O óleo essencial de limão apresentou efeitos sedativos e anticonvulsivantes em camundongos, reduzindo a atividade locomotora e a coordenação motora. Ele retardou as convulsões induzidas quimicamente e protegeu os animais, possivelmente ativando os receptores GABA no cérebro.
1. [Limão Siciliano 013.02]
Óleo essencial: Citrus limon
Composto: Limoneno, acetato de geranil e trans-limoneno-óxido
Título: Avaliação do efeito do óleo essencial de Citrus limon (L.) (Burm) no
sistema nervoso central de camundongos.
Autor: Campelo, L.M.L, Feitosa, C.M e Freitas, R.M
Journal: Revista Brasileira de Farmacognosia
Vol (issue): 21 (4)
Ano: 2011
DOI: 10.1590/S0102-695X2011005000086
TAGs: Antidepressivo; Citrus limon; convulsão; sedativo; ansiolítico;
antinociceptivo; limão; uso oral; efeito anticonvulsivante; doenças
neurodegenerativas; depressão; ansiedade; estresse; limoneno; acetato de
geranil; trans-limoneno-óxido; atividade locomotora; atividade de coordenação
motora; Sistema Nervoso Central; doenças neurodegenerativas; diazepam;
flumazenil; antagonista do receptor seletivo benzodiazepínico (GABA-BZD);
atividade anticonvulsivante;
Sobre o artigo:
O limão (Citrus limon) apresenta muitas substâncias importantes como ácido
cítrico, ácido ascórbico, minerais e compostos fenólicos, como flavonóides.
Suas propriedades biológicas têm sido sempre associadas ao seu conteúdo de
vitamina C, contudo, foi recentemente demonstrado que os flavonóides e
outros nutrientes e não-nutrientes (vitaminas, minerais, fibras alimentares,
óleos essenciais e carotenóides) também desempenham um papel
fundamental nestas propriedades.
Portanto, seus efeitos na promoção da saúde, como obesidade, diabetes,
redução de lipídios no sangue, doenças cardiovasculares, distúrbios cerebrais
2. e certos tipos de cânceres, têm sido associados com seu conteúdo,
especialmente a vitamina C e os flavonóides, devido às suas características
antioxidantes naturais.
Algumas plantas medicinais são reconhecidas por causarem atividades no
Sistema Nervoso Central (SNC), e, para isso, são utilizadas para afecções
crônicas ligadas a este sistema, como ansiedade, depressão ou epilepsia, que
não reagem bem aos tratamentos convencionais.
Assim, o óleo essencial do C. limon pode possuir um papel modulador no
tratamento de doenças neurodegenerativas, uma vez que seus compostos
fenólicos podem interromper processos oxidativos celulares no SNC.
Portanto, os pesquisadores deste estudo buscaram avaliar os efeitos
anticonvulsivantes e depressores do Sistema Nervoso Central (SNC) do óleo
essencial de C. limon (OECL) em modelos animais.
A administração subcrônica do OECL (50, 100 e 150 mg/kg) por via oral
durante 30 dias em camundongos proporcionou a análise dos perfis gerais de
toxicidade (prostração, piloereção, contorções, aumento da evacuação,
grooming, sedação, dispnéia, analgesia e ptose palpebral), atividade
locomotora espontânea, atividade de coordenação motora (teste de Rota-Rod)
em comparação com o tratamento com diazepam (DZP).
Assim como também foi analisado o período de latência e a porcentagem de
inibição das convulsões induzidas ou a taxa de mortalidade 24h após a
administração de PTZ; e, por fim, foi investigado o efeito do flumazenil, um
antagonista do receptor seletivo benzodiazepínico GABAA (GABA-BZD), na
atividade anticonvulsivante do OECL.
Resultados:
1. Constituintes do óleo essencial de C. limon
3. A análise por GC-MS revelou uma mistura de monoterpenos, sendo limoneno
(52%), acetato de geranil (9%) e trans-limoneno-óxido (7%) os principais
constituintes (Tabela 1).
2. Efeitos Comportamentais
O OECL nas doses de 50, 100 e 150 mg/kg mostrou alterações
comportamentais nos animais durante 30 dias de tratamento, diminuindo a
atividade espontânea, ptose palpebral, ataxia, analgesia e sedação. Essas
mudanças comportamentais sugerem um possível efeito depressor sobre o
SNC e são semelhantes às drogas convencionais.
3. Atividade locomotora
Doses de 50, 100 ou 150 mg/kg de OECL administrado durante 30 dias
causaram uma diminuição de 28, 29 e 79% na atividade locomotora (número
de cruzamentos), quando comparado ao grupo controle, respectivamente
(Figura 2).
4. Figura 2: Efeitos do OECL (50, 100 e 150 mg/kg) ou diazepam (DZP, 2,0 mg/kg) na
atividade locomotora de camundongos. Os parâmetros obtidos foram o número total
de atividades de cruzamentos na gaiola. Os valores foram expressos como a média do
número de camundongos usados nos experimentos.
Podemos observar que na dose de 150 mg/kg do OECL administrado por 30
dias causou diminuição significativa de 57 e 56% na atividade locomotora,
quando comparado com OE50 e OE100, respectivamente (Figura 2).
Já o diazepam (2 mg/kg) causou diminuição de 81% na atividade locomotora
(número de cruzamentos), quando comparado ao grupo controle.
Esses resultados corroboram com a hipótese de que os óleos essenciais de C.
limon reduzem a atividade do SNC. Portanto, a redução da atividade
locomotora pode ser sugerida devido ao efeito inibitório do OECL no SNC ou
devido a uma atividade relaxante muscular, ambos indicando uma atividade
sedativa do OECL.
4. Coordenação motora (Teste Rota-rod)
Após administração da dose de 150 mg/kg de OECL durante 30 dias, foi
realizado o teste de coordenação motora, no qual pôde-se observar que o
tempo que os animais permaneceram sobre o aparelho Rota-rod foi
significativamente reduzido em 30% (Figura 3).
5. Figura 3: Tempo (s) observado sobre a barra giratória no teste do Rota-rod em
camundongos após o tratamento via oral com veículo (controle), óleo essencial de C.
limon (50, 100 e 150 mg/kg) ou DZP (2,0 mg/kg). A resposta motora foi registrada para
os 180 s seguintes o tratamento com a droga, e os valores foram expressos como a
média do número de camundongos usados nos experimentos.
Podemos observar que na dose de 150 mg/kg de OE administrado durante 30
dias causou diminuição significativa de 28 e 27% do tempo de permanência
dos animais sobre o aparelho Rota-rod, quando comparado com OE50 e
OE100, respectivamente (Figura 3).
Já o diazepam (2 mg/kg) causou redução de 56% do tempo de permanência
dos animais sobre o aparelho Rota-rod, quando comparado ao grupo controle.
Vale ressaltar que a incoordenação motora no teste do Rota-rod é
característica de uma droga que reduz a atividade do SNC, como ansiolíticos,
sedativos e hipnóticos.
5. Atividade anticonvulsivante
Os pesquisadores observaram que o PTZ induziu convulsões em 100% dos
camundongos no grupo controle. Porém, o OECL (50, 100 e 150 mg/kg)
administrado durante 30 dias retardou de forma significativa o início das
convulsões induzidas por PTZ.
O OECL (150 mg/kg) administrado durante 30 dias protegeu 85% dos
camundongos contra convulsão e reduziu em 60% a taxa de mortalidade
induzida por PTZ. Já para o diazepam (2 mg/kg), os pesquisadores observaram
6. que este protege totalmente os animais contra uma convulsão induzida por
PTZ.
De acordo com alguns autores, o PTZ pode estar exercendo seu efeito
convulsionante inibindo a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA) nos
receptores GABA-A.
O GABA é o principal neurotransmissor inibitório da epilepsia e, portanto, o
aumento da inibição da neurotransmissão do GABA atenua e melhora a
convulsão, respectivamente.
Portanto, sugere-se que o OECL impediu e retardou a ocorrência de
convulsões pela ativação da neurotransmissão “gabaérgica”.
A fim de determinar o papel do receptor GABA-BZD no efeito anticonvusivante
do OECL, foi utilizado o flumazenil (FLU), um antagonista específico dos
receptores benzodiazepínicos no complexo receptor GABA-BZD.
A administração de FLU (10 mg/kg) antagonizou o efeito do OECL (150 mg/kg)
administrado durante 30 dias e DZP (2 mg/kg) no prolongamento da latência da
convulsão.
Quando administrado, somente em altas doses, por via oral, o OECL (150
mg/kg) aumentou a latência para as convulsões e reduziu a taxa da
mortalidade quando comparado ao controle negativo (Tabela 3).
7. Portanto, os resultados observados nos camundongos pré-tratados com FLU
no modelo de convulsão induzida por PTZ, sugerem que o OECL pode facilitar
a atividade inibitória do sistema GABAérgico, provavelmente por meio de uma
ação agonista competitiva nos receptores GABA.
Na prática:
Um OE completo! Os pesquisadores deste estudo demonstraram que o óleo
essencial de Citrus limon tem efeito anticonvulsionante e depressor do sistema
nervoso central, provavelmente por meio de uma ação agonista competitiva
nos receptores GABA, sugerindo seu potencial uso contra doenças
neurológicas.