A crise de 1929 afetou o Brasil e a Argentina de três maneiras: (1) enfraqueceu as oligarquias e abriu espaço para Vargas e Perón, (2) provocou recessão e desemprego, e (3) levou à modernização e industrialização lideradas por Vargas e Perón.
2. Como a Crise de 1929 afetou a estrutura política e
econômica do Brasil e da Argentina?
• É importante relembrarmos alguns pontos referente a Crise de 1929
porque esse evento histórico contribuiu para o surgimento político de
Juan Peron e Getúlio Vargas e para o enfraquecimento das oligarquias
na Argentina e no Brasil.
• Ocorre que até 1930, o cenário político e econômico do Brasil e da
Argentina eram semelhantes. Dizemos isso porque eram duas nações
agroexportadoras.
• Até 1929, o principal produto de exportação do Brasil era o café e o
poder político estava centralizado nas mãos das oligarquias
representadas pela elite como os grandes latifundiários, também
chamados na historiografia de coronéis, que se dedicavam a cultura
do café em São Paulo e a produção de leite em Minas Gerais.
3. • Desse modo, desde a eleição de Prudente de Morais em 1894 (que
chegou à presidência com o apoio das oligarquias) até 1930 quando
Getúlio Vargas se tornou presidente; o poder político foi se
alternando nas mãos de lideranças de Minas e São Paulo.
• O poder político na Argentina, desde a independência também
estava nas mãos das oligarquias, sobretudo dos grandes produtores
de trigo, gado e couro que eram os principais produtos exportados
até a crise de 1929.
• A crise de 1929 que se tornou mundial, afetou diretamente a
economia do Brasil e da Argentina. Isto porque, com a queda da
exportação, tanto o Brasil como a Argentina deixaram de importar
muitos produtos, máquinas, tecnologias e matéria-prima de outros
países, o que provocou o fechamento de muitos negócios.
4. • A recessão ocasionada pela falta de dinheiro em circulação
gerou desemprego, falências, concordatas, aumento da
pobreza e perda do patrimônio para muitas famílias no Brasil
e na Argentina.
• Em suma, a crise de 1929 ocasionou, além de uma profunda
crise econômica nos países da América Latina, também
mudanças no cenário político. E no caso do Brasil e da
Argentina repercutiu na disputa pela presidência e na
ascensão de Getúlio Vargas e Peron.
• E os dois presidentes promoveram a modernização da
economia e a industrialização e romperam ligações políticas
com as velhas oligarquias.
5. A década infame
• A partir da década de 1930 a Argentina enfrentou um período de
retrocesso econômico e de turbulência política e social denominado
na historiografia como a década infame.
• Isto porque, muitos dos direitos sociais e trabalhistas conquistados
durante o governo de Irigóyen, chamado por Octavio Ianni de
Yrigoyenismo, foram eliminados pelas novas forças políticas. Além
disso, foi considerada uma década de retrocesso econômico porque
os novos dirigentes políticos pretendiam dar continuidade a
dependência do mercado externo.
• Em suma, a Argentina vivenciava um retrocesso político, social e
econômico muito acentuado na década de 1930. E as medidas
tomadas pelos governos tornavam o país progressivamente
dependente da Inglaterra
6. • Mas, essa política de dependência externa desagradou diferentes
setores, dentre eles, os segmentos nacionalistas.
• E esse descontentamento fez com que os militares que integravam a
ala nacionalista chamada Grupo de Oficiais unidos tomassem o
poder em 1943.
• No discurso dos militares, as forças de segurança tinham como
propósito restaurar a democracia no país, fomentar a modernização e
a industrialização na Argentina para mais tarde, devolver o governo
aos civis.
• E foi nesse cenário político que inicia a história política de Juan
Perón; um jovem oficial do Grupo de Oficiais Unidos que
representava o segmento nacionalista na Argentina.
7. • Perón estava à frente da Secretaria do Trabalho e tratou de
devolver as leis trabalhistas conquistada pelos trabalhadores e
pelas organizações sindicais e ainda; aumentou o salário dos
argentinos.
• Com essas medidas, Perón ganhou o apoio das massas, mas,
desagradou a Junta Militar que governava o país e foi preso em
1945, o que fez crescer ainda mais a sua popularidade.
• Sua esposa, Eva Perón incitou o operariado e as organizações
sindicais para uma mobilização em frente a Casa Rosada.
• De acordo com Octavio Ianni (1989,p.80), na Argentina “[...] o
peronismo começa no sistema sindical preexistente, mas o amplia
e redefine, fazendo-o diferenciar-se cada vez mais das
organizações políticas e sindicais controladas pela esquerda”.
8. • Isso porque, Perón se tornou uma liderança carismática típica do
populismo latino americano e o apoio de Eva foi fundamental para
conquistar a confiança e o apoio da população pobre.
• Perón foi eleito presidente em 1946. Conforme Octavio Ianni, no seu
primeiro mandato, Perón contou com manifestações de aprovação do
operariado e das organizações sindicais. No peronismo também
estiveram presentes setores militares e empresariado, além de alguns
segmentos da classe média.
• Ianni explica na página 80 do seu livro que na primeira fase do
populismo na Argentina, o Coronel Perón difundiu a ideia de tornar a
Argentina uma “pátria grande” e foi amplamente apoiado pelos
militares peronistas, haja vista que pretendiam que a Argentina
liderasse parte da América do Sul.
9. • Perón também tratou de incentivar a modernização e a
industrialização da Argentina além das exportações de gênero
agrícola que encontravam um amplo mercado consumidor.
• Ocorre que com o término da Segunda Guerra Mundial a Europa
estava destruída e necessitava importar todo tipo de produto,
sobretudo, gêneros agrícolas de outras regiões do mundo, o que
contribuiu muito para o desenvolvimento econômico da Argentina e
demais países da América Latina.
• Diante de um mercado consumidor externo favorável, Perón taxou as
importações, o que possibilitou acumular divisas, o que garantiu
tranquilidade econômica para a Argentina. Além disso, foi possível
investir em grandes obras de infraestrutura para o desenvolvimento
das indústrias argentinas e a diversificação da economia.
10. • Perón manteve as conquistas sociais e procurou ampliá-las, o que
fortaleceu o seu governo. E cabe lembrar que no primeiro
mandato contou com a aprovação de diferentes segmentos
sociais, inclusive dos militares.
• E a aprovação pelas forças militares das medidas políticas,
econômicas e sociais propostas por um governo é imprescindível.
Dizemos isso porque, em virtude dos regimes civis e militares
anteriores, o aparato estatal nunca é completamente
desmontado e essa é uma realidade nos países da América
Latina.
• Sendo assim, quando há algum risco de mudança no modelo
econômico capitalista ou de reformas sociais, urbana e
principalmente agrária, as forças militares entram em cena.
• Em resumo, é uma tarefa dificílima consolidar, de fato, a
democracia nos países da América Latina.
11. A conjuntura da Argentina após a queda do Peronismo e os
antecedentes da última ditadura militar que foi instalada pelos
militares (1976-1983)
• No segundo mandato que teve início em 1951, Perón não alcançou
os mesmos resultados do primeiro devido as pressões dos
antiperonistas e das políticas imperialistas dos Estados Unidos.
• A Argentina também sentiu os efeitos da guerra fria e a disputa pelo
poder mundial entre duas potências: Os Estados Unidos e a União
Soviética.
• Outro fator que enfraqueceu o governo de Perón foi o Estatuto do
Peão e o cumprimento do salário mínimo rural. Essa medida
desagradou profundamente os grandes proprietários de terra e os
setores conservadores que temiam mudanças na estrutura fundiária,
ou melhor dizendo, uma temida reforma agrária.
12. • E em tempos de guerra fria, onde os Estados Unidos insuflavam
a caça aos comunistas na América Latina, o Estatuto de Peão e
outras medidas sociais consideradas perigosas ao sistema
capitalista pelos setores conservadores, levou ao golpe militar.
• Com a queda do governo de Perón, os partidos antiperonistas,
assim como as forças militares trataram de eliminar os ideais
peronistas e a Argentina foi governada temporariamente pelo
General Aramburu.
• Arturo Frondizi foi eleito após a destituição de Perón e tratou de
abrir a Argentina ao capital estrangeiro. Seu governo se
assemelha ao do presidente Juscelino Kubistchek no Brasil,
pois, permitiu que indústrias estrangeiras se instalassem na
Argentina, inclusive para a exploração de petróleo; o que
desagradou profundamente os nacionalistas.
13. • Também desagradou as organizações sindicais, pois,
para atrair as empresas estrangeiras, achatou os salários
dos trabalhadores argentinos. O governo de Frondizi
também desagradou os militares em virtude das
concessões em benefício das empresas norte
americanas.
• Diante de tantas ações políticas e econômicas que
desagradaram os setores nacionalistas, as organizações
sindicais, a classe trabalhadora e as forças militares,
Arturo Franzini também foi derrubado por meio de um
golpe militar.
14. Semelhanças entre os golpes militares da Argentina e do Brasil.
• Principais motivos que leram ao golpe militar na Argentina que
derrubou o governo do Presidente Arturo Fronzini:
A abertura da economia ao capital estrangeiro, a permissão para a
exploração do subsolo argentino às empresas estrangeiras
interessadas em extrair petróleo e outras concessões às empresas
norte americanas e britânicas.
E, na concepção de Eduardo Galeano, as crises entre o governo
Franzini e as três forças militares motivou o golpe.
Em 1966, a ditadura mais uma vez se instalou na Argentina quando
os militares derrubaram o presidente Arturo Umberto Ilia e durou até
1973, quando o peronismo voltou ao poder.
15. • A eleição ocorreu devido a profunda crise política e econômica
que assolava a Argentina e por pressão de diferentes segmentos
sociais.
• Perón e sua segunda esposa, Isabel Perón venceram as eleições
com amplo apoio popular. Todavia, o governo de Perón foi curto,
pois faleceu em 1ºjulho de 1974.
• Isabel foi destituída do governo por meio do golpe militar de 1976
e então, a Argentina mergulhou numa ditadura que vitimou
milhares de pessoas.
• No Brasil, o golpe civil e militar de 1964 está diretamente
relacionado ao medo do avanço do comunismo e ao contexto
internacional da disputa política entre EUA e URSS - União
Soviética pelo domínio do mundo, durante a Guerra Fria.
16. • O poder militar também se amparou na justificativa das profundas
mudanças que as Reformas de Base propostas por João Goulart
poderiam ocasionar ao país.
• Mudanças essas que não seriam assimiladas pelos representantes
do modelo capitalista industrializado nacional e nem mesmo por
representantes de grupos estrangeiros.
• As Reformas de Base tinham como proposta as reformas
bancárias, fiscal, urbana, universitária, a garantia do voto às
pessoas analfabetas e às patentes subalternas das Forças Armadas
e ainda, a Reforma Agrária.
• A Reforma Agrária foi sem dúvida a proposta mais polêmica.
Dizemos isso porque as reformas de base tinham como propósito
modificar a estrutura agrária desigual, eliminar os conflitos
agrários e garantir o acesso à propriedade a milhares de
trabalhadores rurais.
17. • Outra medida polêmica foi a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural
que desagradou a elite conservadora, sobretudo os latifundiários.
• Isto porque, Goulart sancionou a lei que garantia ao trabalhador do
campo carteira profissional, salário mínimo e outros direitos como
repouso semanal e férias remuneradas.
• De acordo com o historiador Boris Fausto (p.257)“o movimento de 31 de
março de 1964 tinha sido lançado, aparentemente para livrar o país da
corrupção e para restaurar a democracia”.
• Mas, ao que parece, as coisas não saíram exatamente como os opositores
civis do governo de Goulart esperavam, pois, com o golpe encerrou a
experiência de democracia que teve início em 1945 e durou até 1964.
18. • Em resumo, a destituição de governos eleitos
democraticamente no Brasil, na Argentina e em outros países
da América onde ditaduras militares foram instaladas se
amparam nas seguintes justificativas: “manter a ordem e o
progresso da nação”; “manter a segurança nacional”;
“restaurar a democracia”, “acabar com a corrupção”.
• No entanto, todas essas justificativas para um golpe estavam
relacionadas a dois principais fatores:
O primeiro fator se refere ao interesse das elites
conservadoras que não queriam mudanças nas estruturas
social e fundiária ou ainda, a participação do povo nas decisões
políticas e econômicas do país.
19. O segundo está relacionado a política internacional e a
disputa pelo poder entre a potência mundial capitalista - os
EUA e a potência mundial comunista – a União Soviética
(URSS).
• Em resumo, as forças militares dos países da América Latina
afirmavam que precisavam manter as instituições
democráticas livres das ameaças do totalitarismo de
esquerda, em outras palavras, do comunismo.
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