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Editorial                                                                                       Rev Bras Nutr Clin 2008;23(1):3-4




O milagre da ciência e outros milagres
The science miracle and other miracles
El milagro de la ciencia y de otros milagros




Joel Faintuch¹                 Milagres épicos, aqueles bíblicos, talmúdicos ou védicos são uma questão extremamente polê-
                               mica. Há os que aceitam os que rejeitam, e os que nem acreditam nem deixam de acreditar.
Mário Cícero Falcão²

                               Albert Einstein, um dos cientistas mais respeitados da história e que tal como os profissionais
                               da saúde, lidava com grandezas intangíveis e às vezes incomensuráveis como tempo, espaço,
                               massa, volume e velocidade, sempre no patamar do infinitamente pequeno ou grande, sa-
                               biamente postou-se em cima do muro. Não aderia a nenhum ritual, e no testamento proibiu
                               cerimônia, sepultura ou lápide para seus restos mortais. Ao mesmo tempo não descartava a
                               existência de Alguém no andar de cima, e praticava discretamente sua caridade confessional,
                               inclusive doando um dos primeiros cheques para a construção do Hospital Israelita que leva
                               seu nome em São Paulo.


                               No âmbito da moderna atenção à saúde, o que inclui naturalmente a Nutrição Clínica, a
                               abordagem prática reservada às crenças e religiões dos pacientes costuma ser simples e
                               objetiva, situando-se no contexto da qualidade de vida. Cabe a todo profissional respeitar a fé
                               do enfermo ou a ausência desta e agir para que, dentro das limitações do trabalho hospitalar
                               ou ambulatorial, e considerados possíveis conflitos com o manejo da sua enfermidade, este
                               conte com a liberdade, o conforto e o ambiente espiritual da sua preferência.


                               De igual sorte, as restrições culinárias merecem atenção tal como alimentação kosher (ju-
                               deus), halal (islâmicos), vegetariana ou budista/vegetariana (hindus e alguns outros povos
                               orientais), sem café e estimulantes (mórmons), etc. Mesmo que o hospital não esteja apare-
                               lhado ou as circunstâncias clínicas desaconselhem suprir exatamente o que o doente solicita,
                               é de boa norma estabelecer um diálogo visando o melhor ajuste possível.


                               Pelo menos o enfermo não deve se ver constrangido por injunções religiosas escarnecedoras
                               ou ditatoriais. Sabe-se que até o século XIX e início do século XX, escassas instituições hos-
                               pitalares existiam no Brasil, e quase todas exigiam estrita obediência ao Catolicismo como
                               condição para atendimento. A opção para os dissidentes era morrer à míngua. Somente em
                               tempos relativamente recentes surgiram nosocômios abertos e não-impositivos.


                               Estaria o tema esgotado ou haveria mais por trás da religião? De longa data se suspeita que
                               pessoas dotadas de profunda crença, seja ela qual for, vivam mais que a população em geral,
                               ainda que pela própria índole algumas destas tendam a buscar mais raramente assistência
                               especializada e a consumir menos serviços de saúde que o desejável.


                               Um estudo do Instituto de Antropologia da Universidade de Mainz, na Alemanha, sugere que
                               em algumas partes da Europa, os protestantes e os judeus do passado viviam mais que os
                               católicos1. Note-se que na medida do possível buscou-se equiparar condições sociais, econô-
                               micas e educacionais destas populações.


                               Contudo, fortaleza espiritual não é apanágio de nenhum grupo cultural ou étnico. Ela tem
                               sido descrita em famílias islâmicas do Afeganistão e também de algumas nações da África,
                               que com respaldo na fé parecem superar melhor graves desafios clínicos multiplicados pela
                               infra-estrutura dilapidada ou inexistente, tais como diarréia, desnutrição, complicações res-
                               piratórias e trauma2.


                               A literatura científica ocidental conta com razoável manancial de estudos prospectivos e con-
1
    Editor Chefe               clusivos, predominantemente no câncer e em enfermidades crônicas3, reforçando distintos
2
    Editor Associado
Faintuch J, Falcão MC



    benefícios da espiritualidade, e para tanto já existe inclusive um questionário estruturado e validado, o FACIT/ Functional Assessment of Chronic
    Illness Therapy-Spiritual Well-being scale4.


    Um dos projetos recentes que discussões mais acesas gerou foi o de Benson et al., publicado no prestigiado American Heart Journal5, voltado
    para a prece de intercessão, ou seja, aquela recitada não pelo próprio enfermo, mas por alguém próximo ou mesmo distante em seu favor.
    Contrariamente a outros estudos que apontaram evidente benefício, aqui os resultados não indicaram melhor evolução em casos submetidos à
    revascularização coronariana. Pior ainda, a certeza de que alguém oraria pelo paciente aumentou significativamente o índice de complicações
    pós-operatórias.


    Merece registro aqui um dos primeiros relatos de que religião traz vantagens, pelo menos para a pressão arterial. Na ótica de Levin e Vanderpool6,
    ainda que erros na coleta de informações, padrões genéticos específicos em certas etnias, e outras falhas metodológicas não devessem ser
    ignoradas sempre que se lida com o tema, algumas justificativas plausíveis merecem ser aventadas:


    1)   Rede de apoio social – Admite-se que a religião eleve o capital social de um grupo, desde que conduzida não para fanatismo, mistificação,
         ou comercialização da fé, porém para entrosamento comunitário, auxílio mútuo, e progresso pessoal e cultural dos congregantes;


    2)   Comportamentos saudáveis – A maioria das crenças desestimula as dependências químicas, o alcoolismo e outros perfis auto-destrutivos,
         enfatizando contrariamente a boa saúde física e mental;


    3)   Ritual – Estudos de ressonância magnética funcional e tomografia de pósitrons são compatíveis com a premissa que preces coletivas são
         mentalmente estimulantes e geram bem estar;


    4)   Fé – A certeza de uma verdade maior tende a induzir otimismo e confiança no futuro, por uma espécie de efeito placebo.




    Referências bibliográficas

    1.    Kemkes-Grottenhaller A. God, faith, and death: the impact            4.    Peterman AH, Fitchett G, Brady MJ, Hernandez L, Cella D.
          of biological and religious correlates on mortality. Hum Biol              Measuring spiritual well-being in people with cancer: the
          2003;75(6):897-915.                                                        functional assessment of chronic illness therapy--Spiritual
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                                                                                     58.
    2.    Kanji Z, Drummond J, Cameron B. Resilience in Afghan
          children and their families: a review. Paediatr Nurs
                                                                               5.    Benson H, Dusek JA, Sherwood JB, Lam P Bethea CF, Carpenter
                                                                                                                                ,
          2007;19(2):30-3.
                                                                                     W, et al. Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer
                                                                                     (STEP) in cardiac bypass patients: a multicenter randomized
    3.    Bekelman DB, Dy SM, Becker DM, Wittstein IS, Hendricks                     trial of uncertainty and certainty of receiving intercessory
          DE, Yamashita TE, et al. Spiritual well-being and depression               prayer. Am Heart J 2006;151(4):934-42.
          in patients with heart failure. J Gen Intern Med 2007;
          22(7):470-7.




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Rbnc23 n1-128

  • 1. Editorial Rev Bras Nutr Clin 2008;23(1):3-4 O milagre da ciência e outros milagres The science miracle and other miracles El milagro de la ciencia y de otros milagros Joel Faintuch¹ Milagres épicos, aqueles bíblicos, talmúdicos ou védicos são uma questão extremamente polê- mica. Há os que aceitam os que rejeitam, e os que nem acreditam nem deixam de acreditar. Mário Cícero Falcão² Albert Einstein, um dos cientistas mais respeitados da história e que tal como os profissionais da saúde, lidava com grandezas intangíveis e às vezes incomensuráveis como tempo, espaço, massa, volume e velocidade, sempre no patamar do infinitamente pequeno ou grande, sa- biamente postou-se em cima do muro. Não aderia a nenhum ritual, e no testamento proibiu cerimônia, sepultura ou lápide para seus restos mortais. Ao mesmo tempo não descartava a existência de Alguém no andar de cima, e praticava discretamente sua caridade confessional, inclusive doando um dos primeiros cheques para a construção do Hospital Israelita que leva seu nome em São Paulo. No âmbito da moderna atenção à saúde, o que inclui naturalmente a Nutrição Clínica, a abordagem prática reservada às crenças e religiões dos pacientes costuma ser simples e objetiva, situando-se no contexto da qualidade de vida. Cabe a todo profissional respeitar a fé do enfermo ou a ausência desta e agir para que, dentro das limitações do trabalho hospitalar ou ambulatorial, e considerados possíveis conflitos com o manejo da sua enfermidade, este conte com a liberdade, o conforto e o ambiente espiritual da sua preferência. De igual sorte, as restrições culinárias merecem atenção tal como alimentação kosher (ju- deus), halal (islâmicos), vegetariana ou budista/vegetariana (hindus e alguns outros povos orientais), sem café e estimulantes (mórmons), etc. Mesmo que o hospital não esteja apare- lhado ou as circunstâncias clínicas desaconselhem suprir exatamente o que o doente solicita, é de boa norma estabelecer um diálogo visando o melhor ajuste possível. Pelo menos o enfermo não deve se ver constrangido por injunções religiosas escarnecedoras ou ditatoriais. Sabe-se que até o século XIX e início do século XX, escassas instituições hos- pitalares existiam no Brasil, e quase todas exigiam estrita obediência ao Catolicismo como condição para atendimento. A opção para os dissidentes era morrer à míngua. Somente em tempos relativamente recentes surgiram nosocômios abertos e não-impositivos. Estaria o tema esgotado ou haveria mais por trás da religião? De longa data se suspeita que pessoas dotadas de profunda crença, seja ela qual for, vivam mais que a população em geral, ainda que pela própria índole algumas destas tendam a buscar mais raramente assistência especializada e a consumir menos serviços de saúde que o desejável. Um estudo do Instituto de Antropologia da Universidade de Mainz, na Alemanha, sugere que em algumas partes da Europa, os protestantes e os judeus do passado viviam mais que os católicos1. Note-se que na medida do possível buscou-se equiparar condições sociais, econô- micas e educacionais destas populações. Contudo, fortaleza espiritual não é apanágio de nenhum grupo cultural ou étnico. Ela tem sido descrita em famílias islâmicas do Afeganistão e também de algumas nações da África, que com respaldo na fé parecem superar melhor graves desafios clínicos multiplicados pela infra-estrutura dilapidada ou inexistente, tais como diarréia, desnutrição, complicações res- piratórias e trauma2. A literatura científica ocidental conta com razoável manancial de estudos prospectivos e con- 1 Editor Chefe clusivos, predominantemente no câncer e em enfermidades crônicas3, reforçando distintos 2 Editor Associado
  • 2. Faintuch J, Falcão MC benefícios da espiritualidade, e para tanto já existe inclusive um questionário estruturado e validado, o FACIT/ Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Spiritual Well-being scale4. Um dos projetos recentes que discussões mais acesas gerou foi o de Benson et al., publicado no prestigiado American Heart Journal5, voltado para a prece de intercessão, ou seja, aquela recitada não pelo próprio enfermo, mas por alguém próximo ou mesmo distante em seu favor. Contrariamente a outros estudos que apontaram evidente benefício, aqui os resultados não indicaram melhor evolução em casos submetidos à revascularização coronariana. Pior ainda, a certeza de que alguém oraria pelo paciente aumentou significativamente o índice de complicações pós-operatórias. Merece registro aqui um dos primeiros relatos de que religião traz vantagens, pelo menos para a pressão arterial. Na ótica de Levin e Vanderpool6, ainda que erros na coleta de informações, padrões genéticos específicos em certas etnias, e outras falhas metodológicas não devessem ser ignoradas sempre que se lida com o tema, algumas justificativas plausíveis merecem ser aventadas: 1) Rede de apoio social – Admite-se que a religião eleve o capital social de um grupo, desde que conduzida não para fanatismo, mistificação, ou comercialização da fé, porém para entrosamento comunitário, auxílio mútuo, e progresso pessoal e cultural dos congregantes; 2) Comportamentos saudáveis – A maioria das crenças desestimula as dependências químicas, o alcoolismo e outros perfis auto-destrutivos, enfatizando contrariamente a boa saúde física e mental; 3) Ritual – Estudos de ressonância magnética funcional e tomografia de pósitrons são compatíveis com a premissa que preces coletivas são mentalmente estimulantes e geram bem estar; 4) Fé – A certeza de uma verdade maior tende a induzir otimismo e confiança no futuro, por uma espécie de efeito placebo. Referências bibliográficas 1. Kemkes-Grottenhaller A. God, faith, and death: the impact 4. Peterman AH, Fitchett G, Brady MJ, Hernandez L, Cella D. of biological and religious correlates on mortality. Hum Biol Measuring spiritual well-being in people with cancer: the 2003;75(6):897-915. functional assessment of chronic illness therapy--Spiritual Well-being Scale (FACIT-Sp). Ann Behav Med 2002;24(1):49- 58. 2. Kanji Z, Drummond J, Cameron B. Resilience in Afghan children and their families: a review. Paediatr Nurs 5. Benson H, Dusek JA, Sherwood JB, Lam P Bethea CF, Carpenter , 2007;19(2):30-3. W, et al. Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP) in cardiac bypass patients: a multicenter randomized 3. Bekelman DB, Dy SM, Becker DM, Wittstein IS, Hendricks trial of uncertainty and certainty of receiving intercessory DE, Yamashita TE, et al. Spiritual well-being and depression prayer. Am Heart J 2006;151(4):934-42. in patients with heart failure. J Gen Intern Med 2007; 22(7):470-7. 4