O documento discute a importância da adubação fosfatada em solos tropicais para a cultura da cana-de-açúcar. Ele explica que a adubação com fósforo é crucial porque os solos tropicais fixam grande parte do fósforo aplicado, tornando-o indisponível para as plantas. Além disso, a cana-de-açúcar exporta quantidades significativas de fósforo durante a colheita. Finalmente, o documento revisa diferentes métodos de aplicação do fósforo para melhorar sua eficiência no solo
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Importância da adubação fosfatada em solos tropicais para a cultura da cana
1. Revista Canavieiros - Setembro de 2016
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Importância da adubação fosfatada em solos
tropicais para a cultura da cana
Sandro Roberto Brancalião, Marcos Guimarães de Andrade Landell,
Antonio Lúcio Mello Martins, Márcio Aurélio Pitta Bidóia, Carolina Cattani Najm
H
istoricamente, a cana-de-açú-
car é um dos principais produ-
tos agrícolas do Brasil, sendo
cultivada desde a época da colonização.
Do seu processo de industrialização
obtêm-se como produtos o açúcar e o
álcool (anidro e hidratado).
A cana-de-açúcar representa no
agronegócio brasileiro um papel de
destaque, gerando divisas com a ex-
portação na casa de U$$ 7,7 bilhões,
criando empregos diretos e indiretos. O
setor sucroalcooleiro responde por cer-
ca de 1 milhão de empregos, sendo que
511 mil são diretamente envolvidos na
produção de cana-de-açúcar e o restante
distribuído na cadeia do processamento
do açúcar e do álcool.
As perspectivas para o setor são
animadoras, sendo que a crescente
preocupação da população mundial em
relação ao meio ambiente vem exer-
cendo uma pressão para a diminuição
da utilização dos combustíveis fósseis,
responsáveis pela maioria dos gases
poluentes à atmosfera.
As doses aplicadas de fósforo nas
adubações são bem maiores do que as
quantidades exportadas, sendo que a
exportação de fósforo pela cana é de
10 a 15% da quantidade do fertilizante
aplicado (Tomaz, 2009).
Em solos tropicais, um dos princi-
pais fatores para essa baixa eficiência
da adubação fosfatada são os altos te-
ores de óxidos e alumínio e de ferro
que promovem a fixação dos elemen-
tos (Rossetto et al., 2008). Com isso,
alguns autores (Rossetto et al., 2008)
recomendam que a melhor forma de
aplicação do fósforo em cana-de-açú-
car é em área total, tendo o fósforo
melhor distribuído na área, obtendo
um melhor enraizamento e uma maior
parte do solo explorado.
De forma geral, a eficiência da adu-
bação fosfatada é baixa. Ressalta-se a
importância de novos métodos de apli-
cação da adubação fosfatada, referindo-
-se a fontes, épocas de aplicação e a
localização do adubo. A combinação
apropriada da adubação corretiva em
área total e da manutenção no sulco de
plantio assume grande importância para
obter um aumento na produção.
Devido à importância do fósforo
para o desenvolvimento, produtividade
e longevidade dos canaviais e sua alta
taxa de fixação nos solos tropicais, é ge-
rado um aumento nos estudos de níveis
e formas de aplicação desse elemento.
Resposta de cana-de-açúcar a dife-
rentes fontes de fósforo
Apenas uma pequena parte do fósforo
é disponibilizada às plantas, no entanto,
a estimativa do fósforo total não informa
sobre biodisponibilidade do elemento,
fazendo-se necessário o conhecimento
de suas formas predominantes. Sendo as-
sim, diversas metodologias de extração
do fósforo do solo foram desenvolvidas,
tendo como base teórica a técnica do fra-
cionamento desenvolvida por Chang e
Artigo Técnico III
Sandro Roberto Brancalião
Jackson (1956), que usa o modo de ação
de extratores químicos como agente se-
letivo para a extração do fósforo ocor-
rente em diferentes formas e estados de
energia (Fixen e Grove, 1990).
Nos solos mais pobres, ou seja, aque-
les que apresentam pH baixo (menor que
5,0), há maior ocorrência de fósforo nos
minerais que contêm Fe e Al, enquanto
nos solos mais ricos em matéria orgânica,
apresentam pH elevados, isso acontece,
preferencialmente, naqueles solos ricos
em Ca, sendo que a variação do pH pode
promover a dissolução e formação de ou-
tros compostos (Fixen e Ludwick, 1982).
Pela Figura 1 podem-se observar as formas de fósforo na planta
O ciclo do fósforo no solo: Seus componentes e correspondência com as fra-
ções estimadas pelo fracionamento. (1982). Adaptado de Satell & Morris (1992)
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O fósforo é o nutriente mais limitan-
te na produção vegetal em regiões tropi-
cais. Apesar de comparativamente aos
outros nutrientes, ser exigido em menor
quantidade, (tabela 1), são necessárias
adubações “pesadas” com esse nutrien-
te, devido aos solos brasileiros apresen-
tar deficiência natural com relação a
esse nutriente, pois ele apresenta habi-
lidade em reagir com outros nutrientes
como Al, Ca, Fe, silicatos e com as ar-
gilas, formando compostos insolúveis.
Com a tabela 1, podemos observar
o quanto é extraído e exportado de nu-
trientes a partir da produção de 100 to-
neladas de colmos de cana-de-açúcar.
No entanto, Malavolta et al.(1997)
observaram a exigência de 90 kg de N,
10 kg de P e 65 kg de K; para uma pro-
dução de 100 kg de colmos de cana de
açúcar.
Quando novas áreas são incorpora-
das ao sistema produtivo e quando altas
produtividades são almejadas, a neces-
sidade de correção dos teores naturais
de fósforo no solo é fundamental. A
fosfatagem, como prática corretiva, tem
por objetivo elevar os teores de fósfo-
ro no solo, potencializando a adubação
de plantio. A aplicação combinada de
200 kg ha-1 de P2
O5
em área total em
pré-plantio, seguida de 100 kg ha-1 de
P2
O5
no sulco de plantio proporcionou
TABELA 1: Extração e exportação de
nutrientes para a produção de 100 toneladas de colmos
Fonte: Raij e Cantarella (1996)
Partes da planta N P K Ca Mg S
Colmos 83 11 78 47 33 26
Folhas 60 08 96 40 16 18
Total 143 19 174 87 49 44
um incremento de 32% na produção de
colmos por hectare quando comparada
com a aplicação de 300 kg ha-1 no sul-
co de plantio.
Mas, se adubos fosfatados forem
aplicados no solo, logo após sua disso-
lução, ocorre da maioria do fósforo ser
retido na fase sólida, onde apenas parte
desse fósforo é aproveitada pelas plan-
tas. Essa recuperação depende da espé-
cie cultivada, da textura do solo, dos
minerais da argila, da acidez do solo,
da fonte de adubação, da granulometria
e da aplicação do fertilizante (SOUZA
& VOLKEISS 1987). Por tratar-se de
uma cultura semiperene, a cana-de-açú-
car requer quantidades de nutrientes
ao longo do ciclo, em média de cinco
anos. Com a adubação corretiva ocorre
o fornecimento de quantidades de P que
serão, gradativamente, disponibilizadas
para a cultura. De maneira geral, o va-
lor residual de fertilizantes fosfatados
solúveis em água, em relação ao efei-
to imediato no ano da aplicação, é de
60%, 45%, 35%, 15% e 5%, após um,
dois, três quatro e cinco anos da apli-
cação do fertilizante, respectivamente.
No entanto, torna-se necessário o
monitoramento anual através de análise
de solo, diagnose visual e análise foliar,
as quais são ferramentas importantes
para o acompanhamento do estado nu-
tricional do canavial quando são espe-
radas altas produtividades
Foram verificados que em diversos
ensaios de adubação fosfatada, realiza-
dos no período de 1950 a 1963, ocor-
reu um aumento de 26% na produção
da cultura da cana, com a aplicação de
superfosfato simples. Porém, em revi-
sões feitas, foi observado que o efeito do
fósforo não é geral, podendo ser nulo ou
reduzido em solos que vêm sendo corri-
gidos com fósforo ou em solos férteis.
A queda na população de perfilho do
quarto para o sexto mês contrasta com o
crescimento médio em altura em cana-
-de-açúcar, pois passou de 48,6 cm para
122,6 cm. No entanto, pode se conside-
rar que a partir do quarto mês tem início
a fase de alongamento do colmo, cuja
população já estabelecida inicia um rá-
pido crescimento em altura. Para alguns
pesquisadores, o maior crescimento em
altura do colmo após a fase de perfilha-
mento quando a variedade RB855536
cresceu 99,2 cm em apenas 44 dias,
mostrando a importância da umidade
do solo na fase de grande desenvolvi-
mento da cultura.
No entanto, a falta de resposta das
fontes de fósforo pode estar relacionada
com o efeito residual desse nutriente no
solo, proveniente da sequência de adu-
bações fosfatadas, ao longo do tempo,
a fatores edafoclimáticos e a caracterís-
ticas genéticas intrínsecas das cultiva-
res. Em trabalhos da década de 1980,
observaram, em solos com níveis de P
acima de 9 mg dm-3, que não houve
resposta da cana-de-açúcar à adubação
fosfatada, isto no sistema de produção
com cana queimada. Demais trabalhos
e isoquantas de absorção do fósforo po-
dem ser calibrados por variedade e para
realidade do sistema de produção de
cana crua, sem despalha a fogo.
Sandro Roberto Brancalião, Mar-
cos Guimarães de Andrade Landell,
Antonio Lúcio Mello Martins, Márcio
Aurélio Pitta Bidóia, Carolina Cattani
Najm.Centro de Cana do IAC/APTA/
SAA; Polo Regional do Centro Norte/
APTA/Pindorama,
brancaliaoiac.sp.gov.brRC