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HOMENS QUE SÃO HOMENS NÃO CHORAM: A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVA DA
IDENTIDADE MASCULINA
Estael Aparecida Pereira1
RESUMO: Inseridos no referencial teórico da Análise do Discurso, examinamos o processo de constituição
da identidade masculina, tendo como corpus a reportagem Homem: o Super-herói fragilizado, publicada na
revista Veja em 22/08/2001. Analisamos como a identidade masculina é constituída através da representação
do homem, que é interpelado pelo discurso da masculinidade, frente aos novos discursos que, diante das
transformações da sociedade, re-localizam esse homem e o posicionam em relação aos diferentes papéis que
deve assumir dentro desta nova formação social. Observamos que, se um discurso interpela o sujeito para
localizá-lo no espaço público de poder social, outro o constitui no espaço privado da casa e da família.
Palavras-chave: Discurso. Representação. Masculinidade.
ABSTRACT: Inserted in the referencial of the Speech Analysis theory, it is analized in this work the
process of constitution of the male identity, having as reference the article Man: the frail Super-hero,
published in the issue of August 22, 2001 in VEJA magazine. It is analized how the masculine identity is
constituted through the male's representation, questioning the male speech and opposing it to new speeches
that, due to society’s transformations, re-locate the male and their position in relation to the different roles that
they should take inside of this new social formation.
Key-words: Speech. Representation. Male.
1. Introdução
O objetivo deste trabalho é analisar os enunciados que compõem o artigo - Homem: O super-herói
fragilizado, publicado na revista Veja em 22 de agosto de 2001, a partir dos aspectos da organização
discursiva que neles se apresentam. O referido artigo traça um panorama da situação vivenciada atualmente
pelo homem que se encontra em conflito pela dificuldade de adaptação ao papel previsto por uma outra
versão da identidade masculina. Identificaremos as formações discursivas presentes nos enunciados a fim de
reconhecer o vínculo destas com uma determinada formação ideológica. Segundo Orlandi (1987: 121),“nas
marcas de interlocução, em que os sujeitos falam de seus lugares, há vestígios da relação entre a formação
discursiva e a formação ideológica.”
Para o desenvolvimento deste trabalho, analisamos as marcas lingüístico-discursivas, tomadas
como vestígios das posições de onde os sujeitos falam e, portanto, como marca da relação entre a
formação discursiva e a formação ideológica, para avaliar o modo como essas marcas possibilitam a
construção da identidade dos sujeitos no discurso.
Na primeira parte, faremos uma breve descrição do referencial teórico que abordará as relações
entre formação discursiva, sujeito e identidade, bem como a questão da formação das identidades.
Buscaremos intercalar os depoimentos que se constituem num discurso já construído e suas relações com o
discurso da sociedade moderna. Numa segunda parte, faremos a descrição do corpus e focalizaremos os
depoimentos analisados observando, nestes textos, as marcas lingüístico-discursivas e de representações
apresentadas. E, a seguir, apresentaremos as considerações finais.
2. Referencial teórico
1
Professora de Língua Portuguesa do Departamento de Letras da UFSJ. Mestre em Letras pelo Programa de Pós-graduação em Letras:
Mestrado em Teoria Literária e Crítica da Cultura - Linha de Pesquisa: Discurso e Representação Social da Universidade Federal de
São João Del.
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 29
2.1.Sujeito e Discurso
Michel Foucault, em sua obra Arqueologia do Saber (1987), faz uma abordagem das questões que
envolvem o ser humano, a consciência, a origem e o sujeito. Desenvolve seu trabalho buscando observar as
manifestações em que as referidas questões se cruzam, se emaranham e se especificam.
Cabe esclarecer que para Foucault sujeito é uma posição que pode ser ocupada, sob certas
condições, por indivíduos diferentes. Não se trata assim da consciência que fala, nem do autor de
determinada formulação.
Diferentes indivíduos podem ocupar o lugar de sujeito no discurso, como um sujeito descentrado, que
se cinde em muitos porque é parte de um corpo histórico-social. Ainda, segundo Foucault (1987:82), o
discurso é considerado o modo de existência sócio-histórico da linguagem: “um conjunto de enunciados que
derivam de uma mesma formação discursiva” e, para que se encontre a regularidade de seu funcionamento,
todo discurso pode ser remetido à formação discursiva a que pertence. Então pode-se dizer que tanto o
sujeito como o sentido de seu enunciado são constituídos no entremeio dessas formações discursivas.
De acordo com o pensamento de Foucault (op. cit.), as coisas muitas vezes são ditas umas pelas
outras e um sentido manifesto, aceito sem dificuldades por todos, pode encobrir um outro, que uma decifração
mais sutil ou apenas a erosão do tempo acabará por descobrir; ou ainda, que sob uma formulação mais visível
pode reinar uma outra que a comande, desordene, perturbe, lhe imponha uma articulação que só a ela
pertence. Assim, as coisas ditas dizem bem mais do que elas mesmas. Segundo Foucault,
A prática discursiva é um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no
tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social,
econômica, geográfica ou lingüística, as condições de exercício da função enunciativa.
(1987:136)
Para a análise em questão, o sujeito e o sentido de seu discurso devem ser pensados em seus
processos histórico-sociais de formação. Consideraremos que o homem torna-se sujeito de um novo discurso
à medida que se inscreve numa determinada formação discursiva que surge em meio ao conflito entre duas
ou mais formações discursivas que se opõem, ressaltando, porém, que seu enunciado é atravessado por
outros discursos que o torna um sujeito descentrado, originário de um corpo histórico social marcado por uma
formação ideológica.
De acordo com Orlandi (1987:125), “Em um discurso não só se representam os interlocutores, mas
também a relação que eles mantém com a sua formação ideológica, e isto está marcado no e pelo
funcionamento discursivo”. Nesse sentido, analisaremos marcas lingüístico-discursivas que nos remetem à
formação ideológica dos sujeitos enunciadores.
Em relação ao momento de enunciação e ao sujeito enunciador, nos apoiaremos novamente em
Orlandi:
Compete à análise da enunciação tudo aquilo que indica no texto a atitude do sujeito em
relação ao enunciado: o texto apresenta-se ”marcado” ou “não-marcado” subjetivamente,
isto é, referido a um sujeito que manifesta expressar suas opiniões, pontos de vista, fazer
referência a uma experiência ou a acontecimentos que dizem respeito a si próprio, ou então,
como fatos e conhecimentos “objetivos”, alheios a quem os enuncia.. (op. cit.: 105)
2.2. Discurso e Identidade
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 30
Em relação à formação da identidade e sua similaridade com a formação dos discursos, Tomaz
Tadeu da Silva afirma que esse processo se desenvolve entre movimentos diferenciados que buscam a
fixação e a estabilização, conforme a citação a seguir :
O processo de produção da identidade oscila entre dois movimentos: de um lado, estão
aqueles processos que tendem a fixar e a estabilizar a identidade; de outro, os processos que
tendem a subvertê-la e desestabilizá-la. É um processo semelhante ao que ocorre com os
mecanismos discursivos e lingüísticos nos quais se sustenta a produção da identidade. Tal
como a linguagem, a tendência da identidade é para a fixação. Entretanto, tal como ocorre
com a linguagem, a identidade está sempre escapando. A fixação é uma tendência e, ao
mesmo tempo, uma impossibilidade. (Silva, 2000: 84)
Essa relação entre identidade e discurso torna-se relevante no instante em que consideramos a
produção das identidades como resultantes de práticas discursivas. Nesse sentido, o sujeito enunciador é
perpassado por discursos de construção e desconstrução da identidade masculina. Essa identidade encontra-
se no campo do conflito e da desestabilização, marcada pela oscilação entre processos que tendem a fixá-la e
outros que tendem a subvertê-la.
2.3. O Interdiscurso delineando a formação das identidades
A noção de sujeito como um ser que se desdobra em muitos e assume vários papéis ou lugares no
discurso nos decorre do conceito de interdiscursividade. Abordaremos a questão da interdiscursividade
segundo a definição de Orlandi (1996),
A noção que trabalha a exterioridade discursiva (ou exterioridade constitutiva) é a de
interdiscurso. O que define o interdiscurso é sua objetividade material contraditória,
objetividade material essa que, como diz M. Pêcheux (1988), reside no fato de que
algo fala sempre antes, em outro lugar e independentemente, isto é, sob a dominação
do complexo das formações ideológicas. É isto que fornece a cada sujeito “a sua
realidade” enquanto sistema de evidências e de significações percebidas-aceitas-
experimentadas. Aí se explicita o processo de constituição ( p. 39).
É no interdiscurso que poderemos marcar o lugar das formações discursivas, em que são
incorporados os elementos pré-construídos, produzidos fora dela. Segundo Silvia Helena Barbi Cardoso
(1999:64), “a formação discursiva tira, pois, seu princípio de unidade de um conflito sempre regrado, num
espaço de trocas, e não de um caráter de essência”.
Apoiamos-nos também em Claudemar Alves Fernandes (2004:47), afirmando que o sujeito discursivo
poderá ser definido pela junção do exterior com o interior e será sempre ele mais o outro, apresentando-se
fragmentado, uma vez que se encontra em interação em diferentes segmentos sociais. Assim é o homem, um
sujeito masculino constituído dentro de uma sociedade, histórica e ideologicamente instituída como machista, e
limitado a um espaço familiar que dele requer diferentes papéis. Diremos, assim, que o discurso ao mesmo
tempo em que constitui o sujeito, também se constitui pelo processo de interação social e a heterogeneidade
caracteriza o sujeito como um “eu” social plural.
2.4. Formação das identidades, fragmentação dos sujeitos e estrutura social
A necessidade de uma identificação é manifestada no indivíduo desde muito cedo. Saber quem é, qual
é a sua origem, tentar se posicionar, conhecer o seu lugar no mundo social são questões que interpelam com
freqüência o indivíduo. Para pensarmos as questões de formação de identidade e do processo de identificação
dos sujeitos, é necessário que pensemos, previamente, nas mudanças que estão acontecendo na estrutura
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 31
social e como o indivíduo absorve, reage ou é influenciado por tais mudanças, sobretudo a partir de suas
práticas sociais discursivas.
De acordo com Stuart Hall (2003:07) as velhas identidades que, por tanto tempo, estabilizaram o
mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até
então visto como um sujeito unificado. As mudanças na estrutura social transformam conceitos de classe,
gênero, sexualidade, raça e nacionalidade, que na formação de uma sociedade tradicional forneciam uma
localização mais fixa do sujeito social. Hall (2003:09) diz que “estas transformações estão mudando nossas
identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados.”
Assim, o indivíduo passa a assumir diferentes identidades em diferentes posições, em diferentes
situações, tornando-se um indivíduo fragmentado. O indivíduo vai encontrar uma multiplicidade de identidades
possíveis e se reconhecerá em algumas, pelo menos, temporariamente. A identidade plena, fixa, segura torna-
se uma ilusão.
3. Descrição do Corpus
Os relatos analisados fazem parte de um artigo, publicado na revista Veja (2001), que trata
especificamente da questão do homem (sujeito masculino) frente às transformações da sociedade e os
diferentes papéis que deve assumir dentro desta nova formação social. Tais relatos aparecem intercalados
dentro do texto do artigo e seus sujeitos enunciadores são sempre identificados através de fotos e pela
descrição de seus dados pessoais como a idade, profissão, estado civil e número de filhos. As idades variam
entre 26 e 61 anos, sendo a maioria casada e com filhos, já as profissões variam.
A questão da afirmação da masculinidade é marcada pelas idéias de que os homens são seguros,
fortes, corajosos, frios, auto-suficientes, agressivos e que devem sustentar a família porém, no artigo, esta
questão é colocada como não sendo novidade, considerando que este estereótipo do macho talvez exista
desde que a humanidade começou a andar ereta e nossos ancestrais do sexo masculino tiveram que esquecer
o medo para disputar comida com as feras. A questão do surgimento do movimento denominado feminismo
também acirrou a questão da disputa para uma competição pela manutenção de lugares já definidos
socialmente. O impacto que esse movimento causou afetou a maneira como a realidade é vista, como,
também, a percepção do homem sobre o seu papel nas estruturas sociais. Mais recentemente, com o advento
da globalização, cresceu a idéia de que o homem também teria que ser ferozmente competitivo no campo do
trabalho. Talvez tenhamos aqui representada a “crise da masculinidade” ratificada pelo discurso da
contemporaneidade.
4. Análise discursiva
Iniciaremos a análise pelo enunciado que aparece no início do artigo e que diz: “Homem não chora”.
Consideramos esse enunciado como uma marca do interdiscurso, da memória discursiva que aciona e traz
para a composição do discurso que se constrói acerca do homem atual, a fala de um discurso já dito, aquele
que atribui ao homem o lugar de forte e, como tal, distante dos sentimentos. Encontramos, então, a afirmação
da masculinidade na negação do chorar. Em contrapartida, a presença do enunciado “Homens também
choram” marca a pressuposição da existência de um discurso novo: aquele em que a possibilidade do choro já
faz parte da nova constituição discursiva do homem atual. A impossibilidade do choro é inerente ao discurso
fundador da superioridade masculina. A “liberação” do choro masculino é parte de um discurso precedente.
Assim, a negação do choro e de tudo que a palavra “choro” retoma faz com que a memória discursiva
funcione e preencha a “nova” e a “velha identidade”.
Observamos, também, uma relação de oposição semântica no título do artigo (Homem: O super-
herói fragilizado) que, de imediato, sugere a desconstrução da idéia de superioridade da identidade
masculina, considerando que fragilidade não se inclui no conjunto de qualidades atribuídas a um super-herói.
Trata-se novamente do interdiscurso identificado na construção das identidades sociais: o conflito entre duas
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 32
formações discursivas. De um lado, a formação discursiva que reserva ao homem o lugar do super-herói,
daquele que luta, que tem responsabilidades, provê e, como herói, assume todas as características desse herói,
inclusive a coragem e a impossibilidade do “choro”; De outro, o estar fragilizado remete aos novos tempos,
redefinindo lugares e permitindo uma nova formação discursiva (FD). Nessa FD, um outro discurso acerca
do homem começa a ser constituído e ao se fazer, também constitui essa nova identidade.
Podemos analisar, pela capa da revista, uma interdiscursividade em que o discurso científico se
apresenta na afirmação pautada pela cientificidade e que dá o efeito de veracidade que se apresenta no
enunciado: “Estudos recentes mostram que a grande angústia masculina é enquadrar-se na imagem
tradicional do macho.” Ao mesmo tempo em que o locutor formula um discurso de desconstrução que se
firma na utilização da expressão “angústia masculina”, o homem já pode “se sentir angustiado”, observamos
um interdiscurso que vem reforçar através de palavras como “tradicional e enquadrar-se” a antiga identidade.
Essas palavras remetem à idéia de que uma ruptura seria quase impossível, pois o tradicional se mantém e
deve ser reforçado dentro de uma sociedade. Assim “ser macho” é tradição e uma tradição deve ser
preservada. São discursos que se opõem e, ao mesmo tempo, reforçam a identidade que ora tenta ser
mostrada como fragmentada.
Ainda observando a capa da revista, temos um exemplo que revela a presença de dois discursos
conflituosos: a foto de um homem nu ou seminu com um bebê no colo. Na imagem desta foto, a fragilidade da
criança é contrastada com o poder e a segurança do homem. Vimos que, ao mesmo tempo em que se
constrói uma representação de um movimento de mudança em relação à postura machista (o pai cuidando do
filho), também este homem representa a figura masculina em todo o seu estereótipo. Ao evidenciar a
imagem de um homem dócil, carinhoso e, até frágil, que oferece segurança a esse bebê, podemos dizer que
se encontra aí a representação do novo papel do homem como o pai atencioso e carinhoso contrastando com
uma imagem de homem que se dá pela sua "virilidade", principalmente ao mostrar o corpo masculino nu com
os músculos trabalhados, acentuados.
Optamos por trabalhar mais diretamente com o discurso dos relatos por entendermos que, como já foi
dito, a eles é atribuída a confirmação da informação apresentada no artigo que se pretende como verdadeira.
Neles, observamos que o homem atual é interpelado a todo instante por um discurso maior constituído numa
nova formação discursiva a respeito do que é ser homem e como se identificar no novo quadro de referência.
As construções discursivas visam a representação desta nova imagem e nova identidade. Mas discursos se
cruzam, diferentes formações discursivas são reveladas e vozes destoantes são percebidas nas falas
apresentadas.
TEXTO N° 01
1. “Comecei a trabalhar aos 17 anos na empresa da família. Meu pai quis que eu fizesse estágio
em todos os setores da companhia. Todos mesmo.”
2. “A postura natural do filho homem é ver o pai como um deus.”
3. “Não o condeno, mas não seria tão rígido com meu filho”.
4. “O homem tem de provar o tempo todo que está indo tão bem quanto gostaria.”
5. “Hoje, tento relaxar mais nos fins de semana.”
6. “Também sou mais próximo de meu filho temporão, que está com 11 anos, do que fui de
minhas duas filhas mais velhas”.
7. “É praticamente impossível comandar uma empresa e, ao mesmo tempo, dar uma
superatenção à família.”
8. “Às vezes, quero participar como pai, mas não sei como.”
TEXTO N° 02
9. “Já no campo afetivo as regras são outras. Elas (as mulheres) ainda exigem que o homem
seja o provedor, que seja forte e bem-sucedido.”
10. “Essas cobranças são uma angústia para o homem. É como se estivéssemos muito aquém das
expectativas.”
11. “Nem a mulher nem a sociedade aceitam uma atitude dessas.”
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 33
12. “Elas querem super-homens. Carinhosos, viris, bem-sucedidos, sensíveis e trabalhadores
incansáveis. Se não somos essa perfeição, somos fracassados”.
TEXTO N° 03
13. “Durante dois anos lutei para salvar minha empresa da falência e não consegui.”
14. “O que me apavorava era deixar minha família desassistida. Sempre fui o provedor.”
15. “Hoje percebo o quanto carreguei sozinho essa crise. Quantas noites passei em claro sem dividir
meus medos com minha família para não assustá-la.”
16. “O mais fantástico é que esses baques me ajudaram a rever minha vida.”
17. “Em todo esse processo, o que mais me tocou foi o apoio e o carinho que recebi de minha
família e de meus amigos...”
18. “Descobri que não sou infalível.”
19. “Eu estava preocupado só com o trabalho, com o sucesso. Agora estou muito mais
preocupado com minhas relações afetivas. Afinal, isso é que importa.”
TEXTO 04
20. “O homem, independente da idade, ainda se sente na obrigação de ser o provedor, de ser
bem-sucedido.”
21. “A gente cresce sempre pensando em ir além.”
22. “Senti medo de trocar o certo pelo incerto quando larguei meu emprego numa agência de
publicidade para fazer mestrado com dedicação integral em marketing.”
23. “Senti uma falta enorme da adrenalina do trabalho.”
24. “Acho que estou abrindo novas portas para me valorizar.”
25. “Mas qualquer um precisa estar feliz para produzir.”
26. “Ser bem-sucedido é crucial para minha felicidade futura.”
TEXTO N° 05
27. “Fiquei dezesseis anos trabalhando na área de navegação.”
28. “Do trabalho, ficava monitorando minha família.”
29. “Eu realmente me preparei para ter uma carreira de sucesso.”
30. “Há sete meses resolvi largar tudo e me dedicar com a Cristiana ao negócio.”
31. “O que me fez repensar as escolhas foi o casamento.”
32. “Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho...”
33. “Deu e ainda dá angústia por essa mudança, foi difícil no início.”
34. “... tenho a sensação de por meu sonho em prática ao lado de minha mulher.”
35. “Trabalho muito, mas com menos pressão.”
A imagem de um homem fragmentado, dividido entre qual posição assumir é construída
discursivamente e sua identidade é desmontada e reconstruída através dos discursos masculinos estruturados
através de marcas enunciativas como o uso de marcações verbais, substantivos, adjetivos por meio de uma
organização textual bem estruturada e uma seqüência temporal bem marcada. O tempo passado firmado nas
construções enunciativas revela a necessidade de mostrar a mudança de atitudes, de ações, de crenças e
convicções. È uma formação discursiva que se filia à transgressão pelo jogo de oposição entre passado e
presente.
È pertinente que neste ponto retomemos a noção de sujeito em Pêcheux:
A noção de sujeito em Pêcheux é determinada pela posição, pelo lugar de onde se fala. E ele
fala do interior de uma formação discursiva, regulada, regrada por uma formação ideológica.
“Os sujeitos acreditam que utilizam seus discursos quando na verdade são seus servos
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 34
assujeitados, seus suportes.”(1983). Assim, o que marca o sujeito em Pêcheux, nesta fase, é
uma forte dimensão social, histórica, que na linguagem é balizada pela formação discursiva
que define “o que pode e deve ser dito. (Brandão, 1998: 40).
Os enunciados destacados acima se relacionam com a formação discursiva de um homem que busca
identificar-se com a imagem do homem atual. As marcações temporais como “hoje”, “agora” remetem para
uma localização temporal da situação atual que certifica o lugar e o tempo de produção do seu discurso.
Expressões como “O que me fez repensar as escolhas foi o casamento.”, “Agora, posso dar muito
mais atenção a minha mulher e ao meu filho...” “... tenho a sensação de por meu sonho em prática ao
lado de minha mulher” atuam como um dispositivo da memória discursiva em que o discurso construído
numa sociedade marcada pelo patriarcalismo é marcante na insistência do casamento enquanto tema central
na vida das pessoas. O casamento é tido como fundamental na vida a dois, como o destino que une o homem
à mulher na sua felicidade comum. Porém, dentro do casamento, a divisão dos papéis é claramente marcada
através da manutenção dos papéis do marido e da esposa. A delimitação dos espaços do homem e da mulher
na relação matrimonial entra diretamente em contradição com o discurso "moderno" da sociedade em nova
formação. Essa nova formação social, por sua vez remete a um discurso de desconstrução revelando que o
casamento está em vias de extinção, construído dentro de um discurso de “revolução sexual”.
Percebemos que a regularidade dos enunciados permite a identificação que no interdiscurso procuram
definir uma identidade de homem fixa, definida. E que às vezes denunciam uma identidade diferente daquela
que o enunciador deseja construir. Os enunciados destacados abaixo definem dois lugares, duas formações
discursivas conflituosas, divergentes e diferentes que se constituem através da interpelação ideológica. Os
fragmentos textuais apresentam-se como discursos conflituosos em que as representações de homem se
mostram desestabilizadas, devido às formações discursivas que nos remetem a uma memória discursiva de
uma representação já definida discursivamente e que tende a permanecer nos discurso analisados. Por
exemplo:
“Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho...”
“Às vezes, quero participar como pai, mas não sei como.”
“Não o condeno, mas não seria tão rígido com meu filho”.
“Também sou mais próximo de meu filho temporão, que está com 11 anos, do que fui de minhas duas
filhas mais velhas”.
“É praticamente impossível comandar uma empresa e, ao mesmo tempo, dar uma superatenção à
família.”
“O mais fantástico é que esses baques me ajudaram a rever minha vida.”
“Eu estava preocupado só como o trabalho, com o sucesso. Agora estou muito mais preocupado com
minhas relações afetivas. Afinal, isso é que importa.”
“Mas qualquer um precisa estar feliz para produzir.”
“Ser bem-sucedido é crucial para minha felicidade futura.”
“Deu e ainda dá angústia por essa mudança, foi difícil no início.”
“... tenho a sensação de por meu sonho em prática ao lado de minha mulher.”
“A postura natural do filho homem é ver o pai como um deus.”
“O homem tem de provar o tempo todo que está indo tão bem quanto gostaria.”
“O homem, independente da idade, ainda se sente na obrigação de ser o provedor, de ser bem-
sucedido.”
“Elas querem super-homens. Carinhosos, viris, bem-sucedidos, sensíveis e trabalhadores incansáveis”.
“Sempre fui o provedor.”
“Eu realmente me preparei para ter uma carreira de sucesso.”
O reconhecimento da masculinidade que se apresenta pela expressão “ser homem” não pode ser
compreendido fora de um processo de produção discursiva. Os enunciados abaixo nos mostram a formação
de um discurso que se constrói por oposição. É um discurso construído por uma representação entre o papel
da mulher e do homem, em que a memória discursiva retoma um discurso de submissão da mulher em
relação ao homem e a representação da figura masculina é reconfigurada pelas relações de oposição que
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 35
ainda são marcadas. Enfatizaremos a questão do movimento feminista que questionou em seus discursos o
papel do homem e as hierarquias entre os diferentes grupos sociais, o patriarcado e a superioridade
masculina. Esses novos discursos, fundados em determinadas formações e práticas discursivas, constroem
outro discurso do que seja a masculinidade - com novos sujeitos redefinidos pelo discurso da necessidade de
se confrontar com os discursos e sujeitos que estavam sendo re-constituídos. Conforme podemos observar
nos enunciados:
“Acho que o crescimento das mulheres no campo profissional deixou os homens intimidados.”
“Hoje, elas competem com a gente no mesmo nível.”
“Na relação familiar, a mulher pode se permitir o luxo de dar um tempo no trabalho... Ai do
homem que decida fazer isso.”
Observa-se, neste discurso, a interdiscursividade trazida pelo discurso regime patriarcado, pelo
discurso religioso que delimita e define o que pertence à identidade masculina e feminina. Destaca-se a
palavra trabalho que se apresenta como o eixo principal de ligação entre os enunciados e que se torna o
referencial para fixar a diferença entre ser homem e ser mulher. A relação de oposição se define também na
marcação de lugares específicos - dentro de um discurso social pertencente ao discurso machista - que
mostram uma instabilidade permitida na identidade de ser mulher de poder interferir no espaço masculino e,
ao mesmo tempo, garantir seu lugar no espaço marcado pela constituição de sua antiga identidade.
5. Considerações Finais
Podemos dizer que as falas dos relatos encontram raízes numa prática social discursiva formada a
partir de uma perspectiva marcada pela fixidez da identidade masculina. E que, mesmo dentro de um discurso
de desconstrução, as formações discursivas analisadas apresentam “resquícios” de uma antiga identificação
marcada discursivamente pelos enunciados produzidos em formações discursivas que retomam as antigas
representações de homem, através da memória discursiva que sempre é acionada. O tempo bem marcado
pela organização lingüística-discurviva mostra que se trata de um discurso atualizado em relação às questões
colocadas e serve como ponto de justificativa para a nossa inferência acima.
O artigo apresenta um discurso de desconstrução da identidade masculina tida como definida e
sustentada discursivamente pela formação de uma sociedade que se encontra também numa constante
desestabilização. As formações discursivas que serviam de referência para a estabilidade apresentam-se hoje
em processo de instabilidade e mobilidade, principalmente em relação aos valores já previamente fixados mas
que também não mais se sustentam.
Cada momento histórico possui o seu dizível, que é fruto de processos sociais e históricos que buscam
instituir e redefinir os espaços de significação que nos levam a perceber como diferentes conceitos de
masculinidade são construídos social e historicamente e como os sentidos atribuídos à masculinidade se
relacionam com as práticas sociais discursivas.
6. Referências bibliográficas
BRANDÃO, Helena H. Naganime. Subjetividade, argumentação e polifonia – a propaganda da
Petrobrás. São Paulo: Unesp, 1998.
CARDOSO, Silvia Helena Barbi. Discurso e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
DIEGUES, Consuelo. Homens também choram. Veja. São Paulo. 33: 116-123, agosto, 2001.
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 36
FERNANDES, Cleudemar Alves & SANTOS, João Bosco Cabral (org.). Análise do Discurso: unidade e
dispersão. Uberlândia, 2004.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 3 ed. Luiz Felipe Baeta Neves (Tradução), Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1987.
______. A ordem do discurso. Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de
1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 9. ed. São Paulo: Loyola, 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade / Stuart Hall; Tradução Tomaz Tadeu da Silva,
Guaracira Lopes Louro – 7. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
MACHADO, Ida Lúcia; CRUZ, Amadeu R. e DIAS, Dylia Lysardo. Teorias e práticas discursivas –
Estudos em Análise do Discurso. Belo Horizonte: Carol Borges, 1998.
ORLANDI, Eni P. Interpretação – autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis:Vozes, 1996.
______. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1987.
______. Discurso e Texto – formulação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes, 2001.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais / Tomaz Tadeu da
Silva (org.), Stuart Hall, Katrhryn Woodward. – Petrópolis: Vozes, 2000.
6. Anexos
Relatos que compõem o artigo da reportagem intitulada : Homem: o Super-herói fragilizado, publicada na
revista Veja em 22/08/2001.
Relato n° 01
“Comecei a trabalhar aos 17 anos, na empresa da família. Meu pai quis que eu fizesse estágio em todos os
setores da companhia. Todos mesmo. A postura natural do filho homem é ver o pai como um deus. Não o
condeno, mas não seria tão rígido com meu filho. Sempre fui muito ansioso e, há quinze anos, faço análise
para aprender a lidar com isso. Se não fizesse, com certeza já teria úlcera, gastrite ou algum problema
cardíaco. O homem tem de provar o tempo todo que está indo tão bem quanto gostaria. E é difícil separar os
problemas do trabalho do resto. Muitas vezes, a gente acaba explodindo com a pessoa errada. Hoje, tento
relaxar mais nos fins de semana. Quando posso, faço pescaria oceânica e esqueço do mundo. Também sou
mais próximo de meu filho temporão, que está com 11 anos, do que fui de minhas duas filhas mais velhas. É
praticamente impossível comandar uma empresa e, ao mesmo tempo, dar uma superatenção à família. Dá
uma culpa danada. Às vezes, quero participar mais como pai, mas não sei como. Minha mulher é que sempre
fez o papel de supermãe. Mas acho que nunca é tarde para essa aproximação.”
Relato n°2
“Acho que o crescimento das mulheres no campo profissional deixou os homens intimidados. Hoje elas
competem com a gente no mesmo nível. Já no campo afetivo as regras são outras. Elas ainda exigem que o
homem seja o provedor, seja forte e bem-sucedido. Geralmente olhas nossas fragilidades como defeitos.
Essas cobranças são uma angústia para o homem. É como se estivéssemos sempre aquém das expectativas.
Não alcançamos nunca o que elas esperam de nós. Na relação familiar, a mulher se permitir ao luxo de dar
um tempo no trabalho. Ai do homem que decida fazer isso. Nem a mulher nem a sociedade aceitas uma
LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 37
atitude dessas. As cobranças são tantas que daqui a pouco nós vamos ter até medo de nos relacionar. Elas
querem super-homens. Carinhosos, viris, bem-sucedidos, sensíveis e trabalhadores incansáveis. Se não somos
essa perfeição, somos fracassados. Além disso, as mulheres abusam do direito de ser agressivas usando
como desculpa a tensão pré-menstrual. E o pior é que nem direito a TPM os homens t~em.”
Relato n° 03
“No começo do ano passado, ao fazer um check-up, descobri que tinha um câncer no intestino. O estranho é
que, quando me vi diante da doença, não tive medo de morrer. Essa possibilidade não me assustava. Olhando
para trás, estou convencido de que esse câncer foi conseqüência dos problemas emocionais que tive na
mesma época. Durante dois anos lutei para salvar minha empresa da falência e não consegui. O que me
apavorava era deixar minha família desassistida. Sempre fui o provedor. Hoje percebo quanto carreguei
sozinho essa crise. Quantas noites passei em claro sem dividir meus medos com minha família para não
assusta-la. O mais fantástico é que esses baques me ajudaram a rever minha vida. Em todo esse processo, o
que mais me tocou foi o apoio e o carinho que recebi de minha família e de meus amigos, de alguns dos quais
eu estava tão afastado. Fiquei menos arrogante, menos exigente. Descobri que não sou infalível. Antes,
minha vida parecia um filme. Era como se as coisas passassem na minha frente mas eu não as visse
realmente. Eu estava preocupado só com trabalho, com o sucesso. Agora estou mais preocupado com minhas
relações afetivas. Afinal, isso é que importa.”
Relato n° 04
“O homem, independente da idade, ainda se sente na obrigação de ser o provedor, de ser bem-sucedido. A
maior prova disso é que a lei ainda é assim: o homem, quando se separa, é quem dá a pensão à mulher. A
gente cresce sempre pensando em ir alem. Meus avós tinham uma condição de vida, meus pais tinham outra
ainda melhor, e eu quero engrandecer isso, crescer. Senti medo de trocar o certo pelo incerto quando larguei
meu emprego numa agência de publicidade para fazer mestrado com dedicação integral em marketing. Só
vou colher os frutos a longo prazo e sou muito ansioso. Senti uma falta enorme da adrenalina do trabalho. Os
estudos são puxadíssimos, mas precisei passar por um processo de adaptação, ter uma nova cultura. Acho
que estou abrindo novas portas para me valorizar. Meus paris sempre se preocuparam em me pôr nos
melhores colégios, para entrar na melhor faculdade. É impossível não sentir essa pressão. Mas qualquer um
precisa estar feliz para produzir. Quando você fala do problema, a complicação costuma ficar menor. Ser
bem-sucedido é crucial para minha felicidade futura.”
Relato n° 05
“Fiquei dezesseis anos trabalhando na área de navegação. Tinha diploma de engenharia, duas pós-graduações
e cheguei a ser diretor-geral de um grupo. Do trabalho, ficava monitorando minha família. Eu realmente me
preparei para ter uma carreira de sucesso. Há dois anos e meio, minha mulher abriu o restaurante Bazzar
com um sócio. Sempre gostei de gastronomia e, com o tempo, meus conhecimento foi se sofisticando.
Gostava de dar palpites no restaurante, sempre inventava de dar uma passada por lá. Há sete meses resolvi
largar tudo e me dedicar com a Cristiana ao negócio. O que me fez repensar as escolhas foi o casamento.
Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho, Marcos, de 4 anos. Deu e ainda dá
angústia por essa mudança, foi difícil no início. Ganho menos, mas estou investindo num novo estilo de vida,
tenho a sensação de pôr meu sonho em prática ao lado de minha mulher. Trabalho muito, mas com menos
pressão. Hoje, posso ir à praia com meu filho fazer esportes e ler outras coisas além dos jornais de finanças.”

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Identidade Masculina e Discursos Sociais

  • 1. HOMENS QUE SÃO HOMENS NÃO CHORAM: A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVA DA IDENTIDADE MASCULINA Estael Aparecida Pereira1 RESUMO: Inseridos no referencial teórico da Análise do Discurso, examinamos o processo de constituição da identidade masculina, tendo como corpus a reportagem Homem: o Super-herói fragilizado, publicada na revista Veja em 22/08/2001. Analisamos como a identidade masculina é constituída através da representação do homem, que é interpelado pelo discurso da masculinidade, frente aos novos discursos que, diante das transformações da sociedade, re-localizam esse homem e o posicionam em relação aos diferentes papéis que deve assumir dentro desta nova formação social. Observamos que, se um discurso interpela o sujeito para localizá-lo no espaço público de poder social, outro o constitui no espaço privado da casa e da família. Palavras-chave: Discurso. Representação. Masculinidade. ABSTRACT: Inserted in the referencial of the Speech Analysis theory, it is analized in this work the process of constitution of the male identity, having as reference the article Man: the frail Super-hero, published in the issue of August 22, 2001 in VEJA magazine. It is analized how the masculine identity is constituted through the male's representation, questioning the male speech and opposing it to new speeches that, due to society’s transformations, re-locate the male and their position in relation to the different roles that they should take inside of this new social formation. Key-words: Speech. Representation. Male. 1. Introdução O objetivo deste trabalho é analisar os enunciados que compõem o artigo - Homem: O super-herói fragilizado, publicado na revista Veja em 22 de agosto de 2001, a partir dos aspectos da organização discursiva que neles se apresentam. O referido artigo traça um panorama da situação vivenciada atualmente pelo homem que se encontra em conflito pela dificuldade de adaptação ao papel previsto por uma outra versão da identidade masculina. Identificaremos as formações discursivas presentes nos enunciados a fim de reconhecer o vínculo destas com uma determinada formação ideológica. Segundo Orlandi (1987: 121),“nas marcas de interlocução, em que os sujeitos falam de seus lugares, há vestígios da relação entre a formação discursiva e a formação ideológica.” Para o desenvolvimento deste trabalho, analisamos as marcas lingüístico-discursivas, tomadas como vestígios das posições de onde os sujeitos falam e, portanto, como marca da relação entre a formação discursiva e a formação ideológica, para avaliar o modo como essas marcas possibilitam a construção da identidade dos sujeitos no discurso. Na primeira parte, faremos uma breve descrição do referencial teórico que abordará as relações entre formação discursiva, sujeito e identidade, bem como a questão da formação das identidades. Buscaremos intercalar os depoimentos que se constituem num discurso já construído e suas relações com o discurso da sociedade moderna. Numa segunda parte, faremos a descrição do corpus e focalizaremos os depoimentos analisados observando, nestes textos, as marcas lingüístico-discursivas e de representações apresentadas. E, a seguir, apresentaremos as considerações finais. 2. Referencial teórico 1 Professora de Língua Portuguesa do Departamento de Letras da UFSJ. Mestre em Letras pelo Programa de Pós-graduação em Letras: Mestrado em Teoria Literária e Crítica da Cultura - Linha de Pesquisa: Discurso e Representação Social da Universidade Federal de São João Del.
  • 2. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 29 2.1.Sujeito e Discurso Michel Foucault, em sua obra Arqueologia do Saber (1987), faz uma abordagem das questões que envolvem o ser humano, a consciência, a origem e o sujeito. Desenvolve seu trabalho buscando observar as manifestações em que as referidas questões se cruzam, se emaranham e se especificam. Cabe esclarecer que para Foucault sujeito é uma posição que pode ser ocupada, sob certas condições, por indivíduos diferentes. Não se trata assim da consciência que fala, nem do autor de determinada formulação. Diferentes indivíduos podem ocupar o lugar de sujeito no discurso, como um sujeito descentrado, que se cinde em muitos porque é parte de um corpo histórico-social. Ainda, segundo Foucault (1987:82), o discurso é considerado o modo de existência sócio-histórico da linguagem: “um conjunto de enunciados que derivam de uma mesma formação discursiva” e, para que se encontre a regularidade de seu funcionamento, todo discurso pode ser remetido à formação discursiva a que pertence. Então pode-se dizer que tanto o sujeito como o sentido de seu enunciado são constituídos no entremeio dessas formações discursivas. De acordo com o pensamento de Foucault (op. cit.), as coisas muitas vezes são ditas umas pelas outras e um sentido manifesto, aceito sem dificuldades por todos, pode encobrir um outro, que uma decifração mais sutil ou apenas a erosão do tempo acabará por descobrir; ou ainda, que sob uma formulação mais visível pode reinar uma outra que a comande, desordene, perturbe, lhe imponha uma articulação que só a ela pertence. Assim, as coisas ditas dizem bem mais do que elas mesmas. Segundo Foucault, A prática discursiva é um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou lingüística, as condições de exercício da função enunciativa. (1987:136) Para a análise em questão, o sujeito e o sentido de seu discurso devem ser pensados em seus processos histórico-sociais de formação. Consideraremos que o homem torna-se sujeito de um novo discurso à medida que se inscreve numa determinada formação discursiva que surge em meio ao conflito entre duas ou mais formações discursivas que se opõem, ressaltando, porém, que seu enunciado é atravessado por outros discursos que o torna um sujeito descentrado, originário de um corpo histórico social marcado por uma formação ideológica. De acordo com Orlandi (1987:125), “Em um discurso não só se representam os interlocutores, mas também a relação que eles mantém com a sua formação ideológica, e isto está marcado no e pelo funcionamento discursivo”. Nesse sentido, analisaremos marcas lingüístico-discursivas que nos remetem à formação ideológica dos sujeitos enunciadores. Em relação ao momento de enunciação e ao sujeito enunciador, nos apoiaremos novamente em Orlandi: Compete à análise da enunciação tudo aquilo que indica no texto a atitude do sujeito em relação ao enunciado: o texto apresenta-se ”marcado” ou “não-marcado” subjetivamente, isto é, referido a um sujeito que manifesta expressar suas opiniões, pontos de vista, fazer referência a uma experiência ou a acontecimentos que dizem respeito a si próprio, ou então, como fatos e conhecimentos “objetivos”, alheios a quem os enuncia.. (op. cit.: 105) 2.2. Discurso e Identidade
  • 3. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 30 Em relação à formação da identidade e sua similaridade com a formação dos discursos, Tomaz Tadeu da Silva afirma que esse processo se desenvolve entre movimentos diferenciados que buscam a fixação e a estabilização, conforme a citação a seguir : O processo de produção da identidade oscila entre dois movimentos: de um lado, estão aqueles processos que tendem a fixar e a estabilizar a identidade; de outro, os processos que tendem a subvertê-la e desestabilizá-la. É um processo semelhante ao que ocorre com os mecanismos discursivos e lingüísticos nos quais se sustenta a produção da identidade. Tal como a linguagem, a tendência da identidade é para a fixação. Entretanto, tal como ocorre com a linguagem, a identidade está sempre escapando. A fixação é uma tendência e, ao mesmo tempo, uma impossibilidade. (Silva, 2000: 84) Essa relação entre identidade e discurso torna-se relevante no instante em que consideramos a produção das identidades como resultantes de práticas discursivas. Nesse sentido, o sujeito enunciador é perpassado por discursos de construção e desconstrução da identidade masculina. Essa identidade encontra- se no campo do conflito e da desestabilização, marcada pela oscilação entre processos que tendem a fixá-la e outros que tendem a subvertê-la. 2.3. O Interdiscurso delineando a formação das identidades A noção de sujeito como um ser que se desdobra em muitos e assume vários papéis ou lugares no discurso nos decorre do conceito de interdiscursividade. Abordaremos a questão da interdiscursividade segundo a definição de Orlandi (1996), A noção que trabalha a exterioridade discursiva (ou exterioridade constitutiva) é a de interdiscurso. O que define o interdiscurso é sua objetividade material contraditória, objetividade material essa que, como diz M. Pêcheux (1988), reside no fato de que algo fala sempre antes, em outro lugar e independentemente, isto é, sob a dominação do complexo das formações ideológicas. É isto que fornece a cada sujeito “a sua realidade” enquanto sistema de evidências e de significações percebidas-aceitas- experimentadas. Aí se explicita o processo de constituição ( p. 39). É no interdiscurso que poderemos marcar o lugar das formações discursivas, em que são incorporados os elementos pré-construídos, produzidos fora dela. Segundo Silvia Helena Barbi Cardoso (1999:64), “a formação discursiva tira, pois, seu princípio de unidade de um conflito sempre regrado, num espaço de trocas, e não de um caráter de essência”. Apoiamos-nos também em Claudemar Alves Fernandes (2004:47), afirmando que o sujeito discursivo poderá ser definido pela junção do exterior com o interior e será sempre ele mais o outro, apresentando-se fragmentado, uma vez que se encontra em interação em diferentes segmentos sociais. Assim é o homem, um sujeito masculino constituído dentro de uma sociedade, histórica e ideologicamente instituída como machista, e limitado a um espaço familiar que dele requer diferentes papéis. Diremos, assim, que o discurso ao mesmo tempo em que constitui o sujeito, também se constitui pelo processo de interação social e a heterogeneidade caracteriza o sujeito como um “eu” social plural. 2.4. Formação das identidades, fragmentação dos sujeitos e estrutura social A necessidade de uma identificação é manifestada no indivíduo desde muito cedo. Saber quem é, qual é a sua origem, tentar se posicionar, conhecer o seu lugar no mundo social são questões que interpelam com freqüência o indivíduo. Para pensarmos as questões de formação de identidade e do processo de identificação dos sujeitos, é necessário que pensemos, previamente, nas mudanças que estão acontecendo na estrutura
  • 4. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 31 social e como o indivíduo absorve, reage ou é influenciado por tais mudanças, sobretudo a partir de suas práticas sociais discursivas. De acordo com Stuart Hall (2003:07) as velhas identidades que, por tanto tempo, estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até então visto como um sujeito unificado. As mudanças na estrutura social transformam conceitos de classe, gênero, sexualidade, raça e nacionalidade, que na formação de uma sociedade tradicional forneciam uma localização mais fixa do sujeito social. Hall (2003:09) diz que “estas transformações estão mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados.” Assim, o indivíduo passa a assumir diferentes identidades em diferentes posições, em diferentes situações, tornando-se um indivíduo fragmentado. O indivíduo vai encontrar uma multiplicidade de identidades possíveis e se reconhecerá em algumas, pelo menos, temporariamente. A identidade plena, fixa, segura torna- se uma ilusão. 3. Descrição do Corpus Os relatos analisados fazem parte de um artigo, publicado na revista Veja (2001), que trata especificamente da questão do homem (sujeito masculino) frente às transformações da sociedade e os diferentes papéis que deve assumir dentro desta nova formação social. Tais relatos aparecem intercalados dentro do texto do artigo e seus sujeitos enunciadores são sempre identificados através de fotos e pela descrição de seus dados pessoais como a idade, profissão, estado civil e número de filhos. As idades variam entre 26 e 61 anos, sendo a maioria casada e com filhos, já as profissões variam. A questão da afirmação da masculinidade é marcada pelas idéias de que os homens são seguros, fortes, corajosos, frios, auto-suficientes, agressivos e que devem sustentar a família porém, no artigo, esta questão é colocada como não sendo novidade, considerando que este estereótipo do macho talvez exista desde que a humanidade começou a andar ereta e nossos ancestrais do sexo masculino tiveram que esquecer o medo para disputar comida com as feras. A questão do surgimento do movimento denominado feminismo também acirrou a questão da disputa para uma competição pela manutenção de lugares já definidos socialmente. O impacto que esse movimento causou afetou a maneira como a realidade é vista, como, também, a percepção do homem sobre o seu papel nas estruturas sociais. Mais recentemente, com o advento da globalização, cresceu a idéia de que o homem também teria que ser ferozmente competitivo no campo do trabalho. Talvez tenhamos aqui representada a “crise da masculinidade” ratificada pelo discurso da contemporaneidade. 4. Análise discursiva Iniciaremos a análise pelo enunciado que aparece no início do artigo e que diz: “Homem não chora”. Consideramos esse enunciado como uma marca do interdiscurso, da memória discursiva que aciona e traz para a composição do discurso que se constrói acerca do homem atual, a fala de um discurso já dito, aquele que atribui ao homem o lugar de forte e, como tal, distante dos sentimentos. Encontramos, então, a afirmação da masculinidade na negação do chorar. Em contrapartida, a presença do enunciado “Homens também choram” marca a pressuposição da existência de um discurso novo: aquele em que a possibilidade do choro já faz parte da nova constituição discursiva do homem atual. A impossibilidade do choro é inerente ao discurso fundador da superioridade masculina. A “liberação” do choro masculino é parte de um discurso precedente. Assim, a negação do choro e de tudo que a palavra “choro” retoma faz com que a memória discursiva funcione e preencha a “nova” e a “velha identidade”. Observamos, também, uma relação de oposição semântica no título do artigo (Homem: O super- herói fragilizado) que, de imediato, sugere a desconstrução da idéia de superioridade da identidade masculina, considerando que fragilidade não se inclui no conjunto de qualidades atribuídas a um super-herói. Trata-se novamente do interdiscurso identificado na construção das identidades sociais: o conflito entre duas
  • 5. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 32 formações discursivas. De um lado, a formação discursiva que reserva ao homem o lugar do super-herói, daquele que luta, que tem responsabilidades, provê e, como herói, assume todas as características desse herói, inclusive a coragem e a impossibilidade do “choro”; De outro, o estar fragilizado remete aos novos tempos, redefinindo lugares e permitindo uma nova formação discursiva (FD). Nessa FD, um outro discurso acerca do homem começa a ser constituído e ao se fazer, também constitui essa nova identidade. Podemos analisar, pela capa da revista, uma interdiscursividade em que o discurso científico se apresenta na afirmação pautada pela cientificidade e que dá o efeito de veracidade que se apresenta no enunciado: “Estudos recentes mostram que a grande angústia masculina é enquadrar-se na imagem tradicional do macho.” Ao mesmo tempo em que o locutor formula um discurso de desconstrução que se firma na utilização da expressão “angústia masculina”, o homem já pode “se sentir angustiado”, observamos um interdiscurso que vem reforçar através de palavras como “tradicional e enquadrar-se” a antiga identidade. Essas palavras remetem à idéia de que uma ruptura seria quase impossível, pois o tradicional se mantém e deve ser reforçado dentro de uma sociedade. Assim “ser macho” é tradição e uma tradição deve ser preservada. São discursos que se opõem e, ao mesmo tempo, reforçam a identidade que ora tenta ser mostrada como fragmentada. Ainda observando a capa da revista, temos um exemplo que revela a presença de dois discursos conflituosos: a foto de um homem nu ou seminu com um bebê no colo. Na imagem desta foto, a fragilidade da criança é contrastada com o poder e a segurança do homem. Vimos que, ao mesmo tempo em que se constrói uma representação de um movimento de mudança em relação à postura machista (o pai cuidando do filho), também este homem representa a figura masculina em todo o seu estereótipo. Ao evidenciar a imagem de um homem dócil, carinhoso e, até frágil, que oferece segurança a esse bebê, podemos dizer que se encontra aí a representação do novo papel do homem como o pai atencioso e carinhoso contrastando com uma imagem de homem que se dá pela sua "virilidade", principalmente ao mostrar o corpo masculino nu com os músculos trabalhados, acentuados. Optamos por trabalhar mais diretamente com o discurso dos relatos por entendermos que, como já foi dito, a eles é atribuída a confirmação da informação apresentada no artigo que se pretende como verdadeira. Neles, observamos que o homem atual é interpelado a todo instante por um discurso maior constituído numa nova formação discursiva a respeito do que é ser homem e como se identificar no novo quadro de referência. As construções discursivas visam a representação desta nova imagem e nova identidade. Mas discursos se cruzam, diferentes formações discursivas são reveladas e vozes destoantes são percebidas nas falas apresentadas. TEXTO N° 01 1. “Comecei a trabalhar aos 17 anos na empresa da família. Meu pai quis que eu fizesse estágio em todos os setores da companhia. Todos mesmo.” 2. “A postura natural do filho homem é ver o pai como um deus.” 3. “Não o condeno, mas não seria tão rígido com meu filho”. 4. “O homem tem de provar o tempo todo que está indo tão bem quanto gostaria.” 5. “Hoje, tento relaxar mais nos fins de semana.” 6. “Também sou mais próximo de meu filho temporão, que está com 11 anos, do que fui de minhas duas filhas mais velhas”. 7. “É praticamente impossível comandar uma empresa e, ao mesmo tempo, dar uma superatenção à família.” 8. “Às vezes, quero participar como pai, mas não sei como.” TEXTO N° 02 9. “Já no campo afetivo as regras são outras. Elas (as mulheres) ainda exigem que o homem seja o provedor, que seja forte e bem-sucedido.” 10. “Essas cobranças são uma angústia para o homem. É como se estivéssemos muito aquém das expectativas.” 11. “Nem a mulher nem a sociedade aceitam uma atitude dessas.”
  • 6. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 33 12. “Elas querem super-homens. Carinhosos, viris, bem-sucedidos, sensíveis e trabalhadores incansáveis. Se não somos essa perfeição, somos fracassados”. TEXTO N° 03 13. “Durante dois anos lutei para salvar minha empresa da falência e não consegui.” 14. “O que me apavorava era deixar minha família desassistida. Sempre fui o provedor.” 15. “Hoje percebo o quanto carreguei sozinho essa crise. Quantas noites passei em claro sem dividir meus medos com minha família para não assustá-la.” 16. “O mais fantástico é que esses baques me ajudaram a rever minha vida.” 17. “Em todo esse processo, o que mais me tocou foi o apoio e o carinho que recebi de minha família e de meus amigos...” 18. “Descobri que não sou infalível.” 19. “Eu estava preocupado só com o trabalho, com o sucesso. Agora estou muito mais preocupado com minhas relações afetivas. Afinal, isso é que importa.” TEXTO 04 20. “O homem, independente da idade, ainda se sente na obrigação de ser o provedor, de ser bem-sucedido.” 21. “A gente cresce sempre pensando em ir além.” 22. “Senti medo de trocar o certo pelo incerto quando larguei meu emprego numa agência de publicidade para fazer mestrado com dedicação integral em marketing.” 23. “Senti uma falta enorme da adrenalina do trabalho.” 24. “Acho que estou abrindo novas portas para me valorizar.” 25. “Mas qualquer um precisa estar feliz para produzir.” 26. “Ser bem-sucedido é crucial para minha felicidade futura.” TEXTO N° 05 27. “Fiquei dezesseis anos trabalhando na área de navegação.” 28. “Do trabalho, ficava monitorando minha família.” 29. “Eu realmente me preparei para ter uma carreira de sucesso.” 30. “Há sete meses resolvi largar tudo e me dedicar com a Cristiana ao negócio.” 31. “O que me fez repensar as escolhas foi o casamento.” 32. “Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho...” 33. “Deu e ainda dá angústia por essa mudança, foi difícil no início.” 34. “... tenho a sensação de por meu sonho em prática ao lado de minha mulher.” 35. “Trabalho muito, mas com menos pressão.” A imagem de um homem fragmentado, dividido entre qual posição assumir é construída discursivamente e sua identidade é desmontada e reconstruída através dos discursos masculinos estruturados através de marcas enunciativas como o uso de marcações verbais, substantivos, adjetivos por meio de uma organização textual bem estruturada e uma seqüência temporal bem marcada. O tempo passado firmado nas construções enunciativas revela a necessidade de mostrar a mudança de atitudes, de ações, de crenças e convicções. È uma formação discursiva que se filia à transgressão pelo jogo de oposição entre passado e presente. È pertinente que neste ponto retomemos a noção de sujeito em Pêcheux: A noção de sujeito em Pêcheux é determinada pela posição, pelo lugar de onde se fala. E ele fala do interior de uma formação discursiva, regulada, regrada por uma formação ideológica. “Os sujeitos acreditam que utilizam seus discursos quando na verdade são seus servos
  • 7. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 34 assujeitados, seus suportes.”(1983). Assim, o que marca o sujeito em Pêcheux, nesta fase, é uma forte dimensão social, histórica, que na linguagem é balizada pela formação discursiva que define “o que pode e deve ser dito. (Brandão, 1998: 40). Os enunciados destacados acima se relacionam com a formação discursiva de um homem que busca identificar-se com a imagem do homem atual. As marcações temporais como “hoje”, “agora” remetem para uma localização temporal da situação atual que certifica o lugar e o tempo de produção do seu discurso. Expressões como “O que me fez repensar as escolhas foi o casamento.”, “Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho...” “... tenho a sensação de por meu sonho em prática ao lado de minha mulher” atuam como um dispositivo da memória discursiva em que o discurso construído numa sociedade marcada pelo patriarcalismo é marcante na insistência do casamento enquanto tema central na vida das pessoas. O casamento é tido como fundamental na vida a dois, como o destino que une o homem à mulher na sua felicidade comum. Porém, dentro do casamento, a divisão dos papéis é claramente marcada através da manutenção dos papéis do marido e da esposa. A delimitação dos espaços do homem e da mulher na relação matrimonial entra diretamente em contradição com o discurso "moderno" da sociedade em nova formação. Essa nova formação social, por sua vez remete a um discurso de desconstrução revelando que o casamento está em vias de extinção, construído dentro de um discurso de “revolução sexual”. Percebemos que a regularidade dos enunciados permite a identificação que no interdiscurso procuram definir uma identidade de homem fixa, definida. E que às vezes denunciam uma identidade diferente daquela que o enunciador deseja construir. Os enunciados destacados abaixo definem dois lugares, duas formações discursivas conflituosas, divergentes e diferentes que se constituem através da interpelação ideológica. Os fragmentos textuais apresentam-se como discursos conflituosos em que as representações de homem se mostram desestabilizadas, devido às formações discursivas que nos remetem a uma memória discursiva de uma representação já definida discursivamente e que tende a permanecer nos discurso analisados. Por exemplo: “Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho...” “Às vezes, quero participar como pai, mas não sei como.” “Não o condeno, mas não seria tão rígido com meu filho”. “Também sou mais próximo de meu filho temporão, que está com 11 anos, do que fui de minhas duas filhas mais velhas”. “É praticamente impossível comandar uma empresa e, ao mesmo tempo, dar uma superatenção à família.” “O mais fantástico é que esses baques me ajudaram a rever minha vida.” “Eu estava preocupado só como o trabalho, com o sucesso. Agora estou muito mais preocupado com minhas relações afetivas. Afinal, isso é que importa.” “Mas qualquer um precisa estar feliz para produzir.” “Ser bem-sucedido é crucial para minha felicidade futura.” “Deu e ainda dá angústia por essa mudança, foi difícil no início.” “... tenho a sensação de por meu sonho em prática ao lado de minha mulher.” “A postura natural do filho homem é ver o pai como um deus.” “O homem tem de provar o tempo todo que está indo tão bem quanto gostaria.” “O homem, independente da idade, ainda se sente na obrigação de ser o provedor, de ser bem- sucedido.” “Elas querem super-homens. Carinhosos, viris, bem-sucedidos, sensíveis e trabalhadores incansáveis”. “Sempre fui o provedor.” “Eu realmente me preparei para ter uma carreira de sucesso.” O reconhecimento da masculinidade que se apresenta pela expressão “ser homem” não pode ser compreendido fora de um processo de produção discursiva. Os enunciados abaixo nos mostram a formação de um discurso que se constrói por oposição. É um discurso construído por uma representação entre o papel da mulher e do homem, em que a memória discursiva retoma um discurso de submissão da mulher em relação ao homem e a representação da figura masculina é reconfigurada pelas relações de oposição que
  • 8. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 35 ainda são marcadas. Enfatizaremos a questão do movimento feminista que questionou em seus discursos o papel do homem e as hierarquias entre os diferentes grupos sociais, o patriarcado e a superioridade masculina. Esses novos discursos, fundados em determinadas formações e práticas discursivas, constroem outro discurso do que seja a masculinidade - com novos sujeitos redefinidos pelo discurso da necessidade de se confrontar com os discursos e sujeitos que estavam sendo re-constituídos. Conforme podemos observar nos enunciados: “Acho que o crescimento das mulheres no campo profissional deixou os homens intimidados.” “Hoje, elas competem com a gente no mesmo nível.” “Na relação familiar, a mulher pode se permitir o luxo de dar um tempo no trabalho... Ai do homem que decida fazer isso.” Observa-se, neste discurso, a interdiscursividade trazida pelo discurso regime patriarcado, pelo discurso religioso que delimita e define o que pertence à identidade masculina e feminina. Destaca-se a palavra trabalho que se apresenta como o eixo principal de ligação entre os enunciados e que se torna o referencial para fixar a diferença entre ser homem e ser mulher. A relação de oposição se define também na marcação de lugares específicos - dentro de um discurso social pertencente ao discurso machista - que mostram uma instabilidade permitida na identidade de ser mulher de poder interferir no espaço masculino e, ao mesmo tempo, garantir seu lugar no espaço marcado pela constituição de sua antiga identidade. 5. Considerações Finais Podemos dizer que as falas dos relatos encontram raízes numa prática social discursiva formada a partir de uma perspectiva marcada pela fixidez da identidade masculina. E que, mesmo dentro de um discurso de desconstrução, as formações discursivas analisadas apresentam “resquícios” de uma antiga identificação marcada discursivamente pelos enunciados produzidos em formações discursivas que retomam as antigas representações de homem, através da memória discursiva que sempre é acionada. O tempo bem marcado pela organização lingüística-discurviva mostra que se trata de um discurso atualizado em relação às questões colocadas e serve como ponto de justificativa para a nossa inferência acima. O artigo apresenta um discurso de desconstrução da identidade masculina tida como definida e sustentada discursivamente pela formação de uma sociedade que se encontra também numa constante desestabilização. As formações discursivas que serviam de referência para a estabilidade apresentam-se hoje em processo de instabilidade e mobilidade, principalmente em relação aos valores já previamente fixados mas que também não mais se sustentam. Cada momento histórico possui o seu dizível, que é fruto de processos sociais e históricos que buscam instituir e redefinir os espaços de significação que nos levam a perceber como diferentes conceitos de masculinidade são construídos social e historicamente e como os sentidos atribuídos à masculinidade se relacionam com as práticas sociais discursivas. 6. Referências bibliográficas BRANDÃO, Helena H. Naganime. Subjetividade, argumentação e polifonia – a propaganda da Petrobrás. São Paulo: Unesp, 1998. CARDOSO, Silvia Helena Barbi. Discurso e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. DIEGUES, Consuelo. Homens também choram. Veja. São Paulo. 33: 116-123, agosto, 2001.
  • 9. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 36 FERNANDES, Cleudemar Alves & SANTOS, João Bosco Cabral (org.). Análise do Discurso: unidade e dispersão. Uberlândia, 2004. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 3 ed. Luiz Felipe Baeta Neves (Tradução), Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. ______. A ordem do discurso. Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 9. ed. São Paulo: Loyola, 2003. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade / Stuart Hall; Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro – 7. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2003. MACHADO, Ida Lúcia; CRUZ, Amadeu R. e DIAS, Dylia Lysardo. Teorias e práticas discursivas – Estudos em Análise do Discurso. Belo Horizonte: Carol Borges, 1998. ORLANDI, Eni P. Interpretação – autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis:Vozes, 1996. ______. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1987. ______. Discurso e Texto – formulação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes, 2001. SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais / Tomaz Tadeu da Silva (org.), Stuart Hall, Katrhryn Woodward. – Petrópolis: Vozes, 2000. 6. Anexos Relatos que compõem o artigo da reportagem intitulada : Homem: o Super-herói fragilizado, publicada na revista Veja em 22/08/2001. Relato n° 01 “Comecei a trabalhar aos 17 anos, na empresa da família. Meu pai quis que eu fizesse estágio em todos os setores da companhia. Todos mesmo. A postura natural do filho homem é ver o pai como um deus. Não o condeno, mas não seria tão rígido com meu filho. Sempre fui muito ansioso e, há quinze anos, faço análise para aprender a lidar com isso. Se não fizesse, com certeza já teria úlcera, gastrite ou algum problema cardíaco. O homem tem de provar o tempo todo que está indo tão bem quanto gostaria. E é difícil separar os problemas do trabalho do resto. Muitas vezes, a gente acaba explodindo com a pessoa errada. Hoje, tento relaxar mais nos fins de semana. Quando posso, faço pescaria oceânica e esqueço do mundo. Também sou mais próximo de meu filho temporão, que está com 11 anos, do que fui de minhas duas filhas mais velhas. É praticamente impossível comandar uma empresa e, ao mesmo tempo, dar uma superatenção à família. Dá uma culpa danada. Às vezes, quero participar mais como pai, mas não sei como. Minha mulher é que sempre fez o papel de supermãe. Mas acho que nunca é tarde para essa aproximação.” Relato n°2 “Acho que o crescimento das mulheres no campo profissional deixou os homens intimidados. Hoje elas competem com a gente no mesmo nível. Já no campo afetivo as regras são outras. Elas ainda exigem que o homem seja o provedor, seja forte e bem-sucedido. Geralmente olhas nossas fragilidades como defeitos. Essas cobranças são uma angústia para o homem. É como se estivéssemos sempre aquém das expectativas. Não alcançamos nunca o que elas esperam de nós. Na relação familiar, a mulher se permitir ao luxo de dar um tempo no trabalho. Ai do homem que decida fazer isso. Nem a mulher nem a sociedade aceitas uma
  • 10. LINGÜÍSTICA: CAMINHOS E DESCAMINHOS EM PERSPECTIVA 37 atitude dessas. As cobranças são tantas que daqui a pouco nós vamos ter até medo de nos relacionar. Elas querem super-homens. Carinhosos, viris, bem-sucedidos, sensíveis e trabalhadores incansáveis. Se não somos essa perfeição, somos fracassados. Além disso, as mulheres abusam do direito de ser agressivas usando como desculpa a tensão pré-menstrual. E o pior é que nem direito a TPM os homens t~em.” Relato n° 03 “No começo do ano passado, ao fazer um check-up, descobri que tinha um câncer no intestino. O estranho é que, quando me vi diante da doença, não tive medo de morrer. Essa possibilidade não me assustava. Olhando para trás, estou convencido de que esse câncer foi conseqüência dos problemas emocionais que tive na mesma época. Durante dois anos lutei para salvar minha empresa da falência e não consegui. O que me apavorava era deixar minha família desassistida. Sempre fui o provedor. Hoje percebo quanto carreguei sozinho essa crise. Quantas noites passei em claro sem dividir meus medos com minha família para não assusta-la. O mais fantástico é que esses baques me ajudaram a rever minha vida. Em todo esse processo, o que mais me tocou foi o apoio e o carinho que recebi de minha família e de meus amigos, de alguns dos quais eu estava tão afastado. Fiquei menos arrogante, menos exigente. Descobri que não sou infalível. Antes, minha vida parecia um filme. Era como se as coisas passassem na minha frente mas eu não as visse realmente. Eu estava preocupado só com trabalho, com o sucesso. Agora estou mais preocupado com minhas relações afetivas. Afinal, isso é que importa.” Relato n° 04 “O homem, independente da idade, ainda se sente na obrigação de ser o provedor, de ser bem-sucedido. A maior prova disso é que a lei ainda é assim: o homem, quando se separa, é quem dá a pensão à mulher. A gente cresce sempre pensando em ir alem. Meus avós tinham uma condição de vida, meus pais tinham outra ainda melhor, e eu quero engrandecer isso, crescer. Senti medo de trocar o certo pelo incerto quando larguei meu emprego numa agência de publicidade para fazer mestrado com dedicação integral em marketing. Só vou colher os frutos a longo prazo e sou muito ansioso. Senti uma falta enorme da adrenalina do trabalho. Os estudos são puxadíssimos, mas precisei passar por um processo de adaptação, ter uma nova cultura. Acho que estou abrindo novas portas para me valorizar. Meus paris sempre se preocuparam em me pôr nos melhores colégios, para entrar na melhor faculdade. É impossível não sentir essa pressão. Mas qualquer um precisa estar feliz para produzir. Quando você fala do problema, a complicação costuma ficar menor. Ser bem-sucedido é crucial para minha felicidade futura.” Relato n° 05 “Fiquei dezesseis anos trabalhando na área de navegação. Tinha diploma de engenharia, duas pós-graduações e cheguei a ser diretor-geral de um grupo. Do trabalho, ficava monitorando minha família. Eu realmente me preparei para ter uma carreira de sucesso. Há dois anos e meio, minha mulher abriu o restaurante Bazzar com um sócio. Sempre gostei de gastronomia e, com o tempo, meus conhecimento foi se sofisticando. Gostava de dar palpites no restaurante, sempre inventava de dar uma passada por lá. Há sete meses resolvi largar tudo e me dedicar com a Cristiana ao negócio. O que me fez repensar as escolhas foi o casamento. Agora, posso dar muito mais atenção a minha mulher e ao meu filho, Marcos, de 4 anos. Deu e ainda dá angústia por essa mudança, foi difícil no início. Ganho menos, mas estou investindo num novo estilo de vida, tenho a sensação de pôr meu sonho em prática ao lado de minha mulher. Trabalho muito, mas com menos pressão. Hoje, posso ir à praia com meu filho fazer esportes e ler outras coisas além dos jornais de finanças.”