CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA AQÜÍFERO GUARANI NO BRASIL EM DOMÍNIOS PEDOMORFOAGROCLIMÁTICOS – SUBSÍDIO AOS ESTUDOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
1) O documento classifica as áreas de recarga do Aqüífero Guarani no Brasil em oito domínios pedomorfoagroclimáticos, considerando variáveis como solo, morfologia, uso agrícola e clima.
2) Os domínios identificados incluem o Planalto Médio Paulista, Nascentes do Araguaia, Alto Taquari, Campanha, Serra Gaucha, Borda do Planalto Médio, Médio Planalto Catarinense e 2o Planalto Paranaense.
HÁ CONEXÃO HIDRÁULICA ENTRE OS SISTEMAS AQUÍFEROS GUARANI E BAURU NA “JANELA”...
Semelhante a CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA AQÜÍFERO GUARANI NO BRASIL EM DOMÍNIOS PEDOMORFOAGROCLIMÁTICOS – SUBSÍDIO AOS ESTUDOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Semelhante a CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA AQÜÍFERO GUARANI NO BRASIL EM DOMÍNIOS PEDOMORFOAGROCLIMÁTICOS – SUBSÍDIO AOS ESTUDOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS (20)
CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA AQÜÍFERO GUARANI NO BRASIL EM DOMÍNIOS PEDOMORFOAGROCLIMÁTICOS – SUBSÍDIO AOS ESTUDOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
1. Revista do Departamento de Geografia, 18 (2006) 67-74.
CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA
AQÜÍFERO GUARANI NO BRASIL EM DOMÍNIOS
PEDOMORFOAGROCLIMÁTICOS – SUBSÍDIO AOS ESTUDOS
DE AVALIAÇÃO DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS
Marco Antônio Ferreira Gomes1
Heloisa Ferreira Filizola2
Cláudio A. Spadotto3
Resumo: O presente trabalho teve por objetivo classificar as áreas de recarga do Aqüífero Guarani, em território brasileiro, em porções definidas como
Domínios Pedomorfoagroclimáticos, como subsídio aos estudos ambientais, sobretudo àqueles de avaliação de risco e de apoio à gestão sustentável
destas áreas. Nesse sentido, foi adotada parte da proposta de AB'SABER (1970) - Domínios Morfoclimáticos, em combinação com parte da proposta
de RESENDE et al. (1995) - Domínios Pedobioclimáticos, incorporando o uso agrícola que satisfaz o princípio do tetraedro ecológico e das variáveis
necessárias aos estudos de avaliação de risco ambiental. A metodologia de classificação dos domínios obedeceu às diferenças existentes entre as
variáveis solo, morfologia, uso agrícola e clima, por região ou estado, caracterizadas por valores médios ou informações mais representativas. Os
resultados obtidos permitiram a divisão da área em oito domínios, com subdivisões em alguns casos, com inferências sobre uma caracterização
preliminar de riscos.
Palavras-chave: Estudos ambientais; Área de recarga; Risco de contaminação; Sistema Aqüífero Guarani.
Introdução evidenciaram que as atividades agrícolas utilizam uma carga
As áreas de recarga direta ou de afloramento do Sistema considerável de produtos químicos potencialmente contami-
Aqüífero Guarani têm se mostrado bastante expostas ao risco de nantes, destacando-se alguns herbicidas usados intensivamente
degradação, seja por agrotóxicos, seja por processos erosivos, na cultura de cana-de-açúcar. Outras regiões de recarga do
principalmente pelo avanço das atividades agrícolas sobre elas, Aqüífero Guarani nos Estados de Goiás (culturas de milho e de
sem muito critério em relação à capacidade de uso das mesmas. soja), de Mato Grosso (cultura de soja), Mato Grosso do Sul
Esse cenário, comum no Brasil, aliado à alta vulnerabilidade (cultura de soja), Paraná (cultura de milho), Santa Catarina
natural das áreas de recarga do aqüífero em questão, colocam- (cultura de maçã) e Rio Grande do Sul (cultura de arroz), também
nas em situação de alta exposição ao risco de contaminação do exibem cenários de risco de contaminação para a água
lençol freático como também favorece a formação de ravinas e subterrânea. Este trabalho tem como objetivo uma proposta de
voçorocas, principalmente como conseqüência de práticas classificação das áreas de recarga do aqüífero em Domínios
agrícolas inadequadas. Trabalhos realizados pela Embrapa Meio Pedomorfoagroclimáticos nos estados citados acima e uma
Ambiente nessas áreas (EMBRAPA, 1999; EMBRAPA, 2001; avaliação do risco (baixo, médio e alto) de contaminação dos
GOMES et al., 1996; GOMES et al., 2001; PESSOA et al., 1998; mesmos, tendo como referencial o padrão de presença dos
PESSOA et al., 1999), particularmente na região de Ribeirão agrotóxicos mais usados nas culturas predominantes em cada
Preto/SP, no período compreendido entre 1994 e 2001 domínio aqui exposto. Pelo fato do Estado de Minas Gerais ter
1 Geólogo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna/SP. (e-mail: Gomes@cnpma.embrapa.br).
2 Geógrafa, Doutora em Ciências da Terra, Pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna/SP. (e-mail: filizola@cnpma.embrapa.br).
3 Eng. Agrônomo, Ph.D. Ciência de Solo e Água, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna/ SP. (e-mail: spadotto@cnpma.embrapa.br ).
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2. Revista do Departamento de Geografia, 18 (2006) 67-74.
uma área de recarga muito restrita (450 km2) ocupada por precipitação e temperatura foram obtidos de fontes diversas,
pastagem, o mesmo não foi incorporado ao presente trabalho. citadas nas tabelas apresentadas ao longo do texto. Para a
delimitação dos Domínios Pedomorfoagroclimáticos foi adotada
Material e método parte da proposta de AB’SABER (1970), Domínios Morfo-
O método de trabalho consistiu no levantamento das climáticos, em combinação com parte da proposta de RESENDE
informações existentes sobre as áreas de recarga do Sistema et al. (1995), Domínios Pedobioclimáticos, incorpo-rando a estas o
Aqüífero Guarani no Brasil, abrangendo as características uso agrícola que satisfaz o princípio do tetraedro ecológico e das
geológicas, de solos, relevo, uso agrícola e clima. Inicialmente, variáveis necessárias aos estudos de avaliação de risco ambiental
foram obtidas informações sobre geologia para a delimitação da para cada domínio. O conjunto de informações obtidas e
extensão e dos limites da área de recarga na escala 1:250.000 integradas no Spring (SIG desenvolvido pelo INPE) por região ou
(RADAMBRASIL, 1984; ARAÚJO et al., 1995; CAMPOS, 2000). O domínio, possibilitou a classificação, conforme consta das tabelas
procedimento seguinte foi a avaliação da área de recarga por 1 a 7.
estado, com identificação dos principais tipos de solos na escala
1:250.000 e de relevo na escala 1:1.000.000 (RADAMBRASIL, Resultados e discussão
1984). As informações sobre o uso atual do solo (vegetação Os resultados obtidos contemplam oito Domínios Pedo-
natural e culturas) foram retiradas de imagens de satélite morfoagroclimáticos para as áreas de recarga do Sistema
(LANDSAT, 2002) e de observações in loco. Os dados climáticos, Aqüífero Guarani no Brasil (Fig. 1), conforme descrição a seguir:
MT GO
15o
BOLÍVIA N
MS
SP
20o
DOMÍNIOS PEDOMORFOAGROCLIMÁTICOS
PARAGUAI DAS ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA
AQÜÍFERO GUARANI
PR
Planalto médio paulista: cana
Nascentes do Araguaia: soja e milho
25o
Nascentes do Araguaia: pastagem
SC
Alto Taquari: Pastagem
Campanha: Arroz irrigado
RS
ARGENTINA Serra Gaucha: uva
Borda do Planalto Médio: Pastagem
30o Médio Planalto Catarinense:Pastagem e maçã
2o Planalto Paranaense: Soja, milho e
pastagem
URUGUAI Não definido
Área de abrangência do
Sistema Aqüífero Guarani
35o
60o 55o 50o
Figura 1 Domínios pedomorfoagroclimáticos das áreas de recarga do Aqüífero Guarani no território brasileiro.
Adaptado de ARAUJO et al. (1997).
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Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga Corumbataí, São Carlos, Ibaté, Analândia, Itirapina, Brotas,
do Aqüífero Guarani no Estado de São Paulo Bocaina, Dois Córregos, Boa Esperança do Sul, Bariri, São
A área de recarga do Aqüífero Guarani no Estado de São Pedro, Águas de São Pedro, Santa Maria da Serra, São Manuel
Paulo abrange cerca de 16.000 km2, ocupando uma faixa de e Botucatu; faixa de recarga da porção Centro-Sul, com
norte a sul do estado localizada na porção Centro-Oeste, inserido os seguintes municípios: Pardinho, Bofete, Torre de Pedra,
nas coordenadas 21º e 23º de latitude sul e 47º e 50º de longitude Paranapanema, Avaré, Itaí e Tejupá. A Tab. 1 mostra as
oeste. principais características de clima, solo e cultivos em cada
Devido a algumas diferenças quanto ao tipo de cultura, foi um dos três domínios identificados. O aspecto morfológico
feita uma subdivisão em três regiões ou faixas de recarga, mas não foi ressaltado pela semelhança em toda extensão,
que não caracteriza uma subdivisão em domínios: faixa de estando toda a faixa de recarga inserida no Planalto Médio
recarga da porção Centro-Norte, com os seguintes municípios: Paulista, nome também dado ao Domínio Pedomorfoagro-
Franca, Batatais, Brodosqui, Altinópolis, Cajuru, Serrana, Ribeirão climático do Estado de São Paulo. Todavia, o relevo varia
Preto, Cravinhos, São Simão e Luís Antônio; faixa de recarga da de ondulado a fortemente ondulado em toda a extensão
porção Central, com os seguintes municípios: Araraquara, dessas áreas.
Tabela 1 Características de solos, climáticas e tipos de culturas predominantes nas três faixas que compõem os Domínios Pedomorfoagroclimático
das áreas de recarga do Aqüífero Guarani no Estado de São Paulo.
Domínio Pedomorfo- Culturas Precipitação Média Temperatura Média
Faixas Solos
agroclimático predominantes Anual* (mm) Anual* (ºC)
LVq
Faixa Centro-norte Cana-de-açúcar 1550 22,4
RQ
RQ Cana-de-açúcar, citros, arroz
Planalto Médio Paulista Faixa Central 1700 21,6
PVq irrigado e pastagem
Cana-de-açúcar e
Faixa Centro-sul RQ 1650 20,3
pastagem
Fontes: *Estação do IAC - Ribeirão Preto, ESALQ-Piracicaba e UNESP- Botucatu, referentes ao período 1990-1998.
LVq – Latossolo Vermelho psamítico; RQ – Neossolo Quartzarênico ; PVq – Argissolo Vermelho de textura média
(IAC, 1991; MIKLÓS e GOMES, 1996).
Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga os paralelos 17º00’ e 20º00’S e os meridianos 51º30’e 55º30’O.
do Sistema Aqüífero Guarani no Estado de Goiás Devido à grande uniformidade, tanto de uso agrícola quanto dos
A área de afloramento do Aqüífero Guarani no Estado de aspectos climáticos, foi definida a existência de um único domínio
Goiás abrange cerca de 12.000 km2, estando grande parte dessa pedomorfoagroclimático denominado Nascentes do Araguaia,
área distribuída ao longo da região que abrange as nascentes do conforme descrição contida na Tab. 2.
rio Araguaia, na divisa dos Estados de Goiás e Mato Grosso entre
Tabela 2 Características climáticas e tipos de culturas predominantes no domínio pedomorfoagroclimático das áreas de recarga do Aqüífero Guarani
no Estado de Goiás.
Cultura Precipitação Média Temperatura Média
Domínio Pedomorfoagroclimático Solo
predominante Anual* (mm) Anual* (ºC)
Nascentes do Araguaia RQ Soja e pastagem 1863 22,6
Fonte: *Mosteiro Beneditino (Mineiros-GO) no período de 1995 a 2000.
Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga Guarani localizada na divisa dos Estados de Mato Grosso e Mato
do Sistema Aqüífero Guarani na porção leste do Estado Grosso do Sul. A área de afloramento nessa região é de cerca de
de Mato Grosso 6.500 km2, estando situada entre os paralelos 16º40’ e 17º00’ S e
No Estado de Mato Grosso foi considerada apenas a região os meridianos 53º30´e 54º00´O. Os dados contidos na Tab. 3
de Alto Garças que mantém uma interligação entre a área de expressam suas características que, pela semelhança e proxi-
abrangência do rio Araguaia e a área de afloramento do aqüífero midade, também se insere no Domínio Nascentes do Araguaia.
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4. Revista do Departamento de Geografia, 18 (2006) 67-74.
Tabela 3 Características climáticas e tipos de culturas predominantes no Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga do Aqüífero Guarani
na porção leste do Estado de Mato Grosso.
Cultura Precipitação Temperatura Média
Domínio Pedomorfoagroclimático Solos
predominante Média Anual* (mm) Anual* (ºC)
RQ
Nascentes do Araguaia Soja/milho 1830 a 2130 22,3
LVq
Fonte: *EMPA-MT no período de 1994-1998.
Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga sudoeste-oeste da área. Entre os municípios mais importantes
do Sistema Aqüífero Guarani no Estado de Mato Grosso estão São Gabriel D’oeste, Coxim, Camapuã, Alcinópolis e Pedro
do Sul Gomes. Existe, ainda, outra porção situada a oeste de Campo
A área de afloramento do aqüífero Guarani mais Grande e que se estende até o Paraguai. Devido à predo-
importante no Estado de Mato Grosso do Sul representa cerca minância de um único padrão pedomorfoagroclimático,
de 27.800 km2, localizada na região nordeste e parte da região considerando somente as áreas de recarga direta ou de
sudoeste, entre as latitudes 17º00’ e 20º00’ Sul e as longitudes afloramento do Aqüífero Guarani, com diferença apenas entre
53º00’ e 55º00’ Oeste, abrangendo em quase toda sua extensão vegetação/pastagem nativa e pastagem cultivada, foi definido
a bacia hidrográfica do Alto Taquari. Esta é composta apenas um domínio denominado de Alto Taquari, conforme
basicamente pelos rios Taquari, ao norte, e Coxim na porção descrição contida na Tab. 4.
Tabela 4 Características climáticas e tipos de culturas predominantes no Domínio Pedomorfoagroclimático do Alto Taquari, Estado de Mato Grosso do
Sul.
Culturas Precipitação Média Temperatura Média
Domínio Pedomorfoagroclimático Solo
predominantes Anual* (mm) Anual* (ºC)
Pastagem nativa
Alto Taquari RQ 1460 23,5
Pastagem cultivada
Fonte: *COINTA. Média de 5 anos (1996-2000), considerando medidas realizadas em Coxim (MS).
Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga divisa com Santa Catarina.
do Sistema Aqüífero Guarani no Estado do Paraná Em razão da existência de duas condições predomi-
A área de afloramento do Aqüífero Guarani no Estado do nantes de uso agrícola e uma pequena variação climática,
Paraná abrange cerca de 2.150 km2, distribuída ao longo de principalmente precipitação, foram definidas duas faixas
uma faixa estreita a oeste de Curitiba, com extensão de norte de domínio: faixa centro-norte e faixa centro-sul, integrantes
a sul. Os municípios mais importantes localizados nessas áreas do Médio Planalto Paranaense, conforme os dados contidos
são Jacarezinho, Santo Antônio da Platina, Cândido Abreu, na Tab. 5
Ortigueira, Ivaiporã, Pitanga, Guarapuava, e União da Vitória na
Tabela 5 Características climáticas e tipos de culturas predominantes no Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga do Aqüífero Guarani
no Estado do Paraná.
Culturas Precipitação Média Temperatura Média
Domínio Pedomorfoagroclimático Faixas Solos
predominantes Anual* (mm) Anual* (ºC)
Centro-norte RQ Pastagem 1380 19,0
2º Planalto Paranaense
Soja/milho e
Centro-sul PVq 1300 18,5
pastagem
Fonte: *IAPAR (2002).
RQ – Neossolo Quartzarênico; PVq – Argissolo Vermelho de textura média.
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5. Revista do Departamento de Geografia, 18 (2006) 67-74.
Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga quilômetro de largura. Em razão da uniformidade de uso
do Sistema Aqüífero Guarani no Estado de Santa agrícola, dominantemente pastagem, como também de
Catarina outros aspectos ambientais, tais como solo, relevo e clima,
No Estado de Santa Catarina a área de afloramento do foi definido apenas um domínio para o Estado de Santa Catarina,
Aqüífero Guarani é cerca de 1.780 km2, abrangendo os caracterizado por Médio Planalto Catarinense, considerando
municípios da região de Lages. a mesma nomenclatura usada para as características
A porção de recarga nesse estado apresenta uma faixa morfológicas. A Tab. 6, a seguir, sintetiza as informações gerais
bastante delgada, tendo em alguns locais menos de um deste domínio.
Tabela 6 Características climáticas e tipos de culturas predominantes no Domínio Pedomorfoagroclimático das áreas de recarga do Aqüífero Guarani
no Estado de Santa Catarina.
Culturas Precipitação Média Temperatura Média
Domínio Pedomorfoagroclimático Solos
predominantes Anual* (mm) Anual* (ºC)
RQ Pastagem
Médio Planalto Catarinense 1250 17,5
PVq Maçã
Fonte: *EPAGRI (1997) e INSTITUTO DE PLANEJAMENTO E ECONOMIA AGRÍCOLA (1999).
RQ – Neossolo Quartzarênico; PVq – Argissolo Vermelho de textura média.
Domínios Pedomorfoagroclimáticos das áreas de As principais cidades ao longo das áreas de recarga estão
recarga do Sistema Aqüífero Guarani no Estado do Rio assim distribuídas: Serra Gaúcha/encosta nordeste – Portão,
Grande do Sul Novo Hamburgo, São Leopoldo, Parobé, Taquara e Santo Antônio
A área de afloramento do Aqüífero Guarani no Estado do da Patrulha; Borda do Planalto Médio/Missões - Santa Maria,
Rio Grande do Sul possui cerca de 37.320 km2, distribuída ao Santiago, São Pedro do Sul, Jaguarí e São Francisco de Assis;
longo de uma faixa delgada de leste a oeste do Estado, com Campanha – Alegrete, Rosário do Sul e Santana do Livramento. A
inflexão para o sul até a divisa com o Uruguai, adentrando nesse Tab. 7 a seguir sintetiza as informações relativas a esses
país por dezenas de quilômetros. Essa faixa encontra-se inserida domínios.
nas coordenadas 29º00’ e 30º00’ de Latitude Sul e 50º30’ e 55º40’ A integração das informações acima possibilitou a
de Longitude Oeste, envolvendo três domínios pedomorfo- classificação das áreas de recarga do Sistema Aqüífero Guarani
agroclimáticos denominados de Serra Gaúcha/Encosta Inferior em Domínios Pedomorfoagroclimáticos, conforme a metodologia
Nordeste; Borda do Planalto Médio/Missões e Campanha. O clima apresentada, partindo-se dos domínios propostos por AB’SABER
predominante é subtropical úmido, sem estiagem. Em geral, a (1970) e REZENDE et al. (1995), acrescidos dos tipos de solos,
temperatura do mês mais quente é superior a 22ºC e a do mês mais especificamente a textura, além dos tipos de atividades
menos quente varia de 3 a 18ºC. agrícolas dominantes.
Tabela 7 Características climáticas e tipos de culturas predominantes nos diferentes Domínios Pedomorfoagroclimáticos das áreas de recarga do
Aqüífero Guarani no Estado do Rio Grande do Sul.
Culturas Precipitação Média Temperatura Média
Domínio Pedomorfoagroclimático Solos
predominantes Anual* (mm) Anual* (ºC)
Serra Gaúcha/
CXve Uva 2.470 < 18
encosta inferior nordeste
Borda do Planalto Médio/ Missões PVq Pastagem 2.000 18 a 22
Arroz Irrigado/
Campanha RQ e PVq 1.190 20 a 24
pastagem
Fonte: *Ministério da agricultura (1973).
CXve – Cambissolo Háplico Eutrófico; PVq – Argissolo Vermelho textura média; RQ – Neossolo Quartzarênico.
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6. Revista do Departamento de Geografia, 18 (2006) 67-74.
A informação agrícola sobre o uso do solo em cada domínio na Fig. 2. As particularidades de cada região ou estado,
permitiu distinguir as culturas que utilizam uma quantidade maior envolvendo diferentes usos agrícolas, clima, relevo e solos,
de agrotóxicos, como a cana, a soja e o milho. Os dados de possibilitaram a obtenção dos domínios ora propostos, impor-
precipitação e temperatura foram usados como fatores tantes nos estudos regionais de avaliação de riscos.
interferentes no processo de deslocamento no perfil do solo dos Este mapa poderá servir de orientação não só para estudos
produtos químicos aplicados no controle de pragas e doenças. de abrangência regional, mas também de interesse local, princi-
Assim, com a integração dessas informações, foi elaborado o palmente em relação à tomada de decisão quanto à necessidade
mapa de risco de contaminação do aqüífero Guarani, apresentado de estudos pontuais ou mesmo de procedimentos de intervenção.
15o MT
BOLÍVIA
N
MS
SP
20o
MAPA DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO
PARAGUAI DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NAS
PR ÁREAS DE RECARGA DO SISTEMA
AQÜÍFERO GUARANI
Sistema Aqüífero Guarani
25o confinado
ÁREA DE
SC Risco Alto
RECARGA DO
Risco Baixo
a Médio SISTEMA
RS
ARGENTINA Risco Baixo
AQÜÍFERO
Risco não GUARANI
30o estimado
URUGUAI
35o
55o 50o
60o
Figura 2 Mapa de risco de contaminação da água subterrânea nas áreas de recarga do
Aqüífero Guarani em território brasileiro. Adaptado de ARAUJO et al. (1997).
Conclusão
A classificação das áreas de recarga do Sistema Aqüífero detalhe e mesmo para intervenção imediata naquelas
Guarani no Brasil resultou na obtenção de oito Domínios identificadas como “piores casos” (worst case), como nas áreas
Pedomorfoagroclimáticos (Fig. 1), importantes no direcionamento do domínio “Nascentes do Araguaia” cultivadas com milho sorgo,
de estudos que envolvam a interface agricultura e meio ambiente. do “Planalto Médio Paulista”, cultivadas com cana-de-açúcar e, do
A classificação das áreas de risco permite uma orientação, ainda domínio da “Campanha”, cultivadas com arroz irrigado. Tais
que preliminar, quanto à escolha de porções potencialmente mais domínios representam cenários potencialmente críticos, dada a
críticas (Fig. 2) para estudos específicos em escala de maior grande quantidade de agroquímicos usados nessas culturas.
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7. Revista do Departamento de Geografia, 18 (2006) 67-74.
GOMES, M.A.F.; FILIZOLA, H.F.; SPADOTTO, C.A. (2006). Classification of recharge areas of Guarani Aquifer in Brazil in pedomorpho-
agroclimatics domains - subsidy for studies of contamination risk evaluation of groundwater. Revista do Departamento de Geografia, n.
18, p. 67-74.
Abstract: The recharge portion of Guarani Aquifer has more than 100.000 km2 in the Brazilian country, which is comprised by eight states with their
particularities. The aim of this work is to classify recharge area of the Guarani Aquifer´s as Pedomorphoagroclimatics Domains to subsidize
environmental studies, over all the ones related to risk evaluation and sustainable management of areas. The two methodologies Morphoclimatic
Domain (AB’SABER, 1970) and Pedobioclimatic Domain (RESENDE et al., 1995) were jointed and adopted as a new concept. Considering agricultural
uses, this procedure allows to consider the ecological tetrahedron purposes and the selected parameters commonly used in studies for environmental
risk evaluation. For each region or state, the classification in domains considered differences among the physical variables, soil, morphology, agriculture
activity and climate, which were taken as mean values or the most representative information. The results showed a stratification of the area in eight
different domains, with subdivisions in some cases, making possible inferences about an incipient risk characterization.
Keywords: Pedomorphoagroclimatic Domain, Recharge area, Groundwater contamination, Guarani Aquifer.
Recebido em 3 de março de 2005, aceito em 2 de outubro de 2005.
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