O trabalho pedagógico abre várias possibilidades de atuação com alunos do ensino fundamental, no entanto, não há uma fase mais desafiadora do que o processo de ensino com adolescentes. Este trabalho visa contribuir com novas visões e prática docente com esta clientela.
3. Definição
Costumamos entender por adolescência a
etapa que se estende dos 12-13 anos até,
aproximadamente, o final da segunda década de
vida. É uma etapa de transição na qual não se é
nem mais criança, mas também não se é adulto,
é ”um compasso de espera que a sociedade,
ocidental e moderna, oferece a seus membros
jovens, enquanto se preparam para exercer os
papéis de adultos.“ (Erikson, 1968)
4. Objetivo
A partir da psicologia, como se dá a construção
de sua identidade e como isso vai influenciar em
sua vida adulta?
Indagamo-nos então como os autores
pensam, do ponto de vista teórico, sobre a
formação da identidade adolescente. Tomamos
como referência os estudos realizados na
perspectiva da Psicologia evolutiva dos
adolescentes (Palácios, 1996; Carretero e Cascón,
1996; Fierro, 1996) cuja idéia principal é a de
que a identidade do adolescente está sempre
em construção, mesmo após os 20 anos.
5. Introdução
Dentro dos estudos sobre a adolescência,
constatamos que a adolescência é um fato
estrutural dos povos ocidentais, em algumas
culturas essa fase não passa mais de sete dias e
é vivenciada através de ritos de transição.
Em outras palavras, o adolescente é um
sujeito capaz, treinado e instruído por mil
caminhos – escolas, família e mídia – para adotar
os ideais de uma comunidade. Porém, apesar de
seu espírito e seu corpo estarem preparados para
a competição ainda não são reconhecidos como
adultos.
O adolescente não pode evitar perceber a
contradição entre o ideal de autonomia e a
6. continuação de sua dependência que ficará sob
a tutela de um adulto por mais uns 10 anos.
No entanto, sabe-se muito pouco do que os
próprios adolescentes pensam dessa fase que
vivem, do seu comportamento familiar,
sentimental, social, profissional e do que eles
almejam para seu futuro.
Decidiu-se então realizar este trabalho com o
intuito de fazer uma descrição detalhada sobre
essa importante e, ainda, misteriosa fase etária
da vida, inerente aos seres humanos
contemporâneos, principalmente os ocidentais,
que se instaura, se prolonga e se torna enfim
mais uma idade da vida.
7. Análise dosdados
Nessa pesquisa foram entrevistados 60
adolescentes na faixa etária dos 12 aos 20 anos
de idade, onde 47% dos pesquisados eram do
sexo masculino e 53% dos pesquisados eram do
sexo feminino. A faixa etária dos adolescentes
pesquisados foi distribuída da seguinte forma:
32% -12/13 anos, 28% - 14/15 anos, 20% -
16/17 anos e 20% com 18 e 20 anos. Esse
estudo aplicou um questionário composto por 12
questões específicas sobre adolescência, família,
drogas, sexo, estudos, diversão, violência e
perspectiva de futuro.
8. Definiçãode Adolescência
O começo da adolescência é facilmente
observável por se tratar da mudança
psicológica que acompanha as mudanças
fisiológicas produzidas pela puberdade, em
outras palavras, trata-se de uma
transformação substancial da mente e do
corpo do jovem que adquire as funções e os
atributos do corpo adulto.
9. Para 40% dos entrevistados a
adolescência é uma fase de transformação,
onde se deixa de ser criança mas ainda não
se é adulto.
Já 32% deles consideram a adolescência
uma curtição, onde se divertir e aproveitar a
vida é lei.
17% dos jovens encaram a fase com
responsabilidade, pois enxergam suas
decisões de agora fator principal para seus
sucessos ou fracassos de sua vida adulta.
No entanto, dúvida ainda é citada por 10%
dos entrevistados como resposta para esse
questionamento.
10. Visãode Si Próprio
A transformação trazida pela
puberdade é bastante considerável na
adolescência, tanto do ponto de vista
fisiológico quanto da imagem que eles
fazem de si, que deve se adaptar a
essas mudanças físicas e psicológicas.
Os nossos adolescentes ainda
apresentam um mix bem diversificado
de definições sobre si próprios.
Vejam:
11. 34% se definem como tímidos, timidez
essa derivada da insegurança gerada nessa
fase.
22% dos entrevistados se dizem
rebeldes, por não se conformarem com a
continuidade da dependência quando se
julgam aptos e maduros.
09% se consideram irresponsáveis, por
não assumirem um compromisso com as
atividades corriqueiras da época (estudos,
estágios, esportes, família).
Os 35% restante dos entrevistados
citaram outras respostas, tais como:
namorador, desligados, trabalhador, etc.
Esses dados demonstram o quanto é
difícil se definirem nessa fase da vida.
12. ComportamentoHabitual
Através dos nossos estudos
verificamos muitas mudanças no
comportamento dos jovens ao longo do
século passado e inicio desse século, eles
se tornaram mais autônomos e
conscientes de sua real posição na
sociedade e na família. Vemos hoje que a
rebeldia e agressividade de antes deu
lugar ao carinho e a calmaria.
Em nossa pesquisa nos deparamos
com adolescentes que vislumbram suas
atitudes comportamentais como:
13. Carinhoso com todos, foi a resposta dada
por 35% dos adolescentes.
Calmo é o comportamento mais
frequente de 30% deles.
15% dos jovens consideram seu
comportamento habitual agressivo.
A rebeldia ainda aparece em 13% dos
entrevistados.
Em contradição com suas próprias
definições, 07% dos entrevistados deram
outras respostas, como por exemplo:
bagunceiros, brigões, etc.
14. MaioresPreocupações
A grande maioria dos
adolescentes de hoje oferecem
uma imagem plausível,
praticável. Eles são capazes de
se preocuparem com assuntos
bem importante para sua vida
atual e futura. Vejam as
principais respostas:
15. 50% dos entrevistados se dizem
preocupados com os estudos, mostrando
assim uma preocupação com o futuro.
A escolha profissional aparece como
maior preocupação para 26% dos
adolescentes entrevistados.
16% mencionaram serem os pais o
objeto maior de suas preocupações, eles
foram instituídos como exemplo da
família.
Como a descoberta do “grande” amor é
uma marca da adolescência, não podia
faltar neste questionamento, por isso, foi
citado por 08% dos entrevistados.
16. O que é Responsabilidade?
Até metade do século XIX não era difícil
encontrar jovens de 15 anos a frente de negócios
e comandando exércitos em batalhas, após tanta
pressão os jovens se aglomeraram numa espécie
de rebeldia agressiva para pregarem a paz e o
amor e se afastarem deste estereótipo de
adultos sem autonomia e com liberdade vigiada.
Hoje, os nossos jovens já são mais calmos e
conscientes do que são e de onde querem
chegar. Eles se mostram mais atentos as
mudanças do mundo moderno e dos desafios
que irão enfrentar para ocuparem um lugar de
destaque na sociedade. Vejam o que eles
consideram responsabilidade:
17. Para 45% dos jovens estudar é sua maior
responsabilidade.
Já 30% diz que ter consciência social é
responsabilidade de todos.
Em 12% das repostas, ajudar em casa nas
atividades domésticas se torna sinônimo de
responsabilidade para os jovens.
Nessa sociedade globalizada 10% dos
adolescentes entrevistados já assumiram a
responsabilidade de trabalhar para suster
suas famílias.
Apenas 03% adolescentes entrevistados
responderam não ter nenhuma
responsabilidade assumida no momento.
18. RelacionamentoFamiliar
As famílias modernas estão cada vez mais voltadas para
fora de casa, gerando adolescentes individualistas que, por
essa carência, os aproximam ou os distanciam de seus
familiares, no entanto, o que perece desastroso na família
moderna acaba criando artifícios que cuidam de reverter esse
distanciamento que se forma. Observe nas respostas:
53% dos adolescentes dizem ter um relacionamento familiar
muito bom, ou seja, mais da metade dos entrevistados.
21% confirma ter um relacionamento familiar ora bom, ora
conflitante, natural dos adolescentes.
18% faz uso cotidiano do diálogo em seu relacionamento
familiar.
08% confessa ter um relacionamento familiar regado a
rebeldia.
19. OpiniãoSobreViolência
Em tempos passados a adolescência era tida como
gregária, rebelde e ávida por uma liberdade negada pelos
adultos. Atualmente, os adolescentes se mostram mais
conscientes e engajados com a realidade que os cercam e
preocupados com o mundo em que vivem. Observem:
70% dos entrevistados vêem como preocupante a
violência, em todos os níveis, que se apresenta nos dias de
hoje na nossa cidade.
20% diz ter medo da violência gratuita instalada nas
ruas. “hoje se briga por tudo e em todos os lugares, prefiro jogar game
em casa com os amigos” (adolescente de 15 anos).
05% responderam que a violência é algo natural que
nunca vai acabar, então:”vou continuar curtindo a vida adoidado!”
(adolescente de 18 anos).
05% confessa não se preocupar com a violência, afinal,
para eles, a vida é pra ser vivida sem medos.
20. OpiniãoSobreDrogas
“Os adolescentes seriam mais sensíveis do que os adultos ao charme
das drogas ilegais. Na verdade, os adolescentes de hoje são descendentes
de uma geração que ligou o uso das drogas a todos os sonhos de
libertação e revolução (...)” (Calligaris, 2000). De fato a droga, lícita
ou ilícita, é um objeto mortal. Não só porque pode matar
fisicamente seu usuário, mas porque pode matar seus desejos.
Porém, atualmente não há tanto a neces- sidade de cultivar essa
visão do adolescente toxicomano, até porque a grande maioria
apenas flerta com a droga, ao ponto de cigarro e álcool não
serem mais sinônimos de maturidade e modernidade. Vejam:
71% dos entrevistados relatam ter plena consciência dos male-
fícios das drogas e afirmam que nunca usaram e não usariam
droga nenhuma.
25% dos adolescentes pesquisados confirmam fazer uso do
álcool, de forma moderada, nas baladas.
Apenas 04% dos adolescentes confessam fazer uso do tabaco
mesmo tendo plena consciência dos danos a saúde que ele causa.
21. PensamSobre Sexo
Enfim, a puberdade chegou! Antes, durante ou após o inicio da
adolescência, o fato é que ela está lá com os hormônios a toda.
Os corpos se tornam desejantes e desejáveis e já lhes permitem
amar, copular e gozar, assim como reproduzir-se. Em outras
palavras, todo o seu corpo grita que está pronto para o sexo, no
entanto, lhes é comunicado (pela família, saúde e mídia) que não
está bem na hora, ainda, de entrar de cabeça. Como viver esse
dilema? Os entrevistados dizem o que pensam:
42% dos adolescentes vêem o sexo como um ato natural,
porém deve ser pensado e feito com responsabilidade.
21% dos jovens relataram que ainda não pensam em
sexo, acham que ainda é muito cedo.
20% pensam em sexo com amor, nunca dissociado.
17% compreendem o ato sexual como um passo muito
importante na vida e que está intimamente aliado ao
amor e a responsabilidade.
22. ProgramaFavorito
A geração adolescente de hoje não se parece em nada com a
geração sexo, drogas e rock in roll dos anos 60, o que não quer
dizer que eles não saibam curtir a vida e se divertirem com
alegria e, por que não dizer, com responsabilidade. Quando o
assunto é diversão a garotada abre um leque bem variado de
programas favoritos para curtir. Confiram:
As baladas são disparadas a preferência dos adolescentes, 28%
da galera não troca uma festa por nada.
A globalização trouxe todo um fascínio pelos computadores e a
Internet foi citada por 26% como programa favorito.
Os shoppings se consagram como um grande ponto de
consumo, mas também como ponto de encontro. Tanto que foi
eleito como programa favorito para 21% dos jovens.
17% dos entrevistados se dizem que o cinema é o melhor
programa.
Barzinhos, teatros e parques foram outros tipos de programas
favoritos citados por 08% dos entrevistados.
23. Daqui a 10 Anos...
Nossos adolescentes também se mostram bastante preocupados
com o futuro, eles tentam se empenhar ao máximo nos estudos,
em sua qualificação profissional, mas, sem perder a alegria de
viver. O fato é que, independente de suas classes sociais, o futuro
é algo inerente a todos e estará batendo as nossas portas
inevitavelmente. Portanto, os nossos adolescentes pensam e se
programam para a vida futura com uma certa maturidade.
Confira as respostas:
63% dos pesquisados dizem que pretendem ter uma boa
qualificação e, por isso, devem está trabalhando.
24% dizem que querem continuar investindo em sua qualificação
profissional, portanto, ainda estudando é a resposta.
Do grupo mais velho dos entrevistados saiu a resposta mais
interessante. Está casado foi a opção de 11% deles.
02% dos garotos pesquisados afirmou que ainda não pensam
no futuro. “Prefiro deixar pra pensar mais tarde, daqui há 10 anos!”
(adolescente com 13 anos).
24. Consideraçõesfinais
Todos os questionamentos que fizemos serviu para lembrarmos
que também passamos por essa fase difícil, misteriosa e
maravilhosa de nossas vidas. Percebemos com esse estudo que a
adolescência é o prisma pelo qual os adultos vêem os adolescentes
e pelo qual os próprios adolescentes se contemplam. Ela é uma das
formações culturais mais poderosas da nossa época.
Descobrimos que nossos adolescentes, assim como nós, amam,
estudam, brigam, trabalham. Batalham com seus corpos, que
teimam em se modificar e esticar. Lidam, também, com as
dificuldades de crescerem no complicado mundo das famílias
modernas, e mesmo assim, eles se procuram e eventualmente se
acham.
Concluímos, então, que os adolescentes são pessoas muito
complexas e dinâmicas, atentas ao mundo que os cercam, com
gostos e pensamentos que mudam bastante. Eles estão sempre em
busca de algo novo, porém essa busca tem um único sentido, a
formação de uma identidade que os admitam a vida adulta.
25. Referencial Teórico
CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.
CARRETERO, Mario. CASCÒN, José A.Leon. Desenvolvimento Cognitivo e
Aprendizagem na Adolescência. In: COLL, C.; PALACIOS; J.; MARCHESI, A.
(Orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia Evolutiva.
Vol.1, Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p.273-287.
FIERRO, Alfredo. Desenvolvimento da Personalidade na Adolescência. In: COLL,
C.;PALACIOS; J.; MARCHESI, A. (Orgs.) Desenvolvimento psicológico e
educação. Psicologia Evolutiva. Vol. 1, Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p.288-
289 e.
FIERRO, Alfredo. Relações Sociais na Adolescência. In: COLL, C.; PALACIOS; J.;
MARCHESI, A. (Orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia
Evolutiva. Vol. 1, Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p. 299-305.
PALACIOS, Jésus. O que é adolescência? In: COLL, C.; PALACIOS; J.; MARCHESI,
A.(Orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia Evolutiva. Vol. 1,
Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p.263-272