Terremotos ocorrem devido ao movimento de placas tectônicas e podem causar grandes danos e mortes. O Japão é bem preparado para terremotos, com edifícios projetados para absorver vibrações e treinamentos populares. Experiências japonesas deveriam ser adotadas globalmente para reduzir riscos de desastres naturais.
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COMO LIDAR COM TERREMOTOS COMO O OCORRIDO
RECENTEMENTE NA TURQUIA E NA SÍRIA
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo mostrar como lidar com terremotos como o ocorrido
recentemente na Turquia e na Síria cujo número de mortos ultrapassa 11 mil em
08/02/2023. As proposições e conclusões deste artigo estão baseadas na análise do
Capítulo 3 do livro A Humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência
publicado pela Editora Dialética de São Paulo em 2021 e do Capítulo 7 do livro A
escalada da Ciência e da Tecnologia ao longo da história publicado pela Editora CRV
de Curitiba em 2022 de autoria do Engenheiro e Professor Fernando Alcoforado que
apresentaram as estratégias capazes de salvar a humanidade de catástrofes naturais
provocadas por terremotos, tsunamis e erupções de vulcões.
Os tremores, sismos ou terremotos, como são mais conhecidos, são vibrações na camada
externa da Terra causadas por fenômenos que acontecem no interior do nosso planeta. Os
abalos sísmicos podem ocorrer por atividades vulcânicas, pela movimentação das placas
tectônicas e por desmoronamentos da estrutura interna da Terra. Em todos os casos,
acumula-se uma imensa quantidade de energia, levando a Terra a tremer. As placas
tectônicas são algumas partes que compõem a crosta terrestre. São identificadas 28 placas
tectônicas na Terra (Figura 1).
Figura 1- Placas tectônicas do planeta Terra
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Placa_tect%C3%B3nica
As placas tectônicas são classificadas em três grupos. As maiores placas tectônicas são a
Norte-Americana, a Euroasiática, a Australiana, a Africana, a Antártica, a do Pacífico e a
Sul-Americana, onde se localiza o Brasil. As placas secundárias são as de Cocos, a das
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Caraíbas, a de Nazca, a Filipina, a Arábica, de Anatólia, a da Escócia e a Juan de Fuca.
As demais são classificadas como microplacas. A maior incidência de terremotos ao redor
do planeta está nas fronteiras entre as placas tectônicas. As fronteiras entre as grandes
placas e as placas secundárias marcam os pontos de maior risco de terremotos no planeta.
De todos terremotos registrados pela humanidade, aproximadamente 90% deles se
distribuem nestas longas fronteiras entre as placas. Eles acontecem quando há um choque
entre as placas. Quanto maior a velocidade com que a placa se movimenta mais grave
será o abalo sísmico.
As regiões de maior risco de terremotos estão localizadas nas fronteiras das placas
tectônicas na costa americana do Oceano Pacífico, do Chile ao Canadá, e no Japão.
Também são regiões de risco a Ásia Central (do Himalaia ao Irã) e o Mediterrâneo
(Marrocos, Argélia e Turquia). Os cincos terremotos mais fortes já registrados no mundo
até hoje foram os da Península de Kamchatka na Rússia em 1952, Valdívia no Chile em
1960, Alasca nos Estados Unidos em 1964, Ilha de Sumatra na Indonésia em 2004 e
Península de Oshika no Japão em 2011. O terremoto mais forte da história foi, entretanto,
o de Shensi, na China, ocorrido no ano de 1556 e que deixou um rastro de incríveis 830
mil mortos.
O Mapa a seguir mostra as áreas do planeta mais susceptíveis a terremotos:
Figura 2- As regiões com maior risco de terremotos no mundo
Fonte: U. S. GEOLOGICAL SURVEY (Em vermelho, as regiões com maior risco de
terremotos e, em branco, as de menor risco).
Catástrofes naturais provocadas por terremotos, tsunamis e erupções de vulcões têm
contribuído para a ocorrência de mortes de populações e destruição de edificações e
infraestruturas de muitos países. À exceção do Japão que adota medidas avançadas de
prevenção e precaução contra terremotos e tsunamis, a humanidade continua à mercê
dessas catástrofes naturais pela falta de previsão da ocorrência desses eventos, de planos
de evacuação de populações das áreas afetadas e de medidas de prevenção e precaução
para fazerem frente às catástrofes provocadas por terremotos, tsunamis e erupções
vulcânicas.
Um país bastante avançado nas ações de prevenção e de precaução contra terremotos é o
Japão que é considerado o país melhor preparado para enfrentar terremotos. O território
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japonês está localizado em uma área sísmica e é por isso que o país tem tantos vulcões,
alguns ainda ativos. Este, também, é o motivo de o Japão ser uma região bastante afetada
por terremotos e tsunamis. Estes são eventos que acontecem em intensidades diferentes.
O terremoto de grandes proporções mais recente foi em 2011, que atingiu a costa nordeste
do Japão, com o tsunami que devastou a região de Fukushima e causou o acidente nuclear.
Essas atividades provocadas pela natureza são muito frequentes no país, acontecem quase
diariamente, a maior parte delas em escala muito menor. Muitas vezes, pequenos tremores
ocorrem e as pessoas nem os percebem. Com este cenário, o Japão está constantemente
monitorando os terremotos e possui diversas medidas de prevenção e de precaução.
Ao longo dos anos, o Japão tem investido bilhões de dólares desenvolvendo novas
tecnologias que ajudem seus cidadãos e infraestruturas contra abalos e tsunamis. O fato
de o Japão estar situado no encontro de três placas tectônicas (Pacífico, Euroasiática
Oriental e das Filipinas) é a causa dos frequentes abalos sísmicos que o país enfrenta de
tempos em tempos. Basicamente, a movimentação e o choque entre essas placas é o que
provoca os abalos, assim como deslizamentos de terra e tsunamis. É por isso que o país
precisa investir em tecnologias anti-terremotos. Diante desse tremores, o Japão apresenta
estratégias para a redução de danos e proteção da população. Treinamentos de como agir
durante os terremotos são realizados gratuitamente pelo corpo de bombeiros em todo o
país. Esses treinamentos contribuem muito para a proteção dos japoneses, mas o
diferencial está na engenharia.
Os edifícios construídos no Japão apresentam em suas fundações um sistema de molas
para absorver os tremores. Nas junções entre as colunas (pilares) é colocado um material
especial que dissipa a energia quando a estrutura se movimenta em direções opostas.
Quando os edifícios estão muito próximos, uma mola é colocada entre eles para que não
ocorram eventuais choques. Em todos os andares, estruturas de aço internas nas paredes
ajudam a suportar o peso do prédio. Outra tecnologia importante é o uso de pêndulos para
amortecimento inercial. Uma esfera suspensa e pesada movimenta o prédio no sentido
contrário às vibrações ocasionadas pelo terremoto. Controlado eletronicamente, esse
mecanismo diminui as vibrações dos prédios em até 60%. O custo dessas tecnologias anti-
terremotos é elevado e apenas os prédios modernos as apresentam. É por isso que o
governo japonês arca com uma porcentagem dos gastos para que edifícios antigos
consigam se adequar.
As altas tecnologias de engenharia civil desenvolvidas há anos pelos japoneses para
minimizar os prejuízos e mortes causados pelos desastres naturais são os motivos pelos
quais muitos prédios continuam de pé no Japão, que é considerado o país melhor
preparado para lidar com terremotos. Os prédios são concebidos como um elemento
dinâmico, já que estarão sempre sujeitos a movimentos em qualquer direção. Nos prédios
são instalados amortecedores eletrônicos que podem ser controlados à distância. Em
prédios mais simples são usados amortecedores de molas que funcionam de um jeito
parecido com a suspensão de veículos. Os engenheiros também colocam um material
especial para amortecer as junções entre as colunas (pilares), a laje e as estruturas de aço
que compõe cada andar. Esse material ajuda a dissipar a energia quando a estrutura se
movimenta em direções opostas. Assim o prédio não esmaga os andares intermediários.
Os japoneses aprendem desde cedo como se portar durante um terremoto, com
treinamentos frequentes que acontecem nos escritórios, nas escolas etc. As emissoras de
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TV e rádios do país têm a função de avisar com minutos de antecedência caso um grande
terremoto seja detectado. Assim as pessoas têm tempo de sair de casa e seguir para um
local seguro. As casas devem sempre estar preparadas para tremores menores. As
construções mais modernas já são feitas para resistir aos terremotos, com amortecedores
na fundação e outras tecnologias. Objetos pesados nunca ficam em locais altos ou que
possam cair facilmente e toda casa deve ter um kit de sobrevivência com água, comida e
lanterna para casos mais extremos. Durante os tremores a recomendação é se abrigar
debaixo de uma mesa para se proteger caso algo venha a cair. Logo em seguida, desligar
fogão, aquecedores e gás, tirar aparelhos elétricos da tomada e deixar a porta de entrada
aberta para garantir uma saída.
Se as pessoas estiverem no trem ou dentro de estabelecimentos comerciais, elas seguem
as instruções dos funcionários que são treinados para orientá-las nestas situações. Se
estiverem na rua, os japoneses procuram um local seguro e ficam longe de postes, muros
e prédios. O ideal é ficarem em uma área aberta como parques ou grandes praças. Em
regiões litorâneas, seguem para um local alto o mais afastado possível do mar, para se
protegerem em caso de tsunami. É preciso prestarem atenção após o tremor, pois abalos
secundários são bastante comuns. O principal é manter a calma durante o evento e seguir
as orientações. O Japão é um país muito preparado para essas situações. Por lei, toda
construção erguida a partir de 1981 no Japão precisa resistir a fortes terremotos. Prédios e
casas que foram construídas antes da lei são aconselhados a reforçar as estruturas. O governo
banca parte da reforma. O grande perigo está em casas antigas, muitas de madeira. Segundo
as estimativas, em Tóquio, depois de um terremoto de grandes proporções, vão morrer 23 mil
pessoas, 16 mil por causa do fogo. Além de frágeis, as casas antigas desabariam com mais
facilidade, interrompendo rotas de fuga em ruas estreitas.
O risco de o Brasil sofrer terremotos de grande escala é muito baixo. As chances de um
grande terremoto, como o que atingiu a Turquia e a Síria acontecer no Brasil são remotas
porque ele ocupa uma posição privilegiada por estar no centro de uma placa tectônica, a
Sul-americana, enquanto os grandes abalos ocorrem onde há o choque entre as placas
tectônicas. No Brasil são registrados terremotos, porém de pequena intensidade. No
Oceano Atlântico, há muitos terremotos, mas acontecem longe da costa e raramente
sentimos os reflexos. Eles são mais comuns em terremotos na Cordilheira dos Andes. No
Brasil, podem ser sentidos terremotos quando algum abalo sísmico tem como epicentro a
região dos Andes, como o Chile, o Peru e a Colômbia, que são os países onde acontecem
os maiores tremores na América do Sul. Em agosto de 2022, por exemplo, ocorreram 8
tremores de terra na costa do Rio Grande do Norte. Segundo a Rede Sismográfica
Brasileira, o maior evento teve magnitude 3.7 na escala Richter e chegou a ser sentido
pela população. Apesar disso, nessa magnitude, raramente este tremor causa danos. Os
maiores danos ocorrem com terremotos a partir de 6,1 e 6,9 na escala Richter que podem
ser destrutivos em áreas em torno de 100 km do epicentro. No caso dos tremores
classificados entre 7,0 e 7,9 na escala Richter, como o terremoto recente da Turquia e
Síria, sérios danos podem ser causados numa grande faixa. Os terremotos de 8 ou mais na
escala Richter podem causar danos graves em muitas áreas, mesmo que estejam a
centenas de quilômetros.
Nas condições atuais, não é possível prever a ocorrência de terremotos, mas é possível
adotar medidas de prevenção e de precaução para eliminar ou reduzir os danos por eles
provocados sobre as populações, edificações e infraestruturas como fazem os japoneses.
A experiência japonesa de prevenção e de precaução contra terremotos deveria ser
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difundida e adotada mundialmente, sobretudo, nos países onde há mais ocorrência de
terremotos no mundo. Em cada um desses países, deveriam ser montadas estruturas
voltadas para o monitoramento de terremotos e serem elaborados planos de evacuação de
populações em locais que possam ser atingidos por esses eventos catastróficos. Além
disso, é preciso que seja montada uma estrutura mundial, uma Organização Mundial de
Defesa Contra Catástrofes Naturais de abrangência global, similar à OMS (Organização
Mundial de Saúde) que tenha capacidade de coordenar tecnicamente as ações dos países
que enfrentem terremotos, tsunamis e erupção de vulcões cujas consequências tenham
abrangência local, regional e mundial e são devastadoras para milhares de vítimas como
as que registram atualmente na Turquia e na Síria.
* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário
(Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-
Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de
Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da
Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora
Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos
na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate
ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no
Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba,
2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV,
Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua
convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro
para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua
sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da
história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022)
e de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022).