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O GLOBO        ●   ECONOMIA           ●   PÁGINA 34 - Edição: 31/03/2012 - Impresso: 31/03/2012 — 00: 11 h                                                                      AZUL MAGENTA AMARELO PRETO



34      ●
            ECONOMIA                                                                                     O GLOBO                                                                3ª edição • Sábado, 31 de março de 2012




                          Pa
.




                                                                                                                                                                                                         Fotos de Arnaldo Bloch




                             rq ue d e
                                                                 informa
                                                                        ções
                                                                                                                                                                     Logo       A PÁGINA MÓVEL

    Em clima digital, discípulo de McLuhan dá aula-show em escola da Zona Sul
                Arnaldo Bloch                  o assunto não anda, o tempo passa              — Siiiiiiim (e yeeeeess) — respon-    tando atenção? Eu sou muito rigoro-            A turma ri da rima de sufixos em
              arnaldo@oglobo.com.br            devagar... quando estão na festa,           de a coletividade.                       so! Quanto tempo temos? Muito? Vo-          inglês.
                                               passa tão rápido...                            — Mc Luhan dizia que o meio é a       cê disse a lot? Então quer dizer que           — Sim, vai. Está mudando. Hoje há
    ● Manhã escaldante nos jardins da             Ele lança um risinho-claque, como a      mensagem. Meu microfone, por             você está gostando da aula, certo?          mais ação fora da escola do que den-
    Escola Parque. Numa espécie de             indicar que se trata de uma piada, mas      exemplo. É um meio?                      Eu também.                                  tro. E mais liberdade. A escola é chata
    choupana, ou oca, semiaberta, seis         não tem jeito. A ambiguidade se insta-         Sim e não plurais misturam-se a          Ou será que a lot quer dizer tem-        em comparação com a excitação da
    turmas do segundo ano do ensino            la. Por mais que se estude, a idéia de      yes e no.                                po demais?                                  vida, com as informações entrando
    médio — mais de 100 alunos na faixa        um tempo relativo permanece tão mis-           — Sim! Com o microfone eu sou            Na onda de ambiguidade que no-           por todos os meios. Então? Nenhuma
    de 16 anos — ocupam as cadeiras            teriosa, que há quem acredite que, de       poderooooooooso! O fato de eu ter        vamente se instala o professor se           mulher vai fazer pergunta? There’s no
    azuis que fazem bonito conjunto            fato, o tempo passa mais rápido quan-       um microfone faz de mim um REI!          senta ofegante para, em seu Apple           Garota de Ipanema aqui?
    com o décor tropical daquele sítio,        do estamos na diversão e mais lento            Aponta para uma menina. “Diga al-     Air, examinar o próximo tópico: a              Uma moça se declara moradora
    escola-modelo, escola de modelos,          no tédio. E que isto, sim, é tempo re-      go!”. Ela responde com um som inau-      sexta linguagem.                            de Ipanema. Mas ela não tem uma
    hippie-hype — os conceitos todos           lativo. E não deixa de ser: se não às lu-   dível. Ele prossegue com um longo           Nos tablets da Mesopotâmia para          pergunta. Um rapaz avança.
    em transição.                              zes da física, ao menos do ponto de         arrazoado. Que, no Ocidente, as leis     registrar valores de impostos sobre            — Essa conexão entre física, ma-
       É disso que o professor Robert Lo-      vista da percepção...                       codificadas, o monoteísmo e o alfa-      jarras de óleo e cabras, a matemáti-        temática e linguagem é normal entre
    gan — contemporâneo, discípulo e              Aliás, percepção é o tema da aula,       beto deram condições para o nasci-       ca e a descrição dos objetos se fun-        outros professores?
    parceiro de Marshall McLuhan — vem         embora não pareça. Logan avisa:             mento da ciência abstrata. Que Jetro,    diam, assim como as atividades tri-            — Eu não sou normal. Sou profes-
    falar: conceitos. Como explicar o mun-        — Estou aqui para falar de               sogro de Moisés, era um dos pionei-      bais, que não eram especializadas.          sor de física e estudei fisosofia. Não
    do em inglês (com pitacos de portu-        McLuhan. Ele tinha uma noção de             ros do alfabeto. Que Moisés, no Sinai,   Com a complexificação da socieda-           acredito que o mundo tem que se di-
    guês de Google translator) para uma        espaço diferente de Newton e Eins-          traz uma lei escrita. Que a possibili-   de e a escrita ordenada, muda o             vidir em especialidades. Se vocês
    classe de adolescentes latinos? Acos-      tein: falava de espaço acústico ou vi-      dade de ordenar e classificar facilita   aprendizado: você pode aprender a           quiserem fazer algo importante na
    tumado à universidade, ele toma pre-       sual. O espaço vi-                                                                                    cozinhar ou a caçar        vida, aprendam mais de uma coisa.
    cauções que dão à sua apresentação         sual é o da escrita,                                                                                  por imitação. Mas             Uma aluna enfim se manifesta.
    — de cunho relativamente complexo          o d a o rd e n a ç ã o ,                                                                              não a escrever ou a           — Num mundo em que internet é
    — um tom de primário. Para fazer gra-      que se inaugura                                                                                       calcular.                  língua e saber é língua, internet é sa-
    ça, começa em português.                   com o alfabeto. Vo-                                                                                      — Essa escola           ber. Um homem sem internet é um
       — Tempo. O que é tempo? Vocês           cês sabem de onde                                                                                     tem 5 mil anos. O          homem sem sabedoria?
    sabem o que é tempo?                       vem o alfabeto?                                                                                       homem que escre-              — Ora, a internet chegou em 1994,
       Ele toma o braço de uma aluna.             Silêncio. Ele                                                                                      via os nomes dos           se não houvesse conhecimento an-
       — Isto é tempo?                         aponta aleatoria-                                                                                     rios era professor         tes, como teriam feito a internet? In-
       — Siiiiiiiim!, Yeeeeessss! — res-       mente.                                                                                                de geografia. O que        formação são dados. Saber é usar in-
    ponde a coletividade.                         — Você sabe? Vo-                                                                                   e s c re v i a o n o m e   formação para atingir objetivos. Sa-
       — Não. — reage o professor. — Isto      cê sabe?                                                                                              dos bichos, de bio-        bedoria é habilidade de escolher ob-
    é solo watch. Como diz em português?          Não. Não.                                                                                          logia. Eram classes        jetivos consistentes com seus valo-
       A professora de inglês, presente           Vai ao flip chart.                                                                                 para 40 pessoas.           res. Isso é muito profuuuuuundo...
    para qualquer emergência (não há           Desenha uma cabe-                                                                                     Depois da escrita,            As perguntas agora pululam.
    tradução simultânea) acode.                ça de vaca, alef, e                                                                                   veio a ciência, a ma-         — O que vem depois?
       — “Relógio”.                            uma casa, beit, res-                                                                                  temática, e compu-            — Se eu soubesse, estaria rico.
       — Relóio? (Risos). Relório? (Mais       pectivamente, em                                                                                      tação e a internet.           Outra moça vem à baila.
    Risos) Velório? (Mais e mais risos).       idiomas semíticos.                                                                                    Informação com-               — Quando você escreve no Face-
    Ah! Relógio! (Aplausos). — Assim              Os gregos, expli-                                                                                  partilhada. Uma no-        book, o escrito sai como o falado.
    bóm. Eu aprendo português, vocês           ca, transformaram                                                                                     va linguagem. Pron-           — O facebook e o email são lin-
    aprendem inglês!                           em alfa e beta. Hora                                                                                  to. Agora é a vez de       guagens orais. Mas a verdadeira mu-
       Aplausos. Ele prossegue.                do show.                                                                                              vocês falarem.             dança são os sinais que surgem, co-
       — Ok. Tempo. Tempo é coisa acon-           — Cow house! Va-                                                                                      O minuto que se         mo o “lol” significando risadas.
    tecendo. ‘Over and over’. Como você        ca casa! Alphabet!                                                                                    passa em pesado               O rapaz que havia feito a primeira
    diz ‘noon’?                                Pronto!                                                                                               mutismo parece du-         pergunta menciona um novo idioma
       — Meio-dia! — gritam os aventu-            A turma ri. Quem                                                                                   rar 5 mil anos. O          só falado na internet para comentar
    reiros mais (d)escolados.                  ri, compreende, di-                                                                                   professor ameaça.          fatos variados através de símbolos
       — Yes! Middle of the day! Depois,       zem.                                        as coisas para os gregos, que inven-        — Se vocês não perguntarem, eu           imagéticos, chamada “Meme” e que
    vem sunset. É assim que temos tem-            — Quero agora que todo mundo             tam essa mania de explicar tudo por      vou embora.                                 tem já milhões de usuários.
    po, não é?                                 diga alguma coisa. One, two, three...       um princípio único. Mas... ops... es-       Enfim um jovem se pronuncia em              — Não conheço. Você podia falar
       A coletividade concorda com ace-        stop!                                       queceram do zero! Sem o zero, a no-      inglês castiço:                             comigo?
    nos afirmativos. Exausto, ele volta           — Aãããããããããããããããããããã — res-           ção do nada fica prejudicada e toda a       — A internet será uma língua glo-           — Não. Eu não posso falar. Só pos-
    ao inglês.                                 ponde a coletividade, em tom de             matemática colapsa.                      bal?                                        so mostrar.
       — Para Newton, o tempo é abso-          zombaria.                                      — Já imaginaram fazer multiplica-        — Sim. Ela já é uma língua que to-          Logan, então, entrega o microfone
    luto. Só há um relógio no Paraíso.            — Aããããããaã? What’s that? Talk           ção com algarismos romanos?              do o mundo fala e de onde se reco-          ao aluno e se retira para atrás da oca,
    Vocês sabem quem é Newton?                 with palavras! Come on!                        O professor Logan, então, creiam,     lhe informação. Essa é a aldeia glo-        onde há um filtro de água. O aluno,
       Murmúrios de yes e sim ecoam na            Ouvem-se, então, murmúrios civi-         vai ao flip chart e lança-se a um com-   bal de McLuhan: ninguém está no             meio perdido, vai ao flip chart e mos-
    oca.                                       lizacionais polifônicos.                    plicado cálculo de multiplicação em      centro, todos têm igual chance de fa-       tra alguns sinais de “Meme” (palavra
       — Mas Einstein não concordava.             — Ok! Very good. Enough! Basta!          romanos que enche uma folha inteira.     zer parte. Sabe aquela coisa de to-         usada no livro de Logan significando
    O tempo é relativo. O relógio do           Ouvimos todo mundo ao mesmo                    — Imagina como seria sem o zero.      dos os caminhos levam a Roma?               o modo como a informação é trans-
    trem e o relógio da estação andam          tempo. Isso é acústico. (Mostra o flip      O papa detestava. Aliás, vocês sa-       Acabou. Não há um centro do mun-            mitida por meios imateriais). Logan
    em velocidades diferentes.                 chart) E isto é visual. Ordenado. Na        bem quem inventou o zero?                do. Qualquer lugar é o centro. Outra        volta do bebedouro e observa o alu-
       O tempo pode ser relativo, mas o        fala, é tudo ao mesmo tempo. Vocês             Alguém lá no fundo diz que foram      pergunta?                                   no, ovacionado pela coletividade co-
    silêncio em classe, diante desta ve-       sentados em casa com seus smart-            os árabes.                                  Um rapaz minguado.                       mo arauto do novo mundo.
    lha sentença, é absoluto, salvo pas-       phones mandando textos, vendo TV,              — Não. Foram os hindus.                  — Do you believe that with globa-
    sarinhos. Urge rompê-lo.                   pais e mães go crazy.                          Silêncio, em meio ao qual Logan       lization and universalization of infor-         ● ALDEIA DE TINTA E PIXELS

       — Vocês todos experimentam es-             Aponta aleatoriamente.                   capta mensagens de interesse.            mation the concept of education will          entrevista exclusiva com Robert K.
    te fenômeno: quando estão na aula e           — Você faz isso? Você faz isso?             — Parece interessante? Está pres-     change... oh! That’s a lot of ations!               Logan no Prosa&Verso

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  • 1. O GLOBO ● ECONOMIA ● PÁGINA 34 - Edição: 31/03/2012 - Impresso: 31/03/2012 — 00: 11 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO 34 ● ECONOMIA O GLOBO 3ª edição • Sábado, 31 de março de 2012 Pa . Fotos de Arnaldo Bloch rq ue d e informa ções Logo A PÁGINA MÓVEL Em clima digital, discípulo de McLuhan dá aula-show em escola da Zona Sul Arnaldo Bloch o assunto não anda, o tempo passa — Siiiiiiim (e yeeeeess) — respon- tando atenção? Eu sou muito rigoro- A turma ri da rima de sufixos em arnaldo@oglobo.com.br devagar... quando estão na festa, de a coletividade. so! Quanto tempo temos? Muito? Vo- inglês. passa tão rápido... — Mc Luhan dizia que o meio é a cê disse a lot? Então quer dizer que — Sim, vai. Está mudando. Hoje há ● Manhã escaldante nos jardins da Ele lança um risinho-claque, como a mensagem. Meu microfone, por você está gostando da aula, certo? mais ação fora da escola do que den- Escola Parque. Numa espécie de indicar que se trata de uma piada, mas exemplo. É um meio? Eu também. tro. E mais liberdade. A escola é chata choupana, ou oca, semiaberta, seis não tem jeito. A ambiguidade se insta- Sim e não plurais misturam-se a Ou será que a lot quer dizer tem- em comparação com a excitação da turmas do segundo ano do ensino la. Por mais que se estude, a idéia de yes e no. po demais? vida, com as informações entrando médio — mais de 100 alunos na faixa um tempo relativo permanece tão mis- — Sim! Com o microfone eu sou Na onda de ambiguidade que no- por todos os meios. Então? Nenhuma de 16 anos — ocupam as cadeiras teriosa, que há quem acredite que, de poderooooooooso! O fato de eu ter vamente se instala o professor se mulher vai fazer pergunta? There’s no azuis que fazem bonito conjunto fato, o tempo passa mais rápido quan- um microfone faz de mim um REI! senta ofegante para, em seu Apple Garota de Ipanema aqui? com o décor tropical daquele sítio, do estamos na diversão e mais lento Aponta para uma menina. “Diga al- Air, examinar o próximo tópico: a Uma moça se declara moradora escola-modelo, escola de modelos, no tédio. E que isto, sim, é tempo re- go!”. Ela responde com um som inau- sexta linguagem. de Ipanema. Mas ela não tem uma hippie-hype — os conceitos todos lativo. E não deixa de ser: se não às lu- dível. Ele prossegue com um longo Nos tablets da Mesopotâmia para pergunta. Um rapaz avança. em transição. zes da física, ao menos do ponto de arrazoado. Que, no Ocidente, as leis registrar valores de impostos sobre — Essa conexão entre física, ma- É disso que o professor Robert Lo- vista da percepção... codificadas, o monoteísmo e o alfa- jarras de óleo e cabras, a matemáti- temática e linguagem é normal entre gan — contemporâneo, discípulo e Aliás, percepção é o tema da aula, beto deram condições para o nasci- ca e a descrição dos objetos se fun- outros professores? parceiro de Marshall McLuhan — vem embora não pareça. Logan avisa: mento da ciência abstrata. Que Jetro, diam, assim como as atividades tri- — Eu não sou normal. Sou profes- falar: conceitos. Como explicar o mun- — Estou aqui para falar de sogro de Moisés, era um dos pionei- bais, que não eram especializadas. sor de física e estudei fisosofia. Não do em inglês (com pitacos de portu- McLuhan. Ele tinha uma noção de ros do alfabeto. Que Moisés, no Sinai, Com a complexificação da socieda- acredito que o mundo tem que se di- guês de Google translator) para uma espaço diferente de Newton e Eins- traz uma lei escrita. Que a possibili- de e a escrita ordenada, muda o vidir em especialidades. Se vocês classe de adolescentes latinos? Acos- tein: falava de espaço acústico ou vi- dade de ordenar e classificar facilita aprendizado: você pode aprender a quiserem fazer algo importante na tumado à universidade, ele toma pre- sual. O espaço vi- cozinhar ou a caçar vida, aprendam mais de uma coisa. cauções que dão à sua apresentação sual é o da escrita, por imitação. Mas Uma aluna enfim se manifesta. — de cunho relativamente complexo o d a o rd e n a ç ã o , não a escrever ou a — Num mundo em que internet é — um tom de primário. Para fazer gra- que se inaugura calcular. língua e saber é língua, internet é sa- ça, começa em português. com o alfabeto. Vo- — Essa escola ber. Um homem sem internet é um — Tempo. O que é tempo? Vocês cês sabem de onde tem 5 mil anos. O homem sem sabedoria? sabem o que é tempo? vem o alfabeto? homem que escre- — Ora, a internet chegou em 1994, Ele toma o braço de uma aluna. Silêncio. Ele via os nomes dos se não houvesse conhecimento an- — Isto é tempo? aponta aleatoria- rios era professor tes, como teriam feito a internet? In- — Siiiiiiiim!, Yeeeeessss! — res- mente. de geografia. O que formação são dados. Saber é usar in- ponde a coletividade. — Você sabe? Vo- e s c re v i a o n o m e formação para atingir objetivos. Sa- — Não. — reage o professor. — Isto cê sabe? dos bichos, de bio- bedoria é habilidade de escolher ob- é solo watch. Como diz em português? Não. Não. logia. Eram classes jetivos consistentes com seus valo- A professora de inglês, presente Vai ao flip chart. para 40 pessoas. res. Isso é muito profuuuuuundo... para qualquer emergência (não há Desenha uma cabe- Depois da escrita, As perguntas agora pululam. tradução simultânea) acode. ça de vaca, alef, e veio a ciência, a ma- — O que vem depois? — “Relógio”. uma casa, beit, res- temática, e compu- — Se eu soubesse, estaria rico. — Relóio? (Risos). Relório? (Mais pectivamente, em tação e a internet. Outra moça vem à baila. Risos) Velório? (Mais e mais risos). idiomas semíticos. Informação com- — Quando você escreve no Face- Ah! Relógio! (Aplausos). — Assim Os gregos, expli- partilhada. Uma no- book, o escrito sai como o falado. bóm. Eu aprendo português, vocês ca, transformaram va linguagem. Pron- — O facebook e o email são lin- aprendem inglês! em alfa e beta. Hora to. Agora é a vez de guagens orais. Mas a verdadeira mu- Aplausos. Ele prossegue. do show. vocês falarem. dança são os sinais que surgem, co- — Ok. Tempo. Tempo é coisa acon- — Cow house! Va- O minuto que se mo o “lol” significando risadas. tecendo. ‘Over and over’. Como você ca casa! Alphabet! passa em pesado O rapaz que havia feito a primeira diz ‘noon’? Pronto! mutismo parece du- pergunta menciona um novo idioma — Meio-dia! — gritam os aventu- A turma ri. Quem rar 5 mil anos. O só falado na internet para comentar reiros mais (d)escolados. ri, compreende, di- professor ameaça. fatos variados através de símbolos — Yes! Middle of the day! Depois, zem. as coisas para os gregos, que inven- — Se vocês não perguntarem, eu imagéticos, chamada “Meme” e que vem sunset. É assim que temos tem- — Quero agora que todo mundo tam essa mania de explicar tudo por vou embora. tem já milhões de usuários. po, não é? diga alguma coisa. One, two, three... um princípio único. Mas... ops... es- Enfim um jovem se pronuncia em — Não conheço. Você podia falar A coletividade concorda com ace- stop! queceram do zero! Sem o zero, a no- inglês castiço: comigo? nos afirmativos. Exausto, ele volta — Aãããããããããããããããããããã — res- ção do nada fica prejudicada e toda a — A internet será uma língua glo- — Não. Eu não posso falar. Só pos- ao inglês. ponde a coletividade, em tom de matemática colapsa. bal? so mostrar. — Para Newton, o tempo é abso- zombaria. — Já imaginaram fazer multiplica- — Sim. Ela já é uma língua que to- Logan, então, entrega o microfone luto. Só há um relógio no Paraíso. — Aããããããaã? What’s that? Talk ção com algarismos romanos? do o mundo fala e de onde se reco- ao aluno e se retira para atrás da oca, Vocês sabem quem é Newton? with palavras! Come on! O professor Logan, então, creiam, lhe informação. Essa é a aldeia glo- onde há um filtro de água. O aluno, Murmúrios de yes e sim ecoam na Ouvem-se, então, murmúrios civi- vai ao flip chart e lança-se a um com- bal de McLuhan: ninguém está no meio perdido, vai ao flip chart e mos- oca. lizacionais polifônicos. plicado cálculo de multiplicação em centro, todos têm igual chance de fa- tra alguns sinais de “Meme” (palavra — Mas Einstein não concordava. — Ok! Very good. Enough! Basta! romanos que enche uma folha inteira. zer parte. Sabe aquela coisa de to- usada no livro de Logan significando O tempo é relativo. O relógio do Ouvimos todo mundo ao mesmo — Imagina como seria sem o zero. dos os caminhos levam a Roma? o modo como a informação é trans- trem e o relógio da estação andam tempo. Isso é acústico. (Mostra o flip O papa detestava. Aliás, vocês sa- Acabou. Não há um centro do mun- mitida por meios imateriais). Logan em velocidades diferentes. chart) E isto é visual. Ordenado. Na bem quem inventou o zero? do. Qualquer lugar é o centro. 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