Apresentação de dissertação de mestrado defendida no programa de urbanismo PROURB -FAU -UFRJ.
aprovada em 31 de março de 2016.
Autoria: Rodrigo Bertamé
Rizomas Suburbanos: Possíveis ressignificações do topônimo Subúrbio Carioca através dos afetos.
1. RIZOMAS SUBURBANOS
Possíveis ressignificações do topônimo Subúrbio
Carioca através dos afetos
Rodrigo Bertamé
Orientadora. Prf.ª Dr.ª Adriana Sansão
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM URBANISMO
2. Ao pensar a cidade como um espaço de
vivências urbanas em disputa, a pesquisa
se propõe a investigar as potencialidades e
limitações das novas formas de significação
do topônimo Subúrbio Carioca, suas
apropriações, seus rebatimentos no espaço
e no território, e a construção de potências
que habitam as lutas dos Suburbanos.
O que pode o topônimo
Subúrbio Carioca na cidade
do Rio de Janeiro?
3. O trabalho parte da hipótese de que o topônimo Subúrbio
Carioca passa por um processo de ressignificação afetiva
dentro da cidade, onde gradativamente vai deixando de
representar um espaço constituído na cidade e se construindo
como uma enunciação coletiva a partir dos corpos que habitam
e se apropriam do topônimo Subúrbio Carioca. De maneira
que é o Suburbano que se faz Subúrbios.
HIPÓTESE
7. Massimo Cacciari
Antônio Negri
Milton Santos
A cidade como um campo de contradições
“A cidade, na sua história, é a perene experiência de dar
forma à contradição, ao conflito” (CACCIARI, 2010:7).
“Homens que tiveram a mesma formação e que têm
as mesmas virtualidades, mas estão situados em
lugares diferentes, não tem a mesma condição como
produtores, como consumidores e até mesmo como
cidadãos” (SANTOS, 2014:21).
A metrópole é livre, e a “liberdade nasce da construção
e reconstrução que cada dia ela opera sobre si mesma
e de si mesma” (NEGRI, 2008:203).
9. O SUBÚRBIO FAZ O SUBURBANO
Nos enveredamos em uma narrativa onde nos lançamos
sobre as fronteiras, leis, planos, projetos, e uma infinidade de
ações sobre a forma física e a representação constituída dos
Subúrbios Cariocas, em busca das forças atuantes nelas.
Rastros do topônimo na cidade
e no tempo deixam marcas nas
subjetividades e representação
do Suburbano
10. Considerando que a divisão territorial do Districto Federal em três zonas distintas e
determinadas, uma urbana, outra suburbana e outra rural, é de utilidade intuitiva para
os fins geraes e especiaes da Administração Municipal; Considerando, porém,
que não obstante serem frequentes as referências feitas a essa divisão,
na linguagem comum e nos documentos officiaes, não existe até agora
acto algum estabelencendo-a de maneira geral racional e conveniente;
Considerando ainda que, devida à importância irregular da parte mais central, mais
antiga, mais importante da cidade, ora plana ou de suave declive para o mar, ora
montanhosa e extremamente elevada em certos pontos dessa região a considerar
como zona urbana: convém, por isso, subdividi-la em tres subzonas sucessivas, do
litoral a parte mais elevada, conforme a importancia de cada uma em relação à posição
que ocupa na referida zona urbana (RIO DE JANEIRO, 1918, p. 26-28, apud BORGES,
2007:71)
11.
12.
13.
14.
15. PLANO DOXIADIS
PLANO BARRA DA TIJUCA
Policentralidades
Paradigma Rodoviarista
Nova centralidade
Paradigma Rodoviarista
17. RASTROS DOS SUBÚRBIOS NA IMPRENSA
Jornal Diário do Rio
de Janeiro, 30 de
junho de 1821
18. Santa Thereza
um novo raio de Subúrbio
Belo Subúrbio do Flamengo
São Christóvão
e Riachuelo
progridem
1856 18831854
Diário do Rio de Janeiro Gazeta Suburbana
25. Voltaste (pro Subúrbio)
1934
Noel Rosa
Voltaste novamente pro
subúrbio Vai haver muito
distúrbio Vai fechar o
botequim.(...)VoltastePara
mostraraonossopovoQue
não há nada de novo Lá no
Centro da cidade Voltaste
Demonstrando claramente
Que o subúrbio é
ambiente Que completa
a liberdade
Subúrbio – 1955
LuízAntônioeElizethCardoso
Subúrbio, recanto triste da
cidade Sem asfalto, sem
vaidade / Sem biquíni, sem
calção / Sem cadilaque, sem
iate Sem chiclete, sem boate
Sem jogo, sem perdição /
Subúrbio, sem grã-finas
de piteiras Sem babá se
gafieira / Sem amor de
arranha-céu Subúrbio, sem
pipi papo
Poema suburbano - 1956
Luís Peixoto (musicado por
Bororó e gravado em 1956 por
Orlando Silva).
Subúrbios das moças
prendadas (...) Das ruas
barrentas, tão simples e
humildes que até nem o
nome se lê nos jornais, e
sobem ladeiras, (...) Subúrbios
teimosos,dostrensatrasados,
Subúrbios pacatos, do meu
coração! (...) Ser meio mulato
e foguista da Estrada de Ferro
Central do Brasil!
26. Subúrbio – 2009
Chico Buarque
Lá não figura no mapa (...)
No avesso da montanha,(...)
é labirinto Casas sem cor Ruas
de pó.(...)
Lá não tem moças douradas
(...)Lá tem Jesus E está de
costas (...)Carrega a tua cruz E
os teus tambores (...)Naquela
que te sombreia (...)Lá não
tem claro-escuro(...) A luz
é dura A chapa é quente(...)
Que futuro tem Aquela gente
toda Perdido em ti
Meu Lugar - 2012
Arlindo Cruz
O meu lugar, é caminho de Ogum
e Iansã, lá tem samba até de
manhã, uma ginga em cada
andar. O meu lugar, é cercado
de luta e suor, esperança num
mundo melhor, e cerveja pra
comemorar. (...) Doce lugar, que
é eterno no meu coração, e aos
poetas traz inspiração, pra cantar
e escrever (...) Ah meu lugar, /
tem mil coisas pra gente dizer,
/ o difícil é saber terminar.
34. COPACABANA É SUBÚRBIO?
NÃO - Porque Subúrbio tem uma
conotaçãodeclassesocialmaisbaixa
- Morador de Copacabana
NÃO - Copacabana está à
margem geograficamente, mas
não é Subúrbio porque é Zona
Sul. Tem praia banhável, boa
estrutura de iluminação, ruas
asfaltadas, prédios e arquiteturas
interessantes (pintados e bem
equipados), muita gente branca
e rica - Morador de Niterói
NÃO - Não considero porque o
bairro existe no mapa, embora seja
decadente. Deveria ser sim um
“Subúrbio da Zona Sul”. - Morador de
Irajá
SIM-CopacabanaéSubúrbioporque“Temcarade“povão”étodomundo
misturado, é diferente do Leblon e Ipanema. - Morador do Encantado
35. NÃO - Excelente pergunta. Copacabana não
temaessênciadoSubúrbio,essapeculiaridade
de ser suburbano da cidade do Rio de Janeiro
acarreta o lugar a ser historicamente um lugar
que após ser excluído pelo resto da cidade
buscou suas próprias peculiaridades que
fazem esse lugar ser único e unido. - morador
do Jacarezinho
NÃO - Não considero, pois, os moradores do Subúrbio se conhecem, se cumprimentam
e se ajudam, Copa e outros bairros da Zona Sul, é cada um por si. - Morador de
Laranjeiras
SIM – Porque quando
estou em Copa só vejo
suburbanos. Um visual
diferente do Leblon, por
exemplo. - Morador do
Engenho de Dentro
36. meu bando é carnaval
Enquanto o espaço nos
imobiliza, taticamente
vamos construindo
descentralizações
45. Mudança de perspectiva quanto ao uso
de bicicleta como meio de transporte,
especialmente no subúrbio, onde a
mobilidade é uma questão cultural, muito
mais por falta de opção do que por
convicção - Bicicleteiros Suburbanos
50. DÁ PRA IR DE
TREM?
não tem a pretensão de
apresentar o subúrbio a
ninguém, e sim conhecê-lo e
promover o conhecimento de
moradoresefrequentadores.
Acreditamos que transitar
é essencial pra aprender,
desconstruir e, claro, se
divertir.(DÁPRAIRDETREM
– acessado em 15/01/2016).
76. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como a cidade em si não existe,
como afirma Cacciari, podemos considerar
também que o Subúrbio em si não existe,
mas sim existem vivências suburbanas
que se encontram nas suas formas de ver
e experimentar o mundo, vivências que
quando mapeadas nos fazem repensar um
real sentido para as fronteiras materiais e
subjetivas delimitadas da cidade. O Subúrbio
Carioca deixa de ser uma representação do
lugar que não é o Centro/Zona Sul, e assume-
se como uma potência que devém múltiplos
Subúrbios transitando pelos territórios da
cidade.