Samba de várias notas: o carnaval brasileiro e suas diferenças entre Rio e Bahia
1. O
30 • REVISTA O GLOBO• 22 DE JANEIRO DE 2012
convidado
Colunista
‘‘
Margareth Menezes*
Divulgação
Samba de várias notas
Nesses dias que antecedem o carnaval, só não vai quem já morreu”, cantou Caetano.
todo mundo se prepara para esta que é a Fora isso, as grandes bandas de carnaval e
O Brasil, país que maior festa popular do país. Recentemente,
ao chegar ao Rio, conversava com alguns
seus artistas, empresários e outros profis-
sionais criaram um mercado ao redor da
vem crescendo amigos que encontrei na cidade sobre o quan-
to a festa é diferente no Rio e na Bahia.
música baiana que chama a atenção de gente
do mundo inteiro.
As duas cidades têm muito do que a gente
aos olhos do O carnaval do Sambódromo é um espe-
táculo visual, um evento multilinguagem gran- chama de brasilidade. O samba, por exemplo,
dioso, que envolve muita gente em todas as que é nascido na Bahia, só ganhou o mundo
mundo, tem no áreas da arte: música, dança, teatro, sempre depois de migrar para o Rio. Tem uma música,
composta por Mateus Aleluia e Dadinho, do
com o legado cultural de cada comunidade,
carnaval fortemente demonstrado nos temas escolhi-
dos pelas escolas de samba. A beleza exu-
lendário grupo Os Ticoãs, que diz: “O Rio é o
quartel general do samba. Quem chega no Rio
‘‘
referência de
estética e
animação. Rio,
Bahia, Recife,
Olinda e São
Paulo são os
maiores centros
berante da cidade está no imaginário criativo
do povo, que usa os monumentais carros
alegóricos para representar essa relação de
riqueza estética e beleza artística e cultural.
O da Bahia é mais informal. Ele vem das
manifestações de rua trazidas para a Avenida
pela maneira simples do povo. A Bahia, nas-
cedouro da nação brasileira, gestou uma folia
com o perfil festivo e espontâneo. Por muitos
anos, mesmo sem receber investimentos de
grandes empresas e instituições, o carnaval
cresceu graças à irreverência e à fibra de ani-
mados baianos, à força de sua história e a uma
invenção geniosa e simples: o trio elétrico.
Com o trio, a música baiana e as ma-
nifestações culturais trazidas para dentro do
tem que ser bamba.” Pois para o samba montar
seus QGs, foram necessários muitos mestres.
O samba só se tornou o estandarte musical,
que mais nos identifica como brasileiros para o
mundo, graças a baianos como Dorival Caym-
mi, Batatinha, Riachão e Nelson Rufino, e
graças a cariocas como Noel Rosa, Pixin-
guinha, Vinicius de Moraes, Clementina de
Jesus e D. Ivone Lara. E graças a Carmen
Miranda, que, sem ser brasileira, foi ao mesmo
tempo baiana e porta-bandeira.
O Brasil, país que vem crescendo aos olhos
do mundo, tem no carnaval referência de
estética e animação. Rio, Bahia, Recife, Olinda
e São Paulo são os maiores centros dessa festa
popular. A nossa cara tropical se mostra ao
carnaval foram projetadas para o Brasil e para mundo com esse colorido intenso e esta
o exterior. O povo é a grande estrela do show. animação latente do brasileiro. Brasil pan-
A força dessa máquina de som é tão potente deiro. Somos nós que iluminamos os terreiros
que impressiona todos. “Atrás do trio elétrico, para o povo do mundo inteiro sambar.
*MargarethMenezesécantoraecompositoraecomandaoensaiodoblocoAfropopnodia9defevereironoLapa40°