A automação dos setores industrial e de serviços compromete os interesses dos capitalistas ao contribuir para a queda inexorável de sua taxa de lucro que será nula em meados do século XXI e, também, dos trabalhadores manuais e do conhecimento que serão excluídos do mercado de trabalho. Em síntese, o incessante e impetuoso desenvolvimento técnico, impulsionado pela concorrência entre capitalistas, obriga-os a investirem em maquinaria automatizada que lhes permite produzir o mesmo com o uso de menos tempo de mão de obra. Portanto, na sua busca pela reprodução de capital, os capitalistas tendem a investir mais em maquinaria automatizada e menos em mão de obra fazendo com que a taxa de lucro tenha tendência de diminuir. A principal conclusão relacionada com a automação da atividade produtiva é a de que ela só teria viabilidade em uma sociedade pós-capitalista que não persiga o lucro e que os seres humanos sejam liberados do fardo do trabalho com sua substituição pela maquinaria automatizada. Tudo indica que a humanidade está no limiar de uma nova era em que uma nova sociedade diferente da atual deverá nascer com o fim inexorável do capitalismo em meados do século XXI e os trabalhadores serão liberados do fardo do trabalho com a crescente automação dos setores industrial e de serviços.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Automação e fim do trabalho humano
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AUTOMAÇÃO E FIM DO TRABALHO HUMANO
Fernando Alcoforado*
A fábrica do futuro se caracteriza por apresentar instalação repleta de robôs e um
elevado grau de automação, além de estar devidamente organizada em torno da
tecnologia, do computador, que integra, por softwares especialmente desenvolvidos,
praticamente todas as atividades. Nela, conta com a presença do trabalhador do
conhecimento (o knowledge worker, o trabalhador que usa o saber mais do que as
mãos). Nas fábricas do futuro a quantidade de robôs trabalhando no lugar de operários
multiplica a cada ano e já há pesquisas que mostram como algumas profissões podem
desaparecer por conta disso (Ver o artigo Como serão as fábricas do futuro? disponível
no website http://delltecnologiasdofuturo.ig.com.br/para-empresa/como-serao-as-
fabricas-do-futuro/).
De acordo com relatório da Federação Internacional de Robótica (IRF, na sigla em
inglês), cerca de 180 mil robôs industriais foram vendidos em 2013, um crescimento de
mais de 12% em relação ao ano anterior. A China, segundo o balanço da IRF, é o país
que mais investiu na automação, comprando 37 mil unidades no ano passado. Já o Japão
é o maior exportador de robôs e também o país com as fábricas mais automatizadas do
mundo, com mais de 300 mil robôs industriais em operação. Tomando por base o artigo
acima citado (Como serão as fábricas do futuro?), é possível imaginar que as fábricas
do futuro contarão cada vez menos com a presença de seres humanos na linha de
produção. Bom exemplo é a fábrica da Audi em Ingolstadt, na Alemanha, que tem cerca
de 800 empregados e praticamente o mesmo número de robôs industriais, que fazem a
maior parte do trabalho pesado e operacional.
Na China, a incorporação de robôs em fábricas é crescente. No artigo A era das fábricas
inteligentes está começando disponível no website
<http://exame2.com.br/mobile/revista-exame/noticias/a-fabrica-do-futuro> consta a
informação de que a indústria automobilística está entre as mais robotizadas do mundo.
Na BMW de Leipzig na Alemanha, com seus mais de 1.000 robôs, os funcionários,
todos de colete azul, acompanham tudo a distância pelas telas de computadores. Os
seres humanos só supervisionam o trabalho das máquinas. A unidade de Leipzig é uma
prévia do futuro das fábricas. A concepção dos produtos, o design, os testes com novos
materiais, os protótipos, a arquitetura da fábrica, a organização da linha de produção, o
estoque de materiais, o manual de um equipamento, tudo é digital. Estamos no estágio
inicial de uma mudança tão profunda na manufatura como aquela provocada pela
Revolução Industrial na Inglaterra. No futuro, a supervisão do trabalho das máquinas
poderá ser realizada, também, por máquinas inteligentes.
Uma característica importante dessa nova era industrial é a imensa quantidade de
informação digital disponível. No artigo acima citado A era das fábricas inteligentes
está começando consta a informação de que o setor produtivo mundial está num
processo movido por três forças: o avanço exponencial da capacidade dos
computadores, a imensa quantidade de informação digitalizada e novas estratégias de
inovação. O progresso computacional fez com que as máquinas ficassem muito mais
potentes, ágeis e, sobretudo, baratas. De acordo com um estudo da consultoria
americana McKinsey, o preço dos robôs vem caindo 10% ao ano nas últimas décadas. E
a produtividade deles está aumentando. Dependendo do tipo de aplicação, os modelos
mais novos são 40% mais rápidos do que os das gerações anteriores. Máquinas de alta
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destreza que hoje são vendidas a 150.000 dólares deverão custar metade desse valor até
2025.
Fábricas automatizadas e robotizadas significam indústrias com cada vez menos gente.
Em três décadas foram eliminados 6 milhões de postos de trabalho industriais nos
Estados Unidos fazendo com que o emprego nas fábricas atingisse o patamar da década
de 1940. Os empregos que envolvem funções repetitivas vão desaparecer rapidamente
nos próximos anos, diz o economista Michael Spence, ganhador do Prêmio Nobel e
professor da Universidade de Nova York. Nos países ricos, estima-se que 25% de todas
as funções na indústria deverão ser substituídas por tecnologias de automação até 2025.
No mundo, a estimativa é que 60 milhões de postos de trabalho em fábricas sejam
eliminados.
Constata-se, pelo exposto, que a automação é positiva a curto prazo para o capitalista
porque passaria a enfrentar seus concorrentes de forma mais competitiva haja vista que
proporcionaria, entre outras vantagens, o aumento de sua produtividade e a redução de
seus custos. No entanto, é, também, extremamente negativa a longo prazo para o
capitalista porque tende a reduzir a taxa de lucro de seu negócio com o desemprego em
massa e o subconsumo da população dela resultantes. Além disso, a automação que não
acontece apenas na indústria, mas que se espraia pelo comércio e pelo setor de serviços,
reduz não apenas o contingente de trabalhadores manuais, mas também de trabalhadores
do conhecimento contribuindo para reduzir a renda à disposição da massa dos
trabalhadores excluídos da produção e para elevar o subconsumo das massas. Haveria,
em consequência, queda na demanda de produtos e serviços devido ao aumento do
desemprego e a queda na renda dos trabalhadores em geral. A sociedade seria altamente
prejudicada porque a automação contribuiria para o aumento do exército de
desempregados.
Conclui-se, portanto, que a automação dos setores industrial e de serviços compromete
os interesses dos capitalistas ao contribuir para a queda inexorável de sua taxa de lucro
que será nula em meados do século XXI e, também, dos trabalhadores manuais e do
conhecimento que serão excluídos do mercado de trabalho. Em síntese, o incessante e
impetuoso desenvolvimento técnico, impulsionado pela concorrência entre capitalistas,
obriga-os a investirem em maquinaria automatizada que lhes permite produzir o
mesmo com o uso de menos tempo de mão de obra. Portanto, na sua busca pela
reprodução de capital, os capitalistas tendem a investir mais em maquinaria
automatizada e menos em mão de obra fazendo com que a taxa de lucro tenha tendência
de diminuir. A principal conclusão relacionada com a automação da atividade produtiva
é a de que ela só teria viabilidade em uma sociedade pós-capitalista que não persiga o
lucro e que os seres humanos sejam liberados do fardo do trabalho com sua substituição
pela maquinaria automatizada.
Tudo indica que a humanidade está no limiar de uma nova era em que uma nova
sociedade diferente da atual deverá nascer com o fim inexorável do capitalismo em
meados do século XXI e os trabalhadores serão liberados do fardo do trabalho com a
crescente automação dos setores industrial e de serviços. Até o final da sociedade
capitalista, o mundo se defrontará, entretanto, com o estado de guerra civil em cada país
com o incremento dos conflitos sociais resultantes da exploração sempre crescente dos
trabalhadores manuais e do conhecimento pelos capitalistas e da exclusão social dos
trabalhadores resultante do desemprego em massa, bem como com a agudização dos
conflitos internacionais resultantes da luta pela conquista dos recursos naturais do
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planeta. O mundo poderá evoluir para um cenário de guerra de todos contra todos nos
cenários nacional e internacional.
Se a correlação de forças for favorável às forças defensoras da manutenção do
capitalismo no poder poderão ser implantadas ditaduras para manter a ordem capitalista
na maioria dos países e prevalecerá a lei do mais forte na cena mundial. Se a correlação
de forças for favorável às forças oponentes do capitalismo, poderão ocorrer 2 cenários
para a construção de nova sociedade em cada país: 1) a transição entre o capitalismo e
uma nova sociedade futura que poderá ocorrer com a implantação da social democracia
nos moldes escandinavos; e, 2) a implantação do socialismo em moldes diferentes do
fracassado modelo soviético. Para fazer frente ao ambiente caótico no sistema
internacional, seria constituído um governo mundial que possibilitaria mediar os
conflitos mundiais, ordenar as relações entre os países e estabelecer o mais adequado
relacionamento entre o sistema internacional e a natureza.
Se prevalecerem as forças defensoras do capitalismo, o mundo terá que conviver com a
barbárie elevada ao extremo da exploração do homem pelo homem, ditaduras para
manter a ordem no plano nacional e a dominação das grandes potências no plano
mundial. Se prevalecerem as forças oponentes do capitalismo, a sociedade pós-
capitalista a ser implantada no futuro poderá abrir caminho para uma nova era para a
humanidade ao criar as condições para racionalizar os sistemas político, econômico e
social no plano nacional e o sistema internacional no plano mundial e fazer com que o
avanço tecnológico seja utilizado em benefício dos seres humanos para libertá-los do
fardo do trabalho no futuro.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.