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Fake News e
Sociedade do
Espetáculo
Compreendendo os métodos de alienação
contemporânea a partir do pensamento de
Guy Debord
XV Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação / Encontros Universitários
2022
Autor: Inácio José de Araújo da Costa
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Ferreira Chagas
Introdução
● As implicações sociais advindas da introdução de novas tecnologias de comunicação na vida
cotidiana é uma das problemáticas abordadas pelo pensamento crítico de Guy Debord (1931
– 1994). Para o teórico marxista francês, o desenvolvimento autônomo e descontrolado da
economia capitalista levou a um agravamento da alienação e do fetichismo nas relações
humanas. O espetáculo, conceito central de sua teoria social, descreve o momento no qual
os indivíduos se tornam socialmente passivos e inconscientes dos acontecimentos ao seu
redor como consequência da infiltração da lógica mercantil em cada aspecto da vida social.
Nesse contexto, Debord encarou os meios de comunicação de massa de sua época —
televisão, rádio, cinema, publicidade e propaganda — como instrumentos especializados em
interferir nas instâncias subjetivas e no livre-arbítrio das pessoas e, uma vez
instrumentalizados pela racionalidade capitalista em favor das classes detentoras do poder
político-econômico, como fatores decisivos na sujeição das massas à ideologia dominante.
Objetivos
● Compreender o fenômeno das Fake News e seus efeitos na sociabilidade contemporânea
tomando como base teórica o pensamento crítico de Guy Debord;
● Apontar uma continuidade entre o fenômeno contemporâneo das Fake News e o conceito
de “sociedade do espetáculo”;
● Propor uma genealogia da noção de Fake News a partir da teoria crítica do espetáculo;
● Apresentar e divulgar a teoria crítica de Guy Debord, ressaltando a atualidade de seu
pensamento.
Metodologia
● Esta pesquisa possui cunho teórico e bibliográfico, se apoiando nas seguintes obras de Guy
Debord: A Sociedade do Espetáculo (1967) e Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo
(1988).
Referencial teórico: Guy Debord (1931 - 1994)
● Teórico, cineasta, agitador social.
Constituiu seu pensamento baseando-se
na teoria de Marx e nos projetos das
vanguardas artísticas europeias;
● Definiu o conceito de espetáculo — “o
reino autocrático da economia mercantil
[...] e o conjunto de novas técnicas que
acompanham esse reino” — como o
conceito-chave para o entendimento da
sociedade capitalista moderna;
● Principais obras: A Sociedade do
Espetáculo (1967) e Comentários sobre a
sociedade do espetáculo (1988).
Diagnóstico da sociedade capitalista moderna por
Debord (sociedade do espetáculo)
● Fetichismo da mercadoria atinge seu mais alto grau, a forma-imagem;
● Fusão entre os poderes político estatal e econômico;
● Novas formas de alienação: mídia, meios de comunicação de massa, publicidade e
propaganda, consumo, entretenimento;
● Indivíduos reduzidos à condição de espectadores passivos, consumidores das imagens
produzidas pela ordem estabelecida das classes dominantes;
● Perda da autenticidade da vida cotidiana, das relações diretamente vividas entre as pessoas
e de seu poder de decisão (as opções de escolha já são pré-definidas no momento da
produção das imagens/mercadorias;
● Sociedade do segredo generalizado: o espectador é sempre posto à parte dos
acontecimentos.
A sociedade do espetáculo (1967)
● “Mas é certo que, no conjunto, esse movimento
de introdução das técnicas no cotidiano, sendo
finalmente enquadrado pela racionalidade do
capitalismo moderno burocratizado, atua mais no
sentido de uma redução da independência e da
criatividade das pessoas.” (DEBORD, 2003, p.
147)
● “O sistema econômico fundado no isolamento é
uma produção circular do isolamento. O
isolamento fundamenta a técnica;
reciprocamente, o progresso técnico isola. Do
automóvel à televisão, todos os bens
selecionados pelo sistema espetacular são
também suas armas para o reforço constante das
condições de isolamento das ‘multidões
solitárias’” (DEBORD, 1997, § 28).
Comentários sobre a sociedade do espetáculo
(1988)
● “O conceito, ainda novo, de desinformação é recém-importado da Rússia, como outras
invenções úteis à gestão dos Estados modernos. É sempre muito utilizado pelo poder,
ou por pessoas que detêm um fragmento de autoridade econômica ou política, para
manter o que está estabelecido [...] A desinformação não seria a simples negação de
um fato que convém às autoridades, ou a simples afirmação de um fato que não lhes
convém: isso se chama psicose. Ao contrário da pura mentira, a desinformação – e é
nisto que o conceito é interessante para os defensores da sociedade dominante – deve
fatalmente conter uma certa parte de verdade, mas deliberadamente manipulada por um
hábil inimigo. [...] Em suma, a desinformação seria o mau uso da verdade. Quem a
profere é culpado, e quem nela crê, imbecil.” (DEBORD, 1997, p. 201-202).
Comentários sobre a sociedade do espetáculo
(1988)
● “Nunca foi possível mentir com tão
perfeita ausência de consequências. O
espectador é suposto ignorante de tudo,
não merecedor de nada. Quem fica
sempre olhando, para saber o que vem
depois, nunca age: assim deve ser o bom
espectador” (DEBORD, 1997, p. 183).
Considerações finais
● Como resultado parcial, este trabalho atesta que o principal método de alienação social e
política contemporânea conhecido como Fake News, potencializado pela mecânica das
redes sociais, é resultante do mesmo processo apontado pela teoria do espetáculo, isto é, do
desenvolvimento incessante do capitalismo tardio, de suas técnicas de governo — com
ênfase para a técnica de “desinformação” — e de seus efeitos na vida social: a atomização
dos indivíduos na sociedade, a perda dos laços comunitários e substituição destes pela
relação ilusória das pessoas com as imagens/mercadorias, a passividade e a inconsciência
generalizada entre os “espectadores” decorrentes desse processo.
Referências bibliográficas
● DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo.
Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
● _____. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. In DEBORD, Guy. A sociedade do
espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Tradução de Estela dos Santos
Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
● _____. Perspectivas de modificação conscientes na vida cotidiana. In: JACQUES, Paola
Berenstein (Org.). Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Tradução de
Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, p. 143-152.
Agradecimentos
Ao Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará, pela
oportunidade em fazer parte de seu corpo discente.
À Funcap, pelo apoio financeiro por meio de bolsa-auxílio que possibilitou minha dedicação
exclusiva à pesquisa aqui apresentada.

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Fake News e a sociedade do espetáculo segundo Debord

  • 1. Fake News e Sociedade do Espetáculo Compreendendo os métodos de alienação contemporânea a partir do pensamento de Guy Debord XV Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação / Encontros Universitários 2022 Autor: Inácio José de Araújo da Costa Orientador: Prof. Dr. Eduardo Ferreira Chagas
  • 2. Introdução ● As implicações sociais advindas da introdução de novas tecnologias de comunicação na vida cotidiana é uma das problemáticas abordadas pelo pensamento crítico de Guy Debord (1931 – 1994). Para o teórico marxista francês, o desenvolvimento autônomo e descontrolado da economia capitalista levou a um agravamento da alienação e do fetichismo nas relações humanas. O espetáculo, conceito central de sua teoria social, descreve o momento no qual os indivíduos se tornam socialmente passivos e inconscientes dos acontecimentos ao seu redor como consequência da infiltração da lógica mercantil em cada aspecto da vida social. Nesse contexto, Debord encarou os meios de comunicação de massa de sua época — televisão, rádio, cinema, publicidade e propaganda — como instrumentos especializados em interferir nas instâncias subjetivas e no livre-arbítrio das pessoas e, uma vez instrumentalizados pela racionalidade capitalista em favor das classes detentoras do poder político-econômico, como fatores decisivos na sujeição das massas à ideologia dominante.
  • 3. Objetivos ● Compreender o fenômeno das Fake News e seus efeitos na sociabilidade contemporânea tomando como base teórica o pensamento crítico de Guy Debord; ● Apontar uma continuidade entre o fenômeno contemporâneo das Fake News e o conceito de “sociedade do espetáculo”; ● Propor uma genealogia da noção de Fake News a partir da teoria crítica do espetáculo; ● Apresentar e divulgar a teoria crítica de Guy Debord, ressaltando a atualidade de seu pensamento.
  • 4. Metodologia ● Esta pesquisa possui cunho teórico e bibliográfico, se apoiando nas seguintes obras de Guy Debord: A Sociedade do Espetáculo (1967) e Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo (1988).
  • 5. Referencial teórico: Guy Debord (1931 - 1994) ● Teórico, cineasta, agitador social. Constituiu seu pensamento baseando-se na teoria de Marx e nos projetos das vanguardas artísticas europeias; ● Definiu o conceito de espetáculo — “o reino autocrático da economia mercantil [...] e o conjunto de novas técnicas que acompanham esse reino” — como o conceito-chave para o entendimento da sociedade capitalista moderna; ● Principais obras: A Sociedade do Espetáculo (1967) e Comentários sobre a sociedade do espetáculo (1988).
  • 6. Diagnóstico da sociedade capitalista moderna por Debord (sociedade do espetáculo) ● Fetichismo da mercadoria atinge seu mais alto grau, a forma-imagem; ● Fusão entre os poderes político estatal e econômico; ● Novas formas de alienação: mídia, meios de comunicação de massa, publicidade e propaganda, consumo, entretenimento; ● Indivíduos reduzidos à condição de espectadores passivos, consumidores das imagens produzidas pela ordem estabelecida das classes dominantes; ● Perda da autenticidade da vida cotidiana, das relações diretamente vividas entre as pessoas e de seu poder de decisão (as opções de escolha já são pré-definidas no momento da produção das imagens/mercadorias; ● Sociedade do segredo generalizado: o espectador é sempre posto à parte dos acontecimentos.
  • 7. A sociedade do espetáculo (1967) ● “Mas é certo que, no conjunto, esse movimento de introdução das técnicas no cotidiano, sendo finalmente enquadrado pela racionalidade do capitalismo moderno burocratizado, atua mais no sentido de uma redução da independência e da criatividade das pessoas.” (DEBORD, 2003, p. 147) ● “O sistema econômico fundado no isolamento é uma produção circular do isolamento. O isolamento fundamenta a técnica; reciprocamente, o progresso técnico isola. Do automóvel à televisão, todos os bens selecionados pelo sistema espetacular são também suas armas para o reforço constante das condições de isolamento das ‘multidões solitárias’” (DEBORD, 1997, § 28).
  • 8. Comentários sobre a sociedade do espetáculo (1988) ● “O conceito, ainda novo, de desinformação é recém-importado da Rússia, como outras invenções úteis à gestão dos Estados modernos. É sempre muito utilizado pelo poder, ou por pessoas que detêm um fragmento de autoridade econômica ou política, para manter o que está estabelecido [...] A desinformação não seria a simples negação de um fato que convém às autoridades, ou a simples afirmação de um fato que não lhes convém: isso se chama psicose. Ao contrário da pura mentira, a desinformação – e é nisto que o conceito é interessante para os defensores da sociedade dominante – deve fatalmente conter uma certa parte de verdade, mas deliberadamente manipulada por um hábil inimigo. [...] Em suma, a desinformação seria o mau uso da verdade. Quem a profere é culpado, e quem nela crê, imbecil.” (DEBORD, 1997, p. 201-202).
  • 9. Comentários sobre a sociedade do espetáculo (1988) ● “Nunca foi possível mentir com tão perfeita ausência de consequências. O espectador é suposto ignorante de tudo, não merecedor de nada. Quem fica sempre olhando, para saber o que vem depois, nunca age: assim deve ser o bom espectador” (DEBORD, 1997, p. 183).
  • 10. Considerações finais ● Como resultado parcial, este trabalho atesta que o principal método de alienação social e política contemporânea conhecido como Fake News, potencializado pela mecânica das redes sociais, é resultante do mesmo processo apontado pela teoria do espetáculo, isto é, do desenvolvimento incessante do capitalismo tardio, de suas técnicas de governo — com ênfase para a técnica de “desinformação” — e de seus efeitos na vida social: a atomização dos indivíduos na sociedade, a perda dos laços comunitários e substituição destes pela relação ilusória das pessoas com as imagens/mercadorias, a passividade e a inconsciência generalizada entre os “espectadores” decorrentes desse processo.
  • 11. Referências bibliográficas ● DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. ● _____. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. In DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. ● _____. Perspectivas de modificação conscientes na vida cotidiana. In: JACQUES, Paola Berenstein (Org.). Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, p. 143-152.
  • 12. Agradecimentos Ao Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará, pela oportunidade em fazer parte de seu corpo discente. À Funcap, pelo apoio financeiro por meio de bolsa-auxílio que possibilitou minha dedicação exclusiva à pesquisa aqui apresentada.