1. A Polícia Federal encontrou uma série de anotações feitas por Marcelo Odebrecht em seus celulares que sugerem envolvimento em atividades ilegais.
2. Uma das anotações faz referência ao financiamento da campanha de Dilma Rousseff com dinheiro ilegal de uma conta na Suíça.
3. O juiz Sergio Moro deu prazo de dois dias para que a Odebrecht explique o significado das anotações, especialmente trechos que mencionam "dissidentes da PF" e investigações.
MPF vai apurar abandono de todas as vítimas do DDT
1. OLIBERAL BELÉM, QUARTA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 20158 ATUALIDADES
Cadeirinhas vão encarecer transporte escolar. Página 9.CIDADES
Q
uando Marcelo Odebre-
cht, preso em Curitiba,
encaminhouumbilhete
a seus advogados orientan-
do“destruire-mailsondas”,
ligou-se logo a orientação a
um e-mail descoberto pela
Polícia Federal em que um
diretor da empreiteira fa-
lava em conseguir um “so-
brepreço” num contrato de
sondas petrolíferas.
Logo os advogados da
Odebrecht correram a ex-
plicar que esse “destruir”
era metafórico, e queria di-
zer apenas que era preciso
provar que “sobrepreço”
também não significava
“sobrepreço”, mas, sim,
uma taxa legal do contrato.
Agora, a PF encontrou uma
série de anotações de Mar-
celo em seus celulares, e
várias delas dão a entender
coisas gravíssimas.
Por exemplo, ele ques-
tiona em uma delas seu vi-
ce-presidente jurídico se é
necessárioavisarEdinho(Sil-
va?)quenascampanhasdela
(DilmaRousseff?)etambém
de(Fernando?)Haddadpode
aparecer dinheiro de uma
conta na Suíça. Seria aviso
amigoouumaameaça?Quer
dizeroquetodosnósimagi-
namos, que a campanha de
Dilma foi financiada por di-
nheiroilegal?
O juiz Sergio Moro deu
dois dias para que haja
uma explicação oficial por
parte do empreiteiro sobre
o significado de cada uma
daquelas anotações, que
estão sendo traduzidas pe-
la PF com a ajuda de vários
órgãosdeimprensaeblogs,
dentre os quais se destaca
O Antagonista, de Diogo
Mainardi e Mario Sabino.
Para Moro, o trecho
mais perturbador é a re-
ferência ao uso de “dissi-
dentes PF” com “trabalhar
para parar/anular” a in-
vestigação. “Sem embar-
go do direito da defesa de
questionar juridicamente
a investigação ou a perse-
cução penal, a menção a
‘dissidentes PF’ coloca uma
sombra sobre o significado
da anotação”, ressalta.
Uma das anotações
achadas pela PF nos celula-
res de Marcelo Odebrecht
diz ser necessário ter “con-
tato ágil/permanente com
ogrupodecrisedogoverno
enósparaqueinformações
sejam passadas e ações co-
ordenadas”.
Há ainda entre as anota-
ções algumas que indicam
que os executivos da em-
preiteira presos na Lava-
Jato Márcio Faria e Rogério
Araújo são orientados para
que não “movimentem na-
da e que serão reembolsa-
dos, bem como terão suas
famílias asseguradas”.
Além disso, Marcelo lem-
braanecessidadede“higie-
nizar apetrechos” dos dois,
o que, diz a PF, “traduz a
ideia de que os apetrechos
(a exemplo de telefones,
tablets, notebooks, pendri-
ves etc.) sejam limpos, im-
pedindo que, em possível
apreensão, possam conter
informações prejudiciais
aos supracitados”.
Emoutromomento,apa-
receapossibilidadedeincen-
tivar “delação premiada” de
Rogério Araújo como sendo
um plano alternativo (fall-
back). Segundo a Polícia Fe-
deral, “referência a Rogerio
Araújo e conta corrente na
Suíçaéconstante,indicando
a preocupação de Marcelo
com a mesma, como pode
ser observado na anotação
‘RA vs cc Sw (direção fluxo?
Delaçãodosenvolvidos?)”.
No caso da “declaração
premiada” combinada, se-
ria como fazer doações de
dinheiro roubado como se
fossem legais, uma tática
utilizada pelas empreitei-
ras. Assim como o dinhei-
ro fica “lavado” pelo TSE, a
“delação” seria oficializada
pelo Supremo.
Como alternativa, o pre-
sidente da Odebrecht ad-
mite a possibilidade de ter
dado dinheiro para caixa 2
de campanha: “Campanha
incluindocaixa2,sehouver
era soh com MO (a PF acre-
dita ser a MO Consultoria,
empresa de fachada de
Alberto Youssef), que não
aceitava vinculação. PRC
(Paulo Roberto Costa) soh
se foi rebate de cx2”.
Vários nomes de polí-
ticos surgem no decorrer
das anotações, inclusive
altas cifras para o Vaca,
que todos acreditam ser
João Vaccari, o tesoureiro
do PT já preso.
As anotações de Marce-
lo são muito detalhadas, o
que combina com a descri-
ção de seus carcereiros em
Curitiba, que certa vez o
definiram como uma pes-
soa que passa o dia escre-
vendo,tomandonotas.Gra-
ças a esse hábito, a PF tem
em mãos uma coletânea de
notas e informações que
podem se equivaler a uma
delaçãopremiadadepoisde
devidamente decodificada.
Os pontos-chave
1
Quando Marcelo Ode-
brecht encaminhou bi-
lhete a seus advogados
orientando“destruire-mail
sondas”, eles correram a
explicar que “destruir”
queria dizer que era preci-
so provar que “sobrepreço”
significava uma taxa legal
do contrato.
2
Agora, a PF encontrou
uma série de anotações
de Marcelo em seus ce-
lulares, e várias dão a en-
tender coisas gravíssimas.
3
O juiz Moro deu 2 dias
para explicação por
parte de Marcelo. Para
Moro, o trecho mais per-
turbador é a referência a
“dissidentes PF” junto com
“trabalhar para parar/anu-
lar” a investigação.
A‘delaçãopremiada’deMarcelo
merval
pereira
merval@oglobo.com.br
“Quer dizer que
a campanha
de Dilma foi
financiada por
dinheiro ilegal?”
Chuvaafeta51milnoRS
O número de pessoas atin-
gidas pela chuva aumentou
da manhã para a tarde desta
terça-feira no Rio Grande do
Sul, apesar da trégua na chu-
va. Segundo balanço divulga-
do pela Defesa Civil estadual,
às 17 horas, ao todo já havia
51.009 afetados, ante 50.728
divulgados anteriormente. A
contagem de desabrigados
também subiu: foi de 2.029
para2.768.São64municípios
prejudicados. Entre eles, 26
estão em situação de emer-
gência. Conforme a Defesa
Civil,asituaçãomaisgravese
concentra nos municípios de
Esteio,GravataíeCachoerinha,
naRegiãoMetropolitana,eem
Porto Alegre, na zona norte e
nasilhasdoGuaíba.
MAIS
V
irou inquérito civil públi-
co no Ministério Público
Federal (sob o número
1.23.000.001346/2015-60) o
descumprimento da ordem
judicial pela extinta Superin-
tendência de Campanhas de
Saúde Pública (Sucam), atual
Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), em relação aos seus
ex-servidores contaminados
pelo DDT (dicloro-difenil-tri-
cloroetano). Eles são tutelados
pelaJustiçaFederalparaterem
o tratamento adequado das
doenças ocasionadas pelo in-
seticida.Aindaestemês,oMPF
encaminhou comunicação, a
partir de Belém, às unidades
em todo o Estado, para que in-
vestiguem o descumprimento
das decisões em cada região
da Justiça Federal no Pará.
O MPF recebeu a denúncia
do Sindicato dos Trabalhado-
res no Serviço Público Federal
noPará(Sindsep/PA),nodia26
de maio deste ano. O procura-
dor da República Bruno Soa-
res Valente analisou o relato e
determinou a instauração de
inquérito para investigar o ca-
so.Segundoosindicato,saltou
para 118 o número de mortes
de ex-servidores contamina-
dos pelo DDT. Em 2011, a lista
apontava 37 mortes. A entida-
de estimava existirem cerca
de mil servidores intoxicados
MPF vai apurar abandono
detodasasvítimasdoDDT
TRATAMENTO
MPF aceita denúncia
e abre inquérito para
apurar ausência de
tutela a ex-servidores
Todas as
unidades no
Estado vão
investigar
descumprimento
no Estado, mas, por meio de
documento emitido em maio
deste ano, o Ministério da Saú-
de atualizou essa informação:
são 1.812 servidores, entre os
quais guardas de endemias,
agentes de saúde pública, visi-
tadores, motoristas, pilotos de
lanchas, laboratoristas, enfer-
meiros e agentes administra-
tivos, entre outros.
A partir de 1999, centenas
de ações judiciais individuais
em relação a essa causa foram
iniciadas no Pará e para 30%
delas foram conseguidas tu-
telas. Desde 2007, o Sindsep
entrou com oito ações civis
públicas nas varas federais
para reconhecimento da ne-
cessidade de indenização,
obrigatoriedade do governo
garantir o tratamento de saú-
de e admissão da existência
de acidente de trabalho, por
falta de material de seguran-
ça. As decisões judiciais que
já beneficiaram os servidores
foram proferidas em Altami-
ra, Belém, Castanhal, Marabá,
Redenção e Tucuruí. Em Itai-
tuba o processo está em fase
de conclusão e em Santarém o
pedido foi negado, mas o sin-
dicato recorreu.
“O Tribunal Regional Fede-
ralreconhececomodanoinde-
nizatório a importância de R$
3 mil por ano trabalhado, mas
ainda é pouco pela gravidade
que eles sofrem e pela dívida
social que há com esses traba-
lhadores.Elestrabalharamen-
tre 20 e 30 anos e nós questio-
namos indenização maior no
Superior Tribunal de Justiça,
de R$ 15 mil por ano trabalha-
do. Infelizmente, a agilidade
da Justiça não acompanha a
gravidade da saúde desses
trabalhadores. Muitas vezes,
quando conseguimos uma
tutela para o tratamento de
saúde, a doença já está agrava-
da”, ressaltou Pedro Cavalero,
assessor jurídico do sindicato.
Segundo Luis Sérgio Botelho,
coordenador de Saúde do Tra-
balhador do Sindsep, os tra-
balhadores enfrentam sérios
problemas quanto ao cumpri-
mentodoprogramadeatendi-
mento à saúde da Funasa, que
existehá12anos,eseagravou
nos últimos seis anos.
Uma das pessoas debili-
tadas é o agente de saúde pú-
blica Manuel Valente Tavares,
que tem 62 anos. “Estou com
problema de tontura, não pos-
so andar sozinho pelas ruas.
Estou também muito doente
da minha coluna, sinto do-
res que seguem pelas pernas
e meus dedos do pé ficam
amortecidos. Sou hipertenso
e cardíaco. Tudo isso é con-
sequência do DDT”, relatou o
trabalhador.
Ele disse que quando co-
meçou o trabalho tinha 18
anos e não sabia que teria re-
sultados negativos. “Naquela
época a gente não sabia o que
era aquele produto nem o que
a gente carregava e espirrava.
No início, tínhamos todas as
especialidades médicas, mas
infelizmente, nos últimos seis
anos, passamos a ser tratados
comdescasopelogoverno,que
nemotratamentodesaúdenos
garantemais”,disseTavares.
ManuelValente(deboné):problemassériosdesaúde
ROBERTODOVALE/OLIBERAL
Inseticida causa alterações físicas e psicológicas
ras 24 horas, envolvem
náuseas, vômitos, diar-
reias, mal-estar, tremo-
res e até convulsões, se a
absorção for grande. Já a
crônica é uma exposição
ocupacional, em que a
pessoa tem contato com
pequena quantidade - até
se intoxicar - e provoca
alterações emocionais,
visuais, psíquicas, psico-
lógicas, podendo levar ao
adormecimento, alteração
sanguínea, renal, hepática
e cardíaca, entre outras.
DIAGNÓSTICO
Pardal destacou ainda que
a intoxicação crônica é
mais difícil de diagnosti-
car, pois envolve diversas
manifestações, confundin-
do-se com outras doenças.
“Laboratorialmente é difí-
cil diagnosticar a crônica,
mas é possível chegar a
consenso epidemiológi-
co e clínico. No primeiro
caso, é levada em conta a
história do paciente, que
pode levar o médico a sus-
peitar do diagnóstico. No
clínico, o médico investiga
o que o paciente sente, so-
licita alguns exames, em
geral de sangue, urina e
outros tipos. Se confirma-
do, o paciente deve ter o
acompanhamento clínico,
psicológico e psiquiátrico,
vai depender do caso”, es-
clareceu o especialista.
O Centro de Informa-
ções Toxicológicas de Be-
lém é resultado de uma
parceria entre a Univer-
sidade Federal do Pará
(UFPA) e a Secretaria Mu-
nicipal de Saúde (Sesma).
Existe há 17 anos e funcio-
na no Hospital Universitá-
rio João de Barros Barreto,
da UFPA, na rua dos Mun-
durucus, no Guamá. O
centro dá orientações, por
telefone, durante 24 horas,
de segunda a segunda, a
qualquer pessoa que teve
intoxicação aguda e foi
envenenada por animais
peçonhentos. A ligação é
gratuita: 0800 722 6001.
Segundo o médico toxico-
logista Pedro Pardal, que co-
ordena o Centro de Informa-
ções Toxicológicas de Belém,
referência no assunto no Pa-
rá, a fabricação, comerciali-
zação e o uso do produto em
todo o território nacional foi
proibida no Brasil, por meio
da Lei 11.936/2009, porque
o produto dá persistência
ambiental e se bioacumula
no organismo humano. “O
inseticida permanece mui-
to tempo no organismo e
pode resultar em efeitos na
saúde, dependendo da via
de penetração. Ocorre, prin-
cipalmente, por via oral e
respiratória. A dérmica tem
absorção menor. Pela via oral
e respiratória há chances de
apresentar manifestação
aguda e chegar à crônica”,
explicou o médico.
Os sintomas na fase agu-
da, que ocorre nas primei-