Representações sociais ainda dominantes sobre a velhice. Caraterísticas deste grupo etário, abordando-se as idades cronológica, biológica, psicológica e social a que se referem Schneider e Irigaray.
1. Considerações sobre a velhice:
representações sociais e caraterísticas
fundamentais deste grupo etário
Andaluza Leal
Psicologia do Desenvolvimento II
2. Introdução
Dada a redução excessiva da taxa de natalidade e o aumento
demográfico do envelhecimento, o mundo atual depara-se com um
fenómeno denominado de velhice. Estas mudanças sociais conduziram
a uma nova visão sobre a forma como a velhice passou a ser encarada.
Nas sociedades tradicionais do Ocidente, à semelhança do que ainda
ocorre em muitas sociedades africanas, por exemplo, os idosos eram
vistos como potenciadores de uma vasta experiência, conhecimentos e
sabedoria. Por isso, eram merecedores de um grande prestígio e
respeito, sendo as suas palavras levadas a sério pelos restantes
membros do grupo. Hoje, nas sociedades modernas e consumidoras,
havendo uma busca incessante da produtividade, a visão sobre os
idosos sofreu mudanças. Estes passaram a ser classificados como um
grupo homogéneo e alvo de preconceitos e estereótipos.
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3. Representações sociais ainda dominantes face à velhice
1. Os idosos são comparados com os jovens:
A juventude passou a ser considerada como uma etapa repleta de
vigor mental e potencial criativo, enquanto que a velhice aparece
associada a perdas e ao declínio mental.
Numa perspetiva temporal, a velhice é vista como sinónimo de morte e
infelicidade, contrariamente aos jovens (que estão no auge da sua vida).
São vistos como inúteis, improdutivos e incapazes, atendendo ao
facto de estarem a gozar uma reforma e de serem dependentes de
alguém que os acompanhe e preste os cuidados essenciais.
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2. A sexualidade é outro tema que acarreta representações negativas
relativamente aos idosos. Como exemplos do pouco valor que se atribui
à sexualidade na velhice temos: (a) para o senso comum, é uma prática
permitida ou possível apenas aos mais jovens (entendendo-se como não
velhos); (b) a investigação desta prática nos idosos ainda é bastante
recente.
Não se pode encarar este grupo etário como sendo uniforme. Segundo
Gonçalves (2010), quase todos os estudos sobre o envelhecimento
provaram que, com a idade, as diferenças entre os indivíduos se
acentuam. São vários os fatores que interferem no processo de
envelhecimento e que determinam se a pessoa é velha ou não, como é o
caso do sexo, estilo de vida, classe social, o grau de instrução, contexto
social e o tempo histórico.
Uma observação final
5. Caraterísticas da velhice
Dada a complexidade em determinar com exatidão a idade em que se
inicia a velhice, Schneider e Irigaray (2008) apresentam quatro dimensões
(idades) da velhice:
1. Idade cronológica.
2. Idade biológica.
3. Idade social.
4. Idade psicológica.
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6. 1. Idade cronológica
A velhice está associada à idade avançada. Mas a idade cronológica, por
se tratar de uma dimensão que se limita apenas a medir a idade com
base no tempo percorrido, não pode consistir, por si só, um fator que
define a velhice. É, porém, necessário ter em conta outras dimensões: a
biológica, social e psicológica.
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2. Idade biológica
Esta idade é caraterizada a partir das modificações corporais que ocorrem
ao longo da vida, ou seja, durante o processo de crescimento e
desenvolvimento, transportando a pessoa para o envelhecimento. As
alterações que caraterizam esta idade biológica culminando na velhice
são: (a) diminuição da estatura; (b) perda da elasticidade da pele; (c)
diminuição da visão e audição; (d) perda de neurónios e diminuição do
peso e do volume encéfalo.
7. 3. Idade social
Segundo o ponto de vista Schneider e Irigaray (2008), a idade social é
determinada pelo grau de adequação do indivíduo no desempenho de
papéis e pelos comportamentos esperados pelas pessoas da mesma
idade, tendo, porém, em consideração o tempo histórico e a cultura de
cada sociedade, o género e a classe social.
A sociedade apresenta-se como um domínio de grande relevo na
definição da pessoa como idosa ou não. Normalmente, é atribuído o título
de idoso quando a pessoa se reforma.
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8. 4. Idade psicológica
Para Hoyer e Roodim (2003), mencionados por Schneider e Irigaray
(2008: 591), a idade psicológica carateriza-se pelas “habilidades
adaptativas dos indivíduos para se adequarem às exigências do meio”.
Segundo estes mesmos autores, existem caraterísticas psicológicas
essenciais nesta adaptação ao meio: a aprendizagem, memória,
perceção, inteligência, controlo emocional, entre outros, sendo estas
caraterísticas aspetos essenciais para o funcionamento do indivíduo.
No entanto, o grau destas caraterísticas não se apresenta de igual modo
para todas as pessoas, uma vez que se encontram condicionadas pela
presença de vários fatores, como o desuso das funções cognitivas, a
doença, fatores comportamentais, psicológicos e sociais. Quando a
pessoa apresenta um grau mais elevado destas caraterísticas, é
denominada de jovem psicologicamente, apesar da idade avançada que
possa ter.
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9. Referências bibliográficas
Schneider & Irigaray (2008). O envelhecimento na atualidade: aspetos
cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Estudos de
Psicologia, 25(4), 585-593. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v25n4/a13v25n4.pdf>.
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Gonçalves, C. (2010). Sabedoria e Educação. Um estudo com adultos
da Universidade Sénior. Dissertação de mestrado em educação e
formação de adultos e intervenção comunitária: Universidade de
Coimbra [pp. 25-49 e 122-155]. Texto adaptado por Lina Morgado e
Angelina Costa, pp. 37-62.