1. Clarice Lispector também é notável contista, tendo publicado oito livros com
histórias curtas, em que se destacam Laços de Família (1960), A Legião
Estrangeira (1964) e Felicidade Clandestina (1971). A autora explora a ironia e
o humor negro, mostrando o absurdo do cotidiano e das relações humanas, como no
conto intitulado "Uma Galinha" (incluída em Laços de Família), em que os
sentimentos de compaixão e solidariedade de uma criança pelas aves domésticas
logo se transformam em seus opostos, a indiferença e crueldade (alegoria que
pode ser estendida ao campo social, tanto na esfera política quanto na familiar
ou na do ambiente de trabalho). A arte narrativa de Clarice Lispector,
especialmente nas histórias curtas, adota por vezes recursos da fantasia e da
fábula, que não obedecem às normas da verossimilhança (ou seja, o retrato
realista de pessoas, cenários e situações), como acontece no conto "A Menor
Mulher do Mundo" (também de Laços de Família), que conta as aventuras de uma
pigméia do Congo Central que media apenas 45 centímetros. Descoberta pelo
explorador francês Marcel Pretre, ela é batizada de Pequena Flor e levada para a
Europa, onde causa perplexidade pela sua diferença radical em relação aos
padrões biológicos e culturais do chamado mundo civilizado. Esta é também uma
abordagem irônica do tema tradicional do amor impossível, uma vez que a relação
entre a pigméia e o explorador europeu é irrealizável. Em A Legião Estrangeira
(1964), Clarice Lispector reúne contos e crônicas que depois seriam
republicados, com acréscimos, no livro Felicidade Clandestina (1971). Os temas
básicos da autora, como a solidão, a busca da verdade, o amor, a angústia, estão
presentes aqui, ao lado de outros, como o da velhice. No conto Viagem a
Petrópolis, por exemplo, a personagem Margarida não tem consciência de sua
situação de abandono, que irá descobrir, de forma cruel, ao longo da narrativa.
referencia.
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?
fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5112&cd_item=226
Suas leituras continuaram. Por esta época, toma contato com Dostoievski, que lhe
causa grande tensão. Passou também por Kafka e Virgínia Woolf. De seu contato
com Herman Hesse, lendo O Lobo da Estepe, aos treze anos, tornou-se mais claro
para Clarice o que queria ser e fazer: escrever.
referencia.
http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0716-58112007000100004&script=sci_arttext