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Quer chova
ou faça sol
ALBERTO PINTO, 47 anos, de Cantanhe-
de, aponta esta altura como “ideal para
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em plena Times Square, na
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continental, que Carlos Cas-
tro, 65 anos, foi brutalmen-
te assassinado e mutilado.
Renato Seabra, 21 anos, um
filho da terra, é o principal
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Jovem tranquilo e pa-
cato, assim o descrevem os
amigos e conhecidos, gos-
tava de praticar desporto,
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“À procura do sonho”, onde
garantiu contrato com a
Face Models, agência de Fá-
tima Lopes), mundo de di-
fícil acesso, onde um amigo
bem posicionado e com os
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realmente, fazer toda a dife-
rença. Seria esse o elo, frágil,
que ligava um e outro. Carlos
e Renato, o jornalista e cro-
nista do mundo cor-de-rosa,
do glamour e das festas, e o
rapaz humilde, de um meio
pequeno, que procurava um
lugar ao sol.
A família do mais novo
apressou-se a descartar a
hipótese de haver um rela-
cionamento entre ambos,
conhecida que era a homos-
sexualidade do mais velho.
“Ele é heterossexual”, garan-
tia a mãe, Odília Pereirinha,
convicção secundada pela
irmã, pelo cunhado, por
amigos. Numa história de
contornos trágicos, em que
nada parece fazer sentido
para ninguém, uma viagem
que se previa “de negócios”,
uma oportunidade para Car-
los Castro apresentar Renato
Seabra às pessoas certas,
transformou-se no ponto fi-
nal abrupto na vida de um e
nos sonhos do outro.
COMO NUM FILME
Não se sabe o estado psi-
cológico de Renato quando
deixou para trás um corpo,
no quarto, e atravessou o lo-
bby rumo à saída do hotel,
ao bulício da “grande maçã”,
naquela tarde de sexta-feira,
7 de Janeiro. Ter-se-á cruza-
do com uma amiga do jor-
nalista a quem terá dito que
ele já não sairia do quarto.
Dirigiu-se, então, ao hospital
a fim de receber tratamento
a ferimentos ligeiros, nas
mãos e braços. Foram esses
os últimos momentos de li-
berdade do jovem de Canta-
nhede. Foi detido e está, até
hoje, no Hospital Psiquiátri-
co de Bellevue.
Todas as informações so-
bre os acontecimentos de
Nova Iorque, factuais ou não,
iam chegando a Portugal a
conta-gotas. Um cenário de
filme, um enredo complexo,
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lículas, o suspeito, depois
de detido, terá confessado.
Se lhe foram lidos os “di-
reitos Miranda”, como nos
filmes, não se sabe. Há, no
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vidamente acompanhado, já
que deveria ter tido direito,
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a fim de acompanhá-lo, por
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terá confessado o crime.
Depois da especulação,
os relatórios forenses cita-
dos no Tribunal Criminal
de Manhattan confirmam
um “homicídio brutal”, em
que a cara da vítima, Carlos
Castro, terá chegado a ser pi-
sada. Depois de “várias mar-
cas de estrangulamento” e de
“uma fractura num osso do
pescoço”, a sádica mutilação
“dos testículos, com um saca-
rolhas”, até à derradeira se-
vícia, a causa de morte, “im-
pacto de objecto pesado na
cabeça”, alegadamente um
televisor ou computador. Foi
acusado de homicídio em
segundo grau, o que den-
tro do enquadramento legal
norte-americano correspon-
de a “morte intencional não
premeditada ou planeada,
cometida num quadro de
razoável ‘tensão passional
[heat of passion]”, e arrisca
“25 to life”, 25 anos a prisão
perpétua.
Apesar da confissão, e
por não se conhecer o es-
tado psicológico de Renato
(especialistas têm aventado
hipóteses que vão da esqui-
zofrenia à psicose reactiva),
em Cantanhede mantém-se
o espírito de solidariedade,
sobretudo para com a famí-
lia do alegado homicida. No
passado dia 13 de Janeiro,
na Praça Marquês de Ma-
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pessoas que quiseram dar
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Confissão de jovem português em Nova Iorque choca Cantanhede

  • 1. jornal Quer chova ou faça sol ALBERTO PINTO, 47 anos, de Cantanhe- de, aponta esta altura como “ideal para efectuar a poda, nomeadamente das árvo- res de fruto e ornamentais e, ainda, das videiras”. Os dias são também propícios para a cultura da batata, segundo Alberto Pinto, jardineiro de profissão, que alerta para a “formação de geada” nesta época, “altamente prejudicial para as sementei- ras”. No jardim devem plantar-se jacintos, begónias, lírios e amarílis. N.º 204 21 JAN 2011 Gira Sol expressa votos Tomaram posse os órgãos sociais da Associação de Febres para o triénio 2011/2013. Prevenir desertificação é um dos principais objectivos > p.03 Albino Maricato Pastou ovelhas, guardou vacas, cultivou a terra perto e longe de casa. Hoje, é o único fabricante de abanos da Região > p.04 Quarto 3416 foi cenário de morte Na “cidade que nunca dorme” Carlos Castro, cronista da vida social, 65 anos, encontrou a morte. Junto à Broadway, na Nova Iorque que tanto amava, terá sido vítima de homicídio, alegadamente perpetrado por Renato Seabra, 21 anos, natural de Cantanhede e aspirante a modelo. Cala-se a “língua viperina” e cessa o sobe e desce do “elevador cor-de- rosa” do homem cuja vida foi “solidão povoada”. “Cantanhede incrédula”, “Cantanhede rejeita acusa- ções a Renato”, “Cantanhe- de continua em estado de choque”. Nos escaparates, os jornais eram o rosto da estupefacção que varreu a cidade gandaresa, davam voz à consternação de gente que não queria nem podia acreditar nas notícias que vi- nham de Nova Iorque. Foi lá, em plena Times Square, na suite n.º 3416 do hotel Inter- continental, que Carlos Cas- tro, 65 anos, foi brutalmen- te assassinado e mutilado. Renato Seabra, 21 anos, um filho da terra, é o principal suspeito. Jovem tranquilo e pa- cato, assim o descrevem os amigos e conhecidos, gos- tava de praticar desporto, sobretudo basquetebol, e sonharia com uma carreira no mundo da moda (parti- cipou no concurso televisivo “À procura do sonho”, onde garantiu contrato com a Face Models, agência de Fá- tima Lopes), mundo de di- fícil acesso, onde um amigo bem posicionado e com os conhecimentos certos pode, realmente, fazer toda a dife- rença. Seria esse o elo, frágil, que ligava um e outro. Carlos e Renato, o jornalista e cro- nista do mundo cor-de-rosa, do glamour e das festas, e o rapaz humilde, de um meio pequeno, que procurava um lugar ao sol. A família do mais novo apressou-se a descartar a hipótese de haver um rela- cionamento entre ambos, conhecida que era a homos- sexualidade do mais velho. “Ele é heterossexual”, garan- tia a mãe, Odília Pereirinha, convicção secundada pela irmã, pelo cunhado, por amigos. Numa história de contornos trágicos, em que nada parece fazer sentido para ninguém, uma viagem que se previa “de negócios”, uma oportunidade para Car- los Castro apresentar Renato Seabra às pessoas certas, transformou-se no ponto fi- nal abrupto na vida de um e nos sonhos do outro. COMO NUM FILME Não se sabe o estado psi- cológico de Renato quando deixou para trás um corpo, no quarto, e atravessou o lo- bby rumo à saída do hotel, ao bulício da “grande maçã”, naquela tarde de sexta-feira, 7 de Janeiro. Ter-se-á cruza- do com uma amiga do jor- nalista a quem terá dito que ele já não sairia do quarto. Dirigiu-se, então, ao hospital a fim de receber tratamento a ferimentos ligeiros, nas mãos e braços. Foram esses os últimos momentos de li- berdade do jovem de Canta- nhede. Foi detido e está, até hoje, no Hospital Psiquiátri- co de Bellevue. Todas as informações so- bre os acontecimentos de Nova Iorque, factuais ou não, iam chegando a Portugal a conta-gotas. Um cenário de filme, um enredo complexo, um crime cometido. Mas ao contrário do que costuma acontecer neste tipo de pe- lículas, o suspeito, depois de detido, terá confessado. Se lhe foram lidos os “di- reitos Miranda”, como nos filmes, não se sabe. Há, no entanto, quem julgue que o jovem pode não te sido de- vidamente acompanhado, já que deveria ter tido direito, desde logo, a que lhe fosse constituído um advogado, a fim de acompanhá-lo, por exemplo, no primeiro inter- rogatório, ocasião em que terá confessado o crime. Depois da especulação, os relatórios forenses cita- dos no Tribunal Criminal de Manhattan confirmam um “homicídio brutal”, em que a cara da vítima, Carlos Castro, terá chegado a ser pi- sada. Depois de “várias mar- cas de estrangulamento” e de “uma fractura num osso do pescoço”, a sádica mutilação “dos testículos, com um saca- rolhas”, até à derradeira se- vícia, a causa de morte, “im- pacto de objecto pesado na cabeça”, alegadamente um televisor ou computador. Foi acusado de homicídio em segundo grau, o que den- tro do enquadramento legal norte-americano correspon- de a “morte intencional não premeditada ou planeada, cometida num quadro de razoável ‘tensão passional [heat of passion]”, e arrisca “25 to life”, 25 anos a prisão perpétua. Apesar da confissão, e por não se conhecer o es- tado psicológico de Renato (especialistas têm aventado hipóteses que vão da esqui- zofrenia à psicose reactiva), em Cantanhede mantém-se o espírito de solidariedade, sobretudo para com a famí- lia do alegado homicida. No passado dia 13 de Janeiro, na Praça Marquês de Ma- rialva, foram perto de 400 as pessoas que quiseram dar as mãos e enviar uma pre- ce, silenciosa, para o outro lado do Atlântico. No final, por entre lágrimas, palmas e abraços, ficou a certeza de que a solidariedade e com- paixão humanas têm razões que, muitas vezes, a própria razão desconhece. | FC 23 JAN – Dia Mundial da Liberdade 27 JAN – Dia do Holocausto 02 FEV – Dia Mundial das Zonas Húmidas Renato Seabra terá confessado crime