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Fernando Fedoca Lima

comandava o ataque do Flamengo, co-       praia, como aconteceria 26 anos depois
meçava a compor “Fio Maravilha”. Por      no Verão do Apito — até mesmo porque,
fim, Jorge Mautner estava lançando “Pa-   no território livre das dunas, a polícia
ra iluminar a cidade”, um elepê gravado   não ia mesmo. A pílula acabara de che-
ao vivo no Opinião, com capa assinada     gar ao país, e os esconderijos das dunas
pelo vampiro Ivan Cardoso e um lote de    (especialmente de noitinha) eram um
músicas perfeitas para embalar qualquer   ótimo lugar para testar se elas fun-
viagem. Mautner — o profeta da con-       cionavam de verdade. Ao mesmo tempo,
tracultura — era a cara das Dunas do      a maconha era mais consumida que
Barato.                                   Continental sem filtro, o mais popular do
   — A contracultura no Brasil foi o      mercado. Muita gente ia ali só para isso
Tropicalismo. É o que nos define e        — namorar, fumar um baseado, jogar
diferencia entre todos os países do       conversa fora — e nem pensava em
planeta, a cultura negra, branca e in-    colocar uma sunga ou um biquíni para
dígena entrelaçadas. De Jesus Cristo      dar um mergulhinho.
aos tambores do candomblé — explica          A moda, inclusive na praia!, eram as
Mautner, que, naquele início de 1972,     calças jeans desbotadas, boca de sino, e
acabara de voltar de Londres e andava     as camisas com slogans contra a guerra
assinando artigos no “Pasquim”. — O       do Vietnã. Se as lojas de Copacabana
que nos iluminava ali nas dunas era a     ofereciam a nova coleção da Ducal
luta contra a ditadura, o desejo de       (“Neste verão, o homem carioca veste os
democracia, as liberdades individuais     ternos Relax, do mais puro tergal”), os
e sexuais, a realização dos direitos      malucos do Píer se esbaldavam com os
humanos e a desobediência civil.          panos, as sandálias de couro e as bi-
   Desobedecer, naquela época, não ti-    juterias compradas na Feira Hippie, que
nha nada a ver com produzir apitaços      funcionava havia quatro anos bem ali
para avisar da chegada da polícia na      pertinho, na General Osório.a               Hippie clicada por Fedoca, surfista e fotógrafo da tribo do Píer

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