1. GERAIS
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BELÉM, DOMINGO, 5 DE JULHO DE 2015
penicilinabenzatina,conhe-
cida no Brasil pelo nome co-
mercial benzetacil, indicada
para tratamento da sífilis e outras
infecções, está em falta em hos-
pitais públicos de todo o Brasil. A
escassez afeta também farmácias
e a rede particular do Pará. A in-
disponibilidade do antibiótico,
conhecido por ter aplicação in-
jetável dolorida e por ser de uso
essencialnaredebásicadesaúde,
agrava situações de risco no aten-
dimentoapacientes.
O antibiótico é o mais eficaz
no combate à bactéria Trepone-
mapallidum,causadoradasífilis.
Em quatro farmácias visitadas
pela reportagem em Belém, o
medicamento está em falta: não
há estoque há pelo menos seis
meses. A rede pública de saúde,
maior compradora do benzetacil,
tambémenfrentaproblemaspara
manter postos e hospitais abaste-
cidos.
“Minha neta, que tem 11
anos, estava com uma inflama-
ção na garganta. A médica re-
ceitou a benzetacil porque ela já
teve hepatite e o antibiótico lí-
quido poderia prejudicá-la, mas
eu não consegui em nenhuma
farmácia de Belém. Consegui
somente uma ampola com uma
amiga, que fez tratamento de al-
guma coisa e sobrou uma e me
deu. Minha neta tomou e não
demorou muitos dias para ficar
bem, esse antibiótico é bom. É
lamentável a gente não encon-
trar mais nas farmácias”, disse
Rose Oliveira, que é gerente de
uma das farmácias visitadas
pela reportagem.
A situação preocupa em casos
de sífilis em gestantes. A doença
pode ser transmitida para o bebê
durante a gestação ou o parto, re-
sultando na chamada sífilis con-
gênita. Dados da Secretaria Es-
tadual de Saúde (Sespa) indicam
um avanço no número de casos
da doença. Em 2012, a sífilis foi
diagnosticada em 923 gestantes
no Pará; em 2013, eram 1.106; em
2014 foram 1.279. No último ano,
cerca de 2% das mulheres que
deram à luz na Fundação Santa
Casa de Misericórdia, no Umari-
zal,hospitaldereferêncianoaten-
dimento a parturientes, tiveram
exposiçãoàsífilis.
FALTAANTIBIÓTICOPARAASÍFILISCRISENAPRODUÇÃODOBENZETACILESVAZIAESTOQUESDAREDEPÚBLICA.SESPANÃOCONSEGUECOMPRAROMEDICAMENTO.
A
CLEIDE MAGALHÃES
Da redação
Segundo Deborah Crespo,
coordenadora do programa de
prevenção de DST/Aids da Sespa,
informações do próprio Ministério
da Saúde (MS) indicam que o pro-
blema não se limita ao Brasil, mas
ocorre em todo o mundo, porque
faltaamatéria-primaparaproduzir
o antibiótico. “Desde 2014, o Brasil
inteiro enfrenta esse problema de-
vidoàfaltadematéria-primaparaa
produçãodapenicilina,eoslabora-
tórios estão aquém das necessida-
desqueoPaísapresenta,entãonão
temoscomocomprarporquenãoé
maisproduzido”.
As alternativas que a Sespa
apresenta para o tratamento da
sífilis, especificamente, é a toxici-
clina, administrada em compri-
midos, e a eritromicina, também
emcomprimidos.“Poroutrolado,
a penicilina, descoberta na déca-
da de 1950, é mais eficaz, pois, no
adulto, por exemplo, é injetável e
basta aplicação de uma ampola
em cada nádega para tratar a do-
ença”,explicaDeborahCrespo.
A representante da Sespa
destaca que muitos estados bra-
sileiros pediram ao Ministério
da Saúde que os frascos que ain-
da restam no País (sem precisar
quantos) sejam destinados, com
prioridade, às pessoas portadoras
dasífilis,umavezqueapenicilina
benzatina é utilizada também no
tratamentodeoutrasinfecções.
“Comomedida,noPará,orien-
tamososgestoresmunicipaisquea
penicilina seja prioridade no trata-
mentodasífilis”,afirmaCrespo.
Para evitar, Deborah Crespo,
da Sespa, orienta grávidas a fazer
o teste da aids e da sífilis no pri-
meiro e no terceiro trimestre da
gestação, durante o pré-natal. “A
mulher precisa exigir esses tes-
tes nesses períodos da gestação.
Ofereceremos os testes em todos
os 144 municípios paraenses para
chegar ao diagnóstico. Se confir-
mado,éprecisotratarocasal”,ex-
plicaarepresentantedaSespa.
DOSES RESTANTES SÃO DIRECIONADAS A PACIENTES COM A DOENÇA
Helena Brígido, da Sociedade
Paraense de Infectologia, diz que
a falta da penicilina benzatina
também preocupa a entidade. “É
mundial, e o Brasil não compra
maisamedicação.Noalmoxarifa-
dodaSantaCasanãotemestoque
da penicilina benzatina. Existem
alternativas, mas, de acordo com
o Ministério da Saúde, a sífilis é
tratada com penicilina. Se não for
tratada com esta, a considera não
tratada ou tratada de forma ina-
dequada”.
Na opinião dela, é necessário
fazer um seguimento dessas pes-
soas tratadas com medicações al-
ternativas,parasaberse,defato,a
Treponema pallidum foi elimi-
nada. “Provavelmente essas me-
dicações são boas, porque ma-
tam as bactérias gram-positivas.
Mas é necessário acompanhar
os sintomas desses pacientes e
realizar antes e depois do trata-
mento o VRDL, exame de san-
gue para diagnosticar a sífilis”,
alertaBrígido.
A assessoria de comunicação
da Secretaria Municipal de Saúde
(Sesma) foi questionada se a falta
da medicação também atinge as
Unidades Básicas de Saúde, em
Belém, e qual a alternativa para
a escassez, mas até o fechamento
destaediçãonãoofereceuresposta.
SOCIEDADE DE INFECTOLOGIA FAZ ALERTA
Penicilina benzatina, essencial no tratamento da sífilis, sumiu das farmácias e dos postos de saúde
OSNEIRESTIO/FOTOSPÚBLICAS
CUIDADO COM A SÍFILIS
CAUSA
A sífilis é causada por uma
bactériachamadaTreponema
pallidum, que é geralmente
transmitida via contato sexual
e entra no corpo por meio de
pequenos cortes presentes
na pele ou por membranas
mucosas.
FATORES DE RISCO PARA
CONTRAIR A DOENÇA
Manter relações sexuais
desprotegidas ou estar infec-
tado com o vírus HIV, causa-
dor da aids.
SINTOMAS
A sífilis desenvolve-se
em diferentes estágios, e os
sintomas variam conforme a
doença evolui. As fases po-
dem se sobrepor umas às
outras. Em um primeiro está-
gio, podem aparecer feridas
indolores (cancros) no local
da infecção. Outros sintomas
são dores musculares, febre,
dor de garganta e dificuldade
para deglutir.
PREVENÇÃO
O único modo 100% se-
guro para evitar a contami-
nação com sífilis é não ter
nenhum tipo de contato se-
xual. Outra medida é sempre
fazer uso do preservativo. A
camisinha é medida preven-
tiva não só para sífilis, mas
para todas as outras doen-
ças sexualmente transmis-
síveis (DSTs).
Fonte: www.minhavida.com.br