4. Tinha pouco mais de 40 anos. As mazelas começavam a sentir-se com mais frequência.
Naquele dia havia acordado cansado. Mais cansado que o habitual.
Sentia-se desgastado, como se tivesse tomado a dianteira numa batalha. Passou a mão pela
testa e estava a transpirar.
- Que se passa? Será da idade? Estarei doente? Mas não me dói nada!...
Gama, assim se chama a nossa personagem, sentia-se desorientado, completamente perdido.
Estávamos em dezembro, numa manhã fria, típica de inverno. Gama havia-se deitado cedo,
como de hábito, mas naquela manhã acordara estranho!...
Aos poucos começou a lembrar-se que passou a noite toda a sonhar…
Recuou 30 anos. Situou-se no primeiro dia de aulas da Escola Preparatória de Aver-O-Mar.
Estávamos no primeiro dia de aulas. Era a inauguração da escola. Estava rodeado de amigos.
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6. Estávamos à entrada da nossa nova escola, ansiosos e felizes por nos voltarmos a
encontrar, mas agora num espaço diferente e bem melhor, com certeza. Tínhamos 9 ou 10 anos, uns
petizes traquinas, no entanto, também ávidos de saber, repletos de curiosidade.
Toda a gente conversava naquela algazarra própria do recreio, apimentada pela novidade
do espaço…. Entretanto deu o primeiro toque para conhecermos o nosso futuro e o nosso pequeno
mundo. Corremos com todas as nossas forças, como se não houvesse amanhã, o meu coração de
tanto palpitar parecia que me ia saltar pela boca fora! A emoção era tanta que me inundava o corpo,
pois não sabia o que me ia acontecer nas próximas horas…
Nesse momento tudo era diferente!
A mudança era incrível, mas também um pouco assustadora. Tínhamos muitos mais
professores, muitas mais disciplinas…. Mas a ansiedade e a curiosidade de novas amizades era ainda
maior! Tanta gente para conhecer e com quem simpatizar! Talvez até mesmo para odiar ou namorar.
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8. Entrámos na sala e conhecemos o nosso professor de história. Ele era baixo, careca,
usava uns óculos grossos e escuros. Estávamos com muito medo pois o aspeto dele não era muito
acolhedor, mas, com o decorrer da aula, verificámos que ele até era simpático e divertido.
Entretanto tocou para fora e nós aproveitámos os 20 minutos para conhecer a escola e fazer algumas
amizades.
Quando voltou a tocar, encontrámos, já na sala, a professora de inglês. Ela era alta,
magra, loira e de olhos verdes. Era muito bonita, simpática, alegre e divertida, mas era muito exigente
connosco. Chamava-se Ilídia.
A aula passou-se ao som de palavras desconhecidas, mas que nos faziam voar… Só queríamos que
tocasse para irmos almoçar, pois estávamos cheios de fome. De repente, ouvimos “ttrrrrrrriiiiimmmmm”
e fomos a correr para sermos os primeiros da fila.
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9. 9
Já na cantina, mostramos a senha,
comprada à pressa no intervalo maior,
pegamos no tabuleiro e aí colocamos o
prato com a comida. De seguida,
sentámo-nos à mesa e comemos
rapidamente, pois esperava-nos o
recreio!
Já na cantina,…
11. Corremos até ao exterior. Ai que alegria! Tantos meninos para conhecer e brincar!
Juntamos os colegas da nossa turma – o 5ºC – e brincamos às caçadinhas. Foi muito divertido!
Depressa soou a sineta e era hora de conhecermos a professora de português. Corremos até à
sala cheios de alegria. Ela era linda, alta e loira e era muito simpática, mas de imediato explicou qual
era o comportamento desejado para as suas aulas. Percebemos logo que não era para brincadeiras.
Já no recreio, novamente, pudemos lanchar. Eu estava tão eufórico que nem tinha fome, só
queria aproveitar todos os momentos para conhecer os espaços da nova escola e brincar…
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13. Havia diversos locais onde nos podíamos divertir, como o campo de futebol, o campo de
basquetebol… o de voleibol e o polivalente (onde podíamos fazer trabalhos, lanchar, ver televisão,
entre outros).
Estava tão entusiasmado com todas as novidades, com as brincadeiras…, que me
esqueci do toque da campainha. Quando olhei para o relógio, vi que já havia tocado há quinze
minutos. Fiquei logo aflito, uma vez que não sabia a sala em que tinha aulas. Era tudo novidade!... A
muito custo, lá encontrei a “minha” sala.
A medo, entrei e sentei-me no meu lugar. O professor de matemática foi ter comigo e perguntou:
- Por que razão chegaste quinze minutos atrasado?
Eu, nervoso, respondi:
- Eu… eu… não ouvi a campainha…
O professor continuou a ralhar comigo, e logo percebi que era dos exigentes… Era alto,
forte, tinha olhos pequenos e escuros, cabelo preto e grande. Chamava-se António Costa.
Fiquei com bastante medo dele…
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15. Passado algum tempo, tocou. Fiquei contente por sair e apanhar ar. Desde que o
professor falou comigo que eu ficara maldisposto, ou seja, estranho, com medo. Se estivesse no
Infantário ou na Primária era bem capaz de pedir para ligarem aos meus pais para eu ir para casa… Os
alunos saíram da sala e eu ainda fiquei a arrumar as minhas coisas. Preparava-me para sair da sala,
quando o professor me abordou:
- Hoje estás perdoado pelo atraso, mas ficas avisado que não vou tolerar outra situação
idêntica.
Senti-me bem melhor, depois desta conversa. Às aulas do professor António não chegaria
mais atrasado! Toca novamente a campainha, pego na minha carteira, procuro o meu horário e vou
imediatamente para a próxima sala.
Cheguei primeiro que o professor… Por momentos, pensei que me tinha enganado na
sala, pois voltei a encontrar o professor de matemática.
Os meus colegas estavam todos lá e começaram a entrar. Então, entrei também.
- Olá, outra vez! Não vos disse há pouco, mas eu sou também o vosso professor de
ciências. Vejo que o vosso colega “atrasado”, desta vez, chegou a horas!!... Sorri, pois desta vez tinha
sido pontual.
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17. Tocou, saímos e fui jogar futebol. Marquei dois golos, diverti-me imenso. Fui ao bar da
escola e comprei um pão e um sumo, pois a partida abrira-me o apetite.
Mais uma vez, ouvi o toque da campainha e fui para a aula de educação física. O
professor era muito simpático, gostei muito da aula dele, mas caí e magoei-me no joelho, por isso tive
de ir à enfermaria. Depois de tomar banho e vestir uma roupa lavada, saí para o intervalo, até que uma
colega veio ter comigo:
- A professora de moral não veio hoje – disse ela.
- Ainda bem – respondi todo contente... Assim posso ir para casa mais cedo.
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19. Depois daquele novo dia, naquela nova escola, senti-me uma pessoa diferente, pois
apercebi-me de que aquele local, tão agradável, iria ser a minha segunda casa nos próximos cinco
anos.
Refleti e concluí que a escola é, portanto, o palco de muitas novas experiências para os
alunos, onde eles aprendem a desenvolver as suas habilidades, os seus valores, os seus modelos de
comportamento e a expor as suas dificuldades.
A escola é o espaço onde os alunos podem fazer novas amizades, onde aprendem a viver
em sociedade, respeitando os outros, com as suas diferenças e sem impor as suas vontades.
A escola é, sem dúvida, o melhor caminho para proporcionar aos alunos uma educação
de qualidade, onde eles possam crescer em sabedoria e autonomia.
Senti-me feliz por fazer parte desta escola preparatória de Aver-O-Mar.
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