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INTERNALIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM ANÁLISES
CUSTOS-BENEFÍCIOS (ACB) DE PROJETOS. ESTUDO DE CASO:
INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO, MANAUS, AM
Bidone, E.D.1
; Bidone, F.J.D.2
& Maddock, J.E.L.1
1
Universidade Federal Fluminense – UFF, Programa de Pós-Graduação em Geociências (Geoquímica
Ambiental – PGG/UFF), Outeiro de São João Batista, s/n – 5o
andar, CEP 24.020-007, Centro –
Niterói, RJ. E-mail: geobida@vm.uff.br; geojelm@vm.uff.br
2
Curso de Administração, Pontifícia Universidade Católica - PUC/RJ, e-mail:
francisco_bidone@hotmail.com
Recebido em 02/05; aprovado para publicação em 10/05
ABSTRACT
Incorporation of costs due to environmental impacts in cost-benefit analysis of projects is not an
easy task due to intangible market value of most goods and services affected by the activities planned in
the project. In this paper we discuss the environmental externalities of the establishing of a fish processing
plant in Manaus, AM. In this case we discuss the impacts on the water quality of the river receiving the
plant effluents; therefore valuation of goods and services is not needed. The methodology use
environmental impact modeling through the evaluation of the support capacity of the environment in
relation to sustainability. The results allowed the creation of alternative scenarios to control the emission
of liquid effluents; a monetary valuation of the physical depreciation of the natural capital (i.e. water
quality) for each alternative; the definition of an optimal technical-economic level for the selection of the
best alternative; and the definition of the fraction of the natural capital depreciation under the responsibility
of the stake holders.
RESUMO
A incorporação (internalização) dos custos devidos a impactos ambientais em análises custos-
benefícios de projetos não é uma tarefa fácil; tendo em vista a intangibilidade, em termos monetários
(mercado), da maioria de bens e serviços ambientais afetados pelas atividades previstas no projeto.
Neste trabalho, através do exemplo prático do projeto para implantação de uma indústria de beneficiamento
de pescado às margens do Rio Negro na cidade de Manaus,AM, é utilizada uma abordagempara incorporar
externalidades ambientais, no caso, impactos sobre a qualidade das águas fluviais receptoras de efluentes
líquidos. Neste caso, não é necessária a valoração de bens e serviços ambientais.Ametodologia preconizada
utiliza-se da modelagem dos impactos das atividades de projeto sobre o meio ambiente, avaliando sua
capacidade de suporte relativa a indicadores para o seu uso sustentável. Os resultados obtidos permitiram:
a avaliação ambiental de diferentes cenários alternativos para o controle da emissão de efluentes líquidos
do projeto enfocado; a estimativa monetária da depreciação física do capital natural (i.e., água fluvial, no
estudo de caso) envolvida em cada alternativa; a definição de um nível ótimo técnico-econômico para a
seleção da alternativa mais viável; e, complementarmente, verificar qual a parcela da depreciação física
resultante é de responsabilidade do empreendedor ou da sociedade.
Geochimica Brasiliensis, 19(2)118-127, 2005
Geochimica
Brasiliensis
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
119
INTRODUÇÃO
Análise Custos-Benefícios em Políticas
Públicas
AsAnálises Custos-Benefícios (ACBs),
em sua origem, são técnicas econômicas criadas
para gerar informações visando a melhoraria da
qualidade das políticas públicas. Neste contexto,
‘qualidade’ refere-se à medida do bem-estar
social que determinada política confere à
sociedade. As ACBs envolvem a medida
monetária da mudança em bem-estar individual,
agregado, resultante de uma decisão política.
Nelas, assume-se que o bem-estar individual
depende da satisfação de preferências
individuais, e que a medida monetária da
mudança em bem-estar pode ser derivada a partir
do quanto os indivíduos estão dispostos a pagar,
i.e., dispostos a renunciar em termos de outras
oportunidades de consumo. Esta abordagempode
ser aplicada tanto a bens e serviços correntemente
transacionados no mercado quanto àqueles
públicos não transacionáveis como, por exemplo,
a qualidade do meio ambiente, embora a medida
monetária destes últimos representar um grande
desafio (Kopp et al, 1997)
EmACBs aplicadas à políticas públicas
ambientais (p.ex., combate à poluição) é preciso
valorar os custos de proteção ambiental e os
benefícios resultantes à sociedade, de modo a
maximizar o benefício social líquido do conjunto
dos indivíduos afetados, máximo este que resulta
da igualdade entre os custos marginais de
proteção e benefícios marginais resultantes. Este
enfoque traz problemas sérios dos pontos de vista
operacional e teórico (Cánepa, 2003).
Do ponto de vista teórico, as críticas
incluem desde questões (i) filosóficas - a
proteção ambiental é, freqüentemente, desejável
por razões que não podem ser quantificadas
(sociais, espirituais, psicológicas) valores que
desafiam valorações em simples termos
econômicos; à (ii) metodológicas - em ACB, a
medida do bem-estar social e de como ele é
afetado por uma política depende de como o bem-
estar dos indivíduos é agregado para obter-se o
bem-estar de toda a coletividade; ou, o meio
ambiente é um bem público que não é
transacionado em mercados e, portanto, desafia
a avaliação econômica.
Do ponto de vista operacional, existem
várias abordagens técnicas para a valoração
econômica de recursos ambientais (produção
sacrificada, valor de propriedade, custo de
viagem, custo de saúde, avaliação contingente,
entre outros). As dificuldades operacionais
inerentes aos métodos de valoração vão do
conhecimento limitado dos ecossistemas (o que
dificulta a identificação de benefícios, potenciais
e futuros, e tende à elaboração de contas que
subestimam estes benefícios), à dificuldade em
se imputar benefícios, ou sua perda,
exclusivamente a atributos ambientais.Tendo em
vista as limitações em se determinar as
preferências da população por benefícios
ambientais em termos de mercado, esforços são
realizados no sentido de traçar estas preferências
através de avaliações contingentes. Segundo
Serôa da Motta (1990), os resultados das
pesquisas podem ser influenciados pela
imprecisão das perguntas, pelo instrumento de
coleta, pela desinformação e expectativas da
população considerada.
Ampla bibliografia detalhando métodos
e técnicas de valoração ambiental é disponível,
bem como sobre os problemas conceituais,
teóricos e empíricos encontrados na
quantificação do valor econômico para o meio
ambiente (e.g., In: Pearce e Turner, 1990;
Costanza, 1991; Pearce, 1993; Serôa da Motta,
1998; May et al., 2003; Bidone e Morales, 2004).
Análise Custos-Benefícios em Projetos/
Empreendimentos
A partir dos anos 80 verifica-se o
desenvolvimento de legislação ambiental
gradativamente mais severa, impondo às não
conformidades ambientais penalidades elevadas
e condições rigorosas para o licenciamento
ambiental de empreendimentos.Apressão sobre
as empresas cada vez mais conscientizam que o
meio ambiente é estratégia de negócio e fator de
sucesso na gestão empresarial, assim como os
programas da qualidade, de segurança e de
custos. Surge o Sistema de Gestão Ambiental,
certificado e integrado às demais funções
corporativas. Racionalizam-se os investimentos
ambientais e, com isso, busca-se: melhores
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
120
resultados operacionais (reciclagem,
conservação de matéria e energia); redução do
risco com acidentes e geração de passivos
ambientais, multas e penalidades; melhor relação
com partes interessadas e órgãos fiscalizadores;
maior aceitação pelo mercado (credibilidade) e
competitividade; atrair investidores e acionistas;
facilitar o acesso a financiamentos favorecidos.
Neste contexto as ACBs podem
representar um papel importante. Através da
avaliação financeira ou de rentabilidade privada
o empreendedor procura conhecer o retorno que
o projeto gerará sobre o capital que ele vai
investir.Adeterminação do orçamento de custos
e receitas na avaliação privada de projetos não
apresenta nenhum problema maior que o da
determinação dos preços dos produtos e dos
insumos de mercado. Aplicar ACB, em seu
sentido estrito, na avaliação econômica de
projetos individuais (públicos ou privados)
apresenta os mesmos princípios básicos da
avaliação privada, com a única e importante
diferença de que inclui certos benefícios e custos
que não participam do orçamento do empresário,
mas que participamdo orçamento da coletividade
em geral, i.e., economias externas ou
externalidades do projeto (Buarque, 1989).
Em economia ambiental, isto significa
a necessidade de internalizar, em termos
monetários, os benefícios e custos de impactos
resultantes da implantação do empreendimento
sobre o meio ambiente. Os planos de contas
convencionais são registrados em termos de
mercado (preços). Então, na avaliação financeira
na ótica privada, ou seja, na construção de fluxos
de fundos em valores atualizados, a inserção de
aspectos ambientais na ACB, da mesma forma
que no caso de políticas públicas, requer a
estimativa de preços para recursos ambientais
que sejam diretamente comparáveis com preços
de mercado, com problemas similares aos
apontados anteriormente (“Fluxo de Fundos”, ou
seja, grosso modo: FF = Receitas - Investimentos
de Implantação - Custos de Operação,
Manutenção, etc.).
METODOLOGIA
Uma alternativa à necessidade de
valoração de recursos ambientais em ACB,
sobretudo do lado dos ‘benefícios’ dos planos
de contas, tanto para políticas públicas quanto
para projetos individuais, é o emprego deAnálise
de Custo-Efetividade (ACE).
AACE pode ser vista como uma forma
particular de ACB. Em ACE, aplicada a uma
política de controle/proteção ambiental, é
estabelecida uma meta ou um padrão de
qualidade e/ou quantidade ambiental, e a análise
busca identificar, entre as alternativas possíveis
para alcançar a meta ou o padrão, aquela(e) de
menor custo. No caso da aplicação de ACE a
projetos/empreendimentos individuais,
geralmente o empreendedor busca atender a meta
ou o padrão estabelecida(o) pela legislação
ambiental, a qual, por sua vez, resulta de alguma
política pública (tenha sido esta analisada em
termos de custos e benefícios à sociedade, ou
não). Evidentemente, o comportamento do
empreendedor é reflexo da natureza de comando-
controle, incorporando o princípio de poluidor
pagador, vigente na legislação ambiental.
O exemplo prático da indústria de
pescado, a seguir, utiliza a abordagem
metodológica proposta por Bidone et al. (2002)
para a internalização de impactos ambientais em
projetos individuais, incorporando em grande
parte o conceito de ACE.
Umexemplo teórico do método proposto
é apresentado na Figura 1. Sobre o eixo “y” são
colocados os Custos das Medidas de Proteção
ambiental (CMP), os termos a, b, c, d, e, f, g, na
figura. Por exemplo, os custos de diferentes
A
B
C
D
E
F
G
NBNPFS f'g'e'c'b'a'
PF
CMP
($)
a
b
c
d
e
f
g
DCN(1)
DCN(2)
.
FIGURA 1 – Análise Custos-Benefícios sem necessidade
de valoração de bens e serviços ambientais (Fonte: Bidone
et al., 2002)
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
121
alternativas técnicas para o tratamento de
efluentes de um projeto ou alternativas para um
programa público de saneamento básico, em
ambos os casos tendo como corpo receptor um
rio.
No eixo “x” são mostrados o Padrão
Físico (PF) para as funções/usos ambientais, i.e.,
um indicador capaz de referenciar a qualidade
e/ou quantidade necessária à realização de
diferentes funções ou usos possíveis de um
recurso natural, aqui no exemplo, as águas de
um determinado rio. O PF corresponde a um
parâmetro químico, físico ou biológico, p.ex., os
níveis de oxigênio dissolvido nas águas fluviais
do exemplo proposto. No caso da existência de
vários poluentes nos efluentes, se um único
parâmetro não for capaz de indicar sua presença,
o PF pode assumir a forma de um índice
agregando todos ou parte dos contaminantes de
interesse. No caso do tratamento do tratamento
de diferentes tipos de efluentes em uma mesma
instalação industrial, o método deve ser
empregado, separadamente, para cada tipo de
efluente.
Um valor específico do PF pode ser
relacionado à necessária qualidade do recurso
ou à qualidade considerada aceitável definida
pela legislação ambiental para um determinado
uso do recurso, ou para vários usos (os quais
representam benefícios ambientais). Esse é o
Padrão Físico de Sustentabilidade (PFS) definido
para o recurso em pauta. O termo NBN sobre o
eixo “x” corresponde ao Nível de Base Natural
do proposto indicador para o recurso.
No exemplo de águas fluviais, a
qualidade da água precisa ser relacionada a cada
uma das alternativas de medidas de controle
ambiental, por meio de modelos matemáticos
(p.ex., modelos de diluição/dispersão), os quais
podem estimar (i.e., prognosticar) os valores
resultantes das concentrações do parâmetro
indicador (i.e., PF) proposto para a qualidade das
águas. Os termos a’, b’, c’, d’, e’, f’, g’ sobre o
eixo “x”.
A curva de oferta de funções/usos do
recurso natural (i.e., disponibilidade – qualidade
e quantidade - do recurso natural) pode ser
interpolada ou inferida considerando os custos
de cada alternativa de medida de controle
ambiental (a, b, c...) e seus resultantes valores
de qualidade (a’, b’, c’...).
Em outros termos, isso significa que, no
diagrama tradicional das curvas de oferta e de
demanda para funções/usos de um dado recurso
natural, foi determinado um ponto sobre as
abscissas (o ponto PFS na figura), o qual
representa o padrão para o uso sustentável do
recurso. Uma perpendicular neste ponto
intercepta a curva de oferta. Esta perpendicular
substitui a (desconhecida) curva de demanda. O
ponto de intersecção indica o volume de
atividades de controle, medido em termos
monetários, necessário para atingir o padrão de
uso sustentável determinado.
A curva de demanda (de inclinação
oposta, cortando a curva de oferta) por funções
ambientais é praticamente impossível de
construir. Isso porque, a demanda não é
manifestada diretamente, ou de maneira
suficientemente rápida para alcançar-se umvalor
mensurável de equilíbrio: os membros da
sociedade que se beneficiam das medidas de
proteção ambiental não pagam por elas
diretamente, e suas preferências somente podem
ser expressas através de processos políticos
aonde eles serão ofuscados por outras questões.
Assim, na abordagem proposta, a
demanda foi substituída pelo padrão de
sustentabilidade, representado pelo ponto PFS
na figura, o qual assegura a manutenção da
qualidade do recurso, possibilitando um número
máximo de suas funções/usos, tanto para o
presente quanto para o futuro.
O termo Depreciação do Capital Natural
(DCN), em termos de depreciação física, está
relacionado à noção de perda de função/uso, i.e.,
perda em qualidade do recurso considerado,
envolvendo a avaliação dos seus custos e
responsabilidades por eles.
No exemplo da figura, o termo DCN(1)
reflete uma situação onde o Padrão Físico de
Sustentabilidade (PFS) legalmente definido é
menor do que o Nível de Base Natural (NBN).
O valor monetário correspondente a DCN(1)
pode
ser visto como uma medida indireta dos custos
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
122
ambientais incorridos pela sociedade devido à
perda (depreciação) na qualidade de água,
implícitos no PFS definido pela legislação.
Devido ao seu caráter legal, esses custos não
podem ser incluídos na análise econômica do
projeto (o projeto implantando a alternativa ‘D’
sobre a curva atende à legislação, i.e., atinge o
PFS). Eles são custos ambientais implícitos,
aceitos/definidos pela lei/sociedade.
O termo DCN(2)
, considerando como
exemplo a alternativa “C” de medida de controle
ambiental, e outras situações similares na figura,
mede, em termos monetários, os custos
ambientais não internalizados pelo projeto em
sua análise de viabilidade. Por outro lado, estas
situações podem representar, apenas, uma etapa
momentânea de uma estratégia de controle
ambiental, legalmente acordada, a ser
implementada em sucessivas etapas. Em
qualquer caso, esses custos deveriam ser
internalizados na análise econômica do projeto,
por serem custos de responsabilidade privada
(i.e., do empreendimento); ou, ainda, no caso de
projetos públicos (p.ex., saneamento), deveriam
ser incluídos, juntamente com o valor monetário
correspondente à DCN(1)
, no cálculo das contas
públicas (p.ex., PIB municipal) a fim de indicar
à sociedade o tamanho (custo) real do seu
desempenho econômico.
O modelo proposto poderia ser utilizado
em conjunção com políticas de incentivo à
conservação (p.ex., taxação de emissões de
efluentes), sobretudo pela sua capacidade de
incentivar melhoramentos tecnológicos. Estas
políticas também têm seus custos. A sobrecarga
econômica de uma política de incentivos vai
depender em parte de como, sobretudo, os
valores obtidos com as taxas são utilizados.
Ainda, o custo será menor se outras taxas que
sobrecarregam desnecessariamente as atividades
forem eliminadas.
ESTUDO DE CASO
A seguir, é apresentado um exemplo
prático de análise baseado na metodologia
descrita. A análise foi realizada objetivando a
viabilidade técnico-econômica do controle de
efluentes líquidos de uma indústria de
beneficiamento de pescado. A área do estudo
situa-se na cidade de Manaus, capital do Estado
do Amazonas, às margens do Rio Negro, cerca
de 13 km da confluência deste rio com o Rio
Solimões, formadores do Rio Amazonas.
A indústria foi projetada visando: (i) a
modernização da industrialização do pescado.As
perdas podemalcançar mais de 50% do peso total
de pescado processado, devido aos processos
essencialmente artesanais utilizados na
industrialização do pescado na região; e, (ii) a
formação de estoques reguladores de pescado
beneficiado e congelado para atender a demanda
na época de entressafra, sobretudo com pescado
a um preço acessível às populações de baixa
renda.
O processamento e o beneficiamento de
até 200 t/d de pescado, conforme previsto no
projeto, geram efluentes com cargas orgânicas
extremamente elevadas. O lançamento destas
cargas no corpo fluvial receptor (Rio Negro) foi
diagnosticado como o principal impacto
ambiental potencial relacionado ao
empreendimento.Acontaminação das águas pelo
lançamento de efluentes resultantes de indústrias
de pescado é expressiva: problemas estéticos,
alterações profundas das características
organolépticas da água, anaerobiose e
eutrofização, problemas de saúde tais como a
conjuntivite, etc., já foram intensivamente
relacionados e divulgados.
A Tabela 1 apresenta as vazões,
Fonte à partir da indústria Vazão ( m3
/d) DBO ( mg/L) Fluxo ( kg/d)
Beneficiamento de Pescado 1.415 4.000 5.660
Água de Cola ( "stickwater") 40 70.000 2.800
Outras 600 200 120
Efluente Total 2.055 4,175 8.580
Fonte: OIKOS Pesquisa Aplicada
Tabela 1 - Características dos efluentes líquidos da indústria projetada. Fluxo ou Carga = Vazão do Efluente x Concentração de
DBO
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
123
concentrações em Demanda Bioquímica de
Oxigênio (DBO) e fluxos (cargas) dos efluentes
líquidos a serem gerados pela indústria.
O termo “beneficiamento de pescado”
refere-se às fontes da indústria relacionadas à
fabricação dos diferentes produtos a serem
comercializados. O termo “água de cola”
(“stickwater”) corresponde aos efluentes com
características de gel, resultantes da fabricação
de farinha e óleo de peixe, responsáveis por cerca
de 30% dos fluxos totais de efluentes.As “outras”
(fontes) referem-se aos efluentes gerados nas
demais instalações da fábrica, sobretudo aos
esgotos.
Considerando que o padrão para o
lançamento de cargas orgânicas em águas fluviais
é de 150 mgDBO/L no efluente, e que a DBO do
efluente total da fábrica é de 4.175 mgDBO/L, a
tarefa passa a ser o tratamento destes efluentes.
Para tanto, três cenários foram considerados.
Cenário I: Abordagem convencional
O primeiro cenário considera o estrito
atendimento ao padrão estabelecido e, portanto,
os efluentes precisam ser tratados, previamente
ao seu lançamento, fazendo com que sua
concentração de DBO (4.175 mgDBO/L) seja
reduzida em, aproximadamente, 96%.
Nove alternativas para o tratamento dos
efluentes foram consideradas:
A - sem tratamento;
B - separação do material sólido por peneiração;
C - peneiração + decantação primária;
D - peneiração + decantação + floculação e
sedimentação;
E - peneiração + decantação + floculação e
sedimentação + filtração com filtro biológico
aeróbico;
F - lagoas facultativas;
G - lagoas anaeróbicas;
H - lagoas de maturação;
I - lagoas aeradas.
A Figura 2 descreve o primeiro cenário
considerado. A curva na figura foi interpolada
considerando-se as intersecções dos custos para
implantação de cada uma das alternativas de
tratamento (A, B. I), com a correspondente
porcentagem de redução na concentração de
DBO dos efluentes. Os custos de implantação
das diferentes alternativas de tratamento foram
definidos em termos do seu percentual na
composição do investimento total em obras e
equipamentos para implantação da fábrica. A
curva inferida mostra que a redução do poluente
e os custos incorridos para isso se correlacionam
de maneira exponencial.
A alternativa “I” é a única que satisfaz
a condição de reduzir a DBO dos efluentes ao
padrão estabelecido (PL, na figura). Mas, esta
alternativa tem um custo de implantação acima
do limite de viabilidade financeira (LV, na
figura), determinado pela equipe do projeto em
8% do total em obras e equipamentos,
disponíveis para o tratamento dos efluentes da
fábrica. Custos adicionais forçariam uma
reavaliação de toda a “engenharia financeira” do
projeto, com riscos para a sua viabilização. Esta
alternativa apresenta uma “folga” pequena
relativamente ao padrão estabelecido. Em
sistemas de tratamento sempre é melhor
trabalhar-se com uma “folga” maior para
0
2
4
6
8
10
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
%redução da DBO
Custodetratamento
PL
A
B
C
D
E
F
H
G
ILV
FIGURA 2 - Cenário I: abordagem convencional. A, B....I =
alternativas de tratamento dos efluentes (custos em
percentuais do investimento total em obras e equipamentos
para a implantação da indústria); PL = padrão legal (150
mgBOD/L); LV = Limite de Viabilidade financeira
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
124
diminuir os eventuais problemas a posteriori,
resultantes de possíveis deficiências no
desempenho do sistema.
Cenário II: Abordagem considerando a
capacidade de suporte do Rio Negro
estabelecida através da modelagem da
dispersão dos efluentes nas suas águas
A Figura 3 apresenta o esquema
simplificado de localização e lançamento dos
efluentes da indústria no Rio Negro. O Oxigênio
Dissolvido (OD) será utilizado como o padrão
físico, referencial de sustentabilidade das águas
fluviais receptoras dos efluentes líquidos da
indústria de beneficiamento de pescado, ou seja,
padrão para as funções ou usos sustentáveis das
águas fluviais. No caso presente, o OD preenche
o requisito de indicar os impactos globais
significativos potenciais da emissão dos efluentes
nas águas fluviais.
O Rio Negro é um rio de grande porte,
com largura média na época de vazante de cerca
de 2km e com uma profundidade média de 13
m. Em época de cheia, estas dimensões podem
aumentar de várias vezes. Ele apresenta vários
canais. O Canal 1, na figura, é o mais impactado,
porque a maior parte dos efluentes domésticos
da cidade de Manaus são aí lançados diretamente
in natura, i.e., sem tratamento prévio. Nas áreas
próximas ao centro da cidade, de maior densidade
demográfica, os níveis de OD podem alcançar
valores inferiores a 1mgOD/L, o valor médio do
Nível de Base de Poluição (na figura, NBP)
destas áreas. O valor médio do NBP aumenta para
3,5mgOD/L nas proximidades da área da
indústria projetada. O Canal 2 apresenta valores
de OD similares aos do Nível de Base Natural
(NBN), i.e., sem poluição do Rio Negro: em
média, 4.5mgOD/L. Deve-se salientar que o Rio
Negro é um rio de águas turvas e negras,
naturalmente rico em matéria orgânica, com pH
ácido (< 5,0) e com baixos teores de OD.
O Cenário II considera o lançamento dos
efluentes no Canal 1, através de emissário
subaquático. A Figura 4 descreve este segundo
cenário.
M A N A U S C IT Y
N E G R O R IV E R
C hannel 1
C hannel 2
P B L=3.5m gO D /l
N B L =4.5m gO D /l
M F I
S etting II
S etting III
S cale ~1:40,000
M ANAUS
In d ú stria
Ce ná rio II
Ce n á rio
III
Ca n a l 1 NBP = 3,5m g O D/L
Ca n a l 2 NBN= 4,5m g O D/L
Rio Ne gro
Es gotos
Es cala ~ 1:40.000
III
FIGURA 3 - Desenho esquemático da localização e
lançamento dos efluentes da indústria de beneficiamento
de pescado.
OD = Oxigênio Dissolvido;
NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L);
NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L)
0
2
4
6
8
10
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
Padrão Físico (mgOD/L)
Custodetratamento
A B
C
F
D
E
G
H
I
F2NBNNBP
LV
FIGURA 4 - Cenário II: abordagem considerando a
capacidade de suporte do Rio Negro estabelecida através
da modelagem da diluição dos efluentes nas suas águas.
A, B....I = alternativas de tratamento dos efluentes (custos
em percentuais do investimento total em obras e
equipamentos para a implantação da indústria); LV = Limite
de Viabilidade financeira; NBP = Nível de Base de Poluição
(mgOD/L); NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L); F2 =
função ou uso das águas na Classe II (consumo humano,
Resolução CONAMA no
357/2005).
A curva na figura representa uma “curva
de oferta” de qualidade ambiental. Ela foi
inferida considerando-se os custos de
implantação das alternativas de tratamento e as
correspondentes concentrações de OD nas águas
do Rio Negro. O OD nas águas, resultante da
mistura das águas com a carga de DBO
remanescente lançada após tratamento, foi
estimado com o uso do modelo de Streeter-Phelps
para cada uma das alternativas consideradas.
Este é um modelo validado amplamente usado
para prognosticar o déficit de oxigênio resultante
da descarga de efluentes orgânicos em rios
(Tchobanouglous e Schroeder, 1987).
As funções ambientais correspondem
aos usos das águas fluviais considerados pela
legislação brasileira (Resolução CONAMA no
357/2005); neste estudo são referenciadas aos
seus padrões legais em OD (mgOD/L): F1 (6
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
125
mgOD/L) = abastecimento doméstico após
tratamento simplificado; irrigação de hortaliças
ingeridas cruas; aqüicultura; proteção de
comunidades aquáticas e recreação; F2 (5
mgOD/L) = abastecimento doméstico após
tratamento convencional; irrigação de plantas
frutíferas; aquicultura; proteção de comunidades
aquáticas e recreação; F3 (4 mgOD/L) =
abastecimento doméstico após tratamento
convencional; irrigação de cereais e forrageiras;
dessedentação de animais; e, F4 (2 mgOD/L) =
navegação; harmonia paisagística e outros usos
menos exigentes.
As águas do Canal 1 do Rio Negro, local
de lançamento dos efluentes no Cenário II, são
poluídas (NBP médio de 3,5mgOD/l) e, portanto,
sem tratamento prévio somente podem ser
utilizadas para a função F4.Arigor, a alternativa
“I” de tratamento dos efluentes seria a única na
qual o NBP de oxigênio permaneceria o mesmo.
Sobre a alternativa “I” continuam válidas as
observações feitas no cenário anterior. Todas as
demais alternativas ocasionam uma piora nas
condições atuais (já degradadas), i.e., todas
causariamuma diminuição dos níveis de ODpara
valores situados abaixo do NBP. As alternativas
de tratamento “A, B & C” podem gerar uma
perda da função F4.
Em termos da Depreciação do Capital
Natural (DCN) água fluvial, uma análise sucinta
da figura permite observar que: (i) qualquer
redução da qualidade das águas para valores
inferiores ao NBP representa uma perda de
qualidade (depreciação) que pode ser imputada
ao empreendimento, correspondendo, portanto,
a custos de responsabilidade privada; (ii) se esta
redução de qualidade ocorresse no intervalo
compreendido entre os valores de NBP (3,5
mgOD/l) e NBN (4,5 mgOD/l) - caso impossível
neste Cenário II mas possível de ocorrer no
Cenário III, a seguir - a responsabilidade pela
DCN dificilmente poderia ser imputável ao
empreendimento, porque este utilizaria águas já
previamente contaminadas pelos esgotos da
cidade de Manaus, e com as metodologias de
monitoramento ambiental disponíveis,
dificilmente poderíamos estabelecer variações
nítidas nos gradientes de concentração que
pudessem ser imputáveis ao empreendimento.
Cenário III: Abordagem considerando a
capacidade de suporte do meio receptor (Rio
Negro) e alterações no projeto
No Cenário III, os efluentes são lançados
no Canal 2, e não mais no Canal 1 (Figura 3).
Introduzindo-se esta modificação, devido às
características hidrodinâmicas de maior
capacidade de dispersão no Canal 2, as
alternativas de tratamento melhoram seu
desempenho, medido por modelagem, entre 15%
e 20% de incremento nas estimativas do OD nas
águas do Rio Negro.
O Cenário III inclui, também, a
reciclagem da “água de cola” - um produto
intermediário obtido após o cozimento, prensado
e centrifugado, este último para a retirada do óleo
do pescado. Este produto possui uma elevada
quantidade de água, sendo altamente
deteriorável. O produto obtido da água de cola
se chama no mercado internacional “solúvel de
pescado” e, normalmente, é incorporado ao
processo de farinha antes da secagem, para obter
um produto de melhor qualidade. Estes solúveis
compostos por aminoácidos livres e outros
compostos de amônia quaternária são
responsáveis pelo fator de crescimento dos
animais alimentados com farinha de peixe -,
reincorporando-a ao processo produtivo de
farinha e óleo de peixe. Esta modificação
representa um ganho de cerca de 30% no
desempenho das alternativas de tratamento dos
efluentes. A “água de cola” é responsável por
30% dos fluxos de DBO nos efluentes totais da
indústria (cf. Tabela 1).
As duas modificações introduzidas no
Cenário III representam um acréscimo global de
desempenho das alternativas de tratamento dos
efluentes variando de 40% a pouco mais de 50%.
Em contrapartida, estas modificações resultam
em um acréscimo nos custos de tratamento de,
aproximadamente, 16% com relação aos
investimentos em obras e equipamentos para a
implantação do projeto da indústria. Estes custos
são absorvidos comvantagens no fluxo de fundos
do empreendimento em valores atuais.
A Figura 5 descreve o terceiro cenário.
Em relação ao cenário anterior, o acréscimo no
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
126
desempenho das alternativas de tratamento de
efluentes e de seus custos define a sua nova
posição no gráfico da Figura 5, com um
deslocamento, respectivamente, para a direita e
para cima.
No terceiro cenário observa-se a
coincidência de um possível padrão físico de
sustentabilidade, para as águas fluviais
receptoras, com o valor do NBN. Isto acontece
porque, no ponto de lançamento dos efluentes
(Canal 2), os níveis de OD nas águas
correspondem ao NBN (4.5 mgOD/L). O padrão
físico de sustentabilidade poderia ser diferente
se as características naturais das águas do Rio
Negro permitissem um NBN superior aos
padrões legais para usos mais amplos (F2 ou F1).
Neste caso, NBN estaria à direita de F1 no
gráfico, e o nível ótimo de controle de efluentes
poderia ser definido, de forma menos restritiva,
pela perpendicular à curva a partir de F2 ou F1.
As alternativas “D” e “E” satisfazem a
condição de sustentabilidade expressa pelo NBN,
evitando a perda de função ou a degradação da
aptidão natural das águas do Rio Negro, ou seja,
faz DCN = 0. A alternativa “D” é a de menor
custo sendo, por isso, a selecionada como a
alternativa a ser implantada no projeto. O nível
ótimo técnico-econômico é representado na
figura pela interseção da perpendicular a partir
de NBN à curva inferida de oferta de qualidade
ambiental. Este nível é um referencial teórico
interessante a ser observado. Ele serve para
mostrar o posicionamento da alternativa
escolhida relativamente a este “ótimo”
conceitual. Evidentemente, por ser a curva uma
interpolação (simplificação esquemática) das
realidades expressas nas alternativas de
tratamento, o ponto “D” não é inteiramente
coincidente.
Outro aspecto relevante no terceiro
cenário é o aumento da taxa interna de retorno
do projeto pelo incremento das receitas
esperadas. Isto foi possível pela reutilização da
“água de cola” no processo de produção de
farinha e óleo de peixe, permitindo a agregação
de receitas a partir da incorporação de um novo
produto aos previstos para serem produzidos pela
indústria do estudo. A “água de cola” é um
produto constituído quase que exclusivamente
por proteínas que alcança excelente cotação no
mercado externo, especialmente o asiático. O
incremento observado nas receitas futuras supera
o dos investimentos em obras e equipamentos
necessários à consecução do terceiro cenário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Têm razão os ambientalistas que
denunciam os problemas ambientais causados
por empreendimentos avaliados de acordo com
critérios econômicos padronizados, i.e.,
realizados sob uma ótica de custos e benefícios
estritamente privada.
O problema não é tanto das Análises
Custos-Benefícios, mas, sobretudo, do escopo
restrito que a maioria delas apresenta.Asolução
para isso encontra-se na correta incorporação de
custos ambientais nos projetos. No entanto,
primeiro é preciso resolver as dificuldades
inerentes à intangibilidade da maioria dos bens
ambientais em termos monetários.
As dificuldades podem ser evitadas
através de abordagens baseadas no
estabelecimento de padrões de sustentabilidade
(preferencialmente os legalmente definidos) e
sua implementação técnica e financeira.
O método utilizado no estudo de caso
apresentado tem esta característica e,
conceitualmente, a estratégia proposta está de
0
1
2
3
4
5
6
7
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Padrão Físico (mgOD/L)
CustodeTratamento
A
B
C
D
E
H
F1F2NBN
Nível ótimo técnico-econômico
F3NBP
Alternativa
selecionada
F
FIGURA 5 - Cenário III: abordagem considerando a
capacidade de suporte do meio receptor (Rio Negro) e
alterações no projeto original. A, B....I = alternativas de
tratamento dos efluentes (custos em percentuais do
investimento total em obras e equipamentos para a
implantação da indústria); LV = Limite de Viabilidade
financeira; NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L);
NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L); F1, F2, F3 = funções
ou usos das águas nas Classes I, II e III (consumo humano,
Resolução CONAMA no
357/2005).
Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005
127
acordo com o paradigma da necessidade de
conservação ambiental, implícito no conceito de
‘desenvolvimento sustentável’.
No exercício desenvolvido é interessante
ressaltar o esforço feito no sentido de se alcançar
o padrão de sustentabilidade estabelecido
através, não apenas de uma solução end-of-pipe
para o controle dos efluentes da indústria
estudada, mas, também, com o emprego de
soluções interferindo decisivamente no desenho
técnico-operacional e de negócios previsto no
projeto original.
O método permitiu, ainda, a estimativa
da depreciação física do capital natural (no caso,
representado pelas águas fluviais do Rio Negro,
corpo receptor dos efluentes da indústria de
pescado) associada a qualquer insuficiência
observada nas alternativas consideradas para o
controle dos efluentes. Assim como, discutir
quais as parcelas desta depreciação imputáveis
ao empreendedor ou à sociedade.
BIBLIOGRAFIA
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1998.
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Gereciamento ambiental

  • 1. INTERNALIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM ANÁLISES CUSTOS-BENEFÍCIOS (ACB) DE PROJETOS. ESTUDO DE CASO: INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO, MANAUS, AM Bidone, E.D.1 ; Bidone, F.J.D.2 & Maddock, J.E.L.1 1 Universidade Federal Fluminense – UFF, Programa de Pós-Graduação em Geociências (Geoquímica Ambiental – PGG/UFF), Outeiro de São João Batista, s/n – 5o andar, CEP 24.020-007, Centro – Niterói, RJ. E-mail: geobida@vm.uff.br; geojelm@vm.uff.br 2 Curso de Administração, Pontifícia Universidade Católica - PUC/RJ, e-mail: francisco_bidone@hotmail.com Recebido em 02/05; aprovado para publicação em 10/05 ABSTRACT Incorporation of costs due to environmental impacts in cost-benefit analysis of projects is not an easy task due to intangible market value of most goods and services affected by the activities planned in the project. In this paper we discuss the environmental externalities of the establishing of a fish processing plant in Manaus, AM. In this case we discuss the impacts on the water quality of the river receiving the plant effluents; therefore valuation of goods and services is not needed. The methodology use environmental impact modeling through the evaluation of the support capacity of the environment in relation to sustainability. The results allowed the creation of alternative scenarios to control the emission of liquid effluents; a monetary valuation of the physical depreciation of the natural capital (i.e. water quality) for each alternative; the definition of an optimal technical-economic level for the selection of the best alternative; and the definition of the fraction of the natural capital depreciation under the responsibility of the stake holders. RESUMO A incorporação (internalização) dos custos devidos a impactos ambientais em análises custos- benefícios de projetos não é uma tarefa fácil; tendo em vista a intangibilidade, em termos monetários (mercado), da maioria de bens e serviços ambientais afetados pelas atividades previstas no projeto. Neste trabalho, através do exemplo prático do projeto para implantação de uma indústria de beneficiamento de pescado às margens do Rio Negro na cidade de Manaus,AM, é utilizada uma abordagempara incorporar externalidades ambientais, no caso, impactos sobre a qualidade das águas fluviais receptoras de efluentes líquidos. Neste caso, não é necessária a valoração de bens e serviços ambientais.Ametodologia preconizada utiliza-se da modelagem dos impactos das atividades de projeto sobre o meio ambiente, avaliando sua capacidade de suporte relativa a indicadores para o seu uso sustentável. Os resultados obtidos permitiram: a avaliação ambiental de diferentes cenários alternativos para o controle da emissão de efluentes líquidos do projeto enfocado; a estimativa monetária da depreciação física do capital natural (i.e., água fluvial, no estudo de caso) envolvida em cada alternativa; a definição de um nível ótimo técnico-econômico para a seleção da alternativa mais viável; e, complementarmente, verificar qual a parcela da depreciação física resultante é de responsabilidade do empreendedor ou da sociedade. Geochimica Brasiliensis, 19(2)118-127, 2005 Geochimica Brasiliensis
  • 2. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 119 INTRODUÇÃO Análise Custos-Benefícios em Políticas Públicas AsAnálises Custos-Benefícios (ACBs), em sua origem, são técnicas econômicas criadas para gerar informações visando a melhoraria da qualidade das políticas públicas. Neste contexto, ‘qualidade’ refere-se à medida do bem-estar social que determinada política confere à sociedade. As ACBs envolvem a medida monetária da mudança em bem-estar individual, agregado, resultante de uma decisão política. Nelas, assume-se que o bem-estar individual depende da satisfação de preferências individuais, e que a medida monetária da mudança em bem-estar pode ser derivada a partir do quanto os indivíduos estão dispostos a pagar, i.e., dispostos a renunciar em termos de outras oportunidades de consumo. Esta abordagempode ser aplicada tanto a bens e serviços correntemente transacionados no mercado quanto àqueles públicos não transacionáveis como, por exemplo, a qualidade do meio ambiente, embora a medida monetária destes últimos representar um grande desafio (Kopp et al, 1997) EmACBs aplicadas à políticas públicas ambientais (p.ex., combate à poluição) é preciso valorar os custos de proteção ambiental e os benefícios resultantes à sociedade, de modo a maximizar o benefício social líquido do conjunto dos indivíduos afetados, máximo este que resulta da igualdade entre os custos marginais de proteção e benefícios marginais resultantes. Este enfoque traz problemas sérios dos pontos de vista operacional e teórico (Cánepa, 2003). Do ponto de vista teórico, as críticas incluem desde questões (i) filosóficas - a proteção ambiental é, freqüentemente, desejável por razões que não podem ser quantificadas (sociais, espirituais, psicológicas) valores que desafiam valorações em simples termos econômicos; à (ii) metodológicas - em ACB, a medida do bem-estar social e de como ele é afetado por uma política depende de como o bem- estar dos indivíduos é agregado para obter-se o bem-estar de toda a coletividade; ou, o meio ambiente é um bem público que não é transacionado em mercados e, portanto, desafia a avaliação econômica. Do ponto de vista operacional, existem várias abordagens técnicas para a valoração econômica de recursos ambientais (produção sacrificada, valor de propriedade, custo de viagem, custo de saúde, avaliação contingente, entre outros). As dificuldades operacionais inerentes aos métodos de valoração vão do conhecimento limitado dos ecossistemas (o que dificulta a identificação de benefícios, potenciais e futuros, e tende à elaboração de contas que subestimam estes benefícios), à dificuldade em se imputar benefícios, ou sua perda, exclusivamente a atributos ambientais.Tendo em vista as limitações em se determinar as preferências da população por benefícios ambientais em termos de mercado, esforços são realizados no sentido de traçar estas preferências através de avaliações contingentes. Segundo Serôa da Motta (1990), os resultados das pesquisas podem ser influenciados pela imprecisão das perguntas, pelo instrumento de coleta, pela desinformação e expectativas da população considerada. Ampla bibliografia detalhando métodos e técnicas de valoração ambiental é disponível, bem como sobre os problemas conceituais, teóricos e empíricos encontrados na quantificação do valor econômico para o meio ambiente (e.g., In: Pearce e Turner, 1990; Costanza, 1991; Pearce, 1993; Serôa da Motta, 1998; May et al., 2003; Bidone e Morales, 2004). Análise Custos-Benefícios em Projetos/ Empreendimentos A partir dos anos 80 verifica-se o desenvolvimento de legislação ambiental gradativamente mais severa, impondo às não conformidades ambientais penalidades elevadas e condições rigorosas para o licenciamento ambiental de empreendimentos.Apressão sobre as empresas cada vez mais conscientizam que o meio ambiente é estratégia de negócio e fator de sucesso na gestão empresarial, assim como os programas da qualidade, de segurança e de custos. Surge o Sistema de Gestão Ambiental, certificado e integrado às demais funções corporativas. Racionalizam-se os investimentos ambientais e, com isso, busca-se: melhores
  • 3. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 120 resultados operacionais (reciclagem, conservação de matéria e energia); redução do risco com acidentes e geração de passivos ambientais, multas e penalidades; melhor relação com partes interessadas e órgãos fiscalizadores; maior aceitação pelo mercado (credibilidade) e competitividade; atrair investidores e acionistas; facilitar o acesso a financiamentos favorecidos. Neste contexto as ACBs podem representar um papel importante. Através da avaliação financeira ou de rentabilidade privada o empreendedor procura conhecer o retorno que o projeto gerará sobre o capital que ele vai investir.Adeterminação do orçamento de custos e receitas na avaliação privada de projetos não apresenta nenhum problema maior que o da determinação dos preços dos produtos e dos insumos de mercado. Aplicar ACB, em seu sentido estrito, na avaliação econômica de projetos individuais (públicos ou privados) apresenta os mesmos princípios básicos da avaliação privada, com a única e importante diferença de que inclui certos benefícios e custos que não participam do orçamento do empresário, mas que participamdo orçamento da coletividade em geral, i.e., economias externas ou externalidades do projeto (Buarque, 1989). Em economia ambiental, isto significa a necessidade de internalizar, em termos monetários, os benefícios e custos de impactos resultantes da implantação do empreendimento sobre o meio ambiente. Os planos de contas convencionais são registrados em termos de mercado (preços). Então, na avaliação financeira na ótica privada, ou seja, na construção de fluxos de fundos em valores atualizados, a inserção de aspectos ambientais na ACB, da mesma forma que no caso de políticas públicas, requer a estimativa de preços para recursos ambientais que sejam diretamente comparáveis com preços de mercado, com problemas similares aos apontados anteriormente (“Fluxo de Fundos”, ou seja, grosso modo: FF = Receitas - Investimentos de Implantação - Custos de Operação, Manutenção, etc.). METODOLOGIA Uma alternativa à necessidade de valoração de recursos ambientais em ACB, sobretudo do lado dos ‘benefícios’ dos planos de contas, tanto para políticas públicas quanto para projetos individuais, é o emprego deAnálise de Custo-Efetividade (ACE). AACE pode ser vista como uma forma particular de ACB. Em ACE, aplicada a uma política de controle/proteção ambiental, é estabelecida uma meta ou um padrão de qualidade e/ou quantidade ambiental, e a análise busca identificar, entre as alternativas possíveis para alcançar a meta ou o padrão, aquela(e) de menor custo. No caso da aplicação de ACE a projetos/empreendimentos individuais, geralmente o empreendedor busca atender a meta ou o padrão estabelecida(o) pela legislação ambiental, a qual, por sua vez, resulta de alguma política pública (tenha sido esta analisada em termos de custos e benefícios à sociedade, ou não). Evidentemente, o comportamento do empreendedor é reflexo da natureza de comando- controle, incorporando o princípio de poluidor pagador, vigente na legislação ambiental. O exemplo prático da indústria de pescado, a seguir, utiliza a abordagem metodológica proposta por Bidone et al. (2002) para a internalização de impactos ambientais em projetos individuais, incorporando em grande parte o conceito de ACE. Umexemplo teórico do método proposto é apresentado na Figura 1. Sobre o eixo “y” são colocados os Custos das Medidas de Proteção ambiental (CMP), os termos a, b, c, d, e, f, g, na figura. Por exemplo, os custos de diferentes A B C D E F G NBNPFS f'g'e'c'b'a' PF CMP ($) a b c d e f g DCN(1) DCN(2) . FIGURA 1 – Análise Custos-Benefícios sem necessidade de valoração de bens e serviços ambientais (Fonte: Bidone et al., 2002)
  • 4. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 121 alternativas técnicas para o tratamento de efluentes de um projeto ou alternativas para um programa público de saneamento básico, em ambos os casos tendo como corpo receptor um rio. No eixo “x” são mostrados o Padrão Físico (PF) para as funções/usos ambientais, i.e., um indicador capaz de referenciar a qualidade e/ou quantidade necessária à realização de diferentes funções ou usos possíveis de um recurso natural, aqui no exemplo, as águas de um determinado rio. O PF corresponde a um parâmetro químico, físico ou biológico, p.ex., os níveis de oxigênio dissolvido nas águas fluviais do exemplo proposto. No caso da existência de vários poluentes nos efluentes, se um único parâmetro não for capaz de indicar sua presença, o PF pode assumir a forma de um índice agregando todos ou parte dos contaminantes de interesse. No caso do tratamento do tratamento de diferentes tipos de efluentes em uma mesma instalação industrial, o método deve ser empregado, separadamente, para cada tipo de efluente. Um valor específico do PF pode ser relacionado à necessária qualidade do recurso ou à qualidade considerada aceitável definida pela legislação ambiental para um determinado uso do recurso, ou para vários usos (os quais representam benefícios ambientais). Esse é o Padrão Físico de Sustentabilidade (PFS) definido para o recurso em pauta. O termo NBN sobre o eixo “x” corresponde ao Nível de Base Natural do proposto indicador para o recurso. No exemplo de águas fluviais, a qualidade da água precisa ser relacionada a cada uma das alternativas de medidas de controle ambiental, por meio de modelos matemáticos (p.ex., modelos de diluição/dispersão), os quais podem estimar (i.e., prognosticar) os valores resultantes das concentrações do parâmetro indicador (i.e., PF) proposto para a qualidade das águas. Os termos a’, b’, c’, d’, e’, f’, g’ sobre o eixo “x”. A curva de oferta de funções/usos do recurso natural (i.e., disponibilidade – qualidade e quantidade - do recurso natural) pode ser interpolada ou inferida considerando os custos de cada alternativa de medida de controle ambiental (a, b, c...) e seus resultantes valores de qualidade (a’, b’, c’...). Em outros termos, isso significa que, no diagrama tradicional das curvas de oferta e de demanda para funções/usos de um dado recurso natural, foi determinado um ponto sobre as abscissas (o ponto PFS na figura), o qual representa o padrão para o uso sustentável do recurso. Uma perpendicular neste ponto intercepta a curva de oferta. Esta perpendicular substitui a (desconhecida) curva de demanda. O ponto de intersecção indica o volume de atividades de controle, medido em termos monetários, necessário para atingir o padrão de uso sustentável determinado. A curva de demanda (de inclinação oposta, cortando a curva de oferta) por funções ambientais é praticamente impossível de construir. Isso porque, a demanda não é manifestada diretamente, ou de maneira suficientemente rápida para alcançar-se umvalor mensurável de equilíbrio: os membros da sociedade que se beneficiam das medidas de proteção ambiental não pagam por elas diretamente, e suas preferências somente podem ser expressas através de processos políticos aonde eles serão ofuscados por outras questões. Assim, na abordagem proposta, a demanda foi substituída pelo padrão de sustentabilidade, representado pelo ponto PFS na figura, o qual assegura a manutenção da qualidade do recurso, possibilitando um número máximo de suas funções/usos, tanto para o presente quanto para o futuro. O termo Depreciação do Capital Natural (DCN), em termos de depreciação física, está relacionado à noção de perda de função/uso, i.e., perda em qualidade do recurso considerado, envolvendo a avaliação dos seus custos e responsabilidades por eles. No exemplo da figura, o termo DCN(1) reflete uma situação onde o Padrão Físico de Sustentabilidade (PFS) legalmente definido é menor do que o Nível de Base Natural (NBN). O valor monetário correspondente a DCN(1) pode ser visto como uma medida indireta dos custos
  • 5. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 122 ambientais incorridos pela sociedade devido à perda (depreciação) na qualidade de água, implícitos no PFS definido pela legislação. Devido ao seu caráter legal, esses custos não podem ser incluídos na análise econômica do projeto (o projeto implantando a alternativa ‘D’ sobre a curva atende à legislação, i.e., atinge o PFS). Eles são custos ambientais implícitos, aceitos/definidos pela lei/sociedade. O termo DCN(2) , considerando como exemplo a alternativa “C” de medida de controle ambiental, e outras situações similares na figura, mede, em termos monetários, os custos ambientais não internalizados pelo projeto em sua análise de viabilidade. Por outro lado, estas situações podem representar, apenas, uma etapa momentânea de uma estratégia de controle ambiental, legalmente acordada, a ser implementada em sucessivas etapas. Em qualquer caso, esses custos deveriam ser internalizados na análise econômica do projeto, por serem custos de responsabilidade privada (i.e., do empreendimento); ou, ainda, no caso de projetos públicos (p.ex., saneamento), deveriam ser incluídos, juntamente com o valor monetário correspondente à DCN(1) , no cálculo das contas públicas (p.ex., PIB municipal) a fim de indicar à sociedade o tamanho (custo) real do seu desempenho econômico. O modelo proposto poderia ser utilizado em conjunção com políticas de incentivo à conservação (p.ex., taxação de emissões de efluentes), sobretudo pela sua capacidade de incentivar melhoramentos tecnológicos. Estas políticas também têm seus custos. A sobrecarga econômica de uma política de incentivos vai depender em parte de como, sobretudo, os valores obtidos com as taxas são utilizados. Ainda, o custo será menor se outras taxas que sobrecarregam desnecessariamente as atividades forem eliminadas. ESTUDO DE CASO A seguir, é apresentado um exemplo prático de análise baseado na metodologia descrita. A análise foi realizada objetivando a viabilidade técnico-econômica do controle de efluentes líquidos de uma indústria de beneficiamento de pescado. A área do estudo situa-se na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, às margens do Rio Negro, cerca de 13 km da confluência deste rio com o Rio Solimões, formadores do Rio Amazonas. A indústria foi projetada visando: (i) a modernização da industrialização do pescado.As perdas podemalcançar mais de 50% do peso total de pescado processado, devido aos processos essencialmente artesanais utilizados na industrialização do pescado na região; e, (ii) a formação de estoques reguladores de pescado beneficiado e congelado para atender a demanda na época de entressafra, sobretudo com pescado a um preço acessível às populações de baixa renda. O processamento e o beneficiamento de até 200 t/d de pescado, conforme previsto no projeto, geram efluentes com cargas orgânicas extremamente elevadas. O lançamento destas cargas no corpo fluvial receptor (Rio Negro) foi diagnosticado como o principal impacto ambiental potencial relacionado ao empreendimento.Acontaminação das águas pelo lançamento de efluentes resultantes de indústrias de pescado é expressiva: problemas estéticos, alterações profundas das características organolépticas da água, anaerobiose e eutrofização, problemas de saúde tais como a conjuntivite, etc., já foram intensivamente relacionados e divulgados. A Tabela 1 apresenta as vazões, Fonte à partir da indústria Vazão ( m3 /d) DBO ( mg/L) Fluxo ( kg/d) Beneficiamento de Pescado 1.415 4.000 5.660 Água de Cola ( "stickwater") 40 70.000 2.800 Outras 600 200 120 Efluente Total 2.055 4,175 8.580 Fonte: OIKOS Pesquisa Aplicada Tabela 1 - Características dos efluentes líquidos da indústria projetada. Fluxo ou Carga = Vazão do Efluente x Concentração de DBO
  • 6. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 123 concentrações em Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e fluxos (cargas) dos efluentes líquidos a serem gerados pela indústria. O termo “beneficiamento de pescado” refere-se às fontes da indústria relacionadas à fabricação dos diferentes produtos a serem comercializados. O termo “água de cola” (“stickwater”) corresponde aos efluentes com características de gel, resultantes da fabricação de farinha e óleo de peixe, responsáveis por cerca de 30% dos fluxos totais de efluentes.As “outras” (fontes) referem-se aos efluentes gerados nas demais instalações da fábrica, sobretudo aos esgotos. Considerando que o padrão para o lançamento de cargas orgânicas em águas fluviais é de 150 mgDBO/L no efluente, e que a DBO do efluente total da fábrica é de 4.175 mgDBO/L, a tarefa passa a ser o tratamento destes efluentes. Para tanto, três cenários foram considerados. Cenário I: Abordagem convencional O primeiro cenário considera o estrito atendimento ao padrão estabelecido e, portanto, os efluentes precisam ser tratados, previamente ao seu lançamento, fazendo com que sua concentração de DBO (4.175 mgDBO/L) seja reduzida em, aproximadamente, 96%. Nove alternativas para o tratamento dos efluentes foram consideradas: A - sem tratamento; B - separação do material sólido por peneiração; C - peneiração + decantação primária; D - peneiração + decantação + floculação e sedimentação; E - peneiração + decantação + floculação e sedimentação + filtração com filtro biológico aeróbico; F - lagoas facultativas; G - lagoas anaeróbicas; H - lagoas de maturação; I - lagoas aeradas. A Figura 2 descreve o primeiro cenário considerado. A curva na figura foi interpolada considerando-se as intersecções dos custos para implantação de cada uma das alternativas de tratamento (A, B. I), com a correspondente porcentagem de redução na concentração de DBO dos efluentes. Os custos de implantação das diferentes alternativas de tratamento foram definidos em termos do seu percentual na composição do investimento total em obras e equipamentos para implantação da fábrica. A curva inferida mostra que a redução do poluente e os custos incorridos para isso se correlacionam de maneira exponencial. A alternativa “I” é a única que satisfaz a condição de reduzir a DBO dos efluentes ao padrão estabelecido (PL, na figura). Mas, esta alternativa tem um custo de implantação acima do limite de viabilidade financeira (LV, na figura), determinado pela equipe do projeto em 8% do total em obras e equipamentos, disponíveis para o tratamento dos efluentes da fábrica. Custos adicionais forçariam uma reavaliação de toda a “engenharia financeira” do projeto, com riscos para a sua viabilização. Esta alternativa apresenta uma “folga” pequena relativamente ao padrão estabelecido. Em sistemas de tratamento sempre é melhor trabalhar-se com uma “folga” maior para 0 2 4 6 8 10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 %redução da DBO Custodetratamento PL A B C D E F H G ILV FIGURA 2 - Cenário I: abordagem convencional. A, B....I = alternativas de tratamento dos efluentes (custos em percentuais do investimento total em obras e equipamentos para a implantação da indústria); PL = padrão legal (150 mgBOD/L); LV = Limite de Viabilidade financeira
  • 7. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 124 diminuir os eventuais problemas a posteriori, resultantes de possíveis deficiências no desempenho do sistema. Cenário II: Abordagem considerando a capacidade de suporte do Rio Negro estabelecida através da modelagem da dispersão dos efluentes nas suas águas A Figura 3 apresenta o esquema simplificado de localização e lançamento dos efluentes da indústria no Rio Negro. O Oxigênio Dissolvido (OD) será utilizado como o padrão físico, referencial de sustentabilidade das águas fluviais receptoras dos efluentes líquidos da indústria de beneficiamento de pescado, ou seja, padrão para as funções ou usos sustentáveis das águas fluviais. No caso presente, o OD preenche o requisito de indicar os impactos globais significativos potenciais da emissão dos efluentes nas águas fluviais. O Rio Negro é um rio de grande porte, com largura média na época de vazante de cerca de 2km e com uma profundidade média de 13 m. Em época de cheia, estas dimensões podem aumentar de várias vezes. Ele apresenta vários canais. O Canal 1, na figura, é o mais impactado, porque a maior parte dos efluentes domésticos da cidade de Manaus são aí lançados diretamente in natura, i.e., sem tratamento prévio. Nas áreas próximas ao centro da cidade, de maior densidade demográfica, os níveis de OD podem alcançar valores inferiores a 1mgOD/L, o valor médio do Nível de Base de Poluição (na figura, NBP) destas áreas. O valor médio do NBP aumenta para 3,5mgOD/L nas proximidades da área da indústria projetada. O Canal 2 apresenta valores de OD similares aos do Nível de Base Natural (NBN), i.e., sem poluição do Rio Negro: em média, 4.5mgOD/L. Deve-se salientar que o Rio Negro é um rio de águas turvas e negras, naturalmente rico em matéria orgânica, com pH ácido (< 5,0) e com baixos teores de OD. O Cenário II considera o lançamento dos efluentes no Canal 1, através de emissário subaquático. A Figura 4 descreve este segundo cenário. M A N A U S C IT Y N E G R O R IV E R C hannel 1 C hannel 2 P B L=3.5m gO D /l N B L =4.5m gO D /l M F I S etting II S etting III S cale ~1:40,000 M ANAUS In d ú stria Ce ná rio II Ce n á rio III Ca n a l 1 NBP = 3,5m g O D/L Ca n a l 2 NBN= 4,5m g O D/L Rio Ne gro Es gotos Es cala ~ 1:40.000 III FIGURA 3 - Desenho esquemático da localização e lançamento dos efluentes da indústria de beneficiamento de pescado. OD = Oxigênio Dissolvido; NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L); NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L) 0 2 4 6 8 10 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 Padrão Físico (mgOD/L) Custodetratamento A B C F D E G H I F2NBNNBP LV FIGURA 4 - Cenário II: abordagem considerando a capacidade de suporte do Rio Negro estabelecida através da modelagem da diluição dos efluentes nas suas águas. A, B....I = alternativas de tratamento dos efluentes (custos em percentuais do investimento total em obras e equipamentos para a implantação da indústria); LV = Limite de Viabilidade financeira; NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L); NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L); F2 = função ou uso das águas na Classe II (consumo humano, Resolução CONAMA no 357/2005). A curva na figura representa uma “curva de oferta” de qualidade ambiental. Ela foi inferida considerando-se os custos de implantação das alternativas de tratamento e as correspondentes concentrações de OD nas águas do Rio Negro. O OD nas águas, resultante da mistura das águas com a carga de DBO remanescente lançada após tratamento, foi estimado com o uso do modelo de Streeter-Phelps para cada uma das alternativas consideradas. Este é um modelo validado amplamente usado para prognosticar o déficit de oxigênio resultante da descarga de efluentes orgânicos em rios (Tchobanouglous e Schroeder, 1987). As funções ambientais correspondem aos usos das águas fluviais considerados pela legislação brasileira (Resolução CONAMA no 357/2005); neste estudo são referenciadas aos seus padrões legais em OD (mgOD/L): F1 (6
  • 8. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 125 mgOD/L) = abastecimento doméstico após tratamento simplificado; irrigação de hortaliças ingeridas cruas; aqüicultura; proteção de comunidades aquáticas e recreação; F2 (5 mgOD/L) = abastecimento doméstico após tratamento convencional; irrigação de plantas frutíferas; aquicultura; proteção de comunidades aquáticas e recreação; F3 (4 mgOD/L) = abastecimento doméstico após tratamento convencional; irrigação de cereais e forrageiras; dessedentação de animais; e, F4 (2 mgOD/L) = navegação; harmonia paisagística e outros usos menos exigentes. As águas do Canal 1 do Rio Negro, local de lançamento dos efluentes no Cenário II, são poluídas (NBP médio de 3,5mgOD/l) e, portanto, sem tratamento prévio somente podem ser utilizadas para a função F4.Arigor, a alternativa “I” de tratamento dos efluentes seria a única na qual o NBP de oxigênio permaneceria o mesmo. Sobre a alternativa “I” continuam válidas as observações feitas no cenário anterior. Todas as demais alternativas ocasionam uma piora nas condições atuais (já degradadas), i.e., todas causariamuma diminuição dos níveis de ODpara valores situados abaixo do NBP. As alternativas de tratamento “A, B & C” podem gerar uma perda da função F4. Em termos da Depreciação do Capital Natural (DCN) água fluvial, uma análise sucinta da figura permite observar que: (i) qualquer redução da qualidade das águas para valores inferiores ao NBP representa uma perda de qualidade (depreciação) que pode ser imputada ao empreendimento, correspondendo, portanto, a custos de responsabilidade privada; (ii) se esta redução de qualidade ocorresse no intervalo compreendido entre os valores de NBP (3,5 mgOD/l) e NBN (4,5 mgOD/l) - caso impossível neste Cenário II mas possível de ocorrer no Cenário III, a seguir - a responsabilidade pela DCN dificilmente poderia ser imputável ao empreendimento, porque este utilizaria águas já previamente contaminadas pelos esgotos da cidade de Manaus, e com as metodologias de monitoramento ambiental disponíveis, dificilmente poderíamos estabelecer variações nítidas nos gradientes de concentração que pudessem ser imputáveis ao empreendimento. Cenário III: Abordagem considerando a capacidade de suporte do meio receptor (Rio Negro) e alterações no projeto No Cenário III, os efluentes são lançados no Canal 2, e não mais no Canal 1 (Figura 3). Introduzindo-se esta modificação, devido às características hidrodinâmicas de maior capacidade de dispersão no Canal 2, as alternativas de tratamento melhoram seu desempenho, medido por modelagem, entre 15% e 20% de incremento nas estimativas do OD nas águas do Rio Negro. O Cenário III inclui, também, a reciclagem da “água de cola” - um produto intermediário obtido após o cozimento, prensado e centrifugado, este último para a retirada do óleo do pescado. Este produto possui uma elevada quantidade de água, sendo altamente deteriorável. O produto obtido da água de cola se chama no mercado internacional “solúvel de pescado” e, normalmente, é incorporado ao processo de farinha antes da secagem, para obter um produto de melhor qualidade. Estes solúveis compostos por aminoácidos livres e outros compostos de amônia quaternária são responsáveis pelo fator de crescimento dos animais alimentados com farinha de peixe -, reincorporando-a ao processo produtivo de farinha e óleo de peixe. Esta modificação representa um ganho de cerca de 30% no desempenho das alternativas de tratamento dos efluentes. A “água de cola” é responsável por 30% dos fluxos de DBO nos efluentes totais da indústria (cf. Tabela 1). As duas modificações introduzidas no Cenário III representam um acréscimo global de desempenho das alternativas de tratamento dos efluentes variando de 40% a pouco mais de 50%. Em contrapartida, estas modificações resultam em um acréscimo nos custos de tratamento de, aproximadamente, 16% com relação aos investimentos em obras e equipamentos para a implantação do projeto da indústria. Estes custos são absorvidos comvantagens no fluxo de fundos do empreendimento em valores atuais. A Figura 5 descreve o terceiro cenário. Em relação ao cenário anterior, o acréscimo no
  • 9. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 126 desempenho das alternativas de tratamento de efluentes e de seus custos define a sua nova posição no gráfico da Figura 5, com um deslocamento, respectivamente, para a direita e para cima. No terceiro cenário observa-se a coincidência de um possível padrão físico de sustentabilidade, para as águas fluviais receptoras, com o valor do NBN. Isto acontece porque, no ponto de lançamento dos efluentes (Canal 2), os níveis de OD nas águas correspondem ao NBN (4.5 mgOD/L). O padrão físico de sustentabilidade poderia ser diferente se as características naturais das águas do Rio Negro permitissem um NBN superior aos padrões legais para usos mais amplos (F2 ou F1). Neste caso, NBN estaria à direita de F1 no gráfico, e o nível ótimo de controle de efluentes poderia ser definido, de forma menos restritiva, pela perpendicular à curva a partir de F2 ou F1. As alternativas “D” e “E” satisfazem a condição de sustentabilidade expressa pelo NBN, evitando a perda de função ou a degradação da aptidão natural das águas do Rio Negro, ou seja, faz DCN = 0. A alternativa “D” é a de menor custo sendo, por isso, a selecionada como a alternativa a ser implantada no projeto. O nível ótimo técnico-econômico é representado na figura pela interseção da perpendicular a partir de NBN à curva inferida de oferta de qualidade ambiental. Este nível é um referencial teórico interessante a ser observado. Ele serve para mostrar o posicionamento da alternativa escolhida relativamente a este “ótimo” conceitual. Evidentemente, por ser a curva uma interpolação (simplificação esquemática) das realidades expressas nas alternativas de tratamento, o ponto “D” não é inteiramente coincidente. Outro aspecto relevante no terceiro cenário é o aumento da taxa interna de retorno do projeto pelo incremento das receitas esperadas. Isto foi possível pela reutilização da “água de cola” no processo de produção de farinha e óleo de peixe, permitindo a agregação de receitas a partir da incorporação de um novo produto aos previstos para serem produzidos pela indústria do estudo. A “água de cola” é um produto constituído quase que exclusivamente por proteínas que alcança excelente cotação no mercado externo, especialmente o asiático. O incremento observado nas receitas futuras supera o dos investimentos em obras e equipamentos necessários à consecução do terceiro cenário. CONSIDERAÇÕES FINAIS Têm razão os ambientalistas que denunciam os problemas ambientais causados por empreendimentos avaliados de acordo com critérios econômicos padronizados, i.e., realizados sob uma ótica de custos e benefícios estritamente privada. O problema não é tanto das Análises Custos-Benefícios, mas, sobretudo, do escopo restrito que a maioria delas apresenta.Asolução para isso encontra-se na correta incorporação de custos ambientais nos projetos. No entanto, primeiro é preciso resolver as dificuldades inerentes à intangibilidade da maioria dos bens ambientais em termos monetários. As dificuldades podem ser evitadas através de abordagens baseadas no estabelecimento de padrões de sustentabilidade (preferencialmente os legalmente definidos) e sua implementação técnica e financeira. O método utilizado no estudo de caso apresentado tem esta característica e, conceitualmente, a estratégia proposta está de 0 1 2 3 4 5 6 7 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 Padrão Físico (mgOD/L) CustodeTratamento A B C D E H F1F2NBN Nível ótimo técnico-econômico F3NBP Alternativa selecionada F FIGURA 5 - Cenário III: abordagem considerando a capacidade de suporte do meio receptor (Rio Negro) e alterações no projeto original. A, B....I = alternativas de tratamento dos efluentes (custos em percentuais do investimento total em obras e equipamentos para a implantação da indústria); LV = Limite de Viabilidade financeira; NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L); NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L); F1, F2, F3 = funções ou usos das águas nas Classes I, II e III (consumo humano, Resolução CONAMA no 357/2005).
  • 10. Bidone, E.D. et al./Geochim. Brasil., 19(2)118-127, 2005 127 acordo com o paradigma da necessidade de conservação ambiental, implícito no conceito de ‘desenvolvimento sustentável’. No exercício desenvolvido é interessante ressaltar o esforço feito no sentido de se alcançar o padrão de sustentabilidade estabelecido através, não apenas de uma solução end-of-pipe para o controle dos efluentes da indústria estudada, mas, também, com o emprego de soluções interferindo decisivamente no desenho técnico-operacional e de negócios previsto no projeto original. O método permitiu, ainda, a estimativa da depreciação física do capital natural (no caso, representado pelas águas fluviais do Rio Negro, corpo receptor dos efluentes da indústria de pescado) associada a qualquer insuficiência observada nas alternativas consideradas para o controle dos efluentes. Assim como, discutir quais as parcelas desta depreciação imputáveis ao empreendedor ou à sociedade. BIBLIOGRAFIA BIDONE, Edison D., MADDOCK, John E. L., CASTILHOS, Zuleica C. A Practical Method to Internalize Environmental Impacts into Cost Benefit Analysis. Environmental Practice, Oxford University Press, 4:31-35, 2002. BIDONE, Edison D. & MORALES, Paulo R.D. Desenvolvimento Sustentável e Engenharia: Enfoque Operacional. Rio de Janeiro: Fundação Ricardo Franco/IME, ISBN 85-98014-03-6, 260p., 2004. BUARQUE, C. Avaliação Econômica de Projetos. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 4a edição, 266p., 1989. CÁNEPA, Eugenio M. Economia da Poluição. In: MAY, P., LUSTOSA, M.C. e VINHA, V. (Organizadores) Economia do Meio Ambiente: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. COSTANZA, Robert (Editor). Ecological Economics. Columbia University Press, 1991. KOPP, R.J., KRUPNICK, A.J., TOMAN, M. Cost-Benefit Analysis and Regulatory Reform: an Assessment of the Science and the Art. Resources for the Future, Discussion Paper 97-19, January 1997, Washington, USA, 61p., 1997. MAY, P., LUSTOSA, M.C. e VINHA, V. (Organizadores) Economia do Meio Ambiente: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. PEARCE, D.W. e TURNER, R. K. Economics of Natural Resources and the Environment. Harvester Wheatsheaf, London, UK, 378p., 1990. PEARCE, D.W. Economic Values and the Natural World. Earthscan: London, 1993. SERÔA DA MOTTA, R. Análise Custo-Benefício do Meio Ambiente. In: MARGULIS, S. (Editor). Meio Ambiente: Aspectos Técnicos e Econômicos. IPEA/PNUD, 1990. SERÔADA MOTTA, R. Manual de Valoração Econômica de Recursos Naturais. MMARH, Brasilia, 1998. TCHOBANOUGLOUS, G. e SCHROEDER, E.D. Water Quality. Addison-Wesley Publishing Company, USA, 768 p., 1987.