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“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
A
LIVRARIA MÁGICA
DE BETHO RAGUSA
Personagens:
Elisa
Marquinhos, Luizinho, ana, bia
Bentinho (Dom Casmurro)
O Gato de Botas
A bruxa da Branca de Neve
Bruxa de João Maria
Arlequim (A história de Pierrôt, Arlequim e Colombina)
Hamlet (William Shakespeare)
O feiticeiro da Floresta de Hulcãn “Gardan” (Betho Ragusa)
2009
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Cena 1
(Abre o pano e Elisa entra com Marquinhos, lhe mostrando onde estão os livros).
Elisa: É pra você mesmo, ou para dar de presente?
Marquinhos: Vou dar de presente para minha professora. “Dia dos professores”.
Elisa: Ela deve ser uma excelente professora, mas talvez ela já tenha lido a
maioria os livros que aqui estão à venda...
Marquinhos: Impossível...
Elisa: Fique a vontade, e qualquer coisa me chame...
Marquinhos: Tá bom, obrigado. Esse eu já li, feliz rever livros que já li, esse
gostaria de ter lido, mas não teve oportunidade, ah Dom Casmurro, pega e senta
numa cadeira ainda com o livro fechado, pensa em voz alta) esse livro (abre) Dom
Casmurro (um garoto estranho aparece) oi?
Bentinho: Olá, sabe eu “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles,
“olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas
dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim”
Marquinhos: Está brincando... É alguma brincadeira isso...
Bentinho: Nunca falei tão sério em toda minha vida. “Não me acode imagem
capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram.
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova.
Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para
dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”.
Marquinhos: Eu sei o que é oblíqua, sorte sua, oblíqua é “falsa, dupla”. (acorda)
Como posso acreditar nisso? Como você saiu do livro? E ainda jovem...
Bentinho: Da mesma maneira que vou entrar, pela primeira página. Alguma
pergunta? Queres dar um presente para a professora, pode acreditar, ela já leu
Dom Casmurro...
Marquinhos: Quem não leu? É perfeito! Eu ralei um pouquinho...
Bentinho: Publicado em Mil oitocentos e noventa e nove, fazendo, portanto parte
do Realismo Brasileiro.
2
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Marquinhos: Sei disso, no século dezenove, os escritores realistas desejavam
retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face
sonhadora e idealizada da vida como fizeram os românticos; era preciso mostrar a
face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da
falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos
poderosos (pode haver necessidade de um resumo mais simples do Realismo).
Mudando de assunto, sua história é considerada a obra prima de Machado de
Assis sabia?
Bentinho: Você o conhece?
Marquinhos: Não tive tempo, ainda (olha no fundo da capa) você acha que ele
pode aparecer?
Bentinho: Não é impossível, tenho muitas perguntas para fazer-lhe. Mas ele ainda
não apareceu. Já andei conversando com a Branca de neve e com a Tia Nastácia
outro dia.
Marquinhos: A Tia Nastácia do Sítio do pica-pau amarelo?
Bentinho: A própria.
Marquinhos: Sabe, se todas as pessoas do mundo lessem este livro, iriam ficar
maravilhadas, com um dicionário ao lado, claro. (lembra da parte da dúvida sobre a
traição de Capitu) você está tão feliz e enamorado, preste atenção viu, te achei
ciumento demais (Bentinho faz cara feia) Todo leitor tem uma opinião diferente
sobre o livro que lê.
Bentinho: Meu jovem, eu preciso ir... Pode me mandar de volta, por favor?
Marquinhos: Como te mandar de volta?
Bentinho: Que tal fechar o livro (ele fecha e Bentinho desaparece)
Marquinhos (boquiaberto): Estou sonhando... (se levanta, devolve o livro e
encontra “O Gato de Botas”) eu já li, será que se eu abrisse (dúvida) bom se foi
sonho não vai se repetir (abre, e ninguém aparece, mas o Gato logo surge com
suas botas e chapéu com pena) Veja o gato mais astuto dos contos de fadas. Seja
bem vindo!
Gato: Silêncio, o rei pode nos ouvir...
Marquinhos: Não se preocupe, ele não aparecerá por aqui...
3
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Gato: Você quer ajuda, deixe-me ver o que posso fazer por você... Caçar um
coelho, duas perdizes, e espatifar com um ogro do palácio aonde existe ao redor
um enorme campo de trigo, tudo para sua professora.
Marquinhos: Seria ótimo, mas eu só quero um livro no momento.
Gato: Oh, entendo jovem , vou lhe contar uma coisa: talvez o que procure pode
estar mais perto do que você imagina. E a imaginação pode nos surpreender às
vezes. É uma arma poderosa!
Marquinhos: Eu gostaria de parabenizá-lo pelo que você fez por seu “amo”.
Provou que inteligência vale mais que um moinho e um burro.
Gato: Agradeço os votos, bem como não aceitas minha oferta, posso me retirar?
Marquinhos: Claro (fecha o livro).
Gato: Até mais ver (desaparece)
Marquinhos: Minha nossa... Que livro eu poderia abrir agora? (avista um livro)
“Branca de Neve e os sete anões”, já imaginou a bagunça que sete anões fariam
numa livraria? (abre, nada acontece) foi sonho (uma senhora entra devagar
carregando uma cesta) Eu esperava outras pessoas (faz sinal indicando anões).
Bruxa: Eu estava a caminho da casinha daqueles anõezinhos fedidos, quero dizer
anõezinhos queridos, quando você abriu o livro. Sua professora já leu esse livro,
ela e toda criatura que existir na Terra. Poderia me mandar de volta por favor?
Marquinhos: Tão simpática, gentil... É qualquer um cairia no conto do vigário, lobo
em pele de cordeiro. Eu sei o que carrega na cesta...
Bruxa (olhando pra platéia): Coitadinho, ele sabe o que carrego na cesta
(gargalha) e quem não sabe... Maças, claro. Saborosas. Aceitas uma?
Marquinhos: Não obrigado, eu não gosto de maça.
Bruxa: Neste caso, posso tirar qualquer fruta desta cesta, meu menino. Escolha
uma fruta que goste. Uma pêra, melancia... Jaca...
Marquinhos: Exagerou, jaca? Era só o que faltava...Não, obrigado. Já estou
satisfeito (levanta e pega o livro João e Maria) sabe, acho que vou trazer mais
alguém para nossa conversa, e se for quem estou pensando, será uma conversa
proveitosa (risos, abre o livro e a bruxa aparece) agora é que está ficando bom...
4
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Bruxa: Quem será que me tirou da casinha. Eu estava prestes a verificar se João
está mais gordinho... Maria faz muita comida todo dia e nada dele engordar,
Marquinhos: Não diga senhora, ,e responda uma coisa, quem foi o mestre de
obras que construiu uma casa feita de doces com o telhado de biscoito com
sorvete?
Bruxa: Não sejas tolo meu menino. Hum, que cheiro de gente gorda...
Bruxa da Branca de Neve: É uma vergonha ter uma bruxa cega num conto de
fadas.
Marquinhos: Fique quieta, desmancha prazeres, essa é a sorte de João e Maria.
(A bruxa da Branca de neve observa tudo inconformada).
Bruxa: Se aproxime menino deixe me ver se está no ponto para ser assado
(Marquinhos procura rapidamente uma caneta em seus bolsos e estica a caneta
para que ela pegue).
Marquinhos: Eu como pouco. Quase não tenho fome. Sou seco mesmo.
Bruxa: Você poderia me acompanhar até minha humilde casa onde eu te
alimentaria com guloseimas e você ficaria bem gordinho.
Marquinhos (para a Bruxa da Branca de Neve): Eu acho que vou aceitar aquela
maça saborosa que me ofereceu há pouco.
Bruxa da Branca de neve: Impossível, só faltava além de cega ser burra...
Bruxa: Eu sou cega, não surda. Olhe para ela, vive numa terra aonde a mulher
mais bonita do mundo não é ela (gargalha) não consegue dar cabo dela nem dos
sete pigmeus desastrados. Pega leve, só podia ser a Bruxa da Branca de neve!
Bruxa da branca de Neve: São anões sua velha cega. E pelo menos não moro
numa floresta perdida aonde de vez em quando aparecem duas crianças mortas
de fome que são alimentadas sem saberem que serão o prato principal no próximo
dia, só podia ser a Bruxa de João e Maria!
Marquinhos: Ei, ei, vamos parar por aqui por favor? D. Bruxa de João e Maria, a
senhora poderia aceitar uma maça? Foi colhida agora a pouco.
Bruxa: Esta maça está envenenada meu querido...
5
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Marquinhos: Ah, você conhece a história.
Bruxa: Eu avisei que não sou burra nem surda, só um pouco cega. Vou voltar para
lá, venha comigo, o convite ainda está valendo, venha comer guloseimas, sorvetes,
bombons e caramelo, chocolate... Você ficará junto com João, e poderão brincar o
dia todo.
Marquinhos: Oh bruxa insistente! Vai embora (fecha o livro).
Bruxa da branca de neve: Se não for comer a maça, me devolva! Preciso ir,
tenho uma visita para fazer...
Marquinhos: Espere um momento, leve isso para a branca de Neve (escreve um
bilhete e entrega a Bruxa) não leia, é falta de educação...
Bruxa da branca de Neve (lendo): “Não aceite maças, estão todas envenenadas”
(gargalha) Ótima tentativa garoto.
Marquinhos: Sua Bruxa! (fecha o livro).
Bruxa da Branca de Neve: Pois não, ouço alguém me chamando (gargalha e sai).
Marquinhos: Bruxas... São todas iguais... (continua a procura) “Viagem ao centro
da terra”, não... “Vinte mil léguas submarinas”, socorro. Tenho medo de água.
“Quem roubou meu queijo?” Eu não fui... (e vai lendo as capas e fazendo
observações engraçadas, até que encontra um com a capa chamativa) Pierrot,
Arlequim e Colombina, será que a professora já leu? (abre, e nada acontece até
que Arlequim lhe dá um susto) Danado! Queria me matar do coração?
Arlequim: Aposto vinte pratas que você não conseguirá encontrar um livro para
ela...
Marquinhos: Sou otimista, e você um vigarista, meu nome é Marcos, mas pode
me chamar de Marquinhos.
Arlequim: Meu nome é Arlequim, mas pode me chamar do que quiser, posso ser
qualquer coisa que imaginar...
Marquinhos: Não passa de um galanteador, um malandro, que só apronta
bobagens e depois remenda tudo...
Arlequim (drama): Me recebes assim com esses elogios? (leva os dedos aos
olhos retirando as lágrimas e depositando num saquinho de pano, entregando a
Marquinhos em seguida).
6
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Marquinhos: Lágrimas, de um homem arrependido (Marquinhos abre e o saquinho
gruda na mão dele (Arlequim ri sem limites) você me paga seu trapaceiro (Arlequim
dança e faz acrobacias enquanto ri) Muito esperto você!
Elisa (entrando): E essa barulheira, (vê Arlequim) quem é esse?
Arlequim: Permita me apresentar, (reverencia) sou Arlequim ao seu dispor
senhorita (tira um buquê de flores murchas de algum lugar e entrega para ela que
fica encantada)
Elisa: Quanta gentileza...
Marquinhos: Vamos agilizar. Elisa, ele é um personagem fanfarrão, preguiçoso e
tenta convencer todo mundo de sua ingenuidade e estupidez...
Elisa: Imagine, é um homem incrível...
Arlequim: É Marquinhos, sou um homem do bem (abraça Elisa, mas Marquinhos
os separa).
Marquinhos: Por que eu fui abrir esse livro? Sr. Gentileza, poderia me dar um
minuto de sua atenção? E Elisa... Poderia voltar para a recepção?
Elisa (saindo brava): Estraga prazeres... (mostra a língua).
Marquinhos: Eu te trouxe para me ajudar, lembra?
Arlequim: Arlequim sabe de tudo. Essa professora, ela assim.. É bonita?
Marquinhos: Tenha modos, você realmente não serve para me ajudar, volte para
o lugar de onde veio (Arlequim esconde o livro, Marquinhos começa a procurar)
aonde está o livro?
Arlequim: Que livro? (olha para os lados) não vi livro algum.
Marquinhos: Ai se arrependimento matasse (pensa) Sabe, vou trazer a Caipora
para dar um jeito em você! (ele devolve, Marquinhos fecha o livro e ele sai em
disparada) Ufa, já pensou passar uma semana ao lado desse traste? Pobre
Colombina, coitado de Pierrôt. (pega outro livro): Hamlet, William Shakespeare,
será que minha professora já leu esse? (abre).
Hamlet (entrando): “Ser ou não ser, eis a questão” (...).
7
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Marquinhos: Me desculpe, mas gente indecisa aqui é o que menos preciso. De
indeciso já basta eu. E você sabe que procuro um livro, a livraria toda já sabe.
Hamlet (ignorando-o): “Ser ou não ser, eis a questão... Será mais nobre em nosso
espírito sofrer pedras e setas. Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou
insurgir-nos contra um mar de provocações, e em luta por-lhes fim? Morrer...
dormir: não mais”.
Marquinhos (fechando o livro): Esta é uma das frases mais famosas da literatura
mundial.
Hamlet: Garoto corajoso este. Vou pegar minha espada e como dizem vocês, “vou
picar a mula”.
Marquinhos: Esse deve passear demais por aqui, já está até falando nossas
gírias... (procura mais livros, encontra um): Não conheço este. “Taressãnimus – Do
fundo do mar”, imponente, misterioso (abre).
Gardan: Ah, meu jovem... Tempos difíceis chegarão para os escolhidos...
Marquinhos: Que escolhidos?
Gardan: Este livro conta a história de uma antiga civilização que foi amaldiçoada
por uma sacerdotisa que traiu um reino antigo.
Marquinhos: Interessante, conte-me mais...
Gardan: Há um segredo no fundo do mar Cáspio. Há mais de quatro mil anos, a
sacerdotisa prendeu toda a civilização num livro e afundou a cidade toda no mar.
Marquinhos: Aventura épica...
Gardan: Não tão épico assim, os escolhidos para libertar Taressãnimus são de seu
mundo.
Marquinhos: Que massa! Vou dar este livro a minha professora (fecha o livro, o
feiticeiro se retira, Marquinhos deixa um livro aberto, e Elisa também fecha a
livraria).
Algum tempo depois...
Marquinhos: Professora: quero lhe dar um presente. (tira o embrulho e entrega).
Heloísa: Um livro! Obrigada.
8
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
Marquinhos: Feliz Dia dos Professores. A senhora vai adorar a história...
Heloísa (abraçando-o): Obrigada.
E não muito longe dali...
Bruxa da Branca de neve: Estou perdida, (tira uma maça do bolso, olha com ar
falso): Alguém aceita uma maça, saborosa... Garanto que não é envenenada
(gargalha).
FIM
Nota: A concepção dessa peça trouxe aos atores e a todos os envolvidos o prazer
de ler. Algumas obras possuem mini-série, filmes baseados, etc... Leia, releia, os
livros destacados. Dom Casmurro nunca foi tão interessante e analisar as idéias e
pesquisar sobre Realismo Brasileiro foi tão divertido quanto encenar.
Elisa é jovem e está cansada de ver personagens perambulando por lá.
Marquinhos é o aluno nota dez, inteligente e tem sede de conhecimento. Heloísa é
uma professora meiga e atenciosa. Enfim, são personagens normais e basta uma
pitada de criatividade para criá-los.
Os personagens que saem dos livros são conhecidos (caso contrário conheça-os),
com excessão de “Gardan” feiticeiro sério e sábio que conta a história de sua terra
natal, Taressãnimus. Possui um cajado com uma pedra branca na ponta e carrega
um tacho de onde vê tudo que acontece. Era o feiticeiro responsável por proteger a
Ilha de Shore uma ilha que guarda muitos tesouros e o equilíbrio entre o bem e o
mal.
EM BREVE...
A LIVRARIA MÁGICA ll
9
“T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s”
O INTRUSO
Parece que alguém permaneceu no mundo real, e agora... O que será dessa
livraria... E até do mundo...
Marquinhos terá uma missão na continuação da história... Como será que ele
irá se comportar? Afinal cinco anos se passaram...
Aguarde!
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A livraria magica

  • 1. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” A LIVRARIA MÁGICA DE BETHO RAGUSA Personagens: Elisa Marquinhos, Luizinho, ana, bia Bentinho (Dom Casmurro) O Gato de Botas A bruxa da Branca de Neve Bruxa de João Maria Arlequim (A história de Pierrôt, Arlequim e Colombina) Hamlet (William Shakespeare) O feiticeiro da Floresta de Hulcãn “Gardan” (Betho Ragusa) 2009
  • 2. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Cena 1 (Abre o pano e Elisa entra com Marquinhos, lhe mostrando onde estão os livros). Elisa: É pra você mesmo, ou para dar de presente? Marquinhos: Vou dar de presente para minha professora. “Dia dos professores”. Elisa: Ela deve ser uma excelente professora, mas talvez ela já tenha lido a maioria os livros que aqui estão à venda... Marquinhos: Impossível... Elisa: Fique a vontade, e qualquer coisa me chame... Marquinhos: Tá bom, obrigado. Esse eu já li, feliz rever livros que já li, esse gostaria de ter lido, mas não teve oportunidade, ah Dom Casmurro, pega e senta numa cadeira ainda com o livro fechado, pensa em voz alta) esse livro (abre) Dom Casmurro (um garoto estranho aparece) oi? Bentinho: Olá, sabe eu “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim” Marquinhos: Está brincando... É alguma brincadeira isso... Bentinho: Nunca falei tão sério em toda minha vida. “Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”. Marquinhos: Eu sei o que é oblíqua, sorte sua, oblíqua é “falsa, dupla”. (acorda) Como posso acreditar nisso? Como você saiu do livro? E ainda jovem... Bentinho: Da mesma maneira que vou entrar, pela primeira página. Alguma pergunta? Queres dar um presente para a professora, pode acreditar, ela já leu Dom Casmurro... Marquinhos: Quem não leu? É perfeito! Eu ralei um pouquinho... Bentinho: Publicado em Mil oitocentos e noventa e nove, fazendo, portanto parte do Realismo Brasileiro. 2
  • 3. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Marquinhos: Sei disso, no século dezenove, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida como fizeram os românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos (pode haver necessidade de um resumo mais simples do Realismo). Mudando de assunto, sua história é considerada a obra prima de Machado de Assis sabia? Bentinho: Você o conhece? Marquinhos: Não tive tempo, ainda (olha no fundo da capa) você acha que ele pode aparecer? Bentinho: Não é impossível, tenho muitas perguntas para fazer-lhe. Mas ele ainda não apareceu. Já andei conversando com a Branca de neve e com a Tia Nastácia outro dia. Marquinhos: A Tia Nastácia do Sítio do pica-pau amarelo? Bentinho: A própria. Marquinhos: Sabe, se todas as pessoas do mundo lessem este livro, iriam ficar maravilhadas, com um dicionário ao lado, claro. (lembra da parte da dúvida sobre a traição de Capitu) você está tão feliz e enamorado, preste atenção viu, te achei ciumento demais (Bentinho faz cara feia) Todo leitor tem uma opinião diferente sobre o livro que lê. Bentinho: Meu jovem, eu preciso ir... Pode me mandar de volta, por favor? Marquinhos: Como te mandar de volta? Bentinho: Que tal fechar o livro (ele fecha e Bentinho desaparece) Marquinhos (boquiaberto): Estou sonhando... (se levanta, devolve o livro e encontra “O Gato de Botas”) eu já li, será que se eu abrisse (dúvida) bom se foi sonho não vai se repetir (abre, e ninguém aparece, mas o Gato logo surge com suas botas e chapéu com pena) Veja o gato mais astuto dos contos de fadas. Seja bem vindo! Gato: Silêncio, o rei pode nos ouvir... Marquinhos: Não se preocupe, ele não aparecerá por aqui... 3
  • 4. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Gato: Você quer ajuda, deixe-me ver o que posso fazer por você... Caçar um coelho, duas perdizes, e espatifar com um ogro do palácio aonde existe ao redor um enorme campo de trigo, tudo para sua professora. Marquinhos: Seria ótimo, mas eu só quero um livro no momento. Gato: Oh, entendo jovem , vou lhe contar uma coisa: talvez o que procure pode estar mais perto do que você imagina. E a imaginação pode nos surpreender às vezes. É uma arma poderosa! Marquinhos: Eu gostaria de parabenizá-lo pelo que você fez por seu “amo”. Provou que inteligência vale mais que um moinho e um burro. Gato: Agradeço os votos, bem como não aceitas minha oferta, posso me retirar? Marquinhos: Claro (fecha o livro). Gato: Até mais ver (desaparece) Marquinhos: Minha nossa... Que livro eu poderia abrir agora? (avista um livro) “Branca de Neve e os sete anões”, já imaginou a bagunça que sete anões fariam numa livraria? (abre, nada acontece) foi sonho (uma senhora entra devagar carregando uma cesta) Eu esperava outras pessoas (faz sinal indicando anões). Bruxa: Eu estava a caminho da casinha daqueles anõezinhos fedidos, quero dizer anõezinhos queridos, quando você abriu o livro. Sua professora já leu esse livro, ela e toda criatura que existir na Terra. Poderia me mandar de volta por favor? Marquinhos: Tão simpática, gentil... É qualquer um cairia no conto do vigário, lobo em pele de cordeiro. Eu sei o que carrega na cesta... Bruxa (olhando pra platéia): Coitadinho, ele sabe o que carrego na cesta (gargalha) e quem não sabe... Maças, claro. Saborosas. Aceitas uma? Marquinhos: Não obrigado, eu não gosto de maça. Bruxa: Neste caso, posso tirar qualquer fruta desta cesta, meu menino. Escolha uma fruta que goste. Uma pêra, melancia... Jaca... Marquinhos: Exagerou, jaca? Era só o que faltava...Não, obrigado. Já estou satisfeito (levanta e pega o livro João e Maria) sabe, acho que vou trazer mais alguém para nossa conversa, e se for quem estou pensando, será uma conversa proveitosa (risos, abre o livro e a bruxa aparece) agora é que está ficando bom... 4
  • 5. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Bruxa: Quem será que me tirou da casinha. Eu estava prestes a verificar se João está mais gordinho... Maria faz muita comida todo dia e nada dele engordar, Marquinhos: Não diga senhora, ,e responda uma coisa, quem foi o mestre de obras que construiu uma casa feita de doces com o telhado de biscoito com sorvete? Bruxa: Não sejas tolo meu menino. Hum, que cheiro de gente gorda... Bruxa da Branca de Neve: É uma vergonha ter uma bruxa cega num conto de fadas. Marquinhos: Fique quieta, desmancha prazeres, essa é a sorte de João e Maria. (A bruxa da Branca de neve observa tudo inconformada). Bruxa: Se aproxime menino deixe me ver se está no ponto para ser assado (Marquinhos procura rapidamente uma caneta em seus bolsos e estica a caneta para que ela pegue). Marquinhos: Eu como pouco. Quase não tenho fome. Sou seco mesmo. Bruxa: Você poderia me acompanhar até minha humilde casa onde eu te alimentaria com guloseimas e você ficaria bem gordinho. Marquinhos (para a Bruxa da Branca de Neve): Eu acho que vou aceitar aquela maça saborosa que me ofereceu há pouco. Bruxa da Branca de neve: Impossível, só faltava além de cega ser burra... Bruxa: Eu sou cega, não surda. Olhe para ela, vive numa terra aonde a mulher mais bonita do mundo não é ela (gargalha) não consegue dar cabo dela nem dos sete pigmeus desastrados. Pega leve, só podia ser a Bruxa da Branca de neve! Bruxa da branca de Neve: São anões sua velha cega. E pelo menos não moro numa floresta perdida aonde de vez em quando aparecem duas crianças mortas de fome que são alimentadas sem saberem que serão o prato principal no próximo dia, só podia ser a Bruxa de João e Maria! Marquinhos: Ei, ei, vamos parar por aqui por favor? D. Bruxa de João e Maria, a senhora poderia aceitar uma maça? Foi colhida agora a pouco. Bruxa: Esta maça está envenenada meu querido... 5
  • 6. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Marquinhos: Ah, você conhece a história. Bruxa: Eu avisei que não sou burra nem surda, só um pouco cega. Vou voltar para lá, venha comigo, o convite ainda está valendo, venha comer guloseimas, sorvetes, bombons e caramelo, chocolate... Você ficará junto com João, e poderão brincar o dia todo. Marquinhos: Oh bruxa insistente! Vai embora (fecha o livro). Bruxa da branca de neve: Se não for comer a maça, me devolva! Preciso ir, tenho uma visita para fazer... Marquinhos: Espere um momento, leve isso para a branca de Neve (escreve um bilhete e entrega a Bruxa) não leia, é falta de educação... Bruxa da branca de Neve (lendo): “Não aceite maças, estão todas envenenadas” (gargalha) Ótima tentativa garoto. Marquinhos: Sua Bruxa! (fecha o livro). Bruxa da Branca de Neve: Pois não, ouço alguém me chamando (gargalha e sai). Marquinhos: Bruxas... São todas iguais... (continua a procura) “Viagem ao centro da terra”, não... “Vinte mil léguas submarinas”, socorro. Tenho medo de água. “Quem roubou meu queijo?” Eu não fui... (e vai lendo as capas e fazendo observações engraçadas, até que encontra um com a capa chamativa) Pierrot, Arlequim e Colombina, será que a professora já leu? (abre, e nada acontece até que Arlequim lhe dá um susto) Danado! Queria me matar do coração? Arlequim: Aposto vinte pratas que você não conseguirá encontrar um livro para ela... Marquinhos: Sou otimista, e você um vigarista, meu nome é Marcos, mas pode me chamar de Marquinhos. Arlequim: Meu nome é Arlequim, mas pode me chamar do que quiser, posso ser qualquer coisa que imaginar... Marquinhos: Não passa de um galanteador, um malandro, que só apronta bobagens e depois remenda tudo... Arlequim (drama): Me recebes assim com esses elogios? (leva os dedos aos olhos retirando as lágrimas e depositando num saquinho de pano, entregando a Marquinhos em seguida). 6
  • 7. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Marquinhos: Lágrimas, de um homem arrependido (Marquinhos abre e o saquinho gruda na mão dele (Arlequim ri sem limites) você me paga seu trapaceiro (Arlequim dança e faz acrobacias enquanto ri) Muito esperto você! Elisa (entrando): E essa barulheira, (vê Arlequim) quem é esse? Arlequim: Permita me apresentar, (reverencia) sou Arlequim ao seu dispor senhorita (tira um buquê de flores murchas de algum lugar e entrega para ela que fica encantada) Elisa: Quanta gentileza... Marquinhos: Vamos agilizar. Elisa, ele é um personagem fanfarrão, preguiçoso e tenta convencer todo mundo de sua ingenuidade e estupidez... Elisa: Imagine, é um homem incrível... Arlequim: É Marquinhos, sou um homem do bem (abraça Elisa, mas Marquinhos os separa). Marquinhos: Por que eu fui abrir esse livro? Sr. Gentileza, poderia me dar um minuto de sua atenção? E Elisa... Poderia voltar para a recepção? Elisa (saindo brava): Estraga prazeres... (mostra a língua). Marquinhos: Eu te trouxe para me ajudar, lembra? Arlequim: Arlequim sabe de tudo. Essa professora, ela assim.. É bonita? Marquinhos: Tenha modos, você realmente não serve para me ajudar, volte para o lugar de onde veio (Arlequim esconde o livro, Marquinhos começa a procurar) aonde está o livro? Arlequim: Que livro? (olha para os lados) não vi livro algum. Marquinhos: Ai se arrependimento matasse (pensa) Sabe, vou trazer a Caipora para dar um jeito em você! (ele devolve, Marquinhos fecha o livro e ele sai em disparada) Ufa, já pensou passar uma semana ao lado desse traste? Pobre Colombina, coitado de Pierrôt. (pega outro livro): Hamlet, William Shakespeare, será que minha professora já leu esse? (abre). Hamlet (entrando): “Ser ou não ser, eis a questão” (...). 7
  • 8. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Marquinhos: Me desculpe, mas gente indecisa aqui é o que menos preciso. De indeciso já basta eu. E você sabe que procuro um livro, a livraria toda já sabe. Hamlet (ignorando-o): “Ser ou não ser, eis a questão... Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas. Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações, e em luta por-lhes fim? Morrer... dormir: não mais”. Marquinhos (fechando o livro): Esta é uma das frases mais famosas da literatura mundial. Hamlet: Garoto corajoso este. Vou pegar minha espada e como dizem vocês, “vou picar a mula”. Marquinhos: Esse deve passear demais por aqui, já está até falando nossas gírias... (procura mais livros, encontra um): Não conheço este. “Taressãnimus – Do fundo do mar”, imponente, misterioso (abre). Gardan: Ah, meu jovem... Tempos difíceis chegarão para os escolhidos... Marquinhos: Que escolhidos? Gardan: Este livro conta a história de uma antiga civilização que foi amaldiçoada por uma sacerdotisa que traiu um reino antigo. Marquinhos: Interessante, conte-me mais... Gardan: Há um segredo no fundo do mar Cáspio. Há mais de quatro mil anos, a sacerdotisa prendeu toda a civilização num livro e afundou a cidade toda no mar. Marquinhos: Aventura épica... Gardan: Não tão épico assim, os escolhidos para libertar Taressãnimus são de seu mundo. Marquinhos: Que massa! Vou dar este livro a minha professora (fecha o livro, o feiticeiro se retira, Marquinhos deixa um livro aberto, e Elisa também fecha a livraria). Algum tempo depois... Marquinhos: Professora: quero lhe dar um presente. (tira o embrulho e entrega). Heloísa: Um livro! Obrigada. 8
  • 9. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” Marquinhos: Feliz Dia dos Professores. A senhora vai adorar a história... Heloísa (abraçando-o): Obrigada. E não muito longe dali... Bruxa da Branca de neve: Estou perdida, (tira uma maça do bolso, olha com ar falso): Alguém aceita uma maça, saborosa... Garanto que não é envenenada (gargalha). FIM Nota: A concepção dessa peça trouxe aos atores e a todos os envolvidos o prazer de ler. Algumas obras possuem mini-série, filmes baseados, etc... Leia, releia, os livros destacados. Dom Casmurro nunca foi tão interessante e analisar as idéias e pesquisar sobre Realismo Brasileiro foi tão divertido quanto encenar. Elisa é jovem e está cansada de ver personagens perambulando por lá. Marquinhos é o aluno nota dez, inteligente e tem sede de conhecimento. Heloísa é uma professora meiga e atenciosa. Enfim, são personagens normais e basta uma pitada de criatividade para criá-los. Os personagens que saem dos livros são conhecidos (caso contrário conheça-os), com excessão de “Gardan” feiticeiro sério e sábio que conta a história de sua terra natal, Taressãnimus. Possui um cajado com uma pedra branca na ponta e carrega um tacho de onde vê tudo que acontece. Era o feiticeiro responsável por proteger a Ilha de Shore uma ilha que guarda muitos tesouros e o equilíbrio entre o bem e o mal. EM BREVE... A LIVRARIA MÁGICA ll 9
  • 10. “T e m o s q u e f a z e r d o B r a s i l u m p a í s d e l e i t o r e s” O INTRUSO Parece que alguém permaneceu no mundo real, e agora... O que será dessa livraria... E até do mundo... Marquinhos terá uma missão na continuação da história... Como será que ele irá se comportar? Afinal cinco anos se passaram... Aguarde! 10