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Aqui estão o Lambão e o Glutão, em posição para uma fotografia de família. Trata-se de uma ampliação, na realidade, são muito menores. Um pouco como na imagem da direita. Eles não parecem ser muito maus, e no entanto…
…  no entanto, estes dois compinchas são perigosos, porque é no fundo dos dentes que cavam a sua toca. Juntos, instalaram-se clandestinamente na Rua das Cáries. Eis a casa do Lambão. É confortável. Mas ele nunca está contente; quer cavar uma casa de campo no dente do lado. Então parte para o trabalho logo pela manhã, sem se preocupar em fazer a cama.
O Lambão também é muito guloso. No armário, guarda enormes reservas de rebuçados de alcaçúz. E o seu cofre transborda de cristais de açúcar de todas as cores: um verdadeiro tesouro de pedras preciosas, descobertas no esmalte dos dentes.
Reconhecem-nos? Os cristais brancos são pequenos restos de algodão doce; os castanhos, são migalhas de bolachas ou de chocolate. Os amarelos grandes são bocados de rebuçados; os verdes e os lilases são pedaços de gomas. E os vermelhos grandes? Pois é, são rebuçados de morango!
O Glutão mora no dente ao lado. Aqui está ele a descansar na sua cadeira de baloiço, após um dia duro de trabalho. Acaba de cavar uma nova despensa. Só falta perfurar a cortina que já está cosida e pousada em cima da mesa. Mas, por enquanto, vai lambendo os beiços ao saborear uma chávena de “cacacau”. É uma bebida feita de coca-cola e de cacau. O Glutão é avarento: para não perder uma só gota, construiu um sistema de recuperação no telhado da sua casa. Por um buraco cavado no esmalte, a mistura corre directamente por um cano. Quando tem sede, Glutão só precisa de abrir a torneira para encher a caneca de cocacau. É a sua bebida preferida. Eis um esquema para melhor se entender o funcionamento deste sistema.
As casas dos dois compinchas ficam nos números 1b e 2b da Rua das Cáries. Do lado direito, logo a seguir à curva. Todas as manhãs, o Lambão ataca o dente vizinho. Mas ele ainda está forte porque acabou de crescer. Não é fácil cavar! O Lambão já transpira grandes gotas de suor, quando uma corrente de ar se faz sentir.
O Lambão conhece este sinal: abastecimento! Rapidamente, enfia-se em casa e aguarda. Os dois cúmplices morrem de impaciência. Qual será a ementa? Um empurrão com a língua – e um enorme pedaço de chocolate chega numa onda de saliva.
Cai mesmo em frente à porta do Glutão. E, num instante, ambos estão no local. Oh upa! Oh upa! Um puxa, outro empurra. O pedaço desaparece no fundo da nova despensa.
O Lambão e o Glutão provam logo um bocado para festejar este belo golpe.
Um dia, um objecto estranho aterra no meio da casa do Lambão. Parece muito apetitoso. Talvez um pedaço de chupa-chupa de laranja. O Lambão fica radiante. Devora-o imediatamente. Mas, puah! Que gosto esquisito! O pobre diabo começa a ficar verde e cai para o lado. Era um pedaço de cenoura, que horror!
O Lambão até fica doente. Tem de ficar na cama durante dias e dias. E como o Glutão toma conta dele, também não tem tempo para ir trabalhar. As obras ficam abandonadas.
Logo que fica bom, o Lambão pensa abrir uma agência imobiliária. Transformaria todos os dentes em apartamentos para alugar. A rua teria então outro nome: “Urbanização das Cáries”. No último molar, cavaria uma piscina. Isso agradaria aos inquilinos. As rendas seriam muito elevadas. O Lambão é um homem de negócios com dentes afiados. Na parte de cima, arranjaria os escritórios. O andar superior seria reservado à Direcção. Ele seria o chefe. Glutão poderia tornar-se Director-adjunto e ajudá-lo a gerir os apartamentos. Ai, que bela carreira! Mas, para realizar esse sonho, ainda é preciso trabalhar muito. Cavar os dentes, cavar sempre.
Porém, algo de estranho vem interromper o seu sonho. Uma enorme vassoura, montada por uma equipa de Capacetes Verdes com fardas brancas, está a subir a Rua das Cáries. Vêm armados até aos dentes com escovas e baldes, com aspiradores e farrapos. O Lambão e o Glutão ficam sufocados por um forte cheiro a mentol.
Sem perder um segundo, os Capacetes Verdes descem e começam a limpar todos os cantos e recantos. Escovam e esfregam cada milímetro quadrado. Quando encontram restos entalados entre os dentes (por exemplo pão, chocolate, carne, fruta, legumes, caramelos, cereais, etc…), escovam e puxam até que tudo desapareça.
O Lambão e o Glutão só têm tempo para se esconder. As casas deles são revistadas de alto a baixo. As reservas são encontradas, o armário e o cofre esvaziados. Depois, os Capacetes Verdes retiram-se. Um grande jacto de água salpica a rua toda. E o silêncio volta. O Lambão está louco de raiva. Acabaram-se as reservas! Tanto trabalho para nada! Mas o Glutão anima-o: ninguém descobriu a despensa. Durante a doença do seu compincha, ele pendurara a cortina. O pedaço de chocolate está são e salvo.
Os dois decidem então cavar um esconderijo ainda mais fundo para abrigarem as suas novas reservas. Mas como já não têm mais do que o chocolate para roerem, estão fraquinhos. As obras começam lentamente. Um dia, finalmente, o Lambão e o Glutão chegam ao fundo do dente cavado. Já está, o buraco está quase suficientemente grande para conter o pedaço de chocolate. É só mais uma pazada, e… Zás! Em cheio no nervo. Ai! O sinal de alarme dispara: “ ATENÇÃO, DOR, PERIGO… ATENÇÃO, DOR, PERIGO…” O cérebro reage logo: “ MENSAGEM ENTENDIDA… MENSAGEM ENTENDIDA…” Agora sabe que uns malvados trabalham sem licença para construir e ameaçam a saúde dos dentes. Mas que se há-de fazer? Ão pode corrê-los sozinho. Então faz inchar a bochecha para que toda a gente se aperceba do perigo.
Alguns dias mais tarde, a boca abre-se e um grande sol ilumina a Rua das Cáries como em pleno Verão. O Lambão e o Glutão ficam ofuscados, detestam a luz. Apenas conseguem vislumbrar o gancho que se dirige para a sua casa. Lá está ele a espetar o sofá do Lambão e a desaparecer com ele. A seguir volta, tira a cama, o cofre, o armário. E a fotografia de família e o tapete. Até a escada.
Aparece um segundo gancho, carregado de plasticina branca. Enche com ela a casa vazia, até ao telhado. Depois as paredes são limpas e esfregadas. Ah, finalmente o dente curado brilha como um espelho. Um terceiro gancho, mais fino, traz uma poção sonífera.  A casa do Glutão recebe duas gotas e adormece. O pobre dente está tão furado que já não pode ser salvo.
A luz brilha de novo e um alicate entra lentamente. Envolve o dente doente, abana-o um pouco, puxa – e zás! Está cá fora. E o Glutão com ele. Acabou-se a dor! Há agora um espaçozinho entre o canino e o dente chumbado.
O Lambão fica enraivecido. Bate nos dentes como um diabinho e grita: “Nada me impedirá de arranjar a Rua das Cáries! Os dentes são meus, hei-de cavá-los todos, até ao último. Farei deles umas casas, estão a ouvir?? CASAS!!!” E bate cada vez mais com o martelo no esmalte. Então, o gancho volta uma última vez. Aproxima-se do louco varrido e agarra-o pela pele das costas.
A calma voltou finalmente à rua das Cáries. Para se recomporem de tantas emoções, os dentes rilham uma boa maçã, rica de vitaminas. Escaparam por um triz. Transformar os dentes em casas, já imaginaram?! Os nossos dentes têm mais que fazer! Devem morder e mastigar os alimentos para que o estômago os digira bem. Os Capacetes Verdes benfeitores estão aqui para ajudá-los e cuidar deles. Passam agora muito regularmente pela Rua das Cáries e sentem-se lá como em casa. Então, se um dia encontrarem diabinhos maus com o nome de Lambão, Glutão, Guloso e outros, já sabem o que devem fazer… É verdade, querem saber o que foi feito do Lambão e do Glutão?
Quando limparam os aparelhos, no dentista, foram levados os dois pelo canalização. Deslizaram por canos compridos, atravessaram esgotos escuros e acabaram por mergulhar num rio. A corrente arrastou-os para muito, muito longe daqui, para o Mediterrâneo. Esta mudança forçada transformou-os. Numa praia muito chic, passam agora os dias a apanhar banhos de sol. Pelo menos, ali já não se metem com os nervos de ninguém.

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A rua das cáries

  • 1. Aqui estão o Lambão e o Glutão, em posição para uma fotografia de família. Trata-se de uma ampliação, na realidade, são muito menores. Um pouco como na imagem da direita. Eles não parecem ser muito maus, e no entanto…
  • 2. … no entanto, estes dois compinchas são perigosos, porque é no fundo dos dentes que cavam a sua toca. Juntos, instalaram-se clandestinamente na Rua das Cáries. Eis a casa do Lambão. É confortável. Mas ele nunca está contente; quer cavar uma casa de campo no dente do lado. Então parte para o trabalho logo pela manhã, sem se preocupar em fazer a cama.
  • 3. O Lambão também é muito guloso. No armário, guarda enormes reservas de rebuçados de alcaçúz. E o seu cofre transborda de cristais de açúcar de todas as cores: um verdadeiro tesouro de pedras preciosas, descobertas no esmalte dos dentes.
  • 4. Reconhecem-nos? Os cristais brancos são pequenos restos de algodão doce; os castanhos, são migalhas de bolachas ou de chocolate. Os amarelos grandes são bocados de rebuçados; os verdes e os lilases são pedaços de gomas. E os vermelhos grandes? Pois é, são rebuçados de morango!
  • 5. O Glutão mora no dente ao lado. Aqui está ele a descansar na sua cadeira de baloiço, após um dia duro de trabalho. Acaba de cavar uma nova despensa. Só falta perfurar a cortina que já está cosida e pousada em cima da mesa. Mas, por enquanto, vai lambendo os beiços ao saborear uma chávena de “cacacau”. É uma bebida feita de coca-cola e de cacau. O Glutão é avarento: para não perder uma só gota, construiu um sistema de recuperação no telhado da sua casa. Por um buraco cavado no esmalte, a mistura corre directamente por um cano. Quando tem sede, Glutão só precisa de abrir a torneira para encher a caneca de cocacau. É a sua bebida preferida. Eis um esquema para melhor se entender o funcionamento deste sistema.
  • 6. As casas dos dois compinchas ficam nos números 1b e 2b da Rua das Cáries. Do lado direito, logo a seguir à curva. Todas as manhãs, o Lambão ataca o dente vizinho. Mas ele ainda está forte porque acabou de crescer. Não é fácil cavar! O Lambão já transpira grandes gotas de suor, quando uma corrente de ar se faz sentir.
  • 7. O Lambão conhece este sinal: abastecimento! Rapidamente, enfia-se em casa e aguarda. Os dois cúmplices morrem de impaciência. Qual será a ementa? Um empurrão com a língua – e um enorme pedaço de chocolate chega numa onda de saliva.
  • 8. Cai mesmo em frente à porta do Glutão. E, num instante, ambos estão no local. Oh upa! Oh upa! Um puxa, outro empurra. O pedaço desaparece no fundo da nova despensa.
  • 9. O Lambão e o Glutão provam logo um bocado para festejar este belo golpe.
  • 10. Um dia, um objecto estranho aterra no meio da casa do Lambão. Parece muito apetitoso. Talvez um pedaço de chupa-chupa de laranja. O Lambão fica radiante. Devora-o imediatamente. Mas, puah! Que gosto esquisito! O pobre diabo começa a ficar verde e cai para o lado. Era um pedaço de cenoura, que horror!
  • 11. O Lambão até fica doente. Tem de ficar na cama durante dias e dias. E como o Glutão toma conta dele, também não tem tempo para ir trabalhar. As obras ficam abandonadas.
  • 12. Logo que fica bom, o Lambão pensa abrir uma agência imobiliária. Transformaria todos os dentes em apartamentos para alugar. A rua teria então outro nome: “Urbanização das Cáries”. No último molar, cavaria uma piscina. Isso agradaria aos inquilinos. As rendas seriam muito elevadas. O Lambão é um homem de negócios com dentes afiados. Na parte de cima, arranjaria os escritórios. O andar superior seria reservado à Direcção. Ele seria o chefe. Glutão poderia tornar-se Director-adjunto e ajudá-lo a gerir os apartamentos. Ai, que bela carreira! Mas, para realizar esse sonho, ainda é preciso trabalhar muito. Cavar os dentes, cavar sempre.
  • 13. Porém, algo de estranho vem interromper o seu sonho. Uma enorme vassoura, montada por uma equipa de Capacetes Verdes com fardas brancas, está a subir a Rua das Cáries. Vêm armados até aos dentes com escovas e baldes, com aspiradores e farrapos. O Lambão e o Glutão ficam sufocados por um forte cheiro a mentol.
  • 14. Sem perder um segundo, os Capacetes Verdes descem e começam a limpar todos os cantos e recantos. Escovam e esfregam cada milímetro quadrado. Quando encontram restos entalados entre os dentes (por exemplo pão, chocolate, carne, fruta, legumes, caramelos, cereais, etc…), escovam e puxam até que tudo desapareça.
  • 15. O Lambão e o Glutão só têm tempo para se esconder. As casas deles são revistadas de alto a baixo. As reservas são encontradas, o armário e o cofre esvaziados. Depois, os Capacetes Verdes retiram-se. Um grande jacto de água salpica a rua toda. E o silêncio volta. O Lambão está louco de raiva. Acabaram-se as reservas! Tanto trabalho para nada! Mas o Glutão anima-o: ninguém descobriu a despensa. Durante a doença do seu compincha, ele pendurara a cortina. O pedaço de chocolate está são e salvo.
  • 16. Os dois decidem então cavar um esconderijo ainda mais fundo para abrigarem as suas novas reservas. Mas como já não têm mais do que o chocolate para roerem, estão fraquinhos. As obras começam lentamente. Um dia, finalmente, o Lambão e o Glutão chegam ao fundo do dente cavado. Já está, o buraco está quase suficientemente grande para conter o pedaço de chocolate. É só mais uma pazada, e… Zás! Em cheio no nervo. Ai! O sinal de alarme dispara: “ ATENÇÃO, DOR, PERIGO… ATENÇÃO, DOR, PERIGO…” O cérebro reage logo: “ MENSAGEM ENTENDIDA… MENSAGEM ENTENDIDA…” Agora sabe que uns malvados trabalham sem licença para construir e ameaçam a saúde dos dentes. Mas que se há-de fazer? Ão pode corrê-los sozinho. Então faz inchar a bochecha para que toda a gente se aperceba do perigo.
  • 17. Alguns dias mais tarde, a boca abre-se e um grande sol ilumina a Rua das Cáries como em pleno Verão. O Lambão e o Glutão ficam ofuscados, detestam a luz. Apenas conseguem vislumbrar o gancho que se dirige para a sua casa. Lá está ele a espetar o sofá do Lambão e a desaparecer com ele. A seguir volta, tira a cama, o cofre, o armário. E a fotografia de família e o tapete. Até a escada.
  • 18. Aparece um segundo gancho, carregado de plasticina branca. Enche com ela a casa vazia, até ao telhado. Depois as paredes são limpas e esfregadas. Ah, finalmente o dente curado brilha como um espelho. Um terceiro gancho, mais fino, traz uma poção sonífera. A casa do Glutão recebe duas gotas e adormece. O pobre dente está tão furado que já não pode ser salvo.
  • 19. A luz brilha de novo e um alicate entra lentamente. Envolve o dente doente, abana-o um pouco, puxa – e zás! Está cá fora. E o Glutão com ele. Acabou-se a dor! Há agora um espaçozinho entre o canino e o dente chumbado.
  • 20. O Lambão fica enraivecido. Bate nos dentes como um diabinho e grita: “Nada me impedirá de arranjar a Rua das Cáries! Os dentes são meus, hei-de cavá-los todos, até ao último. Farei deles umas casas, estão a ouvir?? CASAS!!!” E bate cada vez mais com o martelo no esmalte. Então, o gancho volta uma última vez. Aproxima-se do louco varrido e agarra-o pela pele das costas.
  • 21. A calma voltou finalmente à rua das Cáries. Para se recomporem de tantas emoções, os dentes rilham uma boa maçã, rica de vitaminas. Escaparam por um triz. Transformar os dentes em casas, já imaginaram?! Os nossos dentes têm mais que fazer! Devem morder e mastigar os alimentos para que o estômago os digira bem. Os Capacetes Verdes benfeitores estão aqui para ajudá-los e cuidar deles. Passam agora muito regularmente pela Rua das Cáries e sentem-se lá como em casa. Então, se um dia encontrarem diabinhos maus com o nome de Lambão, Glutão, Guloso e outros, já sabem o que devem fazer… É verdade, querem saber o que foi feito do Lambão e do Glutão?
  • 22. Quando limparam os aparelhos, no dentista, foram levados os dois pelo canalização. Deslizaram por canos compridos, atravessaram esgotos escuros e acabaram por mergulhar num rio. A corrente arrastou-os para muito, muito longe daqui, para o Mediterrâneo. Esta mudança forçada transformou-os. Numa praia muito chic, passam agora os dias a apanhar banhos de sol. Pelo menos, ali já não se metem com os nervos de ninguém.

Notas do Editor

  1. Aqui estão o Lambão e o Glutão, em posição para uma fotografia de família. Trata-se de uma ampliação; na realidade, são muito menores. Um pouco como na imagem da direita. Eles não parecem ser muito maus, e no entanto…
  2. … no entanto, estes dois compinchas são perigosos, porque é no fundo dos dentes que cavam a sua toca. Juntos, instalaram-se clandestinamente na Rua das Cáries. Eis a casa do Lambão. É confortável. Mas ele nunca está contente; quer cavar uma casa de campo no dente do lado. Então parte para o trabalho logo pela manhã, sem se preocupar em fazer a cama.
  3. O Lambão também é muito guloso. No armário, guarda enormes reservas de rebuçados de alcaçúz. E o seu cofre transborda de cristais de açúcar de todas as cores: um verdadeiro tesouro de pedras preciosas, descobertas no esmalte dos dentes.
  4. Reconhecem-nos? Os cristais brancos são pequenos restos de algodão doce; os castanhos, são migalhas de bolachas ou de chocolate. Os amarelos grandes são bocados de rebuçados; os verdes e os lilases são pedaços de gomas. E os vermelhos grandes? Pois é, são rebuçados de morango!
  5. O Glutão mora no dente ao lado. Aqui está ele a descansar na sua cadeira de baloiço, após um dia duro de trabalho: acaba de cavar uma nova despensa. Só falta perfurar a cortina que já está cosida e pousada em cima da mesa. Mas, por enquanto, vai lambendo os beiços ao saborear uma chávena de “cacacau”. É uma bebida feita de coca-cola e de cacau. O Glutão é avarento: para não perder uma só gota, construiu um sistema de recuperação no telhado da sua casa. Por um buraco cavado no esmalte, a mistura corre directamente por um cano. Quando tem sede, Glutão só precisa de abrir a torneira para encher a caneca de cocacau. É a sua bebida preferida. Eis um esquema para melhor se entender o funcionamento deste sistema.
  6. As casas dos dois compinchas ficam nos números 1b e 2b da Rua das Cáries. Do lado direito, logo a seguir à curva. Todas as manhãs, o Lambão ataca o dente vizinho. Mas ele ainda está forte porque acabou de crescer. Não é fácil cavar! O Lambão já transpira grandes gotas de suor, quando uma corrente de ar se faz sentir.
  7. O Lambão conhece este sinal: abastecimento! Rapidamente, enfia-se em casa e aguarda. Os dois cúmplices morrem de impaciência. Qual será a ementa? Um empurrão com a língua – e um enorme pedaço de chocolate chega numa onda de saliva.
  8. Cai mesmo em frente à porta do Glutão. E, num instante, ambos estão no local. Oh upa! Oh upa! Um puxa, outro empurra. O pedaço desaparece no fundo da nova despensa.
  9. O Lambão e o Glutão provam logo um bocado para festejar este belo golpe.
  10. Um dia, um objecto estranho aterra no meio da casa do Lambão. Parece muito apetitoso. Talvez um pedaço de chupa-chupa de laranja. O Lambão fica radiante. Devora-o imediatamente. Mas, puah! Que gosto esquisito! O pobre diabo começa a ficar verde e cai para o lado. Era um pedaço de cenoura, que horror!
  11. O Lambão até fica doente. Tem de ficar na cama durante dias e dias. E como o Glutão toma conta dele, também não tem tempo para ir trabalhar. As obras ficam abandonadas.
  12. Logo que fica bom, o Lambão pensa abrir uma agência imobiliária. Transformaria todos os dentes em apartamentos para alugar. A rua teria então outro nome: “Urbanização das Cáries”. No último molar, cavaria uma piscina. Isso agradaria aos inquilinos. As rendas seriam muito elevadas. O Lambão é um homem de negócios com dentes afiados. Na parte de cima, arranjaria os escritórios. O andar superior seria reservado à Direcção. Ele seria o chefe. Glutão poderia tornar-se Director-adjunto e ajudá-lo a gerir os apartamentos. Ai, que bela carreira! Mas, para realizar esse sonho, ainda é preciso trabalhar muito. Cavar os dentes, cavar sempre.
  13. Porém, algo de estranho vem interromper o seu sonho. Uma enorme vassoura, montada por uma equipa de Capacetes Verdes com fardas brancas, está a subir a Rua das Cáries. Vêm armados até aos dentes com escovas e baldes, com aspiradores e farrapos. O Lambão e o Glutão ficam sufocados por um forte cheiro a mentol.
  14. Sem perder um segundo, os Capacetes Verdes descem e começam a limpar todos os cantos e recantos. Escovam e esfregam cada milímetro quadrado. Quando encontram restos entalados entre os dentes (por exemplo pão, chocolate, carne, fruta, legumes, caramelos, cereais, etc…), escovam e puxam até que tudo desapareça.
  15. O Lambão e o Glutão só têm tempo para se esconder. As casas deles são revistadas de alto a baixo. As reservas são encontradas, o armário e o cofre esvaziados. Depois, os Capacetes Verdes retiram-se. Um grande jacto de água salpica a rua toda. E o silêncio volta. O Lambão está louco de raiva. Acabaram-se as reservas! Tanto trabalho para nada! Mas o Glutão anima-o: ninguém descobriu a despensa. Durante a doença do seu compincha, ele pendurara a cortina. O pedaço de chocolate está são e salvo.
  16. Os dois decidem então cavar um esconderijo ainda mais fundo para abrigarem as suas novas reservas. Mas como já não têm mais do que o chocolate para roerem, estão fraquinhos. As obras começam lentamente. Um dia, finalmente, o Lambão e o Glutão chegam ao fundo do dente cavado. Já está, o buraco está quase suficientemente grande para conter o pedaço de chocolate. É só mais uma pazada, e… Zás! Em cheio no nervo. Ai! O sinal de alarme dispara: “ ATENÇÃO, DOR, PERIGO… ATENÇÃO, DOR, PERIGO…” O cérebro reage logo: “ MENSAGEM ENTENDIDA… MENSAGEM ENTENDIDA…” Agora sabe que uns malvados trabalham sem licença para construir e ameaçam a saúde dos dentes. Mas que se há-de fazer? Ão pode corrê-los sozinho. Então faz inchar a bochecha para que toda a gente se aperceba do perigo.
  17. Alguns dias mais tarde, a boca abre-se e um grande sol ilumina a Rua das Cáries como em pleno Verão. O Lambão e o Glutão ficam ofuscados, detestam a luz. Apenas conseguem vislumbrar o gancho que se dirige para a sua casa. Lá está ele a espetar o sofá do Lambão e a desaparecer com ele. A seguir volta, tira a cama, o cofre, o armário. E a fotografia de família e o tapete. Até a escada.
  18. Aparece um segundo gancho, carregado de plasticina branca. Enche com ela a casa vazia, até ao telhado. Depois as paredes são limpas e esfregadas. Ah, finalmente o dente curado brilha como um espelho. Um terceiro gancho, mais fino, traz uma poção sonífera. A casa do Glutão recebe duas gotas e adormece. O pobre dente está tão furado que já não pode ser salvo.
  19. A luz brilha de novo e um alicate entra lentamente. Envolve o dente doente, abana-o um pouco, puxa – e zás! Está cá fora. E o Glutão com ele. Acabou-se a dor! Há agora um espaçozinho entre o canino e o dente chumbado.
  20. O Lambão fica enraivecido. Bate nos dentes como um diabinho e grita: “Nada me impedirá de arranjar a Rua das Cáries! Os dentes são meus, hei-de cavá-los todos, até ao último. Farei deles umas casas, estão a ouvir?? CASAS!!!” E bate cada vez mais com o martelo no esmalte. Então, o gancho volta uma última vez. Aproxima-se do louco varrido e agarra-o pela pele das costas.
  21. A calma voltou finalmente à rua das Cáries. Para se recomporem de tantas emoções, os dentes rilham uma boa maçã, rica de vitaminas. Escaparam por um triz. Transformar os dentes em casas, já imaginaram?! Os nossos dentes têm mais que fazer! Devem morder e mastigar os alimentos para que o estômago os digira bem. Os Capacetes Verdes benfeitores estão aqui para ajudá-los e cuidar deles. Passam agora muito regularmente pela Rua das Cáries e sentem-se lá como em casa. Então, se um dia encontrarem diabinhos maus com o nome de Lambão, Glutão, Guloso e outros, já sabem o que devem fazer… É verdade, querem saber o que foi feito do Lambão e do Glutão?
  22. Quando limparam os aparelhos, no dentista, foram levados os dois pelo canalização. Deslizaram por canos compridos, atravessaram esgotos escuros e acabaram por mergulhar num rio. A corrente arrastou-os para muito, muito longe daqui, para o Mediterrâneo. Esta mudança forçada transformou-os. Numa praia muito chic, passam agora os dias a apanhar banhos de sol. Pelo menos, ali já não se metem com os nervos de ninguém.