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Brasília-DF.
Resposta em Emergências e Desastres
Elaboração
Luiz Henrique Horta Hargreaves
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES........................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
ORGANIZAÇÃO E GERENCIAMENTO DE SISTEMAS DE EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR................. 9
CAPÍTULO 2
EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS.......................................................... 20
CAPÍTULO 3
TERRORISMO......................................................................................................................... 31
PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 40
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 41
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Pararefletir
Questõesinseridasnodecorrerdoestudoafimdequeoalunofaçaumapausaereflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestãodeestudocomplementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Textointegrador,aofinaldomódulo,quemotivaoalunoacontinuaraaprendizagem
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
Este Caderno está dividido em três capítulos. No primeiro, estudaremos a organização do atendimento
pré-hospitalar. No segundo capítulo, veremos situações chamadas de especiais, pois trataremos de
condições que requerem atendimento altamente especializado, como nas emergências biológicas,
químicas e radioativas.
O último capítulo é voltado para o terrorismo.
Um bom estudo para todos!
Objetivos
»» Compreender os conceitos de Atendimento Pré-Hospitalar.
»» Compreender os conceitos de terrorismo e emergências químicas, biológicas e
radioativas.
»» Compreender a importância do tema no Gerenciamento de Crises.
»» Apresentar conceitos e instrumentos para gerenciamento de emergências e desastres
em Segurança Pública.
8
9
UNIDADE ÚNICA
RESPOSTA EM
EMERGÊNCIAS E
DESASTRES
CAPÍTULO 1
Organização e Gerenciamento de
Sistemas de Emergência Pré-Hospitalar
O atendimento pré-hospitalar, ou APH, como é conhecido no Brasil, é uma atividade relativamente
recente, que data da década de 60 nos Estados Unidos.
Provavelmente poderão ser encontradas muitos autores que datam o atendimento pré-hospitalar
como sendo o correspondente ao das Guerras Napoleônicas, quando o médico militar de Napoleão,
Dominique Jean Larrey, preocupado com a sorte dos soldados feridos abandonados no campo de
batalha, desenvolve um sistema de transporte rápido para o atendimento precoce, o que seria um
protótipo das ambulâncias atuais.
Figura 1. Dr. Dominique Jean Larrey
Fonte: napoleonbonaparte.wordpress.com
10
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Figura 2. Veículo de transporte (“Ambulâncias voadoras”) de feridos de Dominique Larrey.
Fonte: <www.newscientist.com>
Esse médico teve ainda o mérito de organizar equipes com médicos cirurgiões e ajudantes, que
eram equipados com materiais para prestação de primeiros socorros. Isso no Século XVIII, por
volta de 1790.
Integramos a da corrente de autores que considera importantíssimo o trabalho do Dr Larey;
certamente ele revolucionou o atendimento médico nos campos de batalha e na chamada “medicina
de combate”, mas considerar que o atendimento pré-hospitalar tem início com o Dr. Larey é algo
com que fica difícil de concordar.
O trabalho do Dr. Larey era restrito à atuação em guerras para atender a soldados feridos. Seus
conceitos naturalmente foram aproveitados para o aperfeiçoamento em guerras futuras, como nos
grandes conflitos mundiais e, posteriormente, na Guerra da Coreia e do Vietnã, mas não podemos
afirmar que a partir do Século XVIII o APH passou a ser organizado nos grandes centros e a funcionar
com objetivo de atendimento de pacientes de forma precoce até a remoção para o hospital.
Esse conceito só vai surgir na década de 1960, em pleno Século XX.
Há muitas ações colocadas em curso ao longo da história que inspiraram e contribuíram para
diversas invenções modernas, mas não podemos fazer uma correlação direta dos fatos, pois há
um enorme hiato entre a criação das ambulâncias do Dr. Larey e a organização dos serviços pré-
hospitalares. Há quem considere o Dr Larey como sendo o fundador do Samu francês, o que é, no
mínimo, absurdo, pois aquele serviço foi criado apenas em 1968, mais de 100 anos depois.
Na verdade podemos situar o início da organização do atendimento pré-hospitalar na década de
1960, a partir do trabalho do Dr. Frank Pantridge, na Irlanda. Esse cardiologista foi o primeiro a
utilizar um desfibrilador portátil e criou o conceito de Unidade Coronariana Móvel, na cidade de
Belfast. Ex-veterano da Segundo Guerra Mundial, quando como militar britânico, foi prisioneiro de
guerra dos japoneses. Em 1967, publicou o artigo A Mobile Intensive-Care Unit in the Management
of Myocardial Infarction, na conceituada revista Lancet.
11
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
Figura 3. Dr. Frank Pantridge
Fonte: <http://www.heartsine.com/HeartSine%20story%20images/pantridge.jpg>
Figura 4. Unidade Coronariana Móvel do Dr. Pantridge
Fonte: <www.nireland.com/gi4xfr/ambs.htm>
Os americanos, a partir de uma artigo publicado na revista Science, em 1966, demonstraram sua
preocupação com as condições em que os pacientes chegavam aos hospitais, ficando claro que havia
necessidade de um atendimento pré-hospitalar.
Os franceses, utilizando um modelo onde o atendimento é realizado inicialmente por uma central de
regulação e, a partir da avaliação do médico regulador, despacha o socorro mais adequado, criam o
SAMU, em 1968. No modelo francês, os médicos urgentistas tripulam as ambulâncias e promovem
a estabilização do paciente no local do evento. Os especialistas em reanimação na França são os
anestesiologistas, que também são reanimatologistas. Na França não há paramédicos.
Figura 5. Samu francês
Fonte: les2secouriste.skyrock.com/
12
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Os americanos, por sua vez, tinham uma realidade diferente dos franceses e dos irlandeses em
diversos aspectos. O primeiro deles diz respeito à extensão territorial. Os Estados Unidos são muito
maior do que os dois países e isso tinha implicações na formação de equipes médicas. A população
era muito maior e o salário dos médicos nos Estados Unidos estava entre os maiores do mundo.
Como colocar médicos em ambulâncias?
A partir desses e de outros questionamentos, os Estados Unidos abrem o primeiro programa de
residência em Medicina de Emergência na Universidade de Cincinnati, em 1970, e estabelece
padrões para o atendimento pré-hospitalar. Surge, então, a figura dos Técnicos de Emergência
Médica (EMT), que são classificados em diferentes níveis: Básico, Intermediário e Paramédico. A
forma e amplitude de atendimento dos EMTs varia de estado para estado americano. Em alguns,
eles podem atuar no suporte avançado de vida com base em protocolos, em outros, necessitam de
supervisão médica on-line. O paramédico, portanto, é o nível mais avançado do EMT e não existe
equivalente em nosso país.
Figura 6. Símbolo dos EMTs americanos
Para saber mais sobre a história do APH, veja o seguinte site:
<http://www.nemsmf.org/> (inglês)
Atualmente, praticamente todas comunidades americanas possuem um serviço de emergência
pré-hospitalar, seja ele básico ou avançado, rural ou urbano. A atuação dos médicos nesses sistemas
é voltada para o treinamento, supervisão, controle de qualidade e gerenciamento de serviços.
Os serviços existem como estruturas governamentais ou pertencentes a empresas privadas. Os
profissionais possuem diferentes níveis de treinamento; muitos atuam também como bombeiros ou
policiais e, em sua maioria, são contratados e recebem salários, mas alguns serviços, sobretudo os
rurais, são conduzidos por voluntários (ARNOLD, 2006).
A ativação do serviço de emergência nos Estados Unidos é realizada pelo cidadão, a partir da
ligação para um número único de emergência (911). A triagem é então realizada pelo operador da
central de emergências, que definirá quais recursos serão despachados ao local (bombeiros, polícia,
ambulâncias). Uma vez que o serviço é acionado, um profissional de emergência mantém contato
permanente com o solicitante, por meio da ligação telefônica, de tal forma a orientá-lo até a chegada
13
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
das equipes ao local. Frequentemente, policiais e bombeiros são os primeiros a serem despachados
e os primeiros a chegarem pois, usualmente se encontram mais próximos, dada a distribuição das
unidades de patrulhamento e quartéis de bombeiros. Assim, a ativação do sistema, seja para uma
urgência, seja para um desastre, usualmente é feita por intermédio da central de emergências (911)
(ARNOLD, 2006).
Figura 7. Cartaz de divulgação do número único de emergências nos EUA
Fonte: <www.inewscatcher.com>
O atendimento, por sua vez, é realizado de tal forma a estabilizar o paciente e removê-lo sem demora
até o centro de referência. Segundo o modelo anglo-saxônico, convencionou-se chamar de “hora de
ouro” o tempo decorrido a partir do momento do trauma até o seu atendimento em uma unidade
especializada e que não deve ser superior a uma hora. Dentro dessa chamada “hora de ouro”,
convencionou-se que o pré-hospitalar não deveria ocupar mais do que 10 minutos, no chamado “10
minutos de platina” (HARGREAVES, 2000).
No modelo chamado franco-germânico, representado comumente pelo sistema adotado pelo
SAMU francês, o médico faz a regulação das chamadas de emergência, e é tripulante das unidades
de atendimento. O conceito de estabilização e transporte rápido é substituído pela estabilização
cuidadosa e tratamento no local.
Segundo Dick (2003), as principais diferenças encontradas entre os modelos franco-germânico
(FG) e anglo-saxônico(AA) são:
1.	 No AA, o paciente é trazido até o médico, enquanto que no FG, o médico é levado
até o paciente.
2.	 No FG, pacientes em situação de urgência normalmente são avaliados e tratados
por clínicos gerais em seus consultórios ou na residência do paciente, com muito
pouca abordagem no serviço de emergência. A maioria dos pacientes tratados na
emergência de hospitais nos Estados Unidos, não vão para o hospital na Alemanha.
3.	 Pacientes em situações de emergência (risco iminente de morte) são tratados
por médicos de emergência no local do evento e durante o transporte, no FG.
Paramédicos frequentemente chegam primeiro ao local do evento e, até a
chegada do médico, ele realiza os procedimentos iniciais de ressuscitação, básico
e avançado.
14
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
4.	 Pacientes em situações de emergência podem ter que aguardar até 10 minutos pela
viatura e equipes apropriadas, em 80% das respostas, e até cerca de 15 minutos em
95% dos casos no FG.
5.	 No AA, o despacho é feito por um operador de emergência que pode enviar suporte
básico ou avançado de vida. No segundo caso, a autoridade técnica maior da
tripulação é o paramédico, que deve conduzir a estabilização e transporte da vítima
o mais rápido possível até o hospital.
6.	 O tempo total de atendimento pré-hospitalar no modelo FG é superior ao do AA.
7.	 Medicina de Emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto que no FG é
considerada como um treinamento adicional para especialistas de outra áreas.
8.	 O atendimento de emergência no FG é conduzido não apenas por anestesistas, mas
também por internistas, cirurgiões, pediatras, outros.
9.	 O sistema baseado em paramédicos, dos Estados Unidos, foi desenvolvido em 1973,
não porque se acreditava ser superior ao FG, mas por razões econômicas e uma
relativa deficiência de médicos disponíveis para a adoção de modelo similar ao FG.
Em contrapartida, o modelo alemão foi desenvolvido em 1938, pelo cirurgião alemão
Martin Kirchner, tendo sido adaptado posteriormente na década de 1950 para o
atendimento dos pacientes em situações de emergência, que deveriam receber o
melhor cuidado disponível, o que incluía o atendimento por médico qualificado. No
modelo AA, o paramédico atua como uma extensão do departamento de emergência
(por razões econômicas), enquanto que no FG, o médico que atua no local do evento
e faz como extensão da unidade de terapia intensiva. O médico é capaz de avaliar e
fornecer atendimento inicial a diversas situações críticas, tendo o paramédico como
seu auxiliar.
Ainda de acordo com o mesmo autor, no FG, os médicos recebem um bom treinamento, embora
o conceito e estrutura utilizados sejam diferentes da padronização americana. No FG, a medicina
de emergência é parte da grade curricular dos estudantes de medicina, que devem, ao longo do
curso, realizar cursos de suporte básico e avançado da vida, bem como treinamento específico
para o atendimento de emergências. Além disso, a medicina de emergência é parte do exame
final obrigatório. Após a conclusão do curso (6 anos), cada médico deve atuar em um sistema
semelhante ao internato americano, por 18 meses, em que são exigidas atividades práticas de
emergência. No AA, a medicina de emergência é uma especialidade primária nos Estados Unidos
(3 anos).
Na avaliação do estudo apresentado por Dick(2003), chegam-se às seguintes conclusões:
1.	 No FG, o médico é levado até o paciente, enquanto que no AA, o paciente é levado
até o médico.
2.	 No FG, médicos de emergência e paramédicos fornecem atendimento de terapia
intensiva aos pacientes, o que permite alta qualidade no atendimento de emergência.
15
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
3.	 NoFG,seosparamédicospossuem treinamento especializado podem realizaralguns
procedimentos, não apenas de suporte básico de vida, mas também avançado, sob
supervisão médica.
4.	 No AA, o paramédico tem mais autonomia no atendimento do que no FG.
5.	 As taxas de morbidade e mortalidade têm decaído no FG e são semelhantes ao do
AA, para as situações de emergência, compreendidas por aquelas conhecidas como
“hora de ouro” do atendimento.
6.	 O custo per capita ou por atendimento de emergência no FG é similar ou até mesmo
menor do que o do AA, com qualidade semelhante ou superior do que o AA.
7.	 Medicina de emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto no FG é
uma supraespecialidade, ou seja, um treinamento adicional para especialistas de
outras áreas.
O estudo acima apresentado avalia, portanto, a questão da resposta pré-hospitalar, sem tecer
maiores considerações a respeito do atendimento hospitalar que nos Estados Unidos é realizado
por especialistas em emergência médica, enquanto no FG, pelo próprio especialista que a patologia
requer. O que poderia parecer uma vantagem, no caso de o atendimento no FG ser realizado pelo
próprio especialista, recebe muitas críticas, pelo tempo e custo demandado, pois um paciente com
traumatismo craniano leve, enquanto é muito bem atendido por um médico de emergência nos
Estados Unidos, no modelo FG, é frequentemente avaliado por um especialista em neurologia
ou em neurocirurgia, o que contribui para sobrecarregar o atendimento desses especialistas. Nos
Estados Unidos, apenas casos referenciados pelos médicos de emergência são encaminhados aos
outros especialistas.
A resposta em desastres no modelo francês é feita por intermédio do médico regulador do Serviço
de Assistência Médica de Urgência (SAMU), que despacha equipes médicas para avaliação da
situação. É então acionado o chamado Plano Vermelho se a situação se configura como acidente com
múltiplas vítimas. O atendimento no local do evento com o sistema de triagem é bem semelhante
ao utilizado nos Estados Unidos, com a ressalva de que no modelo FG a avaliação e o atendimento
inicial já são conduzidos por médicos, enquanto que nos Estados Unidos quem desempenha essas
funções é o paramédico. O médico, naquele país, apenas em situações muito específicas e/ou graves,
é deslocado para o local do evento, o que é feito em conjunto com o Corpo de Bombeiros. No modelo
FG, uma vez acionado o Plano Vermelho (simultaneamente é acionado o chamado Plano Branco,
destinado a colocar os hospitais em alerta), as equipes médicas passam a atuar em conjunto com os
demais profissionais de socorro (bombeiros, polícia etc.)
APH no Brasil
O modelo de resposta em emergências e desastres no Brasil possui algumas peculiaridades.
Não há um modelo nacional de Planos de Desastre, tampouco de resposta coordenada. Algumas
poucas cidades possuem planos específicos , mas não há a cultura nem a doutrina do emprego do
16
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
ICS (Incident Command System) no gerenciamento de crise, de um modo geral. A maioria dos
hospitais sequer sabe o que é um Sistema de Comando de Incidentes.
Até pouco tempo atrás não existia no Brasil um sistema ou modelo predominante de atendimento
de emergência pré-hospitalar e cada estado ou município adotava o que julgava ser melhor para sua
região. Assim, enquanto no Rio de Janeiro predominava o modelo franco-germânico, na maioria
das demais regiões existia um modelo misto, com utilização de socorristas, técnicos de enfermagem
e médicos (que só eram deslocados após avaliação do suporte básico ou mediante protocolos) ou
simplesmente não existia modelo algum e o atendimento era feito por bombeiros ou pela prefeitura
(HARGREAVES, 2000).
Em 2003, com a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SAMU, no âmbito do SUS,
o Brasil passou a adotar o modelo franco-germânico, com protocolos e estrutura semelhantes ao
Samu francês. Segundo informações do Ministério da Saúde, disponibilizadas no site do SAMU,
atualmente há 70 Serviços de Atendimento Móvel de Urgência implantados e em operação no Brasil.
Ao todo, 266 municípios são atendidos pelo SAMU, num total de 62 milhões de pessoas.
A Portaria no
1.863/GM, de 29 de setembro de 2003, do Ministério da Saúde, que “Institui a Política
Nacional de Atenção às Urgências, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as
competências das três esferas de gestão”, estabelece, no inciso 4 do artigo 2o
:
Estabelecer que a Política Nacional de Atenção às Urgências composta pelos
sistemas de atenção às urgências estaduais, regionais e municipais, deve ser
organizada de forma que permita:
[...]
4 – fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às
necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório, decorrentes
de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e de acidentes com
múltiplas vítimas, a partir da construção de mapas de risco regionais e locais e
da adoção de protocolos de prevenção, atenção e mitigação dos eventos.
A Portaria no
2.048/GM, do Ministério da Saúde, de 5 de novembro de 2002, determina que:
Os Corpos de Bombeiros Militares (incluídas as corporações de bombeiros
independentes e as vinculadas às Polícias Militares), as Polícias Rodoviárias e
outras organizações da Área de Segurança Pública deverão seguir os critérios e
os fluxos definidos pela regulação médica das urgências do SUS, conforme os
termos deste Regulamento.
A Portaria no
2.072/GM, de 30 de outubro de 2003, institui o Comitê Gestor Nacional de Atenção
às Urgências e determina, em seu art. 3o, que seja elaborado o “Plano de Atenção aos Desastres”.
Assim, o Brasil possui diretrizes nacionais para a resposta de emergência, segue o modelo franco-
germânico de resposta a emergências e urgências pré-hospitalares, possui órgãos estaduais para
conduzir as operações de gerenciamento de crises e resposta estratégica de emergências, mas não
possui um sistema de comando e controle de fato instituído(salvo em poucas cidades), tampouco
17
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
um Plano de Atenção aos Desastres, como modelo nacional, e cada corporação e organização segue
suas próprias orientações operacionais e administrativas, em alguns estados sob coordenação da
Defesa Civil, mas sem que haja uma padronização de respostas para eventos críticos, como parte de
uma doutrina ou cultura.
Figura 8. Ambulâncias do Samu no Brasil
<http://www.es.gov.br>
Não basta um serviço ter ambulâncias para ser considerado como APH. Sendo público ou privado,
é necessário que haja algumas características presentes, tais como:
»» Ter equipe treinada em APH e unidades dedicadas a esse tipo de atendimento.
»» Ser apenas de Suporte Básico de Vida, situação de muitos Corpos de Bombeiros no
país, de Suporte Básico e Avançado de Vida ou, ainda, apenas de Suporte Avançado
de Vida, mais comumente encontrado em serviços privados.
»» Contar com a presença de regulação médica.
»» Possuir Unidades especialmente equipadas para APH, podendo, no entanto,
ser especializadas para um tipo de atendimento (UTI Pediátrica, Coronária, de
Trauma etc.).
»» Ter equipes em condições de atuação em sistema de pronto-emprego.
As unidades de suporte avançado de vida, obrigatoriamente, devem ser tripuladas com médico
e enfermeiro.
Não existe no Brasil a atividade de Paramédico, nem de Técnico de Emergência Médica. Existem
Técnicos de Enfermagem com treinamento de emergência, mas que em nada se assemelham,
em termos de formação e função, aos do EMT americano. Os Técnicos de Enfermagem no Brasil
não podem atuar sem supervisão de enfermeiro e nenhuma medicação pode ser fornecida sem a
devida prescrição médica. Procedimentos invasivos como a entubação orotraqueal, são privativos
do médico. A desfibrilação externa automática pode ser realizada por qualquer pessoa que tenha
sido treinada, no entanto, a desfibrilação convencional, apenas por médico. Acesso venoso
18
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
periférico pode ser realizado por profissionais de enfermagem, desde que haja prescrição médica,
e jamais por socorristas.
A atividade de socorrista é entendida como sendo a prestação de suporte básico de vida por pessoas
que tenham sido treinadas em primeiros socorros. Não é profissão regulamentada em nosso país.
Com relação ao pronto-emprego, é importante que tenhamos em mente que, quanto mais rápido o
atendimento inicial, maiores as chances de sobrevivência do paciente; no entanto, isso não autoriza
a ambulância a se deslocar em alta velocidade, mas sua localização deve ser devidamente estudada
para que esteja próxima das ocorrências, quando existirem. Não nos esqueçamos que, embora o
espaço seja produto da velocidade pelo tempo, o que nos incentivaria a correr, a energia cinética
liberada, é igual ao produto da massa pela velocidade elevada ao quadrado, dividida por dois. Ou
seja, não é correndo que conseguiremos resolver a falta de planejamento ou de recursos materiais.
O tempo de resposta ao atendimento corresponde às seguintes fases:
1.	 Tempo decorrido do evento até a chamada de socorro.
2.	 Tempo decorrente do recebimento da chamada até o despacho do socorro.
3.	 Tempo do recebimento do despacho do socorro até o início do deslocamento das
unidades.
4.	 Tempo do deslocamento das unidades até o local do evento.
Não é admissível que, pela falha na resposta nos itens de 1 a 3, o item 4 seja utilizado para compensar
o tempo decorrido.
O item 1 é independente do serviço, mas os 2 e o 3 são diretamente relacionados à organização e
disponibilidade de recursos materiais e humanos do serviço de APH e devem, sobretudo o 3, ser o
mais curto possível. Por isso, o planejamento e o treinamento são essenciais.
Assim, o serviço de APH é fundamental no atendimento a vítimas, decorrente dos mais variados
agravos à saúde, mas há necessidade de organização, coordenação, treinamento e planejamento.
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Manual%20de%20Regulacao%20
Medica%20das%20Urgencias.pdf.>
O SAMU utiliza o termo Urgências para toda situação crítica, mas na literatura encontramos a
diferenciação entre Emergência (risco iminente de morte) e a Urgência (necessidade imediata de
atendimento, mas sem risco iminente de morte). Seria a diferença do vermelho para o amarelo,
na triagem.
Nosso país ainda tem muito no que avançar com relação ao APH. Há milhares de locais onde
simplesmente inexiste um APH organizado, bem como há outros onde, inexplicavelmente, existe
uma competição entre serviços públicos, com bombeiros, Samu e até mesmo polícia, atuando de
forma contrária aos interesses da população. Esses serviços devem atuar de forma integrada, onde
19
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
cada um responde por sua área de especialização. Em um incêndio, a autoridade é o bombeiro, em
uma ocorrência policial, é a polícia e, na emergência médica, é o médico. Simples assim. Há também
muitos problemas envolvendo serviços públicos e privados e equipes de APH com profissionais que
atuam apenas em hospitais.
É uma questão cultural, que deve passar por diversas modificações. Começa nos currículos escolares,
com a população desde cedo aprendendo primeiros socorros e a acionar os serviços de emergência
apenas quando necessário. Os profissionais de segurança pública e saúde, ao trabalharem de forma
integrada, otimizam o atendimento de APH. É dessa forma que Seattle, nos Estados Unidos, possui
um dos melhores serviços de APH do mundo.
Há necessidade de protocolos organizados, da utilização do Comando de Sistema de Incidentes
(ICS) para eventos que o exijam, bem como da interação com os serviços hospitalares.
É um caminho que pode ser longo, mas que deve ser percorrido!
20
CAPÍTULO 2
Emergências Químicas, Biológicas
e Radioativas
Em situações de emergência, podemos nos deparar com eventos bem distintos daqueles que são
encontrados rotineiramente – são as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas.
Emergências Químicas
Há diversas possibilidades e situações que podem ser consideradas como emergências químicas.
Podemos defini-las como todos eventos críticos onde haja a presença de substância química exposta,
colocando em risco iminente de morte ou de grave problema de saúde à comunidade.
As situações a seguir são exemplos de emergência química:
»» Vazamentos de produtos químicos (Ex: Vazamento de gás de amônia em indústrias).
»» Acidentes (Ex: Derramamento de produtos em laboratórios químicos).
»» HAZMAT – Esta é a sigla americana para Hazardous Materials ou produtos
perigosos. Uma das ocorrências mais comuns com produtos químicos, envolve
acidentes com veículos que transportam essas substâncias.
»» Terrorismo Químico.
Em 1984, na cidade de Bophal, na Índia, houve um grave vazamento de pesticida (isocianato de
metila) produzida pela empresa Union Carbide. A quantidade de substância química vazada foi
próxima de 40 toneladas. O número de mortos chegou a 5.000, com 500.000 pessoas expostas. A
estimativa foi de que cerca de 20.000 pessoas tenham morrido ao longo dos anos. Mais de 120.000
pessoas podem ter apresentado doenças decorrentes desse vazamento. Esse evento é considerado
como sendo o maior desastre industrial.
Figura 9. Capa da Revista Time de 17/12/1984
21
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
Todo gestor de crises deve estudar e conhecer bem esse desastre. Maiores
informações podem ser encontradas em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Bhopal_disaster.>
<http://www.bhopal.com/pdfs/browning.pdf.>
<http://www.dnsy.se/_upload/lfm/2006/bhopal%20gas%20disaster.pdf.>
<http://www.ehjournal.net/content/4/1/6.>
<http://webdrive.service.emory.edu/users/vdhara/www.BhopalPublications/
Health%20Effects%20&%20Epidemiology/Health%20Effects%20Review%20
articles/Health%20Effects%20Review%20AEH.pdf.>
<http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI433281-EI294,00.html.>
Vídeos on-line da BBC:
<http://search.bbc.co.uk/search?scope=all&tab=av&recipe=all&q=bhopal+faces+ri
sk+of+’poisoning’&x=0&y=0/.>
Os pesticidas são extremamente tóxicos ao ser humano de uma forma geral. Segundo matéria
publicada em diversos jornais estrangeiros, entre os quais o conceituado canal de TV RTP de
Portugal, o Brasil foi o maior consumidor de pesticidas do mundo em 2008. (http://tv.rtp.pt/
noticias/?t=Brasil-maior-consumidor-de-pesticidas-do-mundo-em-2008-Estudo.rtp&article=214
378&visual=3&layout=10&tm=6). Com o uso cada vez menor de organoclorados, a maior parte dos
pesticidas é de organofosforados, altamente tóxico para os seres humanos.
Intoxicações com organofosforados são muito comuns, sobretudo entre agricultores. Mas e se
houver uma intoxicação em massa por essas substâncias? Como em um ataque terrorista, por
exemplo, no que os americanos chamariam de agroterrorismo ou com uso de armas químicas,
como os chamados nerve gas, que nada mais são que potentes compostos organofosforados, como
o soman, Vx, sarin e tabun.
Mais à frente falaremos de agroterrorismo e de terrorismo químico.
Com relação ao uso de armas químicas, não podemos nos esquecer da utilização de nerve gás
e gás mostarda pelos iraquianos contra os curdos em 1988, na chamada Operação Anfal. Foi
talvez a primeira vez na história que um país utilizou armas químicas contra seu próprio povo.
Durante toda a campanha iraquiana contra os curdos, estima-se que entre 50.000 e 100.000
pessoas daquela etnia tenham sido mortas. Cerca de 250 cidades e vilarejos foram expostos a
armas químicas. Na cidade de Kalbja, mais de 5.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças,
foram vítimas de armas químicas, sob o comando de Sadam Hussein.
Saiba mais sobre armas químicas e biológicas em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1221_mff_bio/page8.shtml.>
22
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
<http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/saude/aarmas.htm.>
<http://emergency.cdc.gov/.>
Saiba mais sobre a Operação Anfal em:
<http://www.hrw.org/legacy/reports/1993/iraqanfal/#Table%20of.>
<http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/08/21/
AR2006082100959.html.>
Um estudo clássico da utilização de armas químicas contra civis, obrigatoriamente nos leva ao
atentado terrorista de Tókio, em 1995, com uso do gás sarin.
Um novo termo passou a ser conhecido pelos estudiosos em Homeland Security. Trata-se da
Farmacologia Tática. Esse termo surgiu em 2002, no Teatro de Moscou. Um grupo de 50 terroristas
tchetchenos fez 700 reféns. Durante as operações de resgate de reféns, o governo russo utilizou
um produto químico, cuja composição até hoje desconhecemos a composição, resultando em
168 mortos, dos quais 118 reféns. Por se tratar de uma situação completamente atípica, em que
foi utilizada uma substância química com finalidade específica de atingir os criminosos (a ideia
era realmente matar ou imobilizar?), passou-se a falar em farmacologia tática. Naturalmente que
sob esse aspecto poderíamos considerar que a utilização dos gases CS, principalmente com efeito
lacrimogêneo, em distúrbios civis, também se encaixaria nessa definição; contudo, foi o evento de
Moscou que trouxe à tona a discussão desse conceito.
Para saber mais, leia o artigo abaixo:
<http://www.bma.org.uk/images/DrugsasWeapons_tcm41-144496.pdf.>
Com relação a acidentes com transporte de produtos perigosos, sabemos que o assunto é vasto e que
muito se pode escrever sobre ele.
Na teoria, apenas veículos especialmente destinados a esse fim, conduzidos por motoristas com
curso específico para transporte de cargas perigosas, podem realizar essa atividade, em nosso
país. Na prática, sabemos que muitas vezes são transportados produtos perigosos em caminhões
sem qualquer tipo de sinalização, em condições precárias e com motoristas sem a menor noção
sobre o tema.
Nos sites abaixo, poderão ser encontradas, diversas informações sobre legislação,
sinalização e treinamento na área.
<http://www.produtosperigosos.com.br/.>
<http://www.antt.gov.br/faq/produtos_perigosos.asp.>
<http://www.abiquim.org.br/.>
<http://www.cepis.ops-oms.org/tutorial1/p/clasiden/index.html.>
23
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
Emergências Biológicas
Há diversas possibilidades de encontrarmos emergências biológicas:
»» Epidemias e pandemias.
»» Intoxicações alimentares.
»» Contaminações acidentais.
»» Bio-ataque.
»» Bioterrorismo.
Emergências Radioativas
Podem ser decorrentes de:
»» Vazamento radioativo.
»» Contaminação radioativa acidental.
»» Bomba-suja e terrorismo.
»» Explosões atômicas.
Em 1986, o mundo assistiu, atônito, o pior vazamento radioativo da história, em Chernobyl, na antiga
União Soviética. Foram evacuadas 200.000 pessoas, com 56 mortos na fase inicial e estimativa de
cerca de 4.000 mortes ao longo dos anos.
Para saber mais:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil.>
<http://ngm.nationalgeographic.com/2006/04/inside-chernobyl/stone-text.>
<http://world-nuclear.org/info/chernobyl/inf07.html.>
figura 10. Acidente com Césio em Goiânia
Fonte: <www.clicabrasilia.com.br>
24
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Acidentes em usinas nucleares e envolvendo produtos radioativos são extremamente graves.
Infelizmente, muitos serviços de emergência, por não acreditarem na possibilidade de que possam
ocorrer, não elaboram planos de contingência.
Um outro exemplo a ser dado foi o vazamento de radiação ocorrido em 1979, em Three Miles Island
no estado americano da Pennsylvania. Houve grande medo na população que poucos dias antes
havia assistido o lançamento de um filme (Síndrome da China) que tratava de um vazamento em
uma usina nuclear. As informações prestadas à população foram muito ruins, o que agravou a
situação. Não houve mortos nem feridos.
<http://www.nrc.gov/reading-rm/doc-collections/fact-sheets/3mile-isle.html.>
<http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/tmi.html.>
figura 11. Three Miles Island
Fonte: <www.ohiocitizen.org>
Planejamento
É fundamental, em todas as áreas de Emergência, o planejamento de ações e o inventário de riscos.
Perguntas devem ser feitas e respondidas, como, por exemplo:
»» Quantas empresas e indústrias ou locais de armazenamento de substâncias
químicas existem na região? Os Planos de Gestão de Crises e Contingenciamento de
Desastres são conhecidos?
»» Qual o fluxo de veículos transportando produtos perigosos na região? De onde vêm?
Para onde vão? Que produtos são esses? É possível o monitoramento?
25
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
»» Qual o tempo resposta para acidentes químicos, biológicos e radioativos?
»» Quais são os recursos materiais e humanos disponíveis?
»» Quais são os locais que trabalham com material radioativo na região?
Resposta
Que tipo de emergência está acontecendo? Essa é a primeira pergunta a ser feita.
»» Há presença de gases ou fumaças? Pensar em emergência química.
»» Há presença de pó? Pensar em emergências biológicas.
»» Há explosão? Pensar em emergências químicas e radioativas.
»» Há várias pessoas com os mesmos sinais e sintomas? Pensar em emergência
biológica.
Esteja, no entanto, atento, pois todos esses elementos podem estar presentes.
DiantedapossibilidadedeumaemergênciaNBQ(Nuclear,BiológicaeQuímica)ouRBQ(Radioativa,
Biológica e Química), há necessidade de que sejam adotadas as seguintes medidas, pela primeira
autoridade presente no local, entendendo-se como autoridade, todos com poder e treinamento para
assim procederem (polícia, bombeiros, SAMU etc.):
»» Isolamento e proteção.
»» Contenção.
»» Diagnóstico/identificação dos produtos.
»» Abordagem e descontaminação.
O Sistema de Comando de Incidentes (ICS), que será estudado de forma mais detalhada
posteriormente, deve ser imediatamente adotado.Aqui podemos ter uma ideia da estrutura do ICS,
criado para, entre outras coisas, facilitar a coordenação de eventos críticos. O C3I, abaixo citado, é
26
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
uma abreviação das medidas que devem ser realizadas em todos eventos com potencial de crise e
compreende: Comunicação (C), Controle (C), Comando (C) e Inteligência (I). Há presença de gases
ou fumaças? Pensar em emergência química.
Há presença de pó? Pensar em emergências biológicas.
Há explosão? Pensar em emergências químicas e radioativas.
Há várias pessoas com os mesmos sinais e sintomas? Pensar em emergência biológica.
Esteja, no entanto, atento, pois todos esses elementos podem estar presentes.
Figura 12. ICS e C3
I
Incident Commander
Oficial de
Informações Públicas
Oficial de Segurança do
Evento
Oficial de Ligação
Seção de Operações Seção de Lojística Seção de Adm/Finan
Unidades
Operações Aéreas
e Terrestres
Divisões Grupos
Time de resposta
Busca e Salvamento
Emergência Médica
Unidades de
Recursos
Unidade de
Situação
Unidade de
Desmobilização
Unidade de
Documentação
Unidades de
Recursos
Unidades de
Suporte
Unidades de
Comunic.
Unidades de
Materiais
Unidades
Médica
Unidade de
Equipamentos
Unidade de
Alimentos
Unidade de
Suporte Terr.
Unidades de
Tempo
Unidade de
Contabilidade
Unidade de
Ressarcimento
Unidade de
Custos
Seção de Planejamento
Luiz Henrique Hargreaves
Figura 13.
Luiz Henrique Hargreaves
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RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
Em uma situação com perspectiva NBQ as ações de isolamento, contenção, descontaminação devem
seguir os seguintes princípios:
Zona Quente
Onde está o produto causador do evento, bem como as áreas de risco imediatamente adjacentes.
Acesso permitido apenas aos profissionais treinados em situações com produtos perigosos,
emergências biológicas e radioativas e devidamente equipados para a resposta adequada. Se há
vítimas, essa equipe de resposta procederá o resgate e o transporte até a zona morna.
Zona Morna
Local onde será feita a descontaminação e em seguida o atendimento inicial que se faça necessário.
Nesse local não há radiação, fumaça ou riscos biológicos e/ou químicos.
Zona Fria
Local onde será feito o isolamento da cena. Aqui não há presença de radiação, fumaça ou riscos,
devidamente avaliados. As ambulâncias devem estar aqui localizadas. Eventualmente, ambulâncias
adaptadas para transporte de pacientes contaminados podem estar presentes na área amarela.
Diante de uma emergência definida, como, por exemplo, um acidente com um produto perigoso em
uma rodovia, a partir da sinalização localizada no caminhão de transporte as equipes de bombeiros
e da Defesa Civil podem identificar qual produto está colocando em risco a vida das pessoas, como
combater incêndio, se for o caso, e os primeiros socorros a serem adotados.
Essa identificação segue um padrão, com cores e símbolos, como a imagem a seguir:
O Manual para Atendimento de Emergência com produtos perigosos (figura a seguir) possui todas
informações sobre o atendimento a produtos químicos e foi elaborado pela ABIQUIM (Associação
Brasileira da Indústria Química).
A publicação informa o número ONU e a classificação de risco de
aproximadamente 2 mil produtos químicos, por ordem alfabética e numérica da
ONU, e um guia com informações sobre os principais riscos, como combustão
28
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
espontânea, emissão de gases tóxicos ou contaminação do meio ambiente,
fornecendo orientações sobre as primeiras ações a serem tomadas em situações
de emergência.
http://www.abiquim.org.br/conteudo.asp?princ=pro&pag=manu
O gerente de crises nessas situações, deve entre outras atividades:
1.	 acionar as equipes especializadas;
2.	 garantir o adequado isolamento, contenção, descontaminação e atendimento e
evacuação de feridos;
3.	 definir as zonas quente, amarela e vermelha, em conjunto com os especialistas;
4.	 montar posto de comando;
5.	 atuar como Incident Commander.
O gerente de crises não participa diretamente do atendimento. Lembrem-se dos princípios de
gerenciamento de crises em situação com reféns.
Nessas situações, onde se sabe exatamente qual produto está causando o problema, as equipes
de resposta podem utilizar os equipamentos mais adequados e o atendimento às vítimas será
mais direcionado.
Noentanto,quandodesconhecemosanaturezadoevento,devemosassumirqueastrêspossibilidades
podem estar presentes:química, biológica e radiológica.
Os equipamentos de proteção individual devem ser definidos conforme o risco a que estão expostos:
29
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
Figura 14.
Na dúvida, o uso do equipamento encapsulado deve ser utilizado.
A primeira autoridade a tomar conhecimento do fato deve (se há explosão, gases, fumaça com
coloraçãodiferente,váriaspessoasapresentandosinaiseousintomassemelhantes,pódesconhecido):
1.	 isolar a área (perímetros maiores para risco desconhecido, com o mínimo de
100 metros);
2.	 acionar socorro especializado;
3.	 em casos onde esteja evidente o risco, como gases e fumaças, proceder a imediata
evacuação do prédio para área ao ar livre. As pessoas que podem ter sido de alguma
forma contaminadas não devem ser mandadas embora, mas devem aguardar em uma
determinada área isolada até a chegada da equipe de descontaminação. Havendo
necessidade de descontaminação rápida (demora na chegada da equipe especializada,
número excessivo de vítimas, certeza de fonte radioativa, gases tóxicos), as vítimas
devem receber jatos de água de mangueira, para a descontaminação inicial. Sempre
que possível, as vítimas devem remover as roupas contaminadas. Cuidados, no
entanto, devem ser tomados para não expor as vítimas à curiosidade alheia, ao frio
intenso etc.
A equipe de resposta, ao chegar ao local, deve portar aparelho para detecção de radiação (Geiger)
e verificar se há radiação presente. Não havendo, determinar a ampliação ou não do isolamento e
iniciar processo de aproximação (manter detector de radiação ligado).
Ao aproximar-se do local, a equipe deve utilizar detector de gases múltiplos e explosímetro.
Infelizmente esses equipamentos raramente são encontrados nos Corpos de Bombeiros e a presença
de um não substitui a do outro. São equipamentos caros para serem adquiridos de forma individual,
mas fundamentais para a instituição que se propõe a atender esses tipos de emergência.
As pessoas expostas à substância devem ser descontaminadas (zona amarela e sempre que possível
de forma padrão, com uso de piscinas portáteis). Quem for proceder a esse tipo de descontaminação
deve estar atento para o fato de que a água que escorre da vítima também está contaminada e deve
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UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
ser recolhida para descarte posterior em local adequado. Muito cuidado deve ser tomado com o
risco de contaminação de rios, córregos, entre outros.
Figura 15. Descontaminação padrão
Fonte: <www.orrsafety.com>
Em se tratando de objetos que não podem ser verificados, como malas, o esquadrão antibombas
também deve ser acionado.
Diante da presença de pó ou substância sólida suspeita (não identificada), essa deve ser colocada
em saco plástico duplo, resistente, transparente (após ter sido descartada a possibilidade de ser
radioativa ou explosiva), completamente selado e transportado para laboratório de referência (a ser
designado pela Secretaria de Saúde) para ser submetido a triagem, que inclui coloração para Gram e
análise bacteriológica preliminar. Havendo necessidade de exames complementares, o material deve
ser imediatamente transportado para laboratório com nível de proteção maior. Até a conclusão dos
exames, o que deve ser feito preferencialmente nas primeiras 24-48h, sobretudo para descartar a
possibilidade de antrax, as pessoas contaminadas devem ser examinadas e acompanhadas por equipe
médica de referência, que segundo os protocolos internacionais, indicará medidas quimioprofiláticas.
Apenas após o descarte da presença de microrganismos patogênicos, o material pode ser analisado
pela perícia criminal.
31
CAPÍTULO 3
Terrorismo
Não há um consenso sobre a melhor definição de terrorismo. O Brasil, por exemplo, é signatário de
diversos acordos e tratados internacionais contra o terrorismo, mas não possui legislação sobre o
tema e sequer uma definição oficial.
The United States Department of Defense define terrorismo como “uso calculado de violência ilegal e
ilegítima ou ameaça de violência para provocar medo, com intenção de coagir ou intimidar governos
ou sociedades visando alcançar resultados geralmente no campo político, religioso ou ideológico”.
Elementos presentes:
»» Intimidação.
»» Medo.
»» Violência.
Objetivo: Produzir terror.
O FBI, por sua vez, assim o define: “Terrorismo é o uso ilegal e ilegítimo da força e da violência
contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, a população civil, ou qualquer
outro segmento, com objetivos sociais ou políticos”.
As Nações Unidas, em 1992, definiram terrorismo da seguinte forma: “An anxiety-inspiring method
of repeated violent action, employed by (semi-) clandestine individual, group or state actors, for
idiosyncratic, criminal or political reasons, whereby – in contrast to assassination – the direct
targets of violence are not the main targets.” (Um método que inspira ansiedade (medo) com uso
de violência repetida, empregada por atores representados por grupos, estados e pessoas (semi)
clandestinos, para idiossincrasia, razões políticas ou criminais e em contraste com o assassinato, as
vítimas diretas da violência não são o alvo principal”.
Podemos encontrar situações que são atos terroristas mas não se encaixariam nas definições
supracitado, como o cyberterrorismo (uso do computador para a prática de ações terroristas. Já
imaginaram a parada de funcionamento do sistema de controle de voo?) e o agroterrorismo (uso de
toxinas ou elementos biológicos para provocar terrorismo, por meio da contaminação de pecuária,
plantações e outros meios produtivos da agricultura, podendo causar graves prejuízos econômicos).
Em seu livro “Guerras Justas e Injustas”, Michael Watzer coloca a aleatoriedade na escolha das
vítimas e o assassinato de pessoas, como condições para a definição de terrorismo, o que é bastante
questionável. A ameaça não é suficiente para causar medo na população e paralizar um sistema?
Em 30 de abril de 1997, por exemplo, ameaças de bomba do Exército Republicano Irlandês (IRA)
paralisaram estradas britânicas e os dois principais aeroportos do país, causando o caos no tráfico
32
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
apenas 24 horas antes de um processo eleitoral. Milhares de usuários que se dirigiam para Londres
foram surpreendidos pelos alertas e houve o medo generalizado de atentados. Isso não é terrorismo?
Com relação à aleatoriedade, vejamos o caso que ficou conhecido como “Resgate em Entebe
(Uganda)”, ocorrido em 1976.
Naquela ocasião, um voo da Air France que ia de Tel Aviv a Paris, com escala em Atenas, com 246
passageiros, além da tripulação, foi sequestrado por elementos do grupo terrorista de esquerda
alemã Baader-Meinhoff e da Frente de Libertação da Palestina. Dos passageiros capturados, 101 são
retidos por serem judeus ou israelenses, o que já mostra que a escolha não foi aleatória.
O ato terrorista foi apoiado pelo ditador de Uganda, Idi Amin Dada e pode ser visto
no cinema em dois filmes:
Resgate em Entebbe
Título no Brasil: Resgate em Entebbe.
Título Original: Raid on Entebbe.
País de Origem: EUA.
Gênero: Ação.
Tempo de Duração: 150 minutos.
Ano de Lançamento: 1977.
Direção: Irvin Kershner.
O Último Rei da Escócia
Título Original: The Last King of Scotland.
Tempo de Duração: 121 minutos.
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2006.
Site Oficial: <www2.foxsearchlight.com/thelastkingofscotland>.
Estúdio: Fox Searchlight Pictures/UK Film Council/Slate Films/Tatfilms/Scottish
Screen/DNA Films/FilmFour/Cowboy Films.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation.
Direção: Kevin Macdonald.
A Operação de Resgate, denominada inicialmente de Thunderball foi rebatizada
como “Operação Yonatan”, em homenagem ao único militar israelense morto, o
coronel e comandante da operação, Yonatan Netanyahu, irmão do ex-primeiro
ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Para saber mais sobre essa operação veja:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Entebbe>.
Da mesma forma, ainda falando de aleatoriedade, analisemos o atentado de Oklahoma City,
em 1995.
O alvo de Timothy Mcveigh eram os escritórios federais da ATF, FBI e DEA, que funcionavam no
Edifício Federal Alfred Murrah. Não os escritórios em si, mas o que representavam. No atentado
33
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
houve 168 mortos, dos quais 19 crianças, e um total de 500 feridos. Esse atentado serviu também
para derrubar outros mitos:
1.	 Não houve envolvimento de grupos terroristas, mas apenas de uma pessoa que
tinha motivação e sabia a forma de levar à frente seu plano.
2.	 Não há necessidade de armas sofisticadas para um atentado terrorista. Nesse caso,
o terrorista utilizou-se de grande quantidade de fertilizante e detonador (ANFO).
3.	 Não houve envolvimento ou motivação fundamentalista religiosa,
4.	 Não havia um projeto de tomada de poder, nem motivação separatista, mas um
descontentamento do terrorista com o governo, particularmente pela forma com
que os agentes federais conduziram o cerco à fazenda de David Koresh, no episódio
conhecido como “Waco Siege”, em 1993. Tratava-se de uma dissidência dos
Adventistas do Sétimo Dia, localizada na região, que previa que a segunda vinda de
Cristo à Terra era iminente e todos deveriam aguardá-la juntos. Houve denúncias
de cárcere privado, inclusive de menores, de posse ilegal de armas, entre outras. Na
operação em que se pretendia libertar todos que lá estavam e prender o líder, houve
grande reação por parte dos membros da seita e o resultado foi que, em uma primeira
tentativa, morreram 4 agentes e 6 seguidores da seita. Após 51 dias de negociação, mal
sucedida, o desfecho foi de 76 mortos, incluindo mais de 20 crianças e duas gestantes.
<http://en.wikipedia.org/wiki/Waco_Siege>.
Atentado de Oklahoma City
Fonte: http://www.defenselink.mil/multimedia/
34
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Ou seja, não houve a morte aleatória de pessoas, mas uma cuidadosa escolha dos alvos a
serem atingidos.
Se não há consenso, podemos e devemos então trabalhar em cima das características do terrorismo,
para atuamos na prevenção e resposta. Assim, podemos dizer que as ações terroristas:
»» Não são objeto-fim da ação. O objetivo final da ação é outro.
»» Possuem motivação ideológica (religião, política, mas também convicções pessoais).
»» São frequentemente de grande repercussão.
»» Podem envolver violência, ameaça ou graves danos (ciberterrorismo, blecautes,
outros).
»» Não estão relacionados necessariamente a grupos terroristas.
»» Não requerem participação de estrangeiros.
»» Podem ter motivação econômica (agroterrorismo, narcoterrorismo).
»» Causam medo generalizado na população que não se sente protegida pelo Estado
(situação permanente de terror).
Com tantas possibilidades, poderíamos pensar que qualquer ato é terrorista?
Não. Há necessidade da existência de ao menos a relação: motivação (o ato não é o objetivo final)
medo generalizado na população (mais até que o medo, a percepção de insegurança frente a um
estado inoperante).
Entre as situações que podem causar danos psicológicos graves, certamente o terrorismo é
uma delas.
Nos atentados de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center, mais de 400 policiais e bombeiros
foram mortos. No total houve mais de 3.000 mortos. Um dos problemas encontrados entre os
sobreviventes foi o chamado The Survivor Victim, que poderia ser resumido em uma frase: “Por que
eu sobrevivi?”
Na prestação dos Primeiros Socorros Psicológicos, é fundamental que haja uma sequência de
abordagens, assim resumida:
»» Avaliação de necessidades (Quem apresenta maior risco de necessitar de Primeiros
Socorros Psicológicos?).
»» Estabilização (Como diminuir uma escalada de processos em espiral que possa
agravar ou produzir novas necessidades de socorro psicológico?).
»» Reavaliação e Triagem (Distress (o chamado stress ruim), Fadiga/sono/fome, “O
dia seguinte”).
35
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
»» Comunicação (Estabelecer confiança, presença, comunicação com as vítimas. As
autoridades devem visitar os sobreviventes, participar de cerimônias dedicadas
às vítimas).
»» Integração com Sistema (Acompanhamento e seguimento).
No chamado “Primeiros Socorros Psicológicos no Terrorismo”, temos:
1.	 Conheça você mesmo.
2.	 Conheça seu inimigo tão bem quanto você se conhece.
3.	 Tenha um plano bem estruturado para gerenciamento de crises.
4.	 Estabeleça suporte psicológico com equipes especializadas.
5.	 Estabeleça grupos de apoio e ajuda, faça debriefing.
6.	 Realize os primeiros socorros psicológicos e esteja atento ao colega mais próximo.
7.	 Restabeleça a rotina o mais rápido possível.
8.	 Utilize símbolos, cerimônias e ritos como forma de reestabelecer a unidade.
9.	 Prepare-se para “um novo começo”, a “reconstrução”.
10.	 Acredite que “o que não me destrói, me fortalece”.
11.	 Tenha auxilio religioso, quando adequado.
Atentados terroristas ocorrem no mundo inteiro há séculos. O termo no entanto vem sendo
empregado desde o chamado regime de Terror da Revolução Francesa, que durou cerca de 1 ano,
de 1793 a 1794, quando o governo revolucionário passou a perseguir (inicialmente apenas os
girondinos) todos inimigos ou que eram contrários ao governo, a prendê-los e a executá-los.
Os atos terroristas vêm ocorrendo no mundo ao longo dos séculos.
No período que se segue à segunda guerra mundial, o terrorismo separatista mostra sua face mais
cruel por meio dos atentados do IRA, no Reino Unido e do ETA, na Espanha (iniciado na década
de 1960).
<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/2004/03/17 /001.htm.>
<http://en.wikipedia.org/wiki/Irish_Republican_Army.>
No final da década de 1960 e durante a de 1970, os grupos terroristas, basicamente, eram de
orientação de esquerda, ou seja, com ideologia comunista ou marxista.
Saiba mais sobre a história do terrorismo em:
<http://www.bbc.co.uk/history/recent/sept_11/changing_faces_01.shtml.>
36
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Com o fim da Guerra Fria ainda persistem grupos terroristas separatistas, mas foi por meio do
fundamentalismo religioso e dos atentados terroristas do Hezbollah, da Al-Qaeda, do Hamas, que
passamos a conhecer o que se denomina Terrorismo Internacional contemporâneo. Não há países
imunes a esse tipo de terrorismo.
O Japão sofreu um atentado por terrorismo químico, sem precedentes no mundo contemporâneo,
apesar do terrorismo de Estado de Sadam Hussein ao utilizar na década de 1980, armas químicas
contra os curdos no norte do país.O que tornou único esse atentado, foi o fato da facilidade com que foi
praticadoeemboraonúmerodemortostenhasidorelativamentebaixo(7)portratar-sedeusodearma
de destruição em massa, o pânico e o medo que se instalaram naquele país, foram impressionantes.
Saiba mais sobre este atentado em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Sarin_gas_attack_on_the_Tokyo_subway.>
Desde então, temos nos defrontado com atentados cometidos por fundamentalistas religiosos em
diversas partes do mundo, como: Indonésia, Turquia, Israel, Líbano, Espanha, Inglaterra, Escócia,
entre outros, com destaque para os atentados de 11 de setembro de 2001, considerado o pior atentado
terrorista da história da humanidade.
Saiba mais sobre esses atentados em:
<http://www.emergency.com/cntrterr.htm.>
<http://www.fas.org/irp/threat/terror.htm.>
<http://www.fas.org/irp/threat/nctc2008.pdf.>
Ao longo da história, a maior parte dos atentados terroristas teve como causa o uso de bombas (mais
de 65% dos ataques no mundo e mais de 88% dos ataques nos Estados Unidos).
A escolha dos alvos terrorista, leva em consideração:
»» o valor simbólico;
»» o potencial em causar danos físicos e materiais;
»» a acessibilidade geográfica;
»» as atividades operacionais;
»» o valor econômico;
»» a vulnerabilidade.
As bombas podem ser:
»» utilizadas em malas e maletas a serem deixadas em determinado local;
»» enviadas pelos Correios;
37
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
»» utilizadas em carros por homens-bomba (suicidas);
»» instalados em carros e outros locais com acionamento remoto ou pela própria
vítima;
»» em larga escala, como arma de destruição em massa;
»» disparadas por armas como lança-foguetes.
Outras formas de terrorismo incluem:
»» raptos e sequestros;
»» dispositivos incendiários;
»» armas e dispositivos químicos, biológicos e radioativos ou nucleares;
»» ocupação armada com reféns;
»» ataque cibernético;
»» agroterrorismo.
É fundamental que as organizações e corporações públicas e privadas assim como os orgãos de
segurança pública, possuam planos para resposta a ameaças com bombas.
Esses planos devem ser baseados nos seguintes elementos:
»» nível de ameaça;
»» natureza da estrutura da organização e atividades desenvolvidas;
»» atividades críticas;
»» recursos disponíveis;
»» recursos de comunicação;
»» segurança das pessoas envolvidas;
»» legislação vigente.
Não entraremos em detalhes referentes ao planejamento em si, mas na postura que se espera do
gerente de crises nessas situações (ameaças ou suspeitas de atos terroristas iminentes ou em curso):
»» Ao ser informado, comunicar imediatamente a autoridade superior da instituição
(no caso, por exemplo, de corporações).
»» Acionar equipes especializadas.
»» Proceder com isolamento e contenção dos locais suspeitos, afastando curiosos.
»» Promover a retirada segura das pessoas ocupantes dos locais suspeitos.
38
UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES
»» Providenciar local para estacionamento das viaturas de polícia, resgate e socorro
médico, conforme protocolo.
»» Instalar Posto de Comando e Gabinete de Crise, conforme o caso (sempre em área
segura).
No caso de atentados:
»» Verificar uma área segura para briefing de segurança inicial.
»» Verificar se todos utilizam equipamentos de proteção individual.
»» Verificar a segurança das pessoas que lá se encontram e voluntários.
»» Estar atento para dispositivos secundários.
»» Estar atento para a possibilidade de múltiplos agentes envolvidos (radiação,
químico, biológico, bombas-sujas).
Com relação à triagem verificar se:
»» pode haver lesões múltiplas, únicas ou ocultas;
»» a morte geralmente é consequência do resultado da combinação de múltiplos
fatores;
»» até 75% das vítimas comumente vão sozinhas para os hospitais;
»» os pacientes requerem descontaminação?
Terrorismo Químico
Características:
»» Rápida ação.
»» Envolve chamados a policia, bombeiros, ambulâncias.
»» Área delimitada.
»» Requer descontaminação.
»» Requer uso de antídotos químicos, quando disponíveis.
»» Isolamento apenas até a descontaminação.
»» Não há transmissão.
Terrorismo Biológico
Características:
»» Reconhecimento com frequência é tardio.
39
RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA
»» Alerta dado por médicos, enfermeiros.
»» Requer vacinas, antibióticos e medicações específicas.
»» Isolamentos podem ser necessários, incluindo a quarentena.
»» Há risco de transmissão, dependendo do agente utilizado.
»» Pode haver casos secundários e comorbidades.
Para saber mais sobre terrorismo químico e biológico, acesse:
<www.cdc.gov (inglês e espanhol).>
Sinais de alerta para Terrorismo Biológico:
»» Grupo de indivíduos torna-se doente ao mesmo tempo.
»» Súbito aumento de sintomas em indivíduos previamente saudáveis.
»» Aumento súbito de sintomas e sinais inespecíficos.
»» Ocorrência de rápida transmissão de doença ou sintomas entre pessoas, animais,
incluindo pássaros.
»» Surgimento de sinais e sintomas em pessoas que estiveram juntas em determinado
local, evento ou socorro.
…é esquecido que a mortal bactéria criada pelo homem ao flutuar
no ar não irá reconhecer nacionalidades, diferenciar amigos de
inimigos, tampoco irá voltar para o tubo de ensaio sob as ordens
de seu criador.
Natarajan (1965)
40
Para (não) Finalizar
As emergências e desastres requerem respostas imediata. Daí a importância do Atendimento
Pré-Hospitalar (APH).
Procuramos, neste Caderno, mostrar, de forma abrangente, como são organizados e gerenciados
os sistemas de emergência no mundo e no Brasil. Abordamos os eventos que ocorrem em situações
emergenciais, como as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas, mostrando os tipos de
materiais empregados, as possibilidades de ocorrência e as causas que vêm atingindo um número
bastante elevado da população mundial, tendo como consequência a morte e os traumas decorrentes.
Os desastres ocorridos, se não levam à morte, provocam o medo na população e trazem problemas
psicológicos sérios, principalmente nos casos de terrorismo de qualquer natureza.
Deixamos, aqui, muitas opções para você aprofundar seus conheciemnto. Acesse os sites sugeridos,
consulte mais e veja como o problema é série e exige muito desprendimento e esforço para o sucesso
em situações de emergências e desastres, já que, infelizmente, não temos o poder de dissipar as
ocorrências provocadas intencionalmente no mundo.
41
Referências
ALEXANDER, David. Principles of emergency planing and management. Oxford,UK:
Oxford University, 2007.
CASTRO, Antônio Luis Coimbra. Manual de desastres humanos – I, II e III partes. Brasilia:
Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 2004.
CASTRO, Antônio Luis Coimbra de. Manual de desastres – Volumes I – Desastres Naturais.
Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 1999.
CASTRO, Antônio Luis Coimbra; CALHEIROS, Lelio. Manual de medicina de desastres.
Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 2007.
CIOTTONE et al. Disaster medicine. Philadelphia, USA: Elsevier, 2006.
HOGAN, David; BURSTEIN, Jonathan. Disaster medicine. Philadelpia, USA: Lippincot Willians
& Wilkins.2007.
KOBYAMA, Masato et al. Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos. Organica
Trading. 2006. Disponível em: <http://www.areatb.com.br/cursohidrologia/prevencao_de_
desastre_naturais.pdf>. Acesso em 15/3/2008.
SILVIA, Ricardo. As diversas faces do terrorismo. São Paulo: Harbra, 2002.
WHITTAKER, David. Terrorismo. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2005.

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Resposta em emergencias e desastres final

  • 2. Elaboração Luiz Henrique Horta Hargreaves Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
  • 3. Sumário APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7 UNIDADE ÚNICA RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES........................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 ORGANIZAÇÃO E GERENCIAMENTO DE SISTEMAS DE EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR................. 9 CAPÍTULO 2 EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, BIOLÓGICAS E RADIOATIVAS.......................................................... 20 CAPÍTULO 3 TERRORISMO......................................................................................................................... 31 PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 41
  • 4. 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial
  • 5. 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Pararefletir Questõesinseridasnodecorrerdoestudoafimdequeoalunofaçaumapausaereflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestãodeestudocomplementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado.
  • 6. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Textointegrador,aofinaldomódulo,quemotivaoalunoacontinuaraaprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
  • 7. 7 Introdução Este Caderno está dividido em três capítulos. No primeiro, estudaremos a organização do atendimento pré-hospitalar. No segundo capítulo, veremos situações chamadas de especiais, pois trataremos de condições que requerem atendimento altamente especializado, como nas emergências biológicas, químicas e radioativas. O último capítulo é voltado para o terrorismo. Um bom estudo para todos! Objetivos »» Compreender os conceitos de Atendimento Pré-Hospitalar. »» Compreender os conceitos de terrorismo e emergências químicas, biológicas e radioativas. »» Compreender a importância do tema no Gerenciamento de Crises. »» Apresentar conceitos e instrumentos para gerenciamento de emergências e desastres em Segurança Pública.
  • 8. 8
  • 9. 9 UNIDADE ÚNICA RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES CAPÍTULO 1 Organização e Gerenciamento de Sistemas de Emergência Pré-Hospitalar O atendimento pré-hospitalar, ou APH, como é conhecido no Brasil, é uma atividade relativamente recente, que data da década de 60 nos Estados Unidos. Provavelmente poderão ser encontradas muitos autores que datam o atendimento pré-hospitalar como sendo o correspondente ao das Guerras Napoleônicas, quando o médico militar de Napoleão, Dominique Jean Larrey, preocupado com a sorte dos soldados feridos abandonados no campo de batalha, desenvolve um sistema de transporte rápido para o atendimento precoce, o que seria um protótipo das ambulâncias atuais. Figura 1. Dr. Dominique Jean Larrey Fonte: napoleonbonaparte.wordpress.com
  • 10. 10 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Figura 2. Veículo de transporte (“Ambulâncias voadoras”) de feridos de Dominique Larrey. Fonte: <www.newscientist.com> Esse médico teve ainda o mérito de organizar equipes com médicos cirurgiões e ajudantes, que eram equipados com materiais para prestação de primeiros socorros. Isso no Século XVIII, por volta de 1790. Integramos a da corrente de autores que considera importantíssimo o trabalho do Dr Larey; certamente ele revolucionou o atendimento médico nos campos de batalha e na chamada “medicina de combate”, mas considerar que o atendimento pré-hospitalar tem início com o Dr. Larey é algo com que fica difícil de concordar. O trabalho do Dr. Larey era restrito à atuação em guerras para atender a soldados feridos. Seus conceitos naturalmente foram aproveitados para o aperfeiçoamento em guerras futuras, como nos grandes conflitos mundiais e, posteriormente, na Guerra da Coreia e do Vietnã, mas não podemos afirmar que a partir do Século XVIII o APH passou a ser organizado nos grandes centros e a funcionar com objetivo de atendimento de pacientes de forma precoce até a remoção para o hospital. Esse conceito só vai surgir na década de 1960, em pleno Século XX. Há muitas ações colocadas em curso ao longo da história que inspiraram e contribuíram para diversas invenções modernas, mas não podemos fazer uma correlação direta dos fatos, pois há um enorme hiato entre a criação das ambulâncias do Dr. Larey e a organização dos serviços pré- hospitalares. Há quem considere o Dr Larey como sendo o fundador do Samu francês, o que é, no mínimo, absurdo, pois aquele serviço foi criado apenas em 1968, mais de 100 anos depois. Na verdade podemos situar o início da organização do atendimento pré-hospitalar na década de 1960, a partir do trabalho do Dr. Frank Pantridge, na Irlanda. Esse cardiologista foi o primeiro a utilizar um desfibrilador portátil e criou o conceito de Unidade Coronariana Móvel, na cidade de Belfast. Ex-veterano da Segundo Guerra Mundial, quando como militar britânico, foi prisioneiro de guerra dos japoneses. Em 1967, publicou o artigo A Mobile Intensive-Care Unit in the Management of Myocardial Infarction, na conceituada revista Lancet.
  • 11. 11 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA Figura 3. Dr. Frank Pantridge Fonte: <http://www.heartsine.com/HeartSine%20story%20images/pantridge.jpg> Figura 4. Unidade Coronariana Móvel do Dr. Pantridge Fonte: <www.nireland.com/gi4xfr/ambs.htm> Os americanos, a partir de uma artigo publicado na revista Science, em 1966, demonstraram sua preocupação com as condições em que os pacientes chegavam aos hospitais, ficando claro que havia necessidade de um atendimento pré-hospitalar. Os franceses, utilizando um modelo onde o atendimento é realizado inicialmente por uma central de regulação e, a partir da avaliação do médico regulador, despacha o socorro mais adequado, criam o SAMU, em 1968. No modelo francês, os médicos urgentistas tripulam as ambulâncias e promovem a estabilização do paciente no local do evento. Os especialistas em reanimação na França são os anestesiologistas, que também são reanimatologistas. Na França não há paramédicos. Figura 5. Samu francês Fonte: les2secouriste.skyrock.com/
  • 12. 12 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Os americanos, por sua vez, tinham uma realidade diferente dos franceses e dos irlandeses em diversos aspectos. O primeiro deles diz respeito à extensão territorial. Os Estados Unidos são muito maior do que os dois países e isso tinha implicações na formação de equipes médicas. A população era muito maior e o salário dos médicos nos Estados Unidos estava entre os maiores do mundo. Como colocar médicos em ambulâncias? A partir desses e de outros questionamentos, os Estados Unidos abrem o primeiro programa de residência em Medicina de Emergência na Universidade de Cincinnati, em 1970, e estabelece padrões para o atendimento pré-hospitalar. Surge, então, a figura dos Técnicos de Emergência Médica (EMT), que são classificados em diferentes níveis: Básico, Intermediário e Paramédico. A forma e amplitude de atendimento dos EMTs varia de estado para estado americano. Em alguns, eles podem atuar no suporte avançado de vida com base em protocolos, em outros, necessitam de supervisão médica on-line. O paramédico, portanto, é o nível mais avançado do EMT e não existe equivalente em nosso país. Figura 6. Símbolo dos EMTs americanos Para saber mais sobre a história do APH, veja o seguinte site: <http://www.nemsmf.org/> (inglês) Atualmente, praticamente todas comunidades americanas possuem um serviço de emergência pré-hospitalar, seja ele básico ou avançado, rural ou urbano. A atuação dos médicos nesses sistemas é voltada para o treinamento, supervisão, controle de qualidade e gerenciamento de serviços. Os serviços existem como estruturas governamentais ou pertencentes a empresas privadas. Os profissionais possuem diferentes níveis de treinamento; muitos atuam também como bombeiros ou policiais e, em sua maioria, são contratados e recebem salários, mas alguns serviços, sobretudo os rurais, são conduzidos por voluntários (ARNOLD, 2006). A ativação do serviço de emergência nos Estados Unidos é realizada pelo cidadão, a partir da ligação para um número único de emergência (911). A triagem é então realizada pelo operador da central de emergências, que definirá quais recursos serão despachados ao local (bombeiros, polícia, ambulâncias). Uma vez que o serviço é acionado, um profissional de emergência mantém contato permanente com o solicitante, por meio da ligação telefônica, de tal forma a orientá-lo até a chegada
  • 13. 13 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA das equipes ao local. Frequentemente, policiais e bombeiros são os primeiros a serem despachados e os primeiros a chegarem pois, usualmente se encontram mais próximos, dada a distribuição das unidades de patrulhamento e quartéis de bombeiros. Assim, a ativação do sistema, seja para uma urgência, seja para um desastre, usualmente é feita por intermédio da central de emergências (911) (ARNOLD, 2006). Figura 7. Cartaz de divulgação do número único de emergências nos EUA Fonte: <www.inewscatcher.com> O atendimento, por sua vez, é realizado de tal forma a estabilizar o paciente e removê-lo sem demora até o centro de referência. Segundo o modelo anglo-saxônico, convencionou-se chamar de “hora de ouro” o tempo decorrido a partir do momento do trauma até o seu atendimento em uma unidade especializada e que não deve ser superior a uma hora. Dentro dessa chamada “hora de ouro”, convencionou-se que o pré-hospitalar não deveria ocupar mais do que 10 minutos, no chamado “10 minutos de platina” (HARGREAVES, 2000). No modelo chamado franco-germânico, representado comumente pelo sistema adotado pelo SAMU francês, o médico faz a regulação das chamadas de emergência, e é tripulante das unidades de atendimento. O conceito de estabilização e transporte rápido é substituído pela estabilização cuidadosa e tratamento no local. Segundo Dick (2003), as principais diferenças encontradas entre os modelos franco-germânico (FG) e anglo-saxônico(AA) são: 1. No AA, o paciente é trazido até o médico, enquanto que no FG, o médico é levado até o paciente. 2. No FG, pacientes em situação de urgência normalmente são avaliados e tratados por clínicos gerais em seus consultórios ou na residência do paciente, com muito pouca abordagem no serviço de emergência. A maioria dos pacientes tratados na emergência de hospitais nos Estados Unidos, não vão para o hospital na Alemanha. 3. Pacientes em situações de emergência (risco iminente de morte) são tratados por médicos de emergência no local do evento e durante o transporte, no FG. Paramédicos frequentemente chegam primeiro ao local do evento e, até a chegada do médico, ele realiza os procedimentos iniciais de ressuscitação, básico e avançado.
  • 14. 14 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES 4. Pacientes em situações de emergência podem ter que aguardar até 10 minutos pela viatura e equipes apropriadas, em 80% das respostas, e até cerca de 15 minutos em 95% dos casos no FG. 5. No AA, o despacho é feito por um operador de emergência que pode enviar suporte básico ou avançado de vida. No segundo caso, a autoridade técnica maior da tripulação é o paramédico, que deve conduzir a estabilização e transporte da vítima o mais rápido possível até o hospital. 6. O tempo total de atendimento pré-hospitalar no modelo FG é superior ao do AA. 7. Medicina de Emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto que no FG é considerada como um treinamento adicional para especialistas de outra áreas. 8. O atendimento de emergência no FG é conduzido não apenas por anestesistas, mas também por internistas, cirurgiões, pediatras, outros. 9. O sistema baseado em paramédicos, dos Estados Unidos, foi desenvolvido em 1973, não porque se acreditava ser superior ao FG, mas por razões econômicas e uma relativa deficiência de médicos disponíveis para a adoção de modelo similar ao FG. Em contrapartida, o modelo alemão foi desenvolvido em 1938, pelo cirurgião alemão Martin Kirchner, tendo sido adaptado posteriormente na década de 1950 para o atendimento dos pacientes em situações de emergência, que deveriam receber o melhor cuidado disponível, o que incluía o atendimento por médico qualificado. No modelo AA, o paramédico atua como uma extensão do departamento de emergência (por razões econômicas), enquanto que no FG, o médico que atua no local do evento e faz como extensão da unidade de terapia intensiva. O médico é capaz de avaliar e fornecer atendimento inicial a diversas situações críticas, tendo o paramédico como seu auxiliar. Ainda de acordo com o mesmo autor, no FG, os médicos recebem um bom treinamento, embora o conceito e estrutura utilizados sejam diferentes da padronização americana. No FG, a medicina de emergência é parte da grade curricular dos estudantes de medicina, que devem, ao longo do curso, realizar cursos de suporte básico e avançado da vida, bem como treinamento específico para o atendimento de emergências. Além disso, a medicina de emergência é parte do exame final obrigatório. Após a conclusão do curso (6 anos), cada médico deve atuar em um sistema semelhante ao internato americano, por 18 meses, em que são exigidas atividades práticas de emergência. No AA, a medicina de emergência é uma especialidade primária nos Estados Unidos (3 anos). Na avaliação do estudo apresentado por Dick(2003), chegam-se às seguintes conclusões: 1. No FG, o médico é levado até o paciente, enquanto que no AA, o paciente é levado até o médico. 2. No FG, médicos de emergência e paramédicos fornecem atendimento de terapia intensiva aos pacientes, o que permite alta qualidade no atendimento de emergência.
  • 15. 15 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA 3. NoFG,seosparamédicospossuem treinamento especializado podem realizaralguns procedimentos, não apenas de suporte básico de vida, mas também avançado, sob supervisão médica. 4. No AA, o paramédico tem mais autonomia no atendimento do que no FG. 5. As taxas de morbidade e mortalidade têm decaído no FG e são semelhantes ao do AA, para as situações de emergência, compreendidas por aquelas conhecidas como “hora de ouro” do atendimento. 6. O custo per capita ou por atendimento de emergência no FG é similar ou até mesmo menor do que o do AA, com qualidade semelhante ou superior do que o AA. 7. Medicina de emergência é uma especialidade médica no AA, enquanto no FG é uma supraespecialidade, ou seja, um treinamento adicional para especialistas de outras áreas. O estudo acima apresentado avalia, portanto, a questão da resposta pré-hospitalar, sem tecer maiores considerações a respeito do atendimento hospitalar que nos Estados Unidos é realizado por especialistas em emergência médica, enquanto no FG, pelo próprio especialista que a patologia requer. O que poderia parecer uma vantagem, no caso de o atendimento no FG ser realizado pelo próprio especialista, recebe muitas críticas, pelo tempo e custo demandado, pois um paciente com traumatismo craniano leve, enquanto é muito bem atendido por um médico de emergência nos Estados Unidos, no modelo FG, é frequentemente avaliado por um especialista em neurologia ou em neurocirurgia, o que contribui para sobrecarregar o atendimento desses especialistas. Nos Estados Unidos, apenas casos referenciados pelos médicos de emergência são encaminhados aos outros especialistas. A resposta em desastres no modelo francês é feita por intermédio do médico regulador do Serviço de Assistência Médica de Urgência (SAMU), que despacha equipes médicas para avaliação da situação. É então acionado o chamado Plano Vermelho se a situação se configura como acidente com múltiplas vítimas. O atendimento no local do evento com o sistema de triagem é bem semelhante ao utilizado nos Estados Unidos, com a ressalva de que no modelo FG a avaliação e o atendimento inicial já são conduzidos por médicos, enquanto que nos Estados Unidos quem desempenha essas funções é o paramédico. O médico, naquele país, apenas em situações muito específicas e/ou graves, é deslocado para o local do evento, o que é feito em conjunto com o Corpo de Bombeiros. No modelo FG, uma vez acionado o Plano Vermelho (simultaneamente é acionado o chamado Plano Branco, destinado a colocar os hospitais em alerta), as equipes médicas passam a atuar em conjunto com os demais profissionais de socorro (bombeiros, polícia etc.) APH no Brasil O modelo de resposta em emergências e desastres no Brasil possui algumas peculiaridades. Não há um modelo nacional de Planos de Desastre, tampouco de resposta coordenada. Algumas poucas cidades possuem planos específicos , mas não há a cultura nem a doutrina do emprego do
  • 16. 16 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ICS (Incident Command System) no gerenciamento de crise, de um modo geral. A maioria dos hospitais sequer sabe o que é um Sistema de Comando de Incidentes. Até pouco tempo atrás não existia no Brasil um sistema ou modelo predominante de atendimento de emergência pré-hospitalar e cada estado ou município adotava o que julgava ser melhor para sua região. Assim, enquanto no Rio de Janeiro predominava o modelo franco-germânico, na maioria das demais regiões existia um modelo misto, com utilização de socorristas, técnicos de enfermagem e médicos (que só eram deslocados após avaliação do suporte básico ou mediante protocolos) ou simplesmente não existia modelo algum e o atendimento era feito por bombeiros ou pela prefeitura (HARGREAVES, 2000). Em 2003, com a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SAMU, no âmbito do SUS, o Brasil passou a adotar o modelo franco-germânico, com protocolos e estrutura semelhantes ao Samu francês. Segundo informações do Ministério da Saúde, disponibilizadas no site do SAMU, atualmente há 70 Serviços de Atendimento Móvel de Urgência implantados e em operação no Brasil. Ao todo, 266 municípios são atendidos pelo SAMU, num total de 62 milhões de pessoas. A Portaria no 1.863/GM, de 29 de setembro de 2003, do Ministério da Saúde, que “Institui a Política Nacional de Atenção às Urgências, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão”, estabelece, no inciso 4 do artigo 2o : Estabelecer que a Política Nacional de Atenção às Urgências composta pelos sistemas de atenção às urgências estaduais, regionais e municipais, deve ser organizada de forma que permita: [...] 4 – fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e de acidentes com múltiplas vítimas, a partir da construção de mapas de risco regionais e locais e da adoção de protocolos de prevenção, atenção e mitigação dos eventos. A Portaria no 2.048/GM, do Ministério da Saúde, de 5 de novembro de 2002, determina que: Os Corpos de Bombeiros Militares (incluídas as corporações de bombeiros independentes e as vinculadas às Polícias Militares), as Polícias Rodoviárias e outras organizações da Área de Segurança Pública deverão seguir os critérios e os fluxos definidos pela regulação médica das urgências do SUS, conforme os termos deste Regulamento. A Portaria no 2.072/GM, de 30 de outubro de 2003, institui o Comitê Gestor Nacional de Atenção às Urgências e determina, em seu art. 3o, que seja elaborado o “Plano de Atenção aos Desastres”. Assim, o Brasil possui diretrizes nacionais para a resposta de emergência, segue o modelo franco- germânico de resposta a emergências e urgências pré-hospitalares, possui órgãos estaduais para conduzir as operações de gerenciamento de crises e resposta estratégica de emergências, mas não possui um sistema de comando e controle de fato instituído(salvo em poucas cidades), tampouco
  • 17. 17 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA um Plano de Atenção aos Desastres, como modelo nacional, e cada corporação e organização segue suas próprias orientações operacionais e administrativas, em alguns estados sob coordenação da Defesa Civil, mas sem que haja uma padronização de respostas para eventos críticos, como parte de uma doutrina ou cultura. Figura 8. Ambulâncias do Samu no Brasil <http://www.es.gov.br> Não basta um serviço ter ambulâncias para ser considerado como APH. Sendo público ou privado, é necessário que haja algumas características presentes, tais como: »» Ter equipe treinada em APH e unidades dedicadas a esse tipo de atendimento. »» Ser apenas de Suporte Básico de Vida, situação de muitos Corpos de Bombeiros no país, de Suporte Básico e Avançado de Vida ou, ainda, apenas de Suporte Avançado de Vida, mais comumente encontrado em serviços privados. »» Contar com a presença de regulação médica. »» Possuir Unidades especialmente equipadas para APH, podendo, no entanto, ser especializadas para um tipo de atendimento (UTI Pediátrica, Coronária, de Trauma etc.). »» Ter equipes em condições de atuação em sistema de pronto-emprego. As unidades de suporte avançado de vida, obrigatoriamente, devem ser tripuladas com médico e enfermeiro. Não existe no Brasil a atividade de Paramédico, nem de Técnico de Emergência Médica. Existem Técnicos de Enfermagem com treinamento de emergência, mas que em nada se assemelham, em termos de formação e função, aos do EMT americano. Os Técnicos de Enfermagem no Brasil não podem atuar sem supervisão de enfermeiro e nenhuma medicação pode ser fornecida sem a devida prescrição médica. Procedimentos invasivos como a entubação orotraqueal, são privativos do médico. A desfibrilação externa automática pode ser realizada por qualquer pessoa que tenha sido treinada, no entanto, a desfibrilação convencional, apenas por médico. Acesso venoso
  • 18. 18 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES periférico pode ser realizado por profissionais de enfermagem, desde que haja prescrição médica, e jamais por socorristas. A atividade de socorrista é entendida como sendo a prestação de suporte básico de vida por pessoas que tenham sido treinadas em primeiros socorros. Não é profissão regulamentada em nosso país. Com relação ao pronto-emprego, é importante que tenhamos em mente que, quanto mais rápido o atendimento inicial, maiores as chances de sobrevivência do paciente; no entanto, isso não autoriza a ambulância a se deslocar em alta velocidade, mas sua localização deve ser devidamente estudada para que esteja próxima das ocorrências, quando existirem. Não nos esqueçamos que, embora o espaço seja produto da velocidade pelo tempo, o que nos incentivaria a correr, a energia cinética liberada, é igual ao produto da massa pela velocidade elevada ao quadrado, dividida por dois. Ou seja, não é correndo que conseguiremos resolver a falta de planejamento ou de recursos materiais. O tempo de resposta ao atendimento corresponde às seguintes fases: 1. Tempo decorrido do evento até a chamada de socorro. 2. Tempo decorrente do recebimento da chamada até o despacho do socorro. 3. Tempo do recebimento do despacho do socorro até o início do deslocamento das unidades. 4. Tempo do deslocamento das unidades até o local do evento. Não é admissível que, pela falha na resposta nos itens de 1 a 3, o item 4 seja utilizado para compensar o tempo decorrido. O item 1 é independente do serviço, mas os 2 e o 3 são diretamente relacionados à organização e disponibilidade de recursos materiais e humanos do serviço de APH e devem, sobretudo o 3, ser o mais curto possível. Por isso, o planejamento e o treinamento são essenciais. Assim, o serviço de APH é fundamental no atendimento a vítimas, decorrente dos mais variados agravos à saúde, mas há necessidade de organização, coordenação, treinamento e planejamento. <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Manual%20de%20Regulacao%20 Medica%20das%20Urgencias.pdf.> O SAMU utiliza o termo Urgências para toda situação crítica, mas na literatura encontramos a diferenciação entre Emergência (risco iminente de morte) e a Urgência (necessidade imediata de atendimento, mas sem risco iminente de morte). Seria a diferença do vermelho para o amarelo, na triagem. Nosso país ainda tem muito no que avançar com relação ao APH. Há milhares de locais onde simplesmente inexiste um APH organizado, bem como há outros onde, inexplicavelmente, existe uma competição entre serviços públicos, com bombeiros, Samu e até mesmo polícia, atuando de forma contrária aos interesses da população. Esses serviços devem atuar de forma integrada, onde
  • 19. 19 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA cada um responde por sua área de especialização. Em um incêndio, a autoridade é o bombeiro, em uma ocorrência policial, é a polícia e, na emergência médica, é o médico. Simples assim. Há também muitos problemas envolvendo serviços públicos e privados e equipes de APH com profissionais que atuam apenas em hospitais. É uma questão cultural, que deve passar por diversas modificações. Começa nos currículos escolares, com a população desde cedo aprendendo primeiros socorros e a acionar os serviços de emergência apenas quando necessário. Os profissionais de segurança pública e saúde, ao trabalharem de forma integrada, otimizam o atendimento de APH. É dessa forma que Seattle, nos Estados Unidos, possui um dos melhores serviços de APH do mundo. Há necessidade de protocolos organizados, da utilização do Comando de Sistema de Incidentes (ICS) para eventos que o exijam, bem como da interação com os serviços hospitalares. É um caminho que pode ser longo, mas que deve ser percorrido!
  • 20. 20 CAPÍTULO 2 Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas Em situações de emergência, podemos nos deparar com eventos bem distintos daqueles que são encontrados rotineiramente – são as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas. Emergências Químicas Há diversas possibilidades e situações que podem ser consideradas como emergências químicas. Podemos defini-las como todos eventos críticos onde haja a presença de substância química exposta, colocando em risco iminente de morte ou de grave problema de saúde à comunidade. As situações a seguir são exemplos de emergência química: »» Vazamentos de produtos químicos (Ex: Vazamento de gás de amônia em indústrias). »» Acidentes (Ex: Derramamento de produtos em laboratórios químicos). »» HAZMAT – Esta é a sigla americana para Hazardous Materials ou produtos perigosos. Uma das ocorrências mais comuns com produtos químicos, envolve acidentes com veículos que transportam essas substâncias. »» Terrorismo Químico. Em 1984, na cidade de Bophal, na Índia, houve um grave vazamento de pesticida (isocianato de metila) produzida pela empresa Union Carbide. A quantidade de substância química vazada foi próxima de 40 toneladas. O número de mortos chegou a 5.000, com 500.000 pessoas expostas. A estimativa foi de que cerca de 20.000 pessoas tenham morrido ao longo dos anos. Mais de 120.000 pessoas podem ter apresentado doenças decorrentes desse vazamento. Esse evento é considerado como sendo o maior desastre industrial. Figura 9. Capa da Revista Time de 17/12/1984
  • 21. 21 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA Todo gestor de crises deve estudar e conhecer bem esse desastre. Maiores informações podem ser encontradas em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Bhopal_disaster.> <http://www.bhopal.com/pdfs/browning.pdf.> <http://www.dnsy.se/_upload/lfm/2006/bhopal%20gas%20disaster.pdf.> <http://www.ehjournal.net/content/4/1/6.> <http://webdrive.service.emory.edu/users/vdhara/www.BhopalPublications/ Health%20Effects%20&%20Epidemiology/Health%20Effects%20Review%20 articles/Health%20Effects%20Review%20AEH.pdf.> <http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI433281-EI294,00.html.> Vídeos on-line da BBC: <http://search.bbc.co.uk/search?scope=all&tab=av&recipe=all&q=bhopal+faces+ri sk+of+’poisoning’&x=0&y=0/.> Os pesticidas são extremamente tóxicos ao ser humano de uma forma geral. Segundo matéria publicada em diversos jornais estrangeiros, entre os quais o conceituado canal de TV RTP de Portugal, o Brasil foi o maior consumidor de pesticidas do mundo em 2008. (http://tv.rtp.pt/ noticias/?t=Brasil-maior-consumidor-de-pesticidas-do-mundo-em-2008-Estudo.rtp&article=214 378&visual=3&layout=10&tm=6). Com o uso cada vez menor de organoclorados, a maior parte dos pesticidas é de organofosforados, altamente tóxico para os seres humanos. Intoxicações com organofosforados são muito comuns, sobretudo entre agricultores. Mas e se houver uma intoxicação em massa por essas substâncias? Como em um ataque terrorista, por exemplo, no que os americanos chamariam de agroterrorismo ou com uso de armas químicas, como os chamados nerve gas, que nada mais são que potentes compostos organofosforados, como o soman, Vx, sarin e tabun. Mais à frente falaremos de agroterrorismo e de terrorismo químico. Com relação ao uso de armas químicas, não podemos nos esquecer da utilização de nerve gás e gás mostarda pelos iraquianos contra os curdos em 1988, na chamada Operação Anfal. Foi talvez a primeira vez na história que um país utilizou armas químicas contra seu próprio povo. Durante toda a campanha iraquiana contra os curdos, estima-se que entre 50.000 e 100.000 pessoas daquela etnia tenham sido mortas. Cerca de 250 cidades e vilarejos foram expostos a armas químicas. Na cidade de Kalbja, mais de 5.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram vítimas de armas químicas, sob o comando de Sadam Hussein. Saiba mais sobre armas químicas e biológicas em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1221_mff_bio/page8.shtml.>
  • 22. 22 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES <http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/saude/aarmas.htm.> <http://emergency.cdc.gov/.> Saiba mais sobre a Operação Anfal em: <http://www.hrw.org/legacy/reports/1993/iraqanfal/#Table%20of.> <http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/08/21/ AR2006082100959.html.> Um estudo clássico da utilização de armas químicas contra civis, obrigatoriamente nos leva ao atentado terrorista de Tókio, em 1995, com uso do gás sarin. Um novo termo passou a ser conhecido pelos estudiosos em Homeland Security. Trata-se da Farmacologia Tática. Esse termo surgiu em 2002, no Teatro de Moscou. Um grupo de 50 terroristas tchetchenos fez 700 reféns. Durante as operações de resgate de reféns, o governo russo utilizou um produto químico, cuja composição até hoje desconhecemos a composição, resultando em 168 mortos, dos quais 118 reféns. Por se tratar de uma situação completamente atípica, em que foi utilizada uma substância química com finalidade específica de atingir os criminosos (a ideia era realmente matar ou imobilizar?), passou-se a falar em farmacologia tática. Naturalmente que sob esse aspecto poderíamos considerar que a utilização dos gases CS, principalmente com efeito lacrimogêneo, em distúrbios civis, também se encaixaria nessa definição; contudo, foi o evento de Moscou que trouxe à tona a discussão desse conceito. Para saber mais, leia o artigo abaixo: <http://www.bma.org.uk/images/DrugsasWeapons_tcm41-144496.pdf.> Com relação a acidentes com transporte de produtos perigosos, sabemos que o assunto é vasto e que muito se pode escrever sobre ele. Na teoria, apenas veículos especialmente destinados a esse fim, conduzidos por motoristas com curso específico para transporte de cargas perigosas, podem realizar essa atividade, em nosso país. Na prática, sabemos que muitas vezes são transportados produtos perigosos em caminhões sem qualquer tipo de sinalização, em condições precárias e com motoristas sem a menor noção sobre o tema. Nos sites abaixo, poderão ser encontradas, diversas informações sobre legislação, sinalização e treinamento na área. <http://www.produtosperigosos.com.br/.> <http://www.antt.gov.br/faq/produtos_perigosos.asp.> <http://www.abiquim.org.br/.> <http://www.cepis.ops-oms.org/tutorial1/p/clasiden/index.html.>
  • 23. 23 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA Emergências Biológicas Há diversas possibilidades de encontrarmos emergências biológicas: »» Epidemias e pandemias. »» Intoxicações alimentares. »» Contaminações acidentais. »» Bio-ataque. »» Bioterrorismo. Emergências Radioativas Podem ser decorrentes de: »» Vazamento radioativo. »» Contaminação radioativa acidental. »» Bomba-suja e terrorismo. »» Explosões atômicas. Em 1986, o mundo assistiu, atônito, o pior vazamento radioativo da história, em Chernobyl, na antiga União Soviética. Foram evacuadas 200.000 pessoas, com 56 mortos na fase inicial e estimativa de cerca de 4.000 mortes ao longo dos anos. Para saber mais: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil.> <http://ngm.nationalgeographic.com/2006/04/inside-chernobyl/stone-text.> <http://world-nuclear.org/info/chernobyl/inf07.html.> figura 10. Acidente com Césio em Goiânia Fonte: <www.clicabrasilia.com.br>
  • 24. 24 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Acidentes em usinas nucleares e envolvendo produtos radioativos são extremamente graves. Infelizmente, muitos serviços de emergência, por não acreditarem na possibilidade de que possam ocorrer, não elaboram planos de contingência. Um outro exemplo a ser dado foi o vazamento de radiação ocorrido em 1979, em Three Miles Island no estado americano da Pennsylvania. Houve grande medo na população que poucos dias antes havia assistido o lançamento de um filme (Síndrome da China) que tratava de um vazamento em uma usina nuclear. As informações prestadas à população foram muito ruins, o que agravou a situação. Não houve mortos nem feridos. <http://www.nrc.gov/reading-rm/doc-collections/fact-sheets/3mile-isle.html.> <http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/tmi.html.> figura 11. Three Miles Island Fonte: <www.ohiocitizen.org> Planejamento É fundamental, em todas as áreas de Emergência, o planejamento de ações e o inventário de riscos. Perguntas devem ser feitas e respondidas, como, por exemplo: »» Quantas empresas e indústrias ou locais de armazenamento de substâncias químicas existem na região? Os Planos de Gestão de Crises e Contingenciamento de Desastres são conhecidos? »» Qual o fluxo de veículos transportando produtos perigosos na região? De onde vêm? Para onde vão? Que produtos são esses? É possível o monitoramento?
  • 25. 25 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA »» Qual o tempo resposta para acidentes químicos, biológicos e radioativos? »» Quais são os recursos materiais e humanos disponíveis? »» Quais são os locais que trabalham com material radioativo na região? Resposta Que tipo de emergência está acontecendo? Essa é a primeira pergunta a ser feita. »» Há presença de gases ou fumaças? Pensar em emergência química. »» Há presença de pó? Pensar em emergências biológicas. »» Há explosão? Pensar em emergências químicas e radioativas. »» Há várias pessoas com os mesmos sinais e sintomas? Pensar em emergência biológica. Esteja, no entanto, atento, pois todos esses elementos podem estar presentes. DiantedapossibilidadedeumaemergênciaNBQ(Nuclear,BiológicaeQuímica)ouRBQ(Radioativa, Biológica e Química), há necessidade de que sejam adotadas as seguintes medidas, pela primeira autoridade presente no local, entendendo-se como autoridade, todos com poder e treinamento para assim procederem (polícia, bombeiros, SAMU etc.): »» Isolamento e proteção. »» Contenção. »» Diagnóstico/identificação dos produtos. »» Abordagem e descontaminação. O Sistema de Comando de Incidentes (ICS), que será estudado de forma mais detalhada posteriormente, deve ser imediatamente adotado.Aqui podemos ter uma ideia da estrutura do ICS, criado para, entre outras coisas, facilitar a coordenação de eventos críticos. O C3I, abaixo citado, é
  • 26. 26 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES uma abreviação das medidas que devem ser realizadas em todos eventos com potencial de crise e compreende: Comunicação (C), Controle (C), Comando (C) e Inteligência (I). Há presença de gases ou fumaças? Pensar em emergência química. Há presença de pó? Pensar em emergências biológicas. Há explosão? Pensar em emergências químicas e radioativas. Há várias pessoas com os mesmos sinais e sintomas? Pensar em emergência biológica. Esteja, no entanto, atento, pois todos esses elementos podem estar presentes. Figura 12. ICS e C3 I Incident Commander Oficial de Informações Públicas Oficial de Segurança do Evento Oficial de Ligação Seção de Operações Seção de Lojística Seção de Adm/Finan Unidades Operações Aéreas e Terrestres Divisões Grupos Time de resposta Busca e Salvamento Emergência Médica Unidades de Recursos Unidade de Situação Unidade de Desmobilização Unidade de Documentação Unidades de Recursos Unidades de Suporte Unidades de Comunic. Unidades de Materiais Unidades Médica Unidade de Equipamentos Unidade de Alimentos Unidade de Suporte Terr. Unidades de Tempo Unidade de Contabilidade Unidade de Ressarcimento Unidade de Custos Seção de Planejamento Luiz Henrique Hargreaves Figura 13. Luiz Henrique Hargreaves
  • 27. 27 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA Em uma situação com perspectiva NBQ as ações de isolamento, contenção, descontaminação devem seguir os seguintes princípios: Zona Quente Onde está o produto causador do evento, bem como as áreas de risco imediatamente adjacentes. Acesso permitido apenas aos profissionais treinados em situações com produtos perigosos, emergências biológicas e radioativas e devidamente equipados para a resposta adequada. Se há vítimas, essa equipe de resposta procederá o resgate e o transporte até a zona morna. Zona Morna Local onde será feita a descontaminação e em seguida o atendimento inicial que se faça necessário. Nesse local não há radiação, fumaça ou riscos biológicos e/ou químicos. Zona Fria Local onde será feito o isolamento da cena. Aqui não há presença de radiação, fumaça ou riscos, devidamente avaliados. As ambulâncias devem estar aqui localizadas. Eventualmente, ambulâncias adaptadas para transporte de pacientes contaminados podem estar presentes na área amarela. Diante de uma emergência definida, como, por exemplo, um acidente com um produto perigoso em uma rodovia, a partir da sinalização localizada no caminhão de transporte as equipes de bombeiros e da Defesa Civil podem identificar qual produto está colocando em risco a vida das pessoas, como combater incêndio, se for o caso, e os primeiros socorros a serem adotados. Essa identificação segue um padrão, com cores e símbolos, como a imagem a seguir: O Manual para Atendimento de Emergência com produtos perigosos (figura a seguir) possui todas informações sobre o atendimento a produtos químicos e foi elaborado pela ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química). A publicação informa o número ONU e a classificação de risco de aproximadamente 2 mil produtos químicos, por ordem alfabética e numérica da ONU, e um guia com informações sobre os principais riscos, como combustão
  • 28. 28 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES espontânea, emissão de gases tóxicos ou contaminação do meio ambiente, fornecendo orientações sobre as primeiras ações a serem tomadas em situações de emergência. http://www.abiquim.org.br/conteudo.asp?princ=pro&pag=manu O gerente de crises nessas situações, deve entre outras atividades: 1. acionar as equipes especializadas; 2. garantir o adequado isolamento, contenção, descontaminação e atendimento e evacuação de feridos; 3. definir as zonas quente, amarela e vermelha, em conjunto com os especialistas; 4. montar posto de comando; 5. atuar como Incident Commander. O gerente de crises não participa diretamente do atendimento. Lembrem-se dos princípios de gerenciamento de crises em situação com reféns. Nessas situações, onde se sabe exatamente qual produto está causando o problema, as equipes de resposta podem utilizar os equipamentos mais adequados e o atendimento às vítimas será mais direcionado. Noentanto,quandodesconhecemosanaturezadoevento,devemosassumirqueastrêspossibilidades podem estar presentes:química, biológica e radiológica. Os equipamentos de proteção individual devem ser definidos conforme o risco a que estão expostos:
  • 29. 29 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA Figura 14. Na dúvida, o uso do equipamento encapsulado deve ser utilizado. A primeira autoridade a tomar conhecimento do fato deve (se há explosão, gases, fumaça com coloraçãodiferente,váriaspessoasapresentandosinaiseousintomassemelhantes,pódesconhecido): 1. isolar a área (perímetros maiores para risco desconhecido, com o mínimo de 100 metros); 2. acionar socorro especializado; 3. em casos onde esteja evidente o risco, como gases e fumaças, proceder a imediata evacuação do prédio para área ao ar livre. As pessoas que podem ter sido de alguma forma contaminadas não devem ser mandadas embora, mas devem aguardar em uma determinada área isolada até a chegada da equipe de descontaminação. Havendo necessidade de descontaminação rápida (demora na chegada da equipe especializada, número excessivo de vítimas, certeza de fonte radioativa, gases tóxicos), as vítimas devem receber jatos de água de mangueira, para a descontaminação inicial. Sempre que possível, as vítimas devem remover as roupas contaminadas. Cuidados, no entanto, devem ser tomados para não expor as vítimas à curiosidade alheia, ao frio intenso etc. A equipe de resposta, ao chegar ao local, deve portar aparelho para detecção de radiação (Geiger) e verificar se há radiação presente. Não havendo, determinar a ampliação ou não do isolamento e iniciar processo de aproximação (manter detector de radiação ligado). Ao aproximar-se do local, a equipe deve utilizar detector de gases múltiplos e explosímetro. Infelizmente esses equipamentos raramente são encontrados nos Corpos de Bombeiros e a presença de um não substitui a do outro. São equipamentos caros para serem adquiridos de forma individual, mas fundamentais para a instituição que se propõe a atender esses tipos de emergência. As pessoas expostas à substância devem ser descontaminadas (zona amarela e sempre que possível de forma padrão, com uso de piscinas portáteis). Quem for proceder a esse tipo de descontaminação deve estar atento para o fato de que a água que escorre da vítima também está contaminada e deve
  • 30. 30 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ser recolhida para descarte posterior em local adequado. Muito cuidado deve ser tomado com o risco de contaminação de rios, córregos, entre outros. Figura 15. Descontaminação padrão Fonte: <www.orrsafety.com> Em se tratando de objetos que não podem ser verificados, como malas, o esquadrão antibombas também deve ser acionado. Diante da presença de pó ou substância sólida suspeita (não identificada), essa deve ser colocada em saco plástico duplo, resistente, transparente (após ter sido descartada a possibilidade de ser radioativa ou explosiva), completamente selado e transportado para laboratório de referência (a ser designado pela Secretaria de Saúde) para ser submetido a triagem, que inclui coloração para Gram e análise bacteriológica preliminar. Havendo necessidade de exames complementares, o material deve ser imediatamente transportado para laboratório com nível de proteção maior. Até a conclusão dos exames, o que deve ser feito preferencialmente nas primeiras 24-48h, sobretudo para descartar a possibilidade de antrax, as pessoas contaminadas devem ser examinadas e acompanhadas por equipe médica de referência, que segundo os protocolos internacionais, indicará medidas quimioprofiláticas. Apenas após o descarte da presença de microrganismos patogênicos, o material pode ser analisado pela perícia criminal.
  • 31. 31 CAPÍTULO 3 Terrorismo Não há um consenso sobre a melhor definição de terrorismo. O Brasil, por exemplo, é signatário de diversos acordos e tratados internacionais contra o terrorismo, mas não possui legislação sobre o tema e sequer uma definição oficial. The United States Department of Defense define terrorismo como “uso calculado de violência ilegal e ilegítima ou ameaça de violência para provocar medo, com intenção de coagir ou intimidar governos ou sociedades visando alcançar resultados geralmente no campo político, religioso ou ideológico”. Elementos presentes: »» Intimidação. »» Medo. »» Violência. Objetivo: Produzir terror. O FBI, por sua vez, assim o define: “Terrorismo é o uso ilegal e ilegítimo da força e da violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, a população civil, ou qualquer outro segmento, com objetivos sociais ou políticos”. As Nações Unidas, em 1992, definiram terrorismo da seguinte forma: “An anxiety-inspiring method of repeated violent action, employed by (semi-) clandestine individual, group or state actors, for idiosyncratic, criminal or political reasons, whereby – in contrast to assassination – the direct targets of violence are not the main targets.” (Um método que inspira ansiedade (medo) com uso de violência repetida, empregada por atores representados por grupos, estados e pessoas (semi) clandestinos, para idiossincrasia, razões políticas ou criminais e em contraste com o assassinato, as vítimas diretas da violência não são o alvo principal”. Podemos encontrar situações que são atos terroristas mas não se encaixariam nas definições supracitado, como o cyberterrorismo (uso do computador para a prática de ações terroristas. Já imaginaram a parada de funcionamento do sistema de controle de voo?) e o agroterrorismo (uso de toxinas ou elementos biológicos para provocar terrorismo, por meio da contaminação de pecuária, plantações e outros meios produtivos da agricultura, podendo causar graves prejuízos econômicos). Em seu livro “Guerras Justas e Injustas”, Michael Watzer coloca a aleatoriedade na escolha das vítimas e o assassinato de pessoas, como condições para a definição de terrorismo, o que é bastante questionável. A ameaça não é suficiente para causar medo na população e paralizar um sistema? Em 30 de abril de 1997, por exemplo, ameaças de bomba do Exército Republicano Irlandês (IRA) paralisaram estradas britânicas e os dois principais aeroportos do país, causando o caos no tráfico
  • 32. 32 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES apenas 24 horas antes de um processo eleitoral. Milhares de usuários que se dirigiam para Londres foram surpreendidos pelos alertas e houve o medo generalizado de atentados. Isso não é terrorismo? Com relação à aleatoriedade, vejamos o caso que ficou conhecido como “Resgate em Entebe (Uganda)”, ocorrido em 1976. Naquela ocasião, um voo da Air France que ia de Tel Aviv a Paris, com escala em Atenas, com 246 passageiros, além da tripulação, foi sequestrado por elementos do grupo terrorista de esquerda alemã Baader-Meinhoff e da Frente de Libertação da Palestina. Dos passageiros capturados, 101 são retidos por serem judeus ou israelenses, o que já mostra que a escolha não foi aleatória. O ato terrorista foi apoiado pelo ditador de Uganda, Idi Amin Dada e pode ser visto no cinema em dois filmes: Resgate em Entebbe Título no Brasil: Resgate em Entebbe. Título Original: Raid on Entebbe. País de Origem: EUA. Gênero: Ação. Tempo de Duração: 150 minutos. Ano de Lançamento: 1977. Direção: Irvin Kershner. O Último Rei da Escócia Título Original: The Last King of Scotland. Tempo de Duração: 121 minutos. Ano de Lançamento (Inglaterra): 2006. Site Oficial: <www2.foxsearchlight.com/thelastkingofscotland>. Estúdio: Fox Searchlight Pictures/UK Film Council/Slate Films/Tatfilms/Scottish Screen/DNA Films/FilmFour/Cowboy Films. Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation. Direção: Kevin Macdonald. A Operação de Resgate, denominada inicialmente de Thunderball foi rebatizada como “Operação Yonatan”, em homenagem ao único militar israelense morto, o coronel e comandante da operação, Yonatan Netanyahu, irmão do ex-primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Para saber mais sobre essa operação veja: <http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Entebbe>. Da mesma forma, ainda falando de aleatoriedade, analisemos o atentado de Oklahoma City, em 1995. O alvo de Timothy Mcveigh eram os escritórios federais da ATF, FBI e DEA, que funcionavam no Edifício Federal Alfred Murrah. Não os escritórios em si, mas o que representavam. No atentado
  • 33. 33 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA houve 168 mortos, dos quais 19 crianças, e um total de 500 feridos. Esse atentado serviu também para derrubar outros mitos: 1. Não houve envolvimento de grupos terroristas, mas apenas de uma pessoa que tinha motivação e sabia a forma de levar à frente seu plano. 2. Não há necessidade de armas sofisticadas para um atentado terrorista. Nesse caso, o terrorista utilizou-se de grande quantidade de fertilizante e detonador (ANFO). 3. Não houve envolvimento ou motivação fundamentalista religiosa, 4. Não havia um projeto de tomada de poder, nem motivação separatista, mas um descontentamento do terrorista com o governo, particularmente pela forma com que os agentes federais conduziram o cerco à fazenda de David Koresh, no episódio conhecido como “Waco Siege”, em 1993. Tratava-se de uma dissidência dos Adventistas do Sétimo Dia, localizada na região, que previa que a segunda vinda de Cristo à Terra era iminente e todos deveriam aguardá-la juntos. Houve denúncias de cárcere privado, inclusive de menores, de posse ilegal de armas, entre outras. Na operação em que se pretendia libertar todos que lá estavam e prender o líder, houve grande reação por parte dos membros da seita e o resultado foi que, em uma primeira tentativa, morreram 4 agentes e 6 seguidores da seita. Após 51 dias de negociação, mal sucedida, o desfecho foi de 76 mortos, incluindo mais de 20 crianças e duas gestantes. <http://en.wikipedia.org/wiki/Waco_Siege>. Atentado de Oklahoma City Fonte: http://www.defenselink.mil/multimedia/
  • 34. 34 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Ou seja, não houve a morte aleatória de pessoas, mas uma cuidadosa escolha dos alvos a serem atingidos. Se não há consenso, podemos e devemos então trabalhar em cima das características do terrorismo, para atuamos na prevenção e resposta. Assim, podemos dizer que as ações terroristas: »» Não são objeto-fim da ação. O objetivo final da ação é outro. »» Possuem motivação ideológica (religião, política, mas também convicções pessoais). »» São frequentemente de grande repercussão. »» Podem envolver violência, ameaça ou graves danos (ciberterrorismo, blecautes, outros). »» Não estão relacionados necessariamente a grupos terroristas. »» Não requerem participação de estrangeiros. »» Podem ter motivação econômica (agroterrorismo, narcoterrorismo). »» Causam medo generalizado na população que não se sente protegida pelo Estado (situação permanente de terror). Com tantas possibilidades, poderíamos pensar que qualquer ato é terrorista? Não. Há necessidade da existência de ao menos a relação: motivação (o ato não é o objetivo final) medo generalizado na população (mais até que o medo, a percepção de insegurança frente a um estado inoperante). Entre as situações que podem causar danos psicológicos graves, certamente o terrorismo é uma delas. Nos atentados de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center, mais de 400 policiais e bombeiros foram mortos. No total houve mais de 3.000 mortos. Um dos problemas encontrados entre os sobreviventes foi o chamado The Survivor Victim, que poderia ser resumido em uma frase: “Por que eu sobrevivi?” Na prestação dos Primeiros Socorros Psicológicos, é fundamental que haja uma sequência de abordagens, assim resumida: »» Avaliação de necessidades (Quem apresenta maior risco de necessitar de Primeiros Socorros Psicológicos?). »» Estabilização (Como diminuir uma escalada de processos em espiral que possa agravar ou produzir novas necessidades de socorro psicológico?). »» Reavaliação e Triagem (Distress (o chamado stress ruim), Fadiga/sono/fome, “O dia seguinte”).
  • 35. 35 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA »» Comunicação (Estabelecer confiança, presença, comunicação com as vítimas. As autoridades devem visitar os sobreviventes, participar de cerimônias dedicadas às vítimas). »» Integração com Sistema (Acompanhamento e seguimento). No chamado “Primeiros Socorros Psicológicos no Terrorismo”, temos: 1. Conheça você mesmo. 2. Conheça seu inimigo tão bem quanto você se conhece. 3. Tenha um plano bem estruturado para gerenciamento de crises. 4. Estabeleça suporte psicológico com equipes especializadas. 5. Estabeleça grupos de apoio e ajuda, faça debriefing. 6. Realize os primeiros socorros psicológicos e esteja atento ao colega mais próximo. 7. Restabeleça a rotina o mais rápido possível. 8. Utilize símbolos, cerimônias e ritos como forma de reestabelecer a unidade. 9. Prepare-se para “um novo começo”, a “reconstrução”. 10. Acredite que “o que não me destrói, me fortalece”. 11. Tenha auxilio religioso, quando adequado. Atentados terroristas ocorrem no mundo inteiro há séculos. O termo no entanto vem sendo empregado desde o chamado regime de Terror da Revolução Francesa, que durou cerca de 1 ano, de 1793 a 1794, quando o governo revolucionário passou a perseguir (inicialmente apenas os girondinos) todos inimigos ou que eram contrários ao governo, a prendê-los e a executá-los. Os atos terroristas vêm ocorrendo no mundo ao longo dos séculos. No período que se segue à segunda guerra mundial, o terrorismo separatista mostra sua face mais cruel por meio dos atentados do IRA, no Reino Unido e do ETA, na Espanha (iniciado na década de 1960). <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/2004/03/17 /001.htm.> <http://en.wikipedia.org/wiki/Irish_Republican_Army.> No final da década de 1960 e durante a de 1970, os grupos terroristas, basicamente, eram de orientação de esquerda, ou seja, com ideologia comunista ou marxista. Saiba mais sobre a história do terrorismo em: <http://www.bbc.co.uk/history/recent/sept_11/changing_faces_01.shtml.>
  • 36. 36 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Com o fim da Guerra Fria ainda persistem grupos terroristas separatistas, mas foi por meio do fundamentalismo religioso e dos atentados terroristas do Hezbollah, da Al-Qaeda, do Hamas, que passamos a conhecer o que se denomina Terrorismo Internacional contemporâneo. Não há países imunes a esse tipo de terrorismo. O Japão sofreu um atentado por terrorismo químico, sem precedentes no mundo contemporâneo, apesar do terrorismo de Estado de Sadam Hussein ao utilizar na década de 1980, armas químicas contra os curdos no norte do país.O que tornou único esse atentado, foi o fato da facilidade com que foi praticadoeemboraonúmerodemortostenhasidorelativamentebaixo(7)portratar-sedeusodearma de destruição em massa, o pânico e o medo que se instalaram naquele país, foram impressionantes. Saiba mais sobre este atentado em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Sarin_gas_attack_on_the_Tokyo_subway.> Desde então, temos nos defrontado com atentados cometidos por fundamentalistas religiosos em diversas partes do mundo, como: Indonésia, Turquia, Israel, Líbano, Espanha, Inglaterra, Escócia, entre outros, com destaque para os atentados de 11 de setembro de 2001, considerado o pior atentado terrorista da história da humanidade. Saiba mais sobre esses atentados em: <http://www.emergency.com/cntrterr.htm.> <http://www.fas.org/irp/threat/terror.htm.> <http://www.fas.org/irp/threat/nctc2008.pdf.> Ao longo da história, a maior parte dos atentados terroristas teve como causa o uso de bombas (mais de 65% dos ataques no mundo e mais de 88% dos ataques nos Estados Unidos). A escolha dos alvos terrorista, leva em consideração: »» o valor simbólico; »» o potencial em causar danos físicos e materiais; »» a acessibilidade geográfica; »» as atividades operacionais; »» o valor econômico; »» a vulnerabilidade. As bombas podem ser: »» utilizadas em malas e maletas a serem deixadas em determinado local; »» enviadas pelos Correios;
  • 37. 37 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA »» utilizadas em carros por homens-bomba (suicidas); »» instalados em carros e outros locais com acionamento remoto ou pela própria vítima; »» em larga escala, como arma de destruição em massa; »» disparadas por armas como lança-foguetes. Outras formas de terrorismo incluem: »» raptos e sequestros; »» dispositivos incendiários; »» armas e dispositivos químicos, biológicos e radioativos ou nucleares; »» ocupação armada com reféns; »» ataque cibernético; »» agroterrorismo. É fundamental que as organizações e corporações públicas e privadas assim como os orgãos de segurança pública, possuam planos para resposta a ameaças com bombas. Esses planos devem ser baseados nos seguintes elementos: »» nível de ameaça; »» natureza da estrutura da organização e atividades desenvolvidas; »» atividades críticas; »» recursos disponíveis; »» recursos de comunicação; »» segurança das pessoas envolvidas; »» legislação vigente. Não entraremos em detalhes referentes ao planejamento em si, mas na postura que se espera do gerente de crises nessas situações (ameaças ou suspeitas de atos terroristas iminentes ou em curso): »» Ao ser informado, comunicar imediatamente a autoridade superior da instituição (no caso, por exemplo, de corporações). »» Acionar equipes especializadas. »» Proceder com isolamento e contenção dos locais suspeitos, afastando curiosos. »» Promover a retirada segura das pessoas ocupantes dos locais suspeitos.
  • 38. 38 UNIDADE ÚNICA │ RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES »» Providenciar local para estacionamento das viaturas de polícia, resgate e socorro médico, conforme protocolo. »» Instalar Posto de Comando e Gabinete de Crise, conforme o caso (sempre em área segura). No caso de atentados: »» Verificar uma área segura para briefing de segurança inicial. »» Verificar se todos utilizam equipamentos de proteção individual. »» Verificar a segurança das pessoas que lá se encontram e voluntários. »» Estar atento para dispositivos secundários. »» Estar atento para a possibilidade de múltiplos agentes envolvidos (radiação, químico, biológico, bombas-sujas). Com relação à triagem verificar se: »» pode haver lesões múltiplas, únicas ou ocultas; »» a morte geralmente é consequência do resultado da combinação de múltiplos fatores; »» até 75% das vítimas comumente vão sozinhas para os hospitais; »» os pacientes requerem descontaminação? Terrorismo Químico Características: »» Rápida ação. »» Envolve chamados a policia, bombeiros, ambulâncias. »» Área delimitada. »» Requer descontaminação. »» Requer uso de antídotos químicos, quando disponíveis. »» Isolamento apenas até a descontaminação. »» Não há transmissão. Terrorismo Biológico Características: »» Reconhecimento com frequência é tardio.
  • 39. 39 RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES │ UNIDADE ÚNICA »» Alerta dado por médicos, enfermeiros. »» Requer vacinas, antibióticos e medicações específicas. »» Isolamentos podem ser necessários, incluindo a quarentena. »» Há risco de transmissão, dependendo do agente utilizado. »» Pode haver casos secundários e comorbidades. Para saber mais sobre terrorismo químico e biológico, acesse: <www.cdc.gov (inglês e espanhol).> Sinais de alerta para Terrorismo Biológico: »» Grupo de indivíduos torna-se doente ao mesmo tempo. »» Súbito aumento de sintomas em indivíduos previamente saudáveis. »» Aumento súbito de sintomas e sinais inespecíficos. »» Ocorrência de rápida transmissão de doença ou sintomas entre pessoas, animais, incluindo pássaros. »» Surgimento de sinais e sintomas em pessoas que estiveram juntas em determinado local, evento ou socorro. …é esquecido que a mortal bactéria criada pelo homem ao flutuar no ar não irá reconhecer nacionalidades, diferenciar amigos de inimigos, tampoco irá voltar para o tubo de ensaio sob as ordens de seu criador. Natarajan (1965)
  • 40. 40 Para (não) Finalizar As emergências e desastres requerem respostas imediata. Daí a importância do Atendimento Pré-Hospitalar (APH). Procuramos, neste Caderno, mostrar, de forma abrangente, como são organizados e gerenciados os sistemas de emergência no mundo e no Brasil. Abordamos os eventos que ocorrem em situações emergenciais, como as Emergências Químicas, Biológicas e Radioativas, mostrando os tipos de materiais empregados, as possibilidades de ocorrência e as causas que vêm atingindo um número bastante elevado da população mundial, tendo como consequência a morte e os traumas decorrentes. Os desastres ocorridos, se não levam à morte, provocam o medo na população e trazem problemas psicológicos sérios, principalmente nos casos de terrorismo de qualquer natureza. Deixamos, aqui, muitas opções para você aprofundar seus conheciemnto. Acesse os sites sugeridos, consulte mais e veja como o problema é série e exige muito desprendimento e esforço para o sucesso em situações de emergências e desastres, já que, infelizmente, não temos o poder de dissipar as ocorrências provocadas intencionalmente no mundo.
  • 41. 41 Referências ALEXANDER, David. Principles of emergency planing and management. Oxford,UK: Oxford University, 2007. CASTRO, Antônio Luis Coimbra. Manual de desastres humanos – I, II e III partes. Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 2004. CASTRO, Antônio Luis Coimbra de. Manual de desastres – Volumes I – Desastres Naturais. Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 1999. CASTRO, Antônio Luis Coimbra; CALHEIROS, Lelio. Manual de medicina de desastres. Brasilia: Secretaria Especial de Políticas Regionais. Departamento de Defesa Civil, 2007. CIOTTONE et al. Disaster medicine. Philadelphia, USA: Elsevier, 2006. HOGAN, David; BURSTEIN, Jonathan. Disaster medicine. Philadelpia, USA: Lippincot Willians & Wilkins.2007. KOBYAMA, Masato et al. Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos. Organica Trading. 2006. Disponível em: <http://www.areatb.com.br/cursohidrologia/prevencao_de_ desastre_naturais.pdf>. Acesso em 15/3/2008. SILVIA, Ricardo. As diversas faces do terrorismo. São Paulo: Harbra, 2002. WHITTAKER, David. Terrorismo. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2005.