O documento discute como o envelhecimento é percebido de forma diferente em culturas orientais e ocidentais, e como ele afeta as pessoas no Brasil. O envelhecimento traz perdas físicas e psicológicas, mas a pessoa idosa ainda pode se desenvolver dentro de certos limites se minimizar perdas. É importante que idosos mantenham autonomia e se adaptem às mudanças, evitando o isolamento social.
1. Envelhecer: “adoecer” ou “amadurecer”?
Você já reparou como as pessoas idosas são tratadas na cultura a qual pertencem?
Você pode não ter notado, mas os idosos são tratados de maneiras distintas ao redor
do mundo. No oriente, eles são valorizados pela sua “sabedoria”, pelas experiências
de vida e por poder ensinar isso aos demais. No ocidente, nota-se (de forma bem
sutil, em alguns casos) o preconceito em relação a essas pessoas, uma vez que não
são consideradas inclusas na parcela produtiva da população haja visto que estamos
imersos em uma cultura majoritariamente capitalista e as perdas físicas e psicológicas
podem começar a aparecer.
No Brasil, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos são consideradas idosas.
Entende-se que o processo de envelhecimento, embora universal (todo ser humano
tende a envelhecer), é uma experiência particular, vivida a depender da história de vida
do indivíduo, das circunstâncias culturais e do contexto atual, da interação de fatores
genéticos e ambientais e da incidência de doenças. É caracterizado por: (a) aumento
de perdas físicas e de experiências de incapacidade biológica; (b) acúmulo de perdas
sociais decorrentes de falecimentos e aposentadoria; e (c) novas concepções sobre si
mesmo e sobre o sentido da vida diante da percepção de finitude. Embora, o potencial
de desenvolvimento permaneça na velhice, dentro de certos limites, e as perdas possam
ser minimizadas ou compensadas (o que vale a pena ressaltar!), o equilíbrio entre
ganhos e perdas torna-se menos positivo nessa idade; afinal, os processos biológicos de
envelhecimento diminuem a plasticidade comportamental (capacidade de adaptar-se
ao meio) e a resiliência biológica (capacidade de recuperar-se de doenças e acidentes).
Um dos aspectos mais difíceis de estar envelhecendo diz respeito à condição de
incontrolabilidade do que está acontecendo (e pode acontecer) com o indivíduo. Como
eventos imprevisíveis, têm-se a ocorrência de um acidente, a própria morte e/ou de
pessoas do seu convívio ou, até mesmo, um diagnóstico de uma doença grave. Eventos
(mais ou menos) previsíveis referem-se, por exemplo, à menopausa/andropausa, saída
dos filhos de casa e aposentadoria por idade. Na primeira condição, as experiências
representam uma ameaça bem maior à capacidade de adaptação, uma vez que
os idosos estão expostos a um maior número de eventos adversos e têm menos
recursos para enfrentá-los, o que pode favorecer o desenvolvimento de problemas
psicológicos (estresse, depressão, ansiedade, fobias e etc.). Já na segunda condição,
os enfrentamentos podem ser facilitados por permitirem alguma preparação, o que
demonstra que o idoso detém algum controle sobre o que lhe acontece. Nesse sentido,
pensar a respeito de como se deseja viver a velhice e planejar-se para isso são ações
extremamente salutares que podem auxiliar no processo de adaptação da pessoa idosa
ao meio e vice-versa.
Deve-se atentar, também, para não confundir fragilidade física com incapacidade
de tomar decisões. Algumas doenças e condições psicológicas podem inviabilizar que
a pessoa idosa seja responsável por si própria. Contudo, é incapacitante tratar o idoso
como dependente quando ele (ainda) não é (só pelo fato dele ser idoso). Trata-se de
amar, proteger, tolerar e cuidar, mas sem sufocar ou anular o outro! Não se pode perder
de vista que incentivar o máximo de autonomia possível é mantê-lo vivo!
Oidosotambémprecisasecuidarparapoderaprenderaemitircomportamentosmais
adaptativos que o mantenham “conectado” ao seu contexto e evitem o isolamento social.
Apresentar padrões comportamentais de extrema inflexibilidade psicológica (criticidade,
autoritarismo, agressividade e etc.) pode ser comprometedor às relações interpessoais,
ao passo que fazer o melhor uso possível de suas capacidades e exercitar a aceitação
emocional diante do que não se pode mudar ou do que não se tem controle consistem
em caminhos mais amenos que conduzem à qualidade de vida e à saúde emocional.
Envelhecernãoésinônimode“adoecer”.Mas,paraisso,éimprescindível“amadurecer”!
Referência
Skinner, B. F., & Vaughan, M. E. (1985). Viva bem a velhice: aprendendo a programar
a sua vida. São Paulo: Summus.