1. Percepções
No momento em que lê este texto, está a utilizar os seus órgãos sensoriais ou os sentidos para
captar informação.
Quando está a ler, não se limita a ter sensações visuais (cores, formas), mas organiza, integra e dá
significado a essas impressões sensoriais, construindo uma percepção.
A percepção inclui não apenas a recepção da informação, mas também a sua organização e
interpretação.
As figuras ambíguas são construídas de modo a permitirem várias interpretações. O mesmo
conjunto de estímulos é organizado pelo cérebro em respostas/percepções diferentes.
Para os seres humanos, a percepção é uma actividade flexível que permite lidar com um meio em
constante mudança, possibilitando a permanente adaptação do indivíduo ao meio.
Por exemplo, se nos sentamos na primeira fila do cinema, inicialmente os artistas parecem-nos
deformados (altos e magros) mas, depois de algum tempo, todas essas particularidades nos passam
despercebidas. Um caso semelhante é o que acontece quando o ecrã de televisão não é plano, o que
deforma as linhas rectas tornando-as curvas. Mas nós compensamos esses dados e "corrigimos" o
que vemos. É um fenómeno de adaptação à distorção visual.
Vemos, portanto, que a percepção implica uma construção feita pelo sujeito. Quando
percepcionamos algo, não só seleccionamos a informação, como a «trabalhamos», organizando-a e
interpretando-a.
A percepção depende dos nossos órgãos sensoriais. Por isso, entre os seres humanos existem
diferenças individuais na capacidade de visão, que são notórias no caso dos daltónicos (pessoas que
não captam a totalidade ou parte das cores) ou dos míopes.
Por outro lado, a percepção também depende do bom funcionamento dos órgãos, como é o caso
das pessoas com lesões que as levam a perder a sensibilidade táctil, sendo, por isso, insensíveis à
dor.
Outro factor biológico determinante na percepção é o sistema nervoso. Se não está bem formado ou
se funciona mal, a capacidade perceptiva fica afectada provocando ou deficiências perceptivas leves
e ou mesmo a total ausência de percepção, como nos estados de coma.
A percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um objecto ou uma
situação de acordo com os aspectos que têm especial importância para si própria (interesses,
expectativas, motivações, idade, experiências, cultura…).
À medida que adquirimos novas informações, nossa percepção altera-se. É possível notar a
mudança na percepção ao adquirir novas informações. As ilusões de óptica baseiam-se nesse facto.
Algumas imagens ambíguas são exemplos disso ao permitir ver objectos diferentes de acordo com
a interpretação que se faz.
Assim como um objecto pode dar origem a muitas percepções, também pode acontecer um objecto
não gerar percepção nenhuma: Se o objecto não tem referência à realidade de uma pessoa, ela pode
não o percepcionar. Os primeiros relatos dos colonizadores da América relataram que os índios da
América Central não viram a frota naval dos colonizadores que se aproximavam. Como os
navios não faziam parte da realidade desses povos, eles simplesmente não eram capazes de percebê-
los no horizonte e eles misturavam-se à paisagem sem que isso fosse interpretado como uma
informação a considerar. Qualquer pessoa nos dias actuais, de pé em uma praia espera encontrar
barcos no mar. Eles tornam-se, portanto, imediatamente visíveis, mesmo que sejam apenas pontos no
horizonte.