1. Economia Agrícola
Aula 3. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira: concepções
clássicas e recentes
Rondonópolis/MT, 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE ECONOMIA
2. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Integração agroindustrial- O agro brasileiro
atual não se pode falar mais da separação da
agricultura e indústria, pois a agricultura está
totalmente integrada aos capitais industrial e
financeiro, assim ao modo capitalista de
produção.
• O debate teórico frente a problemática da
economia agrícola brasileira, parte das
particularidades e especificidades estruturais.
3. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
A QUESTÃO AGRÁRIA E A QUESTÃO AGRÍCOLA NO BR:
CONSIDERAÇÕES BÁSICAS
Problemática agrária no BR:
• Foi durante a década de 1961/67 que a questão agrária ganhou
ênfase, período que houve recessão econômica, considerava a
agricultura atrasada nacional um empecilho para o
desenvolvimento, via industrialização.
• Na fase de milagre econômico 1967/73, a questão agrária é
encoberta, pois acreditava-se que o crescimento produtivo da
agropecuária resolveria os principais problemas econômicos; no
entanto o crescimento se deu somente em culturas agrícolas (café e
soja) de exportação, beneficiando apenas os grandes proprietários
rurais e empresas de comercialização agrícola.
• Agravando a questão agrária na déc de 80 e inicio de 90, contudo
sem sucesso na política de reforma agrária em Sarney e Collor.
4. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Assim é relegada a segundo plano, pois a modernização
agrícola era o objetivo das políticas econômicas de
desenvolvimento.
• Em 1995, volta-se a ganhar relevância, aderindo políticas
que atenuem o problema da agricultura.
Diferenciação conceitual: questão agrária x questão agrícola:
• a primeira refere-se a problemática do como produzir , de
forma ocorrerá a produção agrícola, fundamenta-se nas
relações de produção capitalista e seus problemas de
ordem econômica e social, como o nível de renda, de
emprego etc.
• A questão agrícola visa responder o que produzir, quanto
produzir e onde produzir, preocupa-se com a produção e
produtividade.
5. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
O desenvolvimento agrícola brasileira resolveu os
problemas da questão agrícola, no entanto agravou
a crise agrária.
• Por exemplo : A industrialização da agricultura e a
agroindustrialização nacional proporcionou
ganhos de produção e produtividade a partir de
70, contudo houve ampliação da concentração
fundiária, redução do nível de renda dos
agricultores e trabalhadores rurais e retração do
emprego agrícola.
6. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO
AGRÍCOLA BRASILEIRO
Modernizante- é a base teórica do desenvolvimento agrícola
nas três últimas décadas.
• Modificações técnologicas seriam impulsionada pela
adoção de insumo modernos e melhoria no nível de
educação do agricultor e trabalhador rural, para aumento
da produtividade dos fatores a taxa de retorno mais
elevadas e avanço o ritmo de inovação.
• Não enfatiza a questão agrária, dados teóricos de
fundamentação neoclássica, considera o preço e as forças
de mercados capazes de inserir o grande e o pequeno
agricultor.
7. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO
AGRÍCOLA BRASILEIRO
Modernizante- é a base teórica do desenvolvimento
agrícola nas três últimas décadas.
• Assim, defende apenas políticas de modernização de
estimulo fatores interno a unidade de produção:
Crédito rural, preços mínimos, extensão e pesquisa,
educação rural e desenvolvimento industrial, para
garantir insumos e máquinas necessárias na atividade.
• Pouca importância se deu aos estímulos externos, uma
vez que a pequena produção mostrou um fracasso em
se inserir no processo modernizante, deixando lacunas
a questão agrárias, embora tenha sido bem sucedida
na questão agrícola.
8. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Na década de 1950
• As transformações na base técnica da produção agropecuária
iniciaram com a importação de tratores, máquinas, fertilizantes e
outros insumos, consolidando-se quando esses bens de capital e
insumos agrícolas passam a ser produzidos internamente em
substituição às importações - com a implantação do D1 para a
agricultura.
• A modernização agropecuária, iniciada no país na década de 1950,
com estímulos do Estado e seus esforços para a implantação do D1
agrícola, impulsionada nos anos 60 com o advento de tecnologias
(novos insumos, máquinas, técnicas de plantio e sementes
selecionadas) do chamado “pacote tecnológico norte-americano”
da Revolução Verde , o que implicou na introdução de novas
culturas, como a soja e o trigo, denominadas modernas, chegando
ao Paraná principalmente nos anos 1970, simultaneamente ao
processo de desarticulação da estrutura cafeeira, atividade
produtiva predominante no Norte do Estado
9. A integração agricultura-indústria: as concepções recentes.
• O desenvolvimento da economia brasileira a partir dos anos
70 proporcionou o processo de integração agricultura-
indústria.
• a agricultura converte-se em compradora de insumos
industriais do D1 e produtora de matérias-primas para outros
ramos industriais - a agroindústria processadora a jusante.
Dessa maneira, a atividade agrícola incorpora-se ao modo
industrial de produzir (MÜLLER, 1989a, p.41)
• A intensificação das relações inter-setoriais acompanharam
as políticas econômicas e estratégias de desenvolvimento.
Cadeias produtivas como das oleaginosas, sobretudo soja, e
de carnes conhecem crescimento extraordinário relacionado
com alterações nos padrões de produção e consumo entre as
décadas de 1960, 1970 e 1980
10. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
A integração agricultura-indústria: as concepções
recentes.
• O desenvolvimento da economia brasileira a partir dos
anos 70 proporcionou o processo de integração
agricultura-indústria.
• Na década de 70, os entraves que se visualizavam nos
anos 60 não foram resolvidos. O padrão da
modernização da agricultura começa a tomar formas
diferentes.
• Não é apenas uma modernização setorial, passa a
ocorrer uma integração de capitais. E isso muda tudo.
11. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Na década de 80, a economia brasileira vive três etapas distintas:
• Na primeira fase (até 1985), os complexos ou as cadeias
agroindustriais não operavam exclusivamente para um mercado,
mas para o mercado interno e externo, com exceções do café e do
suco de laranja. Em meados de 1985, as políticas de câmbio e
salários, que são ajustes recessivos, permitem que os complexos se
voltem para o mercado externo.
• Inicia-se a etapa de recuperação, em que a agricultura estava
partida com produtos de ótima aceitação, que crescem no mercado
exportador. Eram os produtos processados agroindustrialmente e
não os produtos in natura que apresentavam desempenho
considerável unicamente no mercado interno.
• Na etapa posterior, do declínio econômico, verificou-se a
predominância das cadeias ou complexos agroindustriais voltados
para o mercado externo.
12. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
É exatamente diante de todo esse processo
histórico que fica extremamente complicado
considerar a separação entre agricultura e indústria.
• Se os anos 60 e 70 foram marcados pela
modernização da agricultura, nos anos 80 o
crescimento ocorre no setor de serviços.
A partir daí é necessário entender a agricultura de
que estamos falando:
• “não se refere mais à questão de grandes ou
pequenos agricultores, mas de integrados ou não
integrados.”
13. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Os primeiros trabalhos a tratar do processo de
integração entre agricultura e indústria utilizaram a
concepção de Complexo Agroindustrial (CAI)
• Em 1986, o trabalho de Kageyama et al. estabelece um
padrão conceitual para o CAI. “O novo padrão agrícola
brasileiro: do complexo rural aos complexos
agroindustriais”.
• Identificar o processo de integração entre agricultura,
indústria a montante (fornecem insumos e bens de
capital) e indústria a jusante (agroindustrias
processadora de produtos agropecuários) e revela que
sua dinâmica era comandada pelo setor industrial.
14. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Graziliano da Silva aponta três tendências básicas
referentes ao desenvolvimento da agricultura
brasileira:
• A primeira é a do início e aprofundamento da
integração de capitais (agrário, comercial, industrial
e financeiro) diante da constituição dos complexos
agroindustriais.
• A segunda tendência seria a redução do papel da
pequena produção neste desenvolvimento.
• E a terceira é a redução da sazonalidade do
trabalhador temporário desde o início dos anos 80,
seja pela crise, seja pela substituição de várias
culturas na região Centro-Sul.
15. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Quanto à reforma agrária para Graziliano da Silva:
A necessidade de reforma agrária volta- se para resolver problemas
demográficos, não por necessidade do desenvolvimento:
• “O nosso mundo rural já não é mais só agricultura e pecuária, à seme-
lhança do que ocorre em outras partes do mundo desenvolvido, em
especial na Europa. [...] Segundo a Pnad de 1990, de cada três pessoas
que residiam no meio rural brasileiro, duas estavam ocupadas em
atividades agropecuárias e uma em outras atividades, com destaque
para a prestação de serviços não-agrícolas, indústria de transformação,
comércio e construção civil, evidenciando o que chamei de
urbanização do meio rural brasileiro nos anos 80. [...] Por isso tudo, no
final do século XX, a nossa reforma agrária não precisa mais ter caráter
estritamente agrícola, dado que os problemas fundamentais de
produção e preços podem ser resolvidos por nossos complexos
agroindus- triais. Hoje a reforma agrária precisa ajudar a equacionar a
questão do nosso excedente populacional até que se complete a
transição demográfica recém- iniciada”. (GRAZIANO DA SILVA, 1996, p.
9).
16. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
No que tange o pensamento de Graziliano
• A grande contribuição é a revelação de que
não há apenas um padrão de Graziliano e
Kageyama.
Pelo contrário, verifica-se uma significativa
heterogeneidade em todos os sentidos: por
produto, por produtor, por região etc.
17. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• “Esse processo foi profundamente desigual, [...] até
mesmo parcial; seja por região, produto, tipo de
lavoura, tipo de cultura, tipo de produtor,
principalmente; ou seja, aqueles produtores menos
favorecidos tiveram menos acesso às facilidades de
crédito, aquisição de insumos, máquinas,
equipamentos etc. e apresentaram graus menores de
evolução, especialmente da sua produtividade. [...]
Uma segunda característica desse processo é que ele
foi profundamente excludente, quer dizer, ele não só
foi desigual como foi também excludente. Ele atingiu
uns poucos e fez com que alguns poucos chegassem ao
final do processo” (GRAZIANO DA SILVA, 1994, p. 138).
18. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Junto a isso, identifica a criação de barreiras
claras nos segmentos componentes do
complexo.
• No primeiro momento, a existência de
barreiras técnicas dadas pelos mercados
oligopolistas e oligopsionistas ;
• No segundo momento, o fortalecimento das
barreiras institucionais.
19. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Como exemplo, podemos citar o CAI citrícola, em
que muitas vezes as barreiras técnicas não
conseguem evitar a entrada de grandes grupos
econômicos como a Votorantim (Citrovita).
• Mesmo assim, é necessário contactar as diversas
associaç̧ões representativas de interesses (neste
caso, a ABECitrus, Abrasucos, Associtrus e
Aciesp), que representam barreiras institucionais
significativas.
20. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Outro aspecto significativo da concepção dos
CAIs é a identificação do setor produtor de
bens de capital (D1 agrícola) como o agente
da dinâmica do complexo.
• Assim, o que faz a grande diferença é a inter-
relação para trás (D1 agricultura) e não para a
frente (agricultura agroindústria).
21. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Essa visão não é predominante.
• Há problemas para a concepção dos CAIs, já que muitos
pesquisadores enfatizam o segmento agroindustrial – em
Muller (1989) –, o capital financeiro e até mesmo o setor de
serviços – em Delgado (1985) como o agente dinamizador.
• Ao longo dos últimos anos, as revisões do conceito têm
permitido acertos e contribuições significativas. Entre as
principais, destacam-se:
a) quem aponta a modernização dos complexos é não só o setor
produtor de bens de capital (D1 agrícola), mas também uma
série de fatores proporcionados pelo setor de serviços que
evoluíram consideravelmente na economia brasileira dos anos
80;
b) o conceito não é estático, mas dinâmico, no sentido de estar
em contínuo processo de mudança.
22. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Em nível mundial, todo esse processo de análise
de transformação da agricultura iniciou-se com a
evolução deste setor na economia norte-
americana.
• Com Davis e Goldberg (1957), surge o termo
agribusiness, com a precisão de considerar o
produto agrícola como “centro” dos grandes
negócios.
• A idéia básica era mostrar o encadeamento dos
negócios a partir da origem dos produtos
agrícolas.
23. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Neste sentido, a concepção foi resultado de uma
agregação, mas com base na relação dos fluxos
produtivos. Na verdade, o conceito agribusiness
tornou-se muito genérico para os estudos atuais.
• Outras concepções podem ser utilizadas com menor
probabilidade de confusão metodológica.
• A concepção de filière (cadeia de produção), originada
na França por Malassis (1973), traz um embasamento
teórico semelhante ao de agribusiness.
• A grande diferença entre estas concepções está na
origem; para o agribusiness era a idéia dos fluxos
tecnoprodutivos e para a cadeia de produção é a idéia
de um fluxo tecnoprodutivo.
24. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Ao enfatizar os “negócios agrícolas”, a cadeia de
produção dá ênfase ao comportamento dos atores do
mercado final de cada encadeamento produtivo.
Tanto assim que subdivide o sistema alimentar em quatro
subsistemas: o de meios de produção e serviços, o
agropecuário, o processador industrial e o de distribuição.
• Isto é, a nova subdivisão prioriza a análise das relações
econômicas da ponta do encadeamento, sejam as
formas de distribuição sejam os padrões de consumo.
Enfim, priorizam as inovações tecnológicas e
organizacionais que estreitam a relação entre oferta e
demanda final.
25. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• É por isso que tal iniciativa possibilitou
enfocar os Sistemas Agroalimentares (SAA),
com atenção especial ao setor de distribuição
dos produtos.
• Muitos pesquisadores brasileiros vêm
utilizando a concepção de Sistemas
Agroalimentares, como Zylbersztajn e Farina
(1992, 1993 e 1995), que possui vínculo
teórico com a noção de cadeia de produção.
26. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Como as demais concepções, a cadeia de
produção também apresenta suas dificuldades
teóricas.
• A principal dificuldade vem de seu próprio
viés metodológico: a visão sistêmica.
• Por basear-se no princípio da agregação dos
fluxos e da visão sistêmica, torna-se
complicado para esta concepção abranger
todos os problemas de ordem econômica e
social.
27. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Desde os anos 80, os autores das diferentes
concepções abriram caminho para a análise da
formação dos complexos internacionais de certas
commodities de origem agrícola, como o
complexo milho/soja, carne, óleos vegetais etc.
• No entanto, estudos recentes têm procurado
mostrar a importância da estratégia de grandes
grupos multinacionais na reestruturação dos
sistemas agroalimentares nos países
desenvolvidos e até mesmo em países do
Mercosul como Brasil e Argentina.
28. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• A concepção de Economia de Rede, utilizada
originalmente por Green, chama atenção pela tentativa
de compreender o processo de reestruturação do
sistema agroalimentar no qual a agricultura está
inserida.
Para Green e dos Santos (1991), com o processo de
modernização da economia (no sentido de “mudanças
produtivas”) vê-se, pelo lado do mercado, uma mudança:
• Em que perde o peso a valorização da oferta massiva
de produtos (do padrão fordista, com escalas de
produção e ganhos de produtividade) e ganha espaço a
valorização do consumidor (da crescente flexibilização
da produção)
29. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Com o processo de informatização, podem-se
adotar economias de escala com flexibilidade.
• Isso voltou a valorizar a idéia do produtor-
serviços, que é a base de um novo padrão de pro-
dução.
• Assim, retira-se o peso da oferta e coloca-se de
forma relativa na questão da circulação da
demanda.
• O novo padrão produtivo não afeta tanto o modo
de produzir como afeta os tempos e os
movimentos de sua distribuição.
30. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Green (1991) adotou o conceito de Economia de Rede: com a
mudança do sistema produtivo é preciso enfocar o peso da esfera
da circulação.
Contudo, essa mudança de enfoque analítico nos setores
agroalimentares é perigosa.
• Em primeiro lugar, é uma mudança considerável para setores onde
a distribuição possui peso significativo, e isso ocorre onde a
transformação tem pouco valor.
• Por exemplo, na cadeia ou na rede do macarrão, a grande
transformação – a agregação de valor – ocorre no processamento
industrial (do trigo para o macarrão) e não na distribuição do
produto final.
Assim, a mudança de enfoque dependerá do setor ou da cadeia (fluxo)
do produto.
31. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• Em segundo lugar, a idéia básica da Economia de
Rede de inverter o sentido da afirmação clássica
do padrão fordista “o que produz vende” para “o
que vende produz” não significa de forma
alguma a transferência do poder de mercado do
segmento industrial para o segmento distribuidor.
• E por quê? Em momento algum verificou-se que
a iniciativa ou a aplicação das atividades de
pesquisa e desenvolvimento tivessem escapado
do controle industrial.
32. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Quanto ao poder e as relações assimétricas, o
institucionalismo histórico busca elucidar como as instituições
distribuem o poder de forma desigual através dos grupos
sociais.
• Assumem que existem interesses desproporcionais no
processo de tomada de decisão, favorecendo certos grupos
e desfavorecendo outros.
• Contudo, as instituições produzem dependência a partir
das rotinas, sem ignorar a estratégia dos indivíduos.
Paulillo (2000, p. 12-14) observa que a interdependência dos
atores e a complementaridade dinâmica dos segmentos são
as principais características estruturais de um encadeamento
agroindustrial
33. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Os segmentos e suas atividades são complementares porque
o desempenho de um influi positivamente sobre o
desempenho do outro.
• O efeito de encadeamento é o melhor exemplo, pois o
crescimento de um setor gera demandas por insumos e
prestação de serviços de outros setores.
• Ao mesmo tempo, a situação de complementaridade
dinâmica afeta as decisões de investimento e de
tecnologia de todos os envolvidos em um encadeamento.
Por isso, a viabilidade ou o sucesso da decisão de
investimento ou de inovação tecnológica de um setor (ou
empresa) pode depender de investimentos em outros setores
(ou empresas).
34. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Dessa complementaridade dinâmica, o autor destaca
que não se pode analisar os encadeamentos
agroindustriais unicamente sob o enfoque tecnológico e
econômico, sob o risco de não incorporar os aspectos
mais amplos que a noção de complementaridade
permite:
• Como a dominação e preservação do Poder, a
representação dos interesses públicos e privados, a
exclusão de interesses que afetam grandes empresas e
grupos na realização de políticas públicas, o
rompimento e a mudança do padrão de regulação etc.
35. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Então como as instituições afetam o comportamento dos
indivíduos?
A perspectiva histórica oferece duas respostas, uma através
da abordagem de cálculos e outra através da abordagem
cultural.
• A primeira abordagem, os indivíduos agem
estrategicamente, ou seja, examinam todas as opções para
selecionar aquela que lhe confere maior benefício.
Resposta: as instituições afetam a conduta dos atores, pois as
regras, normas e demais convenções relevantes afetam as
ações individuais, alterando as expectativas que um ator tem
sobre as ações de outros atores.
36. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• A segunda abordagem, prega que o comportamento
não é completamente estratégico, mas limitado pela
visão de mundo do indivíduo. No estudo dos campos
organizacionais, as instituições fornecem moldes
cognitivos ou morais para a interpretação e ação dos
indivíduos.
Resposta: As preferências dos atores só podem ser
entendidas como parte de um modelo institucional, pois
as instituições constroem atores e definem seu modo de
ação; restringem seu comportamento, mas também são
modificadas pelos atores.
• Assim, as instituições não apenas afetam as estratégias
dos indivíduos, mas afetam também suas preferências
e identidades (DOWDING, 1994).
37. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
Identifica-se que a interação estratégica dos atores é
sempre assimétrica, pois trata-se de Poder.
O ponto-chave da análise é a identificação ou a men-
suração da intensidade da assimetria de poder em uma
Rede Política. Isso pode ocorrer a partir da identificação
das:
• Características dos atores -informação, reputação,
habilidades diretas e indiretas de articulação
institucional e legitimidade;
• Das conexões - regras de interação, centralidade das
decisões e grau de envolvimento de cada ator
estabelecidas em rede.
38. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
As instituições são o espelho das ações humanas e da
interação social e, por isso, são dinâmicas.
• A preocupação em compreender o comportamento dos
atores sob certas restrições torna a NEI ( nova economia
institucional) uma importante contribuinte da análise das
transformações estruturais dos encadeamentos
agroindustriais.
Aborda esse papel das instituições em dois níveis analíticos
distintos:
• O macroanalitico - o ambiente institucional e as estruturas
de governança, contemplando respectivamente
macroinstituições – aquelas que estabelecem as bases para
as interações entre os seres humanos .
• O microanalitico - microinstituições – aquelas que regulam
uma transação específica (AZEVEDO, 2000, p. 35).
39. Sobre o desenvolvimento da
agricultura brasileira
• É por isso que os autores da NEI tratam das
estruturas de governança em suas diferentes
formas: mercado spot, integração vertical
(hierarquia) ou governança híbrida.
Azevedo (2000, p. 33-45) destaca três assuntos de
especial importância à agricultura; são eles:
(a) as regras formais (políticas agrícolas e
regulamentação);
(b) as regras informais (códigos de ética, costumes);
(c) os direitos de propriedade.
40. Soja transgênica no Brasil: os limites
do processo de difusão tecnológica
• A regulação de novas tecnologias e a gestão de ativos
complementares. Um fator importante para o processo
de difusão, não abordado pelos teóricos citados, diz
respeito à regulação de novas tecnologias e à forma de
articulação das empresas frente ao ambiente
institucional.
• A partir dos anos de 1960 cresceu o interesse dos
autores pelos impactos diretos e indiretos da regulação
de uma tecnologia no seu processo de difusão e pela
reação das empresas a esse movimento. Isso pode ser
ilustrado no caso da indústria
41. Soja transgênica no Brasil: os limites
do processo de difusão tecnológica
• Para a difusão de um novo produto não bastam custos de
produção mais baixos ou rendimentos mais elevados. A
aceitação pelo mercado consumidor não é definida
somente pela preferência racional do usuário, mas pelo
grau de alcance e eficácia das regulamentações
institucionais existentes no âmbito do país (SILVEIRA, 2005).
• Nesse contexto, as indústrias passaram a desenvolver
competências complementares que lhes permitam
enfrentar possíveis restrições regulatórias, bem como
procuram desenvolver uma rede de relacionamentos para
influenciar na formulação de legislação favorável aos seus
investimentos produtivos. Assim é que a introdução de uma
nova tecnologia sempre enfrenta um processo conflituoso
com grupos que não necessariamente colherão os
benefícios da inovação daí derivada.
42. Soja transgênica no Brasil: os limites
do processo de difusão tecnológica
• Conforme Pelaez e Schmidt (2000), as estratégias de
crescimento das empresas atuantes na produção de
sementes transgênicas estão imersas na gestão de ativos
complementares, relacionados principalmente à
capacidade de influenciar as avaliações feitas pela
comunidade científica e as decisões dos órgãos reguladores
oficiais.
• A aceitação e difusão da soja Roundup Ready passa então
a depender da influência dos atores envolvidos na
mudança institucional e da capacidade da empresa
inovadora de construir ativos complementares e moldar
uma rede social favorável para diante do grande público e
dos órgãos reguladores. Por outro lado, isso está
condicionado à força dos atores que pretendem exercer a
influência contrária nessa mesma rede.
43. Soja transgênica no Brasil: os limites
do processo de difusão tecnológica
• No caso do Brasil, a liberação da soja transgênica
encontrou resistências após um processo conturbado,
envolvendo constantes ações judiciais contra a
primeira decisão da CTNBIO, em 1998.
• Todavia, mesmo com a prática de lobby junto aos
órgãos reguladores, houve por parte de outras
instâncias da sociedade uma reação negativa à
legalização dessa tecnologia. Isso, todavia, não alterou
a estratégia da Monsanto junto aos órgãos
reguladores, buscando maior interação e,
evidentemente, o relaxamento das barreiras comerciais
nos principais mercados consumidores.
44. Soja transgênica no Brasil: os limites
do processo de difusão tecnológica
• Outros canais foram bastante utilizados pela
Monsanto, principalmente no ano de 2003,
quando a empresa lançou uma campanha de
marketing em defesa dos transgênicos,
pretendendo sensibilizar acerca dos seus
benefícios. A intenção era conquistar a
simpatia dos consumidores e diminuir o
conflito ideológico que envolvia a aceitação
dos seus produtos.
45. Soja transgênica no Brasil: os limites
do processo de difusão tecnológica
• Grandes redes varejistas nacionais, como Pão-de-açucar,
Carrefour, WalMart e Sé fortaleceram a rede contrária ao se
recusarem a expor em suas gôndolas produtos transgênicos
sem a devida informação em seus rótulos.
• Essas organizações contrárias à difusão da soja transgênica
tiveram êxito em suas reivindicações por um determinado
tempo, enquanto puderam evidenciar que a estrutura legal
não sustentava a entrada da nova tecnologia no país. Não
obstante, as seguidas controvérsias em torno das decisões
judiciais, em 24 de março de 2005, a soja transgênica foi
liberada para plantio e comercialização a partir da nova Lei de
Biossegurança no 11.105.
• Tatiane Schioschet & Nilson de Paula. Estud.soc.agric, Rio de
Janeiro, vol. 16, no. 1, 2008: 27-53.