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     UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI




            ARI DO REGO DOS SANTOS




ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE
SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS DO PIAUÍ




                   BARRAS-PI
                      2011
1

           ARI DO REGO DOS SANTOS




ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE
SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS DO PIAUÍ



                    Monografia apresentada a Universidade Estadual
                    do Piauí como requisito para a obtenção do título
                    de Licenciatura Plena em Geografia.


                    Orientadora:    Professora   Especialista   Lídia
                    Maria Marques Neta




                 BARRAS-PI
                    2011
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              ARI DO REGO DOS SANTOS


ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE
SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS DO PIAUÍ



                           Monografia apresentada a Universidade Estadual
                           do Piauí como requisito para a obtenção do título
                           de Licenciatura Plena em Geografia.




           APROVADO EM: _____/_____/ 2011




                BANCA EXAMINADORA




  ___________________________________________________
            Profª. Esp. Lídia Maria Marques Neta
                        Orientadora




  ___________________________________________________
           Prof. Esp. Eduardo Gomes O. Sobrinho




  ___________________________________________________
         Profª. Ms. Francisca Cardoso da Silva Lima
3




Dedico este estudo à minha família, que é a
base de minha sustentação e fonte inesgotável
de incentivo e carinho.
4




Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pela
oportunidade de viver este grande momento; a
todos os professores que ao longo desta
jornada, contribuíram para minha formação
com seus ensinamentos; aos agricultores
entrevistados,      por     terem     respondido        as
indagações,      contribuindo        assim       para    a
construção     do     conhecimento;          à    minha
orientadora, professora Lídia Maria Marques
Neta, pela paciência e disponibilidade; aos
meus    queridos          colegas    do      curso      de
Licenciatura     Plena      em      Geografia,       pelos
momentos de alegrias, tristezas e trocas de
experiências. Com muita saudade, obrigado.
5




“A agricultura brasileira representa uma
combinação de muitas “agriculturas” todas
imprescindíveis para nossa sociedade”.
                                  Ivan Sergio
6

                                        RESUMO




       Este trabalho foi conduzido na localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí.
Os dados foram obtidos a partir da pesquisa de campo com aplicação de entrevistas a 20
agricultores da localidade, englobando aspectos como: produtos cultivados, técnicas utilizadas
no preparo do solo, índice de produtividade, destino da produção, comercialização,
propriedade da terra, utilização de agrotóxicos dentre outros, com o intuito de analisar os
aspectos socioeconômicos da agricultura de subsistência na mesma, utilizando-se do método
dedutivo e probabilístico para a obtenção dos dados e de acordo com os objetivos da pesquisa.
Os resultados indicaram que esse tipo de agricultura é importante para os praticantes locais
por fornecer os itens alimentícios de primeira necessidade de que precisam para sobreviver
com a família. Apesar da produção, na maioria dos casos, não ser suficiente para alimentá-los
durante a entressafra. Apenas uma pequena parte da produção colhida durante a safra é
comercializada, sendo esta efetuada por meio da venda direta ao consumidor final ou a
atravessadores e são geralmente produtos de pouco ou nenhum valor agregado, fazendo com
que a renda obtida seja mínima. Mostraram também que a prática da agricultura de
subsistência da forma atrasada como ainda é realizada com a utilização de técnicas arcaicas e
instrumentos rudimentares podem causar eventos degradantes na natureza, comprometendo o
desenvolvimento futuro desta atividade. Neste contexto, pretende-se com este estudo
estimular os agricultores a se engajarem mais nesta atividade no sentido de aumentar a
produção tanto com destino a sua alimentação quanto a comerciável a fim de fortalecer suas
rendas, sem perder de vista os aspectos ambientais que envolvem a mesma. Além de provocar
discussões reflexivas sobre esse costume na localidade do estudo em beneficio de todos.




Palavras-Chave: Agricultura. Subsistência. Técnicas.
7

                                          ABSTRACT




       This study was conducted at St. John location, Headwaters of the municipality of
Piauí. Data were obtained from field research with application of 20 interviews with farmers
in the locality, covering aspects such as: products grown, techniques used in land preparation,
productivity index, destination of the production, marketing, land ownership, use of pesticides
among others, in order to analyze the socioeconomic aspects of subsistence agriculture in the
same, using deductive and probabilistic method to obtain the data and according to the
research objectives. The results indicated that this type of agriculture is important for local
practitioners to provide the items food items they need to survive with his family. Although
production in most cases not be enough to feed them during the off season. Only a small
portion of the harvested production is sold during the harvest, which is made by selling
directly to final consumers or middlemen and are usually products with little or no value
added, making the income generated is minimal. They also showed that the practice of
subsistence agriculture is still so backward as performed with the use of techniques archaic
and rudimentary tools can cause degrading events in nature, compromising the future
development of this activity. In this context, the aim of this study was to encourage farmers to
engage more in this activity to increase the production target with both his power as
marketable in order to strengthen their income, without losing sight of the environmental
issues surrounding the same. As well as provoke thoughtful discussions about this in the usual
location of the study for the benefit of all.


Keywords: Agriculture. Subsistence. Techniques.
8

         DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE




       A aprovação desta Monografia não significará endosso do Professor Orientador, da
Banca Examinadora ou da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, às ideias, opiniões e
ideologias constantes no trabalho, é de inteira responsabilidade do autor.
9

                            LISTA DE ABREVIATURAS




IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
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                                                LISTA DE FIGURAS




Figura 01 – Erosão laminar. .................................................................................................... 23


Figura 02 – Agrotóxicos utilizados pelos agricultores locais .................................................. 24


Figura 03 – Roça com as lavouras ainda pequenas ................................................................. 25


Figura 04 – Policultura ............................................................................................................ 34


Figura 05 – Consorciação entre o milho e o feijão .................................................................. 34


Figura 06 – Plantio de milho no solo coberto com palha de carnaúba. ................................... 36


Figura 07 – Palha de carnaúba depois de extraído o pó, utilizada como adubo ...................... 36



Figura 08 – Imagem de satélite da Localidade São João......................................................... 40
11

                                               LISTA DE QUADROS




Quadro 01 - Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados ........................ 41


Quadro 02 - Técnicas utilizadas no preparo do solo ............................................................... 42


Quadro 03 - Destino da produção ........................................................................................... 43


Quadro 04 - Forma de comercialização .................................................................................. 44


Quadro 05 - Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido
entre uma safra e outra.............................................................................................................. 45


Quadro 06 - A propriedade da terra onde trabalham .............................................................. 46


Quadro 07 - Se tem outra atividade, além da agricultura ........................................................ 47


Quadro 08 - As outras atividades ........................................................................................... 47


Quadro 09 - Utilização de agrotóxicos.................................................................................... 48


Quadro 10 - A finalidade do uso de agrotóxicos ..................................................................... 49
12

                                              LISTA DE GRÁFICOS




Gráfico 01: Os produtos cultivados ......................................................................................... 41

Gráfico 02 – Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados ....................... 42


Gráfico 03 – Técnicas utilizadas no preparo do solo ............................................................... 43


Gráfico 04 – Destino da produção ........................................................................................... 43

Gráfico 05 – Produtos comercializados ................................................................................... 44

Gráfico 06 – Forma de comercialização .................................................................................. 45


Gráfico 07 – Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido
entre uma safra e outra.............................................................................................................. 45

Gráfico 08 – A propriedade da terra onde trabalham .............................................................. 46


Gráfico 09 – Se tem outra atividade, além da agricultura ....................................................... 47


Gráfico 10 – As outras atividades............................................................................................ 48


Gráfico 11 – Utilização de agrotóxicos ................................................................................... 48


Gráfico 12 – Os agrotóxicos utilizados ................................................................................... 49


Gráfico 13 – A finalidade do uso de agrotóxicos .................................................................... 50
13

                                                             SUMÁRIO




INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
CAPÍTULO I
1 A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA ........................................................................ 17
    1.1 Abordagem Histórica da Agricultura ........................................................................ 17
    1.2 A discussão Sobre o Conceito de Agricultura de Subsistência ................................ 19
           1.2.1 Conceituando a agricultura de subsistência ......................................................... 20
    1.3 Importância dos Produtos Produzidos na Agricultura de Subsistência Para o
Produtor e Consumidor ......................................................................................................... 20

CAPÍTULO II
2 CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES NATURAIS QUE CONDICIONAM A
PRÁTICA DA AGRICULTURA E DO PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO
LOCAL .................................................................................................................................... 22
    2.1 Solo ................................................................................................................................ 22
           2.1.1 Manejo do solo na localidade São João .............................................................. 24
    2.2 Vegetação ...................................................................................................................... 26
    2.3 Hidrografia ................................................................................................................... 26
    2.4 Biodiversidade .............................................................................................................. 28
    2.5 Clima ............................................................................................................................. 29
    2.6 Comercialização ........................................................................................................... 31
           2.6.1 O processo de comercialização local ................................................................... 31

CAPÍTULO III
3 PROPOSTAS PARA UMA PRÁTICA AGRÍCOLA MAIS EFICIENTE NA
LOCALIDADE SÃO JOÃO .................................................................................................. 33
    3.1 Implantação de Práticas Conservacionistas ............................................................. 34
           3.1.1 Rotações de culturas ........................................................................................... 34
           3.1.2 Controle biológico .............................................................................................. 35
           3.1.3 Plantio direto ........................................................................................................ 36
14

    3.2 Formação de Cooperativas ......................................................................................... 37

CAPÍTULO IV
4 METODOLOGIA................................................................................................................ 39
    4.1 Localização e Caracterização do Município de Cabeceiras do Piauí e da
    Localidade São João .......................................................................................................... 40
          4.1.1 Cabeceiras do Piauí............................................................................................. 40
          4.1.2 Localidade São João ........................................................................................... 40
    4.2 Discussão da Abordagem aos Agricultores ............................................................... 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 51
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 53
APÊNDICES ........................................................................................................................... 56
15

                                     INTRODUÇÃO




       A agricultura é uma das invenções humanas mais significativas em termos de avanços
na produção de alimentos. A sua introdução permitiu que o homem passasse a produzir as
culturas de alimentação básica utilizadas na sua dieta alimentar. Isso resultou em um enorme
ganho para a humanidade porque a partir daí, ela passou a dispor de grandes quantidades de
alimentos eliminando assim, o risco de sua extinção devido à escassez dos recursos
alimentícios fornecidos diretamente pela natureza.
       No Brasil, são praticados vários tipos de agriculturas, indo desde a de subsistência que
tem como objetivo principal a sobrevivência de quem a pratica passando pela familiar
comercial voltada tanto para a alimentação da própria família produtora como para a
comercialização até a empresarial abastecedora dos mercados de itens alimentícios de origem
agrícola. E a prática de todas elas é pertinente de importância e considerações que devem ser
abordadas na análise de suas efetivações.
       Este trabalho teve como finalidade conhecer a produção, comercialização e consumo
das culturas cultivadas na agricultura de subsistência na localidade São João, município de
Cabeceiras do Piauí/PI. Além de identificar os mecanismos utilizados no preparo do solo e no
plantio dessas culturas, bem como propor a elaboração de planos de manejo que resulte em
práticas de cultivos sustentáveis.
       .   A hipótese que norteou o trabalho foi a de que a utilização de técnicas e
instrumentos rudimentares pelos agricultores locais aliadas à falta de recursos financeiros para
investir em técnicas agricultáveis modernas contribuem para o baixo índice de produtividade
desta atividade na mesma.
       O desenvolvimento da pesquisa com enfoque na abordagem da importância econômica
e social da atividade agrícola de subsistência para os seus adeptos, além dos impactos
negativos decorrente de sua realização, permeou a pertinência do levantamento bibliográfico,
para embasar as ideias construídas a partir do eixo temático elaborado.
       Na obtenção dos dados foi feita pesquisa de campo com a observação da área do
estudo, registro visual através do levantamento fotográfico e realização de entrevistas. Como
complemento houve o acompanhamento por meio do contato direto com o plantio e a colheita
dos produtos cultivados com uma das famílias residentes na localidade, na safra 2010/2011 e
16

visita ao escritório regional do IBGE situado no município de Barras - PI. Finalizando
procedeu-se a organização e análise dos dados coletados e a elaboração do relatório final dos
resultados alcançados.
       Estes mostraram que esse tipo de agricultura é importante para os praticantes locais
por fornecer os itens alimentícios de primeira necessidade de que precisam para sobreviver
com a família. Apesar da produção, na maioria dos casos, não ser suficiente para alimentá-los
durante a entressafra. Apenas uma pequena parte da produção colhida durante a safra é
comercializada, sendo esta efetuada por meio da venda direta ao consumidor final ou a
atravessadores e são geralmente produtos de pouco ou nenhum valor agregado, fazendo com
que a renda obtida seja mínima. A prática da agricultura de subsistência da forma atrasada
como ainda é realizada com o uso de técnicas arcaicas e a utilização de instrumentos
rudimentares é a principal causa da baixa produtividade. Os relatos dos agricultores
evidenciaram que o processo produtivo empreendido atualmente nunca foi significativo em
termos de boas colheitas.
       O relatório final do mesmo desenvolveu-se em quatro capítulos, sendo que no
primeiro capítulo, procura-se tecer considerações sobre caracterização, o histórico, conceitos e
importâncias da agricultura de subsistência para seus praticantes.
       O segundo capítulo trata da caracterização dos fatores naturais como solo, vegetação,
hidrografia, biodiversidade e clima, enfocando a importância para a agricultura bem com suas
vulnerabilidades em função da prática da mesma. Além de caracterizar também, o processo de
comercialização local dos produtos agrícolas.
       O terceiro capítulo visa colaborar com os agricultores como subsídio a fim de tenham
a possibilidade de implantar uma agricultura de subsistência mais lucrativa econômica e
socialmente com aumento da produtividade e maior eficiência na conservação dos
ecossistemas.
       E o último capítulo apresenta os procedimentos: tipo de pesquisa, método, universo
pesquisado, amostragem e a discussão da abordagem aos agricultores.
17

                                       CAPÍTULO I




1 A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA



       A população da zona rural, presa à tradição do cultivo de lavouras temporárias, em sua
grande maioria tem como cultura a prática da agricultura de subsistência. Este modo de
agriculta, desde os seus primórdios foi e continua sendo, principalmente nos pequenos
municípios do país, orientada por um sistema arcaico de produção. A derrubada das matas
nativas, as queimadas e o uso de técnicas bastante rudimentares sempre fizeram parte do
modo de produzir dos praticantes desta atividade. Pois “os portugueses ao chegarem ao Brasil,
encontraram os indígenas locais praticando o corte e a queimada de plantas para a
implantação de suas lavouras” (DEAN, 1995; RIBEIRO, 1995; THOMAS, 1998 apud LEITE;
MININNI – MEDINA, 2001, p. 111).



1.1 Abordagem Histórica da Agricultura



       O surgimento da agricultura é um acontecimento recente e muito importante para o
desenvolvimento da espécie humana. Ela representou a base para o aparecimento das
atividades profissionais exercidas pelo homem atualmente, por fornecer alimentos para os
grupos existentes na época, o que garantiu que estes conseguissem sobreviver e, tendo como
consequência o aumento da população. Com este crescimento populacional e o aumento da
eficiência da produção agrícola, permitiu que parte dessa população se dedicasse a outras
atividades, originando a ocupação industrial e as inúmeras profissões existentes.
       Sobre o seu início, M. Paterniani e E. Paterniani (2006, p. 19) colocam que, “há
apenas cerca de dez mil anos, os grupos de caçadores – coletores, independentemente       em
diferentes regiões geográficas, iniciaram o processo de semeadura e o cultivo de sementes,
raízes e turbéculos coletados na natureza”.
       Esse processo de domesticação das plantas originou-se da necessidade de se obter
alimentos em maior quantidade para alimentar as tribos que eram nômades e sobreviviam dos
recursos alimentícios oferecidos pela natureza. Com o passar dos anos, esses recursos foram
18

ficando escassos ao contrário da população que só crescia. Resultando disso, a obrigação de
se criar um mecanismo que pudesse garantir alimentação em abundância para sustentar este
crescimento, ocorrendo assim à instituição do cultivo de plantas agrícolas que logo atingiu um
raio de abrangência muito grande.
       Esta expansão deu-se por via da condição de nomadismo das comunidades primitivas
que depois da introdução da agricultura, passaram a disseminar esta prática por aonde iam.
       Reforçando esta ideia, Allard (1971, p. 16) escreveu:


                       Originalmente, a introdução de plantas deve ter atendido o andar errático das tribos
                       nômade. Mais tarde, acompanhou a expansão dos povos agrícolas mais sedentários,
                       em novas áreas, à medida que a população humana aumentou. Quando as rotas
                       comerciais foram desenvolvidas, houve provavelmente, um grande aumento, não
                       somente na introdução de plantas, mas também nas distâncias para as quais elas
                       eram transportadas.



       Depois da implantação e difusão desse hábito, veio a sua organização. Lembrando que
foi feita de acordo com as estruturas tanto políticas como sociais que regiam o momento, além
de ter como objetivo principal a sobrevivência humana.
       Liverani (1976 apud CARDOSO, 2005, p. 24), comenta sobre essa organização
primordial da agricultura, colocando que eram “características suas a economia de
subsistência, a ausência de divisão e especialização do trabalho – dando-se em cada aldeia, a
união da agricultura e do artesanato -, a ausência de uma diferenciação em classes sociais, a
propriedade comunitária sobre a terra”.
       Conforme Allard (1971) isso perdurou até que proviu a preocupação do homem acerca
do aumento da produção agrícola para acompanhar as necessidades de fontes adequadas à
alimentação da população que se expandia. Incitando assim, as pesquisas e destas, os avanços
tecnológicos que teve um grande efeito não apenas na eficiência da produção, como também
na eficiência da utilização dos produtos agrícolas através de melhores métodos de
conservação, armazenamento e transporte.
       A consolidação dessas mudanças significou uma nova caracterização da agricultura,
que deixou de ser apenas uma prática de subsistência e passou a ser também uma atividade
moderna com “principal objetivo o maior número de produção possível abastecendo os vários
circuitos comerciais” (TEXEIRA, 2006, n. p.).
       Ela saiu do estágio de subsistência para se tornar uma atividade industrial, onde a
produção de alimentos de origem agrícolas começou a ser feita em grande escala sob o
comando das grandes empresas especializadas na área e que estão estas industrializando o
19

campo. Hoje, “A agricultura como um todo compreende componentes e processos
interligados que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, por intermédio
da transformação de insumos pelos seus componentes” (CASTRO et al., 1998, p.33).
       Está-se vivenciando, portanto, “a industrialização da agricultura e a modernização do
campo” (SANTOS, 2002, p.30) com a introdução de novas técnicas agricultáveis que resulta
no aumento da produção e no surgimento de uma nova agricultura, chamada de agricultura
comercial ou empresarial. Apesar de ainda haver a predominância nas áreas rurais não apenas
do Brasil, mas do mundo inteiro da agricultura de subsistência.



1.2 A Discussão Sobre o Conceito de Agricultura de Subsistência



       Sobre a conceituação das agriculturas praticadas pelos pequenos agricultores, Didonet
(2004, p. 13) afirma que existe “uma tipologia de agricultores familiares diversificada, indo
desde a agricultura de subsistência até a agricultura familiar empresarial”.
       Melo (2001 apud BARROS, 2006, n. p.) conceitua agricultura familiar “como as
propriedades com menos de 100 hectares, englobando nessa categoria as chamadas
agricultura de subsistência, a pequena produção, ou campesinato”.
       De acordo com as conceituações acima, percebe-se que o conceito de agricultura
familiar é confundido com o de agricultura de subsistência, sendo diferenciado apenas em
termos econômicos. A esse respeito, Barros (2006, n. p.), respalda:


                        A agricultura brasileira tem sido costumeiramente subdividida dicotomicamente de
                        acordo com características socioeconômicas e tecnológicas. Ao longo do tempo tem-
                        se distinguido a agricultura de subsistência, ou a pequena agricultura, ou agricultura
                        de baixa renda da agricultura comercial ou empresarial.



       No conceito econômico de agricultura familiar se atribui constantemente o caráter
comercial voltado para o mercado. Por isso “não se deve confundir essa agricultura familiar
com a agricultura de subsistência, camponesa, produtora exclusiva de alimentos ou
tecnologicamente atrasada” (op. cit., 2006, n. p.).
20



1.2.1 Conceituando a agricultura de subsistência



       Homma (2006, p.47) resumidamente conceitua a agricultura de subsistência como
aquela que tem sua prática “baseada na derruba e queima e na utilização de ferramentas
rudimentares”.
       Para Teixeira (2006, n. p.) agricultura de subsistência é a “prática da agricultura
assentes nas técnicas ancestrais completamente dependentes das condições naturais”.
       Não para definir, mas apenas para conceituar pode-se dizer então que a agricultura de
subsistência é uma agricultura assentada em atividades exclusivamente manuais com o
objetivo da auto-suficiência do próprio agricultor com a família. É praticada de forma
extensiva com a predominância da policultura que é uma maneira empregada para se obter a
máxima produção possível, já que, nesta as técnicas e os instrumentos utilizados são
rudimentares.



1.3 Importância dos Produtos Produzidos na Agricultura de Subsistência para o
Produtor e Consumidor



       A agricultura ainda representa a base de sobrevivência de milhares de pessoas no
Brasil e no mundo. E por ser a atividade que mais liga intimamente o homem à natureza, ela é
o principal agente de desenvolvimento social e sustentável para os pequenos agricultores,
praticantes da modalidade de subsistência, haja vista que, se houver uma política mais efetiva
na redistribuição das terras, na concessão de crédito para que estes possam ter acesso a
inovações tecnológicas, na reeducação de seus hábitos através da assistência técnica, terá
como consequência o aumento da produção destinada a sua alimentação com seus familiares.
Resultando assim, na melhoria da cadeia alimentar porque os produtos produzidos na
agricultura de subsistência têm como primeiro destino, a alimentação dos próprios produtores,
pois “para estes produtores, o interesse básico é a sobrevivência e só depois o lucro”
(BONILLA, 1992, p. 244, grifo do autor).
       Os grãos produzidos e os subprodutos surgidos da transformação da mandioca têm
importância crucial tanto na dieta alimentar de quem os produz quanto na de quem os
consomem.
21



                       Por mais que se esteja vivendo na “aurora de uma nova era” – rotulada de pós-
                       industrial, pós-moderna, ou pós-escassez – a verdade é que a humanidade continua
                       muito longe de encontrar uma fonte de energia necessária à vida, que dispense o
                       consumo das plantas e dos animais, como ocorreu há 2 milhões de anos. Ou seja, por
                       mais que venha a ser modificada a esfera da produção alimentar, essa importância
                       singular da agricultura manter-se-á até que surja uma alternativa à transformação
                       biológica de energia solar em nutriente (BEZERRA; VEIGA, 2000, p. 58).



       A agricultura de subsistência é responsável por grande parte das culturas de
alimentação básica que sustenta a atividade produtiva agrícola do país e fornece alimentos
para a população, tendo grande importância, tanto em termos econômicos, como sociais. Com
uma maior produtividade da mesma, haverá alimentos suficientes para atender as
necessidades de consumo alimentar dos lavradores, além de originar excedentes que vai
abastecer o mercado, sendo muito benéfico para todos, por gerar renda para o produtor e
tornar menos oneroso a aquisição desses produtos pelo consumidor final. De acordo com
Paterniani (2006) a fácil disponibilidade dos alimentos resulta em uma efetiva redução nos
seus preços, o que contribui para uma melhor qualidade de vida, além da significativa
participação do agronegócio brasileiro na economia nacional.
22

                                       CAPÍTULO II




2 CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES NATURAIS QUE CONDICIONAM A
PRÁTICA DA AGRICULTURA E DO PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO
LOCAL



       Solo, vegetação, hidrografia, biodiversidade e clima são fatores os quais a agricultura
depende muito para se efetivar e a comercialização de produtos oriundos desta é um fator
econômico e social que também merece ser enfocado.
       Neste capítulo, abordará-se a caracterização de cada um destes fatores enfocando a
importância deles para a agricultura bem com suas vulnerabilidades em função da prática da
mesma. Além de descrever o processo de comercialização dos produtos agrícolas na
localidade.



2.1 Solo



       O solo é um fator muito importante para o desenvolvimento da agricultura. Pois
dependendo das condições as quais ele se encontra no momento da prática agrícola, pode o
ser muito produtivo ou não. Se estiver bem conservado dará uma grande produção. Mas, se
estiver ao contrário disso, a produtividade é ínfima. Isso porque “o solo é, além de
ancoradouro, reservatório de alimentos para as plantas. A planta precisa do solo para
alimentar e fixar-se; nele, através de suas raízes, se prende e se alimenta” (GALETI, 1973, p.
69).
       Para que o solo seja um bom reservatório de alimentos, com bastante nutrientes e
água, tem que ser além de profundo e rico, usado de forma racional objetivando alcançar o
máximo rendimento de maneira permanente, sendo preciso para isso que o agricultor deixe de
buscar altas colheitas com a utilização de técnicas inadequadas, expondo-o a castigos
inconcebíveis, desenvolvendo, na maioria das vezes uma agricultura de rapina, de depredação,
de saque, de destruição (op.cit., 1973).
23

       Mas, infelizmente, a situação rotineira em grande parte do território brasileiro é,
apesar de já existir certo grau de conscientização a respeito da conservação dos solos por parte
da população agricultora, a exaustão desenfreada dos mesmos por meio de técnicas de
manejas degradantes que causa enormes prejuízos aos pequenos agricultores por não
disporem de recursos técnicos e financeiros para recuperar as áreas degradadas.


                        Quando se percorre o interior do Brasil, verifica-se com certa generalidade o
                        problema da destruição de nossos solos. Esta destruição, ora é provocada por erosão,
                        proveniente da falta ou a quase falta de medidas práticas de conservação de solos,
                        ora ela se manifesta por queimadas indiscriminadas que já é destruição premeditada
                        pelo homem, que, por falta de melhores esclarecimentos a realiza, pensando agir
                        corretamente. A destruição de nossas terras também se processa ao longo dos anos
                        de cultivo, às vezes de maneira quase sem se perceber. Isto se deve ao fato das
                        culturas de modo geral, serem esgotantes em matéria orgânica (adubo orgânico), e o
                        agricultor via de regra não a repõe no solo, anualmente, como deveria ser o correto
                        (SILVA, 1982, p. 475)



       O solo além de ser a base de sustentação do desenvolvimento e reprodução das
culturas alimentícias consumidas pelo homem e pelo os animais é também o objeto de
ocorrência da erosão que é o processo de desagregação, transporte e deposição do solo,
principalmente pelas águas tanto pluviais quanto fluviais e pelo vento.
       Conforme Bezerra e Veiga (2000) a ocorrência mais comum de erosão decorrente da
prática da agricultura é a da erosão laminar que, ao contrário da erosão em sulcos ou das
voçorocas, é pouco perceptível aos olhos dos agricultores, mas traz efeitos altamente
destrutivos ao rendimento das lavouras, pois os sedimentos provenientes dessa erosão contêm
nitrogênio e fósforos, prováveis desencadeadores de processos de eutrofização das águas, um
crescimento de nutrientes que favorece o desenvolvimento rápido das mesmas.


                                   Figura 01: Erosão laminar.




                      Fonte: Santos, 2011.
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       Os autores reforçam ainda que o uso de terras inaptas para certas atividades agrícolas
pode ser também apontado como um dos principais fatores que provocam a erosão, pois os
agricultores não submetem o uso das terras à análise de seu potencial agronômico deixando
que a localização de suas culturas responda a um conjunto variado de fatores onde o potencial
produtivo não resulta de uma análise sistemática.



2.1.1 Manejo do solo na localidade São João



       O preparo do solo para o plantio das lavouras ocorre de forma degradante. Os
agricultores presos a costumes fundamentados em conhecimentos empíricos utilizam-se de
técnicas de manejos que resulta na baixa produtividade dos produtos cultivados e no
enfraquecimento e desgaste do solo. A única inovação introduzida na agricultura local é a
utilização de agrotóxicos, principalmente, os herbicidas usados no controle das ervas daninha.
Mas, isto em vez de ser considerado um avanço, torna-se um grande problema porque o seu
uso é feito de maneira descontrolada tanto nas quantidades aplicadas como no destino das
embalagens vazias causando prejuízos para o meio ambiente.


                 Figura 02: Agrotóxicos utilizados pelos agricultores locais.




                   Fonte: Santos, 2011.



       Para a introdução das lavouras, os agricultores fazem o roço, a derruba e depois a
queima da mata, usando nestes processos foice e machado como instrumentos. Depois da
colheita a área com o solo esgotado e totalmente exausto é abandonada e o processo é
repetido em outra gleba de terra no ano seguinte. Sendo isso tudo, uma prática não
25

compensatória para os agricultores e para a permanência das boas condições físicas, químicas
e biológicas do solo, pois além de não representar alta produtividade, provoca a perda da
fertilidade do último.


                         Figura 03: Roça com as lavouras ainda pequenas.




                   Fonte: Santos, 2011.



       Os métodos utilizados para eliminar a vegetação natural, visando à instalação de
plantas pela destruição da mata e posterior queima do material acumulado são completamente
destrutivos, porque se incorporam cinzas ao solo, e o efeito destas é transitório, no máximo
por dois anos. O fósforo, o potássio e os micronutrientes contidos nas cinzas são rapidamente
levados pelas chuvas. Por sua vez, a maioria do nitrogênio já havia desaparecido volatizado
pela queima. Ainda, o efeito do sol forte (acrescido do impacto das chuvas) sobre o solo nu
impermeabiliza-o e compacta-o (BONILLA, 1992).
       No controle das ervas daninhas, a capina foi substituída pelo o uso de herbicidas que é
outro problema, já que “além dos desequilíbrios ecológicos, desde os anos setentas, tornaram-
se bem mais frequentes os casos de contaminação dos recursos hídricos, dos solos, dos
trabalhadores rurais e das cadeias alimentares, incluindo o próprio homem” (SHIKI, 1984;
RÜEGG et al.,1986 apud BEZERRA; VEIGA, 2000, p. 70).
       Esta situação faz com que a agricultura de subsistência não seja capaz de garantir
eficiência alimentar aos agricultores. Nem de permitir o seu desenvolvimento sem
comprometer a sustentabilidade dos recursos naturais. Por ter sua efetivação encravada na
primitividade proporciona apenas parte do que necessitam para sobreviver e coloca em risco o
equilíbrio dos sistemas naturais.
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2.2 Vegetação



        A cobertura vegetal é essencial tanto para a reposição de nutrientes na parte superficial
do solo tornando-o propício para a prática da agricultura quanto para a sua proteção contra a
erosão, já que, ela apara a chuva evitando o contato direto dos pingos d’água contra o mesmo.
        Em relação essa importância da vegetação para o provimento de nutrientes no solo,
Galeti (1973, p. 245) escreve:


                        As árvores, normalmente, têm raízes profundas e, assim sendo, vão buscar os
                        nutrientes a grandes profundidades, depositando-os na superfície quando da derruba
                        das folhas, ramos, frutos, etc. O enriquecimento é em matéria orgânica e também em
                        nutrientes (a matéria orgânica tem nutrientes e quando se decompõe, libera-os).



        Mas, a destruição da vegetação que ocorre, principalmente no preparo do solo para a
introdução da agricultura e por via das queimadas causa grandes desequilíbrios na natureza.
Pois,


                        Além de prejudicar a fertilidade do solo, as queimadas, destruindo facilmente
                        grandes áreas de vegetação natural, trazem outras desvantagens, como a de retirar
                        aos pássaros a possibilidade de construírem seus ninhos. E o desaparecimento dos
                        pássaros acarreta o desaparecimento de um importante fator de extermínio de pragas
                        de toda espécie (HOLANDA, 1995, p. 68).



        De acordo Bezerra e Veiga (2000), essa destruição também leva à degradação da
estrutura física do solo e, em consequência, facilita os processos de erosão, além do
enfraquecimento da estabilidade dos agroecossistemas, devido a desequilíbrios provocados
pela eliminação de inimigos naturais de pragas e a redução dos recursos hídricos. Além dos
prejuízos à biodiversidade, há perda de matéria orgânica do solo, e os terrenos tornam-se
praticamente terras mortas, muitas vezes erodidas e desertificadas, que o ecossistema a leva
muito tempo para recompor.



2.3 Hidrografia



        A agricultura tem sua origem intimamente ligada à presença dos recursos hídricos. No
passado, ela era praticada nas áreas drenadas pelos grandes vales fluviais. Uma vez por ano,
27

ou mais, estes vales, transbordavam alagando extensas áreas de terras e nelas depositando
toneladas de nutrientes tornando-as muito fértil. E era neste solo que, sem outro adubo além
da terra aluvial, se produzia ricas colheitas.
       Com o passar dos anos, novas técnicas agricultáveis surgiram permitindo que o
homem deixasse de depender exclusivamente da natureza e passasse a controlar diretamente o
processo produtivo, onde ele interferindo nos fatores naturais de acordo com seus objetivos
passou a criar as condições propícias de que a agricultura precisa para o seu desenvolvimento.
Na irregularidade de algum destes fatores, este homem atual já consegue encontrar soluções
que antes não eram possíveis ou não tinham a mesma precisão de hoje. O solo, por exemplo,
quando não dispõem dos elementos químicos necessários ao desenvolvimento vegetativo das
plantas é submetido ao processo de correção onde estes elementos são introduzidos no mesmo
eliminando esta deficiência.
       Mas, apesar da certa dominância da natureza por parte do homem moderno, nenhum
dos conhecimentos deste, até hoje foi capaz de encontrar técnicas agricultáveis que
dispensasse os fatores naturais como o solo, o clima, a vegetação e principalmente a água.
       A água é tão necessária e insubstituível para a ocorrência da atividade agrícola porque
é impossível existir germinação, desenvolvimento e reprodução das plantas na ausência da
mesma.


                         A água é de vital importância para as plantas. A água é veículo de transporte de
                         nutrientes para os vegetais: a água dá turgidez aos tecidos; ela mantém em equilíbrio
                         a temperatura na planta; ela transporta, como seiva, os nutrientes para todas as partes
                         da planta. Não pode existir vida em ausência da água (GALETI, 1973, p. 222).



       Ela é um recurso natural de grande importância à sobrevivência do homem por lhe
propiciar conforto e condição de geração de riquezas via as múltiplas maneiras de seu uso,
dos quais pode-se destacar o abastecimento das populações e a produção de alimentos que são
indispensáveis a vida humana, além de geradora de capital.
       Até aqui, discutiu-se sobre a importância da água para a atividade agrícola. Porém, é
salutar também abordar as suas vulnerabilidades em função da prática desta atividade.
       A retirada da vegetação que é uma das técnicas utilizadas no preparo do solo para a
prática da agricultura pode causar danos incalculáveis para a hidrografia próxima ao local de
ocorrência deste evento. Segundo Adam (2001) a devastação das matas ciliares e da
vegetação nativa, além de contribuir para a contaminação da água, contribui também para o
assoreamento do leito dos rios e bacias hidrográficas.
28

       Ainda de acordo com o autor, isso se deve ao fato de que os rios, lagos, mares e
oceanos são o repositório final dos resíduos líquidos e sólidos, gerados pela atividade
humana. Por estarem situados em cota inferior estão destinados, por imposição gravitacional,
a receber todos os produtos da erosão contínua e milenar dos solos, contendo toda sorte de
produtos geológicos, agrícolas, inorgânicas, tóxicos ou fertilizantes, procedentes da superfície
dos relevos continentais.
       Em face do discutido até aqui, fica clara a necessidade de se promoverem instrumentos
que possibilitem uma gestão mais racional do recurso água (BEZERRA; MUNHOZ, 2000, p.
54).
       É preciso que a sociedade comece a ter “aspirações coletivas de racionalização do uso
da água, de conservação e de preservação ambiental e produzir ações que induzam os usuários
da água a modificarem um comportamento julgado inadequado em relação à utilização dos
recursos hídricos” (IDEM, 2000, p. 55).
       E a população agrícola é a que mais precisa se preocupar com a conservação e
manutenção da qualidade da água, já que, a prática da agricultura quando feita de forma
irracional causa grandes danos a ela, dentre os quais a contaminação e o desperdício, o que é
um prejuízo incalculável não só pra esta atividade como para toda a vida terrestre.



2.4 Biodiversidade



       A importância da biodiversidade para a agricultura recai no papel que as plantas, os
animais, os microorganismos e os ecossistemas desempenham na natureza em processos
evolutivos. As inter-relações existentes entre ambos cria as condições para que o homem
possa cultivar suas culturas.
       Cada um dos elementos constituinte da biodiversidade tem sua função e no
desempenho desta, eles fornecem subsídios para a reprodução, multiplicação e crescimento
uns para os outros mantendo assim uma interdependência estreita e total. “Os vegetais retiram
do solo e do ar, elementos que graças ao seu poder de síntese, realizadas nas folhas pelos
pigmentos verdes, são transformados em matéria orgânica, constituindo a alimentação
animal” (GALETI, 1973, p. 40). O animal ao ingerir essa alimentação aproveita a parte que
lhe é útil e necessária e elimina o resto por meio de seus dejetos que são introduzidos ao solo,
tornando-o fértil e provedor de nutrientes para o desenvolvimento e produção tanto das
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culturas nele plantadas pelo homem quanto para as plantas oriundas do processo natural
empreendido pela natureza.
       No ecossistema os animais e os vegetais são uma grande cadeia e interligados entre si
por peças que quando danificadas precisam ser substituídos por outras novas para a
permanência desta relação.


                       O ecossistema é um sistema funcional, delimitado arbitrariamente, onde se dão
                       relações complementares entre os organismos vivos e seu ambiente. É constituído de
                       organismos vivos, que interagem no ambiente de fatores bióticos, e de componentes
                       físicos e químicos não-vivos do ambiente como solo, luz, umidade, temperatura, etc;
                       que constituem os fatores abióticos. As relações entre ambos formam a estrutura do
                       sistema, e os processos dinâmicos de que participam constituem a função do sistema
                       (AQUINO; ASSIS, 2005, p. 55).



       A prática da agricultura por meio de ações irracionais tem causado grandes impactos
nos biomas brasileiros. Pois além da utilização de técnicas de agricultagem arcaicas, os
praticantes desta atividade incluem a premissa de que os recursos naturais são inesgotáveis e
que, portanto nunca vão acabar.
       Porém, a verdade é que da forma que estão sendo utilizados pelo homem, esses
recursos corre o risco sim de si tornarem escassos. A interferência humana na relação
existente no conjunto dos elementos naturais desmontando todo o sistema que a natureza
levou milhares de anos para consolidar compromete a disponibilização suficiente desses para
atender as necessidades futuras dos seres vivos.
       O ecossistema em seu estado natural tem uma grande capacidade de auto-regulação
que se mantêm em contínuo e perfeito funcionamento, conservando o fluxo normal de energia
e matéria, independentemente das variações ambientais (ADAM, 2001). Mas, o avanço
tecnológico responsável pela modernização da produção tem resultado na aceleração da
destruição do relacionamento entre as partes que compõem o universo natural.
       E a atividade agrícola de subsistência é uma das que mais prejudica a manutenção da
regularidade da biodiversidade, já que pode causar a extinção de espécies vegetais e animais
quando da desregulação da interação existente entre a flora e a fauna.


2.5 Clima


       O clima é um dos fatores que mais interfere no processo prático da agricultura. Ele
tem grande influência sobre as plantas através de seus elementos. “Dentre eles, para efeito de
30

agricultura, pode-se destacar: temperatura, umidade (precipitação) e luminosidade” (GALETI,
1973, p. 274).
       Esses elementos exercem essa ampla influência nesta atividade porque as suas
alterações podem alterar a produtividade e o manejo das culturas por influírem de maneira
decisiva na vida vegetal. A falta ou a irregularidade de um deles causa enormes desequilíbrios
nos rendimentos esperados das lavouras cultivadas.
       O cultivo de qualquer lavoura depende de balanços hídricos e condições térmicas
adequadas às propriedades e características de cada uma delas. A falta de chuva combinado
com altas temperaturas pode ocasionar perda de safras inteiras. Por outro lado, precipitações
intensas, além de acelerarem a erosão dos solos já frágeis por agriculturas intensivas,
influenciam no desenvolvimento das culturas de forma positiva ou negativa. A cultura do
arroz, por exemplo, requer bastante água para o desenvolvimento das plantas. Já o feijão, tem
face de exigência de chuvas bem diferentes às do arroz, ou seja, é bastante sensível a grandes
quantidades de água, sendo o desenvolvimento vegetativo e sua produtividade muito
prejudicada quando da enorme ocorrência das precipitações.
       As altas temperaturas causam efeitos negativos no desenvolvimento e reprodução das
culturas. O feijão novamente como exemplo, é uma cultura também muito sensível as
variações da temperatura, sendo muito afetado na elevação da mesma.


                       A temperatura do ar pode ser considerada como o elemento climático que exerce
                       maior influência sobre a porcentagem de vingamento de vargens e, de maneira geral,
                       faz referência sobre o efeito prejudicial das altas temperaturas sobre o florescimento
                       e a frutificação do feijoeiro, especialmente se a cultura não dispor do suprimento
                       hídrico adequado (AIDAR, 2006, p. 342).


       Mas, atualmente com os avanços tecnológicos e destes as pesquisas mais eficientes, já
é possível experimentar alternativas que possam garantir uma harmonia na relação entre os
elementos do clima e a produtividade agrícola. E uma dessas alternativas seria a combinação
de elevadas concentrações de CO2, temperatura e precipitação, conforme o pensamento de
Lima (2005, p. 172) quando diz:


                       É fundamental se conhecer (e, na medida do possível, prever) possíveis alterações na
                       produtividade agrícola, causadas pelo efeito combinado de elevadas concentrações
                       de CO2, temperatura e precipitação. Crescentes concentrações atmosféricas de CO 2
                       terão efeitos importantes sobre a produção vegetal e consequentemente sobre a
                       pecuária e recursos naturais no planeta. Este impacto se dará, em princípio, por meio
                       de um “efeito fertilizante de CO2”. Em condições experimentais controladas, este
                       efeito resulta em aumento das taxas de fotossínteses (em 20 a 30%) e redução da
                       condutividade de estômatos, incorrendo no uso mais eficiente da água.
31

         Para um melhor rendimento na atividade agrícola e ao mesmo tempo amenizar os
impactos causados pela sua realização, é preciso que o homem se adapte e respeite as
peculiaridades e imposições do clima.
         Ele é o fator chave no condicionamento da prática da agricultura e, por isso, sendo
extremamente necessário o seu estudo para que as sociedades agrícolas o conheçam mais
detalhadamente e consequentemente planeje melhor o manejo de seus cultivos visando à
eficiência da produção tanto em quantidades quanto no respeito às limitações do mesmo.



2.6 Comercialização



         A comercialização de produtos agrícolas é uma atividade presente na cultura do
homem rural. Por necessitar de outros itens essenciais a sua sobrevivência, ele precisa vender
parte do que produz para adquirir-los. Mesmo quando não dispõe de produção em excesso a
sua subsistência com a família. Os produtos destinados a este fim, em sua grande maioria ou
totalidade não tem valor agregado, tendo um baixo valor comercial no mercado e são
compradores potenciais destes, os atravessadores.



2.6.1 O processo de comercialização local



         A comercialização dos produtos oriundos da agricultura de subsistência na localidade
São João ocorre ocasionalmente e de maneira desorganizada. A pequena produção colhida em
cada safra é toda consumida pelos agricultores com suas famílias. A pouca quantidade
comercializada é para adquirir outros itens básicos à sobrevivência dos agricultores que a
pratica e não pela existência de excedentes. Na maioria dos casos, esta produção não é nem
suficiente para alimentá-los durante a entressafra, como foi constatado durante a pesquisa de
campo.
         Em se tratando da parte comercializada é bom lembrar que os produtos são vendidos
da forma que são colhidos, sem passar por nenhum tratamento para valorizá-los
comercialmente. E é feita tanto diretamente ao consumidor final quanto a atravessadores, o
que constitui-se em uma grande dificuldade de ascensão social para os agricultores por
conseguirem pouca renda com esta prática.
32

       Confirmando esta ideia, Camilo (2000) diz que a comercialização dos produtos
agrícolas tem sido uma grande dificuldade para a maioria dos produtores rurais porque grande
parte dos produtores entrega a sua produção aos intermediários a preços muito baixo do que
poderiam receber se assumissem outras etapas no processo de comercialização. Por estarem
envolvidos diretamente com a produção, não têm conhecimento do mercado, não sabem lidar
com os compradores e ficam em posição desvantajosa na hora de negociar a sua mercadoria.
       A comercialização individual constitui outra desvantagem por levar a falta de poder de
mercado por parte dos agricultores. Pois o comércio realizado por agricultores fragmentados,
em pequena escala, resulta na perda de mercado e o poder de negociação dentro desse grande
orientador da economia moderna (STEELE et al.,1971).
       Vale ressaltar ainda que a procura pelos produtos agrícolas é insignificante na referida
localidade. Fazendo com que a comercialização seja um acontecimento salteado e sem
importância econômica para os agricultores, haja vista que quando conseguem angariar algum
dinheiro com a venda de uma pequena quantidade por vez, passam muito tempo sem fazer
mais isso por falta de compradores.
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                                     CAPÍTULO III




3 PROPOSTAS PARA UMA PRÁTICA AGRÍCOLA MAIS EFICIENTE NA
LOCALIDADE SÃO JOÃO



       Durante os trabalhos de campo realizados na localidade São João, encontrou-se uma
prática agrícola ainda centrada em técnicas de produção arcaicas que a cada safra, além de
não fornecer a quantidade de alimentos suficientes à alimentação dos agricultores com suas
famílias, provocam degradações ambientais.
       Neste contexto, é oportuno sugerir técnicas de manejos que melhore as práticas da
agricultura de subsistência na localidade, porque o futuro desta atividade depende de práticas
mais conscientes. É preciso que os agricultores locais repensem melhor os seus hábitos
agrícolas no sentido de produzir mais conservando os agroecossistemas para garantir as
condições que a mesma precisa, por muitas décadas.
       Para começar, é importante reduzir a pressão sobre os recursos naturais, procurando
fixar a agricultura na mesma área espacial evitando assim, a contínua incorporação de novas
áreas (HOMMA, 2006). Pois um dos grandes problemas lá encontrado é a migração das roças
de uma área para outra a cada colheita. Disso resulta a destruição das matas, degradação dos
solos e o risco da extinção de espécies vegetais devido ao fato de que muitas das vezes, áreas
antes cultivadas são novamente introduzidas ao processo produtivo num período muito curto e
que não é suficiente para o terreno recuperar os nutrientes perdidos no processo anterior e
permitir o desenvolvimento das plantas desmatadas.
       A mudança das concepções errôneas a respeito das novas técnicas agricultáveis
modernas por parte dos agricultores é outra necessidade urgente. Técnicas de manejos menos
degradantes e que representam alternativas revolucionárias na eficiência produtiva já estão
disponíveis e viáveis economicamente.
       Bezerra e Veiga (2000, p. 49) colocam como excelentes e viáveis tanto
economicamente como produtivamente para a prática da agricultura, os seguintes manejos:
“policultivo, fusão de produções, animal e vegetal, rotação de culturas, consorciação, práticas
de conservação e recuperação de solos, adubação verde, adubação orgânica, plantio direto
sem herbicidas, uso de biofertilizantes, manejo integrado e controle biológico de pragas”.
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Figura 04: Policultura.                            Figura 05: Consorciação entre o milho e o
                                                   feijão.




Fonte: Santos, 2011.                              Fonte: Santos, 2011.


3.1 Implantação de Práticas Conservacionistas



        Em complementação das técnicas e ações anteriormente sugeridas, é cabível a
implantação das práticas conservacionistas caracterizadas a seguir.



3.1.1 Rotações de culturas



        Prática que consiste na alternância de culturas no mesmo terreno por várias safras. É
conhecida desde a antiguidade, e usada por agricultores de quase todas as partes do mundo. É
uma prática simples, que não acarreta outros gastos senão os comuns, trazendo grandes
benefícios ao agricultor e sua terra. Os quais são: controle de doenças e pragas, pois quando
se faz a rotação plantando uma cultura diferente daquela que esteve na gleba, as pragas e
doenças desaparecem, porque não encontram as plantas sobre as quais se desenvolveram;
controle de ervas daninhas, pelo fato de que quando se altera o tipo de cultivo ou tipo de
exploração, é possível extinguir determinadas ervas; melhor aproveitamento das riquezas
minerais do solo porque cada planta tem exigência particular em nutrientes e melhor
aproveitamento do solo em suas várias profundidades, já que as plantas também tem sistemas
radiculares diferentes (GALETI, 1973).
        Com esta mesma visão Romeiro (1992 apud BEZERRA; VEIGA, 2000) coloca que as
rotações de culturas são um excelente meio de se manter a estabilidade de um
agroecossistema, pois reduzem, de forma drástica, o risco de infestação de pragas e de certas
doenças. Nos sistemas rotacionais, os recursos disponíveis – água, nutrientes, luz, entre outros
35

– são utilizados de modo mais eficiente, pois aliados ao retorno de matéria orgânica ao solo,
as rotações contribuem para manter sua estrutura física, ajudam a reduzir a erosão e, em
consequência, melhoram a fertilidade dos solos. A combinação desses fatores leva,
invariavelmente, a aumentos de produtividade das lavouras.
       É também uma excelente alternativa para a preparação do solo para o cultivo das
lavouras porque além de possibilitar a reposição de nutrientes para as culturas que virão em
sucessão, via adubos minerais, tem-se a vantagem adicional da fixação simbólica do
nitrogênio atmosférico pela leguminosa (KLUTHCOUSKI et al., 2006).


3.1.2 Controle biológico



       O aumento de populações de inimigos naturais das pragas e o uso de plantas repelentes
de outras plantas e insetos, constituem práticas que reduzem drasticamente o uso de
agrotóxicos. Sendo um ganho enorme para os sistemas naturais.


                        Muitas doenças e pragas incidentes sobre as plantas e animais afetam o rendimento,
                        aumentando custos. O controle por produtos químicos põe em risco a saúde do
                        agricultor e deixa resíduos que causam danos ao meio ambiente. Dentre os avanços
                        em controle biológico e manejo de pragas em plantas destacam-se o da mosca-da-
                        renda; na seringueira, o do percevejo-da-soja; do bicho-mineiro, na produção de
                        café; e do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), fungo de solo que incide sobre o
                        feijão, soja, o algodão, o girassol, o tomate e vários outros (SPEHAR, 2006, p. 217).



       O controle biológico constitui-se numa forma barata e sustentável de controle de
pragas por ser um processo natural que usa como matéria-prima os próprios recursos naturais
oferecidos pela natureza e suas relações no ecossistema, no caso do aumento dos predadores
naturais da espécie a qual se deseja controlar.
       É uma prática que proporciona um estado de equilíbrio das pragas no agroecossistema,
haja vista que, o controle biológico natural refere-se à população de inimigos que ocorre
naturalmente. Atendendo a um dos preceitos básico de controle biológico, os parasitóides ou
predadores devem ser preservados e, se possível, aumentados, por meio da manipulação de
seu ambiente de forma favorável, ou seja, usar inseticidas seletivos em épocas corretas,
reduzir chocagens de produtos químicos, evitar práticas culturais inadequadas, preservar
habitat ou fontes de alimentação para inimigos naturais. Esses procedimentos são muito
importantes em programas de manejo de pragas, pois são responsáveis pela mortalidade
36

natural no agroecossistema e, consequentemente, pela manutenção do nível de equilíbrio das
pragas (PARRA; KOVALESKI, 2006).


3.1.3 Plantio direto



        Plantio feito diretamente em solo que contêm os restos das culturas cultivadas
anteriormente. E consiste em uma prática bastante lucrativa tanto para os agricultores quanto
para a natureza. A devolução dos nutrientes retirados do solo pelas lavouras antes cultivadas é
uma das vantagens, já que depois de mortas e mantidas no solo elas constituem matéria
orgânica para o mesmo.


Figura 06: Plantio de milho no solo coberto       Figura 07: Palha de carnaúba depois de
com palha de carnaúba.                            extraído o pó, utilizada como adubo.




Fonte: Santos, 2011.                              Fonte: Santos, 2011.



        Nas propriedades que adotam o plantio direto, a manutenção da cobertura morta
contribui para a conservação da estrutura dos solos, reduzindo a erosão em até 90% e
ampliando os níveis de fertilidade, devido ao maior acúmulo de matéria orgânica e de certos
nutrientes (SHIKI, 1984 apud BEZERRA; VEIGA, 2000, p. 78).
        Calegari (2004 apud BORGES; GASSEN, 2006) afirma que além da possibilidade de
melhoria e conservação do solo, as plantas mortas promovem consideráveis aumentos nos
rendimentos das culturas subsequentes e contribuem para a diminuição da infestação de
invasoras, resultando na redução do custo de produção dessa nova cultura.
        Mas, além das vantagens agronômicas, há também as econômicas. Com este sistema
há uma maior produtividade e redução de custos no manejo do solo, significando menos
gastos e mais rentabilidade econômica na produção de alimentos agrícolas para os pequenos
produtores.
37

       O plantio direto é também, a melhor alternativa para a manutenção da qualidade das
águas superficiais e subterrâneas. Como resultado do uso do sistema nas propriedades
acontece a redução dos custos de tratamento da água destinada ao abastecimento urbano, a
preservação das estradas, dos leitos dos rios e o aumento na vida útil das hidrelétricas. Além
do beneficio para a agricultura, já que é o segmento que mais utiliza esse recurso estratégico,
representando em torno de 70% do consumo (BORGES; GASSEN, 2006).



3.2 Formação de Cooperativas



        Por fim, é indispensável que se promova articulações, em âmbito local, com o
objetivo de criar mecanismos capazes de orientar e garantir as condições que os agricultores
precisam para negociar seus produtos no mercado com aumento de seus lucros. Em uma
conjuntura econômica a qual se vive atualmente, a sobrevivência depende da união com focos
comuns. E a formação de cooperativas constitui-se em uma ótima opção para o enfrentamento
das adversidades impostas aos pequenos produtores rurais pelo “imperador” mercado
orientado pelas poderosas unidades produtoras de alimentos agrícolas.
       Segundo Steele et al.(1971) as cooperativas de agricultores são organizações que
representam o intuito de oferecer extensa variedade de serviços, para ajudar a vender os
produtos dos mesmos e para auxiliá-los na compra das mercadorias de que necessitam. Além
de representarem um meio pelo qual as pequenas unidades agrícolas, numerosas e
independentes, possam competir efetivamente num mundo comercial composto de unidades
maiores e mais poderosas.
       O cooperativismo representa a abertura de muitas portas para os produtores rurais. A
facilidade de negociação com as grandes agroindústrias, supermercados, armazéns, etc., é
uma certeza, já que nenhuma grande indústria ou grandes comerciantes compram produtos de
um produtor que comercializa individualmente. O maior poder de articulação na hora da
compra de insumos, transporte e beneficiamento da produção, é outra característica benéfica
das cooperativas.
       Para Camilo (2000) a união de vários agricultores significa maior eficiência na luta
pela conquista de espaços diante aos grandes aglomerados agroindustriais e comerciais. Pois,
juntos, os produtores conseguem resolver problemas que não conseguiriam sozinhos e se
fortalecem para enfrentar as dificuldades do mercado.
38

       É necessário, portanto, difundir a ideia de que para crescer financeiramente atingindo
com isso um nível social estável, é recomendável ditar uma produção sustentável
ecologicamente e de escala capaz de garantir a alimentação adequada dos agricultores com
suas famílias e criar excedentes para a venda. Com a consolidação de tudo isso surgirá
naturalmente o chamado para eles deixarem de viver o atual momento que é guiado por um
verdadeiro depósito de acomodações e se insiram em uma realidade geradora de progressos e
eficiência alimentícia e comercial.
39

                                      CAPÍTULO IV




4 METODOLOGIA



       A metodologia contemplada percorreu as seguintes etapas: no primeiro momento foi
realizado o levantamento bibliográfico a partir da literatura sobre o tema proposto. No
segundo momento foi elaborado um roteiro de observação da área de estudo, de acordo com
os objetivos da pesquisa. Utilizou-se também do registro visual por entre o levantamento
fotográfico que serviu para mostrar detalhes sobre o local da realização da mesma. Logo após,
realizou-se a pesquisa de campo.
       Optou-se por uma pesquisa exploratória e descritiva através do método dedutivo em
que se buscou conhecer a produção, comercialização e consumo dos produtos cultivados na
agricultura de subsistência na localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí.
       A pesquisa caracterizou-se como quanti-qualitativa, onde foi utilizada dentro do
universo de agricultores da localidade uma amostragem de 20(vinte) indivíduos que
corresponde a aproximadamente 40,82% da população residente na mesma.
       A investigação ocorreu através de entrevistas aos agricultores. Elas contavam com
perguntas fechadas e abertas, como forma de obtenção dos dados e foram feitas
individualmente a cada um deles. Como complemento houve o acompanhamento por meio do
contato direto com o plantio e a colheita dessas culturas com uma das famílias residentes na
localidade, na safra 2010/2011. Além da visita ao escritório do IBGE regional para maiores
informações a respeito da área pesquisada.
       Cumpridas todas essas etapas descritas foram realizadas a análise e organização dos
dados coletados. Segundo Prestes (2008, p. 28-29), depois de “coletado o material, é preciso
analisá-lo, selecioná-lo e dividi-lo em tópicos que constituirão as partes do trabalho. Feito isso
e após muita reflexão, pode-se organizar o plano definitivo”.
       Em seguida a elaboração do relatório final dos dados que possibilitaram os resultados
propostos pela investigação.
40

4.1 Localização e Caracterização do Município de Cabeceiras do Piauí e da Localidade
São João

4.1.1 Cabeceiras do Piauí


       A cidade de Cabeceiras do Piauí situa-se no Norte do Estado do Piauí. Faz parte da
Mesorregião do Norte Piauiense e da Microrregião do Baixo Parnaíba Piauiense. Está
localizada em 04º 28’35” de latitude Sul e 42º 18’33” de longitude Ocidental, com uma área
de 608,505 km2 de extensão territorial.
       O município apresenta clima tropical semiárido, com duração do período seco de seis
meses. A vegetação predominante é o campo cerrado e parque, com manchas de caatinga
arbustiva. O solo é composto de latossolos vermelho-amarelo distróficos, combinados com
areias quartzosas distróficas e solos hidromórficos (ANUÁRIO DO PIAUÍ, 2008).

4.1.2 Localidade São João


        A localidade São João está situada na zona rural do município de Cabeceiras do Piauí
em 04º 46’33” de latitude Sul e 42º 31’52” de longitude Oeste. Limita-se ao Norte com a
localidade Nova Brasília, ao Sul com a sede do município, a Leste com a localidade Água
Branca e a Oeste com a localidade Zé Gomes. Conta atualmente com 12 famílias e uma
população de 49 habitantes.
        A sua economia gira em torno da agricultura de subsistência, da criação de animais
como aves, bovinos, caprinos, ovinos e suínos com destaque maior para os três últimos
rebanhos. Além dos recursos financeiros advindos de aposentadorias, do Programa Bolsa
Família do Governo Federal e /ou das finanças oriundas de remessas enviadas por membros
das famílias que estão morando fora, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste do país.
       A escolaridade de seus moradores é baixa, apesar de três destes já possuírem cursos
superiores.

                   Figura 08: Imagem de satélite da Localidade São João.




             Fonte: Google, 2011.
41

4.2 Discussão da Abordagem aos Agricultores


                                Gráfico 01: Os produtos cultivados




        Fonte: Pesquisa direta, 2011.



       Pesquisa feita com 20 agricultores sobre quais os produtos por eles cultivados, na
localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí. Dos quais 100% falaram que cultivam
o milho, 90% o feijão, 85% o arroz, 65% a mandioca e apenas 15% outros produtos.
       Constatou-se com estas respostas que os principais produtos cultivados na referida
localidade são: o milho, o feijão, o arroz e a mandioca. Com destaque maior para o milho e o
feijão. Mas, é preciso lembrar que os demais são também bastantes cultivados, a diferença é
que o milho e o feijão são plantados tanto nas roças quanto nos quintais das residências dos
produtores, já os demais unicamente nas roças.


         Quadro 01: Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados
                                            FEIJÃO
         PRODUTIVIDADE                  Nº. AGRICULTORES PORCENTGEM
        Menos de 01 saca de grãos               13          72,25%
        De 01a 05 sacas de grãos                05          27,25%
        De 05 a 10 sacas de grãos                0            0%
        Mais de 10 sacas de grãos                0            0%
                TOTAL                           18           100%
                                            MILHO
         PRODUTIVIDADE                  Nº. AGRICULTORES PORCENTAGEM
        Menos de 01 saca de grãos               01             5%
        De 01 a 05 sacas de grãos               06            30%
        De 05 a 10 sacas de grãos               08            40%
        Mais de 10 sacas de grãos               05            25%
                TOTAL                           20           100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.
42

       Gráfico 02: Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados




       Fonte: Pesquisa direta, 2011.



       Analisando primeiramente a produtividade do feijão, teve-se que 72,25% dos 18 que
corresponde aos 90% dos que cultivam esta cultura, colhem menos de uma saca de grãos e
27,75% de 01 a 05 sacas de grãos por safra.
       Notou-se com isso, que esta cultura, apesar de ser cultivada pela grande maioria dos
lavradores locais, tem uma baixa produtividade. Isso se deve ao fato de os agricultores
destinarem apenas uma pequena área de suas roças para o plantio da mesma. A maior área
ocupada por esse produto é nos quintais, mas estes são pequenos. O que justifica essa pequena
produção.
       Analisando a produtividade do milho. Dos agricultores abordados, 5% colhem menos
de 01 saca de grãos, 30% de 01 a 05 sacas de grãos, 40% de 05 a 10 sacas de grãos e 25%
mais de 10 sacas de grãos.
       Com esses dados, percebeu-se que o milho, tem um índice de produção razoável. E um
dos motivos para isto é o fato de ser cultivado por todos os agricultores entrevistados, onde
em todas as roças e/ou quintais ele é cultivado seja no sistema de monocultura ou consorciado
com as demais culturas.


                       Quadro 02: Técnicas utilizadas no preparo do solo
               TÉCNICAS                Nº. AGRICULTORES        PORCENTAGEM
         Técnicas rudimentares                 18                     90%
                 Aragem                        02                     10%
                 TOTAL                         20                     100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.
43

                       Gráfico 03: Técnicas utilizadas no preparo do solo




       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Diante dos dados apresentados no quadro e gráfico acima, confirmou-se a hipótese de
que a utilização de técnicas rudimentares é um dos fatores que contribui para o baixo índice
de produtividade na atividade agrícola da localidade, pois, 90% de seus agricultores utilizam
técnicas rudimentares como o roço, a derruba e a queima e instrumentos como a foice e o
machado no preparo do solo para o cultivo de suas lavouras.


                                       Quadro 03: Destino da produção
               DESTINO                 Nº. AGRICULTORES           PORCENTAGEM
             Consumo                            12                     60%
          Consumo e venda                       08                     40%
             TOTAL                              20                    100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


                                       Gráfico 04: Destino da produção




       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Perguntados sobre qual o destino da produção, 60% responderam que é destinada
unicamente para a alimentação, 40% disseram que além de consumirem vendem parte de
alguns dos produtos produzidos.
44

       Diante dessas respostas, teve-se uma visão dos objetivos da prática da agricultura de
subsistência na localidade do estudo. Para a maioria, a finalidade primordial é a alimentação
própria. A pequena produção é toda consumida pelos agricultores e suas famílias, não tendo
excedentes para a venda.
       A pequena parcela que comercializa além de desfalcar a pequena produção alimentar
da família, o faz por necessidades de atender a outros anseios vitais a sua sobrevivência.


                               Gráfico 05: Produtos comercializados




       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Abordagem feita com 08 produtores que corresponde aos 40% que destinam a sua
produção tanto para o consumo quanto para a venda. Dos quais, 75% comercializam farinha
(subproduto da mandioca), 25% milho, 25% goma (subproduto da mandioca), 12,5%
mandioca, 12,5% feijão e 12,5% arroz.
       De acordo com estes dados verificou-se que o produto mais vendido pelos poucos que
comercializam é a farinha. Isso ocorre por dois motivos: primeiro por seu bom índice de
produtividade e segundo por ser consumida em menor quantidade pelos agricultores,
sobrando para a venda.
       O arroz e o feijão são menos vendidos por representar artigos alimentícios de primeira
necessidade para os mesmos.
       O milho e a mandioca atendem necessidades alimentícias de seus animais. Justificando
assim, também a sua pouca comercialização.


                                   Quadro 04: Forma de comercialização
                  FORMA                   Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM
               Venda direta ao                   05           62,5%
              consumidor final
            Venda a atravessadores                 03                     37,5%
                  TOTAL                            08                     100%
         Fonte: Pesquisa direta, 2011.
45

                                Gráfico 06: Forma de comercialização




          Fonte: Pesquisa direta, 2011.



       A cerca da comercialização dos produtos, a pesquisa demonstrou que 62,5% dos
agricultores que comercializam parte de sua produção, vendem diretamente ao consumidor
final e 37,5% a atravessadores que são as pessoas que compram estes produtos para revender
ao consumidor final, obtendo lucro.
       Conforme os dados acima observou-se que a comercialização dos produtos advindos
da agricultura de subsistência na localidade é feita de forma desorganizada. Confirmando a
ideia de que a venda de produtos pelos produtores da mesma é um fato ocasional, ou seja,
ocorre quando há a necessidade urgente de adquirir outros itens básicos a sobrevivência dos
mesmos.


 Quadro 05: Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido
                                 entre uma safra e outra
      PRODUÇÃO                   Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM
      Não é suficiente                      17                      85%
      É suficiente                          03                      15%
      TOTAL                                 20                     100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


          Gráfico 07: Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período
                                compreendido entre uma safra e outra




          Fonte: Pesquisa direta, 2011.
46

       Indagados se a produção é suficiente para a alimentação deles com suas famílias
durante o período compreendido entre uma safra e outra, 85% responderam que não é
suficiente e logo que 15% disseram ser suficiente.
       Com estes dados notou-se que a agricultura praticada pelos moradores da localidade
pesquisada não tem significado meio de sobrevivência eficiente para os mesmos. A produção
conseguida durante a colheita é na grande maioria insuficiente para alimentá-los na
entressafra. Neste contexto, fica evidente que não é compensatório a prática da agricultura de
subsistência, na mesma, da forma atrasada como ainda é conduzida.



                       Quadro 06: A propriedade da terra onde trabalham
        PROPRIEDADE                     Nº AGRICULTORES       PORCENTAGEM
        Própria                                 06                  30%
        De terceiros                            14                  70%
        TOTAL                                   20                 100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


                       Gráfico 08: A propriedade da terra onde trabalham




        Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Com relação a terra onde agricultam, 30% realizam essa atividade em terras de sua
propriedade e a maioria, ou seja, 70% nas terras de propriedade de terceiros.
       Constatou-se através desses dados que a distribuição das terras no local de estudo é
irregular, o que causa um problema a ser superado. Já que a não propriedade da terra obriga os
agricultores trabalharem nas terras de outrem por meio da modalidade de arrendamento
mediante pagamento com parte da produção. Os agricultores participantes deste estudo pagam
aos donos das terras onde agricultam uma quantidade por 2.500 m² de área que é de 60 Kg (no
caso do arroz com casca e da farinha) ou 80 Kg de milho em grãos. Disso resulta a diminuição
da já pequena produção alimentar dos mesmos. Além de não poderem introduzir novas
47

técnicas de manejo pelo fato de terem que abandonar as áreas agricultadas no ano
incorporando novas áreas no ano seguinte. Pois o que acontece com frequência é os
proprietários arrendarem suas terras por uma colheita e depois não cederem mais para o
mesmo agricultor para a próxima colheita.


                     Quadro 07: Se tem outra atividade, além da agricultura
        ATIVIDADE                       Nº AGRICULTORES         PORCENTAGEM
        Tem outra atividade                     08                   40%
        Não tem outra atividade                 12                   60%
        TOTAL                                   20                  100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.


                     Gráfico 09: Se tem outra atividade, além da agricultura




        Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Quando questionados a respeito de haver ou não outras atividades além da agricultura
40% dos produtores informaram que têm e 60% não têm, conforme quadro e gráfico acima.
       Através destes dados verificou-se que a maioria trabalha exclusivamente na
agricultura, de onde retiram parte do seu sustento com a família. A outra parte é adquirida por
meio dos recursos financeiros advindos da Bolsa Família, de aposentadorias, ou de recursos
financeiros enviados pelos membros que estão morando fora, principalmente no Sudeste e
Centro-Oeste do país.

                                  Quadro 08: As outras atividades
          ATIVIDADES              Nº AGRICULTORES            PORCENTAGEM
            Pecuária                     04                       50%
             Outras                      04                       50%
            TOTAL                        08                      100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.
48

                                  Gráfico 10: As outras atividades




        Fonte: Pesquisa direta, 2011.



       Questionamento realizado a 08 agricultores que corresponde aos 40% que
responderam ter outras atividades, além da agricultura. Onde 50% disseram ter a pecuária
como atividade juntamente com a agricultura e 50% outras atividades não ligadas à mesma.
       De acordo com os dados acima apresentados, percebeu-se que a metade destes
agricultores pratica agricultura paralelamente a pecuária, mantendo a tradição do princípio da
ocupação do espaço físico piauiense.


                               Quadro 09: Utilização de agrotóxicos
            UTILIZAÇÃO                  Nº AGRICULTORES         PORCENTAGEM
               Utiliza                         11                    55%
             Não utiliza                       09                    45%
              TOTAL                            20                   100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.



                               Gráfico 11: Utilização de agrotóxicos




        Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Quando questionados se utilizam agrotóxicos, 55% falaram que sim e 45% disseram
que não usam.
49

       Observou-se diante deste resultado, que a maioria dos agricultores da localidade
introduziu o uso de agrotóxicos como método de manejo em sua prática.

                               Gráfico 12: Os agrotóxicos utilizados




         Fonte: Pesquisa direta, 2011.


       Pesquisa feita com 11 agricultores que corresponde aos 55% que utilizam agrotóxicos.
Dentre estes 90,90% utilizam o Roundup, 81,80% o Gramoxone 200 e 18,20% outros.
       Conforme os dados acima apresentados, notou-se que tanto o Gramoxone 200, quanto
o Roundup são amplamente utilizados na localidade pelos adeptos dos herbicidas. O que é
muito prejudicial para o futuro da atividade agrícola nesta. Pois o primeiro é de classe
toxicológica I, sendo extremamente perigoso ao meio ambiente e o segundo de classe
toxicológica III, o que significa ser medianamente perigoso ao mesmo.
       O uso descontrolado destes pode causar à contaminação, de animais, vegetação, e das
áreas de mananciais. Isso compromete a fertilidade do solo e por isso corre o risco de se
tornar pouco produtivo para a agricultura local.


                          Quadro 10: A finalidade do uso de agrotóxicos
        FINALIDADE               Nº AGRICULTORES               PORCENTAGEM
        Controle    de     ervas         08                        72,70%
        daninha
        Controle de pragas               01                             9,10%
        Controle de ervas                02                            18,20%
        daninhas e de pragas
        TOTAL                            11                            100%
       Fonte: Pesquisa direta, 2011.
50



                         Gráfico 13: A finalidade do uso de agrotóxicos




        Fonte: Pesquisa direta, 2011.



       De acordo com os dados apresentados no quadro e gráfico acima, constatou-se que
para os 90,90% dos 11 agricultores que utilizam agrotóxicos, a eliminação das ervas daninhas
por meio da capina foi substituída pelo uso de herbicidas.
51

                               CONSIDERAÇÕES FINAIS




       A pesquisa realizada na localidade São João mostrou que a agricultura de subsistência
tem importância inestimável para os agricultores nela residentes. Ela é à base de
sobrevivência dos mesmos por fornecer os itens alimentícios básicos como o arroz e o feijão,
além da farinha e da goma (subprodutos da mandioca). Também há produção do milho,
alimento essencial na dieta alimentar de seus animais. Complementando essa importância,
existe o fator cultural que a torna um hábito pertencente aos seus modos de vida.
       Entretanto, essa forma de agricultura não tem significado um meio de sobrevivência
eficiente por que a produção é pequena chegando a ser, na maioria dos casos, insuficiente para
a alimentação dos mesmos na entressafra tornando inviável um processo de comercialização
autentico e contínuo. Somente pequena parte da produção colhida durante a safra é
comercializada, sendo esta efetuada por meio da venda direta ao consumidor final ou a
atravessadores e são geralmente produtos de pouco ou nenhum valor agregado, fazendo com
que a renda obtida seja mínima.
       São poucos agricultores que vendem seus produtos e fazem isso unicamente por
necessidades de adquirir outros itens básicos a sua sobrevivência. O uso de técnicas arcaicas e
a utilização de instrumentos rudimentares é a principal causa da baixa produtividade e
consequentemente dessa insuficiência. Os relatos dos agricultores entrevistados deixaram
bastante evidentes que o processo produtivo empreendido atualmente nunca foi significativo
em termos de boas colheitas.
       Observou-se ainda que os mesmos dão prioridade ao cultivo apenas das culturas
alimentares de primeira necessidade. Deixando claro que a principal finalidade é à sua
alimentação e de seus dependentes. A não pretensão de mudar a exploração econômica é que
faz com que o espírito de produtor em larga escala não floresça neles. Isso é confirmado
quando se constata que a única novidade introduzida no modo de produzir deles é o uso de
herbicidas no controle das ervas daninhas e em algumas vezes a utilização de inseticidas,
principalmente, no combate aos insetos invasores, na cultura do feijão.
       Porém, esta é uma situação que pode ser revertida. A partir do momento em que os
agricultores começarem a pensar um plano de desenvolvimento local partindo da inovação
tecnológica e reeducação de seus hábitos com a mudança da concepção rudimentar que ainda
52

os orienta, será possível tornar a agricultura de subsistência em uma atividade viabilizadora de
recursos financeiros levando-os a ter uma melhor qualidade de vida. Possibilitará também
uma melhor gestão dos recursos naturais por representar um dos mais eficazes instrumentos
para enfrentar a difícil ação de promoção de práticas agrícolas e estilos de agricultura
sustentável.
       Recebendo o apoio financeiro e técnico dos órgãos públicos voltados para a
agricultura, os agricultores poderão implantar uma prática agrícola lucrativa, respeitando as
limitações da natureza. Utilizando-se de técnicas de manejos e práticas conservacionistas
como rotações de culturas, conservação e recuperação de solos, adubação orgânica, plantio
direto, uso de biofertilizantes, controle biológico de pragas, dentre outras e, que são viáveis
economicamente.
       A agricultura pode, sem dúvida, fornecer os meios que os agricultores da localidade
precisam para alcançar o desenvolvimento socioeconômico. É necessário informações para
que passem a praticá-la como uma atividade produtora de alimentos tanto para a alimentação
própria como para o comércio. O hábito já está fincado na vivência dos mesmos. O que
precisa agora é torná-lo atrativo e mais rentável.
       Espera-se com este estudo, estimular os agricultores que praticam a agricultura de
subsistência, a se engajarem mais nesta atividade no sentido de aumentar a produção tanto
com destino a sua alimentação quanto a comerciável a fim de fortalecer as suas rendas. Que
contribua para as discussões reflexivas sobre esta pratica tanto em termos locais quanto no
âmbito geral e, que ela seja entendida como uma atividade pertencente ao modo de vida de
seus praticantes e de caráter permanente de orientação a fim de que o seu desenvolvimento
ocorra de forma sustentável.
       E que sirva também, como fonte de informações para o município de Cabeceiras do
Piauí, comunidade do estudo, acadêmicos e para os futuros pesquisadores do tema.
53

                                   REFERÊNCIAS




ADAM, R. S. Princípios do ecoedifício: interação entre ecologia, consciência e edifício. São
Paulo: Aquariano, 2001.


AIDAR, H. et al. Várzeas tropicais: um imenso potencial estratégico para produzir
“qualidade”, com ênfase na cultura do feijoeiro comum. In: PATERNIANI, E. Ciências,
agricultura e sociedade. Brasília: Embrapa, 2006.


ALLARD, R. W. Princípio do melhoramento genético das plantas. Rio de Janeiro:
Agência Norte – Americana para o Desenvolvimento Internacional – USAID, 1971.


AQUINO, A. M. de. e ASSIS, R. L. de. Agroecologia: princípios e técnicas para uma
agricultura sustentável. Brasília, DF: Embrapa Informações Tecnológica, 2005.


ANUÁRIO DO PIAUÍ. Teresina: O Dia Gráfica e Editora, ano 2, n.2, 2008-2009. Mensal.



BARROS, G. S. de C. Agricultura familiar. São Paulo, jul, 2006. Disponível em: http://
www.cepea.esalq.usp.br/especialagro/EspecialAgroCepea_9.doc. Acesso em: 02/05/2011.


BEZERRA, M. do C. L. e VEIGA, J. E. da. (Coord.). Agricultura sustentável. – Brasília:
MMA, 2000.


_____________________e MUNHOZ, T. M. T. (Coord.). Gestão dos Recursos Naturais:
subsídios à elaboração da Agenda 21 brasileira. – Brasília: MMA, 2000.


BONILLA, J. A. Fundamentos da agricultura ecológica: sobrevivência e qualidade de vida.
– São Paulo: Nobel, 1992.


BORGES, J. e GASSEN, D. N. Plantio direto: uma revolução na agricultura brasileira. In:
PATERNIANI, E. Ciências, agricultura e sociedade. Brasília: Embrapa, 2006.


CARDOSO, C. F. S. Sociedade do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 4. ed., 2005.
Análise da agricultura de subsistência em São João, Piauí
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Análise da agricultura de subsistência em São João, Piauí

  • 1. 0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI ARI DO REGO DOS SANTOS ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS DO PIAUÍ BARRAS-PI 2011
  • 2. 1 ARI DO REGO DOS SANTOS ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS DO PIAUÍ Monografia apresentada a Universidade Estadual do Piauí como requisito para a obtenção do título de Licenciatura Plena em Geografia. Orientadora: Professora Especialista Lídia Maria Marques Neta BARRAS-PI 2011
  • 3. 2 ARI DO REGO DOS SANTOS ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS DO PIAUÍ Monografia apresentada a Universidade Estadual do Piauí como requisito para a obtenção do título de Licenciatura Plena em Geografia. APROVADO EM: _____/_____/ 2011 BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Profª. Esp. Lídia Maria Marques Neta Orientadora ___________________________________________________ Prof. Esp. Eduardo Gomes O. Sobrinho ___________________________________________________ Profª. Ms. Francisca Cardoso da Silva Lima
  • 4. 3 Dedico este estudo à minha família, que é a base de minha sustentação e fonte inesgotável de incentivo e carinho.
  • 5. 4 Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pela oportunidade de viver este grande momento; a todos os professores que ao longo desta jornada, contribuíram para minha formação com seus ensinamentos; aos agricultores entrevistados, por terem respondido as indagações, contribuindo assim para a construção do conhecimento; à minha orientadora, professora Lídia Maria Marques Neta, pela paciência e disponibilidade; aos meus queridos colegas do curso de Licenciatura Plena em Geografia, pelos momentos de alegrias, tristezas e trocas de experiências. Com muita saudade, obrigado.
  • 6. 5 “A agricultura brasileira representa uma combinação de muitas “agriculturas” todas imprescindíveis para nossa sociedade”. Ivan Sergio
  • 7. 6 RESUMO Este trabalho foi conduzido na localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí. Os dados foram obtidos a partir da pesquisa de campo com aplicação de entrevistas a 20 agricultores da localidade, englobando aspectos como: produtos cultivados, técnicas utilizadas no preparo do solo, índice de produtividade, destino da produção, comercialização, propriedade da terra, utilização de agrotóxicos dentre outros, com o intuito de analisar os aspectos socioeconômicos da agricultura de subsistência na mesma, utilizando-se do método dedutivo e probabilístico para a obtenção dos dados e de acordo com os objetivos da pesquisa. Os resultados indicaram que esse tipo de agricultura é importante para os praticantes locais por fornecer os itens alimentícios de primeira necessidade de que precisam para sobreviver com a família. Apesar da produção, na maioria dos casos, não ser suficiente para alimentá-los durante a entressafra. Apenas uma pequena parte da produção colhida durante a safra é comercializada, sendo esta efetuada por meio da venda direta ao consumidor final ou a atravessadores e são geralmente produtos de pouco ou nenhum valor agregado, fazendo com que a renda obtida seja mínima. Mostraram também que a prática da agricultura de subsistência da forma atrasada como ainda é realizada com a utilização de técnicas arcaicas e instrumentos rudimentares podem causar eventos degradantes na natureza, comprometendo o desenvolvimento futuro desta atividade. Neste contexto, pretende-se com este estudo estimular os agricultores a se engajarem mais nesta atividade no sentido de aumentar a produção tanto com destino a sua alimentação quanto a comerciável a fim de fortalecer suas rendas, sem perder de vista os aspectos ambientais que envolvem a mesma. Além de provocar discussões reflexivas sobre esse costume na localidade do estudo em beneficio de todos. Palavras-Chave: Agricultura. Subsistência. Técnicas.
  • 8. 7 ABSTRACT This study was conducted at St. John location, Headwaters of the municipality of Piauí. Data were obtained from field research with application of 20 interviews with farmers in the locality, covering aspects such as: products grown, techniques used in land preparation, productivity index, destination of the production, marketing, land ownership, use of pesticides among others, in order to analyze the socioeconomic aspects of subsistence agriculture in the same, using deductive and probabilistic method to obtain the data and according to the research objectives. The results indicated that this type of agriculture is important for local practitioners to provide the items food items they need to survive with his family. Although production in most cases not be enough to feed them during the off season. Only a small portion of the harvested production is sold during the harvest, which is made by selling directly to final consumers or middlemen and are usually products with little or no value added, making the income generated is minimal. They also showed that the practice of subsistence agriculture is still so backward as performed with the use of techniques archaic and rudimentary tools can cause degrading events in nature, compromising the future development of this activity. In this context, the aim of this study was to encourage farmers to engage more in this activity to increase the production target with both his power as marketable in order to strengthen their income, without losing sight of the environmental issues surrounding the same. As well as provoke thoughtful discussions about this in the usual location of the study for the benefit of all. Keywords: Agriculture. Subsistence. Techniques.
  • 9. 8 DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE A aprovação desta Monografia não significará endosso do Professor Orientador, da Banca Examinadora ou da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, às ideias, opiniões e ideologias constantes no trabalho, é de inteira responsabilidade do autor.
  • 10. 9 LISTA DE ABREVIATURAS IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
  • 11. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Erosão laminar. .................................................................................................... 23 Figura 02 – Agrotóxicos utilizados pelos agricultores locais .................................................. 24 Figura 03 – Roça com as lavouras ainda pequenas ................................................................. 25 Figura 04 – Policultura ............................................................................................................ 34 Figura 05 – Consorciação entre o milho e o feijão .................................................................. 34 Figura 06 – Plantio de milho no solo coberto com palha de carnaúba. ................................... 36 Figura 07 – Palha de carnaúba depois de extraído o pó, utilizada como adubo ...................... 36 Figura 08 – Imagem de satélite da Localidade São João......................................................... 40
  • 12. 11 LISTA DE QUADROS Quadro 01 - Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados ........................ 41 Quadro 02 - Técnicas utilizadas no preparo do solo ............................................................... 42 Quadro 03 - Destino da produção ........................................................................................... 43 Quadro 04 - Forma de comercialização .................................................................................. 44 Quadro 05 - Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido entre uma safra e outra.............................................................................................................. 45 Quadro 06 - A propriedade da terra onde trabalham .............................................................. 46 Quadro 07 - Se tem outra atividade, além da agricultura ........................................................ 47 Quadro 08 - As outras atividades ........................................................................................... 47 Quadro 09 - Utilização de agrotóxicos.................................................................................... 48 Quadro 10 - A finalidade do uso de agrotóxicos ..................................................................... 49
  • 13. 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: Os produtos cultivados ......................................................................................... 41 Gráfico 02 – Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados ....................... 42 Gráfico 03 – Técnicas utilizadas no preparo do solo ............................................................... 43 Gráfico 04 – Destino da produção ........................................................................................... 43 Gráfico 05 – Produtos comercializados ................................................................................... 44 Gráfico 06 – Forma de comercialização .................................................................................. 45 Gráfico 07 – Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido entre uma safra e outra.............................................................................................................. 45 Gráfico 08 – A propriedade da terra onde trabalham .............................................................. 46 Gráfico 09 – Se tem outra atividade, além da agricultura ....................................................... 47 Gráfico 10 – As outras atividades............................................................................................ 48 Gráfico 11 – Utilização de agrotóxicos ................................................................................... 48 Gráfico 12 – Os agrotóxicos utilizados ................................................................................... 49 Gráfico 13 – A finalidade do uso de agrotóxicos .................................................................... 50
  • 14. 13 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15 CAPÍTULO I 1 A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA ........................................................................ 17 1.1 Abordagem Histórica da Agricultura ........................................................................ 17 1.2 A discussão Sobre o Conceito de Agricultura de Subsistência ................................ 19 1.2.1 Conceituando a agricultura de subsistência ......................................................... 20 1.3 Importância dos Produtos Produzidos na Agricultura de Subsistência Para o Produtor e Consumidor ......................................................................................................... 20 CAPÍTULO II 2 CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES NATURAIS QUE CONDICIONAM A PRÁTICA DA AGRICULTURA E DO PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO LOCAL .................................................................................................................................... 22 2.1 Solo ................................................................................................................................ 22 2.1.1 Manejo do solo na localidade São João .............................................................. 24 2.2 Vegetação ...................................................................................................................... 26 2.3 Hidrografia ................................................................................................................... 26 2.4 Biodiversidade .............................................................................................................. 28 2.5 Clima ............................................................................................................................. 29 2.6 Comercialização ........................................................................................................... 31 2.6.1 O processo de comercialização local ................................................................... 31 CAPÍTULO III 3 PROPOSTAS PARA UMA PRÁTICA AGRÍCOLA MAIS EFICIENTE NA LOCALIDADE SÃO JOÃO .................................................................................................. 33 3.1 Implantação de Práticas Conservacionistas ............................................................. 34 3.1.1 Rotações de culturas ........................................................................................... 34 3.1.2 Controle biológico .............................................................................................. 35 3.1.3 Plantio direto ........................................................................................................ 36
  • 15. 14 3.2 Formação de Cooperativas ......................................................................................... 37 CAPÍTULO IV 4 METODOLOGIA................................................................................................................ 39 4.1 Localização e Caracterização do Município de Cabeceiras do Piauí e da Localidade São João .......................................................................................................... 40 4.1.1 Cabeceiras do Piauí............................................................................................. 40 4.1.2 Localidade São João ........................................................................................... 40 4.2 Discussão da Abordagem aos Agricultores ............................................................... 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 51 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 53 APÊNDICES ........................................................................................................................... 56
  • 16. 15 INTRODUÇÃO A agricultura é uma das invenções humanas mais significativas em termos de avanços na produção de alimentos. A sua introdução permitiu que o homem passasse a produzir as culturas de alimentação básica utilizadas na sua dieta alimentar. Isso resultou em um enorme ganho para a humanidade porque a partir daí, ela passou a dispor de grandes quantidades de alimentos eliminando assim, o risco de sua extinção devido à escassez dos recursos alimentícios fornecidos diretamente pela natureza. No Brasil, são praticados vários tipos de agriculturas, indo desde a de subsistência que tem como objetivo principal a sobrevivência de quem a pratica passando pela familiar comercial voltada tanto para a alimentação da própria família produtora como para a comercialização até a empresarial abastecedora dos mercados de itens alimentícios de origem agrícola. E a prática de todas elas é pertinente de importância e considerações que devem ser abordadas na análise de suas efetivações. Este trabalho teve como finalidade conhecer a produção, comercialização e consumo das culturas cultivadas na agricultura de subsistência na localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí/PI. Além de identificar os mecanismos utilizados no preparo do solo e no plantio dessas culturas, bem como propor a elaboração de planos de manejo que resulte em práticas de cultivos sustentáveis. . A hipótese que norteou o trabalho foi a de que a utilização de técnicas e instrumentos rudimentares pelos agricultores locais aliadas à falta de recursos financeiros para investir em técnicas agricultáveis modernas contribuem para o baixo índice de produtividade desta atividade na mesma. O desenvolvimento da pesquisa com enfoque na abordagem da importância econômica e social da atividade agrícola de subsistência para os seus adeptos, além dos impactos negativos decorrente de sua realização, permeou a pertinência do levantamento bibliográfico, para embasar as ideias construídas a partir do eixo temático elaborado. Na obtenção dos dados foi feita pesquisa de campo com a observação da área do estudo, registro visual através do levantamento fotográfico e realização de entrevistas. Como complemento houve o acompanhamento por meio do contato direto com o plantio e a colheita dos produtos cultivados com uma das famílias residentes na localidade, na safra 2010/2011 e
  • 17. 16 visita ao escritório regional do IBGE situado no município de Barras - PI. Finalizando procedeu-se a organização e análise dos dados coletados e a elaboração do relatório final dos resultados alcançados. Estes mostraram que esse tipo de agricultura é importante para os praticantes locais por fornecer os itens alimentícios de primeira necessidade de que precisam para sobreviver com a família. Apesar da produção, na maioria dos casos, não ser suficiente para alimentá-los durante a entressafra. Apenas uma pequena parte da produção colhida durante a safra é comercializada, sendo esta efetuada por meio da venda direta ao consumidor final ou a atravessadores e são geralmente produtos de pouco ou nenhum valor agregado, fazendo com que a renda obtida seja mínima. A prática da agricultura de subsistência da forma atrasada como ainda é realizada com o uso de técnicas arcaicas e a utilização de instrumentos rudimentares é a principal causa da baixa produtividade. Os relatos dos agricultores evidenciaram que o processo produtivo empreendido atualmente nunca foi significativo em termos de boas colheitas. O relatório final do mesmo desenvolveu-se em quatro capítulos, sendo que no primeiro capítulo, procura-se tecer considerações sobre caracterização, o histórico, conceitos e importâncias da agricultura de subsistência para seus praticantes. O segundo capítulo trata da caracterização dos fatores naturais como solo, vegetação, hidrografia, biodiversidade e clima, enfocando a importância para a agricultura bem com suas vulnerabilidades em função da prática da mesma. Além de caracterizar também, o processo de comercialização local dos produtos agrícolas. O terceiro capítulo visa colaborar com os agricultores como subsídio a fim de tenham a possibilidade de implantar uma agricultura de subsistência mais lucrativa econômica e socialmente com aumento da produtividade e maior eficiência na conservação dos ecossistemas. E o último capítulo apresenta os procedimentos: tipo de pesquisa, método, universo pesquisado, amostragem e a discussão da abordagem aos agricultores.
  • 18. 17 CAPÍTULO I 1 A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA A população da zona rural, presa à tradição do cultivo de lavouras temporárias, em sua grande maioria tem como cultura a prática da agricultura de subsistência. Este modo de agriculta, desde os seus primórdios foi e continua sendo, principalmente nos pequenos municípios do país, orientada por um sistema arcaico de produção. A derrubada das matas nativas, as queimadas e o uso de técnicas bastante rudimentares sempre fizeram parte do modo de produzir dos praticantes desta atividade. Pois “os portugueses ao chegarem ao Brasil, encontraram os indígenas locais praticando o corte e a queimada de plantas para a implantação de suas lavouras” (DEAN, 1995; RIBEIRO, 1995; THOMAS, 1998 apud LEITE; MININNI – MEDINA, 2001, p. 111). 1.1 Abordagem Histórica da Agricultura O surgimento da agricultura é um acontecimento recente e muito importante para o desenvolvimento da espécie humana. Ela representou a base para o aparecimento das atividades profissionais exercidas pelo homem atualmente, por fornecer alimentos para os grupos existentes na época, o que garantiu que estes conseguissem sobreviver e, tendo como consequência o aumento da população. Com este crescimento populacional e o aumento da eficiência da produção agrícola, permitiu que parte dessa população se dedicasse a outras atividades, originando a ocupação industrial e as inúmeras profissões existentes. Sobre o seu início, M. Paterniani e E. Paterniani (2006, p. 19) colocam que, “há apenas cerca de dez mil anos, os grupos de caçadores – coletores, independentemente em diferentes regiões geográficas, iniciaram o processo de semeadura e o cultivo de sementes, raízes e turbéculos coletados na natureza”. Esse processo de domesticação das plantas originou-se da necessidade de se obter alimentos em maior quantidade para alimentar as tribos que eram nômades e sobreviviam dos recursos alimentícios oferecidos pela natureza. Com o passar dos anos, esses recursos foram
  • 19. 18 ficando escassos ao contrário da população que só crescia. Resultando disso, a obrigação de se criar um mecanismo que pudesse garantir alimentação em abundância para sustentar este crescimento, ocorrendo assim à instituição do cultivo de plantas agrícolas que logo atingiu um raio de abrangência muito grande. Esta expansão deu-se por via da condição de nomadismo das comunidades primitivas que depois da introdução da agricultura, passaram a disseminar esta prática por aonde iam. Reforçando esta ideia, Allard (1971, p. 16) escreveu: Originalmente, a introdução de plantas deve ter atendido o andar errático das tribos nômade. Mais tarde, acompanhou a expansão dos povos agrícolas mais sedentários, em novas áreas, à medida que a população humana aumentou. Quando as rotas comerciais foram desenvolvidas, houve provavelmente, um grande aumento, não somente na introdução de plantas, mas também nas distâncias para as quais elas eram transportadas. Depois da implantação e difusão desse hábito, veio a sua organização. Lembrando que foi feita de acordo com as estruturas tanto políticas como sociais que regiam o momento, além de ter como objetivo principal a sobrevivência humana. Liverani (1976 apud CARDOSO, 2005, p. 24), comenta sobre essa organização primordial da agricultura, colocando que eram “características suas a economia de subsistência, a ausência de divisão e especialização do trabalho – dando-se em cada aldeia, a união da agricultura e do artesanato -, a ausência de uma diferenciação em classes sociais, a propriedade comunitária sobre a terra”. Conforme Allard (1971) isso perdurou até que proviu a preocupação do homem acerca do aumento da produção agrícola para acompanhar as necessidades de fontes adequadas à alimentação da população que se expandia. Incitando assim, as pesquisas e destas, os avanços tecnológicos que teve um grande efeito não apenas na eficiência da produção, como também na eficiência da utilização dos produtos agrícolas através de melhores métodos de conservação, armazenamento e transporte. A consolidação dessas mudanças significou uma nova caracterização da agricultura, que deixou de ser apenas uma prática de subsistência e passou a ser também uma atividade moderna com “principal objetivo o maior número de produção possível abastecendo os vários circuitos comerciais” (TEXEIRA, 2006, n. p.). Ela saiu do estágio de subsistência para se tornar uma atividade industrial, onde a produção de alimentos de origem agrícolas começou a ser feita em grande escala sob o comando das grandes empresas especializadas na área e que estão estas industrializando o
  • 20. 19 campo. Hoje, “A agricultura como um todo compreende componentes e processos interligados que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, por intermédio da transformação de insumos pelos seus componentes” (CASTRO et al., 1998, p.33). Está-se vivenciando, portanto, “a industrialização da agricultura e a modernização do campo” (SANTOS, 2002, p.30) com a introdução de novas técnicas agricultáveis que resulta no aumento da produção e no surgimento de uma nova agricultura, chamada de agricultura comercial ou empresarial. Apesar de ainda haver a predominância nas áreas rurais não apenas do Brasil, mas do mundo inteiro da agricultura de subsistência. 1.2 A Discussão Sobre o Conceito de Agricultura de Subsistência Sobre a conceituação das agriculturas praticadas pelos pequenos agricultores, Didonet (2004, p. 13) afirma que existe “uma tipologia de agricultores familiares diversificada, indo desde a agricultura de subsistência até a agricultura familiar empresarial”. Melo (2001 apud BARROS, 2006, n. p.) conceitua agricultura familiar “como as propriedades com menos de 100 hectares, englobando nessa categoria as chamadas agricultura de subsistência, a pequena produção, ou campesinato”. De acordo com as conceituações acima, percebe-se que o conceito de agricultura familiar é confundido com o de agricultura de subsistência, sendo diferenciado apenas em termos econômicos. A esse respeito, Barros (2006, n. p.), respalda: A agricultura brasileira tem sido costumeiramente subdividida dicotomicamente de acordo com características socioeconômicas e tecnológicas. Ao longo do tempo tem- se distinguido a agricultura de subsistência, ou a pequena agricultura, ou agricultura de baixa renda da agricultura comercial ou empresarial. No conceito econômico de agricultura familiar se atribui constantemente o caráter comercial voltado para o mercado. Por isso “não se deve confundir essa agricultura familiar com a agricultura de subsistência, camponesa, produtora exclusiva de alimentos ou tecnologicamente atrasada” (op. cit., 2006, n. p.).
  • 21. 20 1.2.1 Conceituando a agricultura de subsistência Homma (2006, p.47) resumidamente conceitua a agricultura de subsistência como aquela que tem sua prática “baseada na derruba e queima e na utilização de ferramentas rudimentares”. Para Teixeira (2006, n. p.) agricultura de subsistência é a “prática da agricultura assentes nas técnicas ancestrais completamente dependentes das condições naturais”. Não para definir, mas apenas para conceituar pode-se dizer então que a agricultura de subsistência é uma agricultura assentada em atividades exclusivamente manuais com o objetivo da auto-suficiência do próprio agricultor com a família. É praticada de forma extensiva com a predominância da policultura que é uma maneira empregada para se obter a máxima produção possível, já que, nesta as técnicas e os instrumentos utilizados são rudimentares. 1.3 Importância dos Produtos Produzidos na Agricultura de Subsistência para o Produtor e Consumidor A agricultura ainda representa a base de sobrevivência de milhares de pessoas no Brasil e no mundo. E por ser a atividade que mais liga intimamente o homem à natureza, ela é o principal agente de desenvolvimento social e sustentável para os pequenos agricultores, praticantes da modalidade de subsistência, haja vista que, se houver uma política mais efetiva na redistribuição das terras, na concessão de crédito para que estes possam ter acesso a inovações tecnológicas, na reeducação de seus hábitos através da assistência técnica, terá como consequência o aumento da produção destinada a sua alimentação com seus familiares. Resultando assim, na melhoria da cadeia alimentar porque os produtos produzidos na agricultura de subsistência têm como primeiro destino, a alimentação dos próprios produtores, pois “para estes produtores, o interesse básico é a sobrevivência e só depois o lucro” (BONILLA, 1992, p. 244, grifo do autor). Os grãos produzidos e os subprodutos surgidos da transformação da mandioca têm importância crucial tanto na dieta alimentar de quem os produz quanto na de quem os consomem.
  • 22. 21 Por mais que se esteja vivendo na “aurora de uma nova era” – rotulada de pós- industrial, pós-moderna, ou pós-escassez – a verdade é que a humanidade continua muito longe de encontrar uma fonte de energia necessária à vida, que dispense o consumo das plantas e dos animais, como ocorreu há 2 milhões de anos. Ou seja, por mais que venha a ser modificada a esfera da produção alimentar, essa importância singular da agricultura manter-se-á até que surja uma alternativa à transformação biológica de energia solar em nutriente (BEZERRA; VEIGA, 2000, p. 58). A agricultura de subsistência é responsável por grande parte das culturas de alimentação básica que sustenta a atividade produtiva agrícola do país e fornece alimentos para a população, tendo grande importância, tanto em termos econômicos, como sociais. Com uma maior produtividade da mesma, haverá alimentos suficientes para atender as necessidades de consumo alimentar dos lavradores, além de originar excedentes que vai abastecer o mercado, sendo muito benéfico para todos, por gerar renda para o produtor e tornar menos oneroso a aquisição desses produtos pelo consumidor final. De acordo com Paterniani (2006) a fácil disponibilidade dos alimentos resulta em uma efetiva redução nos seus preços, o que contribui para uma melhor qualidade de vida, além da significativa participação do agronegócio brasileiro na economia nacional.
  • 23. 22 CAPÍTULO II 2 CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES NATURAIS QUE CONDICIONAM A PRÁTICA DA AGRICULTURA E DO PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO LOCAL Solo, vegetação, hidrografia, biodiversidade e clima são fatores os quais a agricultura depende muito para se efetivar e a comercialização de produtos oriundos desta é um fator econômico e social que também merece ser enfocado. Neste capítulo, abordará-se a caracterização de cada um destes fatores enfocando a importância deles para a agricultura bem com suas vulnerabilidades em função da prática da mesma. Além de descrever o processo de comercialização dos produtos agrícolas na localidade. 2.1 Solo O solo é um fator muito importante para o desenvolvimento da agricultura. Pois dependendo das condições as quais ele se encontra no momento da prática agrícola, pode o ser muito produtivo ou não. Se estiver bem conservado dará uma grande produção. Mas, se estiver ao contrário disso, a produtividade é ínfima. Isso porque “o solo é, além de ancoradouro, reservatório de alimentos para as plantas. A planta precisa do solo para alimentar e fixar-se; nele, através de suas raízes, se prende e se alimenta” (GALETI, 1973, p. 69). Para que o solo seja um bom reservatório de alimentos, com bastante nutrientes e água, tem que ser além de profundo e rico, usado de forma racional objetivando alcançar o máximo rendimento de maneira permanente, sendo preciso para isso que o agricultor deixe de buscar altas colheitas com a utilização de técnicas inadequadas, expondo-o a castigos inconcebíveis, desenvolvendo, na maioria das vezes uma agricultura de rapina, de depredação, de saque, de destruição (op.cit., 1973).
  • 24. 23 Mas, infelizmente, a situação rotineira em grande parte do território brasileiro é, apesar de já existir certo grau de conscientização a respeito da conservação dos solos por parte da população agricultora, a exaustão desenfreada dos mesmos por meio de técnicas de manejas degradantes que causa enormes prejuízos aos pequenos agricultores por não disporem de recursos técnicos e financeiros para recuperar as áreas degradadas. Quando se percorre o interior do Brasil, verifica-se com certa generalidade o problema da destruição de nossos solos. Esta destruição, ora é provocada por erosão, proveniente da falta ou a quase falta de medidas práticas de conservação de solos, ora ela se manifesta por queimadas indiscriminadas que já é destruição premeditada pelo homem, que, por falta de melhores esclarecimentos a realiza, pensando agir corretamente. A destruição de nossas terras também se processa ao longo dos anos de cultivo, às vezes de maneira quase sem se perceber. Isto se deve ao fato das culturas de modo geral, serem esgotantes em matéria orgânica (adubo orgânico), e o agricultor via de regra não a repõe no solo, anualmente, como deveria ser o correto (SILVA, 1982, p. 475) O solo além de ser a base de sustentação do desenvolvimento e reprodução das culturas alimentícias consumidas pelo homem e pelo os animais é também o objeto de ocorrência da erosão que é o processo de desagregação, transporte e deposição do solo, principalmente pelas águas tanto pluviais quanto fluviais e pelo vento. Conforme Bezerra e Veiga (2000) a ocorrência mais comum de erosão decorrente da prática da agricultura é a da erosão laminar que, ao contrário da erosão em sulcos ou das voçorocas, é pouco perceptível aos olhos dos agricultores, mas traz efeitos altamente destrutivos ao rendimento das lavouras, pois os sedimentos provenientes dessa erosão contêm nitrogênio e fósforos, prováveis desencadeadores de processos de eutrofização das águas, um crescimento de nutrientes que favorece o desenvolvimento rápido das mesmas. Figura 01: Erosão laminar. Fonte: Santos, 2011.
  • 25. 24 Os autores reforçam ainda que o uso de terras inaptas para certas atividades agrícolas pode ser também apontado como um dos principais fatores que provocam a erosão, pois os agricultores não submetem o uso das terras à análise de seu potencial agronômico deixando que a localização de suas culturas responda a um conjunto variado de fatores onde o potencial produtivo não resulta de uma análise sistemática. 2.1.1 Manejo do solo na localidade São João O preparo do solo para o plantio das lavouras ocorre de forma degradante. Os agricultores presos a costumes fundamentados em conhecimentos empíricos utilizam-se de técnicas de manejos que resulta na baixa produtividade dos produtos cultivados e no enfraquecimento e desgaste do solo. A única inovação introduzida na agricultura local é a utilização de agrotóxicos, principalmente, os herbicidas usados no controle das ervas daninha. Mas, isto em vez de ser considerado um avanço, torna-se um grande problema porque o seu uso é feito de maneira descontrolada tanto nas quantidades aplicadas como no destino das embalagens vazias causando prejuízos para o meio ambiente. Figura 02: Agrotóxicos utilizados pelos agricultores locais. Fonte: Santos, 2011. Para a introdução das lavouras, os agricultores fazem o roço, a derruba e depois a queima da mata, usando nestes processos foice e machado como instrumentos. Depois da colheita a área com o solo esgotado e totalmente exausto é abandonada e o processo é repetido em outra gleba de terra no ano seguinte. Sendo isso tudo, uma prática não
  • 26. 25 compensatória para os agricultores e para a permanência das boas condições físicas, químicas e biológicas do solo, pois além de não representar alta produtividade, provoca a perda da fertilidade do último. Figura 03: Roça com as lavouras ainda pequenas. Fonte: Santos, 2011. Os métodos utilizados para eliminar a vegetação natural, visando à instalação de plantas pela destruição da mata e posterior queima do material acumulado são completamente destrutivos, porque se incorporam cinzas ao solo, e o efeito destas é transitório, no máximo por dois anos. O fósforo, o potássio e os micronutrientes contidos nas cinzas são rapidamente levados pelas chuvas. Por sua vez, a maioria do nitrogênio já havia desaparecido volatizado pela queima. Ainda, o efeito do sol forte (acrescido do impacto das chuvas) sobre o solo nu impermeabiliza-o e compacta-o (BONILLA, 1992). No controle das ervas daninhas, a capina foi substituída pelo o uso de herbicidas que é outro problema, já que “além dos desequilíbrios ecológicos, desde os anos setentas, tornaram- se bem mais frequentes os casos de contaminação dos recursos hídricos, dos solos, dos trabalhadores rurais e das cadeias alimentares, incluindo o próprio homem” (SHIKI, 1984; RÜEGG et al.,1986 apud BEZERRA; VEIGA, 2000, p. 70). Esta situação faz com que a agricultura de subsistência não seja capaz de garantir eficiência alimentar aos agricultores. Nem de permitir o seu desenvolvimento sem comprometer a sustentabilidade dos recursos naturais. Por ter sua efetivação encravada na primitividade proporciona apenas parte do que necessitam para sobreviver e coloca em risco o equilíbrio dos sistemas naturais.
  • 27. 26 2.2 Vegetação A cobertura vegetal é essencial tanto para a reposição de nutrientes na parte superficial do solo tornando-o propício para a prática da agricultura quanto para a sua proteção contra a erosão, já que, ela apara a chuva evitando o contato direto dos pingos d’água contra o mesmo. Em relação essa importância da vegetação para o provimento de nutrientes no solo, Galeti (1973, p. 245) escreve: As árvores, normalmente, têm raízes profundas e, assim sendo, vão buscar os nutrientes a grandes profundidades, depositando-os na superfície quando da derruba das folhas, ramos, frutos, etc. O enriquecimento é em matéria orgânica e também em nutrientes (a matéria orgânica tem nutrientes e quando se decompõe, libera-os). Mas, a destruição da vegetação que ocorre, principalmente no preparo do solo para a introdução da agricultura e por via das queimadas causa grandes desequilíbrios na natureza. Pois, Além de prejudicar a fertilidade do solo, as queimadas, destruindo facilmente grandes áreas de vegetação natural, trazem outras desvantagens, como a de retirar aos pássaros a possibilidade de construírem seus ninhos. E o desaparecimento dos pássaros acarreta o desaparecimento de um importante fator de extermínio de pragas de toda espécie (HOLANDA, 1995, p. 68). De acordo Bezerra e Veiga (2000), essa destruição também leva à degradação da estrutura física do solo e, em consequência, facilita os processos de erosão, além do enfraquecimento da estabilidade dos agroecossistemas, devido a desequilíbrios provocados pela eliminação de inimigos naturais de pragas e a redução dos recursos hídricos. Além dos prejuízos à biodiversidade, há perda de matéria orgânica do solo, e os terrenos tornam-se praticamente terras mortas, muitas vezes erodidas e desertificadas, que o ecossistema a leva muito tempo para recompor. 2.3 Hidrografia A agricultura tem sua origem intimamente ligada à presença dos recursos hídricos. No passado, ela era praticada nas áreas drenadas pelos grandes vales fluviais. Uma vez por ano,
  • 28. 27 ou mais, estes vales, transbordavam alagando extensas áreas de terras e nelas depositando toneladas de nutrientes tornando-as muito fértil. E era neste solo que, sem outro adubo além da terra aluvial, se produzia ricas colheitas. Com o passar dos anos, novas técnicas agricultáveis surgiram permitindo que o homem deixasse de depender exclusivamente da natureza e passasse a controlar diretamente o processo produtivo, onde ele interferindo nos fatores naturais de acordo com seus objetivos passou a criar as condições propícias de que a agricultura precisa para o seu desenvolvimento. Na irregularidade de algum destes fatores, este homem atual já consegue encontrar soluções que antes não eram possíveis ou não tinham a mesma precisão de hoje. O solo, por exemplo, quando não dispõem dos elementos químicos necessários ao desenvolvimento vegetativo das plantas é submetido ao processo de correção onde estes elementos são introduzidos no mesmo eliminando esta deficiência. Mas, apesar da certa dominância da natureza por parte do homem moderno, nenhum dos conhecimentos deste, até hoje foi capaz de encontrar técnicas agricultáveis que dispensasse os fatores naturais como o solo, o clima, a vegetação e principalmente a água. A água é tão necessária e insubstituível para a ocorrência da atividade agrícola porque é impossível existir germinação, desenvolvimento e reprodução das plantas na ausência da mesma. A água é de vital importância para as plantas. A água é veículo de transporte de nutrientes para os vegetais: a água dá turgidez aos tecidos; ela mantém em equilíbrio a temperatura na planta; ela transporta, como seiva, os nutrientes para todas as partes da planta. Não pode existir vida em ausência da água (GALETI, 1973, p. 222). Ela é um recurso natural de grande importância à sobrevivência do homem por lhe propiciar conforto e condição de geração de riquezas via as múltiplas maneiras de seu uso, dos quais pode-se destacar o abastecimento das populações e a produção de alimentos que são indispensáveis a vida humana, além de geradora de capital. Até aqui, discutiu-se sobre a importância da água para a atividade agrícola. Porém, é salutar também abordar as suas vulnerabilidades em função da prática desta atividade. A retirada da vegetação que é uma das técnicas utilizadas no preparo do solo para a prática da agricultura pode causar danos incalculáveis para a hidrografia próxima ao local de ocorrência deste evento. Segundo Adam (2001) a devastação das matas ciliares e da vegetação nativa, além de contribuir para a contaminação da água, contribui também para o assoreamento do leito dos rios e bacias hidrográficas.
  • 29. 28 Ainda de acordo com o autor, isso se deve ao fato de que os rios, lagos, mares e oceanos são o repositório final dos resíduos líquidos e sólidos, gerados pela atividade humana. Por estarem situados em cota inferior estão destinados, por imposição gravitacional, a receber todos os produtos da erosão contínua e milenar dos solos, contendo toda sorte de produtos geológicos, agrícolas, inorgânicas, tóxicos ou fertilizantes, procedentes da superfície dos relevos continentais. Em face do discutido até aqui, fica clara a necessidade de se promoverem instrumentos que possibilitem uma gestão mais racional do recurso água (BEZERRA; MUNHOZ, 2000, p. 54). É preciso que a sociedade comece a ter “aspirações coletivas de racionalização do uso da água, de conservação e de preservação ambiental e produzir ações que induzam os usuários da água a modificarem um comportamento julgado inadequado em relação à utilização dos recursos hídricos” (IDEM, 2000, p. 55). E a população agrícola é a que mais precisa se preocupar com a conservação e manutenção da qualidade da água, já que, a prática da agricultura quando feita de forma irracional causa grandes danos a ela, dentre os quais a contaminação e o desperdício, o que é um prejuízo incalculável não só pra esta atividade como para toda a vida terrestre. 2.4 Biodiversidade A importância da biodiversidade para a agricultura recai no papel que as plantas, os animais, os microorganismos e os ecossistemas desempenham na natureza em processos evolutivos. As inter-relações existentes entre ambos cria as condições para que o homem possa cultivar suas culturas. Cada um dos elementos constituinte da biodiversidade tem sua função e no desempenho desta, eles fornecem subsídios para a reprodução, multiplicação e crescimento uns para os outros mantendo assim uma interdependência estreita e total. “Os vegetais retiram do solo e do ar, elementos que graças ao seu poder de síntese, realizadas nas folhas pelos pigmentos verdes, são transformados em matéria orgânica, constituindo a alimentação animal” (GALETI, 1973, p. 40). O animal ao ingerir essa alimentação aproveita a parte que lhe é útil e necessária e elimina o resto por meio de seus dejetos que são introduzidos ao solo, tornando-o fértil e provedor de nutrientes para o desenvolvimento e produção tanto das
  • 30. 29 culturas nele plantadas pelo homem quanto para as plantas oriundas do processo natural empreendido pela natureza. No ecossistema os animais e os vegetais são uma grande cadeia e interligados entre si por peças que quando danificadas precisam ser substituídos por outras novas para a permanência desta relação. O ecossistema é um sistema funcional, delimitado arbitrariamente, onde se dão relações complementares entre os organismos vivos e seu ambiente. É constituído de organismos vivos, que interagem no ambiente de fatores bióticos, e de componentes físicos e químicos não-vivos do ambiente como solo, luz, umidade, temperatura, etc; que constituem os fatores abióticos. As relações entre ambos formam a estrutura do sistema, e os processos dinâmicos de que participam constituem a função do sistema (AQUINO; ASSIS, 2005, p. 55). A prática da agricultura por meio de ações irracionais tem causado grandes impactos nos biomas brasileiros. Pois além da utilização de técnicas de agricultagem arcaicas, os praticantes desta atividade incluem a premissa de que os recursos naturais são inesgotáveis e que, portanto nunca vão acabar. Porém, a verdade é que da forma que estão sendo utilizados pelo homem, esses recursos corre o risco sim de si tornarem escassos. A interferência humana na relação existente no conjunto dos elementos naturais desmontando todo o sistema que a natureza levou milhares de anos para consolidar compromete a disponibilização suficiente desses para atender as necessidades futuras dos seres vivos. O ecossistema em seu estado natural tem uma grande capacidade de auto-regulação que se mantêm em contínuo e perfeito funcionamento, conservando o fluxo normal de energia e matéria, independentemente das variações ambientais (ADAM, 2001). Mas, o avanço tecnológico responsável pela modernização da produção tem resultado na aceleração da destruição do relacionamento entre as partes que compõem o universo natural. E a atividade agrícola de subsistência é uma das que mais prejudica a manutenção da regularidade da biodiversidade, já que pode causar a extinção de espécies vegetais e animais quando da desregulação da interação existente entre a flora e a fauna. 2.5 Clima O clima é um dos fatores que mais interfere no processo prático da agricultura. Ele tem grande influência sobre as plantas através de seus elementos. “Dentre eles, para efeito de
  • 31. 30 agricultura, pode-se destacar: temperatura, umidade (precipitação) e luminosidade” (GALETI, 1973, p. 274). Esses elementos exercem essa ampla influência nesta atividade porque as suas alterações podem alterar a produtividade e o manejo das culturas por influírem de maneira decisiva na vida vegetal. A falta ou a irregularidade de um deles causa enormes desequilíbrios nos rendimentos esperados das lavouras cultivadas. O cultivo de qualquer lavoura depende de balanços hídricos e condições térmicas adequadas às propriedades e características de cada uma delas. A falta de chuva combinado com altas temperaturas pode ocasionar perda de safras inteiras. Por outro lado, precipitações intensas, além de acelerarem a erosão dos solos já frágeis por agriculturas intensivas, influenciam no desenvolvimento das culturas de forma positiva ou negativa. A cultura do arroz, por exemplo, requer bastante água para o desenvolvimento das plantas. Já o feijão, tem face de exigência de chuvas bem diferentes às do arroz, ou seja, é bastante sensível a grandes quantidades de água, sendo o desenvolvimento vegetativo e sua produtividade muito prejudicada quando da enorme ocorrência das precipitações. As altas temperaturas causam efeitos negativos no desenvolvimento e reprodução das culturas. O feijão novamente como exemplo, é uma cultura também muito sensível as variações da temperatura, sendo muito afetado na elevação da mesma. A temperatura do ar pode ser considerada como o elemento climático que exerce maior influência sobre a porcentagem de vingamento de vargens e, de maneira geral, faz referência sobre o efeito prejudicial das altas temperaturas sobre o florescimento e a frutificação do feijoeiro, especialmente se a cultura não dispor do suprimento hídrico adequado (AIDAR, 2006, p. 342). Mas, atualmente com os avanços tecnológicos e destes as pesquisas mais eficientes, já é possível experimentar alternativas que possam garantir uma harmonia na relação entre os elementos do clima e a produtividade agrícola. E uma dessas alternativas seria a combinação de elevadas concentrações de CO2, temperatura e precipitação, conforme o pensamento de Lima (2005, p. 172) quando diz: É fundamental se conhecer (e, na medida do possível, prever) possíveis alterações na produtividade agrícola, causadas pelo efeito combinado de elevadas concentrações de CO2, temperatura e precipitação. Crescentes concentrações atmosféricas de CO 2 terão efeitos importantes sobre a produção vegetal e consequentemente sobre a pecuária e recursos naturais no planeta. Este impacto se dará, em princípio, por meio de um “efeito fertilizante de CO2”. Em condições experimentais controladas, este efeito resulta em aumento das taxas de fotossínteses (em 20 a 30%) e redução da condutividade de estômatos, incorrendo no uso mais eficiente da água.
  • 32. 31 Para um melhor rendimento na atividade agrícola e ao mesmo tempo amenizar os impactos causados pela sua realização, é preciso que o homem se adapte e respeite as peculiaridades e imposições do clima. Ele é o fator chave no condicionamento da prática da agricultura e, por isso, sendo extremamente necessário o seu estudo para que as sociedades agrícolas o conheçam mais detalhadamente e consequentemente planeje melhor o manejo de seus cultivos visando à eficiência da produção tanto em quantidades quanto no respeito às limitações do mesmo. 2.6 Comercialização A comercialização de produtos agrícolas é uma atividade presente na cultura do homem rural. Por necessitar de outros itens essenciais a sua sobrevivência, ele precisa vender parte do que produz para adquirir-los. Mesmo quando não dispõe de produção em excesso a sua subsistência com a família. Os produtos destinados a este fim, em sua grande maioria ou totalidade não tem valor agregado, tendo um baixo valor comercial no mercado e são compradores potenciais destes, os atravessadores. 2.6.1 O processo de comercialização local A comercialização dos produtos oriundos da agricultura de subsistência na localidade São João ocorre ocasionalmente e de maneira desorganizada. A pequena produção colhida em cada safra é toda consumida pelos agricultores com suas famílias. A pouca quantidade comercializada é para adquirir outros itens básicos à sobrevivência dos agricultores que a pratica e não pela existência de excedentes. Na maioria dos casos, esta produção não é nem suficiente para alimentá-los durante a entressafra, como foi constatado durante a pesquisa de campo. Em se tratando da parte comercializada é bom lembrar que os produtos são vendidos da forma que são colhidos, sem passar por nenhum tratamento para valorizá-los comercialmente. E é feita tanto diretamente ao consumidor final quanto a atravessadores, o que constitui-se em uma grande dificuldade de ascensão social para os agricultores por conseguirem pouca renda com esta prática.
  • 33. 32 Confirmando esta ideia, Camilo (2000) diz que a comercialização dos produtos agrícolas tem sido uma grande dificuldade para a maioria dos produtores rurais porque grande parte dos produtores entrega a sua produção aos intermediários a preços muito baixo do que poderiam receber se assumissem outras etapas no processo de comercialização. Por estarem envolvidos diretamente com a produção, não têm conhecimento do mercado, não sabem lidar com os compradores e ficam em posição desvantajosa na hora de negociar a sua mercadoria. A comercialização individual constitui outra desvantagem por levar a falta de poder de mercado por parte dos agricultores. Pois o comércio realizado por agricultores fragmentados, em pequena escala, resulta na perda de mercado e o poder de negociação dentro desse grande orientador da economia moderna (STEELE et al.,1971). Vale ressaltar ainda que a procura pelos produtos agrícolas é insignificante na referida localidade. Fazendo com que a comercialização seja um acontecimento salteado e sem importância econômica para os agricultores, haja vista que quando conseguem angariar algum dinheiro com a venda de uma pequena quantidade por vez, passam muito tempo sem fazer mais isso por falta de compradores.
  • 34. 33 CAPÍTULO III 3 PROPOSTAS PARA UMA PRÁTICA AGRÍCOLA MAIS EFICIENTE NA LOCALIDADE SÃO JOÃO Durante os trabalhos de campo realizados na localidade São João, encontrou-se uma prática agrícola ainda centrada em técnicas de produção arcaicas que a cada safra, além de não fornecer a quantidade de alimentos suficientes à alimentação dos agricultores com suas famílias, provocam degradações ambientais. Neste contexto, é oportuno sugerir técnicas de manejos que melhore as práticas da agricultura de subsistência na localidade, porque o futuro desta atividade depende de práticas mais conscientes. É preciso que os agricultores locais repensem melhor os seus hábitos agrícolas no sentido de produzir mais conservando os agroecossistemas para garantir as condições que a mesma precisa, por muitas décadas. Para começar, é importante reduzir a pressão sobre os recursos naturais, procurando fixar a agricultura na mesma área espacial evitando assim, a contínua incorporação de novas áreas (HOMMA, 2006). Pois um dos grandes problemas lá encontrado é a migração das roças de uma área para outra a cada colheita. Disso resulta a destruição das matas, degradação dos solos e o risco da extinção de espécies vegetais devido ao fato de que muitas das vezes, áreas antes cultivadas são novamente introduzidas ao processo produtivo num período muito curto e que não é suficiente para o terreno recuperar os nutrientes perdidos no processo anterior e permitir o desenvolvimento das plantas desmatadas. A mudança das concepções errôneas a respeito das novas técnicas agricultáveis modernas por parte dos agricultores é outra necessidade urgente. Técnicas de manejos menos degradantes e que representam alternativas revolucionárias na eficiência produtiva já estão disponíveis e viáveis economicamente. Bezerra e Veiga (2000, p. 49) colocam como excelentes e viáveis tanto economicamente como produtivamente para a prática da agricultura, os seguintes manejos: “policultivo, fusão de produções, animal e vegetal, rotação de culturas, consorciação, práticas de conservação e recuperação de solos, adubação verde, adubação orgânica, plantio direto sem herbicidas, uso de biofertilizantes, manejo integrado e controle biológico de pragas”.
  • 35. 34 Figura 04: Policultura. Figura 05: Consorciação entre o milho e o feijão. Fonte: Santos, 2011. Fonte: Santos, 2011. 3.1 Implantação de Práticas Conservacionistas Em complementação das técnicas e ações anteriormente sugeridas, é cabível a implantação das práticas conservacionistas caracterizadas a seguir. 3.1.1 Rotações de culturas Prática que consiste na alternância de culturas no mesmo terreno por várias safras. É conhecida desde a antiguidade, e usada por agricultores de quase todas as partes do mundo. É uma prática simples, que não acarreta outros gastos senão os comuns, trazendo grandes benefícios ao agricultor e sua terra. Os quais são: controle de doenças e pragas, pois quando se faz a rotação plantando uma cultura diferente daquela que esteve na gleba, as pragas e doenças desaparecem, porque não encontram as plantas sobre as quais se desenvolveram; controle de ervas daninhas, pelo fato de que quando se altera o tipo de cultivo ou tipo de exploração, é possível extinguir determinadas ervas; melhor aproveitamento das riquezas minerais do solo porque cada planta tem exigência particular em nutrientes e melhor aproveitamento do solo em suas várias profundidades, já que as plantas também tem sistemas radiculares diferentes (GALETI, 1973). Com esta mesma visão Romeiro (1992 apud BEZERRA; VEIGA, 2000) coloca que as rotações de culturas são um excelente meio de se manter a estabilidade de um agroecossistema, pois reduzem, de forma drástica, o risco de infestação de pragas e de certas doenças. Nos sistemas rotacionais, os recursos disponíveis – água, nutrientes, luz, entre outros
  • 36. 35 – são utilizados de modo mais eficiente, pois aliados ao retorno de matéria orgânica ao solo, as rotações contribuem para manter sua estrutura física, ajudam a reduzir a erosão e, em consequência, melhoram a fertilidade dos solos. A combinação desses fatores leva, invariavelmente, a aumentos de produtividade das lavouras. É também uma excelente alternativa para a preparação do solo para o cultivo das lavouras porque além de possibilitar a reposição de nutrientes para as culturas que virão em sucessão, via adubos minerais, tem-se a vantagem adicional da fixação simbólica do nitrogênio atmosférico pela leguminosa (KLUTHCOUSKI et al., 2006). 3.1.2 Controle biológico O aumento de populações de inimigos naturais das pragas e o uso de plantas repelentes de outras plantas e insetos, constituem práticas que reduzem drasticamente o uso de agrotóxicos. Sendo um ganho enorme para os sistemas naturais. Muitas doenças e pragas incidentes sobre as plantas e animais afetam o rendimento, aumentando custos. O controle por produtos químicos põe em risco a saúde do agricultor e deixa resíduos que causam danos ao meio ambiente. Dentre os avanços em controle biológico e manejo de pragas em plantas destacam-se o da mosca-da- renda; na seringueira, o do percevejo-da-soja; do bicho-mineiro, na produção de café; e do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), fungo de solo que incide sobre o feijão, soja, o algodão, o girassol, o tomate e vários outros (SPEHAR, 2006, p. 217). O controle biológico constitui-se numa forma barata e sustentável de controle de pragas por ser um processo natural que usa como matéria-prima os próprios recursos naturais oferecidos pela natureza e suas relações no ecossistema, no caso do aumento dos predadores naturais da espécie a qual se deseja controlar. É uma prática que proporciona um estado de equilíbrio das pragas no agroecossistema, haja vista que, o controle biológico natural refere-se à população de inimigos que ocorre naturalmente. Atendendo a um dos preceitos básico de controle biológico, os parasitóides ou predadores devem ser preservados e, se possível, aumentados, por meio da manipulação de seu ambiente de forma favorável, ou seja, usar inseticidas seletivos em épocas corretas, reduzir chocagens de produtos químicos, evitar práticas culturais inadequadas, preservar habitat ou fontes de alimentação para inimigos naturais. Esses procedimentos são muito importantes em programas de manejo de pragas, pois são responsáveis pela mortalidade
  • 37. 36 natural no agroecossistema e, consequentemente, pela manutenção do nível de equilíbrio das pragas (PARRA; KOVALESKI, 2006). 3.1.3 Plantio direto Plantio feito diretamente em solo que contêm os restos das culturas cultivadas anteriormente. E consiste em uma prática bastante lucrativa tanto para os agricultores quanto para a natureza. A devolução dos nutrientes retirados do solo pelas lavouras antes cultivadas é uma das vantagens, já que depois de mortas e mantidas no solo elas constituem matéria orgânica para o mesmo. Figura 06: Plantio de milho no solo coberto Figura 07: Palha de carnaúba depois de com palha de carnaúba. extraído o pó, utilizada como adubo. Fonte: Santos, 2011. Fonte: Santos, 2011. Nas propriedades que adotam o plantio direto, a manutenção da cobertura morta contribui para a conservação da estrutura dos solos, reduzindo a erosão em até 90% e ampliando os níveis de fertilidade, devido ao maior acúmulo de matéria orgânica e de certos nutrientes (SHIKI, 1984 apud BEZERRA; VEIGA, 2000, p. 78). Calegari (2004 apud BORGES; GASSEN, 2006) afirma que além da possibilidade de melhoria e conservação do solo, as plantas mortas promovem consideráveis aumentos nos rendimentos das culturas subsequentes e contribuem para a diminuição da infestação de invasoras, resultando na redução do custo de produção dessa nova cultura. Mas, além das vantagens agronômicas, há também as econômicas. Com este sistema há uma maior produtividade e redução de custos no manejo do solo, significando menos gastos e mais rentabilidade econômica na produção de alimentos agrícolas para os pequenos produtores.
  • 38. 37 O plantio direto é também, a melhor alternativa para a manutenção da qualidade das águas superficiais e subterrâneas. Como resultado do uso do sistema nas propriedades acontece a redução dos custos de tratamento da água destinada ao abastecimento urbano, a preservação das estradas, dos leitos dos rios e o aumento na vida útil das hidrelétricas. Além do beneficio para a agricultura, já que é o segmento que mais utiliza esse recurso estratégico, representando em torno de 70% do consumo (BORGES; GASSEN, 2006). 3.2 Formação de Cooperativas Por fim, é indispensável que se promova articulações, em âmbito local, com o objetivo de criar mecanismos capazes de orientar e garantir as condições que os agricultores precisam para negociar seus produtos no mercado com aumento de seus lucros. Em uma conjuntura econômica a qual se vive atualmente, a sobrevivência depende da união com focos comuns. E a formação de cooperativas constitui-se em uma ótima opção para o enfrentamento das adversidades impostas aos pequenos produtores rurais pelo “imperador” mercado orientado pelas poderosas unidades produtoras de alimentos agrícolas. Segundo Steele et al.(1971) as cooperativas de agricultores são organizações que representam o intuito de oferecer extensa variedade de serviços, para ajudar a vender os produtos dos mesmos e para auxiliá-los na compra das mercadorias de que necessitam. Além de representarem um meio pelo qual as pequenas unidades agrícolas, numerosas e independentes, possam competir efetivamente num mundo comercial composto de unidades maiores e mais poderosas. O cooperativismo representa a abertura de muitas portas para os produtores rurais. A facilidade de negociação com as grandes agroindústrias, supermercados, armazéns, etc., é uma certeza, já que nenhuma grande indústria ou grandes comerciantes compram produtos de um produtor que comercializa individualmente. O maior poder de articulação na hora da compra de insumos, transporte e beneficiamento da produção, é outra característica benéfica das cooperativas. Para Camilo (2000) a união de vários agricultores significa maior eficiência na luta pela conquista de espaços diante aos grandes aglomerados agroindustriais e comerciais. Pois, juntos, os produtores conseguem resolver problemas que não conseguiriam sozinhos e se fortalecem para enfrentar as dificuldades do mercado.
  • 39. 38 É necessário, portanto, difundir a ideia de que para crescer financeiramente atingindo com isso um nível social estável, é recomendável ditar uma produção sustentável ecologicamente e de escala capaz de garantir a alimentação adequada dos agricultores com suas famílias e criar excedentes para a venda. Com a consolidação de tudo isso surgirá naturalmente o chamado para eles deixarem de viver o atual momento que é guiado por um verdadeiro depósito de acomodações e se insiram em uma realidade geradora de progressos e eficiência alimentícia e comercial.
  • 40. 39 CAPÍTULO IV 4 METODOLOGIA A metodologia contemplada percorreu as seguintes etapas: no primeiro momento foi realizado o levantamento bibliográfico a partir da literatura sobre o tema proposto. No segundo momento foi elaborado um roteiro de observação da área de estudo, de acordo com os objetivos da pesquisa. Utilizou-se também do registro visual por entre o levantamento fotográfico que serviu para mostrar detalhes sobre o local da realização da mesma. Logo após, realizou-se a pesquisa de campo. Optou-se por uma pesquisa exploratória e descritiva através do método dedutivo em que se buscou conhecer a produção, comercialização e consumo dos produtos cultivados na agricultura de subsistência na localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí. A pesquisa caracterizou-se como quanti-qualitativa, onde foi utilizada dentro do universo de agricultores da localidade uma amostragem de 20(vinte) indivíduos que corresponde a aproximadamente 40,82% da população residente na mesma. A investigação ocorreu através de entrevistas aos agricultores. Elas contavam com perguntas fechadas e abertas, como forma de obtenção dos dados e foram feitas individualmente a cada um deles. Como complemento houve o acompanhamento por meio do contato direto com o plantio e a colheita dessas culturas com uma das famílias residentes na localidade, na safra 2010/2011. Além da visita ao escritório do IBGE regional para maiores informações a respeito da área pesquisada. Cumpridas todas essas etapas descritas foram realizadas a análise e organização dos dados coletados. Segundo Prestes (2008, p. 28-29), depois de “coletado o material, é preciso analisá-lo, selecioná-lo e dividi-lo em tópicos que constituirão as partes do trabalho. Feito isso e após muita reflexão, pode-se organizar o plano definitivo”. Em seguida a elaboração do relatório final dos dados que possibilitaram os resultados propostos pela investigação.
  • 41. 40 4.1 Localização e Caracterização do Município de Cabeceiras do Piauí e da Localidade São João 4.1.1 Cabeceiras do Piauí A cidade de Cabeceiras do Piauí situa-se no Norte do Estado do Piauí. Faz parte da Mesorregião do Norte Piauiense e da Microrregião do Baixo Parnaíba Piauiense. Está localizada em 04º 28’35” de latitude Sul e 42º 18’33” de longitude Ocidental, com uma área de 608,505 km2 de extensão territorial. O município apresenta clima tropical semiárido, com duração do período seco de seis meses. A vegetação predominante é o campo cerrado e parque, com manchas de caatinga arbustiva. O solo é composto de latossolos vermelho-amarelo distróficos, combinados com areias quartzosas distróficas e solos hidromórficos (ANUÁRIO DO PIAUÍ, 2008). 4.1.2 Localidade São João A localidade São João está situada na zona rural do município de Cabeceiras do Piauí em 04º 46’33” de latitude Sul e 42º 31’52” de longitude Oeste. Limita-se ao Norte com a localidade Nova Brasília, ao Sul com a sede do município, a Leste com a localidade Água Branca e a Oeste com a localidade Zé Gomes. Conta atualmente com 12 famílias e uma população de 49 habitantes. A sua economia gira em torno da agricultura de subsistência, da criação de animais como aves, bovinos, caprinos, ovinos e suínos com destaque maior para os três últimos rebanhos. Além dos recursos financeiros advindos de aposentadorias, do Programa Bolsa Família do Governo Federal e /ou das finanças oriundas de remessas enviadas por membros das famílias que estão morando fora, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste do país. A escolaridade de seus moradores é baixa, apesar de três destes já possuírem cursos superiores. Figura 08: Imagem de satélite da Localidade São João. Fonte: Google, 2011.
  • 42. 41 4.2 Discussão da Abordagem aos Agricultores Gráfico 01: Os produtos cultivados Fonte: Pesquisa direta, 2011. Pesquisa feita com 20 agricultores sobre quais os produtos por eles cultivados, na localidade São João, município de Cabeceiras do Piauí. Dos quais 100% falaram que cultivam o milho, 90% o feijão, 85% o arroz, 65% a mandioca e apenas 15% outros produtos. Constatou-se com estas respostas que os principais produtos cultivados na referida localidade são: o milho, o feijão, o arroz e a mandioca. Com destaque maior para o milho e o feijão. Mas, é preciso lembrar que os demais são também bastantes cultivados, a diferença é que o milho e o feijão são plantados tanto nas roças quanto nos quintais das residências dos produtores, já os demais unicamente nas roças. Quadro 01: Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados FEIJÃO PRODUTIVIDADE Nº. AGRICULTORES PORCENTGEM Menos de 01 saca de grãos 13 72,25% De 01a 05 sacas de grãos 05 27,25% De 05 a 10 sacas de grãos 0 0% Mais de 10 sacas de grãos 0 0% TOTAL 18 100% MILHO PRODUTIVIDADE Nº. AGRICULTORES PORCENTAGEM Menos de 01 saca de grãos 01 5% De 01 a 05 sacas de grãos 06 30% De 05 a 10 sacas de grãos 08 40% Mais de 10 sacas de grãos 05 25% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011.
  • 43. 42 Gráfico 02: Índice de produtividade dos dois (02) produtos mais cultivados Fonte: Pesquisa direta, 2011. Analisando primeiramente a produtividade do feijão, teve-se que 72,25% dos 18 que corresponde aos 90% dos que cultivam esta cultura, colhem menos de uma saca de grãos e 27,75% de 01 a 05 sacas de grãos por safra. Notou-se com isso, que esta cultura, apesar de ser cultivada pela grande maioria dos lavradores locais, tem uma baixa produtividade. Isso se deve ao fato de os agricultores destinarem apenas uma pequena área de suas roças para o plantio da mesma. A maior área ocupada por esse produto é nos quintais, mas estes são pequenos. O que justifica essa pequena produção. Analisando a produtividade do milho. Dos agricultores abordados, 5% colhem menos de 01 saca de grãos, 30% de 01 a 05 sacas de grãos, 40% de 05 a 10 sacas de grãos e 25% mais de 10 sacas de grãos. Com esses dados, percebeu-se que o milho, tem um índice de produção razoável. E um dos motivos para isto é o fato de ser cultivado por todos os agricultores entrevistados, onde em todas as roças e/ou quintais ele é cultivado seja no sistema de monocultura ou consorciado com as demais culturas. Quadro 02: Técnicas utilizadas no preparo do solo TÉCNICAS Nº. AGRICULTORES PORCENTAGEM Técnicas rudimentares 18 90% Aragem 02 10% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011.
  • 44. 43 Gráfico 03: Técnicas utilizadas no preparo do solo Fonte: Pesquisa direta, 2011. Diante dos dados apresentados no quadro e gráfico acima, confirmou-se a hipótese de que a utilização de técnicas rudimentares é um dos fatores que contribui para o baixo índice de produtividade na atividade agrícola da localidade, pois, 90% de seus agricultores utilizam técnicas rudimentares como o roço, a derruba e a queima e instrumentos como a foice e o machado no preparo do solo para o cultivo de suas lavouras. Quadro 03: Destino da produção DESTINO Nº. AGRICULTORES PORCENTAGEM Consumo 12 60% Consumo e venda 08 40% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011. Gráfico 04: Destino da produção Fonte: Pesquisa direta, 2011. Perguntados sobre qual o destino da produção, 60% responderam que é destinada unicamente para a alimentação, 40% disseram que além de consumirem vendem parte de alguns dos produtos produzidos.
  • 45. 44 Diante dessas respostas, teve-se uma visão dos objetivos da prática da agricultura de subsistência na localidade do estudo. Para a maioria, a finalidade primordial é a alimentação própria. A pequena produção é toda consumida pelos agricultores e suas famílias, não tendo excedentes para a venda. A pequena parcela que comercializa além de desfalcar a pequena produção alimentar da família, o faz por necessidades de atender a outros anseios vitais a sua sobrevivência. Gráfico 05: Produtos comercializados Fonte: Pesquisa direta, 2011. Abordagem feita com 08 produtores que corresponde aos 40% que destinam a sua produção tanto para o consumo quanto para a venda. Dos quais, 75% comercializam farinha (subproduto da mandioca), 25% milho, 25% goma (subproduto da mandioca), 12,5% mandioca, 12,5% feijão e 12,5% arroz. De acordo com estes dados verificou-se que o produto mais vendido pelos poucos que comercializam é a farinha. Isso ocorre por dois motivos: primeiro por seu bom índice de produtividade e segundo por ser consumida em menor quantidade pelos agricultores, sobrando para a venda. O arroz e o feijão são menos vendidos por representar artigos alimentícios de primeira necessidade para os mesmos. O milho e a mandioca atendem necessidades alimentícias de seus animais. Justificando assim, também a sua pouca comercialização. Quadro 04: Forma de comercialização FORMA Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Venda direta ao 05 62,5% consumidor final Venda a atravessadores 03 37,5% TOTAL 08 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011.
  • 46. 45 Gráfico 06: Forma de comercialização Fonte: Pesquisa direta, 2011. A cerca da comercialização dos produtos, a pesquisa demonstrou que 62,5% dos agricultores que comercializam parte de sua produção, vendem diretamente ao consumidor final e 37,5% a atravessadores que são as pessoas que compram estes produtos para revender ao consumidor final, obtendo lucro. Conforme os dados acima observou-se que a comercialização dos produtos advindos da agricultura de subsistência na localidade é feita de forma desorganizada. Confirmando a ideia de que a venda de produtos pelos produtores da mesma é um fato ocasional, ou seja, ocorre quando há a necessidade urgente de adquirir outros itens básicos a sobrevivência dos mesmos. Quadro 05: Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido entre uma safra e outra PRODUÇÃO Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Não é suficiente 17 85% É suficiente 03 15% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011. Gráfico 07: Se a produção é suficiente para a alimentação durante o período compreendido entre uma safra e outra Fonte: Pesquisa direta, 2011.
  • 47. 46 Indagados se a produção é suficiente para a alimentação deles com suas famílias durante o período compreendido entre uma safra e outra, 85% responderam que não é suficiente e logo que 15% disseram ser suficiente. Com estes dados notou-se que a agricultura praticada pelos moradores da localidade pesquisada não tem significado meio de sobrevivência eficiente para os mesmos. A produção conseguida durante a colheita é na grande maioria insuficiente para alimentá-los na entressafra. Neste contexto, fica evidente que não é compensatório a prática da agricultura de subsistência, na mesma, da forma atrasada como ainda é conduzida. Quadro 06: A propriedade da terra onde trabalham PROPRIEDADE Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Própria 06 30% De terceiros 14 70% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011. Gráfico 08: A propriedade da terra onde trabalham Fonte: Pesquisa direta, 2011. Com relação a terra onde agricultam, 30% realizam essa atividade em terras de sua propriedade e a maioria, ou seja, 70% nas terras de propriedade de terceiros. Constatou-se através desses dados que a distribuição das terras no local de estudo é irregular, o que causa um problema a ser superado. Já que a não propriedade da terra obriga os agricultores trabalharem nas terras de outrem por meio da modalidade de arrendamento mediante pagamento com parte da produção. Os agricultores participantes deste estudo pagam aos donos das terras onde agricultam uma quantidade por 2.500 m² de área que é de 60 Kg (no caso do arroz com casca e da farinha) ou 80 Kg de milho em grãos. Disso resulta a diminuição da já pequena produção alimentar dos mesmos. Além de não poderem introduzir novas
  • 48. 47 técnicas de manejo pelo fato de terem que abandonar as áreas agricultadas no ano incorporando novas áreas no ano seguinte. Pois o que acontece com frequência é os proprietários arrendarem suas terras por uma colheita e depois não cederem mais para o mesmo agricultor para a próxima colheita. Quadro 07: Se tem outra atividade, além da agricultura ATIVIDADE Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Tem outra atividade 08 40% Não tem outra atividade 12 60% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011. Gráfico 09: Se tem outra atividade, além da agricultura Fonte: Pesquisa direta, 2011. Quando questionados a respeito de haver ou não outras atividades além da agricultura 40% dos produtores informaram que têm e 60% não têm, conforme quadro e gráfico acima. Através destes dados verificou-se que a maioria trabalha exclusivamente na agricultura, de onde retiram parte do seu sustento com a família. A outra parte é adquirida por meio dos recursos financeiros advindos da Bolsa Família, de aposentadorias, ou de recursos financeiros enviados pelos membros que estão morando fora, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste do país. Quadro 08: As outras atividades ATIVIDADES Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Pecuária 04 50% Outras 04 50% TOTAL 08 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011.
  • 49. 48 Gráfico 10: As outras atividades Fonte: Pesquisa direta, 2011. Questionamento realizado a 08 agricultores que corresponde aos 40% que responderam ter outras atividades, além da agricultura. Onde 50% disseram ter a pecuária como atividade juntamente com a agricultura e 50% outras atividades não ligadas à mesma. De acordo com os dados acima apresentados, percebeu-se que a metade destes agricultores pratica agricultura paralelamente a pecuária, mantendo a tradição do princípio da ocupação do espaço físico piauiense. Quadro 09: Utilização de agrotóxicos UTILIZAÇÃO Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Utiliza 11 55% Não utiliza 09 45% TOTAL 20 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011. Gráfico 11: Utilização de agrotóxicos Fonte: Pesquisa direta, 2011. Quando questionados se utilizam agrotóxicos, 55% falaram que sim e 45% disseram que não usam.
  • 50. 49 Observou-se diante deste resultado, que a maioria dos agricultores da localidade introduziu o uso de agrotóxicos como método de manejo em sua prática. Gráfico 12: Os agrotóxicos utilizados Fonte: Pesquisa direta, 2011. Pesquisa feita com 11 agricultores que corresponde aos 55% que utilizam agrotóxicos. Dentre estes 90,90% utilizam o Roundup, 81,80% o Gramoxone 200 e 18,20% outros. Conforme os dados acima apresentados, notou-se que tanto o Gramoxone 200, quanto o Roundup são amplamente utilizados na localidade pelos adeptos dos herbicidas. O que é muito prejudicial para o futuro da atividade agrícola nesta. Pois o primeiro é de classe toxicológica I, sendo extremamente perigoso ao meio ambiente e o segundo de classe toxicológica III, o que significa ser medianamente perigoso ao mesmo. O uso descontrolado destes pode causar à contaminação, de animais, vegetação, e das áreas de mananciais. Isso compromete a fertilidade do solo e por isso corre o risco de se tornar pouco produtivo para a agricultura local. Quadro 10: A finalidade do uso de agrotóxicos FINALIDADE Nº AGRICULTORES PORCENTAGEM Controle de ervas 08 72,70% daninha Controle de pragas 01 9,10% Controle de ervas 02 18,20% daninhas e de pragas TOTAL 11 100% Fonte: Pesquisa direta, 2011.
  • 51. 50 Gráfico 13: A finalidade do uso de agrotóxicos Fonte: Pesquisa direta, 2011. De acordo com os dados apresentados no quadro e gráfico acima, constatou-se que para os 90,90% dos 11 agricultores que utilizam agrotóxicos, a eliminação das ervas daninhas por meio da capina foi substituída pelo uso de herbicidas.
  • 52. 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada na localidade São João mostrou que a agricultura de subsistência tem importância inestimável para os agricultores nela residentes. Ela é à base de sobrevivência dos mesmos por fornecer os itens alimentícios básicos como o arroz e o feijão, além da farinha e da goma (subprodutos da mandioca). Também há produção do milho, alimento essencial na dieta alimentar de seus animais. Complementando essa importância, existe o fator cultural que a torna um hábito pertencente aos seus modos de vida. Entretanto, essa forma de agricultura não tem significado um meio de sobrevivência eficiente por que a produção é pequena chegando a ser, na maioria dos casos, insuficiente para a alimentação dos mesmos na entressafra tornando inviável um processo de comercialização autentico e contínuo. Somente pequena parte da produção colhida durante a safra é comercializada, sendo esta efetuada por meio da venda direta ao consumidor final ou a atravessadores e são geralmente produtos de pouco ou nenhum valor agregado, fazendo com que a renda obtida seja mínima. São poucos agricultores que vendem seus produtos e fazem isso unicamente por necessidades de adquirir outros itens básicos a sua sobrevivência. O uso de técnicas arcaicas e a utilização de instrumentos rudimentares é a principal causa da baixa produtividade e consequentemente dessa insuficiência. Os relatos dos agricultores entrevistados deixaram bastante evidentes que o processo produtivo empreendido atualmente nunca foi significativo em termos de boas colheitas. Observou-se ainda que os mesmos dão prioridade ao cultivo apenas das culturas alimentares de primeira necessidade. Deixando claro que a principal finalidade é à sua alimentação e de seus dependentes. A não pretensão de mudar a exploração econômica é que faz com que o espírito de produtor em larga escala não floresça neles. Isso é confirmado quando se constata que a única novidade introduzida no modo de produzir deles é o uso de herbicidas no controle das ervas daninhas e em algumas vezes a utilização de inseticidas, principalmente, no combate aos insetos invasores, na cultura do feijão. Porém, esta é uma situação que pode ser revertida. A partir do momento em que os agricultores começarem a pensar um plano de desenvolvimento local partindo da inovação tecnológica e reeducação de seus hábitos com a mudança da concepção rudimentar que ainda
  • 53. 52 os orienta, será possível tornar a agricultura de subsistência em uma atividade viabilizadora de recursos financeiros levando-os a ter uma melhor qualidade de vida. Possibilitará também uma melhor gestão dos recursos naturais por representar um dos mais eficazes instrumentos para enfrentar a difícil ação de promoção de práticas agrícolas e estilos de agricultura sustentável. Recebendo o apoio financeiro e técnico dos órgãos públicos voltados para a agricultura, os agricultores poderão implantar uma prática agrícola lucrativa, respeitando as limitações da natureza. Utilizando-se de técnicas de manejos e práticas conservacionistas como rotações de culturas, conservação e recuperação de solos, adubação orgânica, plantio direto, uso de biofertilizantes, controle biológico de pragas, dentre outras e, que são viáveis economicamente. A agricultura pode, sem dúvida, fornecer os meios que os agricultores da localidade precisam para alcançar o desenvolvimento socioeconômico. É necessário informações para que passem a praticá-la como uma atividade produtora de alimentos tanto para a alimentação própria como para o comércio. O hábito já está fincado na vivência dos mesmos. O que precisa agora é torná-lo atrativo e mais rentável. Espera-se com este estudo, estimular os agricultores que praticam a agricultura de subsistência, a se engajarem mais nesta atividade no sentido de aumentar a produção tanto com destino a sua alimentação quanto a comerciável a fim de fortalecer as suas rendas. Que contribua para as discussões reflexivas sobre esta pratica tanto em termos locais quanto no âmbito geral e, que ela seja entendida como uma atividade pertencente ao modo de vida de seus praticantes e de caráter permanente de orientação a fim de que o seu desenvolvimento ocorra de forma sustentável. E que sirva também, como fonte de informações para o município de Cabeceiras do Piauí, comunidade do estudo, acadêmicos e para os futuros pesquisadores do tema.
  • 54. 53 REFERÊNCIAS ADAM, R. S. Princípios do ecoedifício: interação entre ecologia, consciência e edifício. São Paulo: Aquariano, 2001. AIDAR, H. et al. Várzeas tropicais: um imenso potencial estratégico para produzir “qualidade”, com ênfase na cultura do feijoeiro comum. In: PATERNIANI, E. Ciências, agricultura e sociedade. Brasília: Embrapa, 2006. ALLARD, R. W. Princípio do melhoramento genético das plantas. Rio de Janeiro: Agência Norte – Americana para o Desenvolvimento Internacional – USAID, 1971. AQUINO, A. M. de. e ASSIS, R. L. de. Agroecologia: princípios e técnicas para uma agricultura sustentável. Brasília, DF: Embrapa Informações Tecnológica, 2005. ANUÁRIO DO PIAUÍ. Teresina: O Dia Gráfica e Editora, ano 2, n.2, 2008-2009. Mensal. BARROS, G. S. de C. Agricultura familiar. São Paulo, jul, 2006. Disponível em: http:// www.cepea.esalq.usp.br/especialagro/EspecialAgroCepea_9.doc. Acesso em: 02/05/2011. BEZERRA, M. do C. L. e VEIGA, J. E. da. (Coord.). Agricultura sustentável. – Brasília: MMA, 2000. _____________________e MUNHOZ, T. M. T. (Coord.). Gestão dos Recursos Naturais: subsídios à elaboração da Agenda 21 brasileira. – Brasília: MMA, 2000. BONILLA, J. A. Fundamentos da agricultura ecológica: sobrevivência e qualidade de vida. – São Paulo: Nobel, 1992. BORGES, J. e GASSEN, D. N. Plantio direto: uma revolução na agricultura brasileira. In: PATERNIANI, E. Ciências, agricultura e sociedade. Brasília: Embrapa, 2006. CARDOSO, C. F. S. Sociedade do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 4. ed., 2005.