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O COMPLICADO XADREZ GEOPOLÍTICO DO CONFLITO SÍRIO
Fernando Alcoforado*
O conflito sírio dura cinco anos e reacendeu ódios antigos. A Síria é hoje o epicentro de
uma batalha que reúne vários atores: as grandes potências regionais inimigas (Irã e
Arábia Saudita) e os aliados históricos (os Estados Unidos da Arábia Saudita e a Rússia
do Irã). Tornou-se claro que os interesses geopolíticos das partes envolvidas são muito
diferentes. O conflito sírio começou quando o presidente Bachar Al Assad lançou uma
ofensiva contra os rebeldes do exército livre da Síria. Entretanto, outros atores entraram
em cena, no seio do próprio movimento rebelde, seguidos pelos extremistas do Estado
Islâmico (ISIS) e pelos curdos.
Trata-se de uma situação complexa que atingiu o auge com a entrada em cena dos
Estados Unidos, da Rússia, do Irã e da Arábia Saudita. Oficialmente cada uma das
partes tem um inimigo comum: o Estado Islâmico (ISIS). A coligação liderada pelos
Estados Unidos está lutando contra os extremistas islâmicos, tal como a Rússia e a
Turquia. Mas, no terreno, a luta de cada país é guiada também por outros objetivos. A
Rússia, aliada fiel da Síria, bombardeia essencialmente os rebeldes anti-Assad para
evitar a queda de Bachar Al Assad. A Turquia, segundo maior exército da OTAN, ataca
essencialmente os curdos.
Atualmente, a guerra compõe-se essencialmente de palavras e bombardeios aéreos.
Turcos e sauditas estão do mesmo lado, isto é, contra a Síria do presidente Bachar Al
Assad. Turquia e Arábia Saudita consideram que o presidente sírio, Bachar Al Assad
não faz parte da solução para o futuro da Síria. Enquanto o conflito sírio evolui, a
instabilidade na Turquia se aprofunda com a instauração da ditadura Erdogan e o
agravamento dos conflitos políticos internos, inclusive com os curdos. Com a ditadura
Erdogan e a islamização da Turquia, este país se encaminhará inevitavelmente para o
confronto, de um lado, entre os partidários do legado de Ataturk de defesa do Estado
laico e os curdos que lutam por sua independência e, de outro, entre os partidários da
islamização da Turquia e defensores do Estado Islâmico.
Do confronto entre Erdogan e seus opositores pode surgir a guerra civil na Turquia que
abalará toda a região de consequências geopolíticas imprevisíveis. Com a ditadura
Erdogan na Turquia, as relações deste país com os Estados Unidos e a própria OTAN
poderão ser radicalmente modificadas. O governo dos Estados Unidos foi acusado de ter
patrocinado o golpe frustrado contra Erdogan e está impedido de usar a base turca de
Incirlik para bombardear o Estado Islâmico. Esta atitude demonstra haver a intenção da
Turquia sob Erdogan de se alinhar ainda mais com a Arabia Saudita e com o Estado
Islâmico para combater o regime de Bachar Al Assad na Síria.
Associe-se a tudo isto a questão dos refugiados sírios. Desde 2011, a Turquia recebeu
1,7 milhão de refugiados sírios, uma migração que colocou um peso grande sobre as
instituições e a sociedade turcas e ajudou a minar a força política de Erdogan nas
regiões da fronteira com a Síria. A divisão curda na Turquia já começou e vai
acelerar. Essa divisão vai acontecer podendo ocorrer um conflito interno. A Turquia
perdeu a chance de diálogo com os curdos, para manter um país compartilhado. A
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divisão curda vai afetar a região, vai acelerar a união entre os curdos do Iraque, da
Síria e da Turquia.
O cenário político no Oriente Médio, com a desagregação da Síria, a possível
guerra civil na Turquia, o aumento do número de refugiados e a expansão territorial
do Estado Islâmico, além da intervenção de países como Estados Unidos, Rússia,
China e França, poderá levar a região a uma guerra de grandes proporções. Além da
dramática situação na Síria, com uma guerra civil que já completou cinco anos, a
situação é igualmente frágil em países como o Iraque e as zonas fronteiriças com o
Irã e a própria Turquia, onde vivem cerca de 15 milhões de curdos, povo que, após
a 1ª guerra mundial, dividiu-se e vive hoje em quatro países.
Tudo que acaba de ser relatado é um ensaio da 4ª guerra mundial. Com a entrada da
Rússia no conflito, os Estados Unidos também querem fortalecer sua posição. A
China adotou posição pró-Assad. A Rússia já avisou que, se a França bombardear a
Síria, vai reagir. O resultado das próximas eleições presidenciais nos Estados
Unidos também poderá influenciar na geopolítica do Oriente Médio. Se o Partido
Republicano vencer com Donald Trump, aumentam as chances de uma intervenção
militar direta norte-americana na região e de uma conflagração global.
Pode-se afirmar que a Síria tem uma importância estratégica fundamental porque é a
última pedra do xadrez geopolítico existente na região, cuja queda levaria ao cerco do
Irã, possibilitando aos aliados ocidentais atingirem o território deste país pelo Mar
Mediterrâneo e pelo Iraque que garantiria passagem para tropas aliadas atingirem
fronteiras iranianas. A Síria, que faz fronteira com Israel, sempre foi importante no
Oriente Médio e, sobretudo hoje, faz parte de um xadrez geopolítico muito delicado
porque é um país aliado do Irã, junto com quem patrocina movimentos terroristas
extremamente agressivos, como o Hezbollah e o Hamas em oposição ao Estado de
Israel.
Além de conflitos entre Palestina e Israel, entre Irã e Israel e entre potências ocidentais e
países árabes, há hoje um conflito entre os países sunitas, liderados pela Arábia Saudita
contra o Irã xiita e seus aliados. Ainda que não seja um país de maioria xiita, a Síria
alinhou-se com o Iraque, que é de maioria xiita e com o Irã que é totalmente xiita,
contra os sunitas sauditas e todas as monarquias do Golfo Pérsico. Por sua vez, a Rússia
tem grandes interesses na região, porque há muito tempo, desde a década de 1950, tem
uma aliança com a Síria. Com a ajuda da Rússia, a Síria tem recebido grandes
carregamentos de armas e implantou uma ampla rede de defesa aérea, que poderia
tornar difícil a manutenção de uma zona de exclusão aérea imposta pela ONU, caso
fosse implementada no futuro. Há que se considerar também o fato que é através da
Síria que a Rússia consegue monitorar o Mediterrâneo, com a base militar de Tartur, ali
instalada, a única da marinha que ela possui fora de seu território. Trata-se, portanto, de
um confronto geopolítico muito amplo de vários matizes existente na região.
Ressalte-se que a Síria tem um Exército poderoso, equipado com armamentos
fornecidos principalmente pela Rússia e pelo Irã. A Síria possui aviões comandados por
controle remoto, fornecidos pelo Irã. A Síria conta também com dois poderosos aliados,
a Rússia e a China no Conselho de Segurança da ONU. Levando em conta os resultados
3
catastróficos da intervenção da OTAN na Líbia, Rússia e China resolveram endurecer
suas posições no Conselho de Segurança da ONU e dificultar as tentativas dos Estados
Unidos e demais aliados ocidentais de repetir na Síria a mesma estratégia adotada na
Líbia.
Não há dúvidas de que só será possível cessar a onda de refugiados e ao terrorismo na
Europa com o aniquilamento do Estado Islâmico, a reconstrução dos países afetados
pelo conflito como a Síria, o Iraque e a Líbia, a constituição de uma nação curda
independente, bem como o fim da islamofobia nos países do Ocidente. Estas são as
condições para a celebração da paz na região. A derrota militar do Estado Islâmico não
seria suficiente para cessar a onda de refugiados e o terrorismo na Europa. O lamentável
é não haver iniciativas da ONU no sentido de construir esta solução enquanto o conflito
se alastra pelo Oriente Médio.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). E-mail:
falcoforado@uol.com.br. Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net).

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O complicado xadrez geopolítico do conflito sírio

  • 1. 1 O COMPLICADO XADREZ GEOPOLÍTICO DO CONFLITO SÍRIO Fernando Alcoforado* O conflito sírio dura cinco anos e reacendeu ódios antigos. A Síria é hoje o epicentro de uma batalha que reúne vários atores: as grandes potências regionais inimigas (Irã e Arábia Saudita) e os aliados históricos (os Estados Unidos da Arábia Saudita e a Rússia do Irã). Tornou-se claro que os interesses geopolíticos das partes envolvidas são muito diferentes. O conflito sírio começou quando o presidente Bachar Al Assad lançou uma ofensiva contra os rebeldes do exército livre da Síria. Entretanto, outros atores entraram em cena, no seio do próprio movimento rebelde, seguidos pelos extremistas do Estado Islâmico (ISIS) e pelos curdos. Trata-se de uma situação complexa que atingiu o auge com a entrada em cena dos Estados Unidos, da Rússia, do Irã e da Arábia Saudita. Oficialmente cada uma das partes tem um inimigo comum: o Estado Islâmico (ISIS). A coligação liderada pelos Estados Unidos está lutando contra os extremistas islâmicos, tal como a Rússia e a Turquia. Mas, no terreno, a luta de cada país é guiada também por outros objetivos. A Rússia, aliada fiel da Síria, bombardeia essencialmente os rebeldes anti-Assad para evitar a queda de Bachar Al Assad. A Turquia, segundo maior exército da OTAN, ataca essencialmente os curdos. Atualmente, a guerra compõe-se essencialmente de palavras e bombardeios aéreos. Turcos e sauditas estão do mesmo lado, isto é, contra a Síria do presidente Bachar Al Assad. Turquia e Arábia Saudita consideram que o presidente sírio, Bachar Al Assad não faz parte da solução para o futuro da Síria. Enquanto o conflito sírio evolui, a instabilidade na Turquia se aprofunda com a instauração da ditadura Erdogan e o agravamento dos conflitos políticos internos, inclusive com os curdos. Com a ditadura Erdogan e a islamização da Turquia, este país se encaminhará inevitavelmente para o confronto, de um lado, entre os partidários do legado de Ataturk de defesa do Estado laico e os curdos que lutam por sua independência e, de outro, entre os partidários da islamização da Turquia e defensores do Estado Islâmico. Do confronto entre Erdogan e seus opositores pode surgir a guerra civil na Turquia que abalará toda a região de consequências geopolíticas imprevisíveis. Com a ditadura Erdogan na Turquia, as relações deste país com os Estados Unidos e a própria OTAN poderão ser radicalmente modificadas. O governo dos Estados Unidos foi acusado de ter patrocinado o golpe frustrado contra Erdogan e está impedido de usar a base turca de Incirlik para bombardear o Estado Islâmico. Esta atitude demonstra haver a intenção da Turquia sob Erdogan de se alinhar ainda mais com a Arabia Saudita e com o Estado Islâmico para combater o regime de Bachar Al Assad na Síria. Associe-se a tudo isto a questão dos refugiados sírios. Desde 2011, a Turquia recebeu 1,7 milhão de refugiados sírios, uma migração que colocou um peso grande sobre as instituições e a sociedade turcas e ajudou a minar a força política de Erdogan nas regiões da fronteira com a Síria. A divisão curda na Turquia já começou e vai acelerar. Essa divisão vai acontecer podendo ocorrer um conflito interno. A Turquia perdeu a chance de diálogo com os curdos, para manter um país compartilhado. A
  • 2. 2 divisão curda vai afetar a região, vai acelerar a união entre os curdos do Iraque, da Síria e da Turquia. O cenário político no Oriente Médio, com a desagregação da Síria, a possível guerra civil na Turquia, o aumento do número de refugiados e a expansão territorial do Estado Islâmico, além da intervenção de países como Estados Unidos, Rússia, China e França, poderá levar a região a uma guerra de grandes proporções. Além da dramática situação na Síria, com uma guerra civil que já completou cinco anos, a situação é igualmente frágil em países como o Iraque e as zonas fronteiriças com o Irã e a própria Turquia, onde vivem cerca de 15 milhões de curdos, povo que, após a 1ª guerra mundial, dividiu-se e vive hoje em quatro países. Tudo que acaba de ser relatado é um ensaio da 4ª guerra mundial. Com a entrada da Rússia no conflito, os Estados Unidos também querem fortalecer sua posição. A China adotou posição pró-Assad. A Rússia já avisou que, se a França bombardear a Síria, vai reagir. O resultado das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos também poderá influenciar na geopolítica do Oriente Médio. Se o Partido Republicano vencer com Donald Trump, aumentam as chances de uma intervenção militar direta norte-americana na região e de uma conflagração global. Pode-se afirmar que a Síria tem uma importância estratégica fundamental porque é a última pedra do xadrez geopolítico existente na região, cuja queda levaria ao cerco do Irã, possibilitando aos aliados ocidentais atingirem o território deste país pelo Mar Mediterrâneo e pelo Iraque que garantiria passagem para tropas aliadas atingirem fronteiras iranianas. A Síria, que faz fronteira com Israel, sempre foi importante no Oriente Médio e, sobretudo hoje, faz parte de um xadrez geopolítico muito delicado porque é um país aliado do Irã, junto com quem patrocina movimentos terroristas extremamente agressivos, como o Hezbollah e o Hamas em oposição ao Estado de Israel. Além de conflitos entre Palestina e Israel, entre Irã e Israel e entre potências ocidentais e países árabes, há hoje um conflito entre os países sunitas, liderados pela Arábia Saudita contra o Irã xiita e seus aliados. Ainda que não seja um país de maioria xiita, a Síria alinhou-se com o Iraque, que é de maioria xiita e com o Irã que é totalmente xiita, contra os sunitas sauditas e todas as monarquias do Golfo Pérsico. Por sua vez, a Rússia tem grandes interesses na região, porque há muito tempo, desde a década de 1950, tem uma aliança com a Síria. Com a ajuda da Rússia, a Síria tem recebido grandes carregamentos de armas e implantou uma ampla rede de defesa aérea, que poderia tornar difícil a manutenção de uma zona de exclusão aérea imposta pela ONU, caso fosse implementada no futuro. Há que se considerar também o fato que é através da Síria que a Rússia consegue monitorar o Mediterrâneo, com a base militar de Tartur, ali instalada, a única da marinha que ela possui fora de seu território. Trata-se, portanto, de um confronto geopolítico muito amplo de vários matizes existente na região. Ressalte-se que a Síria tem um Exército poderoso, equipado com armamentos fornecidos principalmente pela Rússia e pelo Irã. A Síria possui aviões comandados por controle remoto, fornecidos pelo Irã. A Síria conta também com dois poderosos aliados, a Rússia e a China no Conselho de Segurança da ONU. Levando em conta os resultados
  • 3. 3 catastróficos da intervenção da OTAN na Líbia, Rússia e China resolveram endurecer suas posições no Conselho de Segurança da ONU e dificultar as tentativas dos Estados Unidos e demais aliados ocidentais de repetir na Síria a mesma estratégia adotada na Líbia. Não há dúvidas de que só será possível cessar a onda de refugiados e ao terrorismo na Europa com o aniquilamento do Estado Islâmico, a reconstrução dos países afetados pelo conflito como a Síria, o Iraque e a Líbia, a constituição de uma nação curda independente, bem como o fim da islamofobia nos países do Ocidente. Estas são as condições para a celebração da paz na região. A derrota militar do Estado Islâmico não seria suficiente para cessar a onda de refugiados e o terrorismo na Europa. O lamentável é não haver iniciativas da ONU no sentido de construir esta solução enquanto o conflito se alastra pelo Oriente Médio. *Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). E-mail: falcoforado@uol.com.br. Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net).