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O problema de nunca ser ou ter o bastante
Já passou pela sua cabeça as seguintes ideias: nunca ser bom o bastante, nunca
ser perfeito o bastante, nunca ser magro o bastante, nunca ser poderoso o bastante,
nunca ser bem-sucedido o bastante, nunca ser inteligente o bastante, nunca ser
correto o bastante, nunca ser seguro o bastante ou nunca ser extraordinário o
bastante? Provavelmente sim! Como parte de um fenômeno cultural, muitas pessoas
estão imersas nessas elucubrações atualmente. A maneira como vivemos, nos
relacionamos, trabalhamos, governamos, lideramos, cuidamos dos filhos, ensinamos
e nos conectamos uns aos outros está permeada pela concepção de escassez, ou
seja, nunca somos ou temos o bastante para ser feliz.
A prática da comparação está enraizada e as avaliações são constantes acerca
do quanto temos ou não temos, do que queremos ou poderemos ter, do que outras
pessoas já conquistaram e nós não. Comparamos nossa vida, nosso trabalho, nosso
relacionamento amoroso, nossa família, o desempenho acadêmico dos filhos, os bens
materiais já conquistados e etc. Parece que o referencial da perfeição inatingível nos
assombra e a pressão por ser ou ter mais já se tornou algo habitual e inquestionável.
Vale a pena nos perguntarmos: O medo do ridículo e a depreciação são usados
para controlar o comportamento das pessoas? Apontar culpados é uma prática
comum no ambiente social atual? O valor de alguém está ligado ao sucesso e à
produtividade? Humilhações e linguagem abusiva são frequentes? A busca da
perfeição é uma realidade? Há disputa o tempo todo, velada ou abertamente? A
criatividade tem sido sufocada? As pessoas são confinadas a padrões estreitos
em vez de serem valorizadas por suas contribuições e talentos específicos? Há um
modo ideal de ser ou um tipo de habilidade usado como medida de valor para todos?
Todas as pessoas estão se esforçando para serem vistas e ouvidas?
Brené Brown, a autora do livro intitulado “A coragem de ser imperfeito: Como
aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem é”, descreve a
maneira como muitos de nós vivemos: “(...) o primeiro pensamento do dia, ainda na
cama, é: Não dormi o suficiente! O seguinte é: Não tenho tempo suficiente. Passamos
a maior parte de nossas vidas ouvindo, explicando, reclamando ou nos preocupando
com o que não temos em quantidade ou grau suficiente. Antes de nos sentarmos na
cama, antes de nossos pés tocarem o chão, já nos sentimos inadequados, já ficamos
para trás, já perdemos. E quando voltamos para a cama à noite, nossa mente recita
uma ladainha de coisas que não conseguimos ou não fizemos naquele dia. Vamos
dormir com o peso desses pensamentos e despertamos para lamentar mais faltas”.
Isso se encaixa com o jeito que você tem vivido ultimamente? O que se sabe é que
essas não são condições favorecedoras para o desenvolvimento de autoestima
(amor-próprio) e autovalorização.
Então... seja você mesmo! Sua saúde emocional agradece (e nós, profissionais
da área, também).
Referência
Brown, B. (2016). A coragem de ser imperfeito. Rio de Janeiro: Sextante.

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