O IAC desenvolveu uma nova ferramenta para avaliar o potencial de produtividade da cana-de-açúcar em diferentes ambientes de produção. A ferramenta fornece notas de 0 a 20 que indicam a produtividade potencial com base nas características do solo e clima. O governo de São Paulo incentiva iniciativas para aumentar a produtividade e renda dos canavieiros, como financiamento para novas tecnologias de produção de mudas.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
IAC desenvolve tecnologia de MPB para aumentar produtividade da cana-de-açúcar em SP
1. Revista Canavieiros - Setembro de 2016
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O combustível de São Paulo
Arnaldo Jardim*
Arnaldo Jardim
Centro de Cana do IAC desenvolve tecnologias visando aumento de produtividade e
renda ao canavicultor paulista
O
Estado de São Paulo é o maior
produtor nacional de cana-de-
-açúcar com 53,4% da produ-
ção brasileira e etanol respondendo por
53,6% do total do Brasil. Por isso, tem
na cultura um forte apoio a sua econo-
mia. O governador Geraldo Alckmin
reconhece essa importância e orienta
a Secretaria de Agricultura e Abasteci-
mento a fomentar cada vez mais esta
cadeia produtiva com tecnologias que
aumentam renda e produtividade, além
de fornecer orientações para os produ-
tores continuarem a fazer do território
paulista líder quando o assunto é a cul-
tura sucroalcooleira.
Mesmo frente a uma realidade eco-
nômica delicada, onde o aumento de im-
postos seria uma saída fácil, porém nem
sempre viável, o governo do Estado de
São Paulo cobra o menor Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) do Brasil sobre o etanol hidra-
tado: 12%. É um importante incentivo
econômico ao uso de um combustível
renovável, que conserva a natureza.
A mais recente iniciativa do governo
paulista é do IAC (Instituto Agronômico)
da Secretaria, que desenvolveu uma tec-
nologia reunindo, em uma régua, infor-
mações necessárias para conhecer o po-
tencial da produtividade média de cinco
cortes de cana-de-açúcar. Os dados são
importantes para orientar o correto plan-
tio, considerando conhecimentos sobre o
perfil varietal de acordo com o ambiente
de produção e as práticas de manejo.
Em outras palavras, a ferramenta ex-
pressa o potencial dos ambientes de pro-
dução de cana no Brasil.Anovidade está
nas notas do intervalo de 10 a 20, que
compõem as condições do manejo avan-
çado. Até então, as réguas existentes tra-
ziam informações com notas até 10.
O novo recurso resulta de 13 anos de
estudos de solos e ambientes de produ-
ção em usinas localizadas nos Estados
de São Paulo, Minas Gerais, Paraná,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Tocantins, Maranhão, Pernambuco
e Bahia. Essas usinas são conveniadas
com o projeto Ambicana do IAC.
A régua será distribuída aos cana-
vicultores e traz informações sobre o
ambiente, classificado de acordo com a
expressão da produtividade agrícola. O
conceito seis, por exemplo, refere-se à
produção de 80 toneladas por hectare,
que é a média nos canaviais paulistas,
onde é feito o manejo básico.
As informações são organizadas
conforme os critérios de manejo básico
e avançado da cana. No básico, estão
incluídas as boas práticas agrícolas no
preparo e conservação dos solos, in-
cluindo calagem, gessagem e adubação,
além de ações para o controle de pra-
gas, doenças e plantas daninhas, e tam-
bém gestão na escolha da variedade, de
acordo com o ambiente e matrizes de
épocas de plantio e colheita. O manejo
básico é dividido em ambientes desfa-
voráveis, médios e favoráveis.
O manejo avançado contempla a
irrigação plena ou semiplena, a adu-
bação verde, a adição de cálcio na pro-
fundidade maior do que a alcançada na
gessagem, o uso de vinhaça, torta de
filtro e compostagem. Inclui também
a fertilização do solo por longo perío-
do, no mesmo local onde antes tenham
sido plantados soja, feijão, amendoim,
milho ou citros, que apresentam efeito
residual para a cana-de-açúcar.
A régua registra variações das notas
zero, com produtividade média de cin-
Artigo
Importância do setor sucroenergético paulista garante iniciativas do governo do
Estado para fomentar cada vez mais a produção.
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co cortes ou TCH5 de 50 toneladas, por
hectare, até a nota 20, que representa
produtividade média de cinco cortes ou
TCH5 maior ou igual a 150 toneladas,
por hectare, e nota intermediária com
TCH5 intermediário.
As informações alicerçam o conhe-
cimento do potencial de produtivida-
des do canavial. O manejo incorreto
impede que seja atingido o potencial
máximo de produtividade. Se, por
exemplo, no Estado de São Paulo a
cana-de-açúcar for colhida muito tar-
diamente, no ambiente de produção
restritivo, sua nota na régua pode ser
a mesma da região Nordeste, com as
mesmas deficiências hídricas, sob o
mesmo manejo básico e varietal.
Para usar a ferramenta é necessário
conhecimento prévio sobre o clima e a
classificação do solo, de acordo com os
13 tipos de solos existentes no Brasil,
em nível de detalhamento em termos
químico e físico-hídrico que viabilize o
manejo. Com esses dois fatores, tem-se
a nota no manejo básico ou avançado.
De posse do resultado apontado pela
régua, faz-se a alocação de variedades,
que se tornam mais eficientes com o
uso da nova ferramenta.
Com as informações sobre caracte-
rísticas edafloclimáticas, a ferramenta
pode ser adotada em todos os países
tropicais que cultivam cana. Os solos
do Brasil estão mapeados generica-
mente. Entretanto, para fazer a nota,
é necessário aumentar a densidade
amostral, isto é, coletar amostras em
curta distância.
No Brasil, essas informações são
precisas para as 35 unidades agroin-
dustriais que contam com o Ambicana,
projeto desenvolvido pelo Programa
Cana IAC. No total, 1,5 milhão de hec-
tares são plantados por essas empresas,
localizadas nos Estados de São Paulo,
Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Ge-
rais, Goiás, Maranhão e Piauí.
Se essas empresas aumentassem a
produção em apenas cinco toneladas por
hectare, o salto total seria de 7,5 milhões
de toneladas. Com as notas variando até
20, a régua prevê aumento significativo
de produtividade para as próximas déca-
das.Atualmente, a nota máxima alcança-
da em canavial é 14,6, o que equivale à
produtividade de 123 toneladas, por hec-
tare, em cinco cortes. As 150 toneladas
previstas na nota máxima da ferramenta
somente ocorrerão caso o manejo seja de
irrigação plena e com uso de variedades
responsivas à água.
Como é o Ambicana
O projeto Ambicana do IAC já atuou
O IAC desenvolveu
iniciativa inédita que
moderniza o conceito
de plantar cana-de-açú-
car. O sistema de MPB
(Mudas Pré-Brotadas) é
uma tecnologia de mul-
tiplicação que contribui
para a produção rápida
de mudas, associando
elevado padrão de fitos-
sanidade, vigor e uni-
formidade de plantio.
Outro grande bene-
fício está na redução
da quantidade que vai a
campo. Para o plantio de um hectare de
cana, o consumo de mudas cai de 18 a 20
toneladas, no plantio convencional, para
duas toneladas no MPB. Isso significa
que 18 toneladas que seriam enterradas
como mudas irão para a indústria produ-
zir etanol e açúcar, gerando ganhos.
A tecnologia desenvolvida pelo Pro-
grama Cana do IAC é direcionada a
aumentar a eficiência e os ganhos eco-
nômicos na implantação de viveiros,
replantio de áreas comerciais e possivel-
mente renovação e expansão de áreas de
cana-de-açúcar. O MPB muda o concei-
to de multiplicação de mudas. Até então
era usado o sistema convencional, adota-
do desde a chegada das primeiras canas
ao Brasil, por volta de 1530.
A tecnologia permite mudar a forma
de produção de mudas. No lugar dos col-
mos como sementes, entram as mudas
pré-brotadas que são produzidas a par-
em 35 usinas, totalizando 1,7 milhão de
hectares, onde o incremento é da ordem
de cinco milhões de toneladas de cana-
-de-açúcar. Por meio do Ambicana, a
partir da avaliação das características
edafoclimáticas de determinada região,
o Programa Cana IAC orienta os produ-
tores sobre as variedades mais adaptadas
às condições diagnosticadas, viabilizan-
do aumentos na produtividade. Com a
adoção dos conceitos do Projeto Ambi-
cana é possível aumentar em cerca de
20% a produtividade dos canaviais.
Muda para produzir mais
tir de cortes de canas, chamados minir-
rebolos – onde estão as gemas. Depois
passam por uma seleção visual e são tra-
tadas com fungicida. São colocadas em
caixas de brotação com temperatura e
umidade controlada, e ao final colocadas
em tubetes que passam por duas fases de
aclimatação. O ciclo completo leva 60
dias.
Dentre as principais vantagens do sis-
tema estão o menor volume de mudas a
ser transportado para o campo de plantio
e o grande salto na qualidade fitossani-
tária do material. O sistema MPB está
sendo adotado em várias regiões brasi-
leiras: já está em Goiás e região Central
de São Paulo, muitos produtores de inú-
meros Estados deverão adotar o método
no curto e médio prazo.
Ele contribui para reduzir as ocorrên-
cias de pragas e doenças na implantação
do canavial por usar mudas sadias. Des-
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Artigo
de 2009, o Programa Cana IAC optou
por não entregar mais colmos "semente"
para multiplicação e instalação de sua
rede experimental. Desde então, vem
desenvolvendo o sistema MPB. A tecno-
logia surgiu da necessidade de entregar
um material não convencional de col-
mos, para tentar evitar a disseminação
do Sphenophorus levis, uma importante
praga da cana-de-açúcar.
A iniciativa do IAC permite alcançar
aumento de eficiência e ganho econômi-
co na implantação de viveiros, replantio
de áreas comerciais e expansão e reno-
vação de áreas plantadas de cana-de-
-açúcar. Constantemente a Secretaria re-
aliza dias de campo para transferir essa
tecnologia aos produtores e técnicos,
multiplicando o conhecimento e garan-
tindo mais produtividade ao setor.
Financiamento
Os produtores rurais que desejam pro-
duzir cana-de-açúcar a partir de MPB
(Mudas Pré-Brotadas) podem contar com
uma linha de crédito de até R$ 200 mil do
Feap (Fundo de Expansão do Agronegó-
cio Paulista) da Secretaria, com prazo de
pagamento em até seis anos.
Para atender essa nova demanda, a
Secretaria de Agricultura ampliou o teto
de financiamento da já existente linha
de crédito para Sementes e Mudas de
R$ 100 mil para R$ 200 mil por produtor,
e o prazo de cinco para seis anos, incluin-
do a carência de até dois anos. A taxa de
juros é de 3% ao ano, com o bônus de
adimplência de 2,25%. Os beneficiários
podem financiar todos os itens necessá-
rios para estrutura, assim como para aqui-
sição das mudas e sementes, desde que
sejam parte do mesmo projeto.
Dia de Campo sobre aumento de produtividade com MPB atrai produtores, técnicos e estudantes
Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, produz as Mudas Pré-Brotadas
que aumentam a produtividade em até 20%
Variedades
O IAC desenvolveu ainda mais quatro variedades de cana-de-açúcar selecionadas
para a região Centro-Sul do Brasil. O trabalho para o desenvolvimento das varieda-
des durou 10 anos e, para isso, os pesquisadores do Instituto utilizaram de uma rede
de estações experimentais distribuídas nas principais regiões canavieiras de São Pau-
lo, onde conduziu avaliações quantitativas de características agroindustriais dessas
variedades: IAC91-2195, IAC91-2218, IAC91-5155 e IACSP93-6006.
Elas são importantes para a garantia das vantagens competitivas do setor. Quan-
to maior o número de variedades, mais amplas as opções dos plantadores, maior
a produção de sacarose por unidade de área e menor será a possibilidade de dese-
quilíbrio de produtividade.
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IACSP93-3046 pode ser usada para
fabricar etanol e açúcar e na
alimentação do rebanho
Boletim objetiva ganhos de rentabilidade aos
produtores rurais e menor impacto ambiental
Também por meio de seu Programa
CanadoInstitutoAgronômico,aSecreta-
ria de Agricultura realizou levantamento
sobre o uso da cana-de-açúcar forrageira
multifunções - a IACSP93-3046 - para
melhorar a qualidade dos alimentos dos
rebanhos de gado. Com dupla aptidão,
essa cultivar desenvolvida pelo Instituto
pode ser adotada para alimentação ani-
mal e também para produção de etanol e
açúcar, incluindo o mascavo, rapadura e
cachaça, atendendo as necessidades dos
pequenos, médios e grandes produtores.
Ela vem sendo utilizada pelos produ-
tores de gado, em substituição à IAC86-
2480, a primeira variedade desenvolvida
especificamente para a finalidade forra-
geira para alimentar o rebanho. A nova
cultivar apresenta 58% de digestibilida-
de, apenas dois pontos percentuais a me-
nos que a variedade IAC86-2480.
A nova variedade oferece um ótimo
resultado em relação à digestibilidade in
vitro da matéria seca e 51% de fibra em
detergente neutro (FDN), frente aos 60%
Com o objetivo de melhorar os siste-
mas de cultura canavieira, com ganhos
de rentabilidade aos produtores rurais e
menor impacto ambiental, a Secretaria
lançou o Boletim Técnico “Recomen-
dações de Práticas Conservacionistas
para a Cultura da Cana-de-Açúcar” e
constituiu um Grupo de Trabalho para
analisar e aprovar projetos de pesquisa
e monitoramento de novas tecnologias
de manejo e conservação de solo.
Disponível no site www.iac.sp.gov.
br, a publicação, lançada no dia 14 de
abril de 2016, durante o “VIII Seminário
sobre Conservação do Solo e Proteção
de Recursos Naturais”, em Campinas, é
resultado de um trabalho conjunto entre
as equipes do IAC, da Agência Paulista
de Tecnologia dos Agronegócios (Apta),
da Coordenadoria de Assistência Téc-
nica Integral (Cati) e da Coordenadoria
de Defesa Agropecuária (CDA), com o
meio acadêmico e entidades e empresas
do setor canavieiro.
Ambivalente
Produção com menor impacto ambiental
de digestão por parte do animal e 48% de
FDN da cultivar IAC86-2480. As duas
têm teores de sacarose acima de 15%, o
que é desejável e, portanto, apresentam
relação ao teor de polarização do caldo
(FDN/Pol) em torno de 3,4.
Considerado o melhoramento gené-
tico convencional, como o mantido pelo
Programa Cana do IAC, o resultado da
cana-de-açúcar forrageira multifunções é
considerado um sucesso no processo de
seleção, porque foi desenvolvido um ma-
terial com características bromatológicas
e agroindustriais que compreendem as
várias necessidades do setor e atendem à
pecuária e ao setor sucroenergético.
Essa cana com dupla aptidão pode ser
colhida por um período longo, que vai da
segunda quinzena de maio até outubro,
quando há escassez de pasto para o gado.
A cultivar tem período ótimo de colheita
crescente, ou seja, à medida que o perí-
odo de colheita se estende, a cana fica
mais rica em sacarose e o teor de FDN
é reduzido, favorecendo a digestão da
O documento reúne temas como le-
gislação, atributos dos solos, clima,
sistemas de produção, classificação téc-
nica, planejamento de ocupação e da
conservação do solo, parâmetros para
cálculos de engenharia e outras informa-
ções de importância para o setor sucroe-
nergético. Há ainda recomendações para
o planejamento da conservação do solo
e o dimensionamento de práticas conser-
vacionistas para o cultivo da cana.
O conteúdo foi elaborado com a parti-
cipação do setor produtivo que, por meio
de consulta pública realizada pela internet
no mês de março, pôde enviar sugestões
sobre o tema. A expectativa é atualizar a
publicação a cada três anos, criando maior
proximidade com as práticas do segmento.
O boletim contribuirá para elevar a
competitividade e sustentabilidade da ati-
vidade sucroenergética do Estado de São
Paulo, reduzir riscos da degradação do
solo e promover conservação dos recursos
naturais, harmonizando geração de renda
e empregos com a preservação ambiental.
Arnaldo Jardim, é secretário de Estado da
Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
fração fibrosa e, consequentemente, o
maior consumo do volumoso.
RC