O documento discute o uso de verbas públicas pelo Ministério da Integração Nacional para obras em Pernambuco, estado natal do ministro. O autor critica a alocação de 90% dos recursos no estado, sugerindo favorecimento político, e argumenta que a eficiência do estado é prejudicada pelo "fisiologismo", em que cargos são preenchidos com base em interesses eleitorais em vez de técnicos. A presidente Dilma é criticada por não promover mudanças nesse sistema, tolerando ministros envolvidos em irregular
1. 6 Sábado, 7 de janeiro de 2012
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O GLOBO
OPINIÃO
Estado perde eficiência sob o fisiologismo
O
ministro Fernando Bezerra tam- vernador de Pernambuco, Eduardo Campos dentemente de estado e partido. Campos), mais uma vez, chama a atenção pa-
bém interrompeu as férias de fim (PSB). Mas não é assim que funciona num governo ra outro braço do Estado costumeiramente
de ano e desembarcou em Brasília, A justificativa não ficou em pé muito tem- montado sob princípios do fisiologismo. Toda usado por esquemas políticos: o Dnit, do Mi-
para tentar afastar os fortes indí- po, pois logo foi revelado que a argumentação de Fernando Be- nistério do Transporte, outra das caixas-pre-
cios de que substituíra Geddel Vieira no Mi- Pernambuco também é privile- zerra e Eduardo Campos se fra- tas de Brasília. Já era para ter sido dada uma
nistério da Integração Nacional, mas mantive- giado no Orçamento deste ano. giliza quando se constata que solução definitiva ao problema na rodovia.
ra o costume do antecessor de manipular ver- Apesar de a Serra Fluminense — Já emperrada, outros estados e municípios não O caso de Bezerra é um entre vários. E co-
bas públicas com fins particulares. Geddel, não por exclusiva responsabili- foram socorridos como deviam. mo equipes de governo são montadas sob cri-
para beneficiar a Bahia, no projeto pessoal, dade do governo federal — man- a máquina O espírito de Geddel Vieira con- térios do fisiologismo, a partir do único inte-
frustrado, de governar o estado pelo PMDB; ter muitas das marcas da enxur- tinuou no ministério. resse do Palácio em ter votos no Congresso e
Bezerra, para ajudar Pernambuco, na conta- rada de janeiro de 2010. Em Co- burocrática fica Se o clientelismo desvendado apoio em eleições, a ineficiência intrínseca do
gem regressiva das eleições municipais, quan- cal, no Piauí, outro exemplo, a na ação do Ministério da Integra- poder público brasileiro cresce de maneira as-
do poderá concorrer à prefeitura da capital, Barragem Algodões, rompida em pior com a ção for tratado de maneira ma- sustadora. E diante de eventos graves, mesmo
Recife, pelo PSB. 2009, continua com a mesma pai- niqueísta, resulta no patético si- previsíveis, caso de temporais cíclicos, toda a
A concentração no estado de recursos do sagem lunar. Pela argumentação ‘baixa política’ lêncio da oposição, apenas inte- incompetência da máquina fica exposta a
ministério previstos para obras de prevenção pernambucana, quem não rece- ressada em cortejar o PSB com olho nu. Com seus aspectos perversos decor-
contra desastres e reconstrução de áreas atin- beu dinheiro é porque não soube vistas às eleições de 2014. E não rentes do clientelismo praticado na distribui-
gidas por catástrofes se deveu, justificou Be- produzir projetos. Outro argu- é porque o PT tem no seu DNA a ção do dinheiro público, prática indissociável
zerra, à necessidade de atender a Zona da Ma- mento frágil. Ora, se há uma região necessi- tendência ao poder hegemônico que suas crí- do modelo fisiológico de preenchimento de
ta, depois dos temporais de 2010. A presiden- tada de recursos federais e sem condições ticas a Bezerra deixam de ter razão. vagas no primeiro escalão. As crises dos 12
te Dilma, inclusive, sabia da destinação do di- técnicas de pedi-los, cabe ao ministro da área No Norte Fluminense, o rompimento de meses e seis dias do governo de Dilma valem
nheiro, logo alertou o líder de Bezerra, o go- assessorar governadores e prefeitos, indepen- uma estrada-barragem, a BR-356 (Itaperuna- por um curso de sociologia.
Inflação precisa sair da zona de perigo
A
inflação de 2011, medida pelo IPCA, to de política monetária, com elevação das ta- sacrificados que os gastos de custeio, um erro maior fonte de pressão sobre os preços está
fechou exatamente no topo da meta xas básicas de juros para desconfortáveis recorrente. De qualquer forma, foi importante no segmento de serviços, o que, por sua vez,
estabelecida pelo governo: 6,5%. O 12,5%, e mais a adoção de medidas de restri- que o governo tenha decidido estancar a ex- decorre de aumento da renda interna, em es-
IPCA registra a variação média do ção quantitativa do crédito, a in- plosão de despesas ocorrida em pecial dos salários (mais empregos e reajus-
custo de vida para famílias com renda de até flação poderia ter fugido ao con- 2010. tes).
quarenta salários mínimos mensais e tem trole. A ameaça fez com que o go- Em 2012, a política monetária Com a recuperação esperada da economia,
abrangência nacional. O IBGE também calcula verno Dilma abandonasse a tra- Trata-se de será facilitada por um ambiente é natural que essa pressão ressurja, e, se não
a variação média do custo de vida para famí- jetória fiscal do último ano do econômico menos aquecido. É houver algo que a contrabalance, novamente
lias com renda de até oito salários mínimos seu antecessor, quando os gas- missão que não bem possível que os índices de a inflação se distanciará do centro da meta, o
mensais, e, nesse caso, o INPC ficou em tos simplesmente dispararam. preços declinem ao longo do pri- que é negativo em termos de médio prazo pa-
6,08%. Em 2011, o setor público voltou a pode ser meiro semestre e se aproximem ra o país. Lembremo-nos que o aumento do
A inflação em 2011 foi puxada pelos servi- acumular efetivamente um supe- mais do centro da meta (4,5%), salário mínimo em mais de 14% injeta mais
ços, que encareceram 9%, na média. Os bens rávit primário superior a 3% do exclusiva do no acumulado em doze meses. pressão no consumo.
em geral subiram cerca de 3%, sendo que es- Produto Interno Bruto (os resul- É importante que as autorida- O Banco Central tem dado demonstrações,
pecificamente nos chamados bens de consu- tados finais do ano somente se- Banco Central des econômicas aproveitem o reconhecidas pelo mercado financeiro, que a
mo duráveis os preços chegaram a cair em re- rão divulgados no fim deste mês, quadro favorável para evitar que política monetária se manterá em uma linha
lação a 2010. mas dificilmente vão contrariar os preços não voltem a subir responsável. Mas o governo como um todo te-
Ao se observar o comportamento da infla- as previsões feitas com base nos mais rapidamente no segundo rá de ajudar o BC nessa tarefa, esforçando-se
ção durante o ano, constata-se que, no primei- dados até novembro). O superávit foi favore- semestre, para quando se espera uma recu- para reduzir o déficit nominal do setor públi-
ro trimestre de 2011, a economia brasileira es- cido por um aumento significativo de receitas. peração do crescimento econômico. co, que ainda se encontra em patamar inde-
tava de fato muito aquecida. Não fosse o aper- Investimentos públicos acabaram sendo mais Os números de 2011 deixaram claro que a sejável, acima dos 2% do PIB.
Mais um cadáver à solta Marcelo
GUILHERME FIUZA território e derramando lá quase to- ceiros delinquentes. Cada Orlando,
do o orçamento da pasta, a presiden- cada Rossi, cada Lupi apodreceu em
O
ministro da Integração Na- te indignou-se, vestiu o uniforme da público de mãos dadas com a presi-
cional, Fernando Bezerra, faxina e botou para quebrar: inter- dente. Ela só largava quando o pró-
destinou 90% das verbas veio no Ministério da Integração, cas- prio cadáver pedia arrego. Aí o públi-
de 2011 contra enchentes sando sua autonomia para liberação co aplaudia a faxina. Contando, nin-
para o estado de Pernambuco — por de verbas. guém acredita.
acaso, sua terra natal e base política. Ou seja: Dilma moralizou a si mes- Mas é verdade, tanto que Dilma
Tudo absolutamente dentro da nor- ma. terminou 2011 com aprovação supe-
malidade. Tanto que a presidente Dil- Esse inusitado sistema de autocor- rior à de Lula em seu primeiro ano de
ma foi assinar pessoalmente, em solo regedoria seria perfeito se a morali- governo. E com o aval da sociedade
pernambucano, a autorização para zação não tivesse prazo de validade para continuar gerindo a catedral do
as obras que consumiram a maior (equivalente à duração das manche- fisiologismo — que abriga, entre ou-
parte desses recursos. Aí surgiu um tes). Mas não se pode querer tudo. tros, o cadáver ambulante do minis-
problema inesperado: o assunto saiu O companheiro Bezerra pode ficar tro do Desenvolvimento, Fernando
no jornal. tranquilo. Basta dar um Pimentel.
Entre quatro paredes, Google no caso Palocci. Essa mão, a presidente só larga se
o governo Dilma funciona Em junho, após a desco- for para salvar sua própria cabeça.
muito bem. Mas, quando Imprensa berta de que arrecadou Pimentel é mais um monstro da con-
aparece a imprensa com R$ 20 milhões como con- sultoria: arrecadou R$ 2 milhões em
essa mania de contar as ‘atrapalha’ sultor chapa-branca, o dois anos, com serviços diferencia-
coisas para todo mundo, ministro da Casa Civil dos que ninguém sabe dizer quais fo-
é um Deus nos acuda. Na governo, que caiu em desgraça. Em ram. O que se sabe é que Pimentel,
correria para oferecer al- dezembro, Dilma decla- enquanto economista, é um grande
guma coisa aos curiosos, funciona bem rou que Palocci saiu do amigo de Dilma. E uma amizade des-
pelo menos como tira- governo porque quis. Se sas não tem preço.
gosto, surge a primeira entre 4 paredes a moral nesse caso du- Assim caminha o governo popular
explicação do Ministério: rou seis meses, na Ope- S.A., o melhor negócio do país. Arre-
Pernambuco não foi pri- ração Pernambuco não cadação beirando R$ 1 trilhão, taxa
vilegiado. Os outros esta- dura seis semanas. de investimento minguando para
dos receberam verbas contra en- Traduzindo para o idioma dos 2,5% do PIB, e uma montanha de di-
chentes de outros ministérios. companheiros: o caso não há de atra- nheiro para gastar com a máquina,
Na pressa de sempre, os jornalis- palhar a candidatura do ministro a segundo os critérios conhecidos —
tas não prestaram atenção nisso: prefeito de Recife — capital do esta- devidamente aprovados pelo povo,
com tantos estados recebendo ver- do que, na sua gestão, passou a re- como mostram as pesquisas. O negó-
bas de tantos ministérios, o ministro presentar 90% do Brasil. feito da maior cidade do país. Se um pensam naquilo. cio é tão seguro que Fernando Bezer-
da Integração Nacional achou melhor Se mesmo assim ele ficar receoso, cidadão que não consegue organizar O ano que passou foi trabalhoso ra ficou à vontade para exclamar:
integrar um estado só. Questão de fo- vale um passeio na Esplanada até o uma prova escolar se habilita a gerir para a presidente Dilma. Não é fácil “Pernambuco não pode ser discrimi-
co. (Ainda bem que a opinião pública MEC. Ali Bezerra terá certeza de que a cidade de São Paulo, um amante administrar tantos ministros candi- nado por ser o estado do ministro!”
no Brasil morreu. Senão, uma expli- está preocupado à toa. Basta con- furtivo de Pernambuco não tem por datos, ministros consultores, minis- Não discriminem Pernambuco.
cação dessas seria um escândalo.) templar por cinco minutos a desini- que se encabular. tros patronos de ONGs e de empre- Não persigam os Fernandos. Digam
Como se sabe, Dilma Rousseff não bição do colega Fernando Haddad, A ministra que tentou censurar o sas privadas. Fora um slogan novo ao Ibope que estão adorando o go-
tolera malfeitos. Pelo menos os que que depois de levar os estudantes comercial de Gisele Bündchen de aqui, um programa reciclado ali, não verno Dilma. E que irão gostar mais
saem no jornal. Por isso é que, qua- brasileiros à loucura por três anos roupas íntimas também é candidata a deu tempo para mais nada. Mas va- ainda quando ele começar.
tro meses depois de dar uma força ao seguidos, com as já tradicionais frau- prefeita. Seu grito feminista, pelo vis- leu a pena. O Brasil foi bonzinho, e
companheiro Bezerra, indo ao seu des do Enem, é candidatíssimo a pre- to, era eleitoral. Os companheiros só Dilma pôde até tentar salvar os par- GUILHERME FIUZA é jornalista.
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