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Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD) enquanto Sistemas Adaptativos Complexos:
Blockchain nas organizações
Lucas Costa Correia
Resumo
O artigo aqui proposto possui o objetivo de relacionar as Organizações Autônomas Descentralizadas com a
teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos. A tecnologia originada das criptomoedas, Blockchain, tem levantado
questões acerca das possibilidade de sistemas distribuídos e(ou) descentralizados de governança e confiança.
Dessa forma, surge o conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas, enquanto organizações geridas
por um conjunto de regras auto executáveis em linguagem de computação, que possuem suas diretrizes por
votação dos seus stakeholders. O trabalho se caracteriza de forma teórica, contrapondo teoria-teoria, por meio
de revisão bibliográfica e extensa discussão do assunto. As conclusões obtidas, são que ainda que as
discussões sejam inicias, as Organizações Autônomas Descentralizadas podem se relacionar com as unidades
de análise dos Sistemas Adaptativos Complexos.
1. Introdução
A era da internet trouxe consigo diversas novas tecnologias, desde o e-mail até a indústria dos grandes
bancos de dados. Tais inovações resultam em uma intensificação massiva dos fluxos de informação,
promovendo uma alteração na organização do trabalho. Novas formas de organização surgem, à medida que a
luz da Teoria das Organizações permite uma maior compreensão de tais fenômenos. Segundo Tapscott e
Tapscott (2016, p.34) ‘’a tecnologia não cria prosperidade mais o que destrói a privacidade. No entanto, nesta
era digital, ela está no cerne de praticamente tudo, seja bom ou ruim’’. Se faz necessário então, o entendimento
de novos fenômenos respaldados nas categorias analíticas validadas pelo corpo teórico organizacional já
existente. A abordagem da Teoria Geral dos Sistemas permite uma compreensão de fenômenos em uma
perspectiva mais integral, uma vez que envolve o entendimento das relações de interdependências entre os
elementos componentes do sistema, visualizando características emergentes do processo de interação que até
então não eram percebidas nos componentes isolados (BERTALANFFY, 1968).
Segundo Appiah (2017), o advento de um novo tipo de economia - a economia ponto a ponto - provoca
uma mudança na cultura organizacional, a refletindo enquanto um sistema complexo distribuído. De acordo com
a autora, a filosofia por trás desse tipo de sistematicidade se direciona ao potencial de emergência dos sistemas
complexos autônomos auto-organizáveis.
O tema do trabalho aqui proposto são Organizações Autônomas Descentralizadas e Sistemas
Adaptativos Complexos. A pesquisa aqui apresentada visa verificar se as Organizações Autônomas
Descentralizadas podem ser consideradas formas de Sistemas Adaptativos Complexos (Buckley 1971). Dentre
os objetivos do trabalho, se encontram: a apresentação do conceito de Organizações Autônomas
Descentralizadas, a apresentação da literatura de Sistemas Adaptativos Complexos, e a apresentação de uma
trajetória da Teoria Das Organizações.
O advento da tecnologia Blockchain por meio do surgimento das criptomoedas permitiu o
desenvolvimento de uma série de aplicações. Enquanto a tecnologia Blockchain fornece um sistema de base de
dados distribuídos e com possibilidade de verificação e transparência, outras formas de adoção foram sendo
implementadas em situações de que se era necessário um mecanismo de geração de descentralização, ou
confiança sem a necessidade de uma terceira parte envolvida (ULRICH, 2014).
As Organizações Autônomas Descentralizadas surgem então por meio da tecnologia blockchain, numa
proposta de modelo de organização auto gerida e com regras formalizadas em código computacional, com
sistemas de governança característicos e que só podem ser alterados por meio de votações de seus
stakeholders (BUTERIN, 2014).
A complexidade das relações organizacionais em um ambiente altamente tecnológico sugere o seu
entendimento enquanto um Sistema Adaptativo Complexo, em que a carga informacional exerce uma influência
nesse sistema altamente adaptativo, que se baseia na interrelações de seus componentes, e os ciclos de
feedback que retroalimentam o seu funcionamento (BUCKLEY, 1971).
A justificativa do presente estudo se dá pela novidade dos conceitos expostos e o esforço de trazer à
luz da Teoria das Organizações questões atuais como o surgimento das Organizações Autônomas
Descentralizadas, e a tecnologia Blockchain. Tal proposta de estudo pode contribuir para uma maior noção dos
reais impactos desse tipo de organização, bem como as dificuldades a serem enfrentadas pelo seu caminho de
desenvolvimento. Espera-se também contribuir de alguma forma para a literatura desse campo de estudos
emergente.
A pesquisa é de cunho teórico e possui como principal instrumento, a revisão bibliográfica de livros e
artigos, buscando a confrontação dos modelos teóricos referenciados.
Além dessa seção introdutória, o trabalho é divido em outras 4 seções: a seção 2 se apresenta como
um referencial teórico, cuja primeira parte possui o objetivo de realizar uma trajetória da Teoria das Organizações
desde uma visão mecanicista das organizações, até uma noção do realismo crítico, e a segunda parte do
referencial teórico, cujo objetivo é trazer luz à Teoria Dos Sistemas Adaptativos Complexos; a seção 3 se
apresenta com a metodologia do trabalho proposto, explicando as proposições de pesquisa como deve ser
conduzida; a seção 4 se configura como uma exposição do objeto e breve análise frente às categorias de
Sistemas Adaptativos Complexos e Organizações Autônomas Descentralizadas; e a seção 5, que se apresenta
como uma breve conclusão a respeito do trabalho realizado.
2. Referencial Teórico
2.1 Trajetória Histórica da Teoria das Organizações
O objetivo dessa seção é apresentar uma trajetória da Teoria das Organizações, tratando dessas suas
contextualizações históricas e formas de abordagem da sua concepção, até seus desenvolvimentos atuais.
Segundo Freddi (1998), a definição do termo ‘’Teoria da Organização’’ não apresenta uma concepção fechada.
Para fins de primeira análise, pode ser definida em enquanto ciência social do estudo das organizações, não
descriminando qual tipo de organização, e com uma abordagem multidisciplinar. É importante salientar que,
segundo Friedberg (p. 375, 1996) ‘’a expressão ‘’organização’’ remete, por um lado, a um objeto social, por
outro, a um processo social que está no cerne da ação humana’’. De acordo com Reed (2009), as origens
históricas dos estudos organizacionais podem ter sua relação com os estudos de sócio-política do século 19,
que buscavam o entendimento das mudanças estruturais trazidas pela modernização e transformações do
capitalismo industrial.
Figura 1: Representação esquemática de integração entre fases da teoria social com a teorização organizacional e suas epistemologias
fundacionais, a partir da classificação da teoria social em três fases, proposta por Buckley (1967[1971])
Fonte: Pimentel (2012)
A Figura 1, de Pimentel (2012) permite a visualização didática das fases de desenvolvimento da Teoria
das Organizações a ser descrita nessa seção. A importância da Figura 1 se dá na demonstração de que dentro
das diversas fases dos estudos organizacionais, existem momentos de simultaneidade em relação a forma de se
enxergar tal objeto, assim como seus momentos de ruptura.
A perspectiva histórica dos fundamentos iniciais de uma teoria para as organizações cabe à
compreensão por meio do entendimento da chamada ‘’dupla revolução’’, que se dá em um período entre 1789 e
1848. Por meio das revoluções Francesa e Industrial pode-se ter o chamado triunfo do capitalismo e a formação
da classe burguesa, assim como a indústria capitalista. A dupla revolução permite o estabelecimento da força
dos estados nacionais Grã Bretanha, com uma perspectiva industrial, e França, com sua perspectiva mais
política. As condições sociais da época eram muito distintas das atuais, desde relações de extensões
geográficas, questões demográficas e até mesmo climáticas. Contextualiza-se a população de 1780 enquanto de
maioria rural, com tal fato impactando todo o questionamento da realidade vivida, e até mesmo os primeiros
estudos fisiocratas. A Revolução Industrial tem então seu ponto de partida na Inglaterra de meados de 1830, em
uma primeira ruptura na história humana entre a capacidade de reprodução de homens, mercadorias e serviços,
com dominância da industria têxtil nos primeiros tempos de produção industrial. Enquanto a Revolução Industrial
dá as diretrizes econômicas do século 19, a Revolução Francesa dá as diretrizes ideológicas e políticas. como
um primeiro movimento de ideias da cristandade ocidental de impacto global (em relação ao mundo conhecido
da época)(HOBSBAWM, 2009).
A compreensão do desenvolvimento da teoria das organizações se dá com uma compreensão daqueles
que foram os antecedentes da organização racional do trabalho. O trabalho nas sociedades modernas é algo
institucionalizado e com natureza substantiva, com relação direta à colocação do homem em um determinado
grupo social. Nas sociedades primitivas, a mentalidade primitiva não era capaz de assimilar o trabalho de forma
racionalizada, com as tarefas designadas por sexo, idade, condicionadas à biologia do indivíduo ou preceitos
mágicos. A Idade Média já é marcada por uma mudança de relação acerca do trabalho na sociedade, no período
se proclama em um plano metafísico a dignidade do trabalho, porém, forma-se uma nobreza ociosa, que se
orgulhava de não trabalhar e se incubiam de tarefas consideradas superiores como a guerra, sacerdócio, em um
período de imobilidade social e pouco avanço na ciência. O Renascimento aparece então como um período que
há o primeiro esforço de racionalização das relações para com o trabalho. A Revolução Industrial,
posteriormente, se torna então, a grande disruptura nas relações sociais do ocidente, quando ocorre a formação
das grandes cidades industrais, aumento populacional e maior mobilidade social (RAMOS, 2008).
Pode-se dizer que a organização racional do trabalho se inicia de forma sistemática e com relevância
histórica com Taylor (1856-1915), com a racionalização de tarefas, e com aplicações do método científico, com
decomposição de operações para análise, e recomposição racional do trabalho enquanto ciência. O corpo de
idéias do taylorismo é construído enquanto instrumento de racionalidade, e difusão de métodos de estudo, com
tratamento científico de tempos e movimentos (RAMOS, 2008; HELOANI, 1994).
A consolidação do Taylorismo se dá de forma paralela às tentativas de novas propostas de gestão da
produção de Henry Ford, a qual se deu o nome de fordismo. Tal modelo se baseia em um novo conceito de linha
de montagem, em que a movimentação dos trabalhadores é limitadas e é imposto um determinado ritmo de
trabalho pela esteira de produção. As crises de 1929; o nazi-fascismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial
marcam o impulsionamento desses primeiros sistemas de organização racional do trabalho de visão mecânica.
Vale lembrar também as concepções de Fayol (1990) sobre a perspectiva racional dedutiva em se estudar o
processo de trabalho em observância de características, leis gerais e transmissão de conhecimento para futuras
direções. Em uma concepção de que as organizações são estruturas formais de instrumento racional para o
alcance de determinados objetivos, da chamada teoria clássica ou ortodoxa em Teoria das Organizações
(RAMOS, 2008; HELOANI, 1994; SELZNICK 1948; PIMENTEL, 2012).
A emergência da administração científica está inteiramente ligada aos estudos de Max Weber. De
acordo com Morgan (2002), a teoria da mecanização enxerga as empresas enquanto entidades com alto grau de
planejamento, racionalidade e estruturação, sendo organizações burocráticas. Segundo o mesmo autor, Max
Weber define a burocracia administrativa enquanto rotina processual da administração de forma similar à
mecânica, em que se via uma possibilidade de mecanização da totalidade da vida humana devido seus efeitos
na sociedade como um todo. O modelo weberiano inspira bastante a literatura da chamada Teoria das
Organizações, desde as vertentes de cunho funcionalista, até mesmo a escola francesa de sociologia. De
acordo com o autor, apesar de não atingir o núcleo de metodologia de Weber em relação ao modelo burocrático,
no contraponto organizações concretas e modelo, é muito utilizado a noção das construções do tipos ideias
weberianos. Principalmente em uma abordagem da estrutura organizacional e seus aspectos formais, normas e
papéis, com maior verificabilidade de eficiência, adequação racional e controle (WEBER, 1968; PIMENTEL,
2012; CLEGG e DUNKERLEY, 1980).
A visão dos indivíduos nas organizações surge com diferencial na teoria neoclássica, baseada numa
visão orgânica de organização, muito pela insuficiência de certas explicações do cunho mecanicista,
principalmente pelo questionamento dos campos da psicologia social e sociologia dos estudos da organização
enquanto entidades sociais e das relações informais da dinâmica organizacional, segundo Pimentel (2012). Nos
primeiros estudos das relações humanas não se pode deixar de citar seu predecessor Elton Mayo.
A experiência de Hawthorne em 1927 Western Electric Company de Chicago é um importante marco
para um desenvolvimento de teoria organizacional diferente da mecânica, considerado por Mouzelis (1975), o
início do estudo do campo das relações humanas na organização. Ainda que partindo das ideias racionais e de
verificação de eficiência, Mayo conclui a necessidade de se estudar elementos humanos mais profundos quando
a produtividade aumentou ainda que fatores do ambiente fossem manipulados. Sugere-se a existência de
variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho, características informais da organização, satisfação e
pertencimento (MAYO, 1972).
A Escola de Relações Humanas, marca um grande acontecimento que é o de se considerar a influência
das interações humanas e sociais nos resultados de uma organização, suas proposições centrais demonstram
que a motivação do indivíduo nem sempre é relacionada ou suficiente ao incentivo financeiro, que as relações de
grupo podem possuem maior impacto ao indivíduo às suas reações, e que a especialização funcional não é
necessariamente uma garantia de maior eficiência (MOUZELIS, 1975; PIMENTEL, 2012).
As teorias organizacionais contemporâneas podem ter seu início por meio da revisão sistemática
daquelas anteriores, ainda que não tivessem intenção de ruptura total das mesmas. Pode-se então considerar
três grandes escolas da teoria organizacional da segunda metade do século 20, sendo: teoria dos sistemas
(ampliada à teoria da contingência); escola da tomada de decisão, que tem seus inicio em Herbert Simone se
desenvolve posteriormente à teoria cibernética (muito importante o trabalho aqui proposto); modelos de ação
organizacional, inspirados na teoria da ação social (FREDDI. 1998; PIMENTEL, 2012).
A Teoria dos Sistemas surge como uma importante abordagem às organizações durante o século 20,
estabelecendo uma série de metáforas sobre o objeto de estudo e enquanto óticas do fazer científico. Ainda que
existam diferentes correntes dentro da Teoria dos Sistemas, é possível se identificar a busca pelo estudo de seu
objeto enquanto sistemas de variáveis interdependentes e seus temas em comum (PIMENTEL, 2012).
Existe uma dificuldade na delimitação de uma organização, e portanto, sua dificuldade de compreensão
enquanto sistema está ligada também à localização e identificação. O modelo teórico proposto de sistema para a
organização parte do princípio de que as mesmas se tratam de um sistema aberto, com sua relação de energia
input-output, com o output reativando o sistema. A inspiração do modelo advém da teoria de sistemas abertos de
Von Bertalanffy (1956), que foca seu interesse nos problemas de relações da estrutura e interdependência, e
apresenta características dos sistemas abertos, como: importação de energia; transformação; entropia negativa;
estado firme e homeostase dinâmica; dentro outras. Os modelos de sistemas sociais são diversos, e conectados
com outras áreas da ciência, por exemplo, no modelo Mecânico a visão da mecânica social se assemelhava à
astronomia, com inspiração nos estudos da física e matemática na busca de equilíbrio; no modelo Orgânico
busca-se uma analogia aos estudos das ciências biológicas com caracterizações sociais de organização
biológica, ou agregado ecológico (de onde se parte o conceito de morfogênese enquanto foco de manutenção e
construção estrutural do sistema); modelo de Processo, em que a sociedade é vista enquanto sistema
multifacetado e complexo; Parsons e Homans; dentre outros (KATZ e KHAN, 1976; BUCKLEY, 1971).
A ampliação da Teoria dos Sistemas, ao verificar uma interdependência da organização e o ambiente
externo gerou uma série de pesquisas sobre como os aspectos internos de uma organização poderiam ser
influenciados pelas variações do ambiente (por exemplo estratégia, e tecnologia). Dessa nova abordagem surge
uma visão mais integradora, denominada Teoria da Contingência, em que, as organizações se adaptam
(estrutura, custos, legitimação) à instabilidade do ambiente, e sua tomada de decisão ligada à situação do
momento, considerando também os cenários anteriores (PIMENTEL, 2012).
A Teoria das Organizações se desenvolve em diversas formas de se ver a organização. O
Institucionalismo foca então nos processos simbólicos, e na produção simbólica de determinadas práticas, pode-
se dizer que conforme a organização cresce, a sua importância simbólica também aumenta. Deve-se considerar
que antes dos anos 70, a organização era considerada enquanto um ‘’super indivíduo’’, após esse período,
passa-se então discutir o processo de como se conhece a realidade pelo ponto de vista das ações cotidianas
(especialmente depois de ‘’Construção Social da Realidade’’ de Berger e Luckmann, 1973). Atinge-se a ideia de
processo socialmente construído e ser socialmente construído, com os processos humanos sendo frutos da
elaboração de um conhecimento para a resolução do problema de não conhecer a sociedade. Berger e
Luckmann nomeiam a construção social e elaboração de uma norma social, outros pesquisadores passam então
a discutir a organização de uma perspectiva institucional, voltando-se ao conflito social e as relações de eficácia
simbólica. Aceita-se a perspectiva de uma ordem volátil, em uma desnaturalização do mundo humano, e
considerações de um isomorfismo mimético. Pode-se dizer que se divide essa ótica em três grandes campos:
Institucionalismo Histórico; Institucionalismo Racional; Institucionalismo Sociológico (MEYER, 1977; SCOTT
1987; SELZNICK, 1996; HALL, 1984).
A formulação consequente da Teoria dos Sistemas sobre o grau de sistematicidade da organização
parte de ideias iniciais de sistemas mecânicos para sistemas em que são adicionados níveis socioculturais e
orgânicos, com componentes inter relacionados cada vez mais complexos e instáveis, e uma classe nova de
problema do sistema sociocultural, que é a racionalidade. Dessa forma, Buckley (1971), elabora um modelo de
Sistema Adaptativo Complexo, sendo mais adaptado às ciências sociais, que se perpetuam ao longo do tempo
sem a dependência de um conjunto finito de objetos biológicos, a informação sendo basilar para ajuste com o
meio, e com elementos de tensão social (elemento para processo de mudança); morfogênese (elaboração de
uma forma com junção de componentes que resultam em uma forma maior); morfostase (manutenção e
reprodução da forma); multicasualidades; e diferentes graus de sistematicidade. Morin (1986), dialoga com
Buckley não só apresentando relações da ordem e desordem dos sistemas adaptativos complexos (equivalentes
a coerção e graus de liberdade), mas também demonstrando relações de causalidade circular (BUCKLEY, 1971;
MORIN, 1986).
O trabalho de Herbert Simon e a Teoria da Decisão se torna muito importante (também para o trabalho
aqui proposto, o qual será apresentado em maior detalhes na próxima seção), e demonstra uma renovação no
modelo de racionalidade para a teoria da administração. Ao fim da década de 40, a escola fundada por Simon
coloca em análise o processo de formação da decisão e abarca uma maior complexidade. Herbert Simon
acreditava que a Teoria das Organizações só teria utilidade se admitisse a racionalidade enquanto limitada e
dependente de toda uma contextualização organizacional. Simon (1965) funda o conceito de racionalidade
limitada, ao considerar que a informação é sempre incompleta e impossível de se conhecer em sua totalidade, e
que os elementos do contexto da ação são fundamentais para compreender o comportamento do ser humano
(assim como o passado) (PIMENTEL, 2012).
O embate do agente e estrutura entra na discussão nos estudos acerca da questão dos campos e
estruturação. O trabalho de Bourdieu (2001) estrutura o campo enquanto formado pela ação dos agentes que o
alteram, e de acordo com seu volume e capital específico, exercem pressão sobre o conjunto de outros agentes,
seja por meio de diversas formas de capital (financeiro; cultural; social; e principalmente, simbólico). O autor
também considera como habitus o processo de socialização (aprendizado), em que chama de ‘’subjetividade
socializada, transcedência histórica cujos esquemas de percepção e de apreciação são o resultado da história
coletiva e individual’’ (Bourdieu, 2006, p.290). Segundo Giddens (2003), existe uma ideia de retroalimentação da
ação, e a capacidade do agente modificar um processo ou estado por meio de poderes causais.
A busca por uma sociologia das organizações se estende por diversas elaborações, dentre elas a da
teoria da ação. Segundo Silverman (1971), as formas de explicação funcionalistas dependem da visão de
sistema social para se tornar satisfatório, com a abordagem estrutural funcionalista sendo sugestiva e deficiente
em alguns pontos. De acordo com o mesmo autor, o homem complexo possui diferentes percepções de acordo
com suas experiências, que geram diferentes significados de um entendimento da realidade. De acordo com
Guerreiro Ramos (2008), a ação social do trabalho parte do indivíduo e realiza uma nova abordagem substantiva
das organizações , e desenvolve um modelo multidimensional, e se usa de outros enclaves da orientação do
sistema e capacidade de atualização do indivíduo.
A realização de críticas epistemológicas para preenchimento de lacunas na teoria organizacional se
estende aos trabalhos de Weick, como por exemplo nos estudos da construção de sentido (sensemaking), em
que se busca o propósito de dar sentido à informação, e realizar um desenvolvimento retrospectivo de imagens
plausíveis da racionalização da ação humana. O pensamento de Weick está calcado no interacionismo
simbólico, e reconhece a capacidade de reatividade da organização limitada a situações previamente
reconhecidas ( ampliando a ideia de racionalidade limitada para relações de poder e troca de formação das
instituições) (PIMENTEL, 2012; WEICK, SUTCLIFFE e OBSTFELD, 2005; DAFT e WEICK, 1984;
MONTENEGRO e CASALLI, 2008).
Os fundamentos da ação coletiva organizada possuem em Crozier e Friedberg e a escola francesa de
sociologia das organizações uma forma alternativa ao paradigma positivista de pesquisa e como capturar a
realidade. A escola francesa de sociologia possui um intenso empréstimo intelectual da sociologia organizacional
estadunidense, especialmente sobre as relações de poder e racionalidade limitada. Porém, Crozier e Friedberg
se distanciam do modelo estadounidense por meio da perspectiva do estudo clínico, em que se desenvolve uma
ideia de pesquisa que conhece e ao mesmo tempo intervém na realidade, captando de forma sistemática e
intervindo nas características individuais no sistema e como tal situação o afeta, com uma lógica subjacente de
mudança cultural via aprendizado. Pode-se dizer que os conceitos centrais da abordagem de tais autores são a
noção de ator estratégico (posicionamento dos atores condicionado ao interesse próprio), sistema de ação
(delimitação do sistema social de realidade), e poder enquanto capacidade de ação (articulação das noções ator-
sistema). No ponto de vista em relação ao Estado, Jímenez o aponta enquanto forma especial de organização,
concreta, porém que não é monolítica (PIMENTEL, 2014; FRIEDBERG, 1992; JÍMENEZ, 1998; CROZIER,
1998).
Os limites de interpretação entre o ser e o conhecer (o ser) por diversas vezes na teoria organizacional
se passam por confusos, principalmente em relação a um crítica pós moderna. Como na teoria das redes de
ação, em que Barbara Czarniawska (2013), pela visão percebida das organizações enquanto ferramentas para
objetivos em comum, identifica que enquanto ferramentas, a sua existência é sólida e não deve ser ignorada,
mas que podem se tornar um próprio impedimento à conquista dos objetivos comum. A teoria das redes de ação
então é importante para construção da identidade dos atores e reflete a capacidade de dissociação, modificação
e deslocamento de interesses, com o poder também sendo uma consequência dessas relações entre
coletividades. É possível também identificar críticas às relações espaço-tempo da condição pós moderna nos
trabalhos de Harvey (2012), ou a visão do saber científico no cenário pós moderno de Lyotard (1979),
conectando relações de informação, poder e legitimação (CZARNIAWSKA, 2013; HARVEY, 2004; LYOTARD
1989).
As relações entre organizações e realidade parecem ter alternativas ao positivismo e à questão
ontológica na corrente de Realismo Crítico, com a teoria das organizações como parte integrante da recente
‘’virada realista’’ desenvolvida por Roy Bhaskar, com a interpretação da realidade em seu sentido ontológico.
Acredita-se que a teoria sobre o ser não se reduz à teoria do conhecimento, tendo uma existência própria nas
coisas, não dependente das descrições dos objetos. Segundo Pimentel (2014), o debate sobre realismo crítico
possui como guia, a reivindicação do domínio ontológico, com a discussão científica pautada nos argumentos
filosóficos. Pode-se dizer que o realismo crítico aprofunda base filosófica para o fazer científico. Em resumo, a
realidade é externa e independe do indivíduo, muito menos de sua percepção a ela (ainda que os tipos de
realidade sejam divididos em material, ideal, artefactual, e social) (PIMENTEL 2014; PIMENTEL e RODRIGUEZ,
2017; VANDENBERGHE, 2014).
2.2 Sistemas Adaptativos Complexos
A definição de sistema que interessa neste trabalho, é a de Buckley (1971, p. 41) “um complexo de
elementos ou componentes direta ou indiretamente relacionados em uma rede causal, de modo que cada
componente esteja relacionado a pelo menos alguns outros de uma maneira mais ou menos estável dentro de
qualquer determinado período de tempo.”.
Os componentes de um sistema podem se configurar tanto como simples, ou de forma complexa; suas
propriedades e estados podem variar. Em termos das relações entre os componentes, essas podem se dar de
uma forma mútua, com unidirecionalidade, de forma linear ou não-linear, ou intermitente, com o seu grau de
causalidade e eficácia de diferentes níveis. É importante dizer que as interações (mais ou menos estáveis) entre
os componentes constituem a estrutura daquele sistema em um período específico. Os sistemas de maior
interesse às ciências sociais são aqueles os quais existe um processo de troca com o ambiente de forma
contínua, sendo que no caso dos sistemas abertos (com alta flexibilidade), a os limites do sistema e o meio se
tornam cada vez mais arbitrário (BUCKLEY, 1971).
A divisão clara entre o que é sistema e o que não é, se torna cada vez mais difícil de ser delimitada.
Portanto, deve ser obrigado a reconhecer a possibilidade de ‘’graus de sistematicidade’’ ( e “graus de
organização”) entre sistemas, e a possibilidade de sua mudança ao longo do tempo. Os conceitos modernos de
sistema e organização assumem o posto de relevância do conceito de “orgânico’’, ao reconhecer que a
sociedade se apresenta como um todo inter-relacionado, e não parte independentes, como se achava junto ao
equilíbrio mecânico. A grande diferença na compreensão moderna de sistemas e de organismo se dá que
enquanto um organismo é fisiológico, e envolve processos complexos físico químicos de troca de energia, as
relações entre as partes da sociedade envolvem processos comunicativos complexos de troca de informações
(WIENER, 1950; BUCKLEY, 1971).
A comparação dos sistemas complexos ao modelo de sistema mecânico pode se dar referente a
diferentes parâmetros: a respeito das partes do sistema - enquanto no sistema mecânico, as suas partes ou
componentes, são de certa forma simples e estáveis, porém, com a adição de níveis socioculturais cada vez
mais elevados, os componentes inter-relacionados se tornam cada vez mais instáveis e complexos; a respeito
das relações sistêmicas - a natureza das relações varia de acordo com os tipos diferentes de sistemas e
subsistemas (técnicos ou sociais), enquanto nos sistemas mecânicos do tipo homem-máquina, as interrelações
são restritas, rígidas e com poucos graus de liberdade, os sistemas socioculturais são exemplos de
‘’complexidade organizada’’ com as interrelações das partes ocorrendo de forma flexível e com a estrutura sendo
mais maleável à medida que as possibilidades de comportamento dos componentes aumenta, com maiores
graus de liberdade - a base de distinção dos tipos de sistemas nesse tópico se encontra na mudança do fluxo de
energia para o fluxo de informação (EMERY e TRIST, 1969; BUCKLEY, 1971).
A mudança de consideração de um modelo de sistema mecânico para um sistema adaptativo, passa
pela idéia de um sistema de processamento de informações, que está diretamente ligado com a transição de
visão de um sistema fechado para o sistema aberto. Ao se chamar um sistema de aberto, está lhe conferindo a
característica de troca com o meio como algo fundamental à sobrevivência do mesmo e sua mutabilidade. À
medida que alterações do meio ocorrem, em sistemas abertos, sua estrutura se adapta a níveis mais elevados
de complexidade do que os anteriores, enquanto que nos sistemas fechados isso poderia significar a sua
dissolução - sistemas abertos possuem uma entropia negativa. Outro elemento vital aos sistemas abertos é
algum nível de tensão do sistema, para assim se manifestar em construção ou destruição (BUCKLEY, 1971).
O conceito de feedback se apresenta enquanto um mecanismo básico dos sistemas adaptativos
complexos, longe do misticismo presente no termo, não só relacionando à busca de objetivos do sistema, mas
sendo viável de forma ampla a sistemas abertos em que características dependem de parâmetros internos que
possuem limites específicos, organizações com desenvolvimento de sensibilidade seletiva para eventos
ambientais de importância, sistemas que existam ferramentas de sensibilidade para distinção de desvios
internos, ou retroalimentação da informação quando algo se torna incompatível para realinhamento do sistema
frente suas metas e critérios. O feedback é uma forma de realimentação, em que a decisão futura se ajusta em
função de uma situação passada. Em uma metáfora ao modelo mecânico pré cibernético, o desenvolvedor do
sistema deveria antever quaisquer contingências a serem enfrentadas pela máquina, enquanto que nos sistemas
adaptativos complexo, a máquina se utiliza das próprias contingências enquanto carga informacional para sua
própria reação (WIENER, 1950; BUCKLEY, 1971).
As características dos sistemas adaptativos complexos enquanto sua abertura, inter-relações de
informação das partes com o meio, realimentação pelos feedbacks, direção a objetivos, conferindo questões
básicas subjacentes a sistemas ditos auto-regulados, auto-direcionados, ou auto-organizados. Segundo Debrun
(1996), existem confusões acerca da relação de uma auto-organização, com uma interseção do próprio prefixo
da palavra. De acordo com o mesmo autor, a partir do momento que se produz a se própria, em uma
reestruturação da forma ao seu próprio processo. Todos esse elementos demonstram que o comportamento de
um sistema adaptativo complexo não é uma relação direta e simples com as forças do meio. Os processos que
ocorrem derivados do meio em um sistema adaptativo complexo podem provocar a manutenção da forma do
mesmo, ou a construção de uma nova forma, ou estrutura. Para uma melhor categorização, se utilizam dois
termos: morfostase - trocas com o ambiente em um sistema adaptativo complexo que promovem a manutenção
e preservação da forma vigente, o exemplo nos sistemas socioculturais pode ser a ideia de ritual; morfogênese -
trocas com o ambiente em um sistema adaptativo complexo que promovem a mudança de sua forma ou
estrutura, um exemplo seria o processo de aprendizado e evolução em sistemas socioculturais. Para Debrun
(1996), pode-se considerar que quando a inexistência de um supervisor não impede a interrelação de elementos
distintos de forma real, e mesmo assim constituem uma nova forma. (BUCKLEY, 1971).
A elaboração de um modelo abstrato de morfogênese leva à conclusão de que um sistema adaptativo
complexo deve manifestar algum grau de plasticidade e/ou tensão na sua relação e troca com o ambiente, algum
mecanismo que permite a variedade de ação em relação à sua própria leitura do ambiente e adaptação, a
capacidade de seleção em relação às contribuições feitas à organização ou sistema frente àquelas que não
contribuem, uma forma de arranjo de propagação e perpetuação para o resto do sistema das leituras adequadas
do ambiente (BUCKLEY, 1971).
A construção de um modelo sociocultural enquanto um sistema adaptativo complexo, Buckley (1971)
diz que ‘’ é do interesse particular a nós que os teóricos da moderna teoria dos sistemas relacionem de perto o
conceito generalizado de organização com o de informação e comunicação’’. O sistema cultural basicamente se
torna um conjunto de elementos em constante ‘’intercomunicação’’ e troca de informação. Outro importante
conceito na explicação das organizações complexas é o de que, uma vez que existe condicionalidade entre
entidades, há ‘’constrangimento estrutural’’ operando entre esses elementos, que limita a capacidade de ação. O
conceito de ‘’graus de liberdade’’ na relação entre as partes também se faz importante à explicação dos sistemas
complexos, se resumem que ao mesmo tempo que existe constrangimento na interação entre os elementos,
existe também uma determinada liberdade de jogo dentro das possibilidades de ação, caso contrário, a
organização é rígida e não dinâmica (BUCKLEY, 1971).
A Teoria da Informação em suas bases matemáticas do modelo de Shannon representa para os
sistemas complexos as relações de sinais, símbolos e mensagens entre ‘’fonte’’ e ‘’receptores’’, considerando
também a existência de ruídos no modelo. Segundo Wiener (1950, p. 17) ‘’informação é o termo que designa o
conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que nosso
ajustamento seja nele percebido”. Ao se considerar a informação como algo que carrega um significado, se torna
compreensível a ideia de mapeamento de significados em um meio num processo seletivo (WEINER, 1950;
BUCKLEY, 1971).
O elemento diferencial dos sistemas sociais pode ser considerado a racionalidade. Dentre as diversas
formas com que a racionalidade é vista nas organizações, destaca-se para os sistemas adaptativos complexos,
o conceito de racionalidade limitada. O modelo de racionalidade limitada de Herbert Simon estipula de que a
racionalidade do indivíduo está limitada à sua capacidade não só de apreensão da carga informacional da
realidade, assim como o seu processamento. Portanto, esse conceito é fundamental para a compreensão das
dificuldades de leitura do ambiente (SIMON, 1955).
Segundo Debrun (1996), a aprendizagem é fundamental para o avenço em outros níveis de
complexidade. O ato se torna fundamental também à compreensão dos sistemas adaptativos complexos uma
vez que a interação em um campo interacional de sistema dinâmico é fundamental ao mesmo (BUCKLEY, 1971).
A descrição das etapas da complexidade se dá para Morin (1986), em prerrogativas da relação entre o
todo e as partes (“o todo é mais do que a soma de suas partes”; “o todo é menor do que a soma de suas partes”;
“o todo é ao memso tempo maior e menor do que a soma de suas partes”).
A consideração da organização enquanto aquela que produz e ao mesmo se autoproduz leva ao
problema das causalidades nas organizações complexas (causalidade linear, circular, ou retroativa), por
exemplo, a linguagem e edução enquanto retroação da própria sociedade (MORIN 1986).
O modelo abstrato de processo morfogenêtico, segundo Buckley (1971), permite a possibilidade de
diversas ideias do processo de gênese e relações de alterações ou manutenção da estrutura social.
A Figura 2 permite observar o funcionamento de um sistema adaptativo complexo. Observa-se a
interrelação entre os elementos, a entrada e saída de informação constante, a leitura do ambiente pelos
inseridos no sistema, que dessa interação originam uma situação de emergência e assim um comportamento de
adaptação em um ambiente em mudança. O loop de feedback retroalimenta o sistema e mantém em uma
dinâmica de adaptação.
Figura 2- Representação esquemática de um sistema adaptativo complexo
Fonte: Commons Wikimedia /Adaptação do autor
3. Metodologia
A pesquisa aqui proposta pode ser classificada como teórica, uma vez que é orientada à reconstrução
da teoria, conceitos, quadros de referência e discussões pertinentes. A pesquisa do tipo teórica não implica
necessariamente uma intervenção na realidade, mas se faz importante para a criação de um corpo de
conhecimento para tal intervenção futura (DEMO, 2000). Neste trabalho, se visa basicamente o confronto teórico
entre Sistemas Adaptativos Complexos e o surgimento das Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD)
(ainda que se apresente alguns exemplos).
Segundo Vergara (2014), o tipo dessa pesquisa é descritivo e explicativo, devido ao fato de haver a
exposição e categorização de um determinado fenômeno.
O método de pesquisa aqui empregado é o dedutivo. A fonte de coleta de dados é por meio de uma
pesquisa bibliográfica, que se caracteriza como uma fonte de coleta de dados secundária. De acordo com
Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao
tema estudado, sua finalidade é o contato do pesquisador com o máximo de publicação de conhecimento na
área já feito. Segundo Vergara (2000), a pesquisa bibliográfica fornece instrumental analítico para quaisquer
tipos de pesquisa.
O objeto de pesquisa a ser estudado são as Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD - ou
‘’Decentralized Autonomous Organizations’’ -DAO).
Os dados a serem analisados são secundários, por se tratarem de livros e artigos, pesquisados e
publicados por outros autores de referência na área.
As limitações deste trabalho se referem à falta de acesso a material sobre os temas estudados em
lingua portuguesa (limitação a ser amenizada pela leitura em língua inglesa), e à dificuldade de leitura dos
materiais de estudo em línguas da Ásia (área de grande pesquisa sobre o tema). Outra limitação se dá ao
caráter pouco explorado dos temas, o que dificulta o acesso a outros pesquisadores da área. A construção da
pesquisa se deu pela escolha do tema mediante viabilidade com a proposta da disciplina de Teoria das
Organizações, seleção de artigos e livros sobre OAD´s e Blockchain, posteriormente foi feita uma retomada de
leitura do material da disciplina de Teoria Das Organizações, separou-se as categorias de análise de Sistemas
Adaptativos Complexos, e então se verificou o estabelecimento de relações entre as categorias de análise e
OAD´s.
Fonte: Elaboração do autor
4. Análise
A seção aqui descrita possui o objetivo de descrever o objeto de estudo, assim como demonstrar as
unidades de análise usadas para comparação do objeto com a teoria escolhida. Após isso, cada unidade de
análise será discutida em relação ao objeto exposto e algumas inferências lógicas serão extraídas.
4.1 Descrição do Objeto
As Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD´s - ou Decentralized Autonomous Organizations
DAO) se caracterizam como organizações descentralizadas e com diretrizes formalizadas e codificadas, que se
utilizam da tecnologia Blockchain, cujas regras só podem ser alteradas caso um determinado número de
stakeholders da organização (também chamados de token holders) participarem de um sistema de votação a
favor da alteração (WILT, 2017).
O surgimento da tecnologia Blockchain (inicialmente desenvolvimento como a base tecnológica para a
criação do Bitcoin) em 2008, por Satoshi Nakamoto em ‘’Bitcoin: A Peer to Peer Electronic Cash System’’
procurou solucionar os problemas até então existentes em um sistema de computação distribuído
descentralizado (que se pode estender a qualquer sistema social ou de governança). A questão da confiança
exigia até então a existência de uma terceira parte confiável, a qual era atribuído o poder de agente centralizador
e intermediário, que garantiria o respeito às regras previamente estabelecidas (pode-se pensar desde bancos
até instituições de cartórios). O problema conhecido em Teoria dos Jogos como ‘’Problema dos Generais
Bizantinos’’ se refere a um jogo proposto em que se imagina três generais bizantinos em uma situação que
devem decidir um ataque coordenado, o ataque só será bem sucedido se os três tomarem a ação de ataque ao
mesmo tempo, caso algum general decida por não atacar, aquele que realizar o ataque perderá o jogo. O
problema proposto se reflete na dificuldade de se manter a crença no comportamento honesto e confiabilidade
da informação passada entre um sistema de nós distribuídos em um determinado jogo, uma vez que tal
mensagem poderia ser interceptada, ou passada de uma maneira falsa por um nó que desejava se comportar de
maneira desonesta às regras do jogo (ANTONOPOULOS, 2016). O Problema dos Generais Bizantinos pode ser
ilustrado na imagem abaixo, em que o general 2 (grifado) apresenta um comportamento desonesto e transmite a
informação de uma maneira falsa
A solução verificada por Satoshi Nakamoto (2008) se referia a mecanismos de transparência da
informação e um sistema de valor (criptomoeda), em que cada nó deveria realizar uma prova de esforço ao ato
de verificar e auditar o Blockchain (ULRICH, 2014).
O segundo problema o qual a tecnologia Blockchain procurou solucionar é o de chamado Gasto Duplo,
em que, numa era da Internet, como se conseguiria garantir a integridade de algum pedaço de informação, não
garantindo a sua duplicação. Tal solução foi possível por meio de funções criptográficas denominadas funções
hash, que nada mais são do que operações matemáticas que demandam um alto gasto computacional para
serem revertidas, sendo direcionadas a apenas um lado da igualdade, e com um mesmo número de caracteres
Fonte: Nicosia (2018)
gerados para quaisquer sejam os tamanhos do input da função (ANTONOPOULOS, 2016). Na figura abaixo é
possível verificar as relações de que para cada palavra, as suas funções hash possuem caracteres diferentes,
não sendo possível o reconhecimento de padrões de escrita ou registro, essa relação garante uma maior
autenticidade ao registro de dados, e a verificação da função hash de uma determinada informação demonstra a
sua não alteração (uma vez que matematicamente, caso algum dado da informação seja alterado, toda a sua
função será alterada).
As discussões matemáticas e computacionais da tecnologia Blockchain fogem o escopo deste trabalho.
Porém, uma compreensão básica do Blockchain é necessária para um maior entendimento do objeto
Organizações Autônomas Descentralizadas. A tecnologia Blockchain é um sistema de banco de dados
distribuído e descentralizado, sem uma autoridade central, de consulta pública. Pode ser imaginado como um
livro-razão distribuído, e funciona por regras matemáticas pré estabelecidas, é mantido pelos chamados nós que
sustentam a rede por meio de disponibilização de armazenamento computacional. Os sistemas de Blockchain
podem ser alterados, porém, apenas mediante maioria em votação onde cada nó possui um voto ponderado ao
seu poder computacional disponibilizado na rede (ULRICH, 2014).
O surgimento das Organizações Autônomas Descentralizadas também foi possível com o advento do
conceito de contratos inteligentes, pelo jurista e programador Nick Szabo (2005). Segundo o autor, contratos
inteligentes são contratos escritos de forma em código computacional, descentralizados e auto executáveis. Tal
instrumento só teve sua possibilidade tecnológica em 2014 por Vitalik Buterin. A figura abaixo demonstra a
representação visual dos conceitos de centralização, descentralização e sistemas distribuidos.
Fonte: steemit
Figura - Demonstração de Funções Hash
Fonte: Nicosia (2018)
O conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD) advém do campo dos estudos em Inteligência
Artifical (Swan 2015), e foi implementado no campo dos estudos em blockchain por Vitalik Buterin (2014). De
acordo com Buterin (2014), uma OAD, em um plano de abstração, se configura como uma entidade que se
encontra na internet, a sua existência é autônoma, mas ainda necessita de indivíduos para a execução de
tarefas cuja automação ainda não é capaz de realizar
As organizações autônomas descentralizadas, segundo Garrod (2016), e Jentzch (2016) podem ser
definidas enquanto organizações que funcionam em uma Blockchain, com suas regras de governança
formalizadas e automatizadas em programa de computador. O seu funcionamento em uma Blockchain está
relacionado ao fato de que o processo de tomada de decisão é realizado de forma descentralizada, e as funções
de gestão são diretamente relacionadas ao funcionamento de um programa computacional (WRIGHT e DE
FILIPPI, 2015; GARROD, 2016).
O conceito de OAD´s ainda é muito recente, visto o caráter recente da tecnologia, mas espera-se que
no futuro, mais modelos desse tipo de organização surjam. Um exemplo de organização do tipo a ser citada é a
DigixDAO, uma espécie de plataforma de financiamento coletivo comparada a uma plataforma de oferta pública
de ações (IPO) do mercado financeiro tradicional (GLAZER e BEZZENBERGER, 2015). A figura abaixo
apresenta uma representação visual de uma OAD:
4.2 Unidades da Análise dos Sistemas Adaptativos Complexos para as Organizações Autônomas
Descentralizadas
A seção a seguir busca resgatar os conceitos já explicitados de sistemas adaptativos complexos,
componentes, interação, emergência e graus de liberdade dos sistemas adaptativos complexos aplicados ao
conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas. A figura abaixo permite a visualização esquematizada
das unidades de análise e seus conceitos, procurou-se as elaborações de autores clássicos, e uma
representação didática das unidades de análise.
Fonte: whalereports / adaptação do autor
4.2.1 Sistemas Adaptativos Complexos e Organizações Autônomas Descentralizadas
Seguindo os conceitos de Buckley (1971) e Stacey (1996), as Organizações Autônomas
Descentralizadas podem ser consideradas um Sistema Adaptativo Complexo - uma vez que tem as categorias
de componentes e adaptação na sua base, e a relação de interrelações dos componentes de forma necessária à
manutenção do mesmo.
4.2.2 Componentes e Organizações Autônomas Descentralizadas
Os componentes de uma Organização Autônoma Descentralizada, pelo conceito de Buckley (1971)
pode se referir aos stakeholders das OAD´s. Porém, tal conceito existe a possibilidade de expansão, uma vez
que dentro das OAD´s existe também o componente ‘’agente autônomo’’, que segundo Buterin (2014), são
agentes em um diferente espectro da automação, que não é necessário envolvimento humano à sua existência,
excluindo o esforço humano da criação de seu mecanismo de onde surge. O autor ainda reforça que ainda que
os elementos humanos não conheçam a existência do agente autônomo, isso não interfere não sua existência.
Vitalik Butrein reconhece a dificuldade de criação de um agente autônomo e lança como proposição futura.
4.2.3 Interação e Organizações Autônomas Descentralizadas
Segundo Buckley (1971), a interação é algo fundamental à existência do sistema, uma vez que a troca
de informação é a sua forma de retroalimentação por meio dos feedbacks. Nas Organizações Autônomas
Descentralizadas é possível se verificar de que a interação ocorre apenas até certo ponto, principalmente na
delimitação e criação das regras dos smart contracts da organização. Depois desse momento, essa interação
ainda que exista, ocorre em menor grau.
4.2.4 Emergência e Organizações Autônomas Descentralizadas
O conceito de emergência de George Henry Lewes (1875) retrata no caso das OAD´s a relação de auto
reprodução da organização, enquanto que a auto-execução das regras previamente estabelecidas, podem a
determinado momento gerar uma nova questão a ser debatida pelos stakeholders. Em casos de escalabilidade
desse tipo de organização, se observa o processo de emergência frente a possibilidades futuras, e desafios.
4.2.5 Graus de liberdade e Organizações Autônomas Descentralizadas
Segundo Buckley (1971), os graus de liberdade aparecem dentro de um sistema complexo dentro de
um mecanismo limitado de ação, quando um sistema apresenta determinado grau de coercitividade, o que
delimita sua possibilidade de ação. Tal conceito pode ser relacionado nas OAD´s com relação não só ao fato de
que uma vez geradas as regras, grande parte da ação se limita a avaliação do sistema e novas proposições,
assim como no momento que se tem stakeholders que se destacam em um sistema de reputação e prestigio
próprio desse sistema, gerando coercitividade frente a novas propostas, diminuindo assim o espaço de ação dos
agentes menos expressivos.
A figura abaixo demonstra a integração das unidades de análise de SAC e OAD´s
Fonte: elaboração do autor
5. Conclusões
As conclusões a serem retiradas do trabalho é que se buscou a conclusão satisfatória, ainda que inicial
dos objetivos propostos. Acredita-se que foi atingido o objetivo de apresentar as Organizações Autônomas
Descentralizadas (OAD´s), assim como apresentar de forma extensa os conceitos e reflexões acerca da Teoria
dos Sistemas Adaptativos Complexos, e resgatar a literatura de Teoria das Organizações.
As proposições aqui apresentadas das relações das unidades de análise (sistemas adaptativos
complexos, componentes, interação, emergência e graus de liberdade) se realizam em uma espécie de ensaio
para estudos futuros. No plano das ideias, o conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas parecem ter
uma relação com os elementos de Sistemas Adaptativos Complexos. O que se falta verificar é essa relação em
termos práticos.
As relações teóricas de sistemas podem ter sido bem evidenciadas até mesmo pelas relações homem-
máquina característica do tipo de organização abordado, portanto, sendo fácil a visualização do desenho das
OAD´s de forma similar a um sistema.
Restrições nos estudos aqui apresentados se dão no fato de existir pouco material teórico sobre esse
tipo de organização, se tornando restrito a pontos de vista diferentes a serem confrontados, e a ainda pouca
aplicação prática do conceito. Ainda que apresentem problemas na vida prática, as OAD´s são um objeto de
estudo interessante, uma vez que caminham rumo ao desenvolvimento tecnológico e computacional, o que
parece ser uma tendência frente ao impacto da tecnologia na organização.
Estudos futuros podem procurar relacionar as Organizações Autônomas Descentralizadas em outras
aplicações, assim como, nas possibilidades de sua aplicação no setor público. Sugere-se também uma revisão
bibliométrica do tema, para assim, se ter a real noção dos desenvolvimentos do estudo no Brasil e mundo.
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Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD) enquanto Sistemas Adaptativos Complexos: Blockchain nas Organizações

  • 1. Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD) enquanto Sistemas Adaptativos Complexos: Blockchain nas organizações Lucas Costa Correia Resumo O artigo aqui proposto possui o objetivo de relacionar as Organizações Autônomas Descentralizadas com a teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos. A tecnologia originada das criptomoedas, Blockchain, tem levantado questões acerca das possibilidade de sistemas distribuídos e(ou) descentralizados de governança e confiança. Dessa forma, surge o conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas, enquanto organizações geridas por um conjunto de regras auto executáveis em linguagem de computação, que possuem suas diretrizes por votação dos seus stakeholders. O trabalho se caracteriza de forma teórica, contrapondo teoria-teoria, por meio de revisão bibliográfica e extensa discussão do assunto. As conclusões obtidas, são que ainda que as discussões sejam inicias, as Organizações Autônomas Descentralizadas podem se relacionar com as unidades de análise dos Sistemas Adaptativos Complexos. 1. Introdução A era da internet trouxe consigo diversas novas tecnologias, desde o e-mail até a indústria dos grandes bancos de dados. Tais inovações resultam em uma intensificação massiva dos fluxos de informação, promovendo uma alteração na organização do trabalho. Novas formas de organização surgem, à medida que a luz da Teoria das Organizações permite uma maior compreensão de tais fenômenos. Segundo Tapscott e Tapscott (2016, p.34) ‘’a tecnologia não cria prosperidade mais o que destrói a privacidade. No entanto, nesta era digital, ela está no cerne de praticamente tudo, seja bom ou ruim’’. Se faz necessário então, o entendimento de novos fenômenos respaldados nas categorias analíticas validadas pelo corpo teórico organizacional já existente. A abordagem da Teoria Geral dos Sistemas permite uma compreensão de fenômenos em uma perspectiva mais integral, uma vez que envolve o entendimento das relações de interdependências entre os elementos componentes do sistema, visualizando características emergentes do processo de interação que até então não eram percebidas nos componentes isolados (BERTALANFFY, 1968). Segundo Appiah (2017), o advento de um novo tipo de economia - a economia ponto a ponto - provoca uma mudança na cultura organizacional, a refletindo enquanto um sistema complexo distribuído. De acordo com a autora, a filosofia por trás desse tipo de sistematicidade se direciona ao potencial de emergência dos sistemas complexos autônomos auto-organizáveis. O tema do trabalho aqui proposto são Organizações Autônomas Descentralizadas e Sistemas Adaptativos Complexos. A pesquisa aqui apresentada visa verificar se as Organizações Autônomas Descentralizadas podem ser consideradas formas de Sistemas Adaptativos Complexos (Buckley 1971). Dentre os objetivos do trabalho, se encontram: a apresentação do conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas, a apresentação da literatura de Sistemas Adaptativos Complexos, e a apresentação de uma trajetória da Teoria Das Organizações. O advento da tecnologia Blockchain por meio do surgimento das criptomoedas permitiu o desenvolvimento de uma série de aplicações. Enquanto a tecnologia Blockchain fornece um sistema de base de dados distribuídos e com possibilidade de verificação e transparência, outras formas de adoção foram sendo implementadas em situações de que se era necessário um mecanismo de geração de descentralização, ou confiança sem a necessidade de uma terceira parte envolvida (ULRICH, 2014). As Organizações Autônomas Descentralizadas surgem então por meio da tecnologia blockchain, numa proposta de modelo de organização auto gerida e com regras formalizadas em código computacional, com sistemas de governança característicos e que só podem ser alterados por meio de votações de seus stakeholders (BUTERIN, 2014). A complexidade das relações organizacionais em um ambiente altamente tecnológico sugere o seu entendimento enquanto um Sistema Adaptativo Complexo, em que a carga informacional exerce uma influência nesse sistema altamente adaptativo, que se baseia na interrelações de seus componentes, e os ciclos de feedback que retroalimentam o seu funcionamento (BUCKLEY, 1971). A justificativa do presente estudo se dá pela novidade dos conceitos expostos e o esforço de trazer à luz da Teoria das Organizações questões atuais como o surgimento das Organizações Autônomas Descentralizadas, e a tecnologia Blockchain. Tal proposta de estudo pode contribuir para uma maior noção dos
  • 2. reais impactos desse tipo de organização, bem como as dificuldades a serem enfrentadas pelo seu caminho de desenvolvimento. Espera-se também contribuir de alguma forma para a literatura desse campo de estudos emergente. A pesquisa é de cunho teórico e possui como principal instrumento, a revisão bibliográfica de livros e artigos, buscando a confrontação dos modelos teóricos referenciados. Além dessa seção introdutória, o trabalho é divido em outras 4 seções: a seção 2 se apresenta como um referencial teórico, cuja primeira parte possui o objetivo de realizar uma trajetória da Teoria das Organizações desde uma visão mecanicista das organizações, até uma noção do realismo crítico, e a segunda parte do referencial teórico, cujo objetivo é trazer luz à Teoria Dos Sistemas Adaptativos Complexos; a seção 3 se apresenta com a metodologia do trabalho proposto, explicando as proposições de pesquisa como deve ser conduzida; a seção 4 se configura como uma exposição do objeto e breve análise frente às categorias de Sistemas Adaptativos Complexos e Organizações Autônomas Descentralizadas; e a seção 5, que se apresenta como uma breve conclusão a respeito do trabalho realizado. 2. Referencial Teórico 2.1 Trajetória Histórica da Teoria das Organizações O objetivo dessa seção é apresentar uma trajetória da Teoria das Organizações, tratando dessas suas contextualizações históricas e formas de abordagem da sua concepção, até seus desenvolvimentos atuais. Segundo Freddi (1998), a definição do termo ‘’Teoria da Organização’’ não apresenta uma concepção fechada. Para fins de primeira análise, pode ser definida em enquanto ciência social do estudo das organizações, não descriminando qual tipo de organização, e com uma abordagem multidisciplinar. É importante salientar que, segundo Friedberg (p. 375, 1996) ‘’a expressão ‘’organização’’ remete, por um lado, a um objeto social, por outro, a um processo social que está no cerne da ação humana’’. De acordo com Reed (2009), as origens históricas dos estudos organizacionais podem ter sua relação com os estudos de sócio-política do século 19, que buscavam o entendimento das mudanças estruturais trazidas pela modernização e transformações do capitalismo industrial. Figura 1: Representação esquemática de integração entre fases da teoria social com a teorização organizacional e suas epistemologias fundacionais, a partir da classificação da teoria social em três fases, proposta por Buckley (1967[1971]) Fonte: Pimentel (2012) A Figura 1, de Pimentel (2012) permite a visualização didática das fases de desenvolvimento da Teoria das Organizações a ser descrita nessa seção. A importância da Figura 1 se dá na demonstração de que dentro das diversas fases dos estudos organizacionais, existem momentos de simultaneidade em relação a forma de se enxergar tal objeto, assim como seus momentos de ruptura. A perspectiva histórica dos fundamentos iniciais de uma teoria para as organizações cabe à compreensão por meio do entendimento da chamada ‘’dupla revolução’’, que se dá em um período entre 1789 e 1848. Por meio das revoluções Francesa e Industrial pode-se ter o chamado triunfo do capitalismo e a formação da classe burguesa, assim como a indústria capitalista. A dupla revolução permite o estabelecimento da força
  • 3. dos estados nacionais Grã Bretanha, com uma perspectiva industrial, e França, com sua perspectiva mais política. As condições sociais da época eram muito distintas das atuais, desde relações de extensões geográficas, questões demográficas e até mesmo climáticas. Contextualiza-se a população de 1780 enquanto de maioria rural, com tal fato impactando todo o questionamento da realidade vivida, e até mesmo os primeiros estudos fisiocratas. A Revolução Industrial tem então seu ponto de partida na Inglaterra de meados de 1830, em uma primeira ruptura na história humana entre a capacidade de reprodução de homens, mercadorias e serviços, com dominância da industria têxtil nos primeiros tempos de produção industrial. Enquanto a Revolução Industrial dá as diretrizes econômicas do século 19, a Revolução Francesa dá as diretrizes ideológicas e políticas. como um primeiro movimento de ideias da cristandade ocidental de impacto global (em relação ao mundo conhecido da época)(HOBSBAWM, 2009). A compreensão do desenvolvimento da teoria das organizações se dá com uma compreensão daqueles que foram os antecedentes da organização racional do trabalho. O trabalho nas sociedades modernas é algo institucionalizado e com natureza substantiva, com relação direta à colocação do homem em um determinado grupo social. Nas sociedades primitivas, a mentalidade primitiva não era capaz de assimilar o trabalho de forma racionalizada, com as tarefas designadas por sexo, idade, condicionadas à biologia do indivíduo ou preceitos mágicos. A Idade Média já é marcada por uma mudança de relação acerca do trabalho na sociedade, no período se proclama em um plano metafísico a dignidade do trabalho, porém, forma-se uma nobreza ociosa, que se orgulhava de não trabalhar e se incubiam de tarefas consideradas superiores como a guerra, sacerdócio, em um período de imobilidade social e pouco avanço na ciência. O Renascimento aparece então como um período que há o primeiro esforço de racionalização das relações para com o trabalho. A Revolução Industrial, posteriormente, se torna então, a grande disruptura nas relações sociais do ocidente, quando ocorre a formação das grandes cidades industrais, aumento populacional e maior mobilidade social (RAMOS, 2008). Pode-se dizer que a organização racional do trabalho se inicia de forma sistemática e com relevância histórica com Taylor (1856-1915), com a racionalização de tarefas, e com aplicações do método científico, com decomposição de operações para análise, e recomposição racional do trabalho enquanto ciência. O corpo de idéias do taylorismo é construído enquanto instrumento de racionalidade, e difusão de métodos de estudo, com tratamento científico de tempos e movimentos (RAMOS, 2008; HELOANI, 1994). A consolidação do Taylorismo se dá de forma paralela às tentativas de novas propostas de gestão da produção de Henry Ford, a qual se deu o nome de fordismo. Tal modelo se baseia em um novo conceito de linha de montagem, em que a movimentação dos trabalhadores é limitadas e é imposto um determinado ritmo de trabalho pela esteira de produção. As crises de 1929; o nazi-fascismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial marcam o impulsionamento desses primeiros sistemas de organização racional do trabalho de visão mecânica. Vale lembrar também as concepções de Fayol (1990) sobre a perspectiva racional dedutiva em se estudar o processo de trabalho em observância de características, leis gerais e transmissão de conhecimento para futuras direções. Em uma concepção de que as organizações são estruturas formais de instrumento racional para o alcance de determinados objetivos, da chamada teoria clássica ou ortodoxa em Teoria das Organizações (RAMOS, 2008; HELOANI, 1994; SELZNICK 1948; PIMENTEL, 2012). A emergência da administração científica está inteiramente ligada aos estudos de Max Weber. De acordo com Morgan (2002), a teoria da mecanização enxerga as empresas enquanto entidades com alto grau de planejamento, racionalidade e estruturação, sendo organizações burocráticas. Segundo o mesmo autor, Max Weber define a burocracia administrativa enquanto rotina processual da administração de forma similar à mecânica, em que se via uma possibilidade de mecanização da totalidade da vida humana devido seus efeitos na sociedade como um todo. O modelo weberiano inspira bastante a literatura da chamada Teoria das Organizações, desde as vertentes de cunho funcionalista, até mesmo a escola francesa de sociologia. De acordo com o autor, apesar de não atingir o núcleo de metodologia de Weber em relação ao modelo burocrático, no contraponto organizações concretas e modelo, é muito utilizado a noção das construções do tipos ideias weberianos. Principalmente em uma abordagem da estrutura organizacional e seus aspectos formais, normas e papéis, com maior verificabilidade de eficiência, adequação racional e controle (WEBER, 1968; PIMENTEL, 2012; CLEGG e DUNKERLEY, 1980). A visão dos indivíduos nas organizações surge com diferencial na teoria neoclássica, baseada numa visão orgânica de organização, muito pela insuficiência de certas explicações do cunho mecanicista, principalmente pelo questionamento dos campos da psicologia social e sociologia dos estudos da organização enquanto entidades sociais e das relações informais da dinâmica organizacional, segundo Pimentel (2012). Nos primeiros estudos das relações humanas não se pode deixar de citar seu predecessor Elton Mayo. A experiência de Hawthorne em 1927 Western Electric Company de Chicago é um importante marco para um desenvolvimento de teoria organizacional diferente da mecânica, considerado por Mouzelis (1975), o início do estudo do campo das relações humanas na organização. Ainda que partindo das ideias racionais e de verificação de eficiência, Mayo conclui a necessidade de se estudar elementos humanos mais profundos quando
  • 4. a produtividade aumentou ainda que fatores do ambiente fossem manipulados. Sugere-se a existência de variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho, características informais da organização, satisfação e pertencimento (MAYO, 1972). A Escola de Relações Humanas, marca um grande acontecimento que é o de se considerar a influência das interações humanas e sociais nos resultados de uma organização, suas proposições centrais demonstram que a motivação do indivíduo nem sempre é relacionada ou suficiente ao incentivo financeiro, que as relações de grupo podem possuem maior impacto ao indivíduo às suas reações, e que a especialização funcional não é necessariamente uma garantia de maior eficiência (MOUZELIS, 1975; PIMENTEL, 2012). As teorias organizacionais contemporâneas podem ter seu início por meio da revisão sistemática daquelas anteriores, ainda que não tivessem intenção de ruptura total das mesmas. Pode-se então considerar três grandes escolas da teoria organizacional da segunda metade do século 20, sendo: teoria dos sistemas (ampliada à teoria da contingência); escola da tomada de decisão, que tem seus inicio em Herbert Simone se desenvolve posteriormente à teoria cibernética (muito importante o trabalho aqui proposto); modelos de ação organizacional, inspirados na teoria da ação social (FREDDI. 1998; PIMENTEL, 2012). A Teoria dos Sistemas surge como uma importante abordagem às organizações durante o século 20, estabelecendo uma série de metáforas sobre o objeto de estudo e enquanto óticas do fazer científico. Ainda que existam diferentes correntes dentro da Teoria dos Sistemas, é possível se identificar a busca pelo estudo de seu objeto enquanto sistemas de variáveis interdependentes e seus temas em comum (PIMENTEL, 2012). Existe uma dificuldade na delimitação de uma organização, e portanto, sua dificuldade de compreensão enquanto sistema está ligada também à localização e identificação. O modelo teórico proposto de sistema para a organização parte do princípio de que as mesmas se tratam de um sistema aberto, com sua relação de energia input-output, com o output reativando o sistema. A inspiração do modelo advém da teoria de sistemas abertos de Von Bertalanffy (1956), que foca seu interesse nos problemas de relações da estrutura e interdependência, e apresenta características dos sistemas abertos, como: importação de energia; transformação; entropia negativa; estado firme e homeostase dinâmica; dentro outras. Os modelos de sistemas sociais são diversos, e conectados com outras áreas da ciência, por exemplo, no modelo Mecânico a visão da mecânica social se assemelhava à astronomia, com inspiração nos estudos da física e matemática na busca de equilíbrio; no modelo Orgânico busca-se uma analogia aos estudos das ciências biológicas com caracterizações sociais de organização biológica, ou agregado ecológico (de onde se parte o conceito de morfogênese enquanto foco de manutenção e construção estrutural do sistema); modelo de Processo, em que a sociedade é vista enquanto sistema multifacetado e complexo; Parsons e Homans; dentre outros (KATZ e KHAN, 1976; BUCKLEY, 1971). A ampliação da Teoria dos Sistemas, ao verificar uma interdependência da organização e o ambiente externo gerou uma série de pesquisas sobre como os aspectos internos de uma organização poderiam ser influenciados pelas variações do ambiente (por exemplo estratégia, e tecnologia). Dessa nova abordagem surge uma visão mais integradora, denominada Teoria da Contingência, em que, as organizações se adaptam (estrutura, custos, legitimação) à instabilidade do ambiente, e sua tomada de decisão ligada à situação do momento, considerando também os cenários anteriores (PIMENTEL, 2012). A Teoria das Organizações se desenvolve em diversas formas de se ver a organização. O Institucionalismo foca então nos processos simbólicos, e na produção simbólica de determinadas práticas, pode- se dizer que conforme a organização cresce, a sua importância simbólica também aumenta. Deve-se considerar que antes dos anos 70, a organização era considerada enquanto um ‘’super indivíduo’’, após esse período, passa-se então discutir o processo de como se conhece a realidade pelo ponto de vista das ações cotidianas (especialmente depois de ‘’Construção Social da Realidade’’ de Berger e Luckmann, 1973). Atinge-se a ideia de processo socialmente construído e ser socialmente construído, com os processos humanos sendo frutos da elaboração de um conhecimento para a resolução do problema de não conhecer a sociedade. Berger e Luckmann nomeiam a construção social e elaboração de uma norma social, outros pesquisadores passam então a discutir a organização de uma perspectiva institucional, voltando-se ao conflito social e as relações de eficácia simbólica. Aceita-se a perspectiva de uma ordem volátil, em uma desnaturalização do mundo humano, e considerações de um isomorfismo mimético. Pode-se dizer que se divide essa ótica em três grandes campos: Institucionalismo Histórico; Institucionalismo Racional; Institucionalismo Sociológico (MEYER, 1977; SCOTT 1987; SELZNICK, 1996; HALL, 1984). A formulação consequente da Teoria dos Sistemas sobre o grau de sistematicidade da organização parte de ideias iniciais de sistemas mecânicos para sistemas em que são adicionados níveis socioculturais e orgânicos, com componentes inter relacionados cada vez mais complexos e instáveis, e uma classe nova de problema do sistema sociocultural, que é a racionalidade. Dessa forma, Buckley (1971), elabora um modelo de Sistema Adaptativo Complexo, sendo mais adaptado às ciências sociais, que se perpetuam ao longo do tempo sem a dependência de um conjunto finito de objetos biológicos, a informação sendo basilar para ajuste com o meio, e com elementos de tensão social (elemento para processo de mudança); morfogênese (elaboração de
  • 5. uma forma com junção de componentes que resultam em uma forma maior); morfostase (manutenção e reprodução da forma); multicasualidades; e diferentes graus de sistematicidade. Morin (1986), dialoga com Buckley não só apresentando relações da ordem e desordem dos sistemas adaptativos complexos (equivalentes a coerção e graus de liberdade), mas também demonstrando relações de causalidade circular (BUCKLEY, 1971; MORIN, 1986). O trabalho de Herbert Simon e a Teoria da Decisão se torna muito importante (também para o trabalho aqui proposto, o qual será apresentado em maior detalhes na próxima seção), e demonstra uma renovação no modelo de racionalidade para a teoria da administração. Ao fim da década de 40, a escola fundada por Simon coloca em análise o processo de formação da decisão e abarca uma maior complexidade. Herbert Simon acreditava que a Teoria das Organizações só teria utilidade se admitisse a racionalidade enquanto limitada e dependente de toda uma contextualização organizacional. Simon (1965) funda o conceito de racionalidade limitada, ao considerar que a informação é sempre incompleta e impossível de se conhecer em sua totalidade, e que os elementos do contexto da ação são fundamentais para compreender o comportamento do ser humano (assim como o passado) (PIMENTEL, 2012). O embate do agente e estrutura entra na discussão nos estudos acerca da questão dos campos e estruturação. O trabalho de Bourdieu (2001) estrutura o campo enquanto formado pela ação dos agentes que o alteram, e de acordo com seu volume e capital específico, exercem pressão sobre o conjunto de outros agentes, seja por meio de diversas formas de capital (financeiro; cultural; social; e principalmente, simbólico). O autor também considera como habitus o processo de socialização (aprendizado), em que chama de ‘’subjetividade socializada, transcedência histórica cujos esquemas de percepção e de apreciação são o resultado da história coletiva e individual’’ (Bourdieu, 2006, p.290). Segundo Giddens (2003), existe uma ideia de retroalimentação da ação, e a capacidade do agente modificar um processo ou estado por meio de poderes causais. A busca por uma sociologia das organizações se estende por diversas elaborações, dentre elas a da teoria da ação. Segundo Silverman (1971), as formas de explicação funcionalistas dependem da visão de sistema social para se tornar satisfatório, com a abordagem estrutural funcionalista sendo sugestiva e deficiente em alguns pontos. De acordo com o mesmo autor, o homem complexo possui diferentes percepções de acordo com suas experiências, que geram diferentes significados de um entendimento da realidade. De acordo com Guerreiro Ramos (2008), a ação social do trabalho parte do indivíduo e realiza uma nova abordagem substantiva das organizações , e desenvolve um modelo multidimensional, e se usa de outros enclaves da orientação do sistema e capacidade de atualização do indivíduo. A realização de críticas epistemológicas para preenchimento de lacunas na teoria organizacional se estende aos trabalhos de Weick, como por exemplo nos estudos da construção de sentido (sensemaking), em que se busca o propósito de dar sentido à informação, e realizar um desenvolvimento retrospectivo de imagens plausíveis da racionalização da ação humana. O pensamento de Weick está calcado no interacionismo simbólico, e reconhece a capacidade de reatividade da organização limitada a situações previamente reconhecidas ( ampliando a ideia de racionalidade limitada para relações de poder e troca de formação das instituições) (PIMENTEL, 2012; WEICK, SUTCLIFFE e OBSTFELD, 2005; DAFT e WEICK, 1984; MONTENEGRO e CASALLI, 2008). Os fundamentos da ação coletiva organizada possuem em Crozier e Friedberg e a escola francesa de sociologia das organizações uma forma alternativa ao paradigma positivista de pesquisa e como capturar a realidade. A escola francesa de sociologia possui um intenso empréstimo intelectual da sociologia organizacional estadunidense, especialmente sobre as relações de poder e racionalidade limitada. Porém, Crozier e Friedberg se distanciam do modelo estadounidense por meio da perspectiva do estudo clínico, em que se desenvolve uma ideia de pesquisa que conhece e ao mesmo tempo intervém na realidade, captando de forma sistemática e intervindo nas características individuais no sistema e como tal situação o afeta, com uma lógica subjacente de mudança cultural via aprendizado. Pode-se dizer que os conceitos centrais da abordagem de tais autores são a noção de ator estratégico (posicionamento dos atores condicionado ao interesse próprio), sistema de ação (delimitação do sistema social de realidade), e poder enquanto capacidade de ação (articulação das noções ator- sistema). No ponto de vista em relação ao Estado, Jímenez o aponta enquanto forma especial de organização, concreta, porém que não é monolítica (PIMENTEL, 2014; FRIEDBERG, 1992; JÍMENEZ, 1998; CROZIER, 1998). Os limites de interpretação entre o ser e o conhecer (o ser) por diversas vezes na teoria organizacional se passam por confusos, principalmente em relação a um crítica pós moderna. Como na teoria das redes de ação, em que Barbara Czarniawska (2013), pela visão percebida das organizações enquanto ferramentas para objetivos em comum, identifica que enquanto ferramentas, a sua existência é sólida e não deve ser ignorada, mas que podem se tornar um próprio impedimento à conquista dos objetivos comum. A teoria das redes de ação então é importante para construção da identidade dos atores e reflete a capacidade de dissociação, modificação e deslocamento de interesses, com o poder também sendo uma consequência dessas relações entre
  • 6. coletividades. É possível também identificar críticas às relações espaço-tempo da condição pós moderna nos trabalhos de Harvey (2012), ou a visão do saber científico no cenário pós moderno de Lyotard (1979), conectando relações de informação, poder e legitimação (CZARNIAWSKA, 2013; HARVEY, 2004; LYOTARD 1989). As relações entre organizações e realidade parecem ter alternativas ao positivismo e à questão ontológica na corrente de Realismo Crítico, com a teoria das organizações como parte integrante da recente ‘’virada realista’’ desenvolvida por Roy Bhaskar, com a interpretação da realidade em seu sentido ontológico. Acredita-se que a teoria sobre o ser não se reduz à teoria do conhecimento, tendo uma existência própria nas coisas, não dependente das descrições dos objetos. Segundo Pimentel (2014), o debate sobre realismo crítico possui como guia, a reivindicação do domínio ontológico, com a discussão científica pautada nos argumentos filosóficos. Pode-se dizer que o realismo crítico aprofunda base filosófica para o fazer científico. Em resumo, a realidade é externa e independe do indivíduo, muito menos de sua percepção a ela (ainda que os tipos de realidade sejam divididos em material, ideal, artefactual, e social) (PIMENTEL 2014; PIMENTEL e RODRIGUEZ, 2017; VANDENBERGHE, 2014). 2.2 Sistemas Adaptativos Complexos A definição de sistema que interessa neste trabalho, é a de Buckley (1971, p. 41) “um complexo de elementos ou componentes direta ou indiretamente relacionados em uma rede causal, de modo que cada componente esteja relacionado a pelo menos alguns outros de uma maneira mais ou menos estável dentro de qualquer determinado período de tempo.”. Os componentes de um sistema podem se configurar tanto como simples, ou de forma complexa; suas propriedades e estados podem variar. Em termos das relações entre os componentes, essas podem se dar de uma forma mútua, com unidirecionalidade, de forma linear ou não-linear, ou intermitente, com o seu grau de causalidade e eficácia de diferentes níveis. É importante dizer que as interações (mais ou menos estáveis) entre os componentes constituem a estrutura daquele sistema em um período específico. Os sistemas de maior interesse às ciências sociais são aqueles os quais existe um processo de troca com o ambiente de forma contínua, sendo que no caso dos sistemas abertos (com alta flexibilidade), a os limites do sistema e o meio se tornam cada vez mais arbitrário (BUCKLEY, 1971). A divisão clara entre o que é sistema e o que não é, se torna cada vez mais difícil de ser delimitada. Portanto, deve ser obrigado a reconhecer a possibilidade de ‘’graus de sistematicidade’’ ( e “graus de organização”) entre sistemas, e a possibilidade de sua mudança ao longo do tempo. Os conceitos modernos de sistema e organização assumem o posto de relevância do conceito de “orgânico’’, ao reconhecer que a sociedade se apresenta como um todo inter-relacionado, e não parte independentes, como se achava junto ao equilíbrio mecânico. A grande diferença na compreensão moderna de sistemas e de organismo se dá que enquanto um organismo é fisiológico, e envolve processos complexos físico químicos de troca de energia, as relações entre as partes da sociedade envolvem processos comunicativos complexos de troca de informações (WIENER, 1950; BUCKLEY, 1971). A comparação dos sistemas complexos ao modelo de sistema mecânico pode se dar referente a diferentes parâmetros: a respeito das partes do sistema - enquanto no sistema mecânico, as suas partes ou componentes, são de certa forma simples e estáveis, porém, com a adição de níveis socioculturais cada vez mais elevados, os componentes inter-relacionados se tornam cada vez mais instáveis e complexos; a respeito das relações sistêmicas - a natureza das relações varia de acordo com os tipos diferentes de sistemas e subsistemas (técnicos ou sociais), enquanto nos sistemas mecânicos do tipo homem-máquina, as interrelações são restritas, rígidas e com poucos graus de liberdade, os sistemas socioculturais são exemplos de ‘’complexidade organizada’’ com as interrelações das partes ocorrendo de forma flexível e com a estrutura sendo mais maleável à medida que as possibilidades de comportamento dos componentes aumenta, com maiores graus de liberdade - a base de distinção dos tipos de sistemas nesse tópico se encontra na mudança do fluxo de energia para o fluxo de informação (EMERY e TRIST, 1969; BUCKLEY, 1971). A mudança de consideração de um modelo de sistema mecânico para um sistema adaptativo, passa pela idéia de um sistema de processamento de informações, que está diretamente ligado com a transição de visão de um sistema fechado para o sistema aberto. Ao se chamar um sistema de aberto, está lhe conferindo a característica de troca com o meio como algo fundamental à sobrevivência do mesmo e sua mutabilidade. À medida que alterações do meio ocorrem, em sistemas abertos, sua estrutura se adapta a níveis mais elevados de complexidade do que os anteriores, enquanto que nos sistemas fechados isso poderia significar a sua dissolução - sistemas abertos possuem uma entropia negativa. Outro elemento vital aos sistemas abertos é algum nível de tensão do sistema, para assim se manifestar em construção ou destruição (BUCKLEY, 1971). O conceito de feedback se apresenta enquanto um mecanismo básico dos sistemas adaptativos complexos, longe do misticismo presente no termo, não só relacionando à busca de objetivos do sistema, mas
  • 7. sendo viável de forma ampla a sistemas abertos em que características dependem de parâmetros internos que possuem limites específicos, organizações com desenvolvimento de sensibilidade seletiva para eventos ambientais de importância, sistemas que existam ferramentas de sensibilidade para distinção de desvios internos, ou retroalimentação da informação quando algo se torna incompatível para realinhamento do sistema frente suas metas e critérios. O feedback é uma forma de realimentação, em que a decisão futura se ajusta em função de uma situação passada. Em uma metáfora ao modelo mecânico pré cibernético, o desenvolvedor do sistema deveria antever quaisquer contingências a serem enfrentadas pela máquina, enquanto que nos sistemas adaptativos complexo, a máquina se utiliza das próprias contingências enquanto carga informacional para sua própria reação (WIENER, 1950; BUCKLEY, 1971). As características dos sistemas adaptativos complexos enquanto sua abertura, inter-relações de informação das partes com o meio, realimentação pelos feedbacks, direção a objetivos, conferindo questões básicas subjacentes a sistemas ditos auto-regulados, auto-direcionados, ou auto-organizados. Segundo Debrun (1996), existem confusões acerca da relação de uma auto-organização, com uma interseção do próprio prefixo da palavra. De acordo com o mesmo autor, a partir do momento que se produz a se própria, em uma reestruturação da forma ao seu próprio processo. Todos esse elementos demonstram que o comportamento de um sistema adaptativo complexo não é uma relação direta e simples com as forças do meio. Os processos que ocorrem derivados do meio em um sistema adaptativo complexo podem provocar a manutenção da forma do mesmo, ou a construção de uma nova forma, ou estrutura. Para uma melhor categorização, se utilizam dois termos: morfostase - trocas com o ambiente em um sistema adaptativo complexo que promovem a manutenção e preservação da forma vigente, o exemplo nos sistemas socioculturais pode ser a ideia de ritual; morfogênese - trocas com o ambiente em um sistema adaptativo complexo que promovem a mudança de sua forma ou estrutura, um exemplo seria o processo de aprendizado e evolução em sistemas socioculturais. Para Debrun (1996), pode-se considerar que quando a inexistência de um supervisor não impede a interrelação de elementos distintos de forma real, e mesmo assim constituem uma nova forma. (BUCKLEY, 1971). A elaboração de um modelo abstrato de morfogênese leva à conclusão de que um sistema adaptativo complexo deve manifestar algum grau de plasticidade e/ou tensão na sua relação e troca com o ambiente, algum mecanismo que permite a variedade de ação em relação à sua própria leitura do ambiente e adaptação, a capacidade de seleção em relação às contribuições feitas à organização ou sistema frente àquelas que não contribuem, uma forma de arranjo de propagação e perpetuação para o resto do sistema das leituras adequadas do ambiente (BUCKLEY, 1971). A construção de um modelo sociocultural enquanto um sistema adaptativo complexo, Buckley (1971) diz que ‘’ é do interesse particular a nós que os teóricos da moderna teoria dos sistemas relacionem de perto o conceito generalizado de organização com o de informação e comunicação’’. O sistema cultural basicamente se torna um conjunto de elementos em constante ‘’intercomunicação’’ e troca de informação. Outro importante conceito na explicação das organizações complexas é o de que, uma vez que existe condicionalidade entre entidades, há ‘’constrangimento estrutural’’ operando entre esses elementos, que limita a capacidade de ação. O conceito de ‘’graus de liberdade’’ na relação entre as partes também se faz importante à explicação dos sistemas complexos, se resumem que ao mesmo tempo que existe constrangimento na interação entre os elementos, existe também uma determinada liberdade de jogo dentro das possibilidades de ação, caso contrário, a organização é rígida e não dinâmica (BUCKLEY, 1971). A Teoria da Informação em suas bases matemáticas do modelo de Shannon representa para os sistemas complexos as relações de sinais, símbolos e mensagens entre ‘’fonte’’ e ‘’receptores’’, considerando também a existência de ruídos no modelo. Segundo Wiener (1950, p. 17) ‘’informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que nosso ajustamento seja nele percebido”. Ao se considerar a informação como algo que carrega um significado, se torna compreensível a ideia de mapeamento de significados em um meio num processo seletivo (WEINER, 1950; BUCKLEY, 1971). O elemento diferencial dos sistemas sociais pode ser considerado a racionalidade. Dentre as diversas formas com que a racionalidade é vista nas organizações, destaca-se para os sistemas adaptativos complexos, o conceito de racionalidade limitada. O modelo de racionalidade limitada de Herbert Simon estipula de que a racionalidade do indivíduo está limitada à sua capacidade não só de apreensão da carga informacional da realidade, assim como o seu processamento. Portanto, esse conceito é fundamental para a compreensão das dificuldades de leitura do ambiente (SIMON, 1955). Segundo Debrun (1996), a aprendizagem é fundamental para o avenço em outros níveis de complexidade. O ato se torna fundamental também à compreensão dos sistemas adaptativos complexos uma vez que a interação em um campo interacional de sistema dinâmico é fundamental ao mesmo (BUCKLEY, 1971).
  • 8. A descrição das etapas da complexidade se dá para Morin (1986), em prerrogativas da relação entre o todo e as partes (“o todo é mais do que a soma de suas partes”; “o todo é menor do que a soma de suas partes”; “o todo é ao memso tempo maior e menor do que a soma de suas partes”). A consideração da organização enquanto aquela que produz e ao mesmo se autoproduz leva ao problema das causalidades nas organizações complexas (causalidade linear, circular, ou retroativa), por exemplo, a linguagem e edução enquanto retroação da própria sociedade (MORIN 1986). O modelo abstrato de processo morfogenêtico, segundo Buckley (1971), permite a possibilidade de diversas ideias do processo de gênese e relações de alterações ou manutenção da estrutura social. A Figura 2 permite observar o funcionamento de um sistema adaptativo complexo. Observa-se a interrelação entre os elementos, a entrada e saída de informação constante, a leitura do ambiente pelos inseridos no sistema, que dessa interação originam uma situação de emergência e assim um comportamento de adaptação em um ambiente em mudança. O loop de feedback retroalimenta o sistema e mantém em uma dinâmica de adaptação. Figura 2- Representação esquemática de um sistema adaptativo complexo Fonte: Commons Wikimedia /Adaptação do autor
  • 9. 3. Metodologia A pesquisa aqui proposta pode ser classificada como teórica, uma vez que é orientada à reconstrução da teoria, conceitos, quadros de referência e discussões pertinentes. A pesquisa do tipo teórica não implica necessariamente uma intervenção na realidade, mas se faz importante para a criação de um corpo de conhecimento para tal intervenção futura (DEMO, 2000). Neste trabalho, se visa basicamente o confronto teórico entre Sistemas Adaptativos Complexos e o surgimento das Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD) (ainda que se apresente alguns exemplos). Segundo Vergara (2014), o tipo dessa pesquisa é descritivo e explicativo, devido ao fato de haver a exposição e categorização de um determinado fenômeno. O método de pesquisa aqui empregado é o dedutivo. A fonte de coleta de dados é por meio de uma pesquisa bibliográfica, que se caracteriza como uma fonte de coleta de dados secundária. De acordo com Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado, sua finalidade é o contato do pesquisador com o máximo de publicação de conhecimento na área já feito. Segundo Vergara (2000), a pesquisa bibliográfica fornece instrumental analítico para quaisquer tipos de pesquisa. O objeto de pesquisa a ser estudado são as Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD - ou ‘’Decentralized Autonomous Organizations’’ -DAO). Os dados a serem analisados são secundários, por se tratarem de livros e artigos, pesquisados e publicados por outros autores de referência na área. As limitações deste trabalho se referem à falta de acesso a material sobre os temas estudados em lingua portuguesa (limitação a ser amenizada pela leitura em língua inglesa), e à dificuldade de leitura dos materiais de estudo em línguas da Ásia (área de grande pesquisa sobre o tema). Outra limitação se dá ao caráter pouco explorado dos temas, o que dificulta o acesso a outros pesquisadores da área. A construção da pesquisa se deu pela escolha do tema mediante viabilidade com a proposta da disciplina de Teoria das Organizações, seleção de artigos e livros sobre OAD´s e Blockchain, posteriormente foi feita uma retomada de leitura do material da disciplina de Teoria Das Organizações, separou-se as categorias de análise de Sistemas Adaptativos Complexos, e então se verificou o estabelecimento de relações entre as categorias de análise e OAD´s. Fonte: Elaboração do autor
  • 10. 4. Análise A seção aqui descrita possui o objetivo de descrever o objeto de estudo, assim como demonstrar as unidades de análise usadas para comparação do objeto com a teoria escolhida. Após isso, cada unidade de análise será discutida em relação ao objeto exposto e algumas inferências lógicas serão extraídas. 4.1 Descrição do Objeto As Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD´s - ou Decentralized Autonomous Organizations DAO) se caracterizam como organizações descentralizadas e com diretrizes formalizadas e codificadas, que se utilizam da tecnologia Blockchain, cujas regras só podem ser alteradas caso um determinado número de stakeholders da organização (também chamados de token holders) participarem de um sistema de votação a favor da alteração (WILT, 2017). O surgimento da tecnologia Blockchain (inicialmente desenvolvimento como a base tecnológica para a criação do Bitcoin) em 2008, por Satoshi Nakamoto em ‘’Bitcoin: A Peer to Peer Electronic Cash System’’ procurou solucionar os problemas até então existentes em um sistema de computação distribuído descentralizado (que se pode estender a qualquer sistema social ou de governança). A questão da confiança exigia até então a existência de uma terceira parte confiável, a qual era atribuído o poder de agente centralizador e intermediário, que garantiria o respeito às regras previamente estabelecidas (pode-se pensar desde bancos até instituições de cartórios). O problema conhecido em Teoria dos Jogos como ‘’Problema dos Generais Bizantinos’’ se refere a um jogo proposto em que se imagina três generais bizantinos em uma situação que devem decidir um ataque coordenado, o ataque só será bem sucedido se os três tomarem a ação de ataque ao mesmo tempo, caso algum general decida por não atacar, aquele que realizar o ataque perderá o jogo. O problema proposto se reflete na dificuldade de se manter a crença no comportamento honesto e confiabilidade da informação passada entre um sistema de nós distribuídos em um determinado jogo, uma vez que tal mensagem poderia ser interceptada, ou passada de uma maneira falsa por um nó que desejava se comportar de maneira desonesta às regras do jogo (ANTONOPOULOS, 2016). O Problema dos Generais Bizantinos pode ser ilustrado na imagem abaixo, em que o general 2 (grifado) apresenta um comportamento desonesto e transmite a informação de uma maneira falsa A solução verificada por Satoshi Nakamoto (2008) se referia a mecanismos de transparência da informação e um sistema de valor (criptomoeda), em que cada nó deveria realizar uma prova de esforço ao ato de verificar e auditar o Blockchain (ULRICH, 2014). O segundo problema o qual a tecnologia Blockchain procurou solucionar é o de chamado Gasto Duplo, em que, numa era da Internet, como se conseguiria garantir a integridade de algum pedaço de informação, não garantindo a sua duplicação. Tal solução foi possível por meio de funções criptográficas denominadas funções hash, que nada mais são do que operações matemáticas que demandam um alto gasto computacional para serem revertidas, sendo direcionadas a apenas um lado da igualdade, e com um mesmo número de caracteres Fonte: Nicosia (2018)
  • 11. gerados para quaisquer sejam os tamanhos do input da função (ANTONOPOULOS, 2016). Na figura abaixo é possível verificar as relações de que para cada palavra, as suas funções hash possuem caracteres diferentes, não sendo possível o reconhecimento de padrões de escrita ou registro, essa relação garante uma maior autenticidade ao registro de dados, e a verificação da função hash de uma determinada informação demonstra a sua não alteração (uma vez que matematicamente, caso algum dado da informação seja alterado, toda a sua função será alterada). As discussões matemáticas e computacionais da tecnologia Blockchain fogem o escopo deste trabalho. Porém, uma compreensão básica do Blockchain é necessária para um maior entendimento do objeto Organizações Autônomas Descentralizadas. A tecnologia Blockchain é um sistema de banco de dados distribuído e descentralizado, sem uma autoridade central, de consulta pública. Pode ser imaginado como um livro-razão distribuído, e funciona por regras matemáticas pré estabelecidas, é mantido pelos chamados nós que sustentam a rede por meio de disponibilização de armazenamento computacional. Os sistemas de Blockchain podem ser alterados, porém, apenas mediante maioria em votação onde cada nó possui um voto ponderado ao seu poder computacional disponibilizado na rede (ULRICH, 2014). O surgimento das Organizações Autônomas Descentralizadas também foi possível com o advento do conceito de contratos inteligentes, pelo jurista e programador Nick Szabo (2005). Segundo o autor, contratos inteligentes são contratos escritos de forma em código computacional, descentralizados e auto executáveis. Tal instrumento só teve sua possibilidade tecnológica em 2014 por Vitalik Buterin. A figura abaixo demonstra a representação visual dos conceitos de centralização, descentralização e sistemas distribuidos. Fonte: steemit Figura - Demonstração de Funções Hash Fonte: Nicosia (2018)
  • 12. O conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD) advém do campo dos estudos em Inteligência Artifical (Swan 2015), e foi implementado no campo dos estudos em blockchain por Vitalik Buterin (2014). De acordo com Buterin (2014), uma OAD, em um plano de abstração, se configura como uma entidade que se encontra na internet, a sua existência é autônoma, mas ainda necessita de indivíduos para a execução de tarefas cuja automação ainda não é capaz de realizar As organizações autônomas descentralizadas, segundo Garrod (2016), e Jentzch (2016) podem ser definidas enquanto organizações que funcionam em uma Blockchain, com suas regras de governança formalizadas e automatizadas em programa de computador. O seu funcionamento em uma Blockchain está relacionado ao fato de que o processo de tomada de decisão é realizado de forma descentralizada, e as funções de gestão são diretamente relacionadas ao funcionamento de um programa computacional (WRIGHT e DE FILIPPI, 2015; GARROD, 2016). O conceito de OAD´s ainda é muito recente, visto o caráter recente da tecnologia, mas espera-se que no futuro, mais modelos desse tipo de organização surjam. Um exemplo de organização do tipo a ser citada é a DigixDAO, uma espécie de plataforma de financiamento coletivo comparada a uma plataforma de oferta pública de ações (IPO) do mercado financeiro tradicional (GLAZER e BEZZENBERGER, 2015). A figura abaixo apresenta uma representação visual de uma OAD: 4.2 Unidades da Análise dos Sistemas Adaptativos Complexos para as Organizações Autônomas Descentralizadas A seção a seguir busca resgatar os conceitos já explicitados de sistemas adaptativos complexos, componentes, interação, emergência e graus de liberdade dos sistemas adaptativos complexos aplicados ao conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas. A figura abaixo permite a visualização esquematizada das unidades de análise e seus conceitos, procurou-se as elaborações de autores clássicos, e uma representação didática das unidades de análise. Fonte: whalereports / adaptação do autor
  • 13. 4.2.1 Sistemas Adaptativos Complexos e Organizações Autônomas Descentralizadas Seguindo os conceitos de Buckley (1971) e Stacey (1996), as Organizações Autônomas Descentralizadas podem ser consideradas um Sistema Adaptativo Complexo - uma vez que tem as categorias de componentes e adaptação na sua base, e a relação de interrelações dos componentes de forma necessária à manutenção do mesmo. 4.2.2 Componentes e Organizações Autônomas Descentralizadas Os componentes de uma Organização Autônoma Descentralizada, pelo conceito de Buckley (1971) pode se referir aos stakeholders das OAD´s. Porém, tal conceito existe a possibilidade de expansão, uma vez que dentro das OAD´s existe também o componente ‘’agente autônomo’’, que segundo Buterin (2014), são agentes em um diferente espectro da automação, que não é necessário envolvimento humano à sua existência, excluindo o esforço humano da criação de seu mecanismo de onde surge. O autor ainda reforça que ainda que os elementos humanos não conheçam a existência do agente autônomo, isso não interfere não sua existência. Vitalik Butrein reconhece a dificuldade de criação de um agente autônomo e lança como proposição futura. 4.2.3 Interação e Organizações Autônomas Descentralizadas Segundo Buckley (1971), a interação é algo fundamental à existência do sistema, uma vez que a troca de informação é a sua forma de retroalimentação por meio dos feedbacks. Nas Organizações Autônomas Descentralizadas é possível se verificar de que a interação ocorre apenas até certo ponto, principalmente na
  • 14. delimitação e criação das regras dos smart contracts da organização. Depois desse momento, essa interação ainda que exista, ocorre em menor grau. 4.2.4 Emergência e Organizações Autônomas Descentralizadas O conceito de emergência de George Henry Lewes (1875) retrata no caso das OAD´s a relação de auto reprodução da organização, enquanto que a auto-execução das regras previamente estabelecidas, podem a determinado momento gerar uma nova questão a ser debatida pelos stakeholders. Em casos de escalabilidade desse tipo de organização, se observa o processo de emergência frente a possibilidades futuras, e desafios. 4.2.5 Graus de liberdade e Organizações Autônomas Descentralizadas Segundo Buckley (1971), os graus de liberdade aparecem dentro de um sistema complexo dentro de um mecanismo limitado de ação, quando um sistema apresenta determinado grau de coercitividade, o que delimita sua possibilidade de ação. Tal conceito pode ser relacionado nas OAD´s com relação não só ao fato de que uma vez geradas as regras, grande parte da ação se limita a avaliação do sistema e novas proposições, assim como no momento que se tem stakeholders que se destacam em um sistema de reputação e prestigio próprio desse sistema, gerando coercitividade frente a novas propostas, diminuindo assim o espaço de ação dos agentes menos expressivos. A figura abaixo demonstra a integração das unidades de análise de SAC e OAD´s Fonte: elaboração do autor
  • 15. 5. Conclusões As conclusões a serem retiradas do trabalho é que se buscou a conclusão satisfatória, ainda que inicial dos objetivos propostos. Acredita-se que foi atingido o objetivo de apresentar as Organizações Autônomas Descentralizadas (OAD´s), assim como apresentar de forma extensa os conceitos e reflexões acerca da Teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos, e resgatar a literatura de Teoria das Organizações. As proposições aqui apresentadas das relações das unidades de análise (sistemas adaptativos complexos, componentes, interação, emergência e graus de liberdade) se realizam em uma espécie de ensaio para estudos futuros. No plano das ideias, o conceito de Organizações Autônomas Descentralizadas parecem ter uma relação com os elementos de Sistemas Adaptativos Complexos. O que se falta verificar é essa relação em termos práticos. As relações teóricas de sistemas podem ter sido bem evidenciadas até mesmo pelas relações homem- máquina característica do tipo de organização abordado, portanto, sendo fácil a visualização do desenho das OAD´s de forma similar a um sistema. Restrições nos estudos aqui apresentados se dão no fato de existir pouco material teórico sobre esse tipo de organização, se tornando restrito a pontos de vista diferentes a serem confrontados, e a ainda pouca aplicação prática do conceito. Ainda que apresentem problemas na vida prática, as OAD´s são um objeto de estudo interessante, uma vez que caminham rumo ao desenvolvimento tecnológico e computacional, o que parece ser uma tendência frente ao impacto da tecnologia na organização. Estudos futuros podem procurar relacionar as Organizações Autônomas Descentralizadas em outras aplicações, assim como, nas possibilidades de sua aplicação no setor público. Sugere-se também uma revisão bibliométrica do tema, para assim, se ter a real noção dos desenvolvimentos do estudo no Brasil e mundo.
  • 16. REFERÊNCIAS FREDDI, G. Organização, Teoria da. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. 11a Ed. Brasília (DF): Editora Universidade de Brasília/ Ed.UNB, 1998 FRIEDBERG, E. Organização. In: BOUDON, R.; BAECHLER, J. Tratado de sociologia. Rio de Janeiro (RJ): Jorge Zahar, 1996 REED, M. Teorização Organizacional: Um campo historicamente contestado. In: Clegg; Hardy; Nord. Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo, Atlas, 2009. PIMENTEL, T. D. Espaço, Identidade e Poder: esboço de uma teoria morfogenética e morfoestática para a sociologia das organizações. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora/MG, 2012 HOBSBAWM, E. J. A Era das Revoluções: 1789 –1848. 25a Ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2009. RAMOS, G. Uma introdução ao histórico da organização racional do trabalho. (pp.20-132).Brasília: Conselho Federal de Administração, 2008 HELOANI, R. Organização do Trabalho e Administração. São Paulo: Cortez Editora, 1994 FAYOL, H. Administração industrial e geral. São Paulo: Atlas, 1990 Selznick, Philip"Foundations for the theory of organizations." American Sociological Review, 5:25-35, 1948 WEBER, MAX. Economy and Society. Berkeley: University of California Press, 1978 [1968] CLEGG, S. DUNKERLEY, D. Organization, class and control. London: Routledge and Kegan Paul Ltda., 1980 MOUZELIS, N. La Escuela de las Relaciones Humanas: su aproximación al estudio de la organización. pp. 105-129. In: MOUZELIS, N. Organización y Burocracia: un análisis de las teorías modernas sobre organizaciones sociales. Barcelona: Peninsula, 1975 MAYO, Elton. Problemas Humanos de una civilización industrial. Argentina: Nueva Visión, 1972 KATZ, D.; KAHN, R.L. Psicologia social das organizações. São Paulo: Atlas, 1976 MEYER, J. W.; ROWAN, B. Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth and Ceremony. American Journal of Sociology, 83: 340-363, 1977 HALL, R. Organizações: estrutura e processo. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1984. BUCKLEY, W. A sociologia e a moderna teoria dos sistemas. São Paulo: Cultrix, 1971 MORIN, E. Complexité et Organisation. In: AUDET, M.; MALOUIN, J-L (Dir), La production des connaissances scientifiques de l'administration. Québec: Les Presses de L'université Laval, 1986 SIMON, H. Comportamento administrativo: estudo dos processos decisórios nas organizações administrativas. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1965 BOURDIEU, P. Principios de una Antropología Económica. In: BOURDIEU, P. Las Estructuras Sociales de la Economía. 1a Ed. [1a Reimp, 2002] Buenos Aires: Ediciones Manantial SRL., 2001 GIDDENS, A. A constituição da sociedade. 3a Ed. São Paulo (SP): Martins Fontes, 2009. SILVERMAN, D. The Theory of Organisations: a sociological framework. New York: Basic Books Inc. Publishers, 1971. WEICK, K. E.; SUTCLIFFE, K. M.; OBSTFELD, D. Organizing and the Process of Sensemaking. Organization Science. Vol. 16, No. 4, July–August 2005 MONTENEGRO, LUDMILLA M.; CASALLI, ADRIANA M. O Modelo de Organizing de Karl Weick e sua Ênfase na Comunicação. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS/ENEO. Anais... ANPAD: Rio de Janeiro, 2008. PIMENTEL, T. D. Realismo Crítico nos Estudos Organizacionais: notas introdutórias sobre seus fundamentos filosóficos. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 1, n. 2, p. 609-656, 2014 FRIEDBERG, E. Les quatre dimensions de l’action organisée. Revue Française de Sociologie, v. 33-4, 1992 JIMÉNEZ, Edgar. Enfoques Teóricos para el Análisis Político. Instituto Federal Electoral (IFE), México, 1998 CROZIER, M. A Necessidade de Novos Princípios de Organização. Cap. 2, pp.31-52. In: CROZIER, M. A Empresa à Escuta. Lisboa, Ed Instituto Piaget, 1998 CZARNIAWSKA, B. Organizations as obstacles to organizing: What is an Organization? Materiality, Agency and Discourse, PreConference of the International Communication Association Conference, Montréal, May, actes sur clém 2013 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 13 ed. São Paulo: Edições Loyola. 128, 2004.
  • 17. LYOTARD, J.F. La condiciÛn postmoderna - informe sobre el saber. Tese (Catedra) Madrid, 1989 PIMENTEL, T. D.; RODRIGUEZ, R. S. Uma perspectiva realista crítica sobre ação coletiva em economia. Revista de Economia Política, vol. 37, no 1 (146), pp. 208-225, janeiro-março/2017 WIENER, Norbert. The Human Use Of Human Beings: Cybernetics And Society. Da Capo Press, 1988. EMERY, Frederick Edmund; THORSRUD, Einar; TRIST, Eric. Form and content in industrial democracy. Van Gorcum, 1969. ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. 1. Ed. São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises, Brasil, 2014. ANTONOPOULOS, AM., Mastering Bitcoin: Unlocking Digital Cryptocurrencies, Sebastopol, CA, USA:O’Reilly Media, Inc, 2016. VIGNA, P. and CASEY, M., The Age of Cryptocurrency, (New York, Picador, St. Martins Press, 2015. TAPSCOTT, D. and TAPSCOTT, A. Blockchain Revolution: How the Technology Behind Bitcoin Is Changing Money, Business, and the World. Penguin Random House, New York, 2016 BURNISKE, C, and TATAR, J. Cryptoassets: The Innovative Investor's Guide to Bitcoin and Beyond. New York: McGraw Hill, 2018 BERTALANFFY, L. V. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes. 1993 (Originalmente publicado em 1968). APPIAH, S. Decentralized Organizations as Multi-Agent Systems - A Complex Systems Perspective. Technical Report. University of Waterloo, 2017. BUTERIN, V. DAOs, DACs, DAS and more: An incomplete terminology guide. Ethereum Blog, v. 6, p. 2014, 2014. VERGARA, S. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 15 ed. São Paulo: Atlas, 2014. DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. Atlas, 2000. NAKAMOTO, S. Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system. 2008. SZABO, N. Formalizing and securing relationships on public networks. First Monday, v. 2, n. 9, 1997. GARROD, J. Z. The Real World of the Decentralized Autonomous Society. tripleC: Communication, Capitalism & Critique. Open Access Journal for a Global Sustainable Information Society, v. 14, n. 1, p. 62–77, 2016. ZHENG, Zibin et al. Blockchain challenges and opportunities: A survey. Work Pap.–2016, 2016. GELL-MANN, M; LLOYD, Seth. Information measures, effective complexity, and total information. Complexity, v. 2, n. 1, p. 44-52, 1996. HOLLAND, J. Hidden orderhow adaptation builds complexity. 1995. STACEY, R D. Complexity and creativity in organizations. Berrett-Koehler Publishers, 1996. LEWES, George Henry. Problems of life and mind. V. 2. 123456789/1290, 1875.