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Economia pág. 48
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Reinvenção O metalúrgico
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DESENVOLVIMENTO No berço da manufatura nacional, os empregos
do setor de serviços já representam mais da metade das vagas
por JoSÉ GabriEl NaVarro
M
arta dias silva tem 45
anos e em agosto com-
pletará uma década de
trabalhoemumcallcen-
ter da Atento, em São
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politana de São Paulo. A década na “no-
va vida” foi acompanhada das saudades
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dústria. Por quase 15 anos, Marta, en-
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na vistoria de linhas de montagem. Do
callcenterelavalorizaprincipalmentea
comodidadedajornadademeioperíodo
quelhepermitecuidardosfilhosadoles-
centesedospaisidosos.
HerculesAlexandredaSilva,42anos,
trabalha há 23 na fábrica da Ford, tam-
bém em São Bernardo. Ele ingressou na
montadora com os estudos incomple-
tos e viveu na década de 1990 o temor
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nova Detroit”, polo automobilístico dos
EstadosUnidosqueviroucidadefantas-
ma por causa da concorrência asiática.
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doparacapitanearaproduçãodeumno-
vo modelo. Concluiu a faculdade de ges-
tãodaproduçãoindustrialem2008ees-
tudainglês.
Hercules e Marta, os dois Silva, são
as faces do atual mercado de trabalho
no ABC paulista, o berço da indústria
FotoS:JoNaStUcci
brasileira moderna. Ali o setor de servi-
ços,pelaprimeiravez,passouaresponder
por mais da metade (51%) dos empregos
em2012(666milvagasemmaio,paraum
totalde1,2milhãodeocupados),eassim
inflou a tese da desindustrialização na
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caiu de 28% do emprego, em 2011, para
22%,nofimdoanopassado.Asvagasna
indústriadetransformação,porsuavez,
recuarama298milpostosemmaiopas-
sado.Emjaneirode2012,eram348mil.
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ser a primeira explicação para um ob-
servador apressado. O ABC guarda, po-
rém, peculiaridades quando se trata de
evolução da sua estrutura econômica,
dizem os especialistas.
“Oaumentodaparticipaçãodosetorde
serviçosreflete,emgrandemedida,ano-
vacaradaproduçãoindustriallocal”,diz
Thomaz Jensen, economista do Dieese
e assessor do Sindicato dos Químicos do
ABC.“Aindústriaépioneiraenasúltimas
duasdécadaspassouporumprocessode
mudança muito intenso. Não há saída de
grandesempresas,masumareestrutura-
ção produtiva negociada com os sindica-
tos.Éumdiferencialdaqui.”
No Sindicato dos Metalúrgicos da re-
gião,odiscursoésemelhante.Opresiden-
te do sindicato, Rafael Marques da Silva
Jr.,mencionaapesquisaRelaçãoAnualde
InformaçõesSociais(Rais),emqueosseg-
mentosdetransporte,logística,informá-
tica, administrativo, de gestão, seguran-
ça, limpeza e manutenção empregavam
50 mil em 1995. Em 2011, eram 183 mil.
“Metade desses está seguramente na in-
dústria, embora não seja mais contabili-
zada como parte do setor industrial”, diz
Marques. Um dos exemplos é a Ford, on-
de trabalha, com 4,2 mil contratados.
“Existem ali 7 mil trabalhadores. A di-
ferença é composta de gente de serviços
exercendoatividadesparaaindústria.”
Mesmoquemficoupróximodo“chão
defábrica”tevedeseadaptar.Hercules,
porexemplo,apostounaqualificaçãode
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seguidaconcluiuagraduaçãotecnológi-
ca. “O curso foi importante porque hoje
não há muitos grandes técnicos. Ou vo-
cêtemumengenheirorecém-saídodafa-
culdadequenãoconheceosistemapro-
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cido, mas a situação é outra, dizem os
As peculiaridades
da região sugerem
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Melhor seria usar o
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s
s
46 www.cartacapital.com.br
Economia
especialistas. “As exigências mudaram.
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ter extrema familiaridade com os siste-
masprodutivos.Hojealguémsemensino
médionãopodenemoperarumamáqui-
na.Anteseranecessárioapenasofunda-
mental”,completaaheadhunterEdileuse
Veloso,daconsultoriaProgresso,deSanto
André.Segundoela,quandoaempresade
recrutamento e seleção começou, há 17
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rios na região. “Encontramos aqui mão
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segmentonoPaís.”
As novas relações de trabalho resul-
tantesdoavançodaterceirizaçãoinspira-
ramoeconomistaFernandoNogueirada
Costa,professordaUnicamp,acriaroter-
mo“servindústria”.Oneologismoabran-
geriaaparceladosetorterciárioligadoao
segmentoindustrial.“Muitosfalamdede-
sindustrializaçãocomoalgoruim,masve-
joatendênciacomoumprocessodediver-
sificaçãodaeconomia”,dizCosta.
Em termos gerais, o setor industrial
quasenãomudousuaparticipaçãonage-
raçãoderiqueza,entre2000e2012,dizo
economista,masaindústriadetransfor-
mação,responsávelporcercademetade
dofaturamentosetorialnoBrasil,enco-
lheuapartirde2004.Nessenichoestão
asfábricasmaisintensivasemtecnologia
ecommaiorcapacidadedeagregarvalor
àprodução.Asmaisatingidas,portanto,
pelaconcorrênciachinesaeavalorização
do real. “A participação da indústria foi
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ja,aPetrobraseaVale.”
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emserviços.ParaapesquisadoraClician
do Couto Oliveira, da Coordenação de
ServiçoseComércio(Cosec)doinstituto
depesquisas,oestadoéumcasoàparte,
que puxa para cima o índice de partici-
pação do segmento na economia nacio-
nal.“ÉcomonaInglaterra,paraondeas
empresasmigraramparaatuaremtoda
aEuropae,delá,nomundo.Asempresas
de serviços de outros estados vão para
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ritório brasileiro.”
ColegadeOliveira,aeconomistaAna
CarlaMagnilembraque,em2010,osser-
viços tinham 27% mais mão de obra do
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no mesmo ano. A economista acrescen-
ta:“Osserviçosajudamadardinamismo
àeconomia,inclusivenaestagnação.De
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ceu6%.De2009para2010,11%.Mesmo
comalgunsestadosdoNordestecrescen-
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dordosindicadoresdeSãoPaulo”.
Em sentido oposto, Anselmo dos
Santos, diretor-ajunto do Centro de
Estudos Sindicais e de Economia do
Trabalho (Cesit) da Unicamp, enxerga
umaperdadedinamismodosetorindus-
trial do ABC. E o próprio estado de São
Pauloandariamaisvulnerávelàsdificul-
dadesenfrentadaspeloPaíscomoumto-
do. “Hoje temos políticas de redução de
juros,valorizaçãododólar,entãoháum
ambiente para a recuperação da indús-
tria de transformação. Se a economia
crescer, a perda na indústria de trans-
formaçãodoABCserárelativa.”•
Fonte: Fundação Seade
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605348
337
323
330
298
613
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O ABC pós-industrial

  • 1. 44 www.cartacapital.com.br CARTACAPITAL — 3 DE JUlHo DE 2013 45 Economia pág. 48 The Economist. os fabricantes mundiais de aviões festejam a retomada das encomendas TAMBÉM NESTA SEÇÃO Reinvenção O metalúrgico Hercules Silva esperava o pior, mas a volta à sala de aula o manteve no setor Alô, alô. Após duas décadas em fábricas, Marta Silva atua em um call center e sente saudades do salário da indústria O ABC pós-industrial DESENVOLVIMENTO No berço da manufatura nacional, os empregos do setor de serviços já representam mais da metade das vagas por JoSÉ GabriEl NaVarro M arta dias silva tem 45 anos e em agosto com- pletará uma década de trabalhoemumcallcen- ter da Atento, em São Bernardo do Campo, na região metro- politana de São Paulo. A década na “no- va vida” foi acompanhada das saudades dos salários mais generosos e das folgas em fins de semana obtidos antes na in- dústria. Por quase 15 anos, Marta, en- sino médio concluído, bateu ponto em fábricas de Diadema como operária e na vistoria de linhas de montagem. Do callcenterelavalorizaprincipalmentea comodidadedajornadademeioperíodo quelhepermitecuidardosfilhosadoles- centesedospaisidosos. HerculesAlexandredaSilva,42anos, trabalha há 23 na fábrica da Ford, tam- bém em São Bernardo. Ele ingressou na montadora com os estudos incomple- tos e viveu na década de 1990 o temor de ver a região do ABC se tornar “uma nova Detroit”, polo automobilístico dos EstadosUnidosqueviroucidadefantas- ma por causa da concorrência asiática. Hoje reparador de veículos, foi escolhi- doparacapitanearaproduçãodeumno- vo modelo. Concluiu a faculdade de ges- tãodaproduçãoindustrialem2008ees- tudainglês. Hercules e Marta, os dois Silva, são as faces do atual mercado de trabalho no ABC paulista, o berço da indústria FotoS:JoNaStUcci brasileira moderna. Ali o setor de servi- ços,pelaprimeiravez,passouaresponder por mais da metade (51%) dos empregos em2012(666milvagasemmaio,paraum totalde1,2milhãodeocupados),eassim inflou a tese da desindustrialização na região. Pela mesma métrica, a indústria caiu de 28% do emprego, em 2011, para 22%,nofimdoanopassado.Asvagasna indústriadetransformação,porsuavez, recuarama298milpostosemmaiopas- sado.Emjaneirode2012,eram348mil. A tese da desindustrialização, nos moldes do ocorrido em Detroit, pode ser a primeira explicação para um ob- servador apressado. O ABC guarda, po- rém, peculiaridades quando se trata de evolução da sua estrutura econômica, dizem os especialistas. “Oaumentodaparticipaçãodosetorde serviçosreflete,emgrandemedida,ano- vacaradaproduçãoindustriallocal”,diz Thomaz Jensen, economista do Dieese e assessor do Sindicato dos Químicos do ABC.“Aindústriaépioneiraenasúltimas duasdécadaspassouporumprocessode mudança muito intenso. Não há saída de grandesempresas,masumareestrutura- ção produtiva negociada com os sindica- tos.Éumdiferencialdaqui.” No Sindicato dos Metalúrgicos da re- gião,odiscursoésemelhante.Opresiden- te do sindicato, Rafael Marques da Silva Jr.,mencionaapesquisaRelaçãoAnualde InformaçõesSociais(Rais),emqueosseg- mentosdetransporte,logística,informá- tica, administrativo, de gestão, seguran- ça, limpeza e manutenção empregavam 50 mil em 1995. Em 2011, eram 183 mil. “Metade desses está seguramente na in- dústria, embora não seja mais contabili- zada como parte do setor industrial”, diz Marques. Um dos exemplos é a Ford, on- de trabalha, com 4,2 mil contratados. “Existem ali 7 mil trabalhadores. A di- ferença é composta de gente de serviços exercendoatividadesparaaindústria.” Mesmoquemficoupróximodo“chão defábrica”tevedeseadaptar.Hercules, porexemplo,apostounaqualificaçãode olho nas vagas mais bem remuneradas. Em 1997, terminou o ensino médio, em seguidaconcluiuagraduaçãotecnológi- ca. “O curso foi importante porque hoje não há muitos grandes técnicos. Ou vo- cêtemumengenheirorecém-saídodafa- culdadequenãoconheceosistemapro- dutivoouaquelecaraquechegasemco- nhecimentoespecífico”,opina. O uniforme pode continuar pare- cido, mas a situação é outra, dizem os As peculiaridades da região sugerem ser um exagero falar em desindustrialização. Melhor seria usar o neologismo servindústria s s
  • 2. 46 www.cartacapital.com.br Economia especialistas. “As exigências mudaram. Mesmo para um cargo básico é preciso ter extrema familiaridade com os siste- masprodutivos.Hojealguémsemensino médionãopodenemoperarumamáqui- na.Anteseranecessárioapenasofunda- mental”,completaaheadhunterEdileuse Veloso,daconsultoriaProgresso,deSanto André.Segundoela,quandoaempresade recrutamento e seleção começou, há 17 anos, atendia apenas o setor industrial. Atualmente, ao menos 10% dos clientes vêmdaáreadeserviços,muitosparatra- balharemfábricas,comoterceirizados. No mundo dos serviços no ABC, há outracaracterísticacuriosa:aexperiên- cia na indústria, como a de Marta, é va- lorizada por empresas de serviços, caso da Atento, que chegou a São Bernardo em 1999 e hoje tem 8,5 mil funcioná- rios na região. “Encontramos aqui mão de obra qualificada e infraestrutura adequada”, diz a diretora-executiva de Recursos Humanos da empresa, Majo Martinez Campos. “Segundo pesqui- sas de entidades do setor, a região do Grande ABC (Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André, SãoBernardodoCampoeSãoCaetanodo Sul)reúne8,5%dototaldeocupadosno segmentonoPaís.” As novas relações de trabalho resul- tantesdoavançodaterceirizaçãoinspira- ramoeconomistaFernandoNogueirada Costa,professordaUnicamp,acriaroter- mo“servindústria”.Oneologismoabran- geriaaparceladosetorterciárioligadoao segmentoindustrial.“Muitosfalamdede- sindustrializaçãocomoalgoruim,masve- joatendênciacomoumprocessodediver- sificaçãodaeconomia”,dizCosta. Em termos gerais, o setor industrial quasenãomudousuaparticipaçãonage- raçãoderiqueza,entre2000e2012,dizo economista,masaindústriadetransfor- mação,responsávelporcercademetade dofaturamentosetorialnoBrasil,enco- lheuapartirde2004.Nessenichoestão asfábricasmaisintensivasemtecnologia ecommaiorcapacidadedeagregarvalor àprodução.Asmaisatingidas,portanto, pelaconcorrênciachinesaeavalorização do real. “A participação da indústria foi puxada pelo ramo extrativista mineral, basicamentepetróleoemineração,ouse- ja,aPetrobraseaVale.” Nos corredores do IBGE, no Rio de Janeiro, há quem diga que atualmente 70% da produção paulista se concentra emserviços.ParaapesquisadoraClician do Couto Oliveira, da Coordenação de ServiçoseComércio(Cosec)doinstituto depesquisas,oestadoéumcasoàparte, que puxa para cima o índice de partici- pação do segmento na economia nacio- nal.“ÉcomonaInglaterra,paraondeas empresasmigraramparaatuaremtoda aEuropae,delá,nomundo.Asempresas de serviços de outros estados vão para São Paulo em busca de atuação no ter- ritório brasileiro.” ColegadeOliveira,aeconomistaAna CarlaMagnilembraque,em2010,osser- viços tinham 27% mais mão de obra do que a indústria, em nível nacional. No Sudeste,oíndiceequivalentefoide40% no mesmo ano. A economista acrescen- ta:“Osserviçosajudamadardinamismo àeconomia,inclusivenaestagnação.De 2008 para 2009, a receita do setor cres- ceu6%.De2009para2010,11%.Mesmo comalgunsestadosdoNordestecrescen- domaisemserviços,osetororbitaaore- dordosindicadoresdeSãoPaulo”. Em sentido oposto, Anselmo dos Santos, diretor-ajunto do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp, enxerga umaperdadedinamismodosetorindus- trial do ABC. E o próprio estado de São Pauloandariamaisvulnerávelàsdificul- dadesenfrentadaspeloPaíscomoumto- do. “Hoje temos políticas de redução de juros,valorizaçãododólar,entãoháum ambiente para a recuperação da indús- tria de transformação. Se a economia crescer, a perda na indústria de trans- formaçãodoABCserárelativa.”• Fonte: Fundação Seade jan.1 2 fev.1 2 m ar.1 2 abr.1 2 m ai.1 2 jun.1 2 jul.1 2 ago.1 2 set.1 2 out.1 2 nov.1 2 dez.1 2 jan.1 3 fev.1 3 m ar.1 3 abr.1 3 m ai.1 3 O perfil emergente Evolução do emprego, em milhares de vagas Indústria de transformaçãoServiços 605348 337 323 330 298 613 672 626 666 Muitas prestadoras de serviços migraram de outros estados para o ABC, que detém 8,5% das vagas do setor no País s