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a discutir à volta de um prato de amêijoas, dois poetas imaginários que
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minhota que descobre a mais antiga gravação em português. Chegámos assim
ao nosso tempo, com o português já espalhado por outros
continentes, sem nunca ter abandonado esse rio Minho,
ao redor do qual tudo começou. É uma história que todos pensamos
conhecer, mas que guarda os seus deliciosos segredos…”
Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa
(p.11).Lisboa:GuerraePaz.
“ […] gostava que pensassem um pouco no poder dos livros.
[…] O livro espalha-se com facilidade e transporta as palavras para
muito longe. Se a palavra falada pode incendiar uma multidão –
lembremo-nos de Frei Contreiras – , a palavra impressa em centenas
de exemplares incendeia as almas espalhadas pelo país.
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ouviram então a senhora a pedir a um dos guardas, em
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Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa
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“Sim, eu sei: se a língua nasceu na rua, os
escritores e os gramáticos deram-lhe lustro, limaram-lhe as
arestas, escolheram isto em vez daquilo. Mas a verdade,
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obscuras, da língua doutros sítios, doutras gentes — não é de
todo feita duma linguagem depurada: muito antes pelo
contrário. Poucos bons escritores
conseguiriam escrever se a língua fosse
qualquer coisa de artificial ou um bicho
domado. Não: a literatura vive desse
bicho selvagem criado nas ruas, nas camas, nas
noites — a língua de todos, de quem insulta e ama, de quem
vende e compra — e por isso tem de misturar, aprender,
mudar — de quem tem pouca paciência para queixas, de
quem precisa, agora, de falar, às vezes à pressa, muitas vezes
com um sorriso na boca, ou um grito, ou um segredo, ou um
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Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa
(p.109).Lisboa:GuerraePaz.
“[…] o português, como todas as línguas, é um fenómeno
natural, um sistema complexo e desordenado, que podemos
estudar, usar, moldar para nosso proveito — mas que
dificilmente podemos controlar. Podemos (isso sim)
conhecer e até amar esse bicho bastardo.
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  • 2. Consegues imaginar Camões à bulha nas ruas de Lisboa? Ou a ligação entre Gil Vicente e uma colecionadora de livros? O que terá acontecido entre uma lisboeta com sal na pele e um brasileiro azarado? Qual o teor da discussão entre Camilo Castelo-Branco e Eça de Queirós enquanto comiam umas belas amêijoas? E porque aparece um galego a fugir da guerra no passeio de Ricardo Reis e Álvaro de Campos ao Baleal? Esta é uma viagem pela História da nossa língua, contada como se fosse um romance, recheada de deliciosas surpresas e um toque de humor.
  • 3. “ A nossa língua nasceu há muito tempo, numa região esquecida num canto do Império Romano. Convido-vos a imaginar algumas das histórias de quem falou a língua ao longo dos séculos: uma celta e um romano aos beijos, um assassino galego em Toledo, uma ninfa do Mondego a ensinar um jogral a escrever, um amigo de D. Afonso Henriques à procura de mouras encantadas, Gil Vicente a perseguir um homem perigoso pelas ruas de Lisboa, uma colecionadora de livros a fugir numa carroça para Amsterdão, Camões ao murro por causa de uma dama da corte, uma lisboeta que cresce no meio do mar e morre no Grande Terramoto, grandes escritores a discutir à volta de um prato de amêijoas, dois poetas imaginários que encontraram um galego a fugir de uma guerra bem real e uma professora minhota que descobre a mais antiga gravação em português. Chegámos assim ao nosso tempo, com o português já espalhado por outros continentes, sem nunca ter abandonado esse rio Minho, ao redor do qual tudo começou. É uma história que todos pensamos conhecer, mas que guarda os seus deliciosos segredos…” Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa (p.11).Lisboa:GuerraePaz.
  • 4. “ […] gostava que pensassem um pouco no poder dos livros. […] O livro espalha-se com facilidade e transporta as palavras para muito longe. Se a palavra falada pode incendiar uma multidão – lembremo-nos de Frei Contreiras – , a palavra impressa em centenas de exemplares incendeia as almas espalhadas pelo país. Os vários poderes perceberam rapidamente que os livros são um instrumento poderoso – para o bem e para o mal. Assim, um dos poderes do Estado passou a ser o de censurar o que se publicava. Os livros ajudaram a dar força à língua de prestígio. A língua, na nossa boca, parece qualquer coisa que se diz e desaparece – mas a língua dos livros permanece, tem outro peso. […] Os livros dão-nos ideias, mostram-nos o mundo, contam histórias, apetecem como um fruto. Nessa época de Gil Vicente, ainda eram segredos guardados a sete chaves. Hoje, estão ao dispor de todos nós – isto, claro, se os soubermos aproveitar…” Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa (pp.96-97).Lisboa:GuerraePaz.
  • 5. Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa (pp126-127).Lisboa:GuerraePaz. “ - Aqui o Luís é um grande poeta… E até imagino o que estás aqui a fazer, não é? À procura da Ana… - Claro! E ficaram todos a olhar. De repente, uma dama da corte sai da carruagem e Luís desata a correr. - Ana, Ana! A mulher olha-o, fica um pouco perturbada, e uma senhora pomposa obriga-a a entrar de novo na carruagem. Os três irmãos ouviram então a senhora a pedir a um dos guardas, em castelhano, para tratar do assunto… O guarda chega-se ao pé do Luís e, com maus modos, grita-lhe: - Nunca mais te aproximes dela, ouviste? Parto-te a boca toda se te vir outra vez! Claro que Luís de Camões não ficou calado e os três irmãos tiveram de o arrastar dali para fora. “
  • 6. Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa (pp.108).Lisboa:GuerraePaz. “Sim, eu sei: se a língua nasceu na rua, os escritores e os gramáticos deram-lhe lustro, limaram-lhe as arestas, escolheram isto em vez daquilo. Mas a verdade, também, é que a literatura se alimenta dessas correntes obscuras, da língua doutros sítios, doutras gentes — não é de todo feita duma linguagem depurada: muito antes pelo contrário. Poucos bons escritores conseguiriam escrever se a língua fosse qualquer coisa de artificial ou um bicho domado. Não: a literatura vive desse bicho selvagem criado nas ruas, nas camas, nas noites — a língua de todos, de quem insulta e ama, de quem vende e compra — e por isso tem de misturar, aprender, mudar — de quem tem pouca paciência para queixas, de quem precisa, agora, de falar, às vezes à pressa, muitas vezes com um sorriso na boca, ou um grito, ou um segredo, ou um beijo.”
  • 7. Neves,Marco.(2017).AIncrívelHistóriaSecretadaLínguaPortuguesa (p.109).Lisboa:GuerraePaz. “[…] o português, como todas as línguas, é um fenómeno natural, um sistema complexo e desordenado, que podemos estudar, usar, moldar para nosso proveito — mas que dificilmente podemos controlar. Podemos (isso sim) conhecer e até amar esse bicho bastardo. Podemos ainda — aliás, devemos — cada um de nós, tentar falar e escrever cada vez melhor a língua que nos calhou na rifa. É bastarda, mas é nossa.”