Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um escritor português ultrarromântico conhecido por sua vasta obra literária e vida pessoal conturbada. Filho bastardo e órfão desde criança, viveu entre Vila Real e Porto onde teve uma juventude boêmia e apaixonada. Após anos de amores proibidos, viveu com sua musa Ana Plácido até o fim de seus dias, produzindo centenas de obras para sustentar sua família numerosa.
2. CAMILO CASTELO BRANCO
(Lisboa, 1825 – 1890)
• Filho bastardo e órfão
desde criança, Camilo
pode ser considerado,
como homem e como
escritor, uma
personalidade
tipicamente
ultrarromântica, isto é,
de temperamento
apaixonado e
inconformista.
3. É possível identificá-lo pela
contradição, nunca
superada ao longo de sua
vida, entre o materialismo
e o idealismo, entre a
verdade “feia e
repugnante” da realidade
e a necessidade de
romanceá-la, de
transfigurá-la
literariamente para
oferecê-la ao público
leitor.
• Selo comemorativo do
centenário do nascimento de
Camilo castelo Branco
4. Biografia
Nasceu em Lisboa, na Rua da
Rosa da freguesia dos Mártires,
a 16 de Março de 1825, no
seio de uma família da
aristocracia rural.
O segundo filho de Manuel
Joaquim Botelho Castelo
Branco (1778-1835), solteiro, e
de Jacinta Rosa do Espírito
Santo Ferreira (1799-1827),
sua criada.
Foi registado como filho de
mãe incógnita, certamente
devido às origens humildes da
progenitora.
5. Infância
• A 6 de Fevereiro de 1827 e apenas com dois
anos de idade, Camilo ficou órfão de mãe, sendo
perfilhado pelo pai, juntamente com a sua irmã
Carolina, em 1829.
• Em Lisboa, iniciou os estudos primários, em
1830.
• Por esta altura, a sua família deslocou-se para
Vila Real, onde o pai fora colocado como
responsável pelos correios.
6. Vila Real
• Os três membros da família
regressaram à capital em
1831, após a demissão de
Manuel Joaquim por
acusação de fraude.
• Com a morte deste, a 22 de
Dezembro de 1835, as duas
crianças foram entregues
aos cuidados de sua tia
paterna, D. Rita Emília da
Veiga Castelo Branco.
• Em 1836 mudaram-se para
Samardã-Vila Real.
A Escola Secundária/ 3 Camilo Castelo
Branco de Vila Real
7. Juventude
• Em 1839, quando a sua
irmã se casou e foi viver
com o marido para casa
do irmão deste, o Padre
António de Azevedo, na
aldeia de Vilarinho de
Samardã, Camilo seguiu-
os.
• Neste ambiente rural,
que muito viria a
influenciar a seu
trabalho literário.
8. Juventude
• A 18 de Agosto de 1841,
com apenas 16 anos de
idade, Camilo casou-se
com uma aldeã, Joaquina
Pereira de França de 15
anos e instalou-se em
Friúme, em, Ribeira de
Pena.
• Em 1842 foi estudar com o
Padre Manuel da Lixa, em
Granja Velha, para
preparar o ingresso no
ensino universitário.
9. Separação
• O jovem casal desentendia-se e discutia
frequentemente e demorou menos de um ano para
Camilo sair de casa, deixando a esposa, grávida de
uma filha, para voltar para a casa da irmã.
Vila Real nos finais do
século XIX (Avenida
Carvalho, vista do
Seminário)
10. Universidade
• Um ano depois de se ter
casado (1841) decide que
quer entrar para a
universidade e para isso
muda-se para a terra de
Granja Velha para poder
estudar com um Padre-
tutor e preparar-se para
os exames de admissão.
• Um ano depois consegue
ingressar na Escola
Médico-Cirúrgica na
cidade do Porto.
11. Vida boémia
• No Porto, o seu caráter
instável, irrequieto e
irreverente fá-lo
ingressar por uma vida
estudantil boémia e leva-
o a amores tumultuosos
com Patrícia Emília do
Carmo de Barros e uma
freira, de nome Isabel
Cândida.
• Tal vida fá-lo descurar os
estudos e não chega a
concluir o curso de
medicina.
12. Paixões e Cadeia
• Depois de conseguir tomar
posse do que restava da sua
herança, voltou a Vila Real.
• Perdeu-se de amores pela prima
Patrícia Emília do Carmo Barros.
• Com ela fugiu para o Porto.
• Em Outubro de 1846 passou 11
dias na Cadeia da Relação, por
ter sido acusado de roubar 20
000 cruzados ao pai de Patrícia e
amante da sua tia.
13. Regresso a Vila Real
• Vivia-se então a guerra civil da
Patuleia - iniciou uma carreira de
jornalista e continuou a escrever.
• Depois de libertado, regressou a Vila
Real e manteve a relação com a prima
Patrícia Emília.
• Morre a sua esposa e é enterrada
como pobre.
• Camilo voltou ao Porto, em 1847.
• Mas a sua atividade jornalística, que
desenvolvia no Nacional e
no Periódico dos Pobres, trouxe-lhe
malquerenças e perigos inesperados
que o obrigaram a fugir para Vila Real.
Revolução da Maria da Fonte ou a
Revolução Popular do Minho
14. Filhas
• Em 1848 morreu-lhe a
filha Rosa e nasceu-lhe a
filha Bernardina Amélia,
fruto da sua relação com
Patrícia Emília, criança
que foi colocada na Roda
dos Expostos, depois
temporariamente criada
em Samardã e, por fim,
entregue à freira Isabel
Cândida Vaz Mourão, do
portuense convento de
São Bento de Ave-maria,
amante de Camilo..
15. Vida adulta
• Em 1849 volta à cidade
do Porto para tentar o
curso de Direito.
Novamente no Porto
segue uma vida de
boémia repleta de
paixões, repartindo o seu
tempo entre os cafés e
os salões burgueses e
dedicando-se entretanto
ao jornalismo, que o
levaria a abandonar o
curso de direito.
16. Passa a viver da escrita
• Em 1850 passou algum
tempo na capital, onde
redigiu o seu primeiro
romance, Anátema,
publicado
primeiramente nas
páginas do jornal
literário A Semana; no
ano seguinte, esta obra,
que o próprio Camilo
afirma ter produzido aos
vinte e dois anos .
• A partir de então, passou
a viver do que escrevia.
17. Nova paixão
• Nesse mesmo ano
apaixona-se
perdidamente por Ana
Augusta Vieira Plácido,
uma jovem que está
noiva de outro homem:
Manuel Pinheiro Alves,
um “negociante
brasileiro” (na verdade
um português que tinha
negócios no Brasil) e que
lhe vai servir de
inspiração nos romances.
18. Ana casa com outro
• Quando Ana Plácido se
casa com o noivo, Camilo
tem uma crise espiritual e
ingressa no seminário do
Porto em 1851,
pretendendo seguir a vida
religiosa.
• Camilo conhece a freira
Isabel Cândida Vaz Mourão,
do Convento de S. Bento
da Avé Maria, no Porto.
• 1852- Camilo abandona o
Seminário.
19. Início do problema de visão
• Em 1856 foi nomeado diretor
literário d' A Verdade.
• Começa a sentir os primeiros
sintomas de falta de visão.
• Em 1857, instalou-se em
Viana do Castelo, onde,
trabalhou como redator do
periódico A Aurora do Lima.
• Mas não estava só.
Acompanhava-o Ana Plácido,
esposa de Pinheiro Alves, que
para aí o seguira, com a
desculpa de acompanhar uma
irmã.
20. Julgamento
• Agosto 11, 1858
• Nasce Manuel Plácido, filho
de Ana e de Camilo, mas que
veio a ser registado
legalmente como filho de
Pinheiro Alves.
• Em 1859, depois de alguns
anos de amores escondidos
do marido desta, decidem
fugir os dois. Depois de algum
tempo em fuga, são
capturados e julgados pelas
autoridades. Camilo é
acusado do crime de rapto e
Ana Plácido do crime de
adultério (crime punível na
altura).
21. Prisão preventiva
• Ana Plácido foi presa a 6 de Junho
de 1860.
• Camilo, que andara fugido no
Entre-Douro-e-Minho, entregou-
se às autoridades no primeiro dia
de Outubro.
• No cárcere dispunha de algumas
comodidades e não se encontrava
exclusivamente confinado a uma
cela.
• Camilo recebeu a visita de D.
Pedro V, por duas ocasiões, e
escreveu, no prazo record de 15
dias, o seu mais lido e popular
romance, Amor de Perdição.
22. Curiosidade
• Na prisão Camilo
conheceu e fez amizade
com o famoso salteador
Zé do Telhado, que
roubava burgueses com
uma quadrilha de
ladrões e que participara
em várias revoltas
políticas.
• Com base nesta
experiência e da
amizade que fizera
acabaria por escrever
“Memórias do Cárcere”.
23. Veredito
• Outubro 16, 1861
• Absolvição de Camilo e
Ana Plácido por
influência do Dr. José
Maria Teixeira de
Queiroz, pai de Eça,
conselheiro do Tribunal,
que visitou o escritor
várias vezes e o ajudou a
preparar a estratégia de
defesa.
• Passam a viver juntos.
• Camilo tinha então 38
anos de idade.
24. Vida com Ana Plácido.
Maturidade literária.
• A vida conjugal com
Ana Plácido (embora
não fossem casados)
poderia ter sido mais
feliz se não fossem os
problemas financeiros.
A um filho já existente
(que não se sabe se
seria de Camilo ou do
ex-marido) nascem
mais dois. Estátua de Camilo e da sua Musa, Ana
Plácido, na cidade do Porto
25. Maturidade literária.
• Com uma família tão
numerosa para sustentar,
Camilo começa então a
escrever a um ritmo
alucinante, sendo o único
escritor de renome da sua
geração a ter que escrever
para poder sobreviver.
• Entre 1851 e 1890, Camilo
conseguiu escrever mais de
duzentas e sessenta obras,
com a média superior a 6
livros por ano.
Ana Augusta Vieira Plácido
com os filhos.
26. 1863
Publica o seu romance mais
famoso: “Amor de Perdição”
que lhe consolida a
reputação como escritor e
lhe traz fama a nível
nacional.
Morre o ex-marido de Ana
Plácido e, tendo o primeiro
filho de Ana Plácido,
recebido, do suposto pai, a
sua casa como herança,
muda-se o casal e a sua
prole para São Miguel de
Seide no Concelho de Vila
Nova de Famalicão.
27. Maturidade literária
• Deixou, além de romances, um
legado enorme de textos
inéditos, comédias, folhetins,
poesias, ensaios, prefácios,
traduções e cartas.
• Tudo com assinatura própria ou
com alguns menos conhecidos
pseudónimos (como por
exemplo: Manoel Coco,
Saragoçano, A.E.I.O.U.Y, Árqui-
Zero e Anastácio das Lombrigas)
quando escrevia textos
polémicos, satíricos ou
humorísticos que não queria ver
associados ao seu nome.
Caligrafia de Camilo, num
rascunho poético, datado de
1859
28. Casamento
• Em 1873, viajou entre
Braga, Porto, Póvoa de
Varzim e Lisboa.
• Em 1878, pioraram os
problemas de visão e foi
ferido num acidente de
comboio entre São
Romão e Ermesinde.
• Em 9 de Março de 1868
Camilo contrai
matrimónio com Ana
Plácido.
29. Vida complicada
• Em 1881 participou no
rapto de uma órfã para a
casar com o seu filho
Nuno, com quem
mantinha já uma relação
difícil e que acabou por
expulsar de casa (1882),
numa altura em que se
agravam ainda mais os
seus problemas de visão.
• . Em 1883, leiloou a
biblioteca pessoal, em
Lisboa, devido a
dificuldades financeiras.
30. Curiosidades
• O seu primeiro filho, Manuel, jovem
romântico e alegre, que adorava
frequentar os bailes, viria a morrer
aos 19 anos, de "uma febre".
• Jorge, o seu segundo filho, era louco
e violento. Foi tratado por psiquiatras
de renome como Ricardo Jorge e Júlio
de Matos, e terminou os seus dias
numa instituição psiquiátrica.
• O seu último filho, Nuno, era um
boémio irresponsável, que casou duas
vezes: a primeira vez com Maria Isabel
da Costa Macedo, de quem teve uma
filha que perderia dias depois da mãe
falecer por complicações no parto; a
segunda vez, com Ana Rosa Correia,
com quem teria sete filhos.
Manuel Plácido
31. Fama
• Em 1885 o rei D. Luís
I de Portugal, decide
conceder-lhe o título
de 1.º Visconde de
Correia Botelho.
• Contava então
Camilo com 60 anos.
32. Velhice
• Desde 1865 Camilo começou a
sofrer de graves problemas
visuais, sintomas causados pelo
avanço da sífilis (doença
venérea), para além de outros
problemas neurológicos lhe
provocavam uma progressiva
cegueira, impedindo-o de ler e
de trabalhar capazmente.
• Esta incapacidade visual, aliada
às dificuldades financeiras e à
sua perceção de que tinha uns
filhos incapazes, acentuavam-
lhe o mau feitio e faziam-no
mergulhar numa profunda
depressão.
33. Última homenagem
• Em 1889, por iniciativa
de João de Deus,
Camilo foi
homenageado em
Lisboa, no seu dia de
anos, por um grupo de
intelectuais .
“A Corja”Folhetim escrito por
Camilo
34. Suicídio
• No dia 1 de Junho de 1890,
depois de uma derradeira
consulta num especialista de
oftalmologia, que matou a
última réstia de esperança de
curar a cegueira, suicidou-se.
• Quando Ana Plácido
acompanhava o médico até à
porta, eram três horas e um
quarto da tarde, sentado na
sua cadeira de balanço,
Camilo Castelo Branco
disparou um tiro de revólver
na têmpora direita.
• Sobreviveu em coma
agonizante até às cinco da
tarde.
35. Enterro-1825-1890
• Foi sepultado perpetuamente
no jazigo de um amigo, João
António de Freitas Fortuna, no
cemitério da Venerável
Irmandade de Nossa Senhora
da Lapa. Tinha 65 anos.
• Deixou-nos uma excecional,
multifacetada, polémica e
amargurada obra literária, a
mais extensa e variada da
Língua Portuguesa, com cerca
de cento e trinta e dois títulos.