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ÍNDICE
Informações sobre o movimento BDS................................................ 3
Israel e a Política do Boicote,
Joseph Massad.......................................................................................... 4
Eu, feminista, apoio o BDS!
Helena Ferreira....................................................................................... 16
Carta ao Chefe José Avillez................................................................. 19
Quando a política [a]condimenta as iguarias:
Avillez no Round Tables 2016 em Telavive...................................... 20
Reflexão sobre a vaga de notícias recentes
em torno de uma acção directa de protesto
político no Porto e o movimento BDS,
GAP........................................................................................................... 22
O gueto de Gaza ,
Jean Ziegler.............................................................................................. 25
CAMPANHA-SELO: Espaço livre de
apartheid sionista, racismo
e antisemitismo...................................................................................... 29
INFORMAÇÕES E CONTACTOS................................................................. 31
2
A selecção dos textos recebidos pelo GAP é feita com base num único
critério: conteúdos não racistas. Aopinião expressa nos textos do Folhas
Soltas são da responsabilidade das pessoas que os escreveram.
Informações sobre o movimento BDS
BDS significa: Boicote, Desinvestimento, Sanções
O QUE É?
É um movimento global contra as políticas sionistas, desenvolvidas e
praticadas pelos sucessivos governos de Israel, que oprimem o povo
palestiniano. O movimento foi iniciado em 2005 pela sociedade civil
palestiniana. É uma estratégia de acção não violenta que procura reivindicar
direitos iguais para o povo palestiniano, acabar com a ocupação e a colonização
e desmantelar o muro e, finalmente, respeitar o direito dos refugiados.
Boicote: visa não comprar e/ou comercializar
produtos israelitas, i.e., empresas israelitas e
internacionais que lucram com as violações dos
direitos do povo palestiniano e que contribuem
directamente para manter, defender e
branquear a opressão.
Desinvestimento: visa pressionar corporações
cúmplices com as violações dos direitos do povo
palestiniano. Trata-se de levar corporações , empresas e
instituições a usarem a sua influência económica para
pressionar Israel a acabar com as suas políticas
colonizadoras e opressivas.
Sanções: trata-se de exigir de entidades/países a
reprovação pública das práticas racistas das políticas
sionistas..
3
Alguns exemplos de empresas visadas pelo movimento BDS
Véolia: empresa francesa envolvida na construção do Jerusalem Light Rail,
fornecendo serviços de saneamento , recolha do lixo, fornecimento de água nos
colonatos e noutros paises.
G4S: empresa anglo-dinamarquesa que fornece serviços de segurança,
equipamentos para os checkpoints, as prisões e a polícia.
Sodastream: empresa com sede no colonato ilegal de Ma'ale Adumin que
comercializa as máquinas e acessórios refrigerantes.
Ahava: empresa que vende produtos de beleza do mar morto, extraindo
recursos em territórios ocupados.
O sionismo e Israel continuarão a apoiar qualquer boicote que procura
institucionalizar o racismo e o separatismo racial.
O termo “boicote" é tão antigo quanto o sionismo político. Como se sabe,
entrou no léxico em 1880 com a acção dos camponeses irlandeses contra os despejos
previstos pelos proprietários e seus agentes – neste caso um agente chamado Charles
Boycott. Contudo, não foi a primeira vez que esta estratégia foi utilizada. Na
verdade, meio século antes, em 1830, nos Estados Unidos, a Convenção Nacional
indiano aos produtos britânicos começado
em 1919 para acabar com a ocupação
britânica da Índia), tácticas contra a
ocupação dos colonizadores (inclusive o
boicote aos colonatos israelitas pela Liga
Árabe desde meados de 1940 e o boicote
contra o Apartheid Sul Africano no início dos
anos 1960), até tácticas anti-racistas (inclusive
Negra apoiou um boicote aos produtos
produzidos por escravos, um movimento que
começou entre os Quakers no final do século
XVIII e que se espalhou entre abolicionistas
brancos e negros durante o século XIX até à
Guerra Civil Americana.
Estes inícios auspiciosos do boicote
para restaurar a terra e a liberdade dos
camponeses e dos escravos inspirariam
movimentos no século XX que iriam desde
tácticas anti-coloniais (tal como o boicote
o boicote judeu contra os nazis em 1933 para acabar com a segregação racial nazi e o
boicote do autocarro Montgomery por africanos americanos em meados de 1950
para acabar com o Apartheid dos brancos americanos no Alabama, assim como no
Sul da América).
Boicotar os Palestinos
Há, porém, uma história diferente dos usos do boicote. Contrastando com
Israel e a política de boicote
Joseph Massad
4
as utilizações para forçar o fim das injustiças coloniais de raça e de classe, o boicote
também foi implementado para trazer injustiça colonial e racial. O sionismo seria
pioneiro neste sentido. Após a formalização do colonialismo sionista no Primeiro
Congresso Sionista em 1897, colonos judeus ficaram furiosos com o facto de colonos
judeus de origem russa, que se instalaram na Palestina a partir de 1880, empregarem
trabalhadores palestinos disponíveis e baratos nas suas colónias agrícolas. Foi neste
contexto que o sionismo viria a desenvolver a sua noção racista separatista de
“trabalho hebreu” insistindo e, mais tarde, implementando a sua regulação em todas
as colónias judias na Palestina, nomeadamente que nos colonatos judeus houvessem
exclusivamente trabalhadores judeus.
Percebendo a dificuldade de impor o seu projecto de racialização na
Palestina, um país que o sionismo ainda não controlava, o movimento desenvolveu a
ideia da primeira comunidade racialmente separatista planificada para o uso
exclusivo dos judeus Asquenazes, ou seja, o kibutz que se iria desenvolver na
primeira década do século XX. Não nos equivoquemos sobre a ideia do kibutz
enquanto compromisso com o socialismo, para rectificar o registo, foi o líder sionista,
David Ben-Gurion, que surgiu com a ideia exclusiva de "trabalho hebreu" para
boicotar os palestinos: O kibutz foi criado para "garantir o trabalho judeu
[separatista]" e não como uma aplicação da teoria socialista.
À medida que uma economia e colónia judaicas racialmente separatistas,
estabelecidas nas terras dos palestinos, continuaram a ser o principal objectivo do
sionismo, o princípio do boicote do trabalho e dos produtos palestinos tornar-se-ia
mais agressivo com o passar do tempo. Tal como anteriormente o seu aparentado
movimento sionista, que usou a táctica de boicote para efectuar a separação racial e a
discriminação, em vez de acabar com isso, a Federação do Trabalho Sionista, a
Histadrut, começaria em 1927 a utilizar os piquetes, um acto consagrado pelo tempo.
Os Piquetes são tradicionalmente utilizados pelos trabalhadores e sindicatos para
acabar com as práticas de exploração e tratamento injusto dos trabalhadores. Neste
caso, os colonos judeus utilizaram os piquetes para fomentar a discriminação contra
trabalhadores palestinos e negar-lhes o emprego no seu próprio país. A campanha
sionista de piquetes procurou boicotar empresas judias que continuavam a utilizar
5
mão de obra palestina, bem como os bens produzidos pelos palestinos. Isto não se
limitava apenas aos colonatos agrícolas judeus nas zonas rurais palestinas, mas
também incluiu áreas urbanas onde os negócios judeus contratavam palestinos na
área da construção.
A campanha sionista continuaria até 1936, quando a Grande Revolta
Palestina iria irromper ameaçando tanto o projecto colonial dos colonos sionistas,
como a ocupação britânica que o protegia. Nestes nove anos de piquetes, não só os
trabalhadores entre os colonos judeus se juntaram às linhas de piquetes, mas
também os profissionais e a classe média da sociedade colonial judaica, incluindo
actores, professores, bibliotecários, assim como funcionários do Histadrut. Além da
grande campanha de piquetes dos pomares de citrinos de Kfar Saba na década de
1920, a Histadrut iria organizar "piquetes móveis", que levariam os piquetes aos
estaleiros de obras nas cidades, incluindo Telavive, onde os trabalhadores palestinos
trabalharam na construção da primeira cidade judaica racialmente separada.
Se os piquetes do mundo inteiro iriam assediar os fura-greves cooptados
por patrões exploradores à custa dos trabalhadores sindicalizados, os piquetes
judeus coloniais na Palestina iriam perseguir os trabalhadores palestinos que
violavam o projecto racialmente separatista do sionismo. Os piquetes iriam atacar e
bater nos trabalhadores palestinos, roubar as suas ferramentas e destruir o seu
trabalho. Os piquetes também iriam destruir os produtos das colónias judias que
empregavam camponeses e trabalhadores palestinos. Isso não foi uma excepção,
mas remetia para as práticas coloniais sionistas da primeira década do século XX,
quando o princípio racista do "trabalho hebreu" foi pela primeira vez posto em
prática. Quando colonos judeus descobriram em 1908 que as jovens árvores, numa
floresta criada em memória do fundador do sionismo Theodor Herzl, em Ben
Shemen perto de Lydda, foram plantadas por palestinos, vieram e arrancaram-nas
para depois replantadas-las novamente, preservando assim o carácter judeu da
floresta.
Quebrando o boicote anti-Nazi
Ao contrário dos sionistas que foram
pioneiros no uso dos boicotes para efectivar o
separatismo racial, os nazis seriam retardatários
nesta táctica. Os nazis iriam começar a boicotar as
empresas judias na Alemanha a partir de Abril de
1933 em resposta ao apelo judeu americano para
um boicote da Alemanha nazi, que tinha
começado um mês antes, em Março de 1933.
Perante a perseguição racista aos judeus pelo
regime nazi, Judeus Americanos e outros Judeus Europeus começaram uma
6
campanha em Março de 1933 para boicotar a Alemanha Nazi até que ela parasse a
sua campanha racista e perseguição política dos judeus alemães.
Enquanto os judeus americanos, incluindo sionistas, começaram a
pressionar os políticos e as organizações dos EUA para se juntar ao boicote, a
liderança sionista na Palestina e na Alemanha viu a questão de maneira diferente.
Foi neste contexto que os sionistas assinaram o famoso Acordo de Transferência
(Haavara) com a Alemanha nazi, em que os judeus ao saírem da Alemanha para a
Palestina seriam compensados pela sua propriedade perdida - que não podiam
transferir para fora do país - através da transferência de mercadorias alemãs para as
colónias judias na Palestina.
As entidades oficiais do acordo incluíam a Federação Sionista da Alemanha,
o governo nazi, e o Banco Anglo-Palestino (que foi fundado em 1899 como o braço
financeiro da Organização Sionista Mundial - OSM -, sob o nome de "The Jewish
Colonial Trust" - Fundo Colonial Judeu - e renomeado em 1950 como "Bank Leumi"). O
Banco Leumi é hoje o maior banco em Israel. O Acordo Haavara, que foi assinado em
1933, não só quebrou o boicote contra a Alemanha nazi, mas também implicou a
venda de produtos alemães pelos sionistas à Grã-Bretanha. Sessenta por cento de
todo o capital investido nas colónias judias da Palestina entre 1933 e 1939 veio do
dinheiro judeu Alemão através do Acordo de Transferência. Isto enfureceu não só os
judeus norte-americanos e europeus que promoviam o boicote, que a OSM
7
quebrava, mas também os revisionistas de direita dentro do próprio movimento
sionista, que assassinaram o principal emissário sionista junto dos nazis, Chaim
Arlosoroff, em 1933, no seu regresso da Alemanha nazi, onde negociara o Acordo.
Não só o sionismo quebrava o boicote, mas a sua filial local alemã também
seria a única organização judia alemã que iria apoiar as leis nazis de Nuremberga,
emitidas em 1935 para separar racialmente os alemães judeus dos alemães "arianos".
Os sionistas, tal como os nazis, concordaram que os alemães "arianos" e os alemães
judeus eram raças e povos distintos. Aqui, o pensamento sionista torna-se claro
sobre a questão dos boicotes. Enquanto os sionistas estavam a utilizar os boicotes
para implementar o separatismo racial e colonial na Palestina e privilegiar os judeus
colonizadores e separá-los dos palestinos árabes, opuseram-se ao boicote judeu da
Alemanha nazi, que procurava acabar com o separatismo racial nazi no país
perseguindo judeus. Para o sionismo, o que mais importava era o seu compromisso
com o separatismo racial, seja na Alemanha ou na Palestina, e só suportava os
boicotes que iriam realizá-lo. Na verdade, como os nazis na década de 1930
procuraram deportar os judeus e tornar a Alemanha Judenrein (os nazis propuseram
Madagáscar como destino para os alemães judeus), os sionistas propunham a
Palestina como destino para os alemães judeus, cuja deportação finalmente
apoiaram, e utilizavam as campanhas de boicote e de piquetes para tornar o futuro
Estado judeu na Palestina Araberrein.
Os palestinos opuseram-se ao separatismo sionista com os seus próprios
boicotes, alvejando as colónias sionistas e seus produtos durante os anos do
mandato britânico. A Liga dos Estados Árabes iria emitir o seu próprio boicote aos
produtos sionistas e israelitas, que entraria em vigor em 1945. Tal como o boicote
dos americanos judeus à Alemanha nazi em 1933 que pretendia acabar com o
separatismo racial nazi, o boicote palestino da década de 1930 e o boicote da Liga
Árabe foram impostos precisamente para acabar com o separatismo racial e colonial
e a discriminação contra os palestinos praticados pelos judeus.
Apoiando o colonialismo Francês
De 1948 até 1967, os israelitas tornar-se-iam os maiores aliados da França,
que era o principal poder colonizador europeu de imposição de um apartheid racial
noutro povo árabe, nomeadamente os argelinos. Durante esse período, não só a
França tornar-se-ia o maior aliado e fornecedor de armas a Israel, mas o facto dos
dois países partilharem o estatuto de serem os únicos dois poderes colonizadores
europeus em terras árabes foi fundamental nos seus cálculos.
Quando a revolta argelina começou em Novembro de 1954, os franceses
decidiram aumentar as suas vendas de armas aos israelitas. Generais franceses
explicaram a intensificação de sua aliança militar com Israel como parte da luta
8
contra os revolucionários argelinos, bem como contra o líder anti-imperialista árabe,
Gamal Abdel Nasser, que apoiou a Revolução argelina. A aliança e amizade entre os
dois estados colonizadores era tão forte que Israel também iria realizar manobras
militares com os franceses em território argelino ocupado e iria alistar argelinos
judeus (cuja cidadania francesa lhes fora concedida em 1870 para separá-los de seus
compatriotas argelinos muçulmanos e conceder-lhes os privilégios de colonos
franceses brancos) para espiar o movimento Nacional Argelino que procurava acabar
com o colonialismo francês e o racismo.
Poucos meses depois do fim do seu cargo de 13
meses como Governador Geral da Argélia Francesa, o
político colonialista francês e depois terrorista, Jacques
Soustelle, ajudou a criar e presidiu a Aliança França-Israel,
um lobby pró-Israel, em Novembro de 1956. Isto seguiu-se
ao conluio entre Israel e França para invadir o Egipto
naquele ano e destruir o regime de Abdel Nasser. Em
1958, Soustelle iria intimar não só Israel, mas as
comunidades judaicas do mundo para apoiar o apartheid
colonial francês na Argélia: "Acreditamos que, dada a
influência que não só Israel, mas acima de tudo as comunidades
judaicas pelo mundo exercem sobre a opinião internacional, esta
aliança irá produzir resultados felizes para nós ". As opiniões
anti-semitas e próximas do nazismo de Soustelle, relativas
ao alegado poder das comunidades judaicas do mundo,
não incomodou Israel nem por pouco. Na verdade,
Soustelle iria juntar-se ao grupo terrorista a Organização
do Exército Secreto (OAS) em 1960 para lutar contra a
independência da Argélia, que era então a visão cada vez
mais aceite nos círculos governamentais franceses para o
futuro da Argélia.
A aliança militar com Israel não só forneceu armas
e treino militar aos israelitas, mas também tornou possível
que os próprios franceses aprendessem alguns truques
Israelitas, incluindo o "bombardeio comboio", que os
franceses usariam na Argélia. E não foi só. Oficiais
franceses seriam enviados para Israel para aprender as
novas técnicas de guerra psicológica dos colonos judeus.
O General francês Maurice Challe, comandante-em-chefe
das forças francesas na Argélia (1958-1960), insistiu numa
entrevista com Sylvia Crosbie que os israelitas eram
"artistas esmerados" em lidar com os nativos palestinos.
Challe foi mais longe e esperava usar o kibutz como um
modelo para o seu programa de pacificação na Argélia,
9
mas o triunfo da Revolução argelina impediria o seu plano de ser executado.
As missões de estudo israelitas na Argélia também foram bem acolhidas
dado que os israelitas estavam dispostos a aprender com os franceses a utilização de
helicópteros para combater os guerrilheiros argelinos. Challe, como outros generais
que eram amigos de Israel, iriam participar no golpe fracassado de Abril 1961 contra
o governo francês na Argélia e seriam julgados por um tribunal militar. O
testemunho de pelo menos um participante no golpe falhado afirmou que os líderes
do golpe estavam à espera do apoio de um certo número de poderes colonizadores:
“Portugal, África do Sul, América do Sul, e talvez Israel.”
A aliança de Israel com a França colonial iria azedar quando os franceses
optaram por terminar a sua guerra contra o povo argelino e conceder-lhe a sua
independência. Descontente com o seu
isolamento, enquanto única colónia
colonizadora europeia remanescente
no mundo árabe, Israel apressou-se a
apoiar os terroristas de direita
franceses que se opunham a seu
governo e começaram a lutar contra a
independência da Argélia. Além de
recrutar um número de judeus
argelinos, que se juntaram à OAS
terrorista, na rede de espionagem de
Israel, os israelitas forneceram apoio
logístico aos terroristas franceses. Isto
incluiu suporte ao próprio Jacques
Soustelle, que foi apoiado por Ben
Gurion e foi financiado por ricos
judeus americanos de direita pró-
israelitas que se opunham a de Gaulle
e à independência da Argélia.
Comandos judeus argelinos
organizaram-se em Orão contra os
muçulmanos argelinos e procuraram
dividir a colónia ao longo de linhas
raciais. Disseram ter sido inspirados pela política do governo israelita. Assim, tal
como o seu apoio ao separatismo racial nazi e a recusa em se juntar ao boicote anti-
nazi judeu, o sionismo e Israel optaram por apoiar o racismo e o separatismo
colonial francês, e na verdade a lutar activamente contra a sua dissolução final na
Argélia, em vez de se juntar à condenação internacional das políticas coloniais
francesas.
10
Quebrando o boicote contra o apartheid
Mas a história do sionismo e dos boicotes não termina aí. O sionismo
manter-se-ia fiel aos seus princípios de apoiar boicotes que promovem o apartheid
racial e de denunciar boicotes que se opõem ao apartheid racial até aos dias de hoje.
Quando as Nações Unidas impuseram sanções obrigatórias contra a colonização
racista da Rodésia em 1966, Israel apoiou as sanções na ONU, mas na realidade não
as cumpriu. Israel iria fornecer armas e helicópteros para serem usados na contra-
insurgência pelo governo Rodesiano contra o movimento de independência anti-
racista que procurava derrubar o regime (uma táctica, como vimos, que aprendeu
com as forças coloniais francesas na Argélia e que foi partilhar com a supremacia
branca dos colonos rodesianos). De fato, os israelitas, quebrando o boicote
internacional, iriam fornecer aos rodesianos racistas, na década de 1970, uma
barreira de separação de 500 milhas ao longo da fronteira com Moçambique e
Zâmbia. A queda da colonização rodesiana em 1980 e a ascensão do Zimbabwe não
augurou nada de bom para o futuro de Israel.
Quando o Congresso Nacional Africano (CNA) e os seus aliados
progressistas, que também seriam seguidos pelas Nações Unidas, começaram a
apelar e efectivar diferentes formas de boicote contra o apartheid na África do Sul no
início dos anos 1960, Israel seria o transgressor central do boicote, tornando-se o
maior parceiro político e económico do estado apartheid. Na verdade a aliança
estratégica de Israel com a África do Sul seria construída nos finais de 1960,
enquanto a campanha de boicote contra o regime do apartheid se tornou mais
agressiva.
11
Aqui, novamente, o sionismo
permanecia fiel aos seus princípios. Um
de seus fundadores, Chaim Weizmann,
não era nada mais que um amigo íntimo
do líder Africânder, Jan Smuts, um dos
principais fundadores da África do Sul
moderna. Smuts era de tal modo
apoiante da colonização judia que os
colonos judeus deram o seu nome a um
kibutz: Ramat Yohanan. Fora tanto a
proximidade ideológica como o
posicionamento estrutural que levaram à
aliança entre as duas colónias de
colonos. Em Novembro de 1962, a
resolução 1761 da Assembleia Geral das
Nações Unidas foi aprovada e apelou a
um boicote voluntário, solicitando os
Estados membros de romper relações
diplomáticas com a África do Sul, de
cessar o comércio com a África do Sul
(em particular as exportações de armas),
e de negar passagem aos navios e aviões
sul africanos. Em Agosto de 1963, o Conselho de Segurança das Nações Unidas
estabeleceu um embargo de armas intencional contra a África do Sul. Finalmente,
em Novembro de 1977, o Conselho de Segurança aprovou um embargo de armas
obrigatório. Sob crescente pressão interna e internacional, a administração Carter
votou finalmente a favor do embargo.
Enquanto o consenso internacional aumentava contra o estado de
apartheid, Israel iria fortalecer a sua aliança com ele, não só na cooperação militar,
incluindo a nuclear, mas também fornecendo-lhe treino, armas e equipamentos para
acabar com as contínuas manifestações e revoltas anti-apartheid. O apoio ao estado
do apartheid viria da instituição racista e separatista, por excelência, de Israel, o
kibutz asquenaze-judaico. Por exemplo, o kibutz Beit Alfa iria fornecer as forças de
segurança da África do Sul do apartheid, com armas anti-motim para acabar com as
manifestações. Uma das principais indústrias de Beit Alfa é de facto equipamentos
de controle de motins, incluindo canhões de água, que iria fornecer ao regime do
apartheid na África do Sul na década de 1980 através de um "pacto secreto". Deve
ser mencionado que o kibutz BeitAlfa foi fundado pelo Fundo Nacional Judaico, em
parte, em terras compradas a proprietários ausentes e outra parte em terras
confiscadas pertencentes a aldeias palestinas.
Israel também forneceria a África do Sul, como no caso da Rodésia, com
12
centenas de milhas de barreiras eléctricas minadas para proteger as fronteiras do
estado racista da infiltração da guerrilha do ANC. Também construiria uma barreira
de mil milhas na fronteira da Namíbia-Angola para proteger a ocupação da Namíbia
pela África do Sul. A sua perícia em barreiras de separação e muros seria
aproveitada para uma utilização produtiva com o maciço "Muro do Apartheid" que
Israel viria a construir em terras palestinas a partir de 1994 e continuaria no decorrer
do século XXI. O romper do boicote ao regime do apartheid por Israel continuaria
até ao fim deste último em 1994. Com a queda da Argélia, Rodésia e África do Sul
coloniais, Israel permaneceu sozinho como o último colonizador europeu por terras
de Ásia e de África.
AAutoridade Palestina e boicote
Desde o início das chamadas "negociações de paz", todas as soluções
diplomáticas que Israel e a Autoridade Palestina (AP) assinaram são arquitectadas
para preservar o projecto de separação e partição racial de um “estado judeu” de
Israel. Com efeito, não só Israel e o presidente dos EUA, Barack Obama, insistem em
preservar Israel enquanto Estado judeu racista e separatista, como condição prévia a
todas as negociações de paz, mas também nas políticas israelitas de separação racial
na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que continuam incessantemente com a
construção de colonatos e estradas exclusivamente judeus em terras palestinas
roubadas.
Em Israel, os rabinos nomeados pelo Estado, ficaram indignados de que as
leis israelitas não garantiam plenamente o separatismo racial. À luz do apelo do
chefe dos rabino Safad exortando os judeus israelitas a não vender ou alugar casas
ou apartamentos a não-judeus, dezenas de rabinos municipais de Israel, adoptaram
a sua decisão rabínica em Dezembro de 2010. Os rabinos emitiram uma carta para
anunciar o seu apelo para "exortar os vizinhos de qualquer pessoa que estivesse a alugar ou
vender propriedade a árabes para avisar essa pessoa. Depois de entregar o aviso, o vizinho é
então encorajado a emitir avisos ao público em geral e informar a comunidade ... Os vizinhos
e conhecidos [de um judeu que vende ou aluga a um árabe ] devem distanciar-se do judeu,
abster-se de fazer negócios com ele, negar-lhe o direito de ler a Torá, e da mesma forma
[ostracizá-lo] até que ele abdique deste ato prejudicial ".
Ao contrário da resistência anti-colonial palestina que pretendia boicotar
produtos coloniais nos anos do mandato britânico, e ao contrário da Liga Árabe, que
exigiu um boicote árabe a Israel, a AP tem uma visão diferente das relações
económicas com Israel. Como a Organização Sionista Mundial e os sionistas alemães
que viram a luta contra o anti-semitismo como auto-destrutivo e viram a colaboração
com o anti-semitismo como crucial para o sucesso do sionismo, a liderança palestina
em Oslo seguiu uma estratégia semelhante de colaboração com o sionismo e de
proibição de lhe resistir.
13
Apelos a boicotes por palestinos são constantemente atacados por agentes
da AP, que só recentemente, em 2010, e sob pressão da opinião pública consideraram
um apelo minimalista para boicotar os colonatos judeus na Cisjordânia e em
Jerusalém Oriental. Em Dezembro de 2012, o não eleito primeiro-ministro da AP,
Salam Fayyad, um antigo adversário ao boicote a Israel, pela primeira vez, fez um
apelo aos palestinos da Cisjordânia para boicotar todos os bens israelitas em
retaliação à decisão do Governo israelita de sequestrar as receitas fiscais da AP, uma
acção que levou à falência dos cofres AP. O seu governo, no entanto, nunca forneceu
quaisquer mecanismos ou apoio logístico para tal boicote, nem houve qualquer
acompanhamento oficial. Na verdade, quando Fayyad anunciou o boicote aos
produtos dos colonatos, em Maio 2010, como um golpe de publicidade, foi
acompanhado de garantias do não eleito presidente da AP, Mahmoud Abbas, de que
a AP não estava nada a boicotar Israel e que continuaria a sua cooperação comercial.
14
BDS, Obama, e pinkwashing
Hoje, o movimento de boicote, desinvestimento e sanções palestino e a sua
rede de solidariedade internacional são os campeões do boicote aos colonatos
racistas israelitas. Como os seus nobres predecessores, desde os boicotes afro-
americanos nos séculos 19 e 20, o boicote indiano aos produtos britânicos, o boicote
anti-nazi judeu, e o boicote internacional da Rodésia e da África do Sul, o
movimento BDS insiste que o seu apelo a um boicote deve ser atendido até que
Israel abandone todas as suas leis e políticas racistas e se torne um estado não-
racista.
Tal como esperado, Israel tem mobilizado grande parte da sua força política
para derrotar a iniciativa BDS e solicitou a ajuda de seu formidável aliado, Barack
15
Obama, que expressou publicamente hostilidade ao movimento BDS e ameaçou
descaradamente o povo palestino, com consequências terríveis se ousarem
desmantelar as instituições racistas de Israel. As campanhas de Israel tem incluído o
que alguns chamaram "pinkwashing", retratando-se como um país democrático que
protege os direitos dos homossexuais ao contrário dos seus vizinhos árabes
supostamente opressivos. A este respeito, é importante mencionar a pré-história do
"pinkwashing" do sionismo.
O primeiro judeu europeu que o movimento sionista assassinou na Palestina
foi o poeta e escritor judeu holandês Jacob Israel de Haan. De Haan, que os sionistas
assassinaram em 1924, não era apenas um lutador contra o racismo e a opressão
sionista aos palestinos, mas também era conhecido nos círculos sionistas por se
envolver em actividades homossexuais, e por ter um carinho especial por jovens
rapazes palestinos (ele escreveu um poema sobre o tema). Avraham Tehoni, membro
do exército sionista oficial, o Haganá, recebeu ordens de Yitzhak Ben-Zvi, que se
tornaria o segundo presidente de Israel (1952-1963), para assassinar De Haan. Os
sionistas tentaram atribuir o assassinato de De Haan aos palestinos que estavam
supostamente motivados em matá-lo por causa de sua actividade homossexual com
rapazes palestinos. Enquanto a propaganda sionista fracassou, e, décadas mais tarde,
o assassino judeu de De Haan confessaria publicamente o seu assassinato, algumas
evidências sugerem que as actividades homossexuais de De Haan pudessem ter sido
um factor importante na mente dos decisores sionistas quando ordenaram o seu
assassinato, embora o seu assassino tivesse negado que isso fora um motivo.
A tentativa de Israel de se rotular como uma sociedade justa e igualitária
esbarra na sua realidade actual e inflexível racista. A sua oposição ao movimento
palestino BDS é muitas vezes enquadrado como uma oposição a todos os boicotes
como forma de luta. Mas, como mostram os registos históricos, isto não é uma
posição sionista consagrada pelo tempo. Como o têm feito ao longo da sua história, o
sionismo e Israel continuarão a apoiar qualquer boicote que visa institucionalizar o
racismo e o separatismo racial e a denunciar qualquer boicote que procura acabar
com o racismo e o separatismo racial. A sua campanha e a de Obama contra o BDS
devem ser entendidas neste contexto do seu compromisso com o Apartheid
enquanto princípio de organização da vida humana.
Joseph Massad é professor associado na Universidade de Columbia. Ensina História Moderna
Intelectual e Política Árabe. É o autor de “A Persistência da questão Palestiniana” publicado
pela Routledge.
Fonte:
http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2013/03/201331884943284526.html
Tradução: GAP
“O Sapato
Em 1919, a revolucionária Rosa Luxemburgo foi assassinada em Berlim.
Os assassinos golpearam-na com golpes de fuzil e atiraram-na às águas de um
canal.
Ao longo do caminho, ela perdeu um sapato.
Alguma mão recolheu esse sapato, retirando-o da lama.
Rosa queria um mundo onde a justiça não fosse sacrificada em nome da liberdade,
nem a liberdade fosse sacrificada em nome da justiça.
Todos os dias, uma mão segura essa bandeira.
Recolhida da lama, como o sapato.”
(Eduardo Galeano in “Os Filhos dos Dias”)
Cynthia Enloe, na sua obra The Curious Feminist: Searching for Women in the
New Age ofEmpire (2004) defende que a curiosidade feminista obriga a que se preste
uma séria atenção ao modo de vida de qualquer outra mulher, o que permite que se
obtenha um maior entendimento sobre as questões das guerras e dos militarismos.
Foi esta curiosidade feminista que me levou a interessar-me pelo quotidiano das
mulheres palestinianas e a perceber claramente o movimento que ocorre no espaço
onde se encontram Israel e a Palestina e que todos designam de conflito. É
fundamental que isto se clarifique: Não estamos perante um conflito entre duas
nações, mas sim de um movimento colonialista em que Israel procura conquistar a
Palestina, substituindo a sua população por outra. Quando os primeiros sionistas
chegaram à Palestina, desconsideraram a população local e comportaram-se como
se tivessem chegado a “uma terra sem povo para um povo sem terra” e os
palestinianos existiam apenas como personae non gratae, sem condições para ter
voz activa. Sendo assim, o objectivo é aniquilar a população local seja por
genocídio, migração forçada, assimilação ou marginalização, para fundar uma nova
sociedade, substituindo uma população por outra. Tudo isto é feito com o apoio de
todos os países ocidentais, principalmente dos Estados Unidos da América que
fazem vista grossa à violação do Plano de Partilha da ONU, de 1947 e que, para
além de reconhecem Israel, o apresentam como o único Estado Democrático e
civilizado do Médio Oriente, portador de valores liberais numa região dominada
pelo fundamentalismo. Por isto é que as negociações de paz, iniciadas há mais de
vinte anos, não levam a nada. A disseminação de desinformação e a deturpação de
questões sobre este movimento de colonização pela comunicação social ocidental,
conduz a que qualquer pressão externa seja vista como uma acção anti-semita,
principalmente na Europa, onde a memória do Holocausto ainda é um legado
muito pesado. No entanto, estereótipos sobre o comportamento dos muçulmanos
difundem-se hoje com um sangue frio que já ninguém se atreve a exibir quando se
fala de judeus. Os meios de comunicação estão inundados de estereótipos que
16
Eu, feminista, apoio o BDS!
Helena Ferreira
identificam o Islão com o terrorismo, os árabes com a violência e o Oriente com a
tirania e por detrás destas imagens está a ameaça da jihad provocando o medo que
os muçulmanos conquistem o mundo.
Durante mais de meio século, os palestinianos têm sido sujeitos a ataques contínuos:
milhares de homens, mulheres e crianças são mortos impunemente ou detidos
arbitrariamente; sofrem processos de expropriação de terras e propriedades, foram
sitiados dentro de um monstruoso e opressivo muro que isola famílias e
comunidades inteiras, privando-as dos seus meios de subsistência e dos recursos
básicos, foram obrigados a emigrar e a viver como refugiados. Em suma: ou os
matam ou lhes roubam a vida! No meio de todo este caos, em que uma sociedade
inteira perde a sua identidade, os grupos mais vulneráveis como as mulheres e as
crianças posicionam-se em contextos de grande risco. Observando na perspectiva de
género, com o foco nas mulheres, as activistas com alguma mobilidade nesta região
apontam algumas áreas que são particularmente problemáticas. Muitas mulheres
que vivem na Cisjordânia ou em Gaza, tiveram que procurar trabalho, porque os
homens ou são mortos, ou detidos ou encontram-se impedidos de se movimentar
para fora do muro. Estas mulheres acabam por trabalhar ilegalmente, sem leis que as
protejam, confrontando-se diariamente com situações de exploração e assédio no
local de trabalho e violência em casa, uma vez que o contexto patriarcal dita que os
homens são os chefes de família e estes encontram-se frustrados devido à
humilhação que sofreram por parte dos soldados israelitas e ao sentimento de
impotência, descarregando toda a sua raiva nas mulheres. As mães e mulheres
grávidas vivem atemorizadas de não conseguir chegar a tempo à assistência médica,
devido aos postos de controle, uma vez que existem elevadas taxas de mortalidade
infantil, devido aos acessos limitados e às restrições de circulação. A educação das
raparigas é sacrificada porque as famílias não enviam as suas filhas à escola com
medo do assédio (sexual ou outro) por parte dos soldados israelitas. Isto conduz a
casamentos e gravidezes precoces. As mulheres palestinianas que se encontram em
Israel, vivem em aldeias não reconhecidas e lutam pela sobrevivência das suas
comunidades frágeis com o sentimento antagónico de querer mostrar solidariedade
com o sofrimento da sua comunidade na Cisjordânia e em Gaza e o querer manter o
estatuto de cidadãs com os poucos benefícios que isso lhes traz.
Entende-se o feminismo como um movimento de emancipação que emergiu
da tomada de consciência da opressão vivenciada pelas mulheres. Este movimento
só tem sentido se estiver empenhado com a equidade e justiça social de todos os
seres humanos e com a luta para eliminar todas as formas de violência e opressão.
Desta forma, uma das grandes batalhas do feminismo é dar voz às mulheres e a
todos os subalternos, particularmente àqueles que se encontram sob a alçada de um
poder colonial que os constituem sempre como os “outros” diferentes e inferiores.
Nenhuma pessoa ou grupo social se pode apropriar legitimamente do rótulo
“feminista” sem se comprometer com estes princípios e é por isso que chegou a hora
de todas as feministas segurarem na mão a bandeira da Palestina retirada da lama
como o sapato da Rosa Luxemburgo. Segurar essa bandeira significa apoiar o
17
Movimento BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções. O BDS é um movimento não
violento contra os actos violentos contínuos cometidos pelo país colonizador -
Israel, que se entende da seguinte forma: “Boicote” refere-se a uma opção
individual de abstenção de aquisição de bens ou serviços a empresas ou
organizações que lucram com as violações às leis internacionais cometidas por
Israel; “Desinvestimento” centra-se na retirada de investimentos por parte de
empresas e instituições a qualquer negócio que lucre com as referidas violações; e
“Sanções” refere-se à implementação de leis nos Governos que proíbam interacções,
principalmente as económicas entre os Estados e Israel e empresas israelitas. Este
movimento apenas reclama que Israel cumpra o direito internacional e os direitos
humanos estabelecidos, ou seja, que coloque um fim à ocupação e colonização das
terras árabes ocupadas em Junho de 1967 e que derrube o muro da Cisjordânia, que
reconheça os direitos fundamentais de igualdade dos cidadãos palestinianos e que
respeite, proteja e promova os direitos dos refugiados palestinianos para que estes
possam voltar para as suas casas e propriedades tal como estipulado na resolução
n.º194 da ONU. Isto é tão perceptível e legítimo que não se percebe a relutância do
mundo ocidental e a insistência na defesa que apoiar o BDS é uma declaração de
anti-semitismo, quando de facto, não o é, de forma nenhuma. BDS é uma táctica
legítima que tem sido utilizada por todos os movimentos de defesa dos direitos
humanos ao longo do tempo, incluindo a África do Sul no período do apartheid.
Aceitar uma contra-informação que persegue e diaboliza o BDS é fechar os olhos às
contínuas violações dos direitos humanos, opressão sistemática e desigualdade que
Israel impõe aos palestinianos. Todas e todos aqueles que estão do lado da justiça,
liberdade e igualdade devem abraçar esta causa e unir-se a todas as formas não-
violentas de pressão contra Israel. Isso não é ser anti-semita, não é um gesto contra
o povo judeu, é um acto contra o governo de Israel, que se afirma democrático e
civilizado e que abusa de toda a população palestiniana continuamente e para
quem as palavras de crítica não são suficientes, daí serem necessárias atitudes que
levem a consequências concretas e o movimento BDS é o caminho.
Todas as iniciativas internacionais de negociações de acordos de Paz
falharam. Novas tentativas parecem não fazer sentido, não pode haver negociações
entre um país dominante e um país que foi dominado através da ocupação aberta e
que como subalterno não tem condições para saber o que é melhor para ele,
segundo o seu colonizador. É até absurdo utilizar o termo “negociações” numa
situação em que um país aponta as armas à cabeça de toda uma população de outro
país para impor as suas condições. É necessário que Israel ponha fim à ocupação e
respeite os direitos humanos de todos os palestinianos. A paz só poderá ser
alcançada quando existir justiça, liberdade e igualdade e isso não acontecerá se os
israelitas não tiverem pressões externas, daí a grande importância do BDS.
Eu, feminista, desenterrei o sapato da lama, seguro com toda a força a
bandeira da Palestina e digo sim ao Boicote, Desinvestimento e Sanções.
18
19
Ao Chefe José Avillez
CANCELE A SUA PARTICIPAÇÃO NO ROUND TABLES TOUR-
TIRE O APARTHEID DO SEU MENU -
Na versão em papel, a carta encontra-se num envelope,
Nesta versão, em pdf pode ser lida aqui:
https://www.slideshare.net/grupodeaccaopalestina/carta-ao-chef-avillez
20
Notícia/Texto publicado no Indymedia com o título (Porto)
Restaurante de Avillez alvo de acção directa.
Quando a política [a]condimenta as iguarias: Avillez no Round
Tables 2016 em Telavive.
Há uma velha iguaria mundial que, mais recentemente, tem sido servida à
americana (1). Trata-se de uma iguaria cozinhada pelos estados das democracias
ocidentais, entre elas Israel, tal como foi apresentada no baile de debutante em 1949
na ONU. A partir desse momento, os procedimentos da Hell's Kitchen sionista
repartiram-se entre escalfar, cozer, estrugir, refogar, grelhar, assar, saltear, fritar,
estufar, aplicando sistematicamente os requintados ingredientes da colonização:
espoliação, expulsão, assassinatos, detenções administrativas, racismo, apartheid,
discriminação e controlo arbitrário. Sempre com uma pitada de crueldade. Perante
tal ementa, a sociedade civil de Palestina-Israel criou, em 2005, o Movimento de
Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), um prato não violento à base de
liberdade, igualdade e justiça, de forma a contrariar o apetite voraz dos governos
do estado de Israel e parar a colonização, desmantelar o muro, conceder igualdade
de direitos e respeitar os direitos dos refugiados. Através de muito trabalho e
persistência, e apesar da extrema (o)pressão, o movimento foi ganhando força,
consistência e visibilidade. Tanto que, em 2011, se iniciou uma espécie de "guerra
legal" para permitir a Israel defender-se juridicamente no mundo inteiro contra
qualquer prejuízo ocasionado pelo movimento BDS. Entretanto, com as eleições de
Março 2015, foi disponibilizado um orçamento para o ministério dos assuntos
estratégicos, dedicado a "black-ops" contra as acções BDS. Simultaneamente, toda a
estratégia de marketing político direccionada para orientar a opinião pública
[hasbará(2)] a favor da ilustre debutante foi reforçada. Uma estratégia em que
podemos enquadrar o evento internacional de gastronomia Round Tables, iniciado
em 2015, e que, sem espanto, tem o patrocínio dos ministérios do turismo e dos
negócios estrangeiros israelitas. Para além da American-Express, ingrediente que
realça os sabores até dos repastos mais frugais, o que, bem vistas as coisas, nem é o
caso.
Recentemente, o movimento BDS alertou-nos para a participação de um
chef português no projecto gastronómico Round Tables Tour, evento de culinária a
decorrer em Telavive entre 8 e 26 de Novembro de 2016. Infelizmente, a acção
indirecta alimentada por cartas educadas a apelar para que Avillez não participasse
- cartas divulgadas na imprensa dos monopólios ou em redes restritas – foi apenas
uma entrada que o Chef rejeitou. E que não nos encheu os olhos, deixando um travo
amargo nos nossos estômagos de poetas, que apenas um copo de acção directa – essa
forma máxima de poesia - mitigará.
Se, como o pôs Brillat-Savarin num aforismo no seu livro intitulado a
Fisiologia do Gosto, "o destino das nações depende da forma como elas se
alimentam", uma população obrigada à fome encara um evento internacional como
um texto publicitário que esconde e branqueia os negros livros da antiga tragédia.
Para esse povo, que outra forma de o alimentarmos que não esta de enviar, daqui de
longe, um poema solidário?
O vermelho que escorre no vidro é o sangue que Avillez avilta com a sua
colaboração culinária. Porque "o destino das nações depende da forma como elas se
alimentam".
A cola que veda a fechadura é a fome provocada que Avillez quer gourmet.
Porque "o destino das nações depende da forma como elas se alimentam".
As ementas recheadas de realidade são a face visível de que "o destino das
nações depende da forma como elas se alimentam".
Uma poética que se deve saborear para além do paladar literal das palavras,
bastando digeri-la com delicadeza semântica q.b.
21
Reflexão sobre a vaga de notícias recentes em torno de uma acção
directa de protesto político no Porto e o movimento BDS
Porto, 18 de novembro 2016, GAP
O Grupo Acção Palestina (GAP) subscreveu, juntamente com outros
colectivos/ associações, a carta dirigida ao ChefAvillez a pedir que não participasse
no evento de culinária Round Table Tour, promovido pelo governo de Israel
(Ministério do Turismo, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Câmara Municipal
de Telavive), programado para decorrer de 8 a 26 de Novembro em Telavive. Apesar
do apelo ter sido internacional, envolvendo uma campanha mundial direccionada a
todos os Chefs participantes, e publicado na página do Movimento de Boicote,
Desinvestimento e Sanções, na altura, como sempre, teve pouca visibilidade
mediática. Nem a notícia de que a Chef Kamilla Siedler cancelara a sua participação
chegou a entrar nos títulos do mundo das notícias. Isto leva-nos a questionar
seriamente o papel dos media na actualidade e o que é uma notícia, o que é uma
informação. Não será o papel dos órgãos de comunicação social darem a conhecer e
trazerem para o público, através de um verdadeiro trabalho de investigação, o que
se passa no mundo?
O ChefAvillez não deu qualquer resposta à carta que lhe fora enviada.
Poderia ter tido a sensibilidade de responder qualquer coisa, porque afinal tratam-se
de violações cometidas contra seres humanos, contra um povo colonizado e
oprimido, o povo palestiniano.
Uma notícia publicada no dia 19/11 pelo Centro de Media Independente, o
Indymedia, um site que recebe notícias (contrariamente ao que é veiculado
erradamente pelo Expresso e o Observador) e que, ao contrário de todos os outros
órgãos de comunicação social, as publica - posto que o GAP, tal como outras
associações e colectivos, chegou a enviar-lhe notícias de actividades, protestos e
manifestações que foram publicadas - o mesmo não podemos dizer dos media
dominantes com a sua superioridade sobranceira e critério de selecção de notícias
limitadas às futilidades do politicamente correcto e do main stream - informou-nos
de uma acção de protesto no Porto contra a colaboração do chefAvillez no referido
evento de culinária. Entretanto, a acção de protesto foi veiculada por vários órgãos
de comunicação social (Jerusalem Post , Observador, Notícias ao minuto, Jornal de
Notícias, Porto24, Público, Correio da Manhã, RTP) cada qual ecoando a primeira
22
notícia, publicada no dia 20/11 à 1:46 da manhã, pelo Times of Israel (TOI).
Como todas as notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social foram
beber ao mesmo artigo do TOI, sem se preocuparem em fazer um trabalho de
pesquisa, não podemos deixar de nos questionar. Serão mesmo activistas anti-Israel?
Serão mesmo activistas do movimento BDS? Por outro lado, se o que foi afixado
dizia “Free Palestine”, “Avillez collaborates with Zionist occupation” e “Entrée: A
dose of white phosphorus.” (“Palestina Livre”, “Avillez colabora com a ocupação
Sionista” e “Entrada: uma dose de fósforo branco”) onde estão as mensagens anti-
Israel? ou as mensagens anti-semitas como afirma Robert Singer? E afinal de contas,
quem é Robert Singer? Uma rápida busca na página oficial do World Jewish
Congress, teria permitido perceber facilmente a filiação política de Robert Singer e
veicular isso mesmo, que se tratava de uma única posição política entre outras que
seriam necessárias.
Curiosamente, a acção em si teve mais impacto nos órgãos de comunicação
social do que os crimes quotidianos cometidos pelo governo de Israel. Curiosamente,
teve mais impacto do que os apelos internacionais do movimento BDS. Infelizmente,
apenas se confirma a pobreza de um jornalismo que troca “Boicote, Desinvestimento
e Sanções” por “Boicote, Desenvolvimento e Sanções”, que desconhece as redes de
media independentes, como o Indymedia, e nem procura esclarecer-se e esclarecer o
público, propagando a desinformação mais incompetente.
Quanto à acção efectuada no Porto, o GAP solidariza-se com os activistas e
solidariza-se com o Centro de Media Independente - Indymedia. Esta chuva de
notícias relativas à acção directa efectuada no Porto teve a importância de permitir a
entrada no vocabulário da imprensa das palavras movimento BDS (Boicote,
Desinvestimento e Sanções).
FONTES
www.roundtablestour.com/en/
https://bdsmovement.net
pt.indymedia.org
No Times of Israel (TOI):
http://www.timesofisrael.com/portuguese-eatery-trashed-over-chefs-visit-to-israel/
http://expresso.sapo.pt/dossies/diario/2016-11-21-Ataque-a-restaurante-de-Avillez-
reivindicado-em-canal-anarquista
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-11-22-Face-Oculta-o-autor-sem- rosto-que-
reivindicou-o-ataque-ao-Cantinho-do-Avillez
23
http://observador.pt/2016/11/21/blogue-anarquista-reivindica-ataque-ao-restaurante-de-
jose- avillez/
No Jerusalem Post, a notícia constitui quase um copiar-colar do TOI:
http://www.jpost.com/Arab-Israeli-Conflict/Portuguese-eatery-trashed-over-chefs-visit-to-
Israel-473123
No Observador, a notícia é uma espécie de tradução do TOI:
http://observador.pt/2016/11/20/ restaurante-de-jose-avillez-no-porto-vandalizado-por-
movimento-pro-palestiniano/
No Notícias ao minuto: https://www.noticiasaominuto.com/pais/691079/restaurante-de-
avillez- vandalizado-pede-se-liberdade-para-a-palestina
No Jornal de Notícias, o título muda, mas encontramos um copiar/colar da noticia anterior:
http://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/restaurante-do-chef-jose-avillez-no-
porto- vandalizado-5507987.html
No Porto24, muda novamente o título, mas de resto é copiar/colar: http://www.porto24.pt/
cidade/restaurante-cantinho-do-avillez-
vandalizado/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter
No Público, apesar de ser um artigo ligeiramente diferente, mais completo, a fonte principal
continua a ser o TOI: https://www.publico.pt/sociedade/noticia/restaurante-cantinho-do-
avillez-alvo- de-protestos-de-grupo-propalestiniano-1751854
No Correio da Manhã: http://www.cmjornal.pt/cm-ao-minuto/detalhe/restaurante-de-jose-
avillez- vandalizado-no-porto?ref=HP_Grupo1
Na RTP: http://www.rtp.pt/noticias/pais/restaurante-do-chef-jose-avillez-na-mira-do-
grupo-pro- palestiniano-bds_v963364
Texto publicado a 23/11/2016 no blogue do GAP:
http://grupoaccaopalestina.blogspot.pt/2016/11/reflexao-sobre-vaga-de-noticias.html
24
Uma das mais dolorosas “crises prolongadas” actuais não se encontra no
quadro da FAO (2). Trata-se da consequência directa do bloqueio de Gaza.
O território de Gaza forma uma faixa de terra de 41 quilómetros de
comprimento e de 6 a 12 quilómetros de largura na costa oriental do Mediterrâneo,
junto do Egipto. É povoada desde há cerca de três mil e quinhentos anos e deu
nascimento à cidade de Gaza, um porto e um mercado dedicados ao comércio entre
o Egipto e a Síria, a península arábica e o Mediterrâneo.
Hoje em dia, mais de 1,5 milhão de Palestinianos, que se amontoam nos 365
quilómetros quadrados da faixa de Gaza, são em grande parte refugiados e
descendentes de refugiados das guerras israelo-árabes de 1947, 1967 e 1973.
Em Fevereiro de 2005, o governo de Sharon decidiu evacuar os colonatos do
território de Gaza. Dora em diante a Autoridade Palestiniana assumiria todas as
responsabilidades administrativas no território de Gaza. Mas, de acordo com o
direito internacional, Israel permaneceria a potência ocupante: o espaço aéreo, as
águas territoriais e as fronteiras terrestres ficariam sob o seu controlo (3).
Assim, Israel construiu na parte lateral à volta do território de Gaza, uma
barreira electrificada reforçada dos dois lados por uma zona minada. Gaza tornou-se
na maior prisão a céu aberto do planeta.
Enquanto potência ocupante, Israel deveria respeitar o direito internacional
humanitário e renunciar nomeadamente ao uso da arma da fome contra a população
civil(4). Eis o que se passa.
Encontrei-me uma tarde na cidade de Gaza no escritório iluminado de sol da
comissária geral da agência de socorro e obras das Nações Unidas para os refugiados
da Palestina no Médio Oriente (UNRWA/United Nations Relief and Works Agency in
the Near East), KarenAbou Zaïd, uma linda mulher loira de origem americana casada
com um palestiniano. Nesse dia, ela vestia com elegância um amplo vestido
palestiniano bordado de vermelho e preto. Incansável, dia após dia, desde 2005 em
que substituiu o dinamarquês Peter Hansen, declarado persona non grata pelo
ocupante israelita, lutava contra os generais israelitas para manter em
funcionamento os centros nutricionais, os hospitais e as 221 escolas da UNRWA.
A comissária geral estava preocupada: “ A anemia provocada pela mal-
nutrição....muitas crianças estão doentes. Tivemos que fechar mais de trinta das
nossas escolas... Muitas crianças não se seguram em pé. A anemia devasta-as. Já
nem conseguem concentrar-se…”
Em voz baixa, continuou: “É difícil concentrar-se quando a única coisa em
que se pensa écomida”(5).
Na faixa de Gaza, depois de 2006, devido ao bloqueio israelo-egipcio, a
O gueto de Gaza (1)
Jean Ziegler
25
situação alimentar deteriorou-se ainda mais.
Em 2010, o desemprego atingia 81% da população activa. A perda de
emprego, de receitas, de activos e de rendimentos hipotecou fortemente o acesso à
comida dos habitantes de Gaza.
O rendimento por habitante diminuiu para metade desde 2006. Em 2010,
oito pessoas em dez tinham um rendimento inferior ao limiar de pobreza extrema
(menos de 1,25 dólar por dia); 34% dos habitantes estavam gravemente sub-
alimentados.
A situação é particularmente trágica para os grupos mais vulneráveis. Cada
dia, há 22 000 mulheres grávidas no gueto. A sub-alimentação provoca certamente
mutilações cerebrais nas crianças ainda por nascer.
Em 2010, quatro famílias em cinco só tomavam uma refeição por dia. Para
sobreviver, 80% dos habitantes dependiam da ajuda alimentar internacional.
Toda a população de Gaza é punida por actos de que não é responsável (6).
A 27 de Dezembro de 2008, as forças aéreas, terrestres e navais de Israel
iniciaram um ataque geral contra as infraestruturas e os habitantes do gueto de
Gaza. 1444 palestinianos, entre as quais 348 crianças, foram mortas, frequentemente
por armas que Israel experimentava pela primeira vez. Uma das principais armas
testadas sobre as mulheres, homens e crianças de Gaza foi o DIME ( Dense Inert Metal
Explosive). Transportada por um drone, a bomba é constituída por esferas de
tungsténio que explodem no interior do corpo e rasgam literalmente as vítimas (7).
Os habitantes do gueto encontraram-se na impossibilidade de fugir: do lado
de Israel, por causa da cerca electrificada; do lado egípcio, por causa da fronteira
fechada de Rafah.
Mais de 6000 homens, mulheres e crianças palestinianas também foram
feridas, amputadas, paralisadas, queimadas, mutiladas (8).
Os agressores destruíram sistematicamente as infraestruturas civis,
nomeadamente agrícolas. O maior moinho de trigo de Gaza – um dos únicos dos três
moinhos ainda a funcionar – o moinho Al-Badr, em Sudnyiyah, a oeste de Jablyah,
foi atacado pelos F-16 israelitas e totalmente destruído(9).
No entanto, o pão é o alimento de base em Gaza.
Dois ataques sucessivos, a 3 e 10 de Janeiro de 2009, levados a cabo por
aviões com mísseis ar-terra, destruíram a central de filtragem de água da cidade de
Gaza, situada na rua Al-Sheikh Ejin, e as diques do lago de retenção de águas
usadas.
Assim a cidade ficou privada de água potável.
26
O presidente da Comissão de investigação do Conselho dos direitos do
homem da ONU, Richard Goldstone, indica que nem o moinho al-Badr, nem a
central de filtragem da água, nem a quinta d'al-samouni (onde houve 23 mortes)
acolhiam, ou acolheram em qualquer altura, combatentes palestinianos.
Portanto, não podiam constituir alvos militares legítimos (10).
Em 2011, o bloqueio de Gaza continuou (11). O governo de Telavive só deixa
entrar no gueto comida suficiente para evitar uma lazeira generalizada, demasiado
visível no contexto internacional.
Organiza a sub-alimentação e a mal-nutrição.
Stéphane Hessel e Michel Warschawski consideram que esta estratégia tem
por objectivo fazer deliberadamente sofrer os habitantes do gueto para que estes se
levantem contra o poder do Hamas. Com este fim político, o governo de Telavive
utiliza, portanto, a arma da fome (12).
27
NOTAS
(1) Tradução (pp. 71-76) in Jean Ziegler (2011). Destruction Massive. Géopolitique de
la faim. Paris: Seuil.
(2) FAO: Food and Agricultural Organization / Organização para a Alimentação e a
Agricultura criada em Junho 1945 pela ONU.
(3) Ver “United Nations fact finding mission on the Gaza conflict”, ONU, New York, 2009.
A comissão de investigação, mandatada pelo Conselho dos direitos do homem, foi
presidida pelo juiz sul-africano Richard Goldstone. Este documento de 826 páginas
será referido por “Relatório Goldstone”. Este relatório foi publicado pelas edições
Melzer, Neu-Isenburg em 2010 com um prefácio de Stéphane Hessel e uma
introdução de Ilan Pappe. Em 2011, Richard Goldstone, sofrendo a pressão da sua
comunidade religiosa de origem, tentou modificar algumas conclusões do relatório.
Amaioria da comissão impediu esta tentativa.
(4) Ver Richard Falk, relator especial da ONU para os Territórios Palestinianos
Ocupados, nomeadamente os relatórios de junho 2010, agosto 2010 e janeiro 2011,
Ref. A/HR HRC/13/53, A/HRC 565/331 e A/HRC 16/72.
(5) Karen Abou Zaid ocupou o posto de comissária geral da UNRWA até ao final de
2009.
(6) O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CIRC), “Gaza closure”, Genebra, 14 de
Junho de 2010. Ver também Christophe Oberlin, Chronique de Gaza, Paris, Éditions
Demi-Lune, 2011; e também Amnistia Internacional, Suffocating. The Gaza strip
under Israeli blockade. Londres, 2010.
(7) Ver o relatório dos médicos noruegueses, Mats Gilbert e Erik Fosse, Eyes in Gaza,
Quartet Books, Londres, 2010.
(8) O Relatório Goldstone, capítulo 6, “Os mortos e os feridos”. Entre os soldados
israelitas, 10 foram mortos, vários por “friendly fire” (fogo amigável), devido a erros
do próprio exército israelita.
(9) Ibid., capítulo 13, “ Destruição das bases de vida da população palestiniana,
ataques contra a produção alimentar e abastecimento em água”.
(10) Ibid., capítulo 11, “Ataques intencionais contra a população civil”.
(11) Apesar da queda do regime de Mubarak, em Fevereiro de 2011, o Egipto
continua de ser um protectorado israelo-americano. O Conselho militar no poder no
Cairo mantém a fronteira de Rafah fechada, Le Monde, 15 de Agosto de 2011.
(12) Stéphane Hessel e Michel Warschawski, intervenções no colóquio intitulado
“Crimes de guerra, bloqueio de Gaza”, na Universidade de Genebra a 13 de março
de 2011.
28
CAMPANHA-SELO: Espaço livre de
apartheid sionista, racismo
e antisemitismo.
29
A proposta de adesão ao selo constitui uma tomada de posição política
solidária com o apelo da sociedade civil palestina ao Boicote, Desinvestimento e
Sanções (BDS).
O movimento BDS nasceu em 2005 no seio da sociedade civil palestina com
a publicação de um manifesto assinado por organizações sociais, ONGs, partidos e
sindicatos tomando como referência a campanha internacional de boicote contra o
apartheid sul-africano, que foi fundamental para acabar com aquele regime racista.
30
A sociedade civil internacional responde a este apelo lançado desde a Palestina para
disseminar a campanha por todo o mundo envolvendo-nos numa solidariedade do
género político que procura ir ao cerne do problema e combatê-lo. Assim, apoia a
luta do povo palestino pelos seus direitos humanos e pelo direito à igualdade e à
auto-determinação, exigindo:
- O fim da ocupação.
- O direito ao regresso das 7,5 milhões de refugiadas palestinas.
- Aigualdade de direitos.
No campo económico, a campanha BDS é especialmente importante na
Europa, dado os acordos sócio-comerciais com Israel.
Na Europa, as empresas produtoras, grossistas e importadoras têm a
obrigação de informar o lugar de origem dos produtos. Muitas vezes, a etiqueta
“fabricado em Israel” é utilizada, fraudulentamente, por produtoras e exportadoras
israelitas para comercializar produtos fabricados ou cultivados nas colónias ilegais,
dentro dos territórios palestinos ocupados.
Neste contexto, os espaços livres de apartheid sionista podem aderir e
difundir as campanhas globais do movimento BDS, informar e combater as parcerias
com instituições públicas israelitas e absterem-se de comercializar produtos
israelitas.
O selo “Espaço Livre de Apartheid Sionista” é o rosto visível da
solidariedade com o povo palestino. Sendo uma posição política que transcende a
caridade e os remendos humanitários compromete-se num movimento global de
defesa dos direitos humanos do povo palestino, que pressiona Israel para que
respeite as leis internacionais mediante o boicote dos produtos israelitas e a denúncia
das suas políticas de apartheid.
Os espaços, que quiserem aderir à campanha para se declararem livres de
apartheid sionista, podem contactar o GAP para receber o selo e demonstrarem o seu
compromisso com o respeito pelos direitos humanos, a igualdade entre todas e a
auto-determinação dos povos.
Para aderir à campanha, receber o selo e promover uma sessão de abertura
de um espaço livre de apartheid sionista, de racismo e de anti-semitismo escreve-nos
para: accao.palestina@gmail.com
GAP - Grupo Acção Palestina
Mail: accao.palestina@gmail.com
Blogue: grupoaccaopalestina.blogspot.pt
Twitter: @GAPporto2010
Facebook: @GrupoAccaoPalestina
BDS - Boicote Desinvestimento Sanções
Site: bdsmovement.net
BDS Portugal - facebook: @BDS.Portugal
Grupo BDS Norte:
www.facebook.com/groups/795544497143182/
CAMPANHA-SELO
ESPAÇO LIVRE DE APARTHEID SIONISTA,
RACISMO E ANTISEMITISMO:
Aderir e pedir o selo: accao.palestina@gmail.com
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Folhas Soltas do GAP nº 8

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  • 2. ÍNDICE Informações sobre o movimento BDS................................................ 3 Israel e a Política do Boicote, Joseph Massad.......................................................................................... 4 Eu, feminista, apoio o BDS! Helena Ferreira....................................................................................... 16 Carta ao Chefe José Avillez................................................................. 19 Quando a política [a]condimenta as iguarias: Avillez no Round Tables 2016 em Telavive...................................... 20 Reflexão sobre a vaga de notícias recentes em torno de uma acção directa de protesto político no Porto e o movimento BDS, GAP........................................................................................................... 22 O gueto de Gaza , Jean Ziegler.............................................................................................. 25 CAMPANHA-SELO: Espaço livre de apartheid sionista, racismo e antisemitismo...................................................................................... 29 INFORMAÇÕES E CONTACTOS................................................................. 31 2 A selecção dos textos recebidos pelo GAP é feita com base num único critério: conteúdos não racistas. Aopinião expressa nos textos do Folhas Soltas são da responsabilidade das pessoas que os escreveram.
  • 3. Informações sobre o movimento BDS BDS significa: Boicote, Desinvestimento, Sanções O QUE É? É um movimento global contra as políticas sionistas, desenvolvidas e praticadas pelos sucessivos governos de Israel, que oprimem o povo palestiniano. O movimento foi iniciado em 2005 pela sociedade civil palestiniana. É uma estratégia de acção não violenta que procura reivindicar direitos iguais para o povo palestiniano, acabar com a ocupação e a colonização e desmantelar o muro e, finalmente, respeitar o direito dos refugiados. Boicote: visa não comprar e/ou comercializar produtos israelitas, i.e., empresas israelitas e internacionais que lucram com as violações dos direitos do povo palestiniano e que contribuem directamente para manter, defender e branquear a opressão. Desinvestimento: visa pressionar corporações cúmplices com as violações dos direitos do povo palestiniano. Trata-se de levar corporações , empresas e instituições a usarem a sua influência económica para pressionar Israel a acabar com as suas políticas colonizadoras e opressivas. Sanções: trata-se de exigir de entidades/países a reprovação pública das práticas racistas das políticas sionistas.. 3 Alguns exemplos de empresas visadas pelo movimento BDS Véolia: empresa francesa envolvida na construção do Jerusalem Light Rail, fornecendo serviços de saneamento , recolha do lixo, fornecimento de água nos colonatos e noutros paises. G4S: empresa anglo-dinamarquesa que fornece serviços de segurança, equipamentos para os checkpoints, as prisões e a polícia. Sodastream: empresa com sede no colonato ilegal de Ma'ale Adumin que comercializa as máquinas e acessórios refrigerantes. Ahava: empresa que vende produtos de beleza do mar morto, extraindo recursos em territórios ocupados.
  • 4. O sionismo e Israel continuarão a apoiar qualquer boicote que procura institucionalizar o racismo e o separatismo racial. O termo “boicote" é tão antigo quanto o sionismo político. Como se sabe, entrou no léxico em 1880 com a acção dos camponeses irlandeses contra os despejos previstos pelos proprietários e seus agentes – neste caso um agente chamado Charles Boycott. Contudo, não foi a primeira vez que esta estratégia foi utilizada. Na verdade, meio século antes, em 1830, nos Estados Unidos, a Convenção Nacional indiano aos produtos britânicos começado em 1919 para acabar com a ocupação britânica da Índia), tácticas contra a ocupação dos colonizadores (inclusive o boicote aos colonatos israelitas pela Liga Árabe desde meados de 1940 e o boicote contra o Apartheid Sul Africano no início dos anos 1960), até tácticas anti-racistas (inclusive Negra apoiou um boicote aos produtos produzidos por escravos, um movimento que começou entre os Quakers no final do século XVIII e que se espalhou entre abolicionistas brancos e negros durante o século XIX até à Guerra Civil Americana. Estes inícios auspiciosos do boicote para restaurar a terra e a liberdade dos camponeses e dos escravos inspirariam movimentos no século XX que iriam desde tácticas anti-coloniais (tal como o boicote o boicote judeu contra os nazis em 1933 para acabar com a segregação racial nazi e o boicote do autocarro Montgomery por africanos americanos em meados de 1950 para acabar com o Apartheid dos brancos americanos no Alabama, assim como no Sul da América). Boicotar os Palestinos Há, porém, uma história diferente dos usos do boicote. Contrastando com Israel e a política de boicote Joseph Massad 4
  • 5. as utilizações para forçar o fim das injustiças coloniais de raça e de classe, o boicote também foi implementado para trazer injustiça colonial e racial. O sionismo seria pioneiro neste sentido. Após a formalização do colonialismo sionista no Primeiro Congresso Sionista em 1897, colonos judeus ficaram furiosos com o facto de colonos judeus de origem russa, que se instalaram na Palestina a partir de 1880, empregarem trabalhadores palestinos disponíveis e baratos nas suas colónias agrícolas. Foi neste contexto que o sionismo viria a desenvolver a sua noção racista separatista de “trabalho hebreu” insistindo e, mais tarde, implementando a sua regulação em todas as colónias judias na Palestina, nomeadamente que nos colonatos judeus houvessem exclusivamente trabalhadores judeus. Percebendo a dificuldade de impor o seu projecto de racialização na Palestina, um país que o sionismo ainda não controlava, o movimento desenvolveu a ideia da primeira comunidade racialmente separatista planificada para o uso exclusivo dos judeus Asquenazes, ou seja, o kibutz que se iria desenvolver na primeira década do século XX. Não nos equivoquemos sobre a ideia do kibutz enquanto compromisso com o socialismo, para rectificar o registo, foi o líder sionista, David Ben-Gurion, que surgiu com a ideia exclusiva de "trabalho hebreu" para boicotar os palestinos: O kibutz foi criado para "garantir o trabalho judeu [separatista]" e não como uma aplicação da teoria socialista. À medida que uma economia e colónia judaicas racialmente separatistas, estabelecidas nas terras dos palestinos, continuaram a ser o principal objectivo do sionismo, o princípio do boicote do trabalho e dos produtos palestinos tornar-se-ia mais agressivo com o passar do tempo. Tal como anteriormente o seu aparentado movimento sionista, que usou a táctica de boicote para efectuar a separação racial e a discriminação, em vez de acabar com isso, a Federação do Trabalho Sionista, a Histadrut, começaria em 1927 a utilizar os piquetes, um acto consagrado pelo tempo. Os Piquetes são tradicionalmente utilizados pelos trabalhadores e sindicatos para acabar com as práticas de exploração e tratamento injusto dos trabalhadores. Neste caso, os colonos judeus utilizaram os piquetes para fomentar a discriminação contra trabalhadores palestinos e negar-lhes o emprego no seu próprio país. A campanha sionista de piquetes procurou boicotar empresas judias que continuavam a utilizar 5
  • 6. mão de obra palestina, bem como os bens produzidos pelos palestinos. Isto não se limitava apenas aos colonatos agrícolas judeus nas zonas rurais palestinas, mas também incluiu áreas urbanas onde os negócios judeus contratavam palestinos na área da construção. A campanha sionista continuaria até 1936, quando a Grande Revolta Palestina iria irromper ameaçando tanto o projecto colonial dos colonos sionistas, como a ocupação britânica que o protegia. Nestes nove anos de piquetes, não só os trabalhadores entre os colonos judeus se juntaram às linhas de piquetes, mas também os profissionais e a classe média da sociedade colonial judaica, incluindo actores, professores, bibliotecários, assim como funcionários do Histadrut. Além da grande campanha de piquetes dos pomares de citrinos de Kfar Saba na década de 1920, a Histadrut iria organizar "piquetes móveis", que levariam os piquetes aos estaleiros de obras nas cidades, incluindo Telavive, onde os trabalhadores palestinos trabalharam na construção da primeira cidade judaica racialmente separada. Se os piquetes do mundo inteiro iriam assediar os fura-greves cooptados por patrões exploradores à custa dos trabalhadores sindicalizados, os piquetes judeus coloniais na Palestina iriam perseguir os trabalhadores palestinos que violavam o projecto racialmente separatista do sionismo. Os piquetes iriam atacar e bater nos trabalhadores palestinos, roubar as suas ferramentas e destruir o seu trabalho. Os piquetes também iriam destruir os produtos das colónias judias que empregavam camponeses e trabalhadores palestinos. Isso não foi uma excepção, mas remetia para as práticas coloniais sionistas da primeira década do século XX, quando o princípio racista do "trabalho hebreu" foi pela primeira vez posto em prática. Quando colonos judeus descobriram em 1908 que as jovens árvores, numa floresta criada em memória do fundador do sionismo Theodor Herzl, em Ben Shemen perto de Lydda, foram plantadas por palestinos, vieram e arrancaram-nas para depois replantadas-las novamente, preservando assim o carácter judeu da floresta. Quebrando o boicote anti-Nazi Ao contrário dos sionistas que foram pioneiros no uso dos boicotes para efectivar o separatismo racial, os nazis seriam retardatários nesta táctica. Os nazis iriam começar a boicotar as empresas judias na Alemanha a partir de Abril de 1933 em resposta ao apelo judeu americano para um boicote da Alemanha nazi, que tinha começado um mês antes, em Março de 1933. Perante a perseguição racista aos judeus pelo regime nazi, Judeus Americanos e outros Judeus Europeus começaram uma 6
  • 7. campanha em Março de 1933 para boicotar a Alemanha Nazi até que ela parasse a sua campanha racista e perseguição política dos judeus alemães. Enquanto os judeus americanos, incluindo sionistas, começaram a pressionar os políticos e as organizações dos EUA para se juntar ao boicote, a liderança sionista na Palestina e na Alemanha viu a questão de maneira diferente. Foi neste contexto que os sionistas assinaram o famoso Acordo de Transferência (Haavara) com a Alemanha nazi, em que os judeus ao saírem da Alemanha para a Palestina seriam compensados pela sua propriedade perdida - que não podiam transferir para fora do país - através da transferência de mercadorias alemãs para as colónias judias na Palestina. As entidades oficiais do acordo incluíam a Federação Sionista da Alemanha, o governo nazi, e o Banco Anglo-Palestino (que foi fundado em 1899 como o braço financeiro da Organização Sionista Mundial - OSM -, sob o nome de "The Jewish Colonial Trust" - Fundo Colonial Judeu - e renomeado em 1950 como "Bank Leumi"). O Banco Leumi é hoje o maior banco em Israel. O Acordo Haavara, que foi assinado em 1933, não só quebrou o boicote contra a Alemanha nazi, mas também implicou a venda de produtos alemães pelos sionistas à Grã-Bretanha. Sessenta por cento de todo o capital investido nas colónias judias da Palestina entre 1933 e 1939 veio do dinheiro judeu Alemão através do Acordo de Transferência. Isto enfureceu não só os judeus norte-americanos e europeus que promoviam o boicote, que a OSM 7
  • 8. quebrava, mas também os revisionistas de direita dentro do próprio movimento sionista, que assassinaram o principal emissário sionista junto dos nazis, Chaim Arlosoroff, em 1933, no seu regresso da Alemanha nazi, onde negociara o Acordo. Não só o sionismo quebrava o boicote, mas a sua filial local alemã também seria a única organização judia alemã que iria apoiar as leis nazis de Nuremberga, emitidas em 1935 para separar racialmente os alemães judeus dos alemães "arianos". Os sionistas, tal como os nazis, concordaram que os alemães "arianos" e os alemães judeus eram raças e povos distintos. Aqui, o pensamento sionista torna-se claro sobre a questão dos boicotes. Enquanto os sionistas estavam a utilizar os boicotes para implementar o separatismo racial e colonial na Palestina e privilegiar os judeus colonizadores e separá-los dos palestinos árabes, opuseram-se ao boicote judeu da Alemanha nazi, que procurava acabar com o separatismo racial nazi no país perseguindo judeus. Para o sionismo, o que mais importava era o seu compromisso com o separatismo racial, seja na Alemanha ou na Palestina, e só suportava os boicotes que iriam realizá-lo. Na verdade, como os nazis na década de 1930 procuraram deportar os judeus e tornar a Alemanha Judenrein (os nazis propuseram Madagáscar como destino para os alemães judeus), os sionistas propunham a Palestina como destino para os alemães judeus, cuja deportação finalmente apoiaram, e utilizavam as campanhas de boicote e de piquetes para tornar o futuro Estado judeu na Palestina Araberrein. Os palestinos opuseram-se ao separatismo sionista com os seus próprios boicotes, alvejando as colónias sionistas e seus produtos durante os anos do mandato britânico. A Liga dos Estados Árabes iria emitir o seu próprio boicote aos produtos sionistas e israelitas, que entraria em vigor em 1945. Tal como o boicote dos americanos judeus à Alemanha nazi em 1933 que pretendia acabar com o separatismo racial nazi, o boicote palestino da década de 1930 e o boicote da Liga Árabe foram impostos precisamente para acabar com o separatismo racial e colonial e a discriminação contra os palestinos praticados pelos judeus. Apoiando o colonialismo Francês De 1948 até 1967, os israelitas tornar-se-iam os maiores aliados da França, que era o principal poder colonizador europeu de imposição de um apartheid racial noutro povo árabe, nomeadamente os argelinos. Durante esse período, não só a França tornar-se-ia o maior aliado e fornecedor de armas a Israel, mas o facto dos dois países partilharem o estatuto de serem os únicos dois poderes colonizadores europeus em terras árabes foi fundamental nos seus cálculos. Quando a revolta argelina começou em Novembro de 1954, os franceses decidiram aumentar as suas vendas de armas aos israelitas. Generais franceses explicaram a intensificação de sua aliança militar com Israel como parte da luta 8
  • 9. contra os revolucionários argelinos, bem como contra o líder anti-imperialista árabe, Gamal Abdel Nasser, que apoiou a Revolução argelina. A aliança e amizade entre os dois estados colonizadores era tão forte que Israel também iria realizar manobras militares com os franceses em território argelino ocupado e iria alistar argelinos judeus (cuja cidadania francesa lhes fora concedida em 1870 para separá-los de seus compatriotas argelinos muçulmanos e conceder-lhes os privilégios de colonos franceses brancos) para espiar o movimento Nacional Argelino que procurava acabar com o colonialismo francês e o racismo. Poucos meses depois do fim do seu cargo de 13 meses como Governador Geral da Argélia Francesa, o político colonialista francês e depois terrorista, Jacques Soustelle, ajudou a criar e presidiu a Aliança França-Israel, um lobby pró-Israel, em Novembro de 1956. Isto seguiu-se ao conluio entre Israel e França para invadir o Egipto naquele ano e destruir o regime de Abdel Nasser. Em 1958, Soustelle iria intimar não só Israel, mas as comunidades judaicas do mundo para apoiar o apartheid colonial francês na Argélia: "Acreditamos que, dada a influência que não só Israel, mas acima de tudo as comunidades judaicas pelo mundo exercem sobre a opinião internacional, esta aliança irá produzir resultados felizes para nós ". As opiniões anti-semitas e próximas do nazismo de Soustelle, relativas ao alegado poder das comunidades judaicas do mundo, não incomodou Israel nem por pouco. Na verdade, Soustelle iria juntar-se ao grupo terrorista a Organização do Exército Secreto (OAS) em 1960 para lutar contra a independência da Argélia, que era então a visão cada vez mais aceite nos círculos governamentais franceses para o futuro da Argélia. A aliança militar com Israel não só forneceu armas e treino militar aos israelitas, mas também tornou possível que os próprios franceses aprendessem alguns truques Israelitas, incluindo o "bombardeio comboio", que os franceses usariam na Argélia. E não foi só. Oficiais franceses seriam enviados para Israel para aprender as novas técnicas de guerra psicológica dos colonos judeus. O General francês Maurice Challe, comandante-em-chefe das forças francesas na Argélia (1958-1960), insistiu numa entrevista com Sylvia Crosbie que os israelitas eram "artistas esmerados" em lidar com os nativos palestinos. Challe foi mais longe e esperava usar o kibutz como um modelo para o seu programa de pacificação na Argélia, 9
  • 10. mas o triunfo da Revolução argelina impediria o seu plano de ser executado. As missões de estudo israelitas na Argélia também foram bem acolhidas dado que os israelitas estavam dispostos a aprender com os franceses a utilização de helicópteros para combater os guerrilheiros argelinos. Challe, como outros generais que eram amigos de Israel, iriam participar no golpe fracassado de Abril 1961 contra o governo francês na Argélia e seriam julgados por um tribunal militar. O testemunho de pelo menos um participante no golpe falhado afirmou que os líderes do golpe estavam à espera do apoio de um certo número de poderes colonizadores: “Portugal, África do Sul, América do Sul, e talvez Israel.” A aliança de Israel com a França colonial iria azedar quando os franceses optaram por terminar a sua guerra contra o povo argelino e conceder-lhe a sua independência. Descontente com o seu isolamento, enquanto única colónia colonizadora europeia remanescente no mundo árabe, Israel apressou-se a apoiar os terroristas de direita franceses que se opunham a seu governo e começaram a lutar contra a independência da Argélia. Além de recrutar um número de judeus argelinos, que se juntaram à OAS terrorista, na rede de espionagem de Israel, os israelitas forneceram apoio logístico aos terroristas franceses. Isto incluiu suporte ao próprio Jacques Soustelle, que foi apoiado por Ben Gurion e foi financiado por ricos judeus americanos de direita pró- israelitas que se opunham a de Gaulle e à independência da Argélia. Comandos judeus argelinos organizaram-se em Orão contra os muçulmanos argelinos e procuraram dividir a colónia ao longo de linhas raciais. Disseram ter sido inspirados pela política do governo israelita. Assim, tal como o seu apoio ao separatismo racial nazi e a recusa em se juntar ao boicote anti- nazi judeu, o sionismo e Israel optaram por apoiar o racismo e o separatismo colonial francês, e na verdade a lutar activamente contra a sua dissolução final na Argélia, em vez de se juntar à condenação internacional das políticas coloniais francesas. 10
  • 11. Quebrando o boicote contra o apartheid Mas a história do sionismo e dos boicotes não termina aí. O sionismo manter-se-ia fiel aos seus princípios de apoiar boicotes que promovem o apartheid racial e de denunciar boicotes que se opõem ao apartheid racial até aos dias de hoje. Quando as Nações Unidas impuseram sanções obrigatórias contra a colonização racista da Rodésia em 1966, Israel apoiou as sanções na ONU, mas na realidade não as cumpriu. Israel iria fornecer armas e helicópteros para serem usados na contra- insurgência pelo governo Rodesiano contra o movimento de independência anti- racista que procurava derrubar o regime (uma táctica, como vimos, que aprendeu com as forças coloniais francesas na Argélia e que foi partilhar com a supremacia branca dos colonos rodesianos). De fato, os israelitas, quebrando o boicote internacional, iriam fornecer aos rodesianos racistas, na década de 1970, uma barreira de separação de 500 milhas ao longo da fronteira com Moçambique e Zâmbia. A queda da colonização rodesiana em 1980 e a ascensão do Zimbabwe não augurou nada de bom para o futuro de Israel. Quando o Congresso Nacional Africano (CNA) e os seus aliados progressistas, que também seriam seguidos pelas Nações Unidas, começaram a apelar e efectivar diferentes formas de boicote contra o apartheid na África do Sul no início dos anos 1960, Israel seria o transgressor central do boicote, tornando-se o maior parceiro político e económico do estado apartheid. Na verdade a aliança estratégica de Israel com a África do Sul seria construída nos finais de 1960, enquanto a campanha de boicote contra o regime do apartheid se tornou mais agressiva. 11
  • 12. Aqui, novamente, o sionismo permanecia fiel aos seus princípios. Um de seus fundadores, Chaim Weizmann, não era nada mais que um amigo íntimo do líder Africânder, Jan Smuts, um dos principais fundadores da África do Sul moderna. Smuts era de tal modo apoiante da colonização judia que os colonos judeus deram o seu nome a um kibutz: Ramat Yohanan. Fora tanto a proximidade ideológica como o posicionamento estrutural que levaram à aliança entre as duas colónias de colonos. Em Novembro de 1962, a resolução 1761 da Assembleia Geral das Nações Unidas foi aprovada e apelou a um boicote voluntário, solicitando os Estados membros de romper relações diplomáticas com a África do Sul, de cessar o comércio com a África do Sul (em particular as exportações de armas), e de negar passagem aos navios e aviões sul africanos. Em Agosto de 1963, o Conselho de Segurança das Nações Unidas estabeleceu um embargo de armas intencional contra a África do Sul. Finalmente, em Novembro de 1977, o Conselho de Segurança aprovou um embargo de armas obrigatório. Sob crescente pressão interna e internacional, a administração Carter votou finalmente a favor do embargo. Enquanto o consenso internacional aumentava contra o estado de apartheid, Israel iria fortalecer a sua aliança com ele, não só na cooperação militar, incluindo a nuclear, mas também fornecendo-lhe treino, armas e equipamentos para acabar com as contínuas manifestações e revoltas anti-apartheid. O apoio ao estado do apartheid viria da instituição racista e separatista, por excelência, de Israel, o kibutz asquenaze-judaico. Por exemplo, o kibutz Beit Alfa iria fornecer as forças de segurança da África do Sul do apartheid, com armas anti-motim para acabar com as manifestações. Uma das principais indústrias de Beit Alfa é de facto equipamentos de controle de motins, incluindo canhões de água, que iria fornecer ao regime do apartheid na África do Sul na década de 1980 através de um "pacto secreto". Deve ser mencionado que o kibutz BeitAlfa foi fundado pelo Fundo Nacional Judaico, em parte, em terras compradas a proprietários ausentes e outra parte em terras confiscadas pertencentes a aldeias palestinas. Israel também forneceria a África do Sul, como no caso da Rodésia, com 12
  • 13. centenas de milhas de barreiras eléctricas minadas para proteger as fronteiras do estado racista da infiltração da guerrilha do ANC. Também construiria uma barreira de mil milhas na fronteira da Namíbia-Angola para proteger a ocupação da Namíbia pela África do Sul. A sua perícia em barreiras de separação e muros seria aproveitada para uma utilização produtiva com o maciço "Muro do Apartheid" que Israel viria a construir em terras palestinas a partir de 1994 e continuaria no decorrer do século XXI. O romper do boicote ao regime do apartheid por Israel continuaria até ao fim deste último em 1994. Com a queda da Argélia, Rodésia e África do Sul coloniais, Israel permaneceu sozinho como o último colonizador europeu por terras de Ásia e de África. AAutoridade Palestina e boicote Desde o início das chamadas "negociações de paz", todas as soluções diplomáticas que Israel e a Autoridade Palestina (AP) assinaram são arquitectadas para preservar o projecto de separação e partição racial de um “estado judeu” de Israel. Com efeito, não só Israel e o presidente dos EUA, Barack Obama, insistem em preservar Israel enquanto Estado judeu racista e separatista, como condição prévia a todas as negociações de paz, mas também nas políticas israelitas de separação racial na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que continuam incessantemente com a construção de colonatos e estradas exclusivamente judeus em terras palestinas roubadas. Em Israel, os rabinos nomeados pelo Estado, ficaram indignados de que as leis israelitas não garantiam plenamente o separatismo racial. À luz do apelo do chefe dos rabino Safad exortando os judeus israelitas a não vender ou alugar casas ou apartamentos a não-judeus, dezenas de rabinos municipais de Israel, adoptaram a sua decisão rabínica em Dezembro de 2010. Os rabinos emitiram uma carta para anunciar o seu apelo para "exortar os vizinhos de qualquer pessoa que estivesse a alugar ou vender propriedade a árabes para avisar essa pessoa. Depois de entregar o aviso, o vizinho é então encorajado a emitir avisos ao público em geral e informar a comunidade ... Os vizinhos e conhecidos [de um judeu que vende ou aluga a um árabe ] devem distanciar-se do judeu, abster-se de fazer negócios com ele, negar-lhe o direito de ler a Torá, e da mesma forma [ostracizá-lo] até que ele abdique deste ato prejudicial ". Ao contrário da resistência anti-colonial palestina que pretendia boicotar produtos coloniais nos anos do mandato britânico, e ao contrário da Liga Árabe, que exigiu um boicote árabe a Israel, a AP tem uma visão diferente das relações económicas com Israel. Como a Organização Sionista Mundial e os sionistas alemães que viram a luta contra o anti-semitismo como auto-destrutivo e viram a colaboração com o anti-semitismo como crucial para o sucesso do sionismo, a liderança palestina em Oslo seguiu uma estratégia semelhante de colaboração com o sionismo e de proibição de lhe resistir. 13
  • 14. Apelos a boicotes por palestinos são constantemente atacados por agentes da AP, que só recentemente, em 2010, e sob pressão da opinião pública consideraram um apelo minimalista para boicotar os colonatos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Em Dezembro de 2012, o não eleito primeiro-ministro da AP, Salam Fayyad, um antigo adversário ao boicote a Israel, pela primeira vez, fez um apelo aos palestinos da Cisjordânia para boicotar todos os bens israelitas em retaliação à decisão do Governo israelita de sequestrar as receitas fiscais da AP, uma acção que levou à falência dos cofres AP. O seu governo, no entanto, nunca forneceu quaisquer mecanismos ou apoio logístico para tal boicote, nem houve qualquer acompanhamento oficial. Na verdade, quando Fayyad anunciou o boicote aos produtos dos colonatos, em Maio 2010, como um golpe de publicidade, foi acompanhado de garantias do não eleito presidente da AP, Mahmoud Abbas, de que a AP não estava nada a boicotar Israel e que continuaria a sua cooperação comercial. 14 BDS, Obama, e pinkwashing Hoje, o movimento de boicote, desinvestimento e sanções palestino e a sua rede de solidariedade internacional são os campeões do boicote aos colonatos racistas israelitas. Como os seus nobres predecessores, desde os boicotes afro- americanos nos séculos 19 e 20, o boicote indiano aos produtos britânicos, o boicote anti-nazi judeu, e o boicote internacional da Rodésia e da África do Sul, o movimento BDS insiste que o seu apelo a um boicote deve ser atendido até que Israel abandone todas as suas leis e políticas racistas e se torne um estado não- racista. Tal como esperado, Israel tem mobilizado grande parte da sua força política para derrotar a iniciativa BDS e solicitou a ajuda de seu formidável aliado, Barack
  • 15. 15 Obama, que expressou publicamente hostilidade ao movimento BDS e ameaçou descaradamente o povo palestino, com consequências terríveis se ousarem desmantelar as instituições racistas de Israel. As campanhas de Israel tem incluído o que alguns chamaram "pinkwashing", retratando-se como um país democrático que protege os direitos dos homossexuais ao contrário dos seus vizinhos árabes supostamente opressivos. A este respeito, é importante mencionar a pré-história do "pinkwashing" do sionismo. O primeiro judeu europeu que o movimento sionista assassinou na Palestina foi o poeta e escritor judeu holandês Jacob Israel de Haan. De Haan, que os sionistas assassinaram em 1924, não era apenas um lutador contra o racismo e a opressão sionista aos palestinos, mas também era conhecido nos círculos sionistas por se envolver em actividades homossexuais, e por ter um carinho especial por jovens rapazes palestinos (ele escreveu um poema sobre o tema). Avraham Tehoni, membro do exército sionista oficial, o Haganá, recebeu ordens de Yitzhak Ben-Zvi, que se tornaria o segundo presidente de Israel (1952-1963), para assassinar De Haan. Os sionistas tentaram atribuir o assassinato de De Haan aos palestinos que estavam supostamente motivados em matá-lo por causa de sua actividade homossexual com rapazes palestinos. Enquanto a propaganda sionista fracassou, e, décadas mais tarde, o assassino judeu de De Haan confessaria publicamente o seu assassinato, algumas evidências sugerem que as actividades homossexuais de De Haan pudessem ter sido um factor importante na mente dos decisores sionistas quando ordenaram o seu assassinato, embora o seu assassino tivesse negado que isso fora um motivo. A tentativa de Israel de se rotular como uma sociedade justa e igualitária esbarra na sua realidade actual e inflexível racista. A sua oposição ao movimento palestino BDS é muitas vezes enquadrado como uma oposição a todos os boicotes como forma de luta. Mas, como mostram os registos históricos, isto não é uma posição sionista consagrada pelo tempo. Como o têm feito ao longo da sua história, o sionismo e Israel continuarão a apoiar qualquer boicote que visa institucionalizar o racismo e o separatismo racial e a denunciar qualquer boicote que procura acabar com o racismo e o separatismo racial. A sua campanha e a de Obama contra o BDS devem ser entendidas neste contexto do seu compromisso com o Apartheid enquanto princípio de organização da vida humana. Joseph Massad é professor associado na Universidade de Columbia. Ensina História Moderna Intelectual e Política Árabe. É o autor de “A Persistência da questão Palestiniana” publicado pela Routledge. Fonte: http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2013/03/201331884943284526.html Tradução: GAP
  • 16. “O Sapato Em 1919, a revolucionária Rosa Luxemburgo foi assassinada em Berlim. Os assassinos golpearam-na com golpes de fuzil e atiraram-na às águas de um canal. Ao longo do caminho, ela perdeu um sapato. Alguma mão recolheu esse sapato, retirando-o da lama. Rosa queria um mundo onde a justiça não fosse sacrificada em nome da liberdade, nem a liberdade fosse sacrificada em nome da justiça. Todos os dias, uma mão segura essa bandeira. Recolhida da lama, como o sapato.” (Eduardo Galeano in “Os Filhos dos Dias”) Cynthia Enloe, na sua obra The Curious Feminist: Searching for Women in the New Age ofEmpire (2004) defende que a curiosidade feminista obriga a que se preste uma séria atenção ao modo de vida de qualquer outra mulher, o que permite que se obtenha um maior entendimento sobre as questões das guerras e dos militarismos. Foi esta curiosidade feminista que me levou a interessar-me pelo quotidiano das mulheres palestinianas e a perceber claramente o movimento que ocorre no espaço onde se encontram Israel e a Palestina e que todos designam de conflito. É fundamental que isto se clarifique: Não estamos perante um conflito entre duas nações, mas sim de um movimento colonialista em que Israel procura conquistar a Palestina, substituindo a sua população por outra. Quando os primeiros sionistas chegaram à Palestina, desconsideraram a população local e comportaram-se como se tivessem chegado a “uma terra sem povo para um povo sem terra” e os palestinianos existiam apenas como personae non gratae, sem condições para ter voz activa. Sendo assim, o objectivo é aniquilar a população local seja por genocídio, migração forçada, assimilação ou marginalização, para fundar uma nova sociedade, substituindo uma população por outra. Tudo isto é feito com o apoio de todos os países ocidentais, principalmente dos Estados Unidos da América que fazem vista grossa à violação do Plano de Partilha da ONU, de 1947 e que, para além de reconhecem Israel, o apresentam como o único Estado Democrático e civilizado do Médio Oriente, portador de valores liberais numa região dominada pelo fundamentalismo. Por isto é que as negociações de paz, iniciadas há mais de vinte anos, não levam a nada. A disseminação de desinformação e a deturpação de questões sobre este movimento de colonização pela comunicação social ocidental, conduz a que qualquer pressão externa seja vista como uma acção anti-semita, principalmente na Europa, onde a memória do Holocausto ainda é um legado muito pesado. No entanto, estereótipos sobre o comportamento dos muçulmanos difundem-se hoje com um sangue frio que já ninguém se atreve a exibir quando se fala de judeus. Os meios de comunicação estão inundados de estereótipos que 16 Eu, feminista, apoio o BDS! Helena Ferreira
  • 17. identificam o Islão com o terrorismo, os árabes com a violência e o Oriente com a tirania e por detrás destas imagens está a ameaça da jihad provocando o medo que os muçulmanos conquistem o mundo. Durante mais de meio século, os palestinianos têm sido sujeitos a ataques contínuos: milhares de homens, mulheres e crianças são mortos impunemente ou detidos arbitrariamente; sofrem processos de expropriação de terras e propriedades, foram sitiados dentro de um monstruoso e opressivo muro que isola famílias e comunidades inteiras, privando-as dos seus meios de subsistência e dos recursos básicos, foram obrigados a emigrar e a viver como refugiados. Em suma: ou os matam ou lhes roubam a vida! No meio de todo este caos, em que uma sociedade inteira perde a sua identidade, os grupos mais vulneráveis como as mulheres e as crianças posicionam-se em contextos de grande risco. Observando na perspectiva de género, com o foco nas mulheres, as activistas com alguma mobilidade nesta região apontam algumas áreas que são particularmente problemáticas. Muitas mulheres que vivem na Cisjordânia ou em Gaza, tiveram que procurar trabalho, porque os homens ou são mortos, ou detidos ou encontram-se impedidos de se movimentar para fora do muro. Estas mulheres acabam por trabalhar ilegalmente, sem leis que as protejam, confrontando-se diariamente com situações de exploração e assédio no local de trabalho e violência em casa, uma vez que o contexto patriarcal dita que os homens são os chefes de família e estes encontram-se frustrados devido à humilhação que sofreram por parte dos soldados israelitas e ao sentimento de impotência, descarregando toda a sua raiva nas mulheres. As mães e mulheres grávidas vivem atemorizadas de não conseguir chegar a tempo à assistência médica, devido aos postos de controle, uma vez que existem elevadas taxas de mortalidade infantil, devido aos acessos limitados e às restrições de circulação. A educação das raparigas é sacrificada porque as famílias não enviam as suas filhas à escola com medo do assédio (sexual ou outro) por parte dos soldados israelitas. Isto conduz a casamentos e gravidezes precoces. As mulheres palestinianas que se encontram em Israel, vivem em aldeias não reconhecidas e lutam pela sobrevivência das suas comunidades frágeis com o sentimento antagónico de querer mostrar solidariedade com o sofrimento da sua comunidade na Cisjordânia e em Gaza e o querer manter o estatuto de cidadãs com os poucos benefícios que isso lhes traz. Entende-se o feminismo como um movimento de emancipação que emergiu da tomada de consciência da opressão vivenciada pelas mulheres. Este movimento só tem sentido se estiver empenhado com a equidade e justiça social de todos os seres humanos e com a luta para eliminar todas as formas de violência e opressão. Desta forma, uma das grandes batalhas do feminismo é dar voz às mulheres e a todos os subalternos, particularmente àqueles que se encontram sob a alçada de um poder colonial que os constituem sempre como os “outros” diferentes e inferiores. Nenhuma pessoa ou grupo social se pode apropriar legitimamente do rótulo “feminista” sem se comprometer com estes princípios e é por isso que chegou a hora de todas as feministas segurarem na mão a bandeira da Palestina retirada da lama como o sapato da Rosa Luxemburgo. Segurar essa bandeira significa apoiar o 17
  • 18. Movimento BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções. O BDS é um movimento não violento contra os actos violentos contínuos cometidos pelo país colonizador - Israel, que se entende da seguinte forma: “Boicote” refere-se a uma opção individual de abstenção de aquisição de bens ou serviços a empresas ou organizações que lucram com as violações às leis internacionais cometidas por Israel; “Desinvestimento” centra-se na retirada de investimentos por parte de empresas e instituições a qualquer negócio que lucre com as referidas violações; e “Sanções” refere-se à implementação de leis nos Governos que proíbam interacções, principalmente as económicas entre os Estados e Israel e empresas israelitas. Este movimento apenas reclama que Israel cumpra o direito internacional e os direitos humanos estabelecidos, ou seja, que coloque um fim à ocupação e colonização das terras árabes ocupadas em Junho de 1967 e que derrube o muro da Cisjordânia, que reconheça os direitos fundamentais de igualdade dos cidadãos palestinianos e que respeite, proteja e promova os direitos dos refugiados palestinianos para que estes possam voltar para as suas casas e propriedades tal como estipulado na resolução n.º194 da ONU. Isto é tão perceptível e legítimo que não se percebe a relutância do mundo ocidental e a insistência na defesa que apoiar o BDS é uma declaração de anti-semitismo, quando de facto, não o é, de forma nenhuma. BDS é uma táctica legítima que tem sido utilizada por todos os movimentos de defesa dos direitos humanos ao longo do tempo, incluindo a África do Sul no período do apartheid. Aceitar uma contra-informação que persegue e diaboliza o BDS é fechar os olhos às contínuas violações dos direitos humanos, opressão sistemática e desigualdade que Israel impõe aos palestinianos. Todas e todos aqueles que estão do lado da justiça, liberdade e igualdade devem abraçar esta causa e unir-se a todas as formas não- violentas de pressão contra Israel. Isso não é ser anti-semita, não é um gesto contra o povo judeu, é um acto contra o governo de Israel, que se afirma democrático e civilizado e que abusa de toda a população palestiniana continuamente e para quem as palavras de crítica não são suficientes, daí serem necessárias atitudes que levem a consequências concretas e o movimento BDS é o caminho. Todas as iniciativas internacionais de negociações de acordos de Paz falharam. Novas tentativas parecem não fazer sentido, não pode haver negociações entre um país dominante e um país que foi dominado através da ocupação aberta e que como subalterno não tem condições para saber o que é melhor para ele, segundo o seu colonizador. É até absurdo utilizar o termo “negociações” numa situação em que um país aponta as armas à cabeça de toda uma população de outro país para impor as suas condições. É necessário que Israel ponha fim à ocupação e respeite os direitos humanos de todos os palestinianos. A paz só poderá ser alcançada quando existir justiça, liberdade e igualdade e isso não acontecerá se os israelitas não tiverem pressões externas, daí a grande importância do BDS. Eu, feminista, desenterrei o sapato da lama, seguro com toda a força a bandeira da Palestina e digo sim ao Boicote, Desinvestimento e Sanções. 18
  • 19. 19 Ao Chefe José Avillez CANCELE A SUA PARTICIPAÇÃO NO ROUND TABLES TOUR- TIRE O APARTHEID DO SEU MENU - Na versão em papel, a carta encontra-se num envelope, Nesta versão, em pdf pode ser lida aqui: https://www.slideshare.net/grupodeaccaopalestina/carta-ao-chef-avillez
  • 20. 20 Notícia/Texto publicado no Indymedia com o título (Porto) Restaurante de Avillez alvo de acção directa. Quando a política [a]condimenta as iguarias: Avillez no Round Tables 2016 em Telavive. Há uma velha iguaria mundial que, mais recentemente, tem sido servida à americana (1). Trata-se de uma iguaria cozinhada pelos estados das democracias ocidentais, entre elas Israel, tal como foi apresentada no baile de debutante em 1949 na ONU. A partir desse momento, os procedimentos da Hell's Kitchen sionista repartiram-se entre escalfar, cozer, estrugir, refogar, grelhar, assar, saltear, fritar, estufar, aplicando sistematicamente os requintados ingredientes da colonização: espoliação, expulsão, assassinatos, detenções administrativas, racismo, apartheid, discriminação e controlo arbitrário. Sempre com uma pitada de crueldade. Perante tal ementa, a sociedade civil de Palestina-Israel criou, em 2005, o Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), um prato não violento à base de liberdade, igualdade e justiça, de forma a contrariar o apetite voraz dos governos do estado de Israel e parar a colonização, desmantelar o muro, conceder igualdade de direitos e respeitar os direitos dos refugiados. Através de muito trabalho e persistência, e apesar da extrema (o)pressão, o movimento foi ganhando força, consistência e visibilidade. Tanto que, em 2011, se iniciou uma espécie de "guerra legal" para permitir a Israel defender-se juridicamente no mundo inteiro contra qualquer prejuízo ocasionado pelo movimento BDS. Entretanto, com as eleições de Março 2015, foi disponibilizado um orçamento para o ministério dos assuntos estratégicos, dedicado a "black-ops" contra as acções BDS. Simultaneamente, toda a estratégia de marketing político direccionada para orientar a opinião pública [hasbará(2)] a favor da ilustre debutante foi reforçada. Uma estratégia em que podemos enquadrar o evento internacional de gastronomia Round Tables, iniciado em 2015, e que, sem espanto, tem o patrocínio dos ministérios do turismo e dos negócios estrangeiros israelitas. Para além da American-Express, ingrediente que realça os sabores até dos repastos mais frugais, o que, bem vistas as coisas, nem é o caso. Recentemente, o movimento BDS alertou-nos para a participação de um chef português no projecto gastronómico Round Tables Tour, evento de culinária a decorrer em Telavive entre 8 e 26 de Novembro de 2016. Infelizmente, a acção indirecta alimentada por cartas educadas a apelar para que Avillez não participasse
  • 21. - cartas divulgadas na imprensa dos monopólios ou em redes restritas – foi apenas uma entrada que o Chef rejeitou. E que não nos encheu os olhos, deixando um travo amargo nos nossos estômagos de poetas, que apenas um copo de acção directa – essa forma máxima de poesia - mitigará. Se, como o pôs Brillat-Savarin num aforismo no seu livro intitulado a Fisiologia do Gosto, "o destino das nações depende da forma como elas se alimentam", uma população obrigada à fome encara um evento internacional como um texto publicitário que esconde e branqueia os negros livros da antiga tragédia. Para esse povo, que outra forma de o alimentarmos que não esta de enviar, daqui de longe, um poema solidário? O vermelho que escorre no vidro é o sangue que Avillez avilta com a sua colaboração culinária. Porque "o destino das nações depende da forma como elas se alimentam". A cola que veda a fechadura é a fome provocada que Avillez quer gourmet. Porque "o destino das nações depende da forma como elas se alimentam". As ementas recheadas de realidade são a face visível de que "o destino das nações depende da forma como elas se alimentam". Uma poética que se deve saborear para além do paladar literal das palavras, bastando digeri-la com delicadeza semântica q.b. 21
  • 22. Reflexão sobre a vaga de notícias recentes em torno de uma acção directa de protesto político no Porto e o movimento BDS Porto, 18 de novembro 2016, GAP O Grupo Acção Palestina (GAP) subscreveu, juntamente com outros colectivos/ associações, a carta dirigida ao ChefAvillez a pedir que não participasse no evento de culinária Round Table Tour, promovido pelo governo de Israel (Ministério do Turismo, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Câmara Municipal de Telavive), programado para decorrer de 8 a 26 de Novembro em Telavive. Apesar do apelo ter sido internacional, envolvendo uma campanha mundial direccionada a todos os Chefs participantes, e publicado na página do Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções, na altura, como sempre, teve pouca visibilidade mediática. Nem a notícia de que a Chef Kamilla Siedler cancelara a sua participação chegou a entrar nos títulos do mundo das notícias. Isto leva-nos a questionar seriamente o papel dos media na actualidade e o que é uma notícia, o que é uma informação. Não será o papel dos órgãos de comunicação social darem a conhecer e trazerem para o público, através de um verdadeiro trabalho de investigação, o que se passa no mundo? O ChefAvillez não deu qualquer resposta à carta que lhe fora enviada. Poderia ter tido a sensibilidade de responder qualquer coisa, porque afinal tratam-se de violações cometidas contra seres humanos, contra um povo colonizado e oprimido, o povo palestiniano. Uma notícia publicada no dia 19/11 pelo Centro de Media Independente, o Indymedia, um site que recebe notícias (contrariamente ao que é veiculado erradamente pelo Expresso e o Observador) e que, ao contrário de todos os outros órgãos de comunicação social, as publica - posto que o GAP, tal como outras associações e colectivos, chegou a enviar-lhe notícias de actividades, protestos e manifestações que foram publicadas - o mesmo não podemos dizer dos media dominantes com a sua superioridade sobranceira e critério de selecção de notícias limitadas às futilidades do politicamente correcto e do main stream - informou-nos de uma acção de protesto no Porto contra a colaboração do chefAvillez no referido evento de culinária. Entretanto, a acção de protesto foi veiculada por vários órgãos de comunicação social (Jerusalem Post , Observador, Notícias ao minuto, Jornal de Notícias, Porto24, Público, Correio da Manhã, RTP) cada qual ecoando a primeira 22
  • 23. notícia, publicada no dia 20/11 à 1:46 da manhã, pelo Times of Israel (TOI). Como todas as notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social foram beber ao mesmo artigo do TOI, sem se preocuparem em fazer um trabalho de pesquisa, não podemos deixar de nos questionar. Serão mesmo activistas anti-Israel? Serão mesmo activistas do movimento BDS? Por outro lado, se o que foi afixado dizia “Free Palestine”, “Avillez collaborates with Zionist occupation” e “Entrée: A dose of white phosphorus.” (“Palestina Livre”, “Avillez colabora com a ocupação Sionista” e “Entrada: uma dose de fósforo branco”) onde estão as mensagens anti- Israel? ou as mensagens anti-semitas como afirma Robert Singer? E afinal de contas, quem é Robert Singer? Uma rápida busca na página oficial do World Jewish Congress, teria permitido perceber facilmente a filiação política de Robert Singer e veicular isso mesmo, que se tratava de uma única posição política entre outras que seriam necessárias. Curiosamente, a acção em si teve mais impacto nos órgãos de comunicação social do que os crimes quotidianos cometidos pelo governo de Israel. Curiosamente, teve mais impacto do que os apelos internacionais do movimento BDS. Infelizmente, apenas se confirma a pobreza de um jornalismo que troca “Boicote, Desinvestimento e Sanções” por “Boicote, Desenvolvimento e Sanções”, que desconhece as redes de media independentes, como o Indymedia, e nem procura esclarecer-se e esclarecer o público, propagando a desinformação mais incompetente. Quanto à acção efectuada no Porto, o GAP solidariza-se com os activistas e solidariza-se com o Centro de Media Independente - Indymedia. Esta chuva de notícias relativas à acção directa efectuada no Porto teve a importância de permitir a entrada no vocabulário da imprensa das palavras movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). FONTES www.roundtablestour.com/en/ https://bdsmovement.net pt.indymedia.org No Times of Israel (TOI): http://www.timesofisrael.com/portuguese-eatery-trashed-over-chefs-visit-to-israel/ http://expresso.sapo.pt/dossies/diario/2016-11-21-Ataque-a-restaurante-de-Avillez- reivindicado-em-canal-anarquista http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-11-22-Face-Oculta-o-autor-sem- rosto-que- reivindicou-o-ataque-ao-Cantinho-do-Avillez 23
  • 24. http://observador.pt/2016/11/21/blogue-anarquista-reivindica-ataque-ao-restaurante-de- jose- avillez/ No Jerusalem Post, a notícia constitui quase um copiar-colar do TOI: http://www.jpost.com/Arab-Israeli-Conflict/Portuguese-eatery-trashed-over-chefs-visit-to- Israel-473123 No Observador, a notícia é uma espécie de tradução do TOI: http://observador.pt/2016/11/20/ restaurante-de-jose-avillez-no-porto-vandalizado-por- movimento-pro-palestiniano/ No Notícias ao minuto: https://www.noticiasaominuto.com/pais/691079/restaurante-de- avillez- vandalizado-pede-se-liberdade-para-a-palestina No Jornal de Notícias, o título muda, mas encontramos um copiar/colar da noticia anterior: http://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/restaurante-do-chef-jose-avillez-no- porto- vandalizado-5507987.html No Porto24, muda novamente o título, mas de resto é copiar/colar: http://www.porto24.pt/ cidade/restaurante-cantinho-do-avillez- vandalizado/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter No Público, apesar de ser um artigo ligeiramente diferente, mais completo, a fonte principal continua a ser o TOI: https://www.publico.pt/sociedade/noticia/restaurante-cantinho-do- avillez-alvo- de-protestos-de-grupo-propalestiniano-1751854 No Correio da Manhã: http://www.cmjornal.pt/cm-ao-minuto/detalhe/restaurante-de-jose- avillez- vandalizado-no-porto?ref=HP_Grupo1 Na RTP: http://www.rtp.pt/noticias/pais/restaurante-do-chef-jose-avillez-na-mira-do- grupo-pro- palestiniano-bds_v963364 Texto publicado a 23/11/2016 no blogue do GAP: http://grupoaccaopalestina.blogspot.pt/2016/11/reflexao-sobre-vaga-de-noticias.html 24
  • 25. Uma das mais dolorosas “crises prolongadas” actuais não se encontra no quadro da FAO (2). Trata-se da consequência directa do bloqueio de Gaza. O território de Gaza forma uma faixa de terra de 41 quilómetros de comprimento e de 6 a 12 quilómetros de largura na costa oriental do Mediterrâneo, junto do Egipto. É povoada desde há cerca de três mil e quinhentos anos e deu nascimento à cidade de Gaza, um porto e um mercado dedicados ao comércio entre o Egipto e a Síria, a península arábica e o Mediterrâneo. Hoje em dia, mais de 1,5 milhão de Palestinianos, que se amontoam nos 365 quilómetros quadrados da faixa de Gaza, são em grande parte refugiados e descendentes de refugiados das guerras israelo-árabes de 1947, 1967 e 1973. Em Fevereiro de 2005, o governo de Sharon decidiu evacuar os colonatos do território de Gaza. Dora em diante a Autoridade Palestiniana assumiria todas as responsabilidades administrativas no território de Gaza. Mas, de acordo com o direito internacional, Israel permaneceria a potência ocupante: o espaço aéreo, as águas territoriais e as fronteiras terrestres ficariam sob o seu controlo (3). Assim, Israel construiu na parte lateral à volta do território de Gaza, uma barreira electrificada reforçada dos dois lados por uma zona minada. Gaza tornou-se na maior prisão a céu aberto do planeta. Enquanto potência ocupante, Israel deveria respeitar o direito internacional humanitário e renunciar nomeadamente ao uso da arma da fome contra a população civil(4). Eis o que se passa. Encontrei-me uma tarde na cidade de Gaza no escritório iluminado de sol da comissária geral da agência de socorro e obras das Nações Unidas para os refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA/United Nations Relief and Works Agency in the Near East), KarenAbou Zaïd, uma linda mulher loira de origem americana casada com um palestiniano. Nesse dia, ela vestia com elegância um amplo vestido palestiniano bordado de vermelho e preto. Incansável, dia após dia, desde 2005 em que substituiu o dinamarquês Peter Hansen, declarado persona non grata pelo ocupante israelita, lutava contra os generais israelitas para manter em funcionamento os centros nutricionais, os hospitais e as 221 escolas da UNRWA. A comissária geral estava preocupada: “ A anemia provocada pela mal- nutrição....muitas crianças estão doentes. Tivemos que fechar mais de trinta das nossas escolas... Muitas crianças não se seguram em pé. A anemia devasta-as. Já nem conseguem concentrar-se…” Em voz baixa, continuou: “É difícil concentrar-se quando a única coisa em que se pensa écomida”(5). Na faixa de Gaza, depois de 2006, devido ao bloqueio israelo-egipcio, a O gueto de Gaza (1) Jean Ziegler 25
  • 26. situação alimentar deteriorou-se ainda mais. Em 2010, o desemprego atingia 81% da população activa. A perda de emprego, de receitas, de activos e de rendimentos hipotecou fortemente o acesso à comida dos habitantes de Gaza. O rendimento por habitante diminuiu para metade desde 2006. Em 2010, oito pessoas em dez tinham um rendimento inferior ao limiar de pobreza extrema (menos de 1,25 dólar por dia); 34% dos habitantes estavam gravemente sub- alimentados. A situação é particularmente trágica para os grupos mais vulneráveis. Cada dia, há 22 000 mulheres grávidas no gueto. A sub-alimentação provoca certamente mutilações cerebrais nas crianças ainda por nascer. Em 2010, quatro famílias em cinco só tomavam uma refeição por dia. Para sobreviver, 80% dos habitantes dependiam da ajuda alimentar internacional. Toda a população de Gaza é punida por actos de que não é responsável (6). A 27 de Dezembro de 2008, as forças aéreas, terrestres e navais de Israel iniciaram um ataque geral contra as infraestruturas e os habitantes do gueto de Gaza. 1444 palestinianos, entre as quais 348 crianças, foram mortas, frequentemente por armas que Israel experimentava pela primeira vez. Uma das principais armas testadas sobre as mulheres, homens e crianças de Gaza foi o DIME ( Dense Inert Metal Explosive). Transportada por um drone, a bomba é constituída por esferas de tungsténio que explodem no interior do corpo e rasgam literalmente as vítimas (7). Os habitantes do gueto encontraram-se na impossibilidade de fugir: do lado de Israel, por causa da cerca electrificada; do lado egípcio, por causa da fronteira fechada de Rafah. Mais de 6000 homens, mulheres e crianças palestinianas também foram feridas, amputadas, paralisadas, queimadas, mutiladas (8). Os agressores destruíram sistematicamente as infraestruturas civis, nomeadamente agrícolas. O maior moinho de trigo de Gaza – um dos únicos dos três moinhos ainda a funcionar – o moinho Al-Badr, em Sudnyiyah, a oeste de Jablyah, foi atacado pelos F-16 israelitas e totalmente destruído(9). No entanto, o pão é o alimento de base em Gaza. Dois ataques sucessivos, a 3 e 10 de Janeiro de 2009, levados a cabo por aviões com mísseis ar-terra, destruíram a central de filtragem de água da cidade de Gaza, situada na rua Al-Sheikh Ejin, e as diques do lago de retenção de águas usadas. Assim a cidade ficou privada de água potável. 26
  • 27. O presidente da Comissão de investigação do Conselho dos direitos do homem da ONU, Richard Goldstone, indica que nem o moinho al-Badr, nem a central de filtragem da água, nem a quinta d'al-samouni (onde houve 23 mortes) acolhiam, ou acolheram em qualquer altura, combatentes palestinianos. Portanto, não podiam constituir alvos militares legítimos (10). Em 2011, o bloqueio de Gaza continuou (11). O governo de Telavive só deixa entrar no gueto comida suficiente para evitar uma lazeira generalizada, demasiado visível no contexto internacional. Organiza a sub-alimentação e a mal-nutrição. Stéphane Hessel e Michel Warschawski consideram que esta estratégia tem por objectivo fazer deliberadamente sofrer os habitantes do gueto para que estes se levantem contra o poder do Hamas. Com este fim político, o governo de Telavive utiliza, portanto, a arma da fome (12). 27 NOTAS (1) Tradução (pp. 71-76) in Jean Ziegler (2011). Destruction Massive. Géopolitique de la faim. Paris: Seuil. (2) FAO: Food and Agricultural Organization / Organização para a Alimentação e a Agricultura criada em Junho 1945 pela ONU.
  • 28. (3) Ver “United Nations fact finding mission on the Gaza conflict”, ONU, New York, 2009. A comissão de investigação, mandatada pelo Conselho dos direitos do homem, foi presidida pelo juiz sul-africano Richard Goldstone. Este documento de 826 páginas será referido por “Relatório Goldstone”. Este relatório foi publicado pelas edições Melzer, Neu-Isenburg em 2010 com um prefácio de Stéphane Hessel e uma introdução de Ilan Pappe. Em 2011, Richard Goldstone, sofrendo a pressão da sua comunidade religiosa de origem, tentou modificar algumas conclusões do relatório. Amaioria da comissão impediu esta tentativa. (4) Ver Richard Falk, relator especial da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados, nomeadamente os relatórios de junho 2010, agosto 2010 e janeiro 2011, Ref. A/HR HRC/13/53, A/HRC 565/331 e A/HRC 16/72. (5) Karen Abou Zaid ocupou o posto de comissária geral da UNRWA até ao final de 2009. (6) O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CIRC), “Gaza closure”, Genebra, 14 de Junho de 2010. Ver também Christophe Oberlin, Chronique de Gaza, Paris, Éditions Demi-Lune, 2011; e também Amnistia Internacional, Suffocating. The Gaza strip under Israeli blockade. Londres, 2010. (7) Ver o relatório dos médicos noruegueses, Mats Gilbert e Erik Fosse, Eyes in Gaza, Quartet Books, Londres, 2010. (8) O Relatório Goldstone, capítulo 6, “Os mortos e os feridos”. Entre os soldados israelitas, 10 foram mortos, vários por “friendly fire” (fogo amigável), devido a erros do próprio exército israelita. (9) Ibid., capítulo 13, “ Destruição das bases de vida da população palestiniana, ataques contra a produção alimentar e abastecimento em água”. (10) Ibid., capítulo 11, “Ataques intencionais contra a população civil”. (11) Apesar da queda do regime de Mubarak, em Fevereiro de 2011, o Egipto continua de ser um protectorado israelo-americano. O Conselho militar no poder no Cairo mantém a fronteira de Rafah fechada, Le Monde, 15 de Agosto de 2011. (12) Stéphane Hessel e Michel Warschawski, intervenções no colóquio intitulado “Crimes de guerra, bloqueio de Gaza”, na Universidade de Genebra a 13 de março de 2011. 28
  • 29. CAMPANHA-SELO: Espaço livre de apartheid sionista, racismo e antisemitismo. 29 A proposta de adesão ao selo constitui uma tomada de posição política solidária com o apelo da sociedade civil palestina ao Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). O movimento BDS nasceu em 2005 no seio da sociedade civil palestina com a publicação de um manifesto assinado por organizações sociais, ONGs, partidos e sindicatos tomando como referência a campanha internacional de boicote contra o apartheid sul-africano, que foi fundamental para acabar com aquele regime racista.
  • 30. 30 A sociedade civil internacional responde a este apelo lançado desde a Palestina para disseminar a campanha por todo o mundo envolvendo-nos numa solidariedade do género político que procura ir ao cerne do problema e combatê-lo. Assim, apoia a luta do povo palestino pelos seus direitos humanos e pelo direito à igualdade e à auto-determinação, exigindo: - O fim da ocupação. - O direito ao regresso das 7,5 milhões de refugiadas palestinas. - Aigualdade de direitos. No campo económico, a campanha BDS é especialmente importante na Europa, dado os acordos sócio-comerciais com Israel. Na Europa, as empresas produtoras, grossistas e importadoras têm a obrigação de informar o lugar de origem dos produtos. Muitas vezes, a etiqueta “fabricado em Israel” é utilizada, fraudulentamente, por produtoras e exportadoras israelitas para comercializar produtos fabricados ou cultivados nas colónias ilegais, dentro dos territórios palestinos ocupados. Neste contexto, os espaços livres de apartheid sionista podem aderir e difundir as campanhas globais do movimento BDS, informar e combater as parcerias com instituições públicas israelitas e absterem-se de comercializar produtos israelitas. O selo “Espaço Livre de Apartheid Sionista” é o rosto visível da solidariedade com o povo palestino. Sendo uma posição política que transcende a caridade e os remendos humanitários compromete-se num movimento global de defesa dos direitos humanos do povo palestino, que pressiona Israel para que respeite as leis internacionais mediante o boicote dos produtos israelitas e a denúncia das suas políticas de apartheid. Os espaços, que quiserem aderir à campanha para se declararem livres de apartheid sionista, podem contactar o GAP para receber o selo e demonstrarem o seu compromisso com o respeito pelos direitos humanos, a igualdade entre todas e a auto-determinação dos povos. Para aderir à campanha, receber o selo e promover uma sessão de abertura de um espaço livre de apartheid sionista, de racismo e de anti-semitismo escreve-nos para: accao.palestina@gmail.com
  • 31. GAP - Grupo Acção Palestina Mail: accao.palestina@gmail.com Blogue: grupoaccaopalestina.blogspot.pt Twitter: @GAPporto2010 Facebook: @GrupoAccaoPalestina BDS - Boicote Desinvestimento Sanções Site: bdsmovement.net BDS Portugal - facebook: @BDS.Portugal Grupo BDS Norte: www.facebook.com/groups/795544497143182/ CAMPANHA-SELO ESPAÇO LIVRE DE APARTHEID SIONISTA, RACISMO E ANTISEMITISMO: Aderir e pedir o selo: accao.palestina@gmail.com CONTACTOS E INFORMAÇÕES 31