas un área de 1 kilómetro cuadrado sus
desvencijadas viviendas fruto de la improvisación ya alcanzan varios pisos de
altura. Muchas de las callejuelas del campo de Balata no miden más de metro y
medio de ancho. Es tal el hacinamiento que en un piso de 60 metros cuadrados
tienen que acomodarse 13 o 14 personas. Por falta de espacio los baños de las
casas son públicos y para rematar los servicios de agua potable y electricidad son
deficitarios. Sólo hay dos médicos en el puesto de salud para atender a los
pacientes y las escuelas precisan de nuevas aulas pues se han quedado obsoletas.
Recordemos que el crecimiento poblacionalcomo ocurre en otras zonas Palestina
es muy acelerado y los menores de 21 años sobrepasan el 60% en las estadísticas.
Cualquier acuerdo de paz que se firme entre la ANP y el gobierno Israelí debe
tener en cuenta el regreso de los refugiados o de lo contrario estaría condenado al
fracaso.
En el campo de Balata por extraño que parezca no se ha perdido el optimismo ni la
sonrisa; los niños juegan en las calles, las mujeres tienden la ropa en las ventanas y
las abuelas se entretienen bordando pañuelos sentadas a la puerta de las casas. En
las paredes se leen frases alegóricas a la libertad y la lucha armada, “Morir por
Palestina es un deber” “Rompamos las cadenas de la esclavitud” Las fotos de los
mártires que empuñan desafiantes sus metralletas se exhiben con
permanecer em Israel, devem aceitar a normalidade da Nakba e não se opor ao
seu novo estatuto de mankubin, e que não podem ter e nunca terão os mesmos
direitos que os judeus. Ao recusarem as consequências da Nakba, os cidadãos
Palestinianos de Israel querem inverter os seus efeitos, exigindo a revogação das
leis racistas e que Israel se torne um Estado israelita e não um Estado judeu. Israel
e, agora, o Presidente Bush afirmam que as consequências da Nakba devem ser
aceites por todos os Palestinianos. Dizem aos Palestinianos que a Nakba
transformou a Palestina num «Estado judeu», que isto é irreversível e que nenhum
activismo pelos direitos civis, nem nenhum combate nacional podem contrariar
resta realidade maior. No entanto, os cidadãos Palestinianos de Israel não parecem
convencidos e continuam de resistir a esta irreversibilidade. Contudo, segundo
Israel, esta difícil situação não foi provocada pela «Nakba», mas pela insistência
em «resistir» à Nakba. Dizse também que o problema dos refugiados Palestinianos
a apodrecerem nos campos há 60 anos é de facto semelhante ao de qualquer outra
população de refugiados levados pelas guerras e de que está repleto o mundo dos
séculos 20 e 21. O problema não tem nada a ver com as acções sionistas de 1947
1948 que os expulsou da sua pátria, mas, tal como defende Israel, é devido à
recusa dos Palestinianos e dos países árabes em aceitar a Nakba como algo
irreversível e a implantar estes pobres refugiados no seu país de acolhimento. Os
1324
14. orgullo. La bandera palestina ondea altiva en cada esquina, y los posters del domo
de la Roca con Yasser Arafat de fondo haciendo la v de la victoria ocupan los sitios
más privilegiados.
En el año 2002, en el punto álgido de la intifada de AlAqsa, el ejército israelí – en
desarrollo de la operación “Escudo Defensivo”, invadió Nablús y el campo de
Balata con tanques, bulldozers y helicópteros en busca de los “peligrosos
terroristas palestinos” (hombres bomba). Como los tanques no podían ingresar por
sus estrechas callejuelas apostaron francotiradores en las alturas para cazar a los
sospechosos. Mucha gente murió o fue arrestada y una gran cantidad de viviendas
resultaron derribadas. Balata tiene la fama de ser una de las principales canteras
de suicidas. Muchos jóvenes han optado por sumarse a las operaciones de martirio
en respuesta a la criminal ocupación militar sionista y el oprobioso castigo
colectivo.
El 27 de diciembre del 2003 el ejército israelí asalta Nablus y el campo de Balata
en persecución de los guerrilleros de la resistencia palestina. Después de tomar
por completo la ciudad e imponer el toque de queda dinamitaron viviendas,
mataron a varios guerrilleros e hicieron prisioneros a decenas de activistas de la
OLP y del FPLP.
En el 2007 durante la denominada operación Hot Winter el Tzahal destruyó una
vez más buena parte del campo de Balata como represalia a los sangrientos
ataques perpetrados en territorio israelí por los comandos suicidas palestinos.
A pesar que tras los acuerdos de Oslo la soberanía sobre Nablús se transfirió a la
ANP, las agresiones del ejército sionista no se detienen pues su propósito es la
eliminación total del enemigo.
La vida debe continuar su curso por más graves que sean las circunstancias y es así
que en cualquier momento con motivo de una boda, un cumpleaños o cualquier
celebración patriótica resuena el darbuka, el yarghul, el laúd, o el bendir. La
música levanta la moral y es una parte fundamental del espíritu de resistencia
revolucionaria. Es emocionante ver a todos los jóvenes con los brazos sobre los
hombros bailando el dabkah, entrelazados siguiendo la coreografía en círculo o
tomados de la mano marcando el ritmo de la música con los pies. Esta danza
ancestral que simboliza la unidad, la solidaridad y cooperación encierra también
un sentido de pertenencia a la familia, el clan o a un país. Video:
http://youtu.be/v0rJjgFFsv4
El compromiso con la causa del pueblo palestino es algo sagrado. Por eso hasta los
niños se niegan a claudicar y con una piedra en la mano o un cóctel mólotov se
enfrentan cara a cara contra la demoníaca maquinaria de guerra sionista. Resulta
paradójico que los artistas hayan convertido el “muro de la vergüenza” en un
gigantesco lienzo donde expresan su compromiso de lucha y rebeldía. “¡Resistir,
resistir hasta la muerte…!” Las ansias de libertad son incontenibles.
autoridade que, na sua estrutura e na sua lógica, não era diferente de todos os
regimes colonialistas fantoches da Ásia e de África, que servem os seus senhores,
sem excluir os judenröte (os conselhos judeus) que os nazis estabeleceram nos
guetos polacos ocupados para gerir a vida dos judeus, cobrar os impostos, dirigir os
correios, entre outras coisas; nem os bantustões que o apartheid da África do Sul
criou como pátrias de substituição (para os Negros). A tentativa da Autoridade
palestiniana em obter o poder de nomear os dois povos, Palestiniano e judeu,
fracassou, assim como as tentativas prévias de Israel. Os Palestinianos permanecem
exigentes relativamente ao seu nome e sua inclusão numa nação Palestiniana,
enquanto os judeus não israelitas insistem na ausência de nacionalidade dupla com
Israel, sem que importe por outro lado a forma como apoiam Israel. A política do
denominar é a política do poder e da resistência. O poder dos nomes cria uma
ficção que vai ao encontro das realidades materiais. Se Israel conseguiu impor
realidades físicas e geográficas, a sua tentativa para apagar uma memória histórica
fracassou. Os palestinianos são um obstáculo à falsificação da sua história e deles
próprios.
A NAKBA, É AGORA: desde que a Nakba veio cometer as suas acções
tumultuosas em 1948, há um combate permanente para definila como um
acontecimento passado e terminado, em vez de uma acção ainda a decorrer hoje
em dia. Não se trata de um combate epistemológico, mas de um combate político
ardente. Identificar a Nakba como um acontecimento passado e terminado é
clamar o seu sucesso e acentuar a irreversibilidade dos seus feitos. Ao afirmar que
já não há que lutar para qualificála, nem que há resistência vitoriosa para selhe
opor, é atribuilhe uma legitimidade histórica e política, enquanto realidade, mas
também considerar todos os seus efeitos ulteriores como ganhos naturais. Assim,
hoje em dia, o combate dos cidadãos Palestinianos de Israel, segundo a história
sionista, não é o combate anticolonial habitual, nem um combate pelos direitos
nacionais, ou étnicos, ou civis, mas um combate «anormal» para inverter a Nakba.
Israel tem mais de 20 leis promulgadas, institucionalizando os privilégios religiosos
e raciais judeus, em direitos e deveres, relativamente aos não judeus, que se
apresentam como uma consagração normal da Nakba, que os Palestinianos
continuam de recusar. Com efeito, alguns dirigentes israelitas, tal como
recentemente a Tzipi Livni, sugeriram que os cidadãos Palestinianos de Israel
deviam partir para países que garantissem os seus direitos nacionais em vez de
ficar em Israel onde nunca terão direito à igualdade devido ao facto de
pretenderem que a «sua» Nakba ainda continua hoje em dia. É frequentemente
lembrado aos Palestinianos que povos «muito mais importantes» que eles optaram
por deixar voluntariamente um país que lhes recusava os seus direitos para irem
para outro que os garantissem, ou seja, os mesmo judeus europeus que vieram
infligir a Nakba aos Palestinianos. Se os Palestinianos de Israel querem
14 23
15. Como expresara la poetisa Fadwa Tuqan, originaria de Nablus, no bastan las
oraciones para conjurar la fatalidad.
“si mil cadenas me atan
Tantas fantásticas alas me
harán volar (detrás de las
paredes)
¿Protegeré a mi gente con
palabras?
¿Salvaré con palabras a
mi pueblo?”
El trajín no decae en el mercado de Nablús, la gente viene y va cargando sus bolsas
y paquetes con la compra. La rutina diaria sigue su curso y todo el mundo
comprende cuál es su papel en este teatro de la vida. Los diarios publican las
últimas noticias y los gestos de desaprobación de los viandantes son ostensibles. El
pueblo es el último en enterarse de las decisiones que toman los políticos. Todo
está envuelto en el tupido velo del secretismo. ¿Algún día se proclamará la
independencia de palestina? Una pregunta utópica que merece una respuesta
realista: ¡inch’allah!
Y una vez más la sombra de la fatalidad los atenaza tras el fracaso de las
conversaciones de paz auspiciadas por el Secretario de Estado norteamericano
John Kerry. La reconciliación entre Hamas y la OLP abre un nuevo período
histórico de imprevisibles consecuencias. De momento el primer ministro
Netanyahu ha dicho que “Abbas ha elegido el terrorismo por encima de la paz” A
Israel en todo caso le da lo mismo porque ellos son los que mandan e imponen las
condiciones. Además, los países occidentales respaldan su demencial política de
hechos consumados. Hace unos días el Knesset aprobó la construcción de 3.300
nuevas viviendas en Cisjordania y Jerusalén Este, (el año 2013 se duplicó la
construcción de viviendas en los asentamientos) para escarmentar a la ANP por su
actitud beligerante.
Un acuerdo de paz para Oriente Medio parece más un asunto divino que humano.
Por eso el Papa Francisco ha tomado la iniciativa convocando unas jornadas de
oración en el Vaticano con la presencia del presidente israelí Shimon Peres y al
líder palestino Abu Mazen a ver si se produce un milagro.
memória sionista oficial. Com efeito, a memória tem sempre um elemento chave
na resistência Palestiniana. Quando os Palestinianos insistem na denominação do
seu país, das suas cidades e das suas aldeias no seu nome de origem, não é só
para se opor aos nomes comuns que o sionismo deu à sua terra, mas também para
expor uma memória geográfica que Israel conseguiu quase apagar fisicamente. A
crueldade do sionismo foi de tal modo que Israel continuou, mesmo após 50 anos
da sua criação, a negar a existência dos Palestinianos enquanto povo, ou enquanto
nome; que o próprio nome «Palestinianos» não devia ser pronunciado. Para os
sionistas, o nome «Palestinianos» age como uma encantação mágica que os
poderia riscar do plano existencial. Não estão errados em ter essa impressão,
porque o nome Palestiniano é por si a mais forte forma de resistência contra a
memória oficial deles. O nome «Palestina» também gerou a continuidade na
cultura e na vida Palestinianas, na identidade e nacionalidade Palestinianas, o que
Israel esperava apagar totalmente e cuja existência perene permanece uma
ameaça para a sua operação mnemónica visando a invenção de uma memória
fictícia de nãoPalestina e de nãoPalestinianos.
A contramemória Palestiniana colocase directamente em confrontação com o
sucesso da Nakba em apagar a Palestina enquanto designação geográfica e
constitui uma afronta aos persistentes esforços da Nakba em apagar os
Palestinianos enquanto grupo nacional dotado de uma história préNakba. A
sobrevivência dos Palestinianos depois do início da Nakba, apesar dos esforços
assíduos para apagálos do mapa, faz com que a Nakba não seja uma vitória para
os sionistas. É neste contexto que a insistência de Israel em apelidar os cidadãos
Palestinianos em Israel de «Árabes Israelitas» se motiva pela vontade de reduzir ao
silêncio a sua essência Palestiniana, isto é, tudo o que faz deles Palestinianos. A
insistência sionista em querer estabilizar os refugiados Palestinianos num país de
acolhimento e que lhes seja atribuída a nacionalidade revela a mesma vontade de
apagar o seu nome. Há dez anos, o reconhecimento definitivo por Israel de que
existia um povo Palestiniano aconteceu à custa da redução de um terço desse
mesmo povo Palestiniano. Ao assinar Oslo, Israel comprometeuse com uma
direcção Palestiniana colaboracionista e o preço que a Autoridade palestiniana
tinha de pagar para que Israel aceite de chamar os Palestinianos da Cisjordânia e
de Gaza pelo seu nome, era a despalestinização do resto do povo Palestiniano.
Em contrapartida, a direcção palestiniana, ao abrigo dos Acordos de Genebra,
aceitava de deixar multiplicar por um coeficiente de três a população judia, pela
qual Israel seria reconhecido como estado de todos os judeus do mundo e não
apenas dos judeus vivendo no interior do seu estado e ainda menos dos cidadãos
Palestinianos sobre os quais reinava. Mas este acordo fracassou. Apesar de ter
feito todo o possível para ser legítima, a autoridade palestiniana só foi
considerada por aquilo que era: uma criação da ocupação israelita, uma
15
fotografiadeCarlosUrabá
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16. Não é a televisão
a refeição
Não é a lareira
a torradera também não
Não é a chaminé
o bidé
o sofá também não é
Não é a comida
a bebida
Não é por bens terrenos
muito menos boa vida
Não é a instrução
o pão
o whiskey decerto também não
Não é o salário
o horário
Não é por instantes
antes pelo contrário
Não é um hospital
um jornal
Nem separar bem e mal
Não é querer ficar
[que me interessam os acordos
de paz?]
Não é não querer partir
[que me interessam os prémios
Nobel?]
Não é o direito de estar
[que me interessam as
fronteiras reconhecidas?]
É o de não ter que sair
Estar onde estou sendo o que quiser
Ser quem sou onde quiser
Estar em casa a ser
Ser casa onde se quer estar.
deploram mas que a maior parte aceita no final de contas como um facto da
história? Sugirovos que há muita coisa em jogo ao fazer da Nakba um
acontecimento do passado, um facto no terreno que só podemos aceitar, admitir e
finalmente transcender e que efectivamente para seguir em diante, há que deixar a
Nakba para trás. Algumas pessoas até sugerem que se Israel reconhecesse a Nakba
e se pedisse desculpas, os Palestinianos perdoariam e esqueceriam e que os efeitos
da Nakba seriam apenas comemorações históricas como as deste ano. Na minha
opinião, a Nakba não é nada disto e querer fazer deste ano de 2008 o 60º
aniversário da vida e da morte da Nakba é um erro grave. Em realidade, a Nakba
tem mais de 60 anos e ainda está connosco, avança ao ritmo da vida e percorre a
história acumulando cada vez mais desgraças sobre o povo Palestiniano. Para mim
a Nakba é uma época histórica com 127 anos e que perdura. 1881 é o ano do inicio
da colonização judia da Palestina e como toda a gente sabe esta colonização nunca
acabou. Muita gente no mundo gostaria de apresentar os Palestinianos como
vivendo num período pósNakba, no que me toca, insisto que vivemos totalmente
em tempo de Nakba. O que fazemos este ano, não é comemorar, mas assistir à
Nakba que está a decorrer e que continua a destruir a Palestina e os Palestinianos.
Consequentemente, proponho que este ano não seja o 60º aniversário da Nakba,
mas mais um ano a suportar a sua violência; que a história da Nakba nunca foi
uma história do passado, mas que é decididamente uma história do presente.
O SIGNIFICADO DA NAKBA: apesar da palavra Nakba ser traduzida em
inglês por catástrofe, desastre, ou calamidade, estas traduções não integram
totalmente as ramificações activas dos significados árabes. A Nakba é um acto que
foi cometido pelo sionismo e seus apoiantes contra a Palestina e os Palestinianos
fazendo deles mankubins. O inglês não permite uma tradução desta palavra,
mankubin, excepto se extrapolamos um pouco e chamamos os Palestinianos, um
povoquesefezcatastrofar, ou um povoquesefezdesastrar. Contrariamente à
catástrofe grega, que significa reviravolta, ou ao desastre latino, que é um
acontecimento calamitoso que se produz quando as estrelas não se encontram
alinhadas, a Nakba é um acto de destruição deliberada para infligir desgraça a um
povo, programada para arruinar um pais e seus habitantes. A palavra Nakba foi
criada pelo eminente intelectual árabe, Constantine Zureik, no seu livrinho datado
de Agosto de 1948, sobre o significado da Nakba, que estava a decorrer quando o
estava a escrever, assim como ainda está a decorrer enquanto escrevo estas
palavras.
Desde o início, o povo Palestiniano resiste à lógica racista e colonialista da Nakba e
combate os colonos desde os anos 1880 e 1890 e depois durante os anos 1910,
1920, 1930, 1940, 1950, 1960, e ainda hoje. Se a resistência Palestiniana não
conseguiu impedir a expulsão em massa de metade da população Palestiniana,
nem o roubo puro e simples de todo o país, conseguiu desprezar a
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é a televisão
Não
Toni
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17. NAKBA
A Nakba deve ser considerada como um acontecimento pontual que ocorreu e
terminou em 1948, ou será outra coisa? Quais são as apostas políticas em
reificar a Nakba num acontecimento passado, a comemorála cada ano, a
inclinarse diante do seu tremendo simbolismo? Quais são as incidências que
fazem da Nakba um episódio histórico concluído, que algumas pessoas
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Resistir à Nakba
Sábado 22 de Maio de 2010
Joseph Massad AlAhram/Weekly
As dimensões da arquitectura. "Representase habitualmente a
arquitectura como a síntese de três dimensões: a construção, a
utilidade ou a funcionalidade e a beleza", escreve Michel Freitag sobre
a ideia generalizada do que é a arquitectura. No entanto, se
consideramos apenas estas dimensões, esvaziamos a arquitectura do
seu carácter social. As pessoas agrupamse, as sociedades germinam e a
arquitectura é uma das formas de se construirem os palcos onde se
geram as interacções humanas. "Estes três aspectos pertencem decerto
à definição da arquitectura, mas nem por isso representam, contudo,
antropologicamente, a sua natureza essencial", continua Freitag.
A arquitectura não é inocente. "O problema da arquitectura diz
respeito à maneira como a sociedade produz o mundo como mundo
humano e se reconhece nele como no seu mundo próprio, um mundo
que é posto em harmonia com as suas finalidades próprias" refere
Freitag. Qualquer que sejam os mundos que a sociedade produz, a
arquitectura é um dos instrumentos que serve para a criação desses
mundos, indo ao encontro das suas finalidades a arquitectura dos
regimes autoritários, da repressão, da proibição; a arquitectura da
sociedade de consumo, do lucro, do espectáculo; a arquitectura da
igualdade e do bemestar social; a arquitectura do colonialismo; a
arquitectura da resistência.
A arquitectura é uma arma. Conscientes do poder bélico da
arquitectura, que pode disparar contra a humanidade, a União
Internacional dos Arquitectos (UIA) definiu na sua resolução 13, em
2005 e reafirmada em 2009, o seguinte:
"O Conselho da UIA condena o desenvolvimento de projectos e a
construção de edifícios em territórios que tenham sido ilegalmente
apropriados ou que tenham sido sujeitos a limpezas étnicas e projectos
que tenham como base políticas de discriminação cultural e étnica, da
mesma forma que condena todas as acções que violem a quarta
Convenção de Genebra."
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A arquitectura
é uma arma
Jorge Delmar
18. Episódios da arquitectura do colonialismo. Em Março
de 2014, tendo em conta a resolução 13 da UIA e as leis
internacionais, o Royal Institute of British Architects (RIBA)
propôs à UIA que a Israeli Association of United Architects
(IAUA) fosse suspensa da organização enquanto a IAUA não
condenasse o desenvolvimento de projectos em terrenos
ilegalmente ocupados na Cisjordânia e em Gaza. Era intenção
do RIBA que esta moção fosse discutida no Congresso Mundial
da UIA, que se iria realizar em Agosto de 2014 em Durban, na
África do Sul.
Com o lançamento desta moção, várias organizações de
arquitectos e muitos arquitectos em todo o mundo tomaram
uma posição, quer criticando e condenando, quer apoiando e
subscrevendo. Em Maio, a secção de Nova Iorque do American
Institute of Architects (AIA) levantou objecções à proposta do
RIBA, afirmando que o objectivo da UIA é promover a união
de todos os arquitectos do mundo, sem qualquer forma de
discriminação. O presidente da associação de arquitectos
israelitas comunicou que, se esta moção fosse discutida no
congresso mundial, a sua associação abandonaria a
organização. Do outro lado, a organização Architects and
Planners for Justice in Palestine apoiou a moção, rearfimando
que muitos arquitectos e urbanistas israelitas têm tido uma
colaboração directa na construção das centenas de colonatos
ilegais, desde há cinco décadas, em violação da quarta
convenção de Genebra que proibe que os Estados movam as
populações civis para os territórios ocupados. Por sua vez, o
arquitecto israelita Eyal Weizman referiu que, no contexto da
ocupação israelita, o silêncio da IAUA não é neutral e
configura uma forma indirecta de pactuar com as políticas
colonialistas dos sucessivos governos israelitas.
Para que é que serve a resolução 13 da UIA? Em
Junho, face a grandes pressões e havendo a confirmação da
UIA de que a moção não estaria incluída na agenda do
congresso, pois a UIA alegou que não tinha competências
políticas para tomar decisões sobre o assunto, o RIBA deixou
cair a moção.
A mensagem da arquitectura. No dia 7 de Agosto, na
mensagem de encerramento do Congresso Mundial da
UIA, o arcebisto Desmond Tutu disse: "Acredito que pode
ser apropriado que a UIA envie uma mensagem clara de
suporte à justiça na Palestina e em Israel, ao supender a
associação dos arquitetos israelitas". Desmond Tutu também
apelou aos arquitectos israelitas que não se associem à
construção de infraestruturas que perpetuem a injustiça,
como o muro de separação, os "chekpoints" e a contrução
de colonatos em territórios ocupados na Palestina.
A arquitectura vergase. No dia 7 de Dezembro de
2014, o conselho do RIBA, com novos elementos na
direcção, revogou e arquivou a moção anteriormente
aprovada pela própria organização. O novo presidente do
RIBA afirmou que a opção do confronto, pedindo a
suspensão da associação dos arquitectos israelitas da União
Internacional dos Arquitectos, foi um erro.
A arquitectura colonialista ainda tem munições para
continuar a bombardear os territórios ocupados.
Referências:
Freitag, M. Arquitectura e sociedade. Lisboa:Publicações Dom Quixote,
2004.
www.archdaily.com
www.dezeen.com
www.apjp.org
Bombardeamento
JorgeDelmareAnadaPalma
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