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Poema da Escola Pública
1. ESCOLA MUNICIPAL MANOEL MONTEIRO
Este poema retrata um dia agitado na Escola Municipal Manoel
Monteiro, na cidade de São Lourenço, MG, em 20 de junho de 2006, onde
trabalhei. Depois de um corre-corre, sentei, peguei a caneta e rapidamente
escrevi este poema.
Os dias na escola são diferentes. Ensinam experiências novas e
curiosas. Acho até que ensinam a vida. A escola é viva, é feita de todos os
acontecimentos que envolvem o pessoal e o grupo escolar. Os problemas, os
funcionários, o espaço, a educação, o currículo, as aulas, os professores e os
alunos são a escola. Este poema descreve um acontecimento que envolve
professores, alunos, espaço e funcionários. Sinto-me feliz por tê-lo escrito.
POEMA DA ESCOLA PÚBLICA
A professora Telma
Chega correndo,
Agitada, aflita,
E fala bem alto,
Mais berra que fala:
- A criança caiu
E quebrou a cabeça!
Isso causa espanto,
Todo mundo levanta
E repete a frase:
- Cadê a criança?
A diretora, a seguir,
Assume o caso,
Responde e decreta:
- Me traz o aluno! –
Depois, afobada,
Me grita de perto:
- Vem cá, secretário!
Atendo ao chamado
E vou bem depressa.
No corre que corre,
Vem cá vai pra lá,
Me pede a pasta
2. Daquele menino.
- Vou ver onde mora
Ou se tem telefone!
Sem perda de tempo
Eu corro ao armário
E puxo a gaveta,
Que agarra, emperra,
Já velha de uso;
Eu xingo a danada
E a puxo de novo,
Mas tá muito presa;
Coloco mais força,
Ela abre, e eu caio!
Vasculho os nomes,
Demora, mas acho:
- “Taqui”, pode ler –
Entrego o arquivo
Nas mãos da gestora.
Ela pega a pasta,
Folheia os papéis
E desprende uma voz:
- Meu Deus, que sufoco,
Não tem telefone!
O que vamos fazer?
E antes que alguém
Responda a pergunta,
Ela dá outra ordem:
- Secretário, vem cá;
Me chame o porteiro!
Eu atendo o pedido,
Mas tento acalmar:
- Eu vi a cabeça;
Não tem tanto sangue,
Foi só um respingo;
O aluno não chora
Nem reclama de dor;
Tá até bem corado!
E berro, acenando:
- Porteiro, vem cá!
Ele chega, ofegante,
Veloz como um raio,
E vendo a criança
Com pingos de sangue
Na manga da blusa
Nos diz num rompante:
- Conheço o menino,
É lá meu vizinho,
Nasceu na Biquinha.
- Então faça o favor
De levá-lo pra casa
E diga à mãe dele
Que o mesmo caiu
3. Brincando de correr
Com outras crianças.
Enquanto resolvem
Aquele evento,
Eu toco o sinal
E tento pôr ordem,
Dissolvo o tumulto,
Encerro o recreio
E mando os alunos,
Por demais curiosos,
Pra sala de aula,
Dizendo bem alto:
- O sinal já tocou,
O recreio acabou,
A cabeça quebrou,
O sangue estancou
E o show terminou!
O porteiro, tranquilo,
Já abre o portão
Pegando na mão
Do aluno levado
Que quebrou a cabeça
Brincando de pique
No pátio da escola;
E puxa o discente.
Já vai lá na rua,
Cumprindo a missão,
Sem ai nem enfado.
O susto acabado,
Nem foi tanto sangue,
Nem foi grande o corte,
Mais houve foi choro,
Foi grito e medo
E cresceu só um galo.
Agora eu escuto
A voz de uma tia
Ensinando as letras;
Ao passo que outra,
Na sala ao lado,
Regendo o coral
Do ensino infantil,
Ensaia com a turma
A canção da tarefa.
Assim é a rotina
Que temos na escola:
Cada dia uma história
De muita emoção.
Foi esta a saga
Do dia de hoje.
4. O tempo passou;
Nem vi que passou,
Mas são cinco horas.
O porteiro voltou,
Tomei um café
E fiquei só ouvindo
O barulho da escola:
É mãe que conversa,
Criança que grita,
Professora que chama,
Diretora que explica
Como vai funcionar
A festa junina.
O bairro inteiro
Onde está o colégio
Quer ter uma prosa,
Quer dar um recado,
Falar de seu filho,
Pegar uniforme.
Mas isso é escola:
É vida que vive,
Que entra e que sai,
Que come e aprende,
Que corre e que cai,
Que brinca e machuca!
Os braços abertos
Que o povo encontra
Tem nome bonito
Que digo e repito:
Escola do povo!
São Lourenço, 20 de junho de 2006.
Marco Aurélio Rodrigues Dias