O documento resume o conto "Sorôco, sua mãe, sua filha" de Guimarães Rosa, no qual ele descreve a angústia do personagem Sorôco ao se despedir de sua mãe e filha que embarcavam em um trem lotado de pessoas com problemas psiquiátricos rumo a Barbacena. O psiquiatra Francisco Paes Barreto consolou Sorôco em uma carta, descrevendo como o antigo hospital psiquiátrico foi transformado em um centro de saúde mental que atende a comunidade.
1. ‘Sorôco, sua mãe, sua filha’
É de Guimarães Rosa a expressão trem de doido incluída no conto
Sorôco, sua mãe, sua filha, do livro Primeiras Estórias. Ali o autor
resume a situação dos trens que chegavam a Barbacena apinhados de
gente em busca de tratamento psiquiátrico. Ele conta a angústia do
personagem Sorôco na despedida das únicas pessoas que tinha no
mundo e que partiriam no trem da solidão coletiva. O escritor, aliás,
morou em Barbacena, em 1933, quando foi oficial médico do 9º
Batalhão de Infantaria. O simbolismo da loucura em seus contos são
indício de que Guimarães Rosa conhecia a realidade da Colônia. O
psiquiatra Francisco Paes Barreto entra no mundo ficcional de
Guimarães Rosa e consola Sorôco em carta endereçada ao
personagem. Meu querido Sorôco, esteja onde estiver, quero que ouça
o que tenho a lhe dizer. Visitei hoje o lugar onde morreu sua mãe, onde
morreu sua filha, onde morreram as mães, os pais, os filhos e os irmãos
de um incontável número de pessoas. Sabe o que encontrei lá? Um
Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Um hospital regional de clínica
médica e cirúrgica. Um centro social urbano. Uma escola. (…)Do que
havia do antigo hospital resta apenas um edifício imponente, que é a
principal atração turística da cidade. Chama-se Museu da Loucura. Está
aí exatamente para não deixar esquecer, para registrar uma época. É
um templo dedicado à loucura. Não à loucura de pessoas como sua
mãe, sua filha, mas a nossa loucura, Sorôco, à loucura dos chamados
normais.