A chegada de Donald Trump à Casa Branca pode provocar mudanças significativas em relação ao futuro dos Estados Unidos e do mundo. Diante do discurso de posse e das promessas de campanha de Trump, pode-se descortinar os cenários seguintes: 1) avanço do protecionismo nos Estados Unidos e no mundo; 2) fim da globalização do sistema produtivo e do livre comércio; 3) deportação em massa de imigrantes, especialmente, os ilegais dos Estados Unidos; 4) deterioração das relações econômicas com a China; 5) mudanças na maior aliança militar do mundo (OTAN); 6) aumento das tensões militares com a China e Coreia do Norte no Extremo-Oriente; 7) revisão de acordo nuclear com o Irã; 8) fim dos acordos climáticos; e, 9) formação de um acordo de poder global com a Rússia.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O futuro dos estados unidos e do mundo com donald trump
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O FUTURO DOS ESTADOS UNIDOS E DO MUNDO COM DONALD TRUMP
Fernando Alcoforado*
Em seu discurso de posse na presidência dos Estados Unidos, Donald Trump repetiu
tudo que serviu de base à sua propaganda política na campanha eleitoral centrado no
populismo e no nacionalismo. Seu discurso foi populista ao afirmar que ele e o povo,
juntos, determinarão o curso da América e do mundo por muitos anos à frente. O
populismo se manifestou no discurso quando Trump afirmou que “hoje não estamos
apenas transferindo o poder de um governo para outro ou de um partido para outro, mas
estamos transferindo o poder de Washington D.C. e o devolvendo a vocês, o povo”. O
populismo ficou caracterizado ainda mais quando disse que “vinte de janeiro de 2017
será lembrado como o dia em que o povo se tornou novamente o governante deste país”.
O nacionalismo de Donald Trump ficou evidenciado em seu discurso quando afirmou
que “por muitas décadas, enriquecemos a indústria estrangeira em detrimento da
indústria americana; subsidiamos exércitos de outros países, ao mesmo tempo
permitindo o triste esgotamento de nossas Forças Armadas. Nós defendemos as
fronteiras de outros países enquanto nos recusávamos a defender as nossas”, que
“gastamos trilhões e trilhões de dólares no estrangeiro, enquanto a infraestrutura da
América caia em mau estado e decadência. Tornamos outros países ricos, enquanto a
riqueza, força e confiança de nosso país se dissipavam no horizonte”, que “uma a uma,
as fábricas fecharam e deixaram nosso território, sem nunca pensar nos milhões e
milhões de trabalhadores americanos que foram abandonados. A riqueza de nossa classe
média foi tirada de seus lares e então redistribuída por todo o mundo” e que “isso é o
passado. Agora, estamos olhando apenas para o futuro”.
O nacionalismo de Trump fica marcado em seu discurso ao afirmar que “deste dia em
diante, será apenas a América em primeiro lugar, a América em primeiro lugar”. Para
atender os interesses dos Estados Unidos, Trump afirmou que “toda decisão sobre
comércio, impostos, imigração e assuntos estrangeiros será tomada visando beneficiar
os trabalhadores americanos e famílias americanas. Devemos proteger nossas fronteiras
da devastação causada pelos países que produzem nossos produtos, roubando nossas
empresas e destruindo nossos empregos” e que “traremos nossos empregos de volta.
Traremos nossas fronteiras de volta. Traremos de volta nossa riqueza. E traremos de
volta nossos sonhos” e que “construiremos novas estradas, rodovias, pontes, aeroportos,
túneis e ferrovias por toda nossa nação maravilhosa”. Trump enfatizou, também, que
“tiraremos nossa população do seguro social e as devolveremos ao trabalho,
reconstruindo nosso país com mãos americanas e trabalho americano”. Trump afirmou
que “seguiremos duas regras simples; compre produtos americanos e contrate
americanos. Reforçaremos velhas alianças e formaremos novas, e uniremos o mundo
civilizado contra o terrorismo radical islâmico, que erradicaremos da face da Terra”.
A chegada de Donald Trump à Casa Branca pode provocar mudanças significativas em
relação ao futuro dos Estados Unidos e do mundo. Diante do discurso de posse e das
promessas de campanha de Trump, pode-se descortinar os cenários seguintes: 1) avanço
do protecionismo nos Estados Unidos e no mundo; 2) fim da globalização do sistema
produtivo e do livre comércio; 3) deportação em massa de imigrantes, especialmente, os
ilegais dos Estados Unidos; 4) deterioração das relações econômicas com a China; 5)
mudanças na maior aliança militar do mundo (OTAN); 6) aumento das tensões militares
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com a China e Coreia do Norte no Extremo-Oriente; 7) revisão de acordo nuclear com o
Irã; 8) fim dos acordos climáticos; e, 9) formação de um acordo de poder global com a
Rússia.
O cenário 1 de avanço do protecionismo nos Estados Unidos a ser adotado pelo governo
Trump com o objetivo de defender as empresas e os empregos norte-americanos fará
com que o mesmo ocorra, também, no mundo como contrapartida. Desde que venceu as
eleições, Trump tem focado em ameaçar empresas, especialmente montadoras de
automóveis, dizendo que vai cobrar tarifa de 35% sobre bens manufaturados no México.
O objetivo por trás da política comercial mais protecionista de Trump é a criação de
empregos, reduzir o déficit comercial e obter "bons acordos" para os norte-americanos.
Isto significa dizer que o cenário 2 de fim da globalização do sistema produtivo se
materializará com o fim da liberdade de comércio que impedirá as empresas se
instalarem a seu critério em países onde auferem maiores lucros. O cenário 3 de
deportação em massa de imigrantes deverá ocorrer especialmente de hispânicos que
vivem ilegalmente nos Estados Unidos para que Trump privilegie os interesses dos
trabalhadores norte-americanos.
O cenário 4 de deterioração das relações econômicas com a China reside no fato de ela
ser acusada por Trump de “roubar” empresas e empregos dos Estados Unidos. O cenário
5 de mudanças na maior aliança militar do mundo (OTAN) deverá ocorrer porque
Trump já declarou que a OTAN está obsoleta e descreveu seus membros como aliados
ingratos que têm se beneficiado da generosidade dos Estados Unidos. De certa forma, a
retórica de Trump repete uma preocupação que já vinha sendo manifestada, uma vez
que a maior parte dos membros da OTAN não está cumprindo a meta estabelecida para
cada membro do bloco de gastar pelo menos de 2% de seu respectivo Produto Interno
Bruto (PIB) na área de defesa. Ressalte-se que os Estados Unidos é quem mais gasta no
mundo com o setor.
O cenário 6 de aumento das tensões militares com a China e Coreia do Norte no
Extremo-Oriente deverão ocorrer porque a China está aumentando o seu poder naval e
porque estão sendo construídas ilhas artificiais pelos chineses em uma área marítima
detentora de grandes reservas de petróleo em disputa com o Japão, no Mar do Sul da
China. Japão e Coreia do Sul foram identificados por Trump como países que deveriam
ter seus próprios arsenais nucleares. A Coreia do Norte está desenvolvendo suas
próprias armas nucleares e Trump terá que enfrentar a tarefa de conter essas ambições,
algo que seus antecessores não conseguiram evitar. Não está claro o que Trump pode e
vai fazer, mas ele se propôs a negociar diretamente com o líder norte-coreano Kim
Jong-un. Em resposta a um recente anúncio de Kim Jong-un de que a Coreia do Norte
estava prestes a testar mísseis de longo alcance capazes de transportar ogivas nucleares,
Trump disse no Twitter que isso simplesmente "não vai acontecer". A relação entre
Estados Unidos e Coreia do Norte é vista como potencial ponto crítico nos próximos
anos.
O cenário 7 de revisão de acordo nuclear com o Irã celebrado pelo presidente Obama
que suspendeu as sanções em troca de garantias de não-proliferação de armas nucleares
foi considerado por Trump como o pior negócio já negociado. Trump declarou durante a
campanha que desmantelá-lo será sua prioridade número um. Ressalte-se que o Irã é um
ator chave no conflito sírio e um rival histórico da Arábia Saudita e de Israel. O líder
supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, foi mais direto: "se quebrarem o acordo, vamos
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queimá-lo", declarou, segundo a agência de notícias Associated Press. O cenário 8 de
fim dos acordos climáticos deverá ocorrer porque Donald Trump afirmou que cancelará
o acordo global de Paris sobre o clima nos primeiros 100 dias de mandato e que
pretende fazer tudo o que for possível para reverter regulações sobre mudanças
climáticas feitas pelo presidente Obama. O acordo global de Paris sobre o clima que
valerá a partir de 2020, é a obrigação de participação de todas as nações - e não apenas
países ricos - no combate às mudanças climáticas. Ao todo, 195 países membros da
Convenção do Clima da ONU e a União Europeia assinaram o documento.
O cenário 9 de formação de um acordo de poder global entre os Estados Unidos e a
Rússia pode reproduzir o que aconteceu após a 2ª Guerra Mundial com o acordo de Ialta
entre os Estados Unidos e a União Soviética que celebraram o que se denomina de paz
de hegemonia entre as duas maiores potências militares do planeta. Trata-se de um
acordo que se estabelece entre duas grandes potências militares que constatam que é
melhor estabelecer uma regra de convivência do que partir para um enfrentamento.
Trata-se de uma nova redivisão do mundo entre as superpotências. Além disso, os
Estados Unidos buscam contar com a Rússia na luta para exterminar o Estado Islâmico.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011),
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012),
Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,
Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo
(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:
falcoforado@uol.com.br.