1. 6aurinegra #234 | 16MAR2012
primeiro plano
A liturgia esteve no centro
da reflexão no Concílio
Vaticano II,há quase 50 anos,
e voltou a estar na passada
sexta-feira,9 de Março,em
Cantanhede,no âmbito
do ciclo de Conferências
Quaresmais.João Norton,
padre jesuíta e arquitecto,e
Luís Pereira da Silva,pároco da
Sé Patriarcal de Lisboa,foram
os intervenientes.
Foi perante uma numerosa
plateia que se debateu, no Cen-
tro Paroquial de Cantanhede, a
importância da liturgia e a for-
ma como ela esteve no centro
da reflexão no âmbito do Con-
cílio Vaticano II, que aconte-
ceu há quase 50 anos. Por um
lado, tivemos a perspectiva de
João Norton, padre jesuíta e
arquitecto, que aliou a liturgia
à arte e ao belo. Por outro, Luís
Pereira da Silva, pároco da Sé
Patriarcal de Lisboa, apresen-
tou algumas das conclusões do
Concílio, abordando a temática
com muito sentido de humor e
bastante acutilância.
João Norton analisou e apre-
sentou alguns quadros e ima-
gens religiosas, dando destaque
ao gesto e às expressões repre-
sentados, salientando “a di-
mensão de visibilidade que esse
gesto dá à expressão da nossa
fé. Somos espíritos encarnados,
exprimimo-nos de forma cor-
poral. A liturgia é a visibilidade
de um gesto de Jesus Cristo, um
gesto de amor de Deus para com
a sua criação”, considerou o pa-
dre. Casando a sua vocação re-
ligiosa com a sua formação em
arquitectura, João Norton evo-
cou a beleza de alguns elemen-
tos normalmente presentes na
liturgia, como o altar, a toalha
de linho ou até a disposição dos
bancos.
“A arte dá densidade aos ob-
jectos, remetendo-os para algo
mais, algo para além deles. As-
sim,os objectos ganham capaci-
dade evocativa”, disse. “A beleza
da nossa fé move-me e está liga-
da ao mistério. É uma vivência
que cada um leva no seu co-
ração mas que pode tornar-se
visível na liturgia. No mundo
em que vivemos, às vezes mui-
to materialista e consumista, as
pessoas sentem necessidade de
uma dimensão espiritual e às
vezes a primeira porta para essa
dimensão é a arte”.
João Norton começou por
apaixonar-se pela arquitectura,
vindo a descobrir, mais tarde,
uma outra paixão: “Entrei para
a Faculdade e a arquitectura era
tudo para mim, era o centro da
minha atenção. O entusiasmo
era enorme. Depois conheci um
colega que me ajudou a per-
ceber que podia aprofundar a
minha fé e, a partir daí, come-
cei a trilhar outros caminhos”,
recorda. “A fé, a transcendência
e a beleza aproximaram os dois
mundos, a arquitectura e a fé.
Só no final do curso é que surgiu
em mim uma inquietação mais
séria e quatro anos depois entrei
no noviciado dos Jesuítas”.
DE ALTAR EM ALTAR
O arquitecto cresceu no seio
de uma família cristã, mas con-
fessa que na altura devia “andar
mais distraído com outras coi-
sas. O que é interessante é que
quando aprofundei a minha fé
e me comprometi em vir a ser
padre, isso mexeu bastante com
a minha família”. Aos 48 anos, o
padre natural de Lisboa já pas-
sou por Coimbra, onde fez dois
anos de noviciado, por Braga,
onde estudou filosofia, por An-
gola, onde esteve em missão,
e por Espanha e França, onde
estudou teologia. Actualmente
lecciona Estética e Teologia na
Universidade Católica de Lis-
boa, onde lecciona também o
padre Luís Pereira da Silva, que
marcou igualmente presença
na conferência.
Com sentido de humor apu-
rado, apresentou a liturgia en-
quanto “celebração do mistério
pascal de Cristo,onde está o Ho-
mem todo e o todo do Homem”,
partilhando com os presen-
tes alguns episódios curiosos,
como a celebração da vigília
pascal durante a manhã, e não
à noite: “Púnhamos uns panos
negros a tapar a janela. Lá fora
um sol de nove, muitas vezes em
pleno mês de Abril, e nós dentro
de casa a fazermos de conta que
era de noite”, recordou.
A celebração da missa em
latim também não escapou às
críticas do padre, “uma língua
que já ninguém falava e que
poucos entendiam. O padre lia
para si próprio e os fiéis respon-
diam como podiam. O povo de
Deus estava entregue a si pró-
prio, às suas devoções, de altar
em altar”. O verdadeiro sentido
da liturgia estava por cumprir: a
comunhão entre a assembleia e
Cristo, que fez o derradeiro sa-
crifício. “Jesus redimiu-nos por
dentro,a sua morte não foi uma
acção de cosmética”.| FC
Conferências Quaresmais em Cantanhede
“Jesus redimiu-nos por dentro,
não foi uma acção de cosmética”
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Dia do Pai assinalado na Região
ODiadoPai,quesecelebraa
19 de Março, segunda-feira, será
assinalado com diversas inicia-
tivas na Região. Em Mamarrosa,
o Instituto de Educação e Cida-
dania (IEC) promove amanhã,
17 de Março, uma tarde de ani-
mação, com actuação do Grupo
de Teatro e Poesia, estando re-
servadas algumas surpresas. Em
Coimbra, a Orquestra Clássica
do Centro (OCC) está a prepa-
rar um café-concerto dedicado
ao tema da paternidade, agen-
dado para o dia 18 de Março,
domingo, no Pavilhão Centro
de Portugal. A partir das 17h00,
Mário Silva (pintor), Carlos Sa-
raiva (psiquiatra e professor da
Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de Coimbra), Pedro
Maia (advogado e professor da
Faculdade de Direito da Uni-
versidade de Coimbra), José
Martins (arquitecto e músico) e
Nuno Santos (padre e director
do Instituto Justiça e Paz) tro-
cam ideias sobre o que é ser pai
e os desafios que os pais enfren-
tam actualmente. Haverá ainda
um apontamento musical a car-
go do pianistaTiago Nunes.
No dia 19 de Março, a OCC
dinamiza mais uma iniciativa
que pretende assinalar a data
especial para pais e filhos. “Pin-
ta com Mário Silva” é o nome
da sessão, que pretende juntar
adultos e crianças numa “aula”
divertida e especial em torno
da pintura. A partir das 10h30,
também no Pavilhão Centro de
Portugal, o pintor Mário Silva
ajudará os participantes a cria-
rem as suas próprias obras de
arte. Apesar de não haver limite
de vagas, a OCC requer forma-
lização de inscrição através dos
números 239 824 050 e 916 994
160.TambémnoDiadoPai,mas
em Mira, José Carlos Garrucho,
psicólogo e terapeuta familiar,
fala de “Conjugalidade e Paren-
talidade: dos problemas às so-
luções”. Integrada no projecto
de educação parental “Pais na
Escola”, a iniciativa acontece na
Biblioteca Municipal de Mira, a
partir das 18h00, contando com
o apoio do Município mirense.
João Norton (à esquerda) e Luís Pereira da Silva foram os oradores da Conferência Quaresmal