O documento relata o assassinato de Carlos Castro, jornalista português de 65 anos, em Nova Iorque por Renato Seabra, jovem de 21 anos de Cantanhede. Renato teria confessado o crime brutal no quarto de hotel, apesar de sua família negar qualquer relacionamento entre os dois. Ele está detido em hospital psiquiátrico enquanto a cidade natal expressa choque e solidariedade à família.
Confissão de jovem português em Nova Iorque choca Cantanhede
1. jornal
Quer chova
ou faça sol
ALBERTO PINTO, 47 anos, de Cantanhe-
de, aponta esta altura como “ideal para
efectuar a poda, nomeadamente das árvo-
res de fruto e ornamentais e, ainda, das
videiras”. Os dias são também propícios
para a cultura da batata, segundo Alberto
Pinto, jardineiro de profissão, que alerta
para a “formação de geada” nesta época,
“altamente prejudicial para as sementei-
ras”. No jardim devem plantar-se jacintos,
begónias, lírios e amarílis.
N.º 204
21 JAN 2011
Gira Sol expressa votos
Tomaram posse os órgãos sociais da
Associação de Febres para o triénio
2011/2013. Prevenir desertificação
é um dos principais objectivos > p.03
Albino Maricato
Pastou ovelhas, guardou vacas,
cultivou a terra perto e longe de casa.
Hoje, é o único fabricante de
abanos da Região > p.04
Quarto 3416
foi cenário de morte
Na “cidade que nunca
dorme” Carlos Castro,
cronista da vida social,
65 anos, encontrou a
morte. Junto à Broadway,
na Nova Iorque que tanto
amava, terá sido vítima de
homicídio, alegadamente
perpetrado por Renato
Seabra, 21 anos, natural de
Cantanhede e aspirante a
modelo. Cala-se a “língua
viperina” e cessa o sobe e
desce do “elevador cor-de-
rosa” do homem cuja vida
foi “solidão povoada”.
“Cantanhede incrédula”,
“Cantanhede rejeita acusa-
ções a Renato”, “Cantanhe-
de continua em estado de
choque”. Nos escaparates,
os jornais eram o rosto da
estupefacção que varreu a
cidade gandaresa, davam
voz à consternação de gente
que não queria nem podia
acreditar nas notícias que vi-
nham de Nova Iorque. Foi lá,
em plena Times Square, na
suite n.º 3416 do hotel Inter-
continental, que Carlos Cas-
tro, 65 anos, foi brutalmen-
te assassinado e mutilado.
Renato Seabra, 21 anos, um
filho da terra, é o principal
suspeito.
Jovem tranquilo e pa-
cato, assim o descrevem os
amigos e conhecidos, gos-
tava de praticar desporto,
sobretudo basquetebol, e
sonharia com uma carreira
no mundo da moda (parti-
cipou no concurso televisivo
“À procura do sonho”, onde
garantiu contrato com a
Face Models, agência de Fá-
tima Lopes), mundo de di-
fícil acesso, onde um amigo
bem posicionado e com os
conhecimentos certos pode,
realmente, fazer toda a dife-
rença. Seria esse o elo, frágil,
que ligava um e outro. Carlos
e Renato, o jornalista e cro-
nista do mundo cor-de-rosa,
do glamour e das festas, e o
rapaz humilde, de um meio
pequeno, que procurava um
lugar ao sol.
A família do mais novo
apressou-se a descartar a
hipótese de haver um rela-
cionamento entre ambos,
conhecida que era a homos-
sexualidade do mais velho.
“Ele é heterossexual”, garan-
tia a mãe, Odília Pereirinha,
convicção secundada pela
irmã, pelo cunhado, por
amigos. Numa história de
contornos trágicos, em que
nada parece fazer sentido
para ninguém, uma viagem
que se previa “de negócios”,
uma oportunidade para Car-
los Castro apresentar Renato
Seabra às pessoas certas,
transformou-se no ponto fi-
nal abrupto na vida de um e
nos sonhos do outro.
COMO NUM FILME
Não se sabe o estado psi-
cológico de Renato quando
deixou para trás um corpo,
no quarto, e atravessou o lo-
bby rumo à saída do hotel,
ao bulício da “grande maçã”,
naquela tarde de sexta-feira,
7 de Janeiro. Ter-se-á cruza-
do com uma amiga do jor-
nalista a quem terá dito que
ele já não sairia do quarto.
Dirigiu-se, então, ao hospital
a fim de receber tratamento
a ferimentos ligeiros, nas
mãos e braços. Foram esses
os últimos momentos de li-
berdade do jovem de Canta-
nhede. Foi detido e está, até
hoje, no Hospital Psiquiátri-
co de Bellevue.
Todas as informações so-
bre os acontecimentos de
Nova Iorque, factuais ou não,
iam chegando a Portugal a
conta-gotas. Um cenário de
filme, um enredo complexo,
um crime cometido. Mas ao
contrário do que costuma
acontecer neste tipo de pe-
lículas, o suspeito, depois
de detido, terá confessado.
Se lhe foram lidos os “di-
reitos Miranda”, como nos
filmes, não se sabe. Há, no
entanto, quem julgue que o
jovem pode não te sido de-
vidamente acompanhado, já
que deveria ter tido direito,
desde logo, a que lhe fosse
constituído um advogado,
a fim de acompanhá-lo, por
exemplo, no primeiro inter-
rogatório, ocasião em que
terá confessado o crime.
Depois da especulação,
os relatórios forenses cita-
dos no Tribunal Criminal
de Manhattan confirmam
um “homicídio brutal”, em
que a cara da vítima, Carlos
Castro, terá chegado a ser pi-
sada. Depois de “várias mar-
cas de estrangulamento” e de
“uma fractura num osso do
pescoço”, a sádica mutilação
“dos testículos, com um saca-
rolhas”, até à derradeira se-
vícia, a causa de morte, “im-
pacto de objecto pesado na
cabeça”, alegadamente um
televisor ou computador. Foi
acusado de homicídio em
segundo grau, o que den-
tro do enquadramento legal
norte-americano correspon-
de a “morte intencional não
premeditada ou planeada,
cometida num quadro de
razoável ‘tensão passional
[heat of passion]”, e arrisca
“25 to life”, 25 anos a prisão
perpétua.
Apesar da confissão, e
por não se conhecer o es-
tado psicológico de Renato
(especialistas têm aventado
hipóteses que vão da esqui-
zofrenia à psicose reactiva),
em Cantanhede mantém-se
o espírito de solidariedade,
sobretudo para com a famí-
lia do alegado homicida. No
passado dia 13 de Janeiro,
na Praça Marquês de Ma-
rialva, foram perto de 400 as
pessoas que quiseram dar
as mãos e enviar uma pre-
ce, silenciosa, para o outro
lado do Atlântico. No final,
por entre lágrimas, palmas
e abraços, ficou a certeza de
que a solidariedade e com-
paixão humanas têm razões
que, muitas vezes, a própria
razão desconhece. | FC
23 JAN – Dia Mundial
da Liberdade
27 JAN – Dia do Holocausto
02 FEV – Dia Mundial
das Zonas Húmidas
Renato Seabra terá confessado crime