SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 123
Baixar para ler offline
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia
Trabalho Acadêmico
BRINCANDO E EDUCANDO:
A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para
crianças.
Jeanine Porto Brondani
Pelotas, 2007.
1
Jeanine Porto Brondani
BRINCANDO E EDUCANDO:
A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para
crianças.
Trabalho acadêmico apresentado à
Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia
da Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial a obtenção do título de
Bacharel em Enfermagem.
Orientadora: Profª. Dra. Enfª. Vanda Maria da Rosa Jardim.
Co-Orientadora: Profª. Dra. Enfª. Luciane Prado Kantorski.
Pelotas, 2007.
2
BANCA EXAMINADORA
Alessandra Rodrigues Moreira de Castro
________________________________
Emília Nalva Ferreira da Silva
________________________________
Vanda Maria Rosa Jardim
________________________________
3
Dedico esse trabalho a todas as crianças que
comigo compartilharam um pouquinho do seu
mundo!
4
Educar é...
Educar é ensinar a brincar
Educar é ensinar a crescer
Estar perto e participar
É divertido, eu sei, pode ser
Educar é ensinar a pescar
A cantar, a confiar e a jogar
É indicar o caminho a seguir
É dizer não, dizer sim, motivar
Acompanhar, dar carinho e mostrar
Que há limites pra tudo
Menos pros sonhos
Que a gente tem
Educar é relembrar e contar
As histórias que a gente aprendeu
É dar exemplo, é conversar
Sobre aquilo que aconteceu
Educar é ensinar a pensar
A entender, perguntar, a querer ver
E também é mostrar como é bom
Poder fazer algo pra se orgulhar
É elogiar, ficar junto e mostrar
Que educar é tudo
Tudo!!
Pra melhorar o mundo que a gente tem.
Campanha RBS TV, “Educar é tudo”, 2005.
5
Agradecimentos
“Mãezinha do céu, eu não sei rezar, mas só sei dizer que quero te amar...
Azul é o teu manto, branco é teu véu, mãezinha eu quero te ver lá no céu! Mãezinha
eu quero te ver lá no céu”! Muito Obrigada com toda minha fé e sinceridade por ter
permitido que eu nascesse duas vezes e assim possa cumprir minha tarefa nessa
vida! Muito Obrigada!
Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão.... Menininha quando cresce
dá um beijo no paizão! A meu pai por sempre ter acreditado no meu potencial e no
primeiro dia que chegamos a Pelotas, ter dito que eu escreveria um livro olhando
pela janela! Pai... Escrevi sete! Te amo!
No domingo de maio nós traremos com amor... Um presente bonito, um
beijinho e uma flor! A minha mãe, que sempre esteve presente e me mostrou o
maravilhoso mundo da imaginação, sempre me incentivando a estudar e ler! Te
amo!
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo... E com cinco ou seis retas
é fácil fazer uma castelo (...) A minha maninha “Baixinha”, que desde criança brinca
comigo de desenhar historinhas! E por isso está ilustrando a coleção de histórias
que compõe parte desta! Obrigada! Te amo!
Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ele, quem
gosta dele sou eu! A meu irmãozinho “Guri”, que muito antes de eu entrar na
faculdade já queria ser enfermeiro! Obrigada pelos muitos momentos aqui em
Pelotas e pela grande força sempre junto comigo! Te amo!
Bom dia, amiguinha como vai? A nossa amizade nunca sai...Faremos o
possível para sermos boas amigas, bom dia amiguinha como vai! A minha grande
amiga Gimene, que esteve comigo durante toda a faculdade, desde aquele primeiro
dia lá no Campus...Tantas discussões, plantões, tantas festas e tanta imaginação!
Muitas histórias pra contar! Muito Obrigada!
6
A minha amiguinha “Florzinha” ou “Cissa”, sempre tão meiga, tão engraçada e
tão especial! Muitos momentos foram compartilhados, muitas dificuldades superadas
e enfim chegamos ao final! Muito Obrigada!
A minha orientadora Vanda, agradeço pelo carinho, paciência pela coragem
de ter assumido também a orientação da coleção das historinhas, mas
principalmente por ter me mostrado que enfermagem pode ser ter a “nossa cara”!
Muito Obrigada por me ensinar a ser enfermeira!
A minha Co-orientadora Luciane, pelo carinho, coragem de assumir a
orientação da coleção de historinhas, um projeto inédito! Pela força, pelas
oportunidades e por termos trabalhado em muitos momentos diferentes durante a
graduação, além de aceitar o grande convite: ser paraninfa da turma! Obrigada por
também me ensinar e ser enfermeira!
A todas as pessoas que fizeram parte desta trajetória, aos professores da
Faculdade de Enfermagem, aos colegas da ATEO 2007/1, aos profissionais do
Hospital Escola que fizeram a revisão técnica das histórias. Muito Obrigada!
As todas as crianças que cuidei e com isso possibilitaram a realização desse
sonho! Muito Obrigada!
7
Não sabia que era impossível... Foi lá e fez!
(Autor desconhecido)
8
Resumo
BRONDANI, Jeanine Porto. Brincando e educando: a contribuição das histórias
infantis como forma de educação em saúde para crianças. 2007. Trabalho
Acadêmico. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia. Universidade Federal de
Pelotas.
A presente história tem como tema central a educação em saúde dirigida ao público
infantil. Para que ela ocorresse foram utilizadas histórias infantis “diferentes”, criadas
pela autora juntamente com outra pesquisadora da área, as quais abordam questões
específicas dos principais agravos na saúde das crianças, tais como: prevenção de
acidentes, doença respiratória e doença diarréica. O objetivo dessa história
construiu-se a fim de conhecer a contribuição das histórias infantis como forma de
educação em saúde para crianças. Para isso, investiu-se num caminhar qualitativo
descritivo, com observação participante. Os personagens que compõe essa história
são crianças que estão cursando o primeiro ciclo do ensino fundamental de uma
escola pública num município de grande porte. Assim, as informações em saúde
chegaram até os pequenos através da contação de histórias. A partir dos dados
coletados através do uso de gravador, desenhos infantis e diário de campo
originaram-se os temas para discutir a análise: Procurando saber o que as crianças
conhecem o qual visa compreender a visão de mundo dos pequenos sobre os
principais agravos na saúde da criança com questionamentos antes da contação das
histórias, refletir sobre os conhecimentos expressos espontaneamente por elas
durante a contação, e analisando as contribuições das histórias infantis para a
educação em saúde, que discute os desenhos e o que pode ser considerado como
aprendizado dos pequenos. Com isso conclui-se que as histórias infantis utilizadas
mostraram-se instrumentos viáveis para a educação em saúde na população
estudada, visto que, possibilitou ação – reflexão na criança, estimulando a
reformulação de hábitos o que pode com muita probabilidade realmente ocorrer já
que a criança aprende enquanto brinca e para ela ouvir histórias é uma grande
brincadeira.
Palavras – chave: educação em saúde, história infantil, enfermagem.
9
Lista de figuras
Figura 1 Painel que reconta a História Lara e a flor da
Janela ...................................................................
53
Figura 2 Painel que reconta a História José quebrou o pé
..........................................................................
56
Figura 3 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas
- Crise asmática – Magali .....................................
60
Figura 4 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas
- Crise asmática – Margarida ................................
61
Figura 5 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas
- Fantasma - Cristal ..............................................
63
Figura 6 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas
- Futebol – Pequeno Polegar ................................
65
Figura 7 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas
- Futebol e fantasma – Pato Donald .....................
66
Figura 8 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Repouso – Cascão ............................................
70
Figura 9 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Repouso com dor e choro – Narizinho ..............
72
Figura 10 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Banheiro e escola – Pequeno Polegar ..............
74
Figura 11 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Banheiro e quarto – Mikey .................................
76
Figura 12 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Unidade Básica de Saúde – Minye ...................
78
Figura 13 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Os personagens – Cebolinha ............................
80
Figura 14 Desenho da História Quem nunca teve diarréia?
– Os personagens, a escola e a Unidade Básica
de Saúde – Cristal ................................................
82
Figura 15 Apêndice C – Ilustração da historinha “Augusto e
seus fantasmas”....................................................
103
10
Sumário
1 Era uma vez... ...................................................................................
2 Mas porque contar histórias? ...........................................................
2.1 Especificamente.... ...........................................................................
3 As histórias que já contaram.............................................................
4 Viajando no tempo e falando um pouquinho sobre as histórias
que contei ................................................................................................
5 O caminho a trilhar ...........................................................................
5.1 Caracterizando essa história ...........................................................
5.2 Onde ocorreu ...................................................................................
5.3 Uni-dune-tê, salame mingúe o sorvete colorete e os escolhidos
foram ......................................................................................................
5.4 Apresentando os protagonistas ........................................................
5.5 Princípios éticos ...............................................................................
5.6 Passa passará, quem detrás ficará a porteira está aberta para
quem quiser passar! ..............................................................................
6 Senhoras e Senhores: a análise! .......................................................
7 A moral desta história... .....................................................................
8 Referências .......................................................................................
Apêndices ..........................................................................................
Anexos ..............................................................................................
11
13
13
14
26
35
35
35
37
37
39
40
45
88
90
94
121
11
1 Era uma vez...
Desde o início da graduação em Enfermagem fui apresentada ao universo
infantil inserida em um projeto de extensão no Hospital Escola, na Unidade
Pediátrica. A partir daí comecei aos poucos a conhecer esse universo, ora brincando
com as crianças, ora cuidando delas e com isso pude perceber que as crianças têm
um jeito especial de entender os fatos e gostam muito de histórias. Foi então, que
através de um sonho veio à idéia de colocar a saúde e a doença em forma de
histórias infantis, para que assim as crianças pudessem compreender melhor o que
acontece com elas enquanto estão doentes ou como forma de prevenir agravos em
sua saúde. Mas ainda permanecia uma dúvida: como fazer o encontro dos
pequenos leitores com as histórias de uma forma pela qual as crianças aprendam
com elas? Então, no sétimo semestre de Faculdade, tive a oportunidade de concluir
o curso de Licenciatura Plena em Enfermagem, desenvolvendo um trabalho numa
escola de ensino fundamental, com uma turma de primeira série. Foi então que veio
a resposta! As histórias podem estar nas escolas, lá onde as crianças não só
aprendem a ler e escrever, mas também aprendem sobre socialização, cidadania,
saúde e doença! Portanto, tomei a decisão e apresento aqui meu trabalho
monográfico desenvolvido numa escola, com crianças do primeiro ciclo do ensino
fundamental.
De acordo com as disciplinas da psicologia comportamental, o ser humano
após o seu nascimento vive as chamadas “fases do desenvolvimento”. Durante a
passagem de cada fase valores, conceitos e normas de socialização são
“aprendidas”, as quais servirão de base para a vida futura.
A infância é o primeiro processo pelo qual o indivíduo explora o mundo. É
quando a criança vivencia situações novas com muita freqüência, além de ser
caracterizada por intenso crescimento biopsicosocial.
12
É também nessa fase que o profissional de enfermagem se insere, desde a
graduação, atuando na assistência à criança direta e indiretamente desde a vida
intra-uterina objetivando a prevenção de agravos na saúde e o cuidado ao ser
humano.
A pesquisa científica, também inserida em currículo de graduação, atua como
estratégia mais apurada para investigar a forma como esses cuidados são
prestados, avaliá-los, ou criar subsídios para a formulação de novas formas de
cuidar, permitindo autonomia do enfermeiro para atuar como pesquisador. Além
disso, investigar e cuidar da criança na escola possibilita uma forma importante de
integração da Educação e da Saúde.
Sendo os índices do Sistema de Informação do Sistema Único de Saúde um
meio importante para o monitoramento das condições de saúde da população, assim
como dados que referem suporte para o desenvolvimento de projetos e pesquisas
científicas visando a melhora da qualidade de saúde, os temas das histórias infantis,
como acidentes por causas externas, doença do sistema respiratório e doença
diarréica (Apêndices A, B, C e D) que foram trabalhadas nesse estudo, condizem
com a relevância dos índices. No que se refere a morbidade hospitalar em crianças
de 5 a 9 anos internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período de
outubro de 2005 a setembro de 2006 em todo o Brasil, as taxas de agravos na
saúde da criança, como doença diarréica abrange 31,6% das internações, doenças
do sistema respiratório abrange 18,25% e acidentes por causas externas na
infância 66,09% (BRASIL, 2007).
No Estado do Rio Grande do Sul, os dados apontam para doença diarréica
45,8% das internações, doenças do sistema respiratório 53,82% com destaque para
doença asmática com 18,27% e acidentes por causas externas 59,7% (BRASIL,
2007).
Por ser esta a área na qual se pretende criar uma nova forma de cuidar, é
através deste estudo que será analisada a contribuição de histórias infantis
“diferentes”, as quais abordam aspectos fisiopatológicos desses agravos na saúde
da criança, de uma forma franca e bem humorada, respeitando a cognição delas.
Para realizar esse trabalho, formulei a seguinte questão de pesquisa: qual a
contribuição das histórias infantis como forma de educação em saúde para
crianças?
13
2 Mas porque contar histórias?
Para...
Conhecer a contribuição de histórias infantis como forma de educação em
saúde para crianças.
2.1 Especificamente...
Para...
Identificar o conhecimento prévio das crianças acerca dos temas: enfermagem,
prevenção de acidentes na infância, doença diarréica e doença asmática.
Refletir sobre os diferentes conhecimentos expressos espontaneamente pelas
crianças sobre as histórias infantis e educação em saúde.
Analisar as contribuições das histórias infantis para o aprendizado das crianças
acerca dos temas: acidentes por causas externas, doença diarréica e doença do
sistema respiratório.
14
3 As histórias que já contaram...
Desde o início dos tempos, o homem conta histórias como forma de
transmitir valores, culturas, significados. Com as crianças não é diferente. Os contos
de fada são contados de geração em geração, normalmente pelo pai ou pela mãe,
em ambiente familiar e propõem reflexão sobre partes intrínsecas da vida, tais como
“lutar para vencer”, “ser honesto”, “falar a verdade”, etc. (SIMÕES, 2000).
“Infância: período da vida humana desde o nascimento até cerca de doze anos; começo;
origem” (KOOGAN, LAROUSSE, 1979 p. 464).
“História: (...) desenvolvimento da vida da humanidade, narração do que acontece em um
determinado tempo relacionado com a vida, contos, novelas, fábulas, (...)” (KOOGAN, LAROUSSE,
1979, p. 440).
A escola também utiliza a literatura infantil há muito tempo na alfabetização e
educação das crianças, principalmente pela relação direta das histórias com a
escrita, com a linguagem, com a expressão e com a criação (SIMÕES, 2000).
Assim, para que uma história realmente prenda a atenção de uma criança,
deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida,
deve estimular a imaginação, ajudando-a em seu desenvolvimento intelectual,
propiciando-lhe mais clareza em seu universo afetivo, auxiliando-a a
reconhecer, mesmo de forma inconsciente alguns de seus problemas e
oferecendo algumas perspectivas e soluções, mesmo provisórias (SIMÕES,
2000, p. 23).
Em relação à história da educação em saúde no Brasil, no final do século XIX,
a causa nosológica da doença e a bacteriologia permitiram que programas de saúde
pública fossem efetivados, mas ignoravam o processo saúde-doença e as condições
que as pessoas viviam. Em 1924 foi criado no Brasil o primeiro “Pelotão de saúde”
no município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, numa escola estadual. Nos anos
15
seguintes a prática se expandiu até o distrito federal. Ainda em 1925 cria-se a
Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde do Estado de São Paulo com
objetivo de promover educação higienista aos estudantes de escolas primárias
(LEVY et al., 2007).
Na década de 1930 criou-se o Ministério da Educação e da Saúde o qual
centralizou as atividades sanitárias e era responsável por propaganda em larga
escala das ações em saúde a fim de formar na coletividade brasileira um
compromisso com a saúde (LEVY et al., 2007).
O interesse pela saúde do escolar acontecia em função do espaço que era
ocupado, o qual precisava ser higienizado, visto que o a higienização era uma
condição necessária ao aprendizado. A alta prevalência de doenças que afetavam a
força de trabalho influenciavam a proposta de “Higiene Escolar” que preocupava-se
somente com a causa nosológica e o corpo do indivíduo. Há ainda rumores que, por
trás da assistência prestada por esse serviço, havia uma proposta mobilizadora e
manipuladora de massas de acordo com os interesses do sistema produtivo
(FERRIANI e GOMES, 1997).
Em 1942 houve um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, que resultou
na criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), o qual atribuía às ações
dos profissionais de saúde a “tarefa” de educar, incentivando grupo de gestantes, de
mães, de adolescentes e da comunidade em geral, além de desenvolver estudos na
área (LEVY et al., 2007).
Este serviço utilizou novas técnicas educacionais na área da saúde e
recursos audiovisuais sofisticados desenvolvidos sob a ótica da tendência tecnicista
de educação, introduzindo novas noções sobre as causas biológicas das doenças,
os cuidados com as crianças e a nutrição adequada para prevenir doenças. Propôs
inovações na educação sanitária de grupos, estimulando o desenvolvimento e a
organização de comunidades, desencadeando idéias de participação e mobilização
dos indivíduos nas ações de saúde (ROSA, 2005).
Os cursos para formar profissionais tinham entre as finalidades a ampliação
do ensino da higiene e de inspeção médica para conseguir o tratamento das
crianças na escola, preparar os alunos da faculdade de medicina para atuarem nas
escolas e habilitar as enfermeiras escolares cujo serviço é hoje reconhecidamente
16
indispensável, embora na época as enfermeiras não fossem assim caracterizadas
(FERRIANI e GOMES, 1997).
Nas escolas, a educação para a saúde ocorria de forma compensatória, pois
os índices de fracasso escolar eram altíssimos. Sabendo que a fome dos estudantes
era um fator importante na concentração, na aprendizagem e na saúde das
crianças,nas décadas de 50 e 60 instituía-se aos poucos pelo Brasil, programas de
complementação alimentar, a merenda escolar propriamente dita, como reforço
nutricional para as crianças que não tinham alimentação em seus lares. Mas
somente na década de 70 o governo brasileiro assume a totalidade dos custos com
a alimentação do escolar (SÂO PAULO, 2007).
Com relação às atividades físicas realizadas nas escolas, nem sempre havia
um profissional capacitado para responsabilizar-se pelos exames prévios nas
crianças, liberando-as ou não para a prática de exercícios. Além disso, muitas vezes
os exames eram realizados coletivamente, e a anamnese restringia-se a busca de
situações infecto-parasitárias ou de maior risco do ponto de vista cardio-respiratório
(ROSA, 2005).
O exame de olhos e de ouvidos, normalmente era feito pelo professor.
Quando detectado alguma anomalia, a criança era encaminhada para o sistema de
saúde, que muitas vezes não tinha condições de dar resolubilidade para o problema
(ROSA, 2005).
Isto é uma situação que infelizmente ainda ocorre nos dias atuais,
simplesmente estando atento aos noticiários e estando inserida no contexto de
saúde coletiva.
Por volta do terceiro ano da escola básica, as crianças passam a receber
conteúdos didáticos quanto à higiene social, quanto ao caráter de valorização moral
aprendendo não só a se relacionar socialmente, como, também, a utilizar
equipamentos sanitários “civilizadamente”. Quanto aos comportamentos
demonstrados por portadores de alguma dependência química ou física, geralmente
acabam por fornecer sustentação não só à formação de preconceitos, como também
a uma prática de exclusão (ROSA, 2005).
Distúrbios de aprendizagem ou problemas de ordem disciplinar têm sido
tratados, historicamente, como uma deficiência pessoal dos estudantes,
sendo a medicalização do indivíduo o remédio amargo do fracasso escolar.
Esta tem sido a saída honrosa do sistema para não ter que questionar a
estrutura da escola ou os métodos de ensino que estão sendo desenvolvidos,
17
contrariando, assim, alguns estudos já realizados na área, que demonstram
que o uso de alternativas pedagógicas mais personalizadas por si só, dá
respostas mais eficientes aos problemas encontrados (ROSA 2005, p. 4).
Assim, dentre os vários temas, a sexualidade, durante muito tempo na escola
foi tratada de forma periférica. A reprodução humana era trabalhada junto com a
reprodução de outros mamíferos, em aspectos anatômicos e fisiológicos. Com o
advento da liberação sexual, as imagens erotizadas expostas na mídia, não
condiziam e atualmente condizem pouco com as informações trabalhadas pelas
escolas. Mesmo com o aumento gradativo de adolescentes grávidas e/ou de
adolescentes portadoras da Síndrome da imunodeficiência Adquirida (HIV), as
atividades as quais informam sobre sexualidade, ainda permanecem em grande
parte, como atividades extracurriculares (ROSA, 2005).
A educação em saúde, na maioria das vezes, tem acontecido como
atividades extracurriculares, como feiras de ciência ou semana da higiene,
por exemplo, contando via de regra com os profissionais de saúde,
personagens estranhos à própria escola. Adolescentes, assim como
profissionais de saúde, quando questionados sobre o que lembram do que
lhes foi ensinado sobre saúde ou sobre sexo na escola básica ou na
formação profissional, muito freqüentemente apontam estas atividades
extracurriculares como único exemplo (ROSA 2005, p. 4).
A temática de saúde quando trabalhada, aparece normalmente em capítulos
finais dos livros didáticos, responsabilizam o indivíduo sobre suas condições de
higiene e não condizem, muitas vezes com a realidade da criança. Resumem-se em
determinar, para os primeiros anos escolares, normas de higiene corporal e
alimentar. Da mesma forma ocorre com as doenças infecto-contagiosas, que são
abordados em seus aspectos nosológicos, sem que haja co-relação com as
condições de moradia, saneamento e suporte de saúde para quem adoeceu
(ALVES, 1987).
Sabendo que os educadores muitas vezes com excesso de trabalho, baixos
salários ou falta de condições de trabalho, não consegue trabalhar questões
específicas de agravos na saúde infantil. Além disso, suas formações acadêmicas
não os capacitam para trabalhar essas questões, dificultando a educação para a
saúde na escola básica. Assim, a escola muitas vezes acaba por não abordar tais
questões.
18
Os professores, mesmo os de ciências, quando indagados a apresentar
explicações sobre a falta de ênfase no ensino de saúde, explicitam-nos sua
inabilidade em tratar de conteúdos desta área, por quase total falta de
preparo durante suas próprias formações pedagógicas (ROSA, 2005, p.4).
Em 1986, na 8ª Conferência Nacional de Saúde, pela primeira vez se
registrou a participação de representações de entidades da sociedade civil e teve
entre suas deliberações, a ampliação do conceito de saúde; o direito à saúde não
estar restrito apenas à viabilização de acesso aos serviços de assistência como
também às condições de vida, e a responsabilização do Estado em reestruturar os
serviços já existentes criando o Sistema Único de Saúde, cuja característica seria a
de atender integral, igual e universalmente à saúde de toda população brasileira
(BRASIL, 1986).
Então, em 1990, foi criada a Lei 8.080 que dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes, a ser aplicada em todo o território nacional,
regulamentando o Sistema Único de Saúde no Brasil (BRASIL, 1990).
A lei 8.080 refere no Capítulo I – dos Objetivos e Atribuições do Sistema
Único de Saúde, no Artigo 5°: “à assistências às pessoas por intermédio de
ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização
integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas” (BRASIL,
1990).
Ainda em 1990, foi criada a Lei n° 8.069 em 13 de Julho que dispõe sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente. No que se refere o Cap. I sobre os direitos a
Vida e a Saúde, no art. 7°:
A criança e o adolescente têm direito a vida e saúde, mediante efetivação
de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência
(BRASIL, Lei n° 8.069 em 13 de Julho de 1990).
E no art. 14°:
O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e
odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente
19
afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais,
educadores e alunos (BRASIL, Lei n° 8.069 em 13 de Julho de 1990).
A atenção básica, com base na referida lei, integra um conjunto de ações de
caráter individual ou coletivo, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de
agravos, o tratamento e a reabilitação, tendo como fundamento os princípios do
Sistema único de Saúde (SUS). A partir da Constituição de 1988, várias iniciativas
institucionais, legais e comunitárias vêm sendo realizadas, destacando-se as Leis
Orgânicas da Saúde, as Normas Operacionais e decretos (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
1999).
Com relação a Saúde Escolar, desde o início do século vinte existem ações
direcionadas aos estudantes que primeiramente foram chamadas de “Assistência
Médica ao Escolar (AME)”, depois de “Departamento de Saúde Escolar (DSE)” até
transformar-se definitivamente em uma política de Saúde Escolar. Em 1988, o
GIEDESE – Grupo Informal de Estudos e Discussões em Saúde Escolar elaborou
uma definição desta política: “um conjunto de atividades desenvolvidas por uma
equipe multiprofissional envolvendo o professor, com objetivo de promover, proteger,
e recuperar a saúde da criança em idade escolar, dentro ou fora da escola, através
de ações educativas e assistenciais, o mais precoce possível, levando em
consideração o meio em que vivem, agregando os recursos disponíveis, interagindo
com a família, com o ambiente escolar e atuando no processo de ensino da saúde
da criança” (SOUZA, 1990).
Dentre os objetivos da saúde escolar destaca-se a garantia de condições
adequadas para promoção, proteção e recuperação da saúde, para que o processo
de aprendizagem ocorra sem intercorrências, a avaliação contínua das condições do
educando, manter a vigilância epidemiológica na escola, envolver os serviços de
saúde da comunidade no atendimento do escolar e do pessoal que atua na escola,
etc (SOUZA, 1990).
O Programa de Saúde Escolar referido por Ferriani e Gomes (1997), com
vistas ao Sistema Único de Saúde, ressalta:
1) As ações de saúde escolar devem integrar uma rede de atendimento
integral, regionalizada e hierarquizada, tomando a Unidade Básica de
Saúde a porta de entrada para a criança e o adolescente em idade
escolar. O atendimento clínico e assistencial deve ser garantido
20
através de mecanismos de referência e contra-referência para os
atendimentos que exijam maior complexidade, dando resolutividade
aos casos.
2) A descentralização de suas atividades às instituições como escolas,
creches ou pré-escolas deve fazer parte da abrangência de uma
unidade de saúde de referência para que as decisões sejam
planejadas e tomadas em conjunto.
3) O atendimento à saúde deve ser integral, priorizando as ações de
prevenção e dentro dos programas das crianças e dos adolescentes.
4) As atividades preventivas devem ser desenvolvidas através de ações
coletivas, podendo ser realizada na própria unidade de saúde ou em
espaços comunitários.
5) A participação da população no planejamento e na execução das
ações educativas se faz fundamental na valorização dos usuários que
compõe o programa, configurando ampliação das ações e melhor
aderência ao programa.
Ao que refere à legislação da saúde escolar, cabe ressaltar a Resolução do
Conselho Nacional de Saúde Nº 040, homologada pelo Ministério da Saúde em
1993. Essa resolução refere-se ao parecer do Posicionamento do Ministério da
Saúde conjugado com o Ministério da Educação sobre a “LEGISLAÇÃO QUE
OBRIGA O EXAME CLÍNICO NO INÍCIO DE CADA ANO LETIVO”. A Resolução
baseada em publicações da Revista Brasileira de Saúde escolar considera que os
métodos que até então estavam sendo utilizados para avaliação dos escolares eram
inadequados (BRASIL, 1990).
“(...) que a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade de Pediatria de
São Paulo e a Associação Brasileira de Saúde Escolar manifestaram-se pela
inadequação desses exames clínicos, na forma em que se realizam para
diagnóstico efetivo das crianças inspecionadas além da Fundação de
Assistência ao Estudante (FAE/MEC) e vários Secretários Estaduais e
Municipais” (BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, Resolução CNS
Nº 040 1993, p. 1).
Para tal, o Conselho Nacional de Saúde, Resolução CNS Nº 040 1993, p. 2
resolve:
21
1. Que as crianças que, por informação da família ou do corpo docente,
apresentarem problemas de saúde deverão ser encaminhadas ao SUS para
avaliação quanto à sua prática de educação física e demais orientações,
inclusive tratamento, quando se fizer necessário;
2. Que o SUS – Sistema Único de Saúde – deverá incorporar a demanda
gerada, oferecendo atenção integral à saúde dos escolares encaminhados,
bem como estabelecer mecanismos e instrumentos que ampliem a
permeabilidade;
5. Que seja implementada, nas Escolas de 1º e 2º Graus, a criação de
COMISSÕES DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, dando enfoque especial à
prevenção de acidentes e que incluam representantes de professores, pais e
alunos, com assessoria do SUS;
7. Que a educação em saúde seja incorporada nos conteúdos das diversas
disciplinas no currículo escolar do 1º e 2º Graus de Ensino e no currículo de
formação dos professores, englobando a prevenção de acidentes, profilaxias
do uso de tabaco, álcool e outras drogas, educação sexual, relações
humanas, saúde bucal, nutrição, deficiências, endemias regionais e outros
temas de importância local;
8. Que sejam implementados o estudo, os debates e outras formas de
incorporação de conhecimento sobre as ações básicas de saúde, tais como:
saúde da gestante, aleitamento materno, imunizações, crescimento e
desenvolvimento da criança, saneamento ambiental, valor nutritivo dos
alimentos regionais, reidratação oral e outros.
No que refere a abrangência e implementação definidas na Resolução:
“Essa NORMA se aplica ao 1º e 2º Graus de Ensino de todas as escolas da
rede pública e privada no País.Deverá ser implementada por intermédio dos
Ministérios da Saúde e da Educação, das Secretarias e Conselhos Estaduais
e Municipais de Saúde e de Educação, das Associações de Pais e
Professores, das Universidades Públicas e Privadas, das Escolas de Saúde
Pública, das Escolas de Educação Física, Pedagogia, Psicologia, Medicina,
Odontologia, Serviço Social e dos Meios de Comunicação em geral.”
(BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, Resolução CNS Nº 040 1993,
p. 2).
Somente em 1996 que as atividades de educação em saúde voltaram a
receber atenção por parte dos dirigentes do governo, criando o projeto “Saúde na
Escola”, integrado ao programa “TV Escola” do MEC agregado semanalmente a
programação de 50.000 escolas do ensino fundamental. Outro fator importante foi
em 1998 a definição de uma Diretoria de Programas para a área com o objetivo de
ampliar a abrangência da proposta, fazendo-a evoluir de um Projeto Saúde na
Escola para um Programa de Educação em Saúde (LEVY et al., 2007).
Das Normas Operacionais Básicas, destaca-se a NOB – SUS 01/96, que se
refere à atenção básica, dando autonomia e responsabilidade aos municípios para
22
organizar e desenvolver o sistema municipal da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
1999).
Com o advento do Programa de Saúde da Família (PSF), que é estruturado
em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde, municípios e instituições de
ensino superior, e procura atingir as camadas mais pobres da população. A equipe
de Saúde da Família é composta por um médico, um enfermeiro, um técnico de
enfermagem e agentes comunitários de saúde. Esse programa visa o vínculo com
os moradores da localidade, bem como participação em ações comunitárias com o
objetivo de atuar na prevenção de doenças. É chamada assistência básica, e
também oportuniza a participação controle popular nas decisões. Nesse âmbito, o
enfermeiro exerce papel preponderante, desde o planejamento das ações até a
assistência. Dessa forma, esse profissional tem autonomia para trabalhar com a
prevenção de agravos infantis desde a vida uterina da criança, quando coordena
grupos de gestantes e realiza pré-natais, assim como, desenvolver trabalhos
referentes a educação em saúde, tanto no âmbito da assistência quanto na
prevenção. A atuação nas escolas, creches e orfanatos vêm corroborar a assistência
à criança de maneira a prevenir futuros agravos infantis. Nesse contexto a família
também é orientada e participa do seu processo educativo (ARAÚJO, 2005).
Ao propor integração das políticas de saúde e educação, Vieira, et al (2004),
refere que, a escola é o espaço ideal para que essa tarefa se concretize
principalmente, nos primeiros anos do ensino fundamental, por ser essa a fase pela
qual a criança aprende valores e conceitos os quais irá utilizar pelo resto da vida.
Para tal, também é importante que os profissionais de saúde estejam capacitados
para trabalhar na escola, já que, além de ser um campo de atuação para o
profissional enfermeiro, é um lugar para a transformação e repadronização de
condutas saudáveis. Ainda refere que:
A família e a escola desempenham um papel importante para a formação da
criança, cabendo-lhes acompanhar, proteger, educar e favorecer o início da
socialização. Além disso, a educação é considerada um dos mais importantes
recursos na prevenção de acidentes, devendo estar incluída de forma
permanente nas escolas para que o processo educativo possa se efetivar. A
escola constitui um espaço ideal para se “plantar” ações preventivas, já que
com filosofia educativa e cidadã se integra a outros setores na busca de
transformação social, incentivando que crianças sejam sujeitos de sua saúde,
deixando de serem sujeitos de doença (VIEIRA, et al 2004, p 2),
23
A corroborar com essa prática, a cidade de Santos, no estado de São Paulo,
vem desenvolvendo um projeto chamado Escola Promotora de Saúde. No
entender da atual Administração Municipal, trata-se de uma escola que tem a visão
integral do ser humano, considerando as pessoas, em especial as crianças e
adolescentes, dentro de seus ambientes familiar, comunitário, social e que fomenta
o desenvolvimento humano saudável e as relações construtivas e harmônicas. Esta
escola promove aptidões e atitudes para a saúde, conta com um espaço físico
seguro e confortável, com água potável e instalações sanitárias adequadas e uma
atmosfera psicológica significativa para a aprendizagem. Além disso, estimula a
autonomia, a criatividade e a participação dos alunos e de toda a comunidade
escolar. Com este projeto, busca-se superar o quadro das dificuldades que a cidade
enfrenta do ponto de vista da saúde da infância (SANTOS, 2007).
As ações previstas dentro deste projeto propõem a articulação das estratégias
de fomento e apoio à aprendizagem e à saúde, uma vez que o quadro que envolve a
saúde das crianças nas escolas merece muita atenção. As iniciativas neste sentido
são: detecção de situações de risco à saúde, saúde bucal e mental,
desenvolvimento da linguagem, proteção ou prevenção auditiva, inclusão de
pessoas com deficiências. Estão incluídas também ações educativas desenvolvidas,
juntamente com professores, por meio da inserção de temas da saúde nos arranjos
curriculares das escolas visando orientações quanto à educação sexual e prevenção
de DST/AIDS, prevenção do uso de drogas, álcool e tabaco, gravidez na
adolescência, cuidados com a própria saúde, a relação entre violência e saúde e
acolhimento e inclusão de pessoas com deficiência ou sofrimento mental. Merecem
destaque ainda as ações que se destinam à capacitação de todos os profissionais
que trabalham nos equipamentos de educação para atendimento de primeiros
socorros. (SANTOS, 2007).
O Governo do Rio Grande do Sul, em parceria com as Secretarias Estaduais
de Educação e de Saúde, desde 2005 desenvolve ações no Projeto Saúde escolar:
sujeitos, escolas, educação e saúde públicas.
Trata-se de um projeto piloto, para a rede escolar estadual, na cidade de
Porto Alegre, onde são desenvolvidas ações pedagógicas de educação em saúde,
voltadas a promoção e prevenção. O projeto visa abranger 252 comunidades
escolares, sendo assistidas por “Equipes de Saúde Escolar”, composta de equipe
multidiscilinar (PORTO ALEGRE, 2007).
24
Fortalecendo a interação da escola com a criança, a brincadeira é um
momento vivido e lembrado, e com isso, ao associar ações preventivas, estímulo a
leitura, simulações adotando o lúdico como referencial, criam-se situações onde as
crianças tornam-se sujeitos da ação, favorecendo o aprendizado e em conseqüência
minimizando a ocorrência de acidentes.
Durante a brincadeira, a criança se desenvolve, explora o meio que a cerca,
socializa-se, expressa pensamentos e cria formas próprias de expressão. A criança
tem prazer em mover-se, em realizar atividades as quais possa se conhecer, como
auto-cuidado, por exemplo. Além disso, oficinas de leitura estimulam a imaginação,
os pensamentos, assim como a aprendizagem de diversos temas, integrando saúde,
meio-ambiente, linguagem, escrita relações com o meio em que vive, contribuindo
para o desenvolvimento da saúde mental (KISHIMOTTO, 1997).
A proposta do brincar, parte da concepção holística da criança, inserida no
contexto educativo, que integra algumas áreas, tais como: saúde, relações
humanas, ambiente, linguagem e expressão (KISHIMOTTO 1997, p. 67).
Os grupos de trabalho realizados na escola aparecem como forma de auxiliar
na socialização. É importante que a criança aprenda a esperar a sua vez de brincar
ou falar, a escutar a opinião dos colegas, bem como cuidar dos materiais utilizados,
que normalmente em escolas públicas são usados por outras crianças de outros
turnos. Ainda refere que a brincadeira requer “observadores”, pois há prazer em
brincar na presença de outras crianças e na presença de adultos. A brincadeira
perde a graça quando é realizada isoladamente. O grupo é seguramente a forma
mais indicada para uma investigação social. São nos grupos que se elaboram
regras, condutas, normalmente de acordo com a sociedade global. A escola agrega
vários grupos, constituindo um espaço perfeitamente viável para a realização de
investigações (KISHIMOTTO, 1997).
No campo da expressão, a música, a criação de objetos feitos com as
próprias mãos e desenhos ajudam-nas a desenvolver a coordenação motora
e obter contatos prazerosos com o ambiente que as cerca, deixando-as livres
para criar e compreender aquilo que seus colegas criaram
(KISHIMOTTO,1997, p. 68).
Com base no referencial citado acima, esse projeto de pesquisa vai ao
encontro das estratégias propostas, pois pretende promover aos estudantes em
25
idade escolar ensino de saúde na escola, integrando o meio em que vivem, suas
famílias e os educadores de um forma inovadora e atual de trabalhar questões
pertinentes à saúde, já que as informações serão transmitidas através da contação
de histórias.
26
4 Viajando no tempo e falando um pouquinho sobre as histórias que contei...
Essa parte do estudo pretende mostrar ao leitor parte das historinhas as quais
contei, visto que, para poder compreender a metodologia utilizada para contá-las e
as falas das crianças é preciso saber o enredo de cada uma das histórias que foram
contadas, e lembrar aspectos importantes na evolução dos contos infantis. Então
caro leitor, está pronto para viajar no tempo?
Como já referido no capítulo “As histórias que já contaram”, as histórias
infantis são contadas desde o início dos tempos e através dela se transmitem
valores e aspectos culturais de geração em geração. Além disso, parece ser senso
comum que esse tipo de interlocução é usado como forma de distração e que a
criança mostra um interesse especial por histórias, independente de sua classe
social (SIMÕES, 2000).
Mas falando de histórias, não só as crianças demonstram interesse por elas,
mas os adultos também. Se lembrarmos da época em que Jesus Cristo viveu na
terra, muitas histórias foram contadas às pessoas que são lembradas e repetidas até
hoje. Pode-se perceber então Jesus foi um grande contador de histórias e obteve
sucesso em seu feito por transmitir em forma de parábolas toda a filosofia cristã,
mas principalmente, seu amor pela humanidade. Seu feito então, deu origem a
diversos evangelhos e um grande livro, talvez o mais conhecido dos povos: a Bíblia.
Falando em livros, a obra que deu início ao gênero infantil data de 1697,
quando Charles Perrault levou aos leitores Histories ou contes du temps passé, avec
des moralités ou Contes da ma mère d’Oye (Histórias do Tempo passado com suas
moralidades: contos de minha mãe gansa). Compõe a obra: A Bela Adormecida no
Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata
Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. Essa obra é considerada
pioneira por romper com o preconceito existente até então em publicar história para
27
crianças. Mais tarde, em 1812, os irmãos Grimm editaram sua coleção de contos de
fadas sob o título Kinder und Hausmaerchem, uma versão alemã muito similar aos
contos de Perrault, porém mais próxima da tradição popular (MARCHI, 2000).
Após essas publicações, mais histórias infantis começaram a ser criadas e
editadas, mas a maioria com algo em comum: ocorriam em lugares fantásticos,
exóticos e sob o comando de jovens corajosos. Falo que era a maioria, porque
também aparecia o cotidiano às crianças, sem recorrer ao fantástico, e esse,
também é um modelo utilizado atualmente.
No Brasil, somente no século XX tem-se a criação de obras destinadas ao
público infantil com características próprias, ou seja, histórias as quais ocorriam e
enfatizavam aspectos nacionais, embora traduções já acontecessem desde 1808,
após a implantação da Imprensa Régia por D. João VI, quando a atividade editorial
foi iniciada no país (MARCHI, 2000).
Mas onde ficavam esses livros? Como eles chegavam aos leitores? Para
responder essas questões duas grandes instituições vêm à mente: a escola e a
igreja. Ambas, tiveram um papel fundamental na formação dos leitores, embora uma
estivesse inteiramente ligada à outra.
Da mesma forma é importante relembrar que o ensino era dirigido aos
meninos e a grande maioria das histórias tinha um jovem do sexo masculino no
papel de protagonista, cabendo às meninas ou mulheres um papel coadjuvante,
enfatizando os afazeres domésticos e o papel de mãe e esposa. Além disso, quando
se fala em ensino, é importante ressaltar que a instituição que mais de dedicou à
formação de leitores foi à escola, e nessa área a Igreja teve um papel de destaque
(MARCHI, 2000).
Pensando um pouco sobre o referido acima, é possível considerar que a
situação social da população influi diretamente sobre a literatura produzida. Assim,
sabemos que as crises, o crescimento industrial e a Igreja Católica direcionaram
muito do que se tem em produção literária infantil, assim como a escola.
Ainda remetendo às características das obras nacionais, Monteiro Lobato em
sua obra foi o primeiro escritor que transformou o livro em um diálogo entre adultos e
crianças. Com isso permitiu a expansão e democratização da cultura entre
paisagens e motivos populares, valorizando o regionalismo e o folclore, despertando
28
nas crianças a valorização crítica da realidade, a exaltação da vivacidade e a
capacidade de criação infantil (FILIPOUSKI, 1982).
Em relação às obras infantis, feitas no Rio Grande do Sul, data-se do século
XIX as primeiras pesquisadas, exatamente em 1882 quando José Fialho Dutra
lançou um livro de poesias denominado “Flores do campo”, dirigido especificamente
aos pequenos leitores, e essa obra segue até 1935 quando Érico Veríssimo
ingressou na área dos contos infantis (MARCHI, 2000).
Érico Veríssimo, quase na mesma época em que Monteiro Lobato lançou sua
obra, preocupou-se em preencher a lacuna no acervo destinado às crianças
gaúchas, lançando Gente e Bichos, que integra uma série de contos com
características específicas riograndenses (FILIPOUSKI, 1982).
Já, as histórias em quadrinhos começaram a aparecer por volta do século
XVIII. Na França, em 1820 vendiam-se as obras as quais já possuíam ilustração de
capa, com heróis e sua espada, em versões populares assim como versões
luxuosas. Tinham como objetivo dar ao povo a chance de transferir-se à vida de
seus ídolos. Nos Estados Unidos da América, o surgimento da litografia possibilitou
as publicações de almanaques de anedotas e um grande mercado a ser explorado
(ARASHIRO, 2007).
Agora, pensando um pouquinho para que serve a história infantil, muitas
possibilidades se abrem, e não posso deixar de citar a psicologia e a pedagogia.
Remeto-me a citar porque discutir acerca dessas ciências, as quais muito considero,
não é o objetivo deste trabalho.
Com o surgimento da ciência psicanalítica, no século XIX, houve uma grande
valorização da infância, que até então era deixada de lado. Mais tarde, com o auxílio
das ciências da psicologia e pedagogia é que se tornou claro os grandes objetivos
dos textos dirigidos ao público infantil: despertar curiosidade para os aspectos do
real e estimular o prazer pela leitura através de uma aventura cativante
(FILIPOUSKI, 1982).
Mas falando em ciência e em atividades formadoras e geradora de conceitos,
não posso deixar de falar da Enfermagem, essa sim, falar, pois este trabalho
pretende discutir questões dessa profissão, destacar o profissional enfermeiro e
questionar o seguinte: se a enfermagem é ciência e atua no cuidado das crianças
antes mesmo delas nascerem, porque não aventurar-se a produzir textos que
também cuidem da sua formação quando estão um pouquinho maiores? Se
29
considerarmos que a orientação é um grande instrumento de trabalho enfermagem e
deve ser dirigida de forma a ser entendida pelos clientes, ora, quando esta é feita ao
público infantil deve ter a mesma característica!
Sendo o imaginário infantil um grande campo a ser explorado, e uma grande
fonte de produção de conceitos, os quais permanecerão durante toda a vida, os
textos para as crianças podem vir como grande instrumento de trabalho para a
enfermagem, visto que:
(...) a obra infantil é essencialmente formadora de suas primeiras
impressões sobre o universo, de conceitos intelectuais e comportamentais,
além disso, estimula a sua fantasia e o pensamento crítico sobre o mundo
(FILIPOUSKI, 1982, p.13).
E falando em livros infantis, e a formação de conceitos, não se pode deixar de
lembrar do livro didático. Criado especificamente para “educar crianças”, está
presente há muito tempo nas escolas e muito se produziu tem produzido
pedagogicamente para integrar esse material. Cabe ainda lembrar que esse material
refletiu e reflete ainda questões sobre políticas governamentais. Essa foi durante
muito tempo e porque não dizer que ainda é manipulada pelo governo federal, tendo
em vista a escola tradicional e a abrangência da produção, possibilitando a
manipulação de massa popular. Não quero dizer aqui, que ele não foi ou não é
importante, mas sim levantar questões acerca deste material que há muito tempo faz
parte do cotidiano escolar.
Tratando-se de educação em saúde com crianças, pouco material se tem, no
que se refere a produção específica em livros ou no próprio livro didático. Muitos
folhetos são disponibilizados à população, inclusive para as crianças, mas esses se
resumem em passar somente informações técnicas, inclusive quando são
disponibilizados em capítulos nos livros didáticos.
Ao considerar o ponto de vista educativo, os textos mais importantes são os
narrativos e os expositivos. Os primeiros são formados por personagens e ações
que se encontram num tempo e num espaço determinados, além disso, os fatos têm
uma seqüência que vão se desenrolando do princípio até o final. Já os textos
expositivos explicitam relações lógicas e estruturais entre diferentes conceitos e
30
fenômenos. Exemplos típicos são conteúdos de livros escolares, artigos científicos
ou de divulgação (CARRETERO, 1997).
Vindo ao encontro desses tipos de textos, chegamos enfim as histórias as
quais criei, juntamente com outra pesquisadora da área infantil. Mas antes de
finalmente contar o enredo de cada uma, e deixar o amigo leitor ainda mais ansioso,
tenho que explicar que a criação das histórias decorreu de atividades desenvolvidas
com crianças durante todo o curso de graduação e deu-se de forma a mesclar um
pouco do texto narrativo e um pouco expositivo. Explico assim, por serem histórias
as quais possuem uma seqüência lógica, descrevendo fatos narrados, mas
recheados com informações técnicas em saúde, utilizando muitas vezes uma
linguagem infantilizada a fim de ser melhor compreendida pelas crianças.
Ainda assim, a ordem das histórias aqui descritas está disposta na mesma
ordem a qual contei durante a coleta de dados, a fim de situar melhor o leitor, mas
quero lembrar que difere da ordem de criação.
Melhor dizendo, vamos conhecê-las?
A primeira história...
Essa historinha chama-se José quebrou o pé e foi criada com o objetivo de
trabalhar questões sobre a prevenção de acidentes na Infância, assim como explicar
à criança alguns conceitos sobre o serviço de saúde o qual trata de
urgência/emergência, fratura, imobilização, enfermagem, medicina, entre outros
(Apêndice A).
José é um menino de 7 anos, que gosta muito de jogar futebol com seu
amigo Tomás, na rua em frente às suas casas. A mãe de José já avisou que é
perigoso brincar na rua, mas José não a obedece e um dia cai em um buraco
enquanto jogava bola e quebrou o pé. É levado então ao pronto socorro, é recebido
pela enfermeira, passa por uma consulta médica e realiza o exame raio X, quando
é constatada a fratura. Assim, tem o pé imobilizado pela enfermeira que também
31
explica para ele os cuidados que precisa tomar até curar o pé, através de uma
cartilha ilustrada, a qual o presenteia, como forma de orientação. No final José
aprende que a rua não é um local adequado para jogar bola.
A segunda história...
Essa chama-se Lara e a flor da janela e foi criada também para trabalhar com
a meninada a prevenção de acidentes na infância, além de explicar conceitos como
Unidade Básica de Saúde, sutura, enfermagem, medicina, anestesia, entre outros
(Apêndice B).
Lara é uma menina de 10 anos, e o que ela mais gosta de fazer é ler e
escrever histórias, e já é autora de uma coleção de historinhas. Mora no lugar mais
alto do bairro e já foi advertida que não deve ficar muito próxima da janela, mas
para criar suas histórias Lara fica olhando através dela, observando as pessoas que
passam lá em baixo e o pé de jasmim da sua mãe. Um dia, ao desobedecer cai da
janela, rala todo o corpo e corta o braço. É cuidada primeiramente pela vizinha, e
depois levada pela mãe até a Unidade Básica de Saúde a qual fica próxima
da sua casa. Ao chegar é recebida pela enfermeira que logo a encaminha para uma
consulta médica. É realizada então a sutura no seu braço. Depois disso a
enfermeira faz o curativo explica os devidos cuidados e como já a conhece e sabe que
a Lara escreve histórias, pede a ela para escrever essa e contar aos colegas da
escola, para que seus amiguinhos não se machuquem como ela se machucou.
32
A terceira história...
Ah! Essa historinha deu trabalho! Foi criada com o objetivo de trabalhar com
as crianças a crise asmática, a hospitalização e os cuidados com a doença. Mas, em
virtude de ser a primeira história a ser criada, e o fato da inexperiência levar a tomar
decisões precipitadas, essa história foi reescrita por uma professora, que utilizou
como base o texto original e a transformou numa bem diferente, com menos
informações técnicas e trazendo uma questão muito forte para ser trabalhada com a
criança: o medo. Além disso, chama-se Augusto e seus fantasmas e faz um
trocadilho inteligente com o leitor entre fantasma e asma, mas mostra aos pequenos
o pulmão, a crise asmática e o medo (Apêndice C).
Augusto é um menino de 7 anos, que tem asma. Ele mesmo conta à
história fazendo um trocadilho com o leitor sobre fantasma – asma. Ele lembra que
sua primeira crise asmática ocorreu quando tinha 3 anos enquanto brincava em uma
pracinha. Sua mãe então o socorre procurando um médico, e a enfermeira que
está presente explica a ela o que é asma e o Augusto ouve tudo. Também da a
eles um livrinho que fala os cuidados s serem tomados daí pra frente. Além disso,
explica a função do nebulizador.
A quarta história...
A quarta historinha chama-se Quem nunca teve diarréia? A criação teve o
objetivo de trabalhar com a criançada questões sobre prevenção da doença
diarréica e ensinar cuidados com ela, além de abordar consulta de enfermagem,
soro caseiro, trabalho de outros profissionais na atenção básica, entre outros
(Apêndice D).
33
Era segunda-feira quando Carol pode voltar à escola. Fica feliz ao
reencontrar os colegas e através de um diálogo das três crianças, discute-se a doença
diarréica. Carol conta à Flavinha e a Pedro que teve diarréia, devido a uma
salada de frutas que havia sido preparada sem a higiene adequada e com isso teve
dor de barriga, fez muito cocô mole, vomitou e teve febre. Logo a seguir, foi até o
Posto de Saúde. Chegando lá, na sala de espera havia uma nutricionista
explicando o soro caseio e a importância da preparação adequada dos alimentos.
Posteriormente é chamada para a consulta de enfermagem. A enfermeira então a
avalia e prescreve o soro caseiro e lhe dá uma cartilha com os cuidados com a
diarréia e como evitá-la.
Bom, agora que já foi mostrado um pouco das historinhas, ou seja, o enredo
dos instrumentos desse estudo, convido você a conhecer como, onde e o público
infantil que fizeram parte deste estudo, ou melhor, desta história!
É importantíssimo dizer ainda que existem mais três historinhas que não
foram objetos desse estudo, mas duas delas, as quais abordam depressão infantil
(O menino triste) e hiperatividade (Lili a boneca de corda), respectivamente, foram
instrumentos de outra pesquisa intitulada “Brincando e Conhecendo a ciranda da
vida: a formação do círculo social da criança portadora de transtorno mental através
da utilização das histórias infantis”. Ainda assim, teve uma que não foi instrumento
de nenhum desses estudos que chama-se Augusto vai para o hospital, que é a
primeira história criada readaptada do texto original a fim de diferenciar e continuar a
Augusto e seus fantasmas.
Caso o leitor se interesse pelas histórias deste estudo na íntegra, é só
consultar os apêndices A, B, C e D, respectivamente e se quiser ter todas elas
ilustradas em forma de livrinhos, é só procurar as livrarias e conhecer a “Coleção
Brincando e Pensando Saúde”!
34
5 O caminho a trilhar...
5.1 Caracterizando essa história
Para que essa história pudesse ser contada e registrada cientificamente,
investiu-se num caminho qualitativo descritivo com observação participante.
A abordagem qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não
pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com um universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações humanas e suas ações (MINAYO 1998).
35
O estudo descritivo tem como foco essencial a descrição de traços
característicos da população estudada e com intenção de conhecer o universo do
estudo e suas particularidades exige do pesquisador uma série de informações
acerca de técnicas, métodos, modelos e teorias, que orienta a coleta e interpretação
dos dados (TRIVIÑOS, 1987).
5.2 Onde ocorreu...
O cenário escolhido para estrear as historinhas foi uma escola de ensino
fundamental, localizada em um município de grande porte no sul do Brasil, que
possui vínculo com a atenção básica à saúde. Esta escola foi escolhida por fazer
parte do território de abrangência de uma Unidade Básica de Saúde.
Ao chegar ao local, percebi que se tratava de uma grande casa
localizada no lugar mais alto do morro. Logo na entrada há um quadro grande que
expressa exatamente o que eu gostaria de realizar lá! Um rouxinol que sobrevoa o
morro da cruz com uma criança montada em suas costas jogando flores colorindo e
perfumando o ambiente com suas cores e aroma, convidando as pessoas a voar na
imaginação infantil e por um momento poder desfrutar de uma realidade mais
colorida. Assim como esse quadro, as paredes dessa grande casa são todas
decoradas com a arte infantil e convidam qualquer pessoa que lá apareça a entrar
em seu mundo, ou seja, voltar a ser criança, nos tempos da escola e aprender com
eles!
Essa escola é bem nova. No mês em que fiz o primeiro contato, estava
completando 11 anos. Atende aproximadamente 1.600 crianças e adolescentes,
todos de ensino fundamental. Para acolher toda essa turma cheia de energia, o local
conta com três prédios, sendo dois com dois andares e um com um andar. Além
disso, dispõe de 1 refeitório amplo, 1 cozinha, 1 biblioteca, 2 salas de multimeios, 1
sala dos professores, 1 banheiro para os funcionários, 1 depósito, 1 sala
administrativa, 1 sala para o Serviço de Orientação Educacional (SOE), 1 banheiro
feminino, 1 banheiro masculino, 1 sala para direção e várias salas de aulas. A área
externa possui uma pracinha, uma quadra de esportes com somente uma parte
coberta e um pátio grande também utilizado para educação física. Ainda assim, há
um ginásio em construção, o que instiga a curiosidade de muitas crianças, que
brincam em meio a tijolos, cimento e funcionários.
36
Os pequenos têm acesso a todas as disciplinas exigidas pelo Ministério da
Educação (MEC), além de muito carinho e dedicação dos educadores que lá
desenvolvem seu trabalho. As crianças que freqüentam a escola são de baixa renda
e para estudarem são agrupadas em turmas de acordo com a faixa etária,
configurando ciclos e não séries. Além disso, a escola recebe estudantes portadores
de deficiências, contribuindo para a inserção social proposta nos atuais modelos de
intervenção em saúde. Para tal, compõe três ciclos agregando todo o ensino
fundamental.
É importante dizer ainda que este local desenvolve um projeto o qual
considero fundamental na educação infantil que chama-se “Mala Mágica”. Esse
projeto, criado pela orientadora educacional e consiste em contação de histórias
pelos estudantes aos estudantes, melhor dizendo, os alunos do terceiro ciclo contam
as histórias às crianças do primeiro e segundo ciclos. Dessa forma, muitos
adolescentes têm preferido ficar na escola a ficar na rua e melhor ainda, têm
preferido ler e incentivam seus colegas a isso. Junto a eles, um outro grupo de
estudantes, selecionados pelas funcionárias da biblioteca contam histórias em
outras escolas e até outras cidades. São os monitores contadores de histórias.
Sabendo disso, me senti muito à vontade, pois as crianças já estavam
acostumadas a ouvir histórias e gostam muito disso. Além disso, não havia em
nenhum dos projetos, iniciativas de trabalhar educação para a saúde o que instigou
a curiosidade dos funcionários da escola assim como dos estudantes os quais
contam histórias. Assim fui acolhida e muito incentivada a desenvolver meu trabalho.
5.3 Uni-dune-tê, salame-mingúê... o sorvete colorete e os escolhidos foram...
As crianças que estavam cursando o primeiro ciclo do ensino fundamental na escola
do território de abrangência da Unidade de Saúde.
As crianças que, junto com seus responsáveis, manifestaram sua concordância em
participar do estudo e permitiram que os dados fossem publicados no meio
científico, respeitando o sigilo da pesquisa com seres humanos.
5.4 Apresentando os protagonistas
37
Fui brincar numa casinha-nha, enfeitada-da de florezinhas-nhas, saíram de
lá, lá, lá muitas criancinhas-nhas, olharam pra mim, olharam pra mim e disseram
assim: tu veio contar histórias? (Canção popular)
Escolhi essa canção popular, parodiada para esta história, porque mostra
exatamente a curiosidade e o encanto da meninada que brincou comigo de ouvir
histórias. Além disso, assim era aquela sala de aula, uma casinha cheia de
florezinhas e para cada uma delas aleatoriamente dei um nome de um personagem
da literatura infantil.
A turminha era composta de dezessete crianças, com idades entre 7 e 9
anos, mas nem todos fizeram parte dessa história, por não estarem presentes nos
três encontros, e uma menina eu não obtive o consentimento dos responsáveis.
Então serão descritos apenas os personagens que fizeram parte das brincadeiras.
Convido então o leitor agora a conhecer um pouquinho de cada florzinha que
compunha a casinha enfeitada!
Mônica – menina alegre, esperta e escolhida pelos colegas para ser líder da
turma! Assim como a Mônica das histórias em quadrinhos é muito valente!
Magali – menina meiga, fala pouco, é bem magrinha, e assim como a Magali
da história em quadrinhos, comia muito durante as refeições!
Cascão – menino alegre, esperto, arteiro, cativante e com muita
personalidade, assim como o Cascão da história em quadrinhos!
Narizinho – menina inteligente, carinhosa, esperta, organizada, muito
parecida com a Narizinho de Monteiro Lobato.
Pequeno Polegar – menino inteligente, ágil, amoroso e com estatura um
pouco menor que seus coleguinhas!
Tio Patinhas – menino esperto, inteligente e líder natural.
Margarida – menina calma, feliz, amorosa e anda sempre junto da Minye.
38
Minye – menina calma, inteligente e anda sempre junto da Margarida!
Pato Donald – alegre, um pouco atrapalhado, mas cheio de boas intenções
como o da história em quadrinhos.
Mikey – menino organizado, calmo, inteligente, mas muito brincalhão! Como o
Mikey das histórias em quadrinhos.
Cebolinha – menino calmo, amoroso e assim como o Cebolinha, tem dislalia.
Cristal – menina agitada, alegre, inteligente e assim como Cristal, um
pouquinho desatenta!
Franjinha – menino inteligente, ágil, estatura um pouco maior que os colegas
e gosta de inventar coisas como o Franjinha da história em quadrinhos!
Visconde de Sabugosa – menino inteligente, ágil e arteiro!
Pedrinho – menino inteligente, feliz e muito organizado.
5.5 Princípios Éticos
Foram mantidos os preceitos do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, especialmente o capítulo IV, artigos 35, 36 e 37 e o capítulo V, artigos
53 e 541
. Igualmente foram respeitados os preceitos da Resolução nº 196/962
do
Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde.
5.6 Passa – passará, quem de trás ficará, a porteira está aberta para quem
quiser passar...
39
Nesta parte da história será descrito todo o processo do procedimento para a
coleta dos dados passo a passo.
__________________
1
Capítulo IV (Dos Deveres): art.35-Solicitar consentimento do cliente ou do seu representante legal,
de preferência por escrito, para realizar ou participar de pesquisa ou atividade de Ensino em
Enfermagem, mediante apresentação da informação completa dos objetivos, riscos e benefícios, da
garantia do anonimato e sigilo, do respeito à privacidade e intimidade e a sua liberdade de participar
ou declinar de sua participação no momento que desejar; art 36- Interromper a pesquisa na presença
de qualquer perigo à vida e à integridade da pessoa humana; art 37- Ser honesto no relatório do
resultado da pesquisa. 2
Capítulo V (Das proibições): art 53- Realizar ou participar de pesquisa ou
atividade de ensino, em que o direito inalienável do homem seja desrespeitado ou acarrete perigo de
vida ou dano a sua saúde; art 54- Publicar trabalho com elementos que identifiquem o cliente sem
sua autorização.
2
Resolução 196/96 – Incorpora sob a ética do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais
básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros e visa
assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa
e ao Estado.
Passo I - O primeiro contato....
Primeiramente, fiz um contado via telefone, agendando data e hora para
conversar com a coordenadora de ensino da escola. Redigi uma carta (Apêndice H)
para fazer a solicitação formal e tive a ajuda da enfermeira que me supervisionava
no estágio curricular III.
Então na data e hora marcadas, acompanhada da enfermeira que me
supervisionava e da minha mala encantada de contação de histórias fui conversar
com a coordenadora. Com a carta formal e o parecer do Comitê de Ética (Anexo A)
que aprovava minha pesquisa em mãos, assim como meu projeto de pesquisa fiz a
solicitação.
Depois de mostrar a ela a mala encantada, as personagens as quais a
compõe, a carta e meu projeto de pesquisa um silêncio arrebatador tomou conta da
sala onde estávamos. Os segundos de decisão pareciam horas intermináveis de
angústia, mas logo esse silêncio foi quebrado por um sim acompanhado de um
sorriso e uma condição: que eu deixasse as histórias para as crianças!
Depois dessa grande alegria e de poder fazer o que mais quero que é deixar
as histórias ao acesso fácil aos pequenos, pude seguir em frente agendando reunião
40
com a professora da classe e com os responsáveis pelas crianças afim de obter a
autorização necessária para realizar a pesquisa e a concordância dos meninos e
meninas.
Passo II – O grande convite....
Após o agendamento com a professora da classe a qual foi realizada a
pesquisa e com os responsáveis chegou o momento. Ao chegar na sala de aula,
haviam algumas crianças, alguns pais e a professora. Ao explicar meu trabalho
prontamente as crianças manifestaram vontade de ouvir minhas histórias e os pais
que lá estavam concordaram, assinando a carta convite e consentimento livre e
esclarecido (Apêndice F). Também conversei com a professora, convidei-a para ser
minha observadora e fizemos as combinações pertinentes.
Passo III – Conhecendo os personagens...
Conforme a proposta do projeto de pesquisa, fiz uma observação da
realidade, registrada em diário de campo (Apêndice I), a qual somou 20 horas,
dividido em quatro manhãs e o primeiro contato com a escola.
Ao chegar à sala de aula para observação dos pequenos, fui surpreendida
com abraços e beijos daqueles que já me conheciam do primeiro encontro. Expliquei
meu trabalho, deixei-os à vontade para questionar-me e encontrei um lugar para
sentar e assistir a aula em meios às crianças. E assim transcorreram as atividades,
pude conhecer cada criança que compunha aquele grupo, cada olhar curioso
quando eu falava e cada gesto de mais e mais crianças que vinham a cada novo
encontro abraçar-me e dar “bom dia”. Da mesma forma me deixei conhecer pelo
grupo e penso que esta foi a melhor maneira de trabalharmos, pois a troca de
conceitos ocorreu com mais facilidade e o tempo todo.
A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do
pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade
dos atores sociais em seus próprios contextos (MINAYO, 2004).
41
Passo IV – O grande momento!
“A contação das histórias!”
Enfim chegou o grande dia! O momento de contação das histórias. Era
chegada a hora de viver cada segundo mil vezes idealizado, cada passo de um
sonho, cada segundo de alegria de transformar o que parecia impossível em
possível. Preparei com carinho a mala, meu jaleco colorido e embarquei na grande
viagem da vida: transformar sonhos em realidade!
Ao chegar minhas crianças já me aguardavam ansiosas para ouvir as
histórias que eu tinha para contar. Propus um círculo o que prontamente foi feito.
Uma grande ansiedade e expectativa tomavam conta do ambiente, tanto da minha
parte, quanto das crianças. Só quem estava serena era a regente da classe e ainda
bem que havia alguém com serenidade!
E assim, no primeiro dia, tudo aconteceu com grande satisfação. A
apresentação da mala, os olhares curiosos dos pequenos para os personagens que
a compõe, a abordagem dos temas antes da história, e o mais importante: a grande
participação e envolvimento das crianças com as histórias: José quebrou o pé e Lara
e a flor da janela (Apêndices A e B), que o tempo todo teciam comentários,
contavam vivências, riam e brincavam. O dia frio, cinzento e coberto com a neblina
densa da manhã contrastava com o calor, as cores e fantasias em que eu e a
criançada estávamos mergulhados.
Após, propus a realização de painéis e a construção deles foi em forma de
gincana. Pretendia com isso, que a meninada recontasse as histórias que contei em
forma de desenhos e então expliquei a eles que o grupo que desenhasse o painel
mais parecido com a história ganharia um prêmio. Rapidamente a turma dividiu-se
em dois grupos e o grupo que desenhou a história Lara e a flor da janela era
formado apenas com meninos e o grupo que desenhou a história José quebrou o pé
era composto em maioria por meninas, tendo somente um menino.
Ao ingressar nesta experiência buscando torná-la uma brincadeira e com isso,
interessante para a meninada, o ambiente escolar torna-se incrivelmente propício e
o fato de as crianças recontarem as histórias posteriormente a minha contação, em
42
forma de gincana, constitui uma forma importante de avaliar a maneira como a
criança se comunica com o grupo e troca idéias no plano verbal (PIAGET, 1999).
Era gratificante observar as crianças empenhando-se em desenhar minhas
historinhas, suas discussões sobre os temas, mas principalmente o fato de terem
gostado delas e demonstrarem prazer enquanto brincavam de desenhar histórias. E,
falando em brincar, um fato curioso que ocorreu neste dia foi que quase todos os
meninos brincaram com as bonecas da mala, inclusive verbalizando “minha filha, tua
filha”. As meninas resumiram-se a observar.
Os painéis, diga-se de passagem, ficaram lindos e como certamente o leitor
irá conhecê-los a seguir disponho-os, no capítulo “Senhoras e Senhores: a análise”.
Ao final da atividade, todos ganharam o “prêmio”: balas de morango! Tomei
essa atitude de premiar a todos porque houve a participação deles durante todo o
processo, prestaram atenção, brincaram, desenharam, riram, e o melhor, discutiram
os fatos presentes nas narrativas, configurando trocas e crescimento. Além disso,
crianças pequenas têm dificuldade em ganhar ou perder.
No segundo dia quase tudo foi diferente. Fui recebida com expectativa e
afetividade, levei as crianças para a sala de multimeios, onde elas estão
acostumadas a ouvir histórias. Comecei a organizar a sala e espontaneamente fui
ajudada pelos pequenos, que olhavam com curiosidade para a cena que eu estava
montando. Levei novamente a mala e, como era a proposta, abordei o tema antes
da história e depois a contei. A história contada foi Augusto e seus fantasmas
utilizando técnica de varal, pois já tinha a ilustração (Apêndice C). Utilizei para isso,
barbante, prendedores de roupa e a história ilustrada. Essa técnica consiste em
contar a história e ir pendurando cada ilustração num varal simples com
prendedores. Para minha surpresa, não houve participação da meninada, houve
sim, o silêncio. Eles observavam os desenhos com atenção e rostos muitos sérios.
Além disso, os questionamentos acerca do tema antes e depois da história não
tiveram diferença. Mesmo assim houve participação na realização dos desenhos e
pareceu que eles gostaram muito da ilustração. Algumas crianças brincaram com as
personagens da mala, outras se deram conta que eu estava gravando e assim
imitavam-me. Nesse dia, o trabalho ocorreu mais rápido e havia somente dez
crianças. Ao chegar em casa, percebi que nosso encontro não havia sido gravado
por problema no mp3 player e os dados falados foram todos perdidos.
43
Uma articulação necessária na pesquisa de campo refere-se à interação entre
o pesquisador e os atores sociais envolvidos. Mesmo estando em planos desiguais,
ambas as partes buscam compreensão. O objetivo principal do pesquisador é ser
aceito na convivência (MINAYO, 2004).
No terceiro dia... Há esse dia foi especial! Ao chegar, meus pequenos já
haviam arrumado a sala de aula, dispondo as cadeiras em círculo, para me esperar
e como todos os dias receberam-me com abraços e beijos. Abordei o tema de
doença diarréica antes de história de depois contei Quem nunca teve diarréia?
(Apêndice D). Durante a contação houve grande participação das crianças.
Novamente riam, contavam fatos pessoais, expressavam sentimentos e opiniões.
Conversamos bastante antes e depois da história e pude perceber o quanto é
importante discutir tais questões com a meninada, e como eles percebem e
aprendem com facilidade. Brincamos, rimos, contamos outras histórias, desenhamos
e nos divertimos enquanto aprendíamos. Escrevo dessa forma porque não foram só
as crianças que aprenderam, eu também aprendi muito.
De acordo com a teoria abordagem construtivista, o conhecimento não está
pré-formado, acabado, pronto. A aquisição de conhecimentos configura-se na
interação da criança com o objeto a conhecer, na relação de troca entre eles
(PILLAR, 1996).
Mas nesse dia também houve a despedida, porque expliquei aos pequeninos
que esse seria o último dia e com grande tristeza, expressa nos olhares e nos
pedidos para eu retornar fui embora. E como foi difícil a despedida! Aliás, as
despedidas quase sempre são difíceis, principalmente quando se trata de crianças.
Porém, uma coisa amenizava a angústia de despedir-me: a grande satisfação
por ter realizado um trabalho pelo qual batalhei muito e a certeza de que, em breve
as minhas histórias estarão lá.
44
6 Senhoras e senhores: a análise!
Diante dos dados obtidos por gravação, dos desenhos e das informações
registradas em diário de campo, procurei agrupá-los em temas, a fim de responder
os objetivos do estudo. Para isso, utilizei os momentos de contação das histórias,
separando-os em antes e durante, ao quais deram origem ao tema I – Procurando
saber o que as crianças conhecem, e o depois que deu origem ao tema II -
Analisando as contribuições das histórias infantis para a educação em saúde.
Para os temas, utilizarei também questões do construtivismo e
desenvolvimento cognitivo de Piaget. Ambas trabalham juntas e analisam aspectos
de aprendizagem-compreensão de forma espontânea, motivadora e
preferencialmente realizada em grupos (CARRETERO, 1997).
45
Tema I: Procurando saber o que as crianças conhecem...
Valorizando o saber em licenciatura plena, procurei antes de tudo, conhecer o
saber prévio dos pequenos acerca dos temas propostos. Como propõe a literatura
moderna acerca da construção de conhecimento, o saber de cada pessoa é único e
deve ser valorizado e expresso de forma a contribuir com o conhecimento grupal e
assim gerar um conhecimento maior. Dessa forma me aventurei com a meninada a
trazer questões relativas aos temas das histórias as quais contei e contrariando a
pouca idade e as condições em que muitos vivem, possuem um grande saber.
Em relação os serviços, pude perceber que eles sabem suas funções e
compreendem a importância dela. Como referem na seguinte fala, quando são
indagados acerca da função da atenção básica:
Para tomar vacina! Cuidar dos dentes! (Tio patinhas)
Para cuidar das crianças... Quando está desmaiado! (Coletivo)
Nessas falas é possível considerar que as crianças entendem a atenção
básica de duas formas. Uma, refere-se à prevenção e a outra à assistência com um
maior grau de complexidade. A primeira remete a imunizações, a qual é de
responsabilidade da enfermagem e há alguns anos vem sendo tratado seriamente
pelas autoridades competentes, incluindo grandes marketings em saúde, como
vemos pelo menos duas vezes ao ano nas campanhas de vacinação. A segunda
aborda a saúde bucal, e pode-se perceber que já se desenvolve nas crianças uma
atitude, expressa em palavras, que é preciso cuidar dos dentes, o que atualmente é
o grande desafio dessa área.
Assim sendo, o grande desafio da odontologia atual é atuar
educativamente junto à população infantil, provendo-a de informações
necessárias ao desenvolvimento de hábitos para manter a saúde e prevenir
as doenças bucais, numa mudança de atitude em relação a essas doenças
que freqüentemente são tidas como inevitáveis pela população
(VASCONCELOS et al. 2001, p.2).
46
Já a assistência com um maior grau de complexidade ainda é vista
erroneamente como função da atenção básica. Isto nos remete a pensar que essa
idéia ainda é reproduzida pelas crianças por ser o conceito que lhes é passado pelos
seus pais ou pelo meio em que vivem. Entretanto, essa idéia ainda pode ser
reformulada, visto que a escola pode ser um ambiente favorável para isso e,
portanto contribuir na construção do Sistema único de Saúde, já que possibilita o
grande desafio de estimular condutas saudáveis e informações em saúde.
Vindo ao encontro a essas idéias, o Ministério da Saúde em parceria como o
Ministério da Educação referem que a escola é um ambiente onde se formam
cidadãos conscientes dos direitos de saúde, lazer, educação por meio de práticas
realizadas por sujeitos sociais críticos, o que favorece a participação das pessoas a
buscar uma vida mais saudável (BRASIL, 2005).
Já quando remete ao Sistema Único de Saúde, diz que é uma questão muito
importante a ser trabalhada dentro do contexto escolar, visto que é a partir da
participação popular que se direcionam muitas decisões para as políticas públicas e
isso deve ser iniciado nesse ambiente (BRASIL, 2005).
Quando questionados sobre o que conheciam do pronto socorro, as falas são:
Eu fui tirar raio X!
(Franjinha)
Raio X!
Ôh “Sora”, eu fui atropelado e fui tirar raio X!
(Cascão)
Ao perceber essa fala, destacam-se dois pensamentos distintos: o saber
proveniente de experiência pessoal e a utilização do serviço de emergência para a
realização de exames. Na questão do atropelamento a utilização do pronto socorro
traz a lembrança na criança com o fato ocorrido, assim como o devido cuidado nesta
situação. Já quando se expressa simplesmente o “raio X” é possível pensar em
utilização inadequada dos serviços, pois esse exame não necessita do pronto
socorro para ser realizado, podendo ser ambulatorial. Assim como referido acima
acerca da atenção básica, que traz idéia de atendimento com grau de complexidade,
o serviço de emergência ainda é referido como serviço de atenção secundária.
Já quando questionados sobre o que é ter diarréia, as falas são as seguintes:
Dor na barriga... (Mônica)
È não comer nada e só vomitar! (Narizinho)
Ficar todo dia e não comer nada! (Pato Donald)
47
Ficar com fome! (Pequeno Polegar)
Ôh “Sora”, o (Pato Donald) ficou com diarréia! (Cascão)
Risos....
Ao ler essas falas, percebe-se claramente que as crianças conhecem parte da
sintomatologia da doença diarréica. Embora refiram dor abdominal e vômitos,
inapetência e fome, as fezes líquidas e evacuações freqüentes não aparecem.
Além disso, os risos aparecem talvez pelo fato da evacuação ser considerada um
tabu, embora seja uma função fisiológica presente em muitos seres vivos.
Os sintomas clássicos da doença diarréica podem ser descritos como dor
abdominal, fezes cuja consistência revele aumento de conteúdo líquido
acompanhada de aumento da freqüência de evacuações, acompanhada ou não de
vômitos (DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2007).
Já o Ministério da Saúde (1993) traz como diarréia aguda a perda de água e
eletrólitos resultando num aumento de volume e de freqüência de evacuações
seguida da diminuição da consistência, podendo apresentar algumas vezes muco e
sangue (disenteria). Na maioria dos casos é provocada por uma agente infeccioso e
tem duração inferior a duas semanas.
Quando os questiono sobre cuidados para prevenção da doença diarréica, as
falas são:
Tomar remédio! Alguma coisa! (Pequeno Polegar)
Toma remédio, tomar chá... (Narizinho)
Xarope! Eu já tomei... (Cascão)
Bah... Tri ruim! (Cascão)
É bom!! (Pequeno Polegar)
Nessas falas percebe-se claramente que algo deve ser feito para não
desenvolver essa doença, mas os conceitos são visivelmente confusos e
equivocados no sentido da prevenção, visto que esses são colocados na forma de
tratamento medicamentoso inclusive para outras patologias que não a diarréia. Além
disso, expressam opiniões diferentes acerca do sabor do medicamento.
Assim como as autoridades competentes, as crianças reconhecem que é
necessário desenvolver estratégias para prevenção desta doença, visto que, os
índices de morbi-mortalidade possuem índices importantes.
De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Porto Alegre, RS, a região sul
do Brasil possui o menor índice dessa morbidade em relação as demais regiões
48
brasileiras, no período de 1995-2004. Já as regiões nordeste e sudeste superam as
demais regiões e necessitam de ações para um maior controle. No ano de 2005, os
casos notificados em Porto Alegre somam 1406, mais que em 2004 que somou
1098. Mesmo com os menores índices, a vigilância chama a atenção para a
importância do controle e monitorização da doença diarréica (THIESSEN e
ACOSTA, 2006).
A Organização Mundial de Saúde, reconhecendo o problema, em 1978
estabeleceu o Programa de Controle de doenças diarréicas. Esse programa prevê
uma série de estratégias a serem desenvolvidas pelos países, visando reduzir os
índices, tratar os casos implantando a terapia de reidratação oral, uso de soluções
intravenosas quando necessário, incentivo ao aleitamento materno, normas de
higiene pessoal e de alimentos, entre outras (EDITORIAL, 2007).
Mesmo assim, podemos constatar com os índices atuais, que a doença
diarréia ainda é muito comum, principalmente em crianças de baixa renda. Com isso,
pode-se concluir que pelo fato dessas crianças pertencerem a essa situação, a
doença diarréica é um fato que comumente ocorre no meio que elas vivem
contribuindo para suas visões sobre o tema, mesmo que equivocadas.
Durante a contação das histórias, muito eu pude conhecer sobre seus
saberes, pois bombardeavam informações a cada tema que conheciam,
expressando assim espontaneamente seus sentimentos e sentiam-se parte do que
acontecia, muitas vezes identificando-se com a história. Na parte da história José
quebrou o pé, que narra a ida do personagem ao pronto socorro e a realização do
exame “raio X”, vêm ao encontro as seguintes expressões:
Raio X. (Tio patinhas).
Raio X.
Tira foto!
Oh Jeanine, eu tenho um amigo que teve que tomar um remedinho...
E da para levar para casa! (Franjinha)
Raio X.
Ôh “Sora”, eu já fiz!
È um cano!
(Cascão)
Ao analisar essas falas, fica claro que a história narrada causou impacto nas
duas crianças – Franjinha e Cascão - pois permitiu que a dificuldade encontrada
pelo personagem na história fosse interiorizada e entendida como experiência vivida
e assim expressada como saber. Dessa forma, o saber vem da identificação da
49
criança com a narrativa, da experiência prévia delas, que se identificaram e
contaram questões pessoais.
Na parte da história que ensina os cuidados de enfermagem para o
protagonista, as seguintes falas são expressas:
José: não pode firmar o pé no chão(Pesquisadora)
Tem que caminhar assim (pulando num pé só) (Cristal)
Isso! (Pesquisadora)
Andar de muletas! (Cascão)
Não pode molhar! Então para ele tomar banho, (Pesquisadora)
Tem que botar um saco! (Franjinha)
Colocar uma sacola no pé! Exatamente! (Pesquisadora)
E se sentar! (Cristal)
Na história da “Lara e a flor da janela”, ocorreu quase da mesma forma, o
que pode ser observado nas seguintes falas:
(..) lavou, colocou gaze, colocou esparadrapo, (Pesquisadora)
Colocou faixa (Pequeno Polegar)
E disse que a Lara tinha que cuidar daquele braço (Pesquisadora)
Ela colocou uma coisa assim que deixa o braço assim e... (sugerindo tipóia) (Franjinha)
Minha tia também colocou uma coisa assim... (Cristal)
Lendo atentamente as falas referentes às duas histórias, é possível
considerar que ambas permitiram a expressão das crianças, mostrando o que elas
conhecem sobre o tema, além de perceberem questões que virão seguidamente aos
cuidados, utilizando suas próprias conclusões. Além disso, percebe-se ainda que
esse conhecimento provém do meio no qual vivem, de observação de realidades na
família.
Uma criança, ou grupo tendo a oportunidade de expressar o seu
conhecimento espontâneo, vai articular com os colegas ou adultos formas próprias
de soluções para problemas (PIAGET e INHELDER, 1999).
Outra questão pertinente a esse tema, diz respeito a abordagem da profissão
de enfermagem. Enquanto eu contava a parte que a personagem principal vai à
Unidade Básica de Saúde para realizar uma sutura no braço, surgiu a seguinte fala:
A enfermeira... A enfermeira veio atender!
(Franjinha)
50
Assim, é possível entender que a criança sabe que essa profissional faz parte
da equipe de saúde, que trabalha na atenção básica e que recebe as pessoas
primeiramente, determinando os cuidados iniciais ao ser humano. Além disso, pode-
se pensar que esta pode ser a semente de um trabalho de enfermagem mais
valorizado, já que a profissão é recente e necessita assim como o Sistema Único de
Saúde de um trabalho educativo sobre suas funções e campos de atuação.
Já na história “Quem nunca teve diarréia?” na hora da recepção na unidade
básica de saúde a fala espontânea é:
A Jeanine!
(Narizinho)
Aqui, acredito que essa criança me reconhece enquanto profissional de saúde
e como enfermeira. Além disso, pode-se pensar que enquanto contadora de
histórias na escola, ou seja, trabalhando educação em saúde com as crianças, a
profissão de enfermagem pode abranger mais esse campo de atuação, ou seja, a
literatura infantil e a escola.
Na parte que questiona acerca da anestesia, o conhecimento expresso foi o
seguinte:
È para não doer!
Para não sentir... (Franjinha)
É para não doer! (Tio Patinhas)
Sim! (Cristal)
Para não doer!
(Cascão)
Fica claro nessas falas que essas crianças, dentro da abstração das suas
idades conhecem a principal função de um anestésico. Isto pode ser pelo fato da dor
causar medo e ser uma sensação desagradável e por isso já ter despertado a
curiosidade delas anteriormente.
Tema II: Analisando as contribuições das histórias infantis para a educação em
saúde.
Nesse tema, serão discutidas as contribuições para a educação em saúde
através das falas que obtive depois da contação das histórias e os desenhos
realizados pelas crianças, especificamente com as figuras que apareceram com
51
maior freqüência. Assim, inicio pelos desenhos a fim de colorir um pouco esta
história com a linda arte criada pelos protagonistas.
Tendo como eixo norteador que a educação em saúde é um conjunto de
práticas destinadas à prevenção de doenças e promoção da saúde a fim de que o
conhecimento científico atinja o público, a vida cotidiana das pessoas, utilizando
tecnologias auditivas e visuais que mobilizem atenção e motivem sua utilização
(LEVY et al., 2007).
Remetendo um pouco sobre o desenvolvimento cognitivo de Piaget, é preciso
lembrar que as crianças que fazem parte desta história estão na faixa etária de 8 a
10 anos, o que para esse autor fazem parte do estágio “operatório-concreto”. Nessa
fase a criança é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair fatos da
realidade, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração
(PIAGET, 2007).
Assim como os gestos, a fala, e a escrita, o desenho também pode ser
considerada uma forma de comunicação. Nos tempos remotos da civilização, os
desenhos eram feitos em cavernas, com auxílio de gravetos ou ossos humanos e
até mesmo sangue para preencher os espaços. Retratavam a vida cotidiana da
época, os animais existentes, as técnicas de caça e até hoje são estudados para
contar a história da humanidade. Portanto, não pretendo aqui analisar a fundo o
desenho infantil e o que ele realmente significa em essência, visto que, isso
desprenderia muito mais conteúdo literário do que disponho. Pretendo aqui,
exemplificar com imagens a reconstrução das histórias que contei com ajuda das
falas das crianças sobre o que desenharam e com isso discutir sobre a forma de
representação expressa por elas.
Segundo a literatura existente na área, muitas vezes, se a criança não diz o
significado de sua imagem criada, não entendemos necessariamente sua
mensagem, pois a imagem propriamente dita pode significar algo para a criança o
qual desconhecemos. Daí a importância de conhecer o que a criança pensa sobre o
desenho (BRIÉRE, 1993 apud PILLAR, 1996).
Para o construtivismo, a aquisição de conhecimentos parte da ação, da
interação do sujeito com o objeto a conhecer estruturando essas experiências em
sistemas. Sendo o desenho uma forma de representação, vincula-se a criação de
símbolos gráficos a fim de expressar visualmente idéias, sentimentos, fantasias,
52
mantendo muitas vezes um vínculo analógico com o objeto representado (PILLAR,
1996).
Assim, convido o leitor a olhar com carinho ao painel que reconta a história
Lara e a flor da Janela.
53
Figura 1 - Painel que reconta a História Lara e a flor da Janela
54
Da esquerda para a direita, a explicação do painel pelas crianças, é a
seguinte:
Aqui é a casa dela, não desenharam a porta não sei por que, aqui é a janela ela tava vendo e caiu,
aqui é as pessoas que tão tudo olhando, aqui é a mulher, que pego ela, que pegou ela pra lava, e eu
não sei onde que tá o tanque.
E aqui é o posto de saúde, aqui é o cemitério. (Pequeno Polegar)
Na fala a seguir, a explicação inicia pelo meio e depois se remete à esquerda.
Aqui ta o tanque, aqui ta a casa, aqui tem alguém vindo aqui pra salva a guria, e aqui ta guria caindo
e aqui ta a mãe dela olhando, aqui o céu ta lindo, aqui ta nublado.
A escola, o posto de saúde, aqui... (Tio Patinhas)
E para que ela foi ao posto de saúde?(Pesquisadora)
Pra cura! Remédio! Cura o braço! (Pequeno Polegar)
Depois de observar atentamente o painel e as falas das crianças explicando o
que desenharam e recontando a história percebe-se que: os meninos conseguiram
desenhar a história recontando-a na seqüência lógica dos fatos. Aparecem no painel
a escola e a unidade básica de saúde e ainda que são incluídas cenas inexistentes
na história, ou seja, um cemitério, o céu lindo e depois nublado.
Desse modo, aparecem duas formas de compreensão estudadas por Piaget:
a global e verbal. A primeira retrata como a criança compreendeu toda a narrativa,
ou seja, a compreensão implícita que não necessariamente é expressa e a
compreensão explícita, que a criança reproduz espontaneamente o que
compreendeu. A segunda expressa as ligações causais ou lógicas. Essa última
refere-se sobre certos pontos da narrativa (PIAGET, 1999).
Em relação ao desenho, pode-se dizer que uma de suas funções é evocar
forma, a estrutura e a essência dos objetos, dando forma a lembranças, sonhos ou
emoções. Além disso, enquanto imagem visual, não se caracteriza por ser uma
cópia dos objetos, mas sim uma interpretação, uma recriação dos objetos através da
linguagem gráfica (PILLAR, 1996).
Pensando dessa forma os meninos recriaram quase toda a narrativa no
painel, enfatizando os pontos os quais mais lembraram. Entre eles estão dois pontos
que considero mais importante tendo em vista a educação em saúde. O primeiro é a
presença da Unidade básica de saúde, que aparece como um desenho grande,
ocupando boa parte do painel, além de ser relatada nas falas. Isto pode ter
acontecido pelo fato de ser da realidade deles esse tipo de serviço, visto que, muitos
55
conheciam. A importância deve-se ao fato de os meninos entenderem que uma
sutura, pode ser realizada na atenção básica e não exige maior complexidade. O
outro, é a queda da protagonista, que também ocupa grande parte no desenho e
também é relatada nas duas falas. Esse fato é considerado importante, porque
penso que os meninos conseguiram compreender que a janela pode ser um local
perigoso e assim se caracteriza a prevenção do acidente na infância.
Assim pode-se dizer que nesse caso ocorreu uma assimilação, visto que,
houve incorporação de elementos do meio externo e organização visando a
ampliação de seus esquemas (PIAGET, 2007).
O painel retrata ainda cenas inexistentes nas histórias. O céu lindo descrito
em linguagem gráfica assim como na fala, é uma característica comum nos
desenhos infantis. Isso me remete a lembrar da formidável capacidade da criança
em ver as questões difíceis de uma forma mais colorida, demonstrando assim uma
grande capacidade de superação. Já o céu nublado, não parece ser tão comum.
Muito menos um cemitério. Ao conversar com os meninos sobre o aparecimento do
cemitério, eles não souberam explicar. Pode ser que algum fato de morte tenha
ocorrido em suas vidas e que eles tenham retratado a fim de expressar algo
inconsciente. Mas como foi constatado anteriormente, o desenho pode ter uma
linguagem secreta, significando algo para a criança que desconhecemos.
Já com o painel da história José quebrou o pé, outras questões aparecem.
56
Figura 2 – Painel que reconta a História José quebrou o pé.
57
Essa fala explica o painel da esquerda para a direita e a Unidade Básica de
Saúde está ao fundo.
Isso é a porta, essa é a goleira, esse aqui é o João, essa é a mãe dele. (Franjinha)
O José! (Margarida)
O José! (Minye)
O posto. (Franjinha)
O banco! Essa aqui é árvore. “Sora”, eu também fiz uns coraçõezinhos em cima da mãe dele!
(Franjinha)
Bem a direita está o protagonista desenhado novamente. Acima do banco
está a escola.
Aqui eu fiz o João, caindo no buraco. (Minye)
È o José!!
Ah! Eu fiz a escola, o banco e os pássaros. (Minye)
Eu fiz o sol, essas coisinhas aqui e esse banquinho. (Margarida)
Ao observar atentamente esse painel acompanhado das falas que se
seguem, salta-me aos olhos o protagonista da história desenhado duas vezes e
confundido nominalmente com um outro personagem o “João”, irmão do José.
Também aparecem no painel a mãe do protagonista com direito a coracõezinhos, a
escola, a Unidade Básica de Saúde o buraco da queda do personagem e esse, com
o pé engessado.
A confusão dos nomes dos personagens pode ter ocorrido pelo fato do
trocadilho que a história traz “João, seu irmão”. Esse trocadilho foi muito aceito
pelos pequenos, que na hora da contação da história riram e verbalizaram “que
legal”. Mesmo com essa confusão, as crianças sabem que falam do José ao invés
do João, pois nas falas que sucedem uma criança lembra a outra desse fato,
corrigindo-a. O protagonista da história aparece duas vezes porque foi desenhado
pelas meninas e pelo menino do grupo. O menino desenhou-o jogando bola,
provavelmente por ser uma atividade a qual gosta ou porque foi o que interiorizou
da história. Além disso, desenhou a mãe perto com corações acima da cabeça,
remetendo-me a pensar que expressou amor entre mãe e filho. Além disso, é ela
quem socorre o protagonista levando-o ao pronto socorro, assim como é a mãe que
cuida, que dá amor, que transmite muitas vezes a segurança a qual precisamos. É a
mãe a quem recorremos em muitas situações em nossas vidas, principalmente
quando crianças.
Já as meninas desenharam o mesmo personagem caindo no buraco e com o
pé imobilizado. Pode-se pensar com isso, que o que foi introgetado do texto foi que
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.
BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.
Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.
Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.CoverLight
 
Как настроить код ретаргетинга
Как настроить код ретаргетинга Как настроить код ретаргетинга
Как настроить код ретаргетинга Hiconversion
 
семинар
семинарсеминар
семинарDasha603
 
Assure Method Assignment
Assure Method AssignmentAssure Method Assignment
Assure Method Assignmentnoffsinger3
 
Volkswagen schandaal
Volkswagen schandaalVolkswagen schandaal
Volkswagen schandaalSander Feyen
 
Rafflecopter Case study
Rafflecopter Case studyRafflecopter Case study
Rafflecopter Case studyKaylee Powers
 
Подготовка сообщества для вконтакте
Подготовка сообщества для вконтактеПодготовка сообщества для вконтакте
Подготовка сообщества для вконтактеHiconversion
 
Actividad diplomado fotos1
Actividad diplomado fotos1Actividad diplomado fotos1
Actividad diplomado fotos1Myriam Angeles
 
CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...
CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...
CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...Smile I.T is open
 
Ementa Ensino Médio
Ementa Ensino MédioEmenta Ensino Médio
Ementa Ensino MédioCamilaClivati
 
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...Rossita Figueira
 

Destaque (20)

ASSURE - Monday
ASSURE - MondayASSURE - Monday
ASSURE - Monday
 
Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.
Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.
Cover Light - soluções para eventos e exposições do setor automotivos.
 
Как настроить код ретаргетинга
Как настроить код ретаргетинга Как настроить код ретаргетинга
Как настроить код ретаргетинга
 
семинар
семинарсеминар
семинар
 
Assure Method Assignment
Assure Method AssignmentAssure Method Assignment
Assure Method Assignment
 
Volkswagen schandaal
Volkswagen schandaalVolkswagen schandaal
Volkswagen schandaal
 
Rafflecopter Case study
Rafflecopter Case studyRafflecopter Case study
Rafflecopter Case study
 
Подготовка сообщества для вконтакте
Подготовка сообщества для вконтактеПодготовка сообщества для вконтакте
Подготовка сообщества для вконтакте
 
Actividad diplomado fotos1
Actividad diplomado fotos1Actividad diplomado fotos1
Actividad diplomado fotos1
 
ASSURE - Friday
ASSURE - FridayASSURE - Friday
ASSURE - Friday
 
Archivos secuenciales indexados drasly
Archivos secuenciales indexados   draslyArchivos secuenciales indexados   drasly
Archivos secuenciales indexados drasly
 
Assure lesson 2
Assure lesson 2Assure lesson 2
Assure lesson 2
 
Ensayo financiacion por deudas
Ensayo financiacion por deudasEnsayo financiacion por deudas
Ensayo financiacion por deudas
 
Yukl chapter 03
Yukl chapter 03Yukl chapter 03
Yukl chapter 03
 
Monografia Rita Pedagogia 2012
Monografia Rita Pedagogia 2012Monografia Rita Pedagogia 2012
Monografia Rita Pedagogia 2012
 
Ppt lógica ii. cepre uni 2017-i
Ppt lógica ii. cepre uni 2017-iPpt lógica ii. cepre uni 2017-i
Ppt lógica ii. cepre uni 2017-i
 
CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...
CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...
CMSday 2103 - Les CMS open source qui ont fait le choix des applications mobi...
 
Ementa Ensino Médio
Ementa Ensino MédioEmenta Ensino Médio
Ementa Ensino Médio
 
Monografia Cássia Pedagogia 2012
Monografia Cássia Pedagogia 2012Monografia Cássia Pedagogia 2012
Monografia Cássia Pedagogia 2012
 
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENS...
 

Semelhante a BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.

Dissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdf
Dissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdfDissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdf
Dissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdfLeonardoSouzaUnespar
 
Saletinho 2014 - Agosto
Saletinho 2014 - AgostoSaletinho 2014 - Agosto
Saletinho 2014 - AgostoBeatriz Sayuri
 
Portfólio fabiana 0307 am - 1º semestre
Portfólio fabiana   0307 am - 1º semestrePortfólio fabiana   0307 am - 1º semestre
Portfólio fabiana 0307 am - 1º semestreColégio Degraus
 
Portfolio Virtual G2-Manhã
Portfolio Virtual G2-ManhãPortfolio Virtual G2-Manhã
Portfolio Virtual G2-ManhãEscolaPedrita
 
Portifólio virtual g4 tarde
Portifólio virtual g4 tardePortifólio virtual g4 tarde
Portifólio virtual g4 tardeEscolaPedrita
 
Portifólio virtual g4 manhã
Portifólio virtual g4 manhãPortifólio virtual g4 manhã
Portifólio virtual g4 manhãEscolaPedrita
 
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo CruzPara uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruzinstitutobrincante
 
A historia infantil como um instrumento para desenvol crianca
A historia infantil como um instrumento para desenvol criancaA historia infantil como um instrumento para desenvol crianca
A historia infantil como um instrumento para desenvol criancaNádia Cachado
 

Semelhante a BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças. (20)

Dissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdf
Dissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdfDissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdf
Dissertação sobre gestão de políticas públicas para infancia e adolescencia.pdf
 
000749267
000749267000749267
000749267
 
Monografia lenira pedagogia 2011
Monografia lenira pedagogia 2011Monografia lenira pedagogia 2011
Monografia lenira pedagogia 2011
 
Manual de atividades lúdicas
Manual de atividades lúdicasManual de atividades lúdicas
Manual de atividades lúdicas
 
Saletinho 2014 - Agosto
Saletinho 2014 - AgostoSaletinho 2014 - Agosto
Saletinho 2014 - Agosto
 
Portfólio fabiana 0307 am - 1º semestre
Portfólio fabiana   0307 am - 1º semestrePortfólio fabiana   0307 am - 1º semestre
Portfólio fabiana 0307 am - 1º semestre
 
Portfolio Virtual G2-Manhã
Portfolio Virtual G2-ManhãPortfolio Virtual G2-Manhã
Portfolio Virtual G2-Manhã
 
G4 manha
G4 manhaG4 manha
G4 manha
 
Portfolio g4 manhã
Portfolio g4 manhãPortfolio g4 manhã
Portfolio g4 manhã
 
Monografia Adriana Pedagogia 2012
Monografia Adriana Pedagogia 2012Monografia Adriana Pedagogia 2012
Monografia Adriana Pedagogia 2012
 
Portifólio virtual g4 tarde
Portifólio virtual g4 tardePortifólio virtual g4 tarde
Portifólio virtual g4 tarde
 
Portifólio virtual g4 manhã
Portifólio virtual g4 manhãPortifólio virtual g4 manhã
Portifólio virtual g4 manhã
 
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo CruzPara uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
Para uma educação da sensibilidade | Por: Maria Cristina Meirelles Toledo Cruz
 
Portfolio g4 tarde
Portfolio g4 tardePortfolio g4 tarde
Portfolio g4 tarde
 
G4 tarde
G4 tardeG4 tarde
G4 tarde
 
Monografia Joseneide Pedagogia 2012
Monografia Joseneide Pedagogia 2012Monografia Joseneide Pedagogia 2012
Monografia Joseneide Pedagogia 2012
 
A historia infantil como um instrumento para desenvol crianca
A historia infantil como um instrumento para desenvol criancaA historia infantil como um instrumento para desenvol crianca
A historia infantil como um instrumento para desenvol crianca
 
Monografia Geórgia Pedagogia 2009
Monografia Geórgia Pedagogia 2009Monografia Geórgia Pedagogia 2009
Monografia Geórgia Pedagogia 2009
 
343080
343080343080
343080
 
000863847
000863847000863847
000863847
 

Último

Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelVernica931312
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfFidelManuel1
 
Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointwylliamthe
 
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxMarcosRicardoLeite
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesFrente da Saúde
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaFrente da Saúde
 

Último (6)

Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
 
Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power point
 
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
 

BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças.

  • 1. 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia Trabalho Acadêmico BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças. Jeanine Porto Brondani Pelotas, 2007.
  • 2. 1 Jeanine Porto Brondani BRINCANDO E EDUCANDO: A contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças. Trabalho acadêmico apresentado à Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial a obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Profª. Dra. Enfª. Vanda Maria da Rosa Jardim. Co-Orientadora: Profª. Dra. Enfª. Luciane Prado Kantorski. Pelotas, 2007.
  • 3. 2 BANCA EXAMINADORA Alessandra Rodrigues Moreira de Castro ________________________________ Emília Nalva Ferreira da Silva ________________________________ Vanda Maria Rosa Jardim ________________________________
  • 4. 3 Dedico esse trabalho a todas as crianças que comigo compartilharam um pouquinho do seu mundo!
  • 5. 4 Educar é... Educar é ensinar a brincar Educar é ensinar a crescer Estar perto e participar É divertido, eu sei, pode ser Educar é ensinar a pescar A cantar, a confiar e a jogar É indicar o caminho a seguir É dizer não, dizer sim, motivar Acompanhar, dar carinho e mostrar Que há limites pra tudo Menos pros sonhos Que a gente tem Educar é relembrar e contar As histórias que a gente aprendeu É dar exemplo, é conversar Sobre aquilo que aconteceu Educar é ensinar a pensar A entender, perguntar, a querer ver E também é mostrar como é bom Poder fazer algo pra se orgulhar É elogiar, ficar junto e mostrar Que educar é tudo Tudo!! Pra melhorar o mundo que a gente tem. Campanha RBS TV, “Educar é tudo”, 2005.
  • 6. 5 Agradecimentos “Mãezinha do céu, eu não sei rezar, mas só sei dizer que quero te amar... Azul é o teu manto, branco é teu véu, mãezinha eu quero te ver lá no céu! Mãezinha eu quero te ver lá no céu”! Muito Obrigada com toda minha fé e sinceridade por ter permitido que eu nascesse duas vezes e assim possa cumprir minha tarefa nessa vida! Muito Obrigada! Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão.... Menininha quando cresce dá um beijo no paizão! A meu pai por sempre ter acreditado no meu potencial e no primeiro dia que chegamos a Pelotas, ter dito que eu escreveria um livro olhando pela janela! Pai... Escrevi sete! Te amo! No domingo de maio nós traremos com amor... Um presente bonito, um beijinho e uma flor! A minha mãe, que sempre esteve presente e me mostrou o maravilhoso mundo da imaginação, sempre me incentivando a estudar e ler! Te amo! Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo... E com cinco ou seis retas é fácil fazer uma castelo (...) A minha maninha “Baixinha”, que desde criança brinca comigo de desenhar historinhas! E por isso está ilustrando a coleção de histórias que compõe parte desta! Obrigada! Te amo! Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ele, quem gosta dele sou eu! A meu irmãozinho “Guri”, que muito antes de eu entrar na faculdade já queria ser enfermeiro! Obrigada pelos muitos momentos aqui em Pelotas e pela grande força sempre junto comigo! Te amo! Bom dia, amiguinha como vai? A nossa amizade nunca sai...Faremos o possível para sermos boas amigas, bom dia amiguinha como vai! A minha grande amiga Gimene, que esteve comigo durante toda a faculdade, desde aquele primeiro dia lá no Campus...Tantas discussões, plantões, tantas festas e tanta imaginação! Muitas histórias pra contar! Muito Obrigada!
  • 7. 6 A minha amiguinha “Florzinha” ou “Cissa”, sempre tão meiga, tão engraçada e tão especial! Muitos momentos foram compartilhados, muitas dificuldades superadas e enfim chegamos ao final! Muito Obrigada! A minha orientadora Vanda, agradeço pelo carinho, paciência pela coragem de ter assumido também a orientação da coleção das historinhas, mas principalmente por ter me mostrado que enfermagem pode ser ter a “nossa cara”! Muito Obrigada por me ensinar a ser enfermeira! A minha Co-orientadora Luciane, pelo carinho, coragem de assumir a orientação da coleção de historinhas, um projeto inédito! Pela força, pelas oportunidades e por termos trabalhado em muitos momentos diferentes durante a graduação, além de aceitar o grande convite: ser paraninfa da turma! Obrigada por também me ensinar e ser enfermeira! A todas as pessoas que fizeram parte desta trajetória, aos professores da Faculdade de Enfermagem, aos colegas da ATEO 2007/1, aos profissionais do Hospital Escola que fizeram a revisão técnica das histórias. Muito Obrigada! As todas as crianças que cuidei e com isso possibilitaram a realização desse sonho! Muito Obrigada!
  • 8. 7 Não sabia que era impossível... Foi lá e fez! (Autor desconhecido)
  • 9. 8 Resumo BRONDANI, Jeanine Porto. Brincando e educando: a contribuição das histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças. 2007. Trabalho Acadêmico. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia. Universidade Federal de Pelotas. A presente história tem como tema central a educação em saúde dirigida ao público infantil. Para que ela ocorresse foram utilizadas histórias infantis “diferentes”, criadas pela autora juntamente com outra pesquisadora da área, as quais abordam questões específicas dos principais agravos na saúde das crianças, tais como: prevenção de acidentes, doença respiratória e doença diarréica. O objetivo dessa história construiu-se a fim de conhecer a contribuição das histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças. Para isso, investiu-se num caminhar qualitativo descritivo, com observação participante. Os personagens que compõe essa história são crianças que estão cursando o primeiro ciclo do ensino fundamental de uma escola pública num município de grande porte. Assim, as informações em saúde chegaram até os pequenos através da contação de histórias. A partir dos dados coletados através do uso de gravador, desenhos infantis e diário de campo originaram-se os temas para discutir a análise: Procurando saber o que as crianças conhecem o qual visa compreender a visão de mundo dos pequenos sobre os principais agravos na saúde da criança com questionamentos antes da contação das histórias, refletir sobre os conhecimentos expressos espontaneamente por elas durante a contação, e analisando as contribuições das histórias infantis para a educação em saúde, que discute os desenhos e o que pode ser considerado como aprendizado dos pequenos. Com isso conclui-se que as histórias infantis utilizadas mostraram-se instrumentos viáveis para a educação em saúde na população estudada, visto que, possibilitou ação – reflexão na criança, estimulando a reformulação de hábitos o que pode com muita probabilidade realmente ocorrer já que a criança aprende enquanto brinca e para ela ouvir histórias é uma grande brincadeira. Palavras – chave: educação em saúde, história infantil, enfermagem.
  • 10. 9 Lista de figuras Figura 1 Painel que reconta a História Lara e a flor da Janela ................................................................... 53 Figura 2 Painel que reconta a História José quebrou o pé .......................................................................... 56 Figura 3 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas - Crise asmática – Magali ..................................... 60 Figura 4 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas - Crise asmática – Margarida ................................ 61 Figura 5 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas - Fantasma - Cristal .............................................. 63 Figura 6 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas - Futebol – Pequeno Polegar ................................ 65 Figura 7 Desenho da História Augusto e seus Fantasmas - Futebol e fantasma – Pato Donald ..................... 66 Figura 8 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Repouso – Cascão ............................................ 70 Figura 9 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Repouso com dor e choro – Narizinho .............. 72 Figura 10 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Banheiro e escola – Pequeno Polegar .............. 74 Figura 11 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Banheiro e quarto – Mikey ................................. 76 Figura 12 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Unidade Básica de Saúde – Minye ................... 78 Figura 13 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Os personagens – Cebolinha ............................ 80 Figura 14 Desenho da História Quem nunca teve diarréia? – Os personagens, a escola e a Unidade Básica de Saúde – Cristal ................................................ 82 Figura 15 Apêndice C – Ilustração da historinha “Augusto e seus fantasmas”.................................................... 103
  • 11. 10 Sumário 1 Era uma vez... ................................................................................... 2 Mas porque contar histórias? ........................................................... 2.1 Especificamente.... ........................................................................... 3 As histórias que já contaram............................................................. 4 Viajando no tempo e falando um pouquinho sobre as histórias que contei ................................................................................................ 5 O caminho a trilhar ........................................................................... 5.1 Caracterizando essa história ........................................................... 5.2 Onde ocorreu ................................................................................... 5.3 Uni-dune-tê, salame mingúe o sorvete colorete e os escolhidos foram ...................................................................................................... 5.4 Apresentando os protagonistas ........................................................ 5.5 Princípios éticos ............................................................................... 5.6 Passa passará, quem detrás ficará a porteira está aberta para quem quiser passar! .............................................................................. 6 Senhoras e Senhores: a análise! ....................................................... 7 A moral desta história... ..................................................................... 8 Referências ....................................................................................... Apêndices .......................................................................................... Anexos .............................................................................................. 11 13 13 14 26 35 35 35 37 37 39 40 45 88 90 94 121
  • 12. 11 1 Era uma vez... Desde o início da graduação em Enfermagem fui apresentada ao universo infantil inserida em um projeto de extensão no Hospital Escola, na Unidade Pediátrica. A partir daí comecei aos poucos a conhecer esse universo, ora brincando com as crianças, ora cuidando delas e com isso pude perceber que as crianças têm um jeito especial de entender os fatos e gostam muito de histórias. Foi então, que através de um sonho veio à idéia de colocar a saúde e a doença em forma de histórias infantis, para que assim as crianças pudessem compreender melhor o que acontece com elas enquanto estão doentes ou como forma de prevenir agravos em sua saúde. Mas ainda permanecia uma dúvida: como fazer o encontro dos pequenos leitores com as histórias de uma forma pela qual as crianças aprendam com elas? Então, no sétimo semestre de Faculdade, tive a oportunidade de concluir o curso de Licenciatura Plena em Enfermagem, desenvolvendo um trabalho numa escola de ensino fundamental, com uma turma de primeira série. Foi então que veio a resposta! As histórias podem estar nas escolas, lá onde as crianças não só aprendem a ler e escrever, mas também aprendem sobre socialização, cidadania, saúde e doença! Portanto, tomei a decisão e apresento aqui meu trabalho monográfico desenvolvido numa escola, com crianças do primeiro ciclo do ensino fundamental. De acordo com as disciplinas da psicologia comportamental, o ser humano após o seu nascimento vive as chamadas “fases do desenvolvimento”. Durante a passagem de cada fase valores, conceitos e normas de socialização são “aprendidas”, as quais servirão de base para a vida futura. A infância é o primeiro processo pelo qual o indivíduo explora o mundo. É quando a criança vivencia situações novas com muita freqüência, além de ser caracterizada por intenso crescimento biopsicosocial.
  • 13. 12 É também nessa fase que o profissional de enfermagem se insere, desde a graduação, atuando na assistência à criança direta e indiretamente desde a vida intra-uterina objetivando a prevenção de agravos na saúde e o cuidado ao ser humano. A pesquisa científica, também inserida em currículo de graduação, atua como estratégia mais apurada para investigar a forma como esses cuidados são prestados, avaliá-los, ou criar subsídios para a formulação de novas formas de cuidar, permitindo autonomia do enfermeiro para atuar como pesquisador. Além disso, investigar e cuidar da criança na escola possibilita uma forma importante de integração da Educação e da Saúde. Sendo os índices do Sistema de Informação do Sistema Único de Saúde um meio importante para o monitoramento das condições de saúde da população, assim como dados que referem suporte para o desenvolvimento de projetos e pesquisas científicas visando a melhora da qualidade de saúde, os temas das histórias infantis, como acidentes por causas externas, doença do sistema respiratório e doença diarréica (Apêndices A, B, C e D) que foram trabalhadas nesse estudo, condizem com a relevância dos índices. No que se refere a morbidade hospitalar em crianças de 5 a 9 anos internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período de outubro de 2005 a setembro de 2006 em todo o Brasil, as taxas de agravos na saúde da criança, como doença diarréica abrange 31,6% das internações, doenças do sistema respiratório abrange 18,25% e acidentes por causas externas na infância 66,09% (BRASIL, 2007). No Estado do Rio Grande do Sul, os dados apontam para doença diarréica 45,8% das internações, doenças do sistema respiratório 53,82% com destaque para doença asmática com 18,27% e acidentes por causas externas 59,7% (BRASIL, 2007). Por ser esta a área na qual se pretende criar uma nova forma de cuidar, é através deste estudo que será analisada a contribuição de histórias infantis “diferentes”, as quais abordam aspectos fisiopatológicos desses agravos na saúde da criança, de uma forma franca e bem humorada, respeitando a cognição delas. Para realizar esse trabalho, formulei a seguinte questão de pesquisa: qual a contribuição das histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças?
  • 14. 13 2 Mas porque contar histórias? Para... Conhecer a contribuição de histórias infantis como forma de educação em saúde para crianças. 2.1 Especificamente... Para... Identificar o conhecimento prévio das crianças acerca dos temas: enfermagem, prevenção de acidentes na infância, doença diarréica e doença asmática. Refletir sobre os diferentes conhecimentos expressos espontaneamente pelas crianças sobre as histórias infantis e educação em saúde. Analisar as contribuições das histórias infantis para o aprendizado das crianças acerca dos temas: acidentes por causas externas, doença diarréica e doença do sistema respiratório.
  • 15. 14 3 As histórias que já contaram... Desde o início dos tempos, o homem conta histórias como forma de transmitir valores, culturas, significados. Com as crianças não é diferente. Os contos de fada são contados de geração em geração, normalmente pelo pai ou pela mãe, em ambiente familiar e propõem reflexão sobre partes intrínsecas da vida, tais como “lutar para vencer”, “ser honesto”, “falar a verdade”, etc. (SIMÕES, 2000). “Infância: período da vida humana desde o nascimento até cerca de doze anos; começo; origem” (KOOGAN, LAROUSSE, 1979 p. 464). “História: (...) desenvolvimento da vida da humanidade, narração do que acontece em um determinado tempo relacionado com a vida, contos, novelas, fábulas, (...)” (KOOGAN, LAROUSSE, 1979, p. 440). A escola também utiliza a literatura infantil há muito tempo na alfabetização e educação das crianças, principalmente pela relação direta das histórias com a escrita, com a linguagem, com a expressão e com a criação (SIMÕES, 2000). Assim, para que uma história realmente prenda a atenção de uma criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular a imaginação, ajudando-a em seu desenvolvimento intelectual, propiciando-lhe mais clareza em seu universo afetivo, auxiliando-a a reconhecer, mesmo de forma inconsciente alguns de seus problemas e oferecendo algumas perspectivas e soluções, mesmo provisórias (SIMÕES, 2000, p. 23). Em relação à história da educação em saúde no Brasil, no final do século XIX, a causa nosológica da doença e a bacteriologia permitiram que programas de saúde pública fossem efetivados, mas ignoravam o processo saúde-doença e as condições que as pessoas viviam. Em 1924 foi criado no Brasil o primeiro “Pelotão de saúde” no município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, numa escola estadual. Nos anos
  • 16. 15 seguintes a prática se expandiu até o distrito federal. Ainda em 1925 cria-se a Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde do Estado de São Paulo com objetivo de promover educação higienista aos estudantes de escolas primárias (LEVY et al., 2007). Na década de 1930 criou-se o Ministério da Educação e da Saúde o qual centralizou as atividades sanitárias e era responsável por propaganda em larga escala das ações em saúde a fim de formar na coletividade brasileira um compromisso com a saúde (LEVY et al., 2007). O interesse pela saúde do escolar acontecia em função do espaço que era ocupado, o qual precisava ser higienizado, visto que o a higienização era uma condição necessária ao aprendizado. A alta prevalência de doenças que afetavam a força de trabalho influenciavam a proposta de “Higiene Escolar” que preocupava-se somente com a causa nosológica e o corpo do indivíduo. Há ainda rumores que, por trás da assistência prestada por esse serviço, havia uma proposta mobilizadora e manipuladora de massas de acordo com os interesses do sistema produtivo (FERRIANI e GOMES, 1997). Em 1942 houve um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, que resultou na criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), o qual atribuía às ações dos profissionais de saúde a “tarefa” de educar, incentivando grupo de gestantes, de mães, de adolescentes e da comunidade em geral, além de desenvolver estudos na área (LEVY et al., 2007). Este serviço utilizou novas técnicas educacionais na área da saúde e recursos audiovisuais sofisticados desenvolvidos sob a ótica da tendência tecnicista de educação, introduzindo novas noções sobre as causas biológicas das doenças, os cuidados com as crianças e a nutrição adequada para prevenir doenças. Propôs inovações na educação sanitária de grupos, estimulando o desenvolvimento e a organização de comunidades, desencadeando idéias de participação e mobilização dos indivíduos nas ações de saúde (ROSA, 2005). Os cursos para formar profissionais tinham entre as finalidades a ampliação do ensino da higiene e de inspeção médica para conseguir o tratamento das crianças na escola, preparar os alunos da faculdade de medicina para atuarem nas escolas e habilitar as enfermeiras escolares cujo serviço é hoje reconhecidamente
  • 17. 16 indispensável, embora na época as enfermeiras não fossem assim caracterizadas (FERRIANI e GOMES, 1997). Nas escolas, a educação para a saúde ocorria de forma compensatória, pois os índices de fracasso escolar eram altíssimos. Sabendo que a fome dos estudantes era um fator importante na concentração, na aprendizagem e na saúde das crianças,nas décadas de 50 e 60 instituía-se aos poucos pelo Brasil, programas de complementação alimentar, a merenda escolar propriamente dita, como reforço nutricional para as crianças que não tinham alimentação em seus lares. Mas somente na década de 70 o governo brasileiro assume a totalidade dos custos com a alimentação do escolar (SÂO PAULO, 2007). Com relação às atividades físicas realizadas nas escolas, nem sempre havia um profissional capacitado para responsabilizar-se pelos exames prévios nas crianças, liberando-as ou não para a prática de exercícios. Além disso, muitas vezes os exames eram realizados coletivamente, e a anamnese restringia-se a busca de situações infecto-parasitárias ou de maior risco do ponto de vista cardio-respiratório (ROSA, 2005). O exame de olhos e de ouvidos, normalmente era feito pelo professor. Quando detectado alguma anomalia, a criança era encaminhada para o sistema de saúde, que muitas vezes não tinha condições de dar resolubilidade para o problema (ROSA, 2005). Isto é uma situação que infelizmente ainda ocorre nos dias atuais, simplesmente estando atento aos noticiários e estando inserida no contexto de saúde coletiva. Por volta do terceiro ano da escola básica, as crianças passam a receber conteúdos didáticos quanto à higiene social, quanto ao caráter de valorização moral aprendendo não só a se relacionar socialmente, como, também, a utilizar equipamentos sanitários “civilizadamente”. Quanto aos comportamentos demonstrados por portadores de alguma dependência química ou física, geralmente acabam por fornecer sustentação não só à formação de preconceitos, como também a uma prática de exclusão (ROSA, 2005). Distúrbios de aprendizagem ou problemas de ordem disciplinar têm sido tratados, historicamente, como uma deficiência pessoal dos estudantes, sendo a medicalização do indivíduo o remédio amargo do fracasso escolar. Esta tem sido a saída honrosa do sistema para não ter que questionar a estrutura da escola ou os métodos de ensino que estão sendo desenvolvidos,
  • 18. 17 contrariando, assim, alguns estudos já realizados na área, que demonstram que o uso de alternativas pedagógicas mais personalizadas por si só, dá respostas mais eficientes aos problemas encontrados (ROSA 2005, p. 4). Assim, dentre os vários temas, a sexualidade, durante muito tempo na escola foi tratada de forma periférica. A reprodução humana era trabalhada junto com a reprodução de outros mamíferos, em aspectos anatômicos e fisiológicos. Com o advento da liberação sexual, as imagens erotizadas expostas na mídia, não condiziam e atualmente condizem pouco com as informações trabalhadas pelas escolas. Mesmo com o aumento gradativo de adolescentes grávidas e/ou de adolescentes portadoras da Síndrome da imunodeficiência Adquirida (HIV), as atividades as quais informam sobre sexualidade, ainda permanecem em grande parte, como atividades extracurriculares (ROSA, 2005). A educação em saúde, na maioria das vezes, tem acontecido como atividades extracurriculares, como feiras de ciência ou semana da higiene, por exemplo, contando via de regra com os profissionais de saúde, personagens estranhos à própria escola. Adolescentes, assim como profissionais de saúde, quando questionados sobre o que lembram do que lhes foi ensinado sobre saúde ou sobre sexo na escola básica ou na formação profissional, muito freqüentemente apontam estas atividades extracurriculares como único exemplo (ROSA 2005, p. 4). A temática de saúde quando trabalhada, aparece normalmente em capítulos finais dos livros didáticos, responsabilizam o indivíduo sobre suas condições de higiene e não condizem, muitas vezes com a realidade da criança. Resumem-se em determinar, para os primeiros anos escolares, normas de higiene corporal e alimentar. Da mesma forma ocorre com as doenças infecto-contagiosas, que são abordados em seus aspectos nosológicos, sem que haja co-relação com as condições de moradia, saneamento e suporte de saúde para quem adoeceu (ALVES, 1987). Sabendo que os educadores muitas vezes com excesso de trabalho, baixos salários ou falta de condições de trabalho, não consegue trabalhar questões específicas de agravos na saúde infantil. Além disso, suas formações acadêmicas não os capacitam para trabalhar essas questões, dificultando a educação para a saúde na escola básica. Assim, a escola muitas vezes acaba por não abordar tais questões.
  • 19. 18 Os professores, mesmo os de ciências, quando indagados a apresentar explicações sobre a falta de ênfase no ensino de saúde, explicitam-nos sua inabilidade em tratar de conteúdos desta área, por quase total falta de preparo durante suas próprias formações pedagógicas (ROSA, 2005, p.4). Em 1986, na 8ª Conferência Nacional de Saúde, pela primeira vez se registrou a participação de representações de entidades da sociedade civil e teve entre suas deliberações, a ampliação do conceito de saúde; o direito à saúde não estar restrito apenas à viabilização de acesso aos serviços de assistência como também às condições de vida, e a responsabilização do Estado em reestruturar os serviços já existentes criando o Sistema Único de Saúde, cuja característica seria a de atender integral, igual e universalmente à saúde de toda população brasileira (BRASIL, 1986). Então, em 1990, foi criada a Lei 8.080 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, a ser aplicada em todo o território nacional, regulamentando o Sistema Único de Saúde no Brasil (BRASIL, 1990). A lei 8.080 refere no Capítulo I – dos Objetivos e Atribuições do Sistema Único de Saúde, no Artigo 5°: “à assistências às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas” (BRASIL, 1990). Ainda em 1990, foi criada a Lei n° 8.069 em 13 de Julho que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. No que se refere o Cap. I sobre os direitos a Vida e a Saúde, no art. 7°: A criança e o adolescente têm direito a vida e saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência (BRASIL, Lei n° 8.069 em 13 de Julho de 1990). E no art. 14°: O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente
  • 20. 19 afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos (BRASIL, Lei n° 8.069 em 13 de Julho de 1990). A atenção básica, com base na referida lei, integra um conjunto de ações de caráter individual ou coletivo, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação, tendo como fundamento os princípios do Sistema único de Saúde (SUS). A partir da Constituição de 1988, várias iniciativas institucionais, legais e comunitárias vêm sendo realizadas, destacando-se as Leis Orgânicas da Saúde, as Normas Operacionais e decretos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Com relação a Saúde Escolar, desde o início do século vinte existem ações direcionadas aos estudantes que primeiramente foram chamadas de “Assistência Médica ao Escolar (AME)”, depois de “Departamento de Saúde Escolar (DSE)” até transformar-se definitivamente em uma política de Saúde Escolar. Em 1988, o GIEDESE – Grupo Informal de Estudos e Discussões em Saúde Escolar elaborou uma definição desta política: “um conjunto de atividades desenvolvidas por uma equipe multiprofissional envolvendo o professor, com objetivo de promover, proteger, e recuperar a saúde da criança em idade escolar, dentro ou fora da escola, através de ações educativas e assistenciais, o mais precoce possível, levando em consideração o meio em que vivem, agregando os recursos disponíveis, interagindo com a família, com o ambiente escolar e atuando no processo de ensino da saúde da criança” (SOUZA, 1990). Dentre os objetivos da saúde escolar destaca-se a garantia de condições adequadas para promoção, proteção e recuperação da saúde, para que o processo de aprendizagem ocorra sem intercorrências, a avaliação contínua das condições do educando, manter a vigilância epidemiológica na escola, envolver os serviços de saúde da comunidade no atendimento do escolar e do pessoal que atua na escola, etc (SOUZA, 1990). O Programa de Saúde Escolar referido por Ferriani e Gomes (1997), com vistas ao Sistema Único de Saúde, ressalta: 1) As ações de saúde escolar devem integrar uma rede de atendimento integral, regionalizada e hierarquizada, tomando a Unidade Básica de Saúde a porta de entrada para a criança e o adolescente em idade escolar. O atendimento clínico e assistencial deve ser garantido
  • 21. 20 através de mecanismos de referência e contra-referência para os atendimentos que exijam maior complexidade, dando resolutividade aos casos. 2) A descentralização de suas atividades às instituições como escolas, creches ou pré-escolas deve fazer parte da abrangência de uma unidade de saúde de referência para que as decisões sejam planejadas e tomadas em conjunto. 3) O atendimento à saúde deve ser integral, priorizando as ações de prevenção e dentro dos programas das crianças e dos adolescentes. 4) As atividades preventivas devem ser desenvolvidas através de ações coletivas, podendo ser realizada na própria unidade de saúde ou em espaços comunitários. 5) A participação da população no planejamento e na execução das ações educativas se faz fundamental na valorização dos usuários que compõe o programa, configurando ampliação das ações e melhor aderência ao programa. Ao que refere à legislação da saúde escolar, cabe ressaltar a Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 040, homologada pelo Ministério da Saúde em 1993. Essa resolução refere-se ao parecer do Posicionamento do Ministério da Saúde conjugado com o Ministério da Educação sobre a “LEGISLAÇÃO QUE OBRIGA O EXAME CLÍNICO NO INÍCIO DE CADA ANO LETIVO”. A Resolução baseada em publicações da Revista Brasileira de Saúde escolar considera que os métodos que até então estavam sendo utilizados para avaliação dos escolares eram inadequados (BRASIL, 1990). “(...) que a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade de Pediatria de São Paulo e a Associação Brasileira de Saúde Escolar manifestaram-se pela inadequação desses exames clínicos, na forma em que se realizam para diagnóstico efetivo das crianças inspecionadas além da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE/MEC) e vários Secretários Estaduais e Municipais” (BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, Resolução CNS Nº 040 1993, p. 1). Para tal, o Conselho Nacional de Saúde, Resolução CNS Nº 040 1993, p. 2 resolve:
  • 22. 21 1. Que as crianças que, por informação da família ou do corpo docente, apresentarem problemas de saúde deverão ser encaminhadas ao SUS para avaliação quanto à sua prática de educação física e demais orientações, inclusive tratamento, quando se fizer necessário; 2. Que o SUS – Sistema Único de Saúde – deverá incorporar a demanda gerada, oferecendo atenção integral à saúde dos escolares encaminhados, bem como estabelecer mecanismos e instrumentos que ampliem a permeabilidade; 5. Que seja implementada, nas Escolas de 1º e 2º Graus, a criação de COMISSÕES DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, dando enfoque especial à prevenção de acidentes e que incluam representantes de professores, pais e alunos, com assessoria do SUS; 7. Que a educação em saúde seja incorporada nos conteúdos das diversas disciplinas no currículo escolar do 1º e 2º Graus de Ensino e no currículo de formação dos professores, englobando a prevenção de acidentes, profilaxias do uso de tabaco, álcool e outras drogas, educação sexual, relações humanas, saúde bucal, nutrição, deficiências, endemias regionais e outros temas de importância local; 8. Que sejam implementados o estudo, os debates e outras formas de incorporação de conhecimento sobre as ações básicas de saúde, tais como: saúde da gestante, aleitamento materno, imunizações, crescimento e desenvolvimento da criança, saneamento ambiental, valor nutritivo dos alimentos regionais, reidratação oral e outros. No que refere a abrangência e implementação definidas na Resolução: “Essa NORMA se aplica ao 1º e 2º Graus de Ensino de todas as escolas da rede pública e privada no País.Deverá ser implementada por intermédio dos Ministérios da Saúde e da Educação, das Secretarias e Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde e de Educação, das Associações de Pais e Professores, das Universidades Públicas e Privadas, das Escolas de Saúde Pública, das Escolas de Educação Física, Pedagogia, Psicologia, Medicina, Odontologia, Serviço Social e dos Meios de Comunicação em geral.” (BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, Resolução CNS Nº 040 1993, p. 2). Somente em 1996 que as atividades de educação em saúde voltaram a receber atenção por parte dos dirigentes do governo, criando o projeto “Saúde na Escola”, integrado ao programa “TV Escola” do MEC agregado semanalmente a programação de 50.000 escolas do ensino fundamental. Outro fator importante foi em 1998 a definição de uma Diretoria de Programas para a área com o objetivo de ampliar a abrangência da proposta, fazendo-a evoluir de um Projeto Saúde na Escola para um Programa de Educação em Saúde (LEVY et al., 2007). Das Normas Operacionais Básicas, destaca-se a NOB – SUS 01/96, que se refere à atenção básica, dando autonomia e responsabilidade aos municípios para
  • 23. 22 organizar e desenvolver o sistema municipal da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Com o advento do Programa de Saúde da Família (PSF), que é estruturado em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde, municípios e instituições de ensino superior, e procura atingir as camadas mais pobres da população. A equipe de Saúde da Família é composta por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Esse programa visa o vínculo com os moradores da localidade, bem como participação em ações comunitárias com o objetivo de atuar na prevenção de doenças. É chamada assistência básica, e também oportuniza a participação controle popular nas decisões. Nesse âmbito, o enfermeiro exerce papel preponderante, desde o planejamento das ações até a assistência. Dessa forma, esse profissional tem autonomia para trabalhar com a prevenção de agravos infantis desde a vida uterina da criança, quando coordena grupos de gestantes e realiza pré-natais, assim como, desenvolver trabalhos referentes a educação em saúde, tanto no âmbito da assistência quanto na prevenção. A atuação nas escolas, creches e orfanatos vêm corroborar a assistência à criança de maneira a prevenir futuros agravos infantis. Nesse contexto a família também é orientada e participa do seu processo educativo (ARAÚJO, 2005). Ao propor integração das políticas de saúde e educação, Vieira, et al (2004), refere que, a escola é o espaço ideal para que essa tarefa se concretize principalmente, nos primeiros anos do ensino fundamental, por ser essa a fase pela qual a criança aprende valores e conceitos os quais irá utilizar pelo resto da vida. Para tal, também é importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para trabalhar na escola, já que, além de ser um campo de atuação para o profissional enfermeiro, é um lugar para a transformação e repadronização de condutas saudáveis. Ainda refere que: A família e a escola desempenham um papel importante para a formação da criança, cabendo-lhes acompanhar, proteger, educar e favorecer o início da socialização. Além disso, a educação é considerada um dos mais importantes recursos na prevenção de acidentes, devendo estar incluída de forma permanente nas escolas para que o processo educativo possa se efetivar. A escola constitui um espaço ideal para se “plantar” ações preventivas, já que com filosofia educativa e cidadã se integra a outros setores na busca de transformação social, incentivando que crianças sejam sujeitos de sua saúde, deixando de serem sujeitos de doença (VIEIRA, et al 2004, p 2),
  • 24. 23 A corroborar com essa prática, a cidade de Santos, no estado de São Paulo, vem desenvolvendo um projeto chamado Escola Promotora de Saúde. No entender da atual Administração Municipal, trata-se de uma escola que tem a visão integral do ser humano, considerando as pessoas, em especial as crianças e adolescentes, dentro de seus ambientes familiar, comunitário, social e que fomenta o desenvolvimento humano saudável e as relações construtivas e harmônicas. Esta escola promove aptidões e atitudes para a saúde, conta com um espaço físico seguro e confortável, com água potável e instalações sanitárias adequadas e uma atmosfera psicológica significativa para a aprendizagem. Além disso, estimula a autonomia, a criatividade e a participação dos alunos e de toda a comunidade escolar. Com este projeto, busca-se superar o quadro das dificuldades que a cidade enfrenta do ponto de vista da saúde da infância (SANTOS, 2007). As ações previstas dentro deste projeto propõem a articulação das estratégias de fomento e apoio à aprendizagem e à saúde, uma vez que o quadro que envolve a saúde das crianças nas escolas merece muita atenção. As iniciativas neste sentido são: detecção de situações de risco à saúde, saúde bucal e mental, desenvolvimento da linguagem, proteção ou prevenção auditiva, inclusão de pessoas com deficiências. Estão incluídas também ações educativas desenvolvidas, juntamente com professores, por meio da inserção de temas da saúde nos arranjos curriculares das escolas visando orientações quanto à educação sexual e prevenção de DST/AIDS, prevenção do uso de drogas, álcool e tabaco, gravidez na adolescência, cuidados com a própria saúde, a relação entre violência e saúde e acolhimento e inclusão de pessoas com deficiência ou sofrimento mental. Merecem destaque ainda as ações que se destinam à capacitação de todos os profissionais que trabalham nos equipamentos de educação para atendimento de primeiros socorros. (SANTOS, 2007). O Governo do Rio Grande do Sul, em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação e de Saúde, desde 2005 desenvolve ações no Projeto Saúde escolar: sujeitos, escolas, educação e saúde públicas. Trata-se de um projeto piloto, para a rede escolar estadual, na cidade de Porto Alegre, onde são desenvolvidas ações pedagógicas de educação em saúde, voltadas a promoção e prevenção. O projeto visa abranger 252 comunidades escolares, sendo assistidas por “Equipes de Saúde Escolar”, composta de equipe multidiscilinar (PORTO ALEGRE, 2007).
  • 25. 24 Fortalecendo a interação da escola com a criança, a brincadeira é um momento vivido e lembrado, e com isso, ao associar ações preventivas, estímulo a leitura, simulações adotando o lúdico como referencial, criam-se situações onde as crianças tornam-se sujeitos da ação, favorecendo o aprendizado e em conseqüência minimizando a ocorrência de acidentes. Durante a brincadeira, a criança se desenvolve, explora o meio que a cerca, socializa-se, expressa pensamentos e cria formas próprias de expressão. A criança tem prazer em mover-se, em realizar atividades as quais possa se conhecer, como auto-cuidado, por exemplo. Além disso, oficinas de leitura estimulam a imaginação, os pensamentos, assim como a aprendizagem de diversos temas, integrando saúde, meio-ambiente, linguagem, escrita relações com o meio em que vive, contribuindo para o desenvolvimento da saúde mental (KISHIMOTTO, 1997). A proposta do brincar, parte da concepção holística da criança, inserida no contexto educativo, que integra algumas áreas, tais como: saúde, relações humanas, ambiente, linguagem e expressão (KISHIMOTTO 1997, p. 67). Os grupos de trabalho realizados na escola aparecem como forma de auxiliar na socialização. É importante que a criança aprenda a esperar a sua vez de brincar ou falar, a escutar a opinião dos colegas, bem como cuidar dos materiais utilizados, que normalmente em escolas públicas são usados por outras crianças de outros turnos. Ainda refere que a brincadeira requer “observadores”, pois há prazer em brincar na presença de outras crianças e na presença de adultos. A brincadeira perde a graça quando é realizada isoladamente. O grupo é seguramente a forma mais indicada para uma investigação social. São nos grupos que se elaboram regras, condutas, normalmente de acordo com a sociedade global. A escola agrega vários grupos, constituindo um espaço perfeitamente viável para a realização de investigações (KISHIMOTTO, 1997). No campo da expressão, a música, a criação de objetos feitos com as próprias mãos e desenhos ajudam-nas a desenvolver a coordenação motora e obter contatos prazerosos com o ambiente que as cerca, deixando-as livres para criar e compreender aquilo que seus colegas criaram (KISHIMOTTO,1997, p. 68). Com base no referencial citado acima, esse projeto de pesquisa vai ao encontro das estratégias propostas, pois pretende promover aos estudantes em
  • 26. 25 idade escolar ensino de saúde na escola, integrando o meio em que vivem, suas famílias e os educadores de um forma inovadora e atual de trabalhar questões pertinentes à saúde, já que as informações serão transmitidas através da contação de histórias.
  • 27. 26 4 Viajando no tempo e falando um pouquinho sobre as histórias que contei... Essa parte do estudo pretende mostrar ao leitor parte das historinhas as quais contei, visto que, para poder compreender a metodologia utilizada para contá-las e as falas das crianças é preciso saber o enredo de cada uma das histórias que foram contadas, e lembrar aspectos importantes na evolução dos contos infantis. Então caro leitor, está pronto para viajar no tempo? Como já referido no capítulo “As histórias que já contaram”, as histórias infantis são contadas desde o início dos tempos e através dela se transmitem valores e aspectos culturais de geração em geração. Além disso, parece ser senso comum que esse tipo de interlocução é usado como forma de distração e que a criança mostra um interesse especial por histórias, independente de sua classe social (SIMÕES, 2000). Mas falando de histórias, não só as crianças demonstram interesse por elas, mas os adultos também. Se lembrarmos da época em que Jesus Cristo viveu na terra, muitas histórias foram contadas às pessoas que são lembradas e repetidas até hoje. Pode-se perceber então Jesus foi um grande contador de histórias e obteve sucesso em seu feito por transmitir em forma de parábolas toda a filosofia cristã, mas principalmente, seu amor pela humanidade. Seu feito então, deu origem a diversos evangelhos e um grande livro, talvez o mais conhecido dos povos: a Bíblia. Falando em livros, a obra que deu início ao gênero infantil data de 1697, quando Charles Perrault levou aos leitores Histories ou contes du temps passé, avec des moralités ou Contes da ma mère d’Oye (Histórias do Tempo passado com suas moralidades: contos de minha mãe gansa). Compõe a obra: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. Essa obra é considerada pioneira por romper com o preconceito existente até então em publicar história para
  • 28. 27 crianças. Mais tarde, em 1812, os irmãos Grimm editaram sua coleção de contos de fadas sob o título Kinder und Hausmaerchem, uma versão alemã muito similar aos contos de Perrault, porém mais próxima da tradição popular (MARCHI, 2000). Após essas publicações, mais histórias infantis começaram a ser criadas e editadas, mas a maioria com algo em comum: ocorriam em lugares fantásticos, exóticos e sob o comando de jovens corajosos. Falo que era a maioria, porque também aparecia o cotidiano às crianças, sem recorrer ao fantástico, e esse, também é um modelo utilizado atualmente. No Brasil, somente no século XX tem-se a criação de obras destinadas ao público infantil com características próprias, ou seja, histórias as quais ocorriam e enfatizavam aspectos nacionais, embora traduções já acontecessem desde 1808, após a implantação da Imprensa Régia por D. João VI, quando a atividade editorial foi iniciada no país (MARCHI, 2000). Mas onde ficavam esses livros? Como eles chegavam aos leitores? Para responder essas questões duas grandes instituições vêm à mente: a escola e a igreja. Ambas, tiveram um papel fundamental na formação dos leitores, embora uma estivesse inteiramente ligada à outra. Da mesma forma é importante relembrar que o ensino era dirigido aos meninos e a grande maioria das histórias tinha um jovem do sexo masculino no papel de protagonista, cabendo às meninas ou mulheres um papel coadjuvante, enfatizando os afazeres domésticos e o papel de mãe e esposa. Além disso, quando se fala em ensino, é importante ressaltar que a instituição que mais de dedicou à formação de leitores foi à escola, e nessa área a Igreja teve um papel de destaque (MARCHI, 2000). Pensando um pouco sobre o referido acima, é possível considerar que a situação social da população influi diretamente sobre a literatura produzida. Assim, sabemos que as crises, o crescimento industrial e a Igreja Católica direcionaram muito do que se tem em produção literária infantil, assim como a escola. Ainda remetendo às características das obras nacionais, Monteiro Lobato em sua obra foi o primeiro escritor que transformou o livro em um diálogo entre adultos e crianças. Com isso permitiu a expansão e democratização da cultura entre paisagens e motivos populares, valorizando o regionalismo e o folclore, despertando
  • 29. 28 nas crianças a valorização crítica da realidade, a exaltação da vivacidade e a capacidade de criação infantil (FILIPOUSKI, 1982). Em relação às obras infantis, feitas no Rio Grande do Sul, data-se do século XIX as primeiras pesquisadas, exatamente em 1882 quando José Fialho Dutra lançou um livro de poesias denominado “Flores do campo”, dirigido especificamente aos pequenos leitores, e essa obra segue até 1935 quando Érico Veríssimo ingressou na área dos contos infantis (MARCHI, 2000). Érico Veríssimo, quase na mesma época em que Monteiro Lobato lançou sua obra, preocupou-se em preencher a lacuna no acervo destinado às crianças gaúchas, lançando Gente e Bichos, que integra uma série de contos com características específicas riograndenses (FILIPOUSKI, 1982). Já, as histórias em quadrinhos começaram a aparecer por volta do século XVIII. Na França, em 1820 vendiam-se as obras as quais já possuíam ilustração de capa, com heróis e sua espada, em versões populares assim como versões luxuosas. Tinham como objetivo dar ao povo a chance de transferir-se à vida de seus ídolos. Nos Estados Unidos da América, o surgimento da litografia possibilitou as publicações de almanaques de anedotas e um grande mercado a ser explorado (ARASHIRO, 2007). Agora, pensando um pouquinho para que serve a história infantil, muitas possibilidades se abrem, e não posso deixar de citar a psicologia e a pedagogia. Remeto-me a citar porque discutir acerca dessas ciências, as quais muito considero, não é o objetivo deste trabalho. Com o surgimento da ciência psicanalítica, no século XIX, houve uma grande valorização da infância, que até então era deixada de lado. Mais tarde, com o auxílio das ciências da psicologia e pedagogia é que se tornou claro os grandes objetivos dos textos dirigidos ao público infantil: despertar curiosidade para os aspectos do real e estimular o prazer pela leitura através de uma aventura cativante (FILIPOUSKI, 1982). Mas falando em ciência e em atividades formadoras e geradora de conceitos, não posso deixar de falar da Enfermagem, essa sim, falar, pois este trabalho pretende discutir questões dessa profissão, destacar o profissional enfermeiro e questionar o seguinte: se a enfermagem é ciência e atua no cuidado das crianças antes mesmo delas nascerem, porque não aventurar-se a produzir textos que também cuidem da sua formação quando estão um pouquinho maiores? Se
  • 30. 29 considerarmos que a orientação é um grande instrumento de trabalho enfermagem e deve ser dirigida de forma a ser entendida pelos clientes, ora, quando esta é feita ao público infantil deve ter a mesma característica! Sendo o imaginário infantil um grande campo a ser explorado, e uma grande fonte de produção de conceitos, os quais permanecerão durante toda a vida, os textos para as crianças podem vir como grande instrumento de trabalho para a enfermagem, visto que: (...) a obra infantil é essencialmente formadora de suas primeiras impressões sobre o universo, de conceitos intelectuais e comportamentais, além disso, estimula a sua fantasia e o pensamento crítico sobre o mundo (FILIPOUSKI, 1982, p.13). E falando em livros infantis, e a formação de conceitos, não se pode deixar de lembrar do livro didático. Criado especificamente para “educar crianças”, está presente há muito tempo nas escolas e muito se produziu tem produzido pedagogicamente para integrar esse material. Cabe ainda lembrar que esse material refletiu e reflete ainda questões sobre políticas governamentais. Essa foi durante muito tempo e porque não dizer que ainda é manipulada pelo governo federal, tendo em vista a escola tradicional e a abrangência da produção, possibilitando a manipulação de massa popular. Não quero dizer aqui, que ele não foi ou não é importante, mas sim levantar questões acerca deste material que há muito tempo faz parte do cotidiano escolar. Tratando-se de educação em saúde com crianças, pouco material se tem, no que se refere a produção específica em livros ou no próprio livro didático. Muitos folhetos são disponibilizados à população, inclusive para as crianças, mas esses se resumem em passar somente informações técnicas, inclusive quando são disponibilizados em capítulos nos livros didáticos. Ao considerar o ponto de vista educativo, os textos mais importantes são os narrativos e os expositivos. Os primeiros são formados por personagens e ações que se encontram num tempo e num espaço determinados, além disso, os fatos têm uma seqüência que vão se desenrolando do princípio até o final. Já os textos expositivos explicitam relações lógicas e estruturais entre diferentes conceitos e
  • 31. 30 fenômenos. Exemplos típicos são conteúdos de livros escolares, artigos científicos ou de divulgação (CARRETERO, 1997). Vindo ao encontro desses tipos de textos, chegamos enfim as histórias as quais criei, juntamente com outra pesquisadora da área infantil. Mas antes de finalmente contar o enredo de cada uma, e deixar o amigo leitor ainda mais ansioso, tenho que explicar que a criação das histórias decorreu de atividades desenvolvidas com crianças durante todo o curso de graduação e deu-se de forma a mesclar um pouco do texto narrativo e um pouco expositivo. Explico assim, por serem histórias as quais possuem uma seqüência lógica, descrevendo fatos narrados, mas recheados com informações técnicas em saúde, utilizando muitas vezes uma linguagem infantilizada a fim de ser melhor compreendida pelas crianças. Ainda assim, a ordem das histórias aqui descritas está disposta na mesma ordem a qual contei durante a coleta de dados, a fim de situar melhor o leitor, mas quero lembrar que difere da ordem de criação. Melhor dizendo, vamos conhecê-las? A primeira história... Essa historinha chama-se José quebrou o pé e foi criada com o objetivo de trabalhar questões sobre a prevenção de acidentes na Infância, assim como explicar à criança alguns conceitos sobre o serviço de saúde o qual trata de urgência/emergência, fratura, imobilização, enfermagem, medicina, entre outros (Apêndice A). José é um menino de 7 anos, que gosta muito de jogar futebol com seu amigo Tomás, na rua em frente às suas casas. A mãe de José já avisou que é perigoso brincar na rua, mas José não a obedece e um dia cai em um buraco enquanto jogava bola e quebrou o pé. É levado então ao pronto socorro, é recebido pela enfermeira, passa por uma consulta médica e realiza o exame raio X, quando é constatada a fratura. Assim, tem o pé imobilizado pela enfermeira que também
  • 32. 31 explica para ele os cuidados que precisa tomar até curar o pé, através de uma cartilha ilustrada, a qual o presenteia, como forma de orientação. No final José aprende que a rua não é um local adequado para jogar bola. A segunda história... Essa chama-se Lara e a flor da janela e foi criada também para trabalhar com a meninada a prevenção de acidentes na infância, além de explicar conceitos como Unidade Básica de Saúde, sutura, enfermagem, medicina, anestesia, entre outros (Apêndice B). Lara é uma menina de 10 anos, e o que ela mais gosta de fazer é ler e escrever histórias, e já é autora de uma coleção de historinhas. Mora no lugar mais alto do bairro e já foi advertida que não deve ficar muito próxima da janela, mas para criar suas histórias Lara fica olhando através dela, observando as pessoas que passam lá em baixo e o pé de jasmim da sua mãe. Um dia, ao desobedecer cai da janela, rala todo o corpo e corta o braço. É cuidada primeiramente pela vizinha, e depois levada pela mãe até a Unidade Básica de Saúde a qual fica próxima da sua casa. Ao chegar é recebida pela enfermeira que logo a encaminha para uma consulta médica. É realizada então a sutura no seu braço. Depois disso a enfermeira faz o curativo explica os devidos cuidados e como já a conhece e sabe que a Lara escreve histórias, pede a ela para escrever essa e contar aos colegas da escola, para que seus amiguinhos não se machuquem como ela se machucou.
  • 33. 32 A terceira história... Ah! Essa historinha deu trabalho! Foi criada com o objetivo de trabalhar com as crianças a crise asmática, a hospitalização e os cuidados com a doença. Mas, em virtude de ser a primeira história a ser criada, e o fato da inexperiência levar a tomar decisões precipitadas, essa história foi reescrita por uma professora, que utilizou como base o texto original e a transformou numa bem diferente, com menos informações técnicas e trazendo uma questão muito forte para ser trabalhada com a criança: o medo. Além disso, chama-se Augusto e seus fantasmas e faz um trocadilho inteligente com o leitor entre fantasma e asma, mas mostra aos pequenos o pulmão, a crise asmática e o medo (Apêndice C). Augusto é um menino de 7 anos, que tem asma. Ele mesmo conta à história fazendo um trocadilho com o leitor sobre fantasma – asma. Ele lembra que sua primeira crise asmática ocorreu quando tinha 3 anos enquanto brincava em uma pracinha. Sua mãe então o socorre procurando um médico, e a enfermeira que está presente explica a ela o que é asma e o Augusto ouve tudo. Também da a eles um livrinho que fala os cuidados s serem tomados daí pra frente. Além disso, explica a função do nebulizador. A quarta história... A quarta historinha chama-se Quem nunca teve diarréia? A criação teve o objetivo de trabalhar com a criançada questões sobre prevenção da doença diarréica e ensinar cuidados com ela, além de abordar consulta de enfermagem, soro caseiro, trabalho de outros profissionais na atenção básica, entre outros (Apêndice D).
  • 34. 33 Era segunda-feira quando Carol pode voltar à escola. Fica feliz ao reencontrar os colegas e através de um diálogo das três crianças, discute-se a doença diarréica. Carol conta à Flavinha e a Pedro que teve diarréia, devido a uma salada de frutas que havia sido preparada sem a higiene adequada e com isso teve dor de barriga, fez muito cocô mole, vomitou e teve febre. Logo a seguir, foi até o Posto de Saúde. Chegando lá, na sala de espera havia uma nutricionista explicando o soro caseio e a importância da preparação adequada dos alimentos. Posteriormente é chamada para a consulta de enfermagem. A enfermeira então a avalia e prescreve o soro caseiro e lhe dá uma cartilha com os cuidados com a diarréia e como evitá-la. Bom, agora que já foi mostrado um pouco das historinhas, ou seja, o enredo dos instrumentos desse estudo, convido você a conhecer como, onde e o público infantil que fizeram parte deste estudo, ou melhor, desta história! É importantíssimo dizer ainda que existem mais três historinhas que não foram objetos desse estudo, mas duas delas, as quais abordam depressão infantil (O menino triste) e hiperatividade (Lili a boneca de corda), respectivamente, foram instrumentos de outra pesquisa intitulada “Brincando e Conhecendo a ciranda da vida: a formação do círculo social da criança portadora de transtorno mental através da utilização das histórias infantis”. Ainda assim, teve uma que não foi instrumento de nenhum desses estudos que chama-se Augusto vai para o hospital, que é a primeira história criada readaptada do texto original a fim de diferenciar e continuar a Augusto e seus fantasmas. Caso o leitor se interesse pelas histórias deste estudo na íntegra, é só consultar os apêndices A, B, C e D, respectivamente e se quiser ter todas elas ilustradas em forma de livrinhos, é só procurar as livrarias e conhecer a “Coleção Brincando e Pensando Saúde”!
  • 35. 34 5 O caminho a trilhar... 5.1 Caracterizando essa história Para que essa história pudesse ser contada e registrada cientificamente, investiu-se num caminho qualitativo descritivo com observação participante. A abordagem qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações humanas e suas ações (MINAYO 1998).
  • 36. 35 O estudo descritivo tem como foco essencial a descrição de traços característicos da população estudada e com intenção de conhecer o universo do estudo e suas particularidades exige do pesquisador uma série de informações acerca de técnicas, métodos, modelos e teorias, que orienta a coleta e interpretação dos dados (TRIVIÑOS, 1987). 5.2 Onde ocorreu... O cenário escolhido para estrear as historinhas foi uma escola de ensino fundamental, localizada em um município de grande porte no sul do Brasil, que possui vínculo com a atenção básica à saúde. Esta escola foi escolhida por fazer parte do território de abrangência de uma Unidade Básica de Saúde. Ao chegar ao local, percebi que se tratava de uma grande casa localizada no lugar mais alto do morro. Logo na entrada há um quadro grande que expressa exatamente o que eu gostaria de realizar lá! Um rouxinol que sobrevoa o morro da cruz com uma criança montada em suas costas jogando flores colorindo e perfumando o ambiente com suas cores e aroma, convidando as pessoas a voar na imaginação infantil e por um momento poder desfrutar de uma realidade mais colorida. Assim como esse quadro, as paredes dessa grande casa são todas decoradas com a arte infantil e convidam qualquer pessoa que lá apareça a entrar em seu mundo, ou seja, voltar a ser criança, nos tempos da escola e aprender com eles! Essa escola é bem nova. No mês em que fiz o primeiro contato, estava completando 11 anos. Atende aproximadamente 1.600 crianças e adolescentes, todos de ensino fundamental. Para acolher toda essa turma cheia de energia, o local conta com três prédios, sendo dois com dois andares e um com um andar. Além disso, dispõe de 1 refeitório amplo, 1 cozinha, 1 biblioteca, 2 salas de multimeios, 1 sala dos professores, 1 banheiro para os funcionários, 1 depósito, 1 sala administrativa, 1 sala para o Serviço de Orientação Educacional (SOE), 1 banheiro feminino, 1 banheiro masculino, 1 sala para direção e várias salas de aulas. A área externa possui uma pracinha, uma quadra de esportes com somente uma parte coberta e um pátio grande também utilizado para educação física. Ainda assim, há um ginásio em construção, o que instiga a curiosidade de muitas crianças, que brincam em meio a tijolos, cimento e funcionários.
  • 37. 36 Os pequenos têm acesso a todas as disciplinas exigidas pelo Ministério da Educação (MEC), além de muito carinho e dedicação dos educadores que lá desenvolvem seu trabalho. As crianças que freqüentam a escola são de baixa renda e para estudarem são agrupadas em turmas de acordo com a faixa etária, configurando ciclos e não séries. Além disso, a escola recebe estudantes portadores de deficiências, contribuindo para a inserção social proposta nos atuais modelos de intervenção em saúde. Para tal, compõe três ciclos agregando todo o ensino fundamental. É importante dizer ainda que este local desenvolve um projeto o qual considero fundamental na educação infantil que chama-se “Mala Mágica”. Esse projeto, criado pela orientadora educacional e consiste em contação de histórias pelos estudantes aos estudantes, melhor dizendo, os alunos do terceiro ciclo contam as histórias às crianças do primeiro e segundo ciclos. Dessa forma, muitos adolescentes têm preferido ficar na escola a ficar na rua e melhor ainda, têm preferido ler e incentivam seus colegas a isso. Junto a eles, um outro grupo de estudantes, selecionados pelas funcionárias da biblioteca contam histórias em outras escolas e até outras cidades. São os monitores contadores de histórias. Sabendo disso, me senti muito à vontade, pois as crianças já estavam acostumadas a ouvir histórias e gostam muito disso. Além disso, não havia em nenhum dos projetos, iniciativas de trabalhar educação para a saúde o que instigou a curiosidade dos funcionários da escola assim como dos estudantes os quais contam histórias. Assim fui acolhida e muito incentivada a desenvolver meu trabalho. 5.3 Uni-dune-tê, salame-mingúê... o sorvete colorete e os escolhidos foram... As crianças que estavam cursando o primeiro ciclo do ensino fundamental na escola do território de abrangência da Unidade de Saúde. As crianças que, junto com seus responsáveis, manifestaram sua concordância em participar do estudo e permitiram que os dados fossem publicados no meio científico, respeitando o sigilo da pesquisa com seres humanos. 5.4 Apresentando os protagonistas
  • 38. 37 Fui brincar numa casinha-nha, enfeitada-da de florezinhas-nhas, saíram de lá, lá, lá muitas criancinhas-nhas, olharam pra mim, olharam pra mim e disseram assim: tu veio contar histórias? (Canção popular) Escolhi essa canção popular, parodiada para esta história, porque mostra exatamente a curiosidade e o encanto da meninada que brincou comigo de ouvir histórias. Além disso, assim era aquela sala de aula, uma casinha cheia de florezinhas e para cada uma delas aleatoriamente dei um nome de um personagem da literatura infantil. A turminha era composta de dezessete crianças, com idades entre 7 e 9 anos, mas nem todos fizeram parte dessa história, por não estarem presentes nos três encontros, e uma menina eu não obtive o consentimento dos responsáveis. Então serão descritos apenas os personagens que fizeram parte das brincadeiras. Convido então o leitor agora a conhecer um pouquinho de cada florzinha que compunha a casinha enfeitada! Mônica – menina alegre, esperta e escolhida pelos colegas para ser líder da turma! Assim como a Mônica das histórias em quadrinhos é muito valente! Magali – menina meiga, fala pouco, é bem magrinha, e assim como a Magali da história em quadrinhos, comia muito durante as refeições! Cascão – menino alegre, esperto, arteiro, cativante e com muita personalidade, assim como o Cascão da história em quadrinhos! Narizinho – menina inteligente, carinhosa, esperta, organizada, muito parecida com a Narizinho de Monteiro Lobato. Pequeno Polegar – menino inteligente, ágil, amoroso e com estatura um pouco menor que seus coleguinhas! Tio Patinhas – menino esperto, inteligente e líder natural. Margarida – menina calma, feliz, amorosa e anda sempre junto da Minye.
  • 39. 38 Minye – menina calma, inteligente e anda sempre junto da Margarida! Pato Donald – alegre, um pouco atrapalhado, mas cheio de boas intenções como o da história em quadrinhos. Mikey – menino organizado, calmo, inteligente, mas muito brincalhão! Como o Mikey das histórias em quadrinhos. Cebolinha – menino calmo, amoroso e assim como o Cebolinha, tem dislalia. Cristal – menina agitada, alegre, inteligente e assim como Cristal, um pouquinho desatenta! Franjinha – menino inteligente, ágil, estatura um pouco maior que os colegas e gosta de inventar coisas como o Franjinha da história em quadrinhos! Visconde de Sabugosa – menino inteligente, ágil e arteiro! Pedrinho – menino inteligente, feliz e muito organizado. 5.5 Princípios Éticos Foram mantidos os preceitos do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, especialmente o capítulo IV, artigos 35, 36 e 37 e o capítulo V, artigos 53 e 541 . Igualmente foram respeitados os preceitos da Resolução nº 196/962 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. 5.6 Passa – passará, quem de trás ficará, a porteira está aberta para quem quiser passar...
  • 40. 39 Nesta parte da história será descrito todo o processo do procedimento para a coleta dos dados passo a passo. __________________ 1 Capítulo IV (Dos Deveres): art.35-Solicitar consentimento do cliente ou do seu representante legal, de preferência por escrito, para realizar ou participar de pesquisa ou atividade de Ensino em Enfermagem, mediante apresentação da informação completa dos objetivos, riscos e benefícios, da garantia do anonimato e sigilo, do respeito à privacidade e intimidade e a sua liberdade de participar ou declinar de sua participação no momento que desejar; art 36- Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da pessoa humana; art 37- Ser honesto no relatório do resultado da pesquisa. 2 Capítulo V (Das proibições): art 53- Realizar ou participar de pesquisa ou atividade de ensino, em que o direito inalienável do homem seja desrespeitado ou acarrete perigo de vida ou dano a sua saúde; art 54- Publicar trabalho com elementos que identifiquem o cliente sem sua autorização. 2 Resolução 196/96 – Incorpora sob a ética do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Passo I - O primeiro contato.... Primeiramente, fiz um contado via telefone, agendando data e hora para conversar com a coordenadora de ensino da escola. Redigi uma carta (Apêndice H) para fazer a solicitação formal e tive a ajuda da enfermeira que me supervisionava no estágio curricular III. Então na data e hora marcadas, acompanhada da enfermeira que me supervisionava e da minha mala encantada de contação de histórias fui conversar com a coordenadora. Com a carta formal e o parecer do Comitê de Ética (Anexo A) que aprovava minha pesquisa em mãos, assim como meu projeto de pesquisa fiz a solicitação. Depois de mostrar a ela a mala encantada, as personagens as quais a compõe, a carta e meu projeto de pesquisa um silêncio arrebatador tomou conta da sala onde estávamos. Os segundos de decisão pareciam horas intermináveis de angústia, mas logo esse silêncio foi quebrado por um sim acompanhado de um sorriso e uma condição: que eu deixasse as histórias para as crianças! Depois dessa grande alegria e de poder fazer o que mais quero que é deixar as histórias ao acesso fácil aos pequenos, pude seguir em frente agendando reunião
  • 41. 40 com a professora da classe e com os responsáveis pelas crianças afim de obter a autorização necessária para realizar a pesquisa e a concordância dos meninos e meninas. Passo II – O grande convite.... Após o agendamento com a professora da classe a qual foi realizada a pesquisa e com os responsáveis chegou o momento. Ao chegar na sala de aula, haviam algumas crianças, alguns pais e a professora. Ao explicar meu trabalho prontamente as crianças manifestaram vontade de ouvir minhas histórias e os pais que lá estavam concordaram, assinando a carta convite e consentimento livre e esclarecido (Apêndice F). Também conversei com a professora, convidei-a para ser minha observadora e fizemos as combinações pertinentes. Passo III – Conhecendo os personagens... Conforme a proposta do projeto de pesquisa, fiz uma observação da realidade, registrada em diário de campo (Apêndice I), a qual somou 20 horas, dividido em quatro manhãs e o primeiro contato com a escola. Ao chegar à sala de aula para observação dos pequenos, fui surpreendida com abraços e beijos daqueles que já me conheciam do primeiro encontro. Expliquei meu trabalho, deixei-os à vontade para questionar-me e encontrei um lugar para sentar e assistir a aula em meios às crianças. E assim transcorreram as atividades, pude conhecer cada criança que compunha aquele grupo, cada olhar curioso quando eu falava e cada gesto de mais e mais crianças que vinham a cada novo encontro abraçar-me e dar “bom dia”. Da mesma forma me deixei conhecer pelo grupo e penso que esta foi a melhor maneira de trabalharmos, pois a troca de conceitos ocorreu com mais facilidade e o tempo todo. A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos (MINAYO, 2004).
  • 42. 41 Passo IV – O grande momento! “A contação das histórias!” Enfim chegou o grande dia! O momento de contação das histórias. Era chegada a hora de viver cada segundo mil vezes idealizado, cada passo de um sonho, cada segundo de alegria de transformar o que parecia impossível em possível. Preparei com carinho a mala, meu jaleco colorido e embarquei na grande viagem da vida: transformar sonhos em realidade! Ao chegar minhas crianças já me aguardavam ansiosas para ouvir as histórias que eu tinha para contar. Propus um círculo o que prontamente foi feito. Uma grande ansiedade e expectativa tomavam conta do ambiente, tanto da minha parte, quanto das crianças. Só quem estava serena era a regente da classe e ainda bem que havia alguém com serenidade! E assim, no primeiro dia, tudo aconteceu com grande satisfação. A apresentação da mala, os olhares curiosos dos pequenos para os personagens que a compõe, a abordagem dos temas antes da história, e o mais importante: a grande participação e envolvimento das crianças com as histórias: José quebrou o pé e Lara e a flor da janela (Apêndices A e B), que o tempo todo teciam comentários, contavam vivências, riam e brincavam. O dia frio, cinzento e coberto com a neblina densa da manhã contrastava com o calor, as cores e fantasias em que eu e a criançada estávamos mergulhados. Após, propus a realização de painéis e a construção deles foi em forma de gincana. Pretendia com isso, que a meninada recontasse as histórias que contei em forma de desenhos e então expliquei a eles que o grupo que desenhasse o painel mais parecido com a história ganharia um prêmio. Rapidamente a turma dividiu-se em dois grupos e o grupo que desenhou a história Lara e a flor da janela era formado apenas com meninos e o grupo que desenhou a história José quebrou o pé era composto em maioria por meninas, tendo somente um menino. Ao ingressar nesta experiência buscando torná-la uma brincadeira e com isso, interessante para a meninada, o ambiente escolar torna-se incrivelmente propício e o fato de as crianças recontarem as histórias posteriormente a minha contação, em
  • 43. 42 forma de gincana, constitui uma forma importante de avaliar a maneira como a criança se comunica com o grupo e troca idéias no plano verbal (PIAGET, 1999). Era gratificante observar as crianças empenhando-se em desenhar minhas historinhas, suas discussões sobre os temas, mas principalmente o fato de terem gostado delas e demonstrarem prazer enquanto brincavam de desenhar histórias. E, falando em brincar, um fato curioso que ocorreu neste dia foi que quase todos os meninos brincaram com as bonecas da mala, inclusive verbalizando “minha filha, tua filha”. As meninas resumiram-se a observar. Os painéis, diga-se de passagem, ficaram lindos e como certamente o leitor irá conhecê-los a seguir disponho-os, no capítulo “Senhoras e Senhores: a análise”. Ao final da atividade, todos ganharam o “prêmio”: balas de morango! Tomei essa atitude de premiar a todos porque houve a participação deles durante todo o processo, prestaram atenção, brincaram, desenharam, riram, e o melhor, discutiram os fatos presentes nas narrativas, configurando trocas e crescimento. Além disso, crianças pequenas têm dificuldade em ganhar ou perder. No segundo dia quase tudo foi diferente. Fui recebida com expectativa e afetividade, levei as crianças para a sala de multimeios, onde elas estão acostumadas a ouvir histórias. Comecei a organizar a sala e espontaneamente fui ajudada pelos pequenos, que olhavam com curiosidade para a cena que eu estava montando. Levei novamente a mala e, como era a proposta, abordei o tema antes da história e depois a contei. A história contada foi Augusto e seus fantasmas utilizando técnica de varal, pois já tinha a ilustração (Apêndice C). Utilizei para isso, barbante, prendedores de roupa e a história ilustrada. Essa técnica consiste em contar a história e ir pendurando cada ilustração num varal simples com prendedores. Para minha surpresa, não houve participação da meninada, houve sim, o silêncio. Eles observavam os desenhos com atenção e rostos muitos sérios. Além disso, os questionamentos acerca do tema antes e depois da história não tiveram diferença. Mesmo assim houve participação na realização dos desenhos e pareceu que eles gostaram muito da ilustração. Algumas crianças brincaram com as personagens da mala, outras se deram conta que eu estava gravando e assim imitavam-me. Nesse dia, o trabalho ocorreu mais rápido e havia somente dez crianças. Ao chegar em casa, percebi que nosso encontro não havia sido gravado por problema no mp3 player e os dados falados foram todos perdidos.
  • 44. 43 Uma articulação necessária na pesquisa de campo refere-se à interação entre o pesquisador e os atores sociais envolvidos. Mesmo estando em planos desiguais, ambas as partes buscam compreensão. O objetivo principal do pesquisador é ser aceito na convivência (MINAYO, 2004). No terceiro dia... Há esse dia foi especial! Ao chegar, meus pequenos já haviam arrumado a sala de aula, dispondo as cadeiras em círculo, para me esperar e como todos os dias receberam-me com abraços e beijos. Abordei o tema de doença diarréica antes de história de depois contei Quem nunca teve diarréia? (Apêndice D). Durante a contação houve grande participação das crianças. Novamente riam, contavam fatos pessoais, expressavam sentimentos e opiniões. Conversamos bastante antes e depois da história e pude perceber o quanto é importante discutir tais questões com a meninada, e como eles percebem e aprendem com facilidade. Brincamos, rimos, contamos outras histórias, desenhamos e nos divertimos enquanto aprendíamos. Escrevo dessa forma porque não foram só as crianças que aprenderam, eu também aprendi muito. De acordo com a teoria abordagem construtivista, o conhecimento não está pré-formado, acabado, pronto. A aquisição de conhecimentos configura-se na interação da criança com o objeto a conhecer, na relação de troca entre eles (PILLAR, 1996). Mas nesse dia também houve a despedida, porque expliquei aos pequeninos que esse seria o último dia e com grande tristeza, expressa nos olhares e nos pedidos para eu retornar fui embora. E como foi difícil a despedida! Aliás, as despedidas quase sempre são difíceis, principalmente quando se trata de crianças. Porém, uma coisa amenizava a angústia de despedir-me: a grande satisfação por ter realizado um trabalho pelo qual batalhei muito e a certeza de que, em breve as minhas histórias estarão lá.
  • 45. 44 6 Senhoras e senhores: a análise! Diante dos dados obtidos por gravação, dos desenhos e das informações registradas em diário de campo, procurei agrupá-los em temas, a fim de responder os objetivos do estudo. Para isso, utilizei os momentos de contação das histórias, separando-os em antes e durante, ao quais deram origem ao tema I – Procurando saber o que as crianças conhecem, e o depois que deu origem ao tema II - Analisando as contribuições das histórias infantis para a educação em saúde. Para os temas, utilizarei também questões do construtivismo e desenvolvimento cognitivo de Piaget. Ambas trabalham juntas e analisam aspectos de aprendizagem-compreensão de forma espontânea, motivadora e preferencialmente realizada em grupos (CARRETERO, 1997).
  • 46. 45 Tema I: Procurando saber o que as crianças conhecem... Valorizando o saber em licenciatura plena, procurei antes de tudo, conhecer o saber prévio dos pequenos acerca dos temas propostos. Como propõe a literatura moderna acerca da construção de conhecimento, o saber de cada pessoa é único e deve ser valorizado e expresso de forma a contribuir com o conhecimento grupal e assim gerar um conhecimento maior. Dessa forma me aventurei com a meninada a trazer questões relativas aos temas das histórias as quais contei e contrariando a pouca idade e as condições em que muitos vivem, possuem um grande saber. Em relação os serviços, pude perceber que eles sabem suas funções e compreendem a importância dela. Como referem na seguinte fala, quando são indagados acerca da função da atenção básica: Para tomar vacina! Cuidar dos dentes! (Tio patinhas) Para cuidar das crianças... Quando está desmaiado! (Coletivo) Nessas falas é possível considerar que as crianças entendem a atenção básica de duas formas. Uma, refere-se à prevenção e a outra à assistência com um maior grau de complexidade. A primeira remete a imunizações, a qual é de responsabilidade da enfermagem e há alguns anos vem sendo tratado seriamente pelas autoridades competentes, incluindo grandes marketings em saúde, como vemos pelo menos duas vezes ao ano nas campanhas de vacinação. A segunda aborda a saúde bucal, e pode-se perceber que já se desenvolve nas crianças uma atitude, expressa em palavras, que é preciso cuidar dos dentes, o que atualmente é o grande desafio dessa área. Assim sendo, o grande desafio da odontologia atual é atuar educativamente junto à população infantil, provendo-a de informações necessárias ao desenvolvimento de hábitos para manter a saúde e prevenir as doenças bucais, numa mudança de atitude em relação a essas doenças que freqüentemente são tidas como inevitáveis pela população (VASCONCELOS et al. 2001, p.2).
  • 47. 46 Já a assistência com um maior grau de complexidade ainda é vista erroneamente como função da atenção básica. Isto nos remete a pensar que essa idéia ainda é reproduzida pelas crianças por ser o conceito que lhes é passado pelos seus pais ou pelo meio em que vivem. Entretanto, essa idéia ainda pode ser reformulada, visto que a escola pode ser um ambiente favorável para isso e, portanto contribuir na construção do Sistema único de Saúde, já que possibilita o grande desafio de estimular condutas saudáveis e informações em saúde. Vindo ao encontro a essas idéias, o Ministério da Saúde em parceria como o Ministério da Educação referem que a escola é um ambiente onde se formam cidadãos conscientes dos direitos de saúde, lazer, educação por meio de práticas realizadas por sujeitos sociais críticos, o que favorece a participação das pessoas a buscar uma vida mais saudável (BRASIL, 2005). Já quando remete ao Sistema Único de Saúde, diz que é uma questão muito importante a ser trabalhada dentro do contexto escolar, visto que é a partir da participação popular que se direcionam muitas decisões para as políticas públicas e isso deve ser iniciado nesse ambiente (BRASIL, 2005). Quando questionados sobre o que conheciam do pronto socorro, as falas são: Eu fui tirar raio X! (Franjinha) Raio X! Ôh “Sora”, eu fui atropelado e fui tirar raio X! (Cascão) Ao perceber essa fala, destacam-se dois pensamentos distintos: o saber proveniente de experiência pessoal e a utilização do serviço de emergência para a realização de exames. Na questão do atropelamento a utilização do pronto socorro traz a lembrança na criança com o fato ocorrido, assim como o devido cuidado nesta situação. Já quando se expressa simplesmente o “raio X” é possível pensar em utilização inadequada dos serviços, pois esse exame não necessita do pronto socorro para ser realizado, podendo ser ambulatorial. Assim como referido acima acerca da atenção básica, que traz idéia de atendimento com grau de complexidade, o serviço de emergência ainda é referido como serviço de atenção secundária. Já quando questionados sobre o que é ter diarréia, as falas são as seguintes: Dor na barriga... (Mônica) È não comer nada e só vomitar! (Narizinho) Ficar todo dia e não comer nada! (Pato Donald)
  • 48. 47 Ficar com fome! (Pequeno Polegar) Ôh “Sora”, o (Pato Donald) ficou com diarréia! (Cascão) Risos.... Ao ler essas falas, percebe-se claramente que as crianças conhecem parte da sintomatologia da doença diarréica. Embora refiram dor abdominal e vômitos, inapetência e fome, as fezes líquidas e evacuações freqüentes não aparecem. Além disso, os risos aparecem talvez pelo fato da evacuação ser considerada um tabu, embora seja uma função fisiológica presente em muitos seres vivos. Os sintomas clássicos da doença diarréica podem ser descritos como dor abdominal, fezes cuja consistência revele aumento de conteúdo líquido acompanhada de aumento da freqüência de evacuações, acompanhada ou não de vômitos (DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2007). Já o Ministério da Saúde (1993) traz como diarréia aguda a perda de água e eletrólitos resultando num aumento de volume e de freqüência de evacuações seguida da diminuição da consistência, podendo apresentar algumas vezes muco e sangue (disenteria). Na maioria dos casos é provocada por uma agente infeccioso e tem duração inferior a duas semanas. Quando os questiono sobre cuidados para prevenção da doença diarréica, as falas são: Tomar remédio! Alguma coisa! (Pequeno Polegar) Toma remédio, tomar chá... (Narizinho) Xarope! Eu já tomei... (Cascão) Bah... Tri ruim! (Cascão) É bom!! (Pequeno Polegar) Nessas falas percebe-se claramente que algo deve ser feito para não desenvolver essa doença, mas os conceitos são visivelmente confusos e equivocados no sentido da prevenção, visto que esses são colocados na forma de tratamento medicamentoso inclusive para outras patologias que não a diarréia. Além disso, expressam opiniões diferentes acerca do sabor do medicamento. Assim como as autoridades competentes, as crianças reconhecem que é necessário desenvolver estratégias para prevenção desta doença, visto que, os índices de morbi-mortalidade possuem índices importantes. De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Porto Alegre, RS, a região sul do Brasil possui o menor índice dessa morbidade em relação as demais regiões
  • 49. 48 brasileiras, no período de 1995-2004. Já as regiões nordeste e sudeste superam as demais regiões e necessitam de ações para um maior controle. No ano de 2005, os casos notificados em Porto Alegre somam 1406, mais que em 2004 que somou 1098. Mesmo com os menores índices, a vigilância chama a atenção para a importância do controle e monitorização da doença diarréica (THIESSEN e ACOSTA, 2006). A Organização Mundial de Saúde, reconhecendo o problema, em 1978 estabeleceu o Programa de Controle de doenças diarréicas. Esse programa prevê uma série de estratégias a serem desenvolvidas pelos países, visando reduzir os índices, tratar os casos implantando a terapia de reidratação oral, uso de soluções intravenosas quando necessário, incentivo ao aleitamento materno, normas de higiene pessoal e de alimentos, entre outras (EDITORIAL, 2007). Mesmo assim, podemos constatar com os índices atuais, que a doença diarréia ainda é muito comum, principalmente em crianças de baixa renda. Com isso, pode-se concluir que pelo fato dessas crianças pertencerem a essa situação, a doença diarréica é um fato que comumente ocorre no meio que elas vivem contribuindo para suas visões sobre o tema, mesmo que equivocadas. Durante a contação das histórias, muito eu pude conhecer sobre seus saberes, pois bombardeavam informações a cada tema que conheciam, expressando assim espontaneamente seus sentimentos e sentiam-se parte do que acontecia, muitas vezes identificando-se com a história. Na parte da história José quebrou o pé, que narra a ida do personagem ao pronto socorro e a realização do exame “raio X”, vêm ao encontro as seguintes expressões: Raio X. (Tio patinhas). Raio X. Tira foto! Oh Jeanine, eu tenho um amigo que teve que tomar um remedinho... E da para levar para casa! (Franjinha) Raio X. Ôh “Sora”, eu já fiz! È um cano! (Cascão) Ao analisar essas falas, fica claro que a história narrada causou impacto nas duas crianças – Franjinha e Cascão - pois permitiu que a dificuldade encontrada pelo personagem na história fosse interiorizada e entendida como experiência vivida e assim expressada como saber. Dessa forma, o saber vem da identificação da
  • 50. 49 criança com a narrativa, da experiência prévia delas, que se identificaram e contaram questões pessoais. Na parte da história que ensina os cuidados de enfermagem para o protagonista, as seguintes falas são expressas: José: não pode firmar o pé no chão(Pesquisadora) Tem que caminhar assim (pulando num pé só) (Cristal) Isso! (Pesquisadora) Andar de muletas! (Cascão) Não pode molhar! Então para ele tomar banho, (Pesquisadora) Tem que botar um saco! (Franjinha) Colocar uma sacola no pé! Exatamente! (Pesquisadora) E se sentar! (Cristal) Na história da “Lara e a flor da janela”, ocorreu quase da mesma forma, o que pode ser observado nas seguintes falas: (..) lavou, colocou gaze, colocou esparadrapo, (Pesquisadora) Colocou faixa (Pequeno Polegar) E disse que a Lara tinha que cuidar daquele braço (Pesquisadora) Ela colocou uma coisa assim que deixa o braço assim e... (sugerindo tipóia) (Franjinha) Minha tia também colocou uma coisa assim... (Cristal) Lendo atentamente as falas referentes às duas histórias, é possível considerar que ambas permitiram a expressão das crianças, mostrando o que elas conhecem sobre o tema, além de perceberem questões que virão seguidamente aos cuidados, utilizando suas próprias conclusões. Além disso, percebe-se ainda que esse conhecimento provém do meio no qual vivem, de observação de realidades na família. Uma criança, ou grupo tendo a oportunidade de expressar o seu conhecimento espontâneo, vai articular com os colegas ou adultos formas próprias de soluções para problemas (PIAGET e INHELDER, 1999). Outra questão pertinente a esse tema, diz respeito a abordagem da profissão de enfermagem. Enquanto eu contava a parte que a personagem principal vai à Unidade Básica de Saúde para realizar uma sutura no braço, surgiu a seguinte fala: A enfermeira... A enfermeira veio atender! (Franjinha)
  • 51. 50 Assim, é possível entender que a criança sabe que essa profissional faz parte da equipe de saúde, que trabalha na atenção básica e que recebe as pessoas primeiramente, determinando os cuidados iniciais ao ser humano. Além disso, pode- se pensar que esta pode ser a semente de um trabalho de enfermagem mais valorizado, já que a profissão é recente e necessita assim como o Sistema Único de Saúde de um trabalho educativo sobre suas funções e campos de atuação. Já na história “Quem nunca teve diarréia?” na hora da recepção na unidade básica de saúde a fala espontânea é: A Jeanine! (Narizinho) Aqui, acredito que essa criança me reconhece enquanto profissional de saúde e como enfermeira. Além disso, pode-se pensar que enquanto contadora de histórias na escola, ou seja, trabalhando educação em saúde com as crianças, a profissão de enfermagem pode abranger mais esse campo de atuação, ou seja, a literatura infantil e a escola. Na parte que questiona acerca da anestesia, o conhecimento expresso foi o seguinte: È para não doer! Para não sentir... (Franjinha) É para não doer! (Tio Patinhas) Sim! (Cristal) Para não doer! (Cascão) Fica claro nessas falas que essas crianças, dentro da abstração das suas idades conhecem a principal função de um anestésico. Isto pode ser pelo fato da dor causar medo e ser uma sensação desagradável e por isso já ter despertado a curiosidade delas anteriormente. Tema II: Analisando as contribuições das histórias infantis para a educação em saúde. Nesse tema, serão discutidas as contribuições para a educação em saúde através das falas que obtive depois da contação das histórias e os desenhos realizados pelas crianças, especificamente com as figuras que apareceram com
  • 52. 51 maior freqüência. Assim, inicio pelos desenhos a fim de colorir um pouco esta história com a linda arte criada pelos protagonistas. Tendo como eixo norteador que a educação em saúde é um conjunto de práticas destinadas à prevenção de doenças e promoção da saúde a fim de que o conhecimento científico atinja o público, a vida cotidiana das pessoas, utilizando tecnologias auditivas e visuais que mobilizem atenção e motivem sua utilização (LEVY et al., 2007). Remetendo um pouco sobre o desenvolvimento cognitivo de Piaget, é preciso lembrar que as crianças que fazem parte desta história estão na faixa etária de 8 a 10 anos, o que para esse autor fazem parte do estágio “operatório-concreto”. Nessa fase a criança é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair fatos da realidade, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração (PIAGET, 2007). Assim como os gestos, a fala, e a escrita, o desenho também pode ser considerada uma forma de comunicação. Nos tempos remotos da civilização, os desenhos eram feitos em cavernas, com auxílio de gravetos ou ossos humanos e até mesmo sangue para preencher os espaços. Retratavam a vida cotidiana da época, os animais existentes, as técnicas de caça e até hoje são estudados para contar a história da humanidade. Portanto, não pretendo aqui analisar a fundo o desenho infantil e o que ele realmente significa em essência, visto que, isso desprenderia muito mais conteúdo literário do que disponho. Pretendo aqui, exemplificar com imagens a reconstrução das histórias que contei com ajuda das falas das crianças sobre o que desenharam e com isso discutir sobre a forma de representação expressa por elas. Segundo a literatura existente na área, muitas vezes, se a criança não diz o significado de sua imagem criada, não entendemos necessariamente sua mensagem, pois a imagem propriamente dita pode significar algo para a criança o qual desconhecemos. Daí a importância de conhecer o que a criança pensa sobre o desenho (BRIÉRE, 1993 apud PILLAR, 1996). Para o construtivismo, a aquisição de conhecimentos parte da ação, da interação do sujeito com o objeto a conhecer estruturando essas experiências em sistemas. Sendo o desenho uma forma de representação, vincula-se a criação de símbolos gráficos a fim de expressar visualmente idéias, sentimentos, fantasias,
  • 53. 52 mantendo muitas vezes um vínculo analógico com o objeto representado (PILLAR, 1996). Assim, convido o leitor a olhar com carinho ao painel que reconta a história Lara e a flor da Janela.
  • 54. 53 Figura 1 - Painel que reconta a História Lara e a flor da Janela
  • 55. 54 Da esquerda para a direita, a explicação do painel pelas crianças, é a seguinte: Aqui é a casa dela, não desenharam a porta não sei por que, aqui é a janela ela tava vendo e caiu, aqui é as pessoas que tão tudo olhando, aqui é a mulher, que pego ela, que pegou ela pra lava, e eu não sei onde que tá o tanque. E aqui é o posto de saúde, aqui é o cemitério. (Pequeno Polegar) Na fala a seguir, a explicação inicia pelo meio e depois se remete à esquerda. Aqui ta o tanque, aqui ta a casa, aqui tem alguém vindo aqui pra salva a guria, e aqui ta guria caindo e aqui ta a mãe dela olhando, aqui o céu ta lindo, aqui ta nublado. A escola, o posto de saúde, aqui... (Tio Patinhas) E para que ela foi ao posto de saúde?(Pesquisadora) Pra cura! Remédio! Cura o braço! (Pequeno Polegar) Depois de observar atentamente o painel e as falas das crianças explicando o que desenharam e recontando a história percebe-se que: os meninos conseguiram desenhar a história recontando-a na seqüência lógica dos fatos. Aparecem no painel a escola e a unidade básica de saúde e ainda que são incluídas cenas inexistentes na história, ou seja, um cemitério, o céu lindo e depois nublado. Desse modo, aparecem duas formas de compreensão estudadas por Piaget: a global e verbal. A primeira retrata como a criança compreendeu toda a narrativa, ou seja, a compreensão implícita que não necessariamente é expressa e a compreensão explícita, que a criança reproduz espontaneamente o que compreendeu. A segunda expressa as ligações causais ou lógicas. Essa última refere-se sobre certos pontos da narrativa (PIAGET, 1999). Em relação ao desenho, pode-se dizer que uma de suas funções é evocar forma, a estrutura e a essência dos objetos, dando forma a lembranças, sonhos ou emoções. Além disso, enquanto imagem visual, não se caracteriza por ser uma cópia dos objetos, mas sim uma interpretação, uma recriação dos objetos através da linguagem gráfica (PILLAR, 1996). Pensando dessa forma os meninos recriaram quase toda a narrativa no painel, enfatizando os pontos os quais mais lembraram. Entre eles estão dois pontos que considero mais importante tendo em vista a educação em saúde. O primeiro é a presença da Unidade básica de saúde, que aparece como um desenho grande, ocupando boa parte do painel, além de ser relatada nas falas. Isto pode ter acontecido pelo fato de ser da realidade deles esse tipo de serviço, visto que, muitos
  • 56. 55 conheciam. A importância deve-se ao fato de os meninos entenderem que uma sutura, pode ser realizada na atenção básica e não exige maior complexidade. O outro, é a queda da protagonista, que também ocupa grande parte no desenho e também é relatada nas duas falas. Esse fato é considerado importante, porque penso que os meninos conseguiram compreender que a janela pode ser um local perigoso e assim se caracteriza a prevenção do acidente na infância. Assim pode-se dizer que nesse caso ocorreu uma assimilação, visto que, houve incorporação de elementos do meio externo e organização visando a ampliação de seus esquemas (PIAGET, 2007). O painel retrata ainda cenas inexistentes nas histórias. O céu lindo descrito em linguagem gráfica assim como na fala, é uma característica comum nos desenhos infantis. Isso me remete a lembrar da formidável capacidade da criança em ver as questões difíceis de uma forma mais colorida, demonstrando assim uma grande capacidade de superação. Já o céu nublado, não parece ser tão comum. Muito menos um cemitério. Ao conversar com os meninos sobre o aparecimento do cemitério, eles não souberam explicar. Pode ser que algum fato de morte tenha ocorrido em suas vidas e que eles tenham retratado a fim de expressar algo inconsciente. Mas como foi constatado anteriormente, o desenho pode ter uma linguagem secreta, significando algo para a criança que desconhecemos. Já com o painel da história José quebrou o pé, outras questões aparecem.
  • 57. 56 Figura 2 – Painel que reconta a História José quebrou o pé.
  • 58. 57 Essa fala explica o painel da esquerda para a direita e a Unidade Básica de Saúde está ao fundo. Isso é a porta, essa é a goleira, esse aqui é o João, essa é a mãe dele. (Franjinha) O José! (Margarida) O José! (Minye) O posto. (Franjinha) O banco! Essa aqui é árvore. “Sora”, eu também fiz uns coraçõezinhos em cima da mãe dele! (Franjinha) Bem a direita está o protagonista desenhado novamente. Acima do banco está a escola. Aqui eu fiz o João, caindo no buraco. (Minye) È o José!! Ah! Eu fiz a escola, o banco e os pássaros. (Minye) Eu fiz o sol, essas coisinhas aqui e esse banquinho. (Margarida) Ao observar atentamente esse painel acompanhado das falas que se seguem, salta-me aos olhos o protagonista da história desenhado duas vezes e confundido nominalmente com um outro personagem o “João”, irmão do José. Também aparecem no painel a mãe do protagonista com direito a coracõezinhos, a escola, a Unidade Básica de Saúde o buraco da queda do personagem e esse, com o pé engessado. A confusão dos nomes dos personagens pode ter ocorrido pelo fato do trocadilho que a história traz “João, seu irmão”. Esse trocadilho foi muito aceito pelos pequenos, que na hora da contação da história riram e verbalizaram “que legal”. Mesmo com essa confusão, as crianças sabem que falam do José ao invés do João, pois nas falas que sucedem uma criança lembra a outra desse fato, corrigindo-a. O protagonista da história aparece duas vezes porque foi desenhado pelas meninas e pelo menino do grupo. O menino desenhou-o jogando bola, provavelmente por ser uma atividade a qual gosta ou porque foi o que interiorizou da história. Além disso, desenhou a mãe perto com corações acima da cabeça, remetendo-me a pensar que expressou amor entre mãe e filho. Além disso, é ela quem socorre o protagonista levando-o ao pronto socorro, assim como é a mãe que cuida, que dá amor, que transmite muitas vezes a segurança a qual precisamos. É a mãe a quem recorremos em muitas situações em nossas vidas, principalmente quando crianças. Já as meninas desenharam o mesmo personagem caindo no buraco e com o pé imobilizado. Pode-se pensar com isso, que o que foi introgetado do texto foi que