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COMO CADA GOVERNANTE REAGIU A
PANDEMIAS, EPIDEMIAS E SURTOS.
HISTÓRIASUSA Importância do
Sistema Público de
Saúde brasileiro
>>> pag 16Gripe Espanhola
O vírus que matou mais do que a primeira Guerra
Mundial e tirou a vida de um Presidente do Brasil.
>>> pag 4
História das Vacinas
Como foi criada a primeira no Mundo,
assim como a distribuição no Brasil e os
movimentos contrários a vacinação.
>>> pag 12
OUTRO LADO DA
EDIÇÃO 1CORONAVÍRUS, H1N1, GRIPE ESPANHOLA, VACINAS E
H1N1 x
CoronavírusEntenda as principais diferenças das duas
pandemias e saiba porquê a economia não parou
em 2009 da mesma forma que agora.
>>> pag 6
PRODUÇÃO
DOUGLAS NUNES
REDAÇÃO
NUNES.DOUG@HOTMAIL.COM
CONTATO COMERCIAL
CONTATO@OUTROLADODAHISTORIA.COM
REDES SOCIAIS
TWITTER.COM/DOUGNUNES12
INSTAGRAM.COM/CANALOUTROLADODAHISTORIA
FACEBOOK.COM/CANALOUTROLADODAHISTORIA
SITE
OUTROLADODAHISTORIA.COM
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
2 INFO
GRIPE ESPANHOLA
Conheça a história da pandemia de 1918, que matou
mais do que a Guerra Mundial. PAG 4.
H1N1 X CORONAVÍRUS
Entenda porque tudo teve que parar agora e não foi
adotada a mesma postura 10 anos atrás. PAG 6.
PANDEMIAS ANTERIORES
Veja como cada governante reagiu a pandemias, epi-
demias e surtos durante os mandatos. PAG 8.
HISTÓRIA DAS VACINAS
Saiba como surgiu e quando chegaram ao Brasil, além
dos números de vidas salvas com a vacinação. PAG 12.
IMPORTÂNCIA DO SUS
A história da saúde pública até o surgimento do
Sistema único de saúde. PAG 16.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
3ÍNDICE
G R I P E E S PA N H O L A
O mundo hoje está preocupado com o Coronavírus, que já matou mais
de 20 mil pessoas e está espalhado em todos os continentes. Só que
quase um século atrás, em 1918, uma outra doença, que ficou conhe-
cida como gripe espanhola também foi letal. Relembrar este caso é
importante para compreender a gravidade da situação atual e evitar
cometer os mesmos erros.
	 No total matou mais de
50 milhões, embora algumas
public ações ap on tem u m
número ainda maior. De
q u a l q u e r f o r m a , t o d o s
tratam como uma quanti-
dade superior as devido a I
Guerra Mundial.
O risco da
aglomeração
	 Um caso que chama a
atenção é que em 28 de setem-
bro de 1918 foi organizado
um evento na Filadélfia, nos
Estados Unidos, com o obje-
tivo de arrecadar fundos
para as tropas americanas
que lutavam na I Guerra
Mundial.
	 O e v e n t o o c o r r e u
m e s m o c o m e s p e c i a l i s -
t a s d e s a ú d e r e c o m e n -
dando evitar aglomerações
de pessoas para retardar o
avanço da doença, o que foi
ignorado pelas autoridades
do Estado da Pensilvânia.
Cerca de 200 mil pessoas
foram as ruas e em menos de
uma semana depois a cidade
já registrava 4.500 mortes.
O número no local chegou a
12 mil no total. Nos Estados
Unidos inteiro foram cerca
de 675 mil.
	 P r i m e i r a m e n t e é
importante desfazer uma
confusão. A gripe espanhola
não surgiu na Espanha. Ela
só carrega este nome, pois
na época ocorria a I Guerra
Mundial e a Espanha era um
dos poucos países afetados
pela pandemia que tinha
posição neutra e com isso,
foi a primeira a divulgar
casos.
	 N o e n t a n t o , j á s e
sabia que a gripe existia nos
Estados Unidos e em outros
países da Europa, que escon-
diam os casos por estarem
envolvidas no conflito.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
4 PANDEMIA 1918
A Gripe Espanhola no
Brasil
	 O vírus chegou ao
Brasil também em setembro,
através de um navio vindo
da Europa e que desembar-
c o u p a s s a g e i r o s i n f e c t a-
d o s n o R e c i f e , S a l va d o r
e no Rio de Janeiro. Em
menos de um mês já exis-
tiam casos em todo o país,
deixando todos os hospi-
tais lotados. Até mesmo o
Presidente eleito Rodrigues
Alves foi infectado e não
só não escondeu os exames
como alguns fazem, como
também acabou morrendo
em janeiro do ano seguinte.
Todas as classes econômi-
c a s a c a b a r a m a t i n g i d a s ,
criando um cenário devas-
tador devido ao volume de
mortes em um curto período
de tempo.
	 Assim como hoje, na
ocasião também decidiram
fechar as escolas, comér-
c i o , t e a t r o s e c i n e m a s ,
além de proibir aglomera-
ções para evitar que o con-
t á g i o a u m e n t a s s e m u i t o
mais, porém, na época as
condições de comunicação,
de higiene e até hospitala-
res eram muito piores que as
atuais. Além disso, a decisão
d e i s o l a m e n t o d e m o r o u ,
pois na época também sub-
estimaram as notícias da
gripe espanhola no exterior.
	 S o m e n t e n a c i d a d e
de Rio de Janeiro foram
mais de 10 mil mortos, com
algumas publicações tra-
zendo números próximo a
15 mil. Chama a atenção,
p r i n c i p a l m e n t e , p o r q u e
i s s o r e p r e s e n t a va c e r c a
de 15% da população da
cidade. Além disso cerca
de 600 mil pessoas cheg-
aram a serem infectadas.
Em todo o Brasil, estima-
se que foram 35 mil mortes.
	 Entre as medidas para
amenizar os efeitos da crise
gerada pela pandemia, o
Presidente interino Delfim
Moreira baixa um decreto
que nenhum aluno repetiria
de ano em 1918. O deputado
Celso Bayma fez um decreto
ampliando em 15 dias o prazo
para pagamento das dívidas
que venciam no período
d a e p i d e m i a . A m e d i d a
era exatamente para evitar
que comerciantes decretas-
sem falência por não conse-
guirem honrar os compro-
missos devido ao período
em que ficassem fechados.
	 N a é p o c a t a m b é m
foram noticiados diversos
remédios como responsáveis
p e l a c u r a , m a s n e n h u m
deles foi realmente eficaz.
A r e c e i t a m a i s c u r i o s a
foi a de limão, alho e mel
c o m u p o u c o d e á l c o o l ,
o que acabou originando
a C a p i r i n h a , s e g u n d o o
I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e
Cachaça.
	 A g r i p e e s p a n h o l a
acabou desaparecendo ainda
no final de 2018, ocorrendo
poucos contágios em dezem-
bro, ou seja, quase três meses
após o seu inicio.
	 N ã o d á p a r a f a z e r
qualquer tipo de compa-
ração em relação a como
ficou a economia mundial
após a Gripe Espanhola,
p o is além da p an dem ia,
ocorreu também até aquele
a n o a P r i m e i r a G u e r r a
M u n d i a l e q u e t a m b é m
trouxe graves consequên-
cias para o mundo todo.
	 E v i d e n t e q u e h o j e
tudo está totalmente dife-
rente, que o vírus é outro
e que as condições médicas
e cientificas são bem mel-
hores, porém, não dá para
embarcarmos nos mesmos
erros do passado.
	 Não é possível que
correntes de whatsapp e
pessoas preocupadas apenas
com o lucro das empresas ou
quanto o PIB vai subir ou vai
cair tenham mais influência
que quem estuda o tema e
apresenta formas de reduz-
irmos o número de mortes.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
5
H 1N 1 X C O R O N AV ÍR U S
Por que a economia não parou com o H1N1 como agora com o
Coronavírus?
	 C o m o t u d o h o j e é
jogado em meio a um debate
p o l í t i c o , m u i t a s p e s s o a s
comparam o Coronavírus
com o H1N1, afinal, muitos
dos países tinham grupos
políticos diferentes no poder
em 2009 comparado com atu-
almente. Com isso, os apoia-
dores dos líderes atuais,
especialmente ao do Brasil
s e p e r g u n t a m o p o r q u ê
de parar tudo agora e não
terem defendido o mesmo
pouco mais de 10 anos atrás.
	 E m a b r i l d e 2 0 0 9
surgiu o H1N1, do vírus
influenza, que havia apa-
recido na Gripe Espanhola,
em 1918, mas desta vez com
um subtipo inédito. Ele foi
identificado primeiramente
no México e nos Estados
Unidos e após quatro meses
alcançou mais de 120 países.
Assim como o Coronavírus,
ele também era transmit-
ido pela tosse e espirros.
	 S ó q u e a p r i m e i r a
grande diferença está na
capacidade de transmissão.
Isso porque segundo dados
d a O r g a n i z a ç ã o M u n d i a l
d a S a ú d e ( O M S ) a p o n t a
que a capacidade de trans-
missão com H1N1 era de 1,2
a 1,6. Ou seja, se tivessem
10 pessoas infectadas este
número subiria para entre
12 e 16. Já o Coronavírus a
taxa é de 2,79, porém, alguns
estudos chegam a apontar 3.
Desta forma, com 10 pessoas
infectadas este número sobe
para entre 27 a 30, prati-
camente o dobro da H1N1.
Este volume tão rápido que
sobrecarrega os hospitais,
fazendo com que os sistemas
de saúde pelo Mundo entrem
em colapso, como está ocor-
rendo na Itália e na Espanha,
por exemplo. Isso porque
o C o r o n a v í r u s e x i g e 6 5
vezes mais hospitalizações.
	 A c o n t e c e q u e p i o r
ainda que o ritmo de con-
taminação está a letalidade.
Novamente de acordo com a
OMS, a taxa do Coronavírus
está entre 3,4%. No entanto,
algumas entidades consid-
eram que este número pode
estar elevado devido a falta
de testes em toda a popula-
ção. Ainda assim, a estima-
tiva é que a taxa esteja entre
0,5 a 1%, o que significa que
em cada 10.000 pessoas com
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
6 PANDEMIA 2009
Coronavírus morrem pelo
menos 50. Já o do H1N1 é
de 0,02%, ou seja, para cada
10.000 pessoas infectadas,
duas morrem.
	 Desta forma, simpli-
ficando, o Coronavírus tem
uma capacidade de trans-
missão duas vezes maior que
o H1N1 e mata 25 vezes mais.
	 Levando para números
gerais. Em 16 meses de pan-
demia de H1N1 ocorreram
493 mil casos e 18,6 mil
mortes. O do Coronavírus já
passou de 1 milhão de casos
e 50 mil mortes e a contagem
ainda está em crescimento
acelerado e não chegamos
sequer a seis meses. E só lem-
brando que este número só
ainda não está maior porque
praticamente todos os países
afetados estão em quaren-
tena há algumas semanas.
	 Outro ponto impor-
tante é que nenhuma pessoa
tem imunidade contra o Sars-
Cov-2. Ao contrário do H1N1,
que afetava menos idosos.
	 Pa r a c o m p l e t a r , a s
perspectivas por vacina para
a pandemia de 2009 eram
muito mais otimistas, porque
já havia uma vacina contra
o vírus influenza. Era então
uma questão de adaptar para
o novo subtipo, o que levou
cerca de 7 meses, enquanto
a do Coronavírus conta com
mais de 20 versões em desen-
v o l v i m e n t o , p o r é m , p r e -
cisarão de muitos mais testes
para garantir que funcionem
e também buscar formas de
produzir em larga quanti-
dade e com isso a previsão
é de que só fique pronta
cerca de 1 ano e meio após o
começo do surto.
	 Além disso é um erro
dizer que nada foi feito.
O b v i a m e n t e n ã o o c o r r e u
paralisações nas propor-
ções que estávamos vendo
agora, mas exatamente pelo
o que disse antes, o ritmo
de contaminação era muito
menor, porém, ainda assim,
atitudes semelhantes a atual
foram tomadas principal-
mente em algumas regiões
do México e dos Estados
Unidos, as que foram mais
atingidas. Até mesmo no
B r a s i l a v o l t a à s a u l a s
de julho de 2009 também
c h e g a r a m a s e r a d i a d a s .
Estes são os pontos princi-
pais da diferença, porém, o
mais importante é entender
que não é porque ambos
são vírus e são pandemias,
que deveremos esperar que
sejam tratados de forma
igual. Cada vírus, cada pan-
demia tem sua particulari-
dade e, portanto, cabe aos
especialistas apontar qual
a melhor forma de que isso
não se espalhe.
Coronavírus tem uma capacidade de transmissão
duas vezes maior que o H1N1 e mata 25 vezes mais.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
7
Oswaldo Cruz assume com a missão
de livrar o país de uma doença que já
havia matado mais de 60 mil pessoas,
sendo que 1000 somente em 1902 na
cidade do Rio de Janeiro, até então
capital federal.
C O M O C A D A G O V E R N A N T E
R E A G I U A PA N D E M I A S ,
E P I D E M I A S E S U R T O S
	 O Brasil já enfren-
t ou diversas doenças no
passado e muitas das vezes
com acertos e outras com
erros de quem lidera o país
e consequentemente a saúde
pública. A forma como cada
Presidente lidou com a situ-
ação foi determinante para
o aumento de casos ou para
controlar o problema.
Febre Amarela e Varíola
	 A primeira epidemia
que enfrentamos no período
da República foi a Febre
Amarela. Na verdade o prob-
lema já existia desde que
o Brasil era Colônia, com
relatos de casos no final do
século XVII, mas que retor-
nava com força na virada do
século XIX para o XX. O vírus
da doença era transmitido
pelo o Aedes Aegypti, o
mesmo vetor da dengue.
	 E o primeiro governo
a tomar medidas efetivas
contra a doença foi o de
Rodrigues Alves. Ele já havia
tido febre amarela e inclu-
sive perdeu uma das filhas
pelo mesmo motivo.
	 E l e e n t ã o n o m e i a
O s va l d o C r u z p a r a s e r
D i r e t o r - G e r a l d e S a ú d e
Pública. Que é uma função
q u e p o d e s e r c o n s i d -
erada semelhante a de um
Ministro da Saúde hoje, só
que na época não existia
a força de um Ministério,
nem a autonomia como em
tese deveria ter atualmente.
Oswaldo Cruz assume com
a missão de acabar com um
mal que já havia matado mais
de 60 mil pessoas, sendo que
1000 somente em 1902 na
cidade do Rio de Janeiro, até
então capital federal. O san-
itarista, que também ficou
conhecido pela campanha
de vacinação obrigatória
contra a varíola e que foi
responsável para erradicar
a doença, então cria uma
forte campanha de combate
a o s m o s q u i t o s . A l é m d e
equipes conhecidas como
mata-mosquitos que per-
corriam diariamente ruas e
casas, existia também multas
para donos de imóveis que
estivessem em condições
insalubres. Para conscien-
tizar a população também
foram distribuídos diver-
s o s f o l h e t o s e d u c a t i v o s .
	 A epidemia foi per-
dendo força, mas ressurge
na década de 20. Desta vez,
quem vai ser fundamental no
combate a Febre Amarela é
a Fundação Rockefeller. Ela
pertencia a John Rockefeller,
que chegou a ser o homem
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
8 POLÍTICA
mais rico do mundo, revolu-
cionando o setor do petróleo
e que usou parte da fortuna
com filantropia, principal-
mente em medicina, educa-
ção e pesquisas científicas,
através da sua Fundação. E
em 1923, o Governo Federal,
que tinha como Presidente
A r t u r B e r n a d e s f a z u m
convênio com esta funda-
ção, para cooperação em
p r o g r a m a s d e e r r a d i c a -
ção de endemias, como a
febre amarela e a malária.
	 Foi graças a isso, que
seria construído um labo-
ratório na Fiocruz para fab-
ricar a vacina para febre
a m a r e l a , p o d e n d o f i n a l -
mente controlar o número
de casos, que só seguem até
os dias de hoje devido ao
fato de nem todas as pessoas
serem vacinadas.
	 Além disso seguiram
também as campanhas
p a r a c o m b a t e a o
Aedes Aegypti
e em 1958,
a
Conferência Sanitaria Pan-
Americana havia declarado
que o Brasil estava livre do
mosquito.
Dengue
	 S ó q u e c o m o t o d o
mundo sabe, o Aedes aegypti
ressurgiu no Brasil, apa-
recendo primeiramente no
Pará, em 1967 e em seguida
no Maranhão. O governo
militar da época não demon-
strou condições de enfrentar
o problema e isso foi deter-
minante para o mosquito
então se espalhar por Natal,
Rio de Janeiro e foi alcan-
çando mais regiões no final
da década de 70 e de 80.
	 E m 1 9 8 1 f o i d o c u -
mentada a primeira epi-
demia de Dengue no Brasil,
o c o r r i d a e m R o r a i m a .
Em 1986 ocorrem no Rio
de Janeiro e em algumas
c i d a d e s d o N o r d e s t e .
	 Só que a primeira ação
mais efetiva de combate ao
problema foi só em 1996, no
Governo de Fernando
Henrique Cardoso,
q u a n d o f o i
l a n ç a d o
o
Programa de Erradicação
do Aedes aegypti, que tinha
c o m o o b j e t i v o r e p e t i r a
missão do passado, de acabar
com o mosquito. No entanto,
a missão se mostrou pouco
efetiva e os números de casos
aumentavam ano após ano,
chegando a 800 mil em 2002.
	 E m 2 0 0 3 , j á n o
Governo Lula, foi criado
então o Programa Nacional
d e C o n t r o l e d e D e n g u e ,
que tinha como principais
medidas o desenvolvimento
de campanhas de informação
e mobilização das pessoas e
o fortalecimento da vigilân-
cia para eliminar criadouros.
	 A c a m p a n h a e n t ã o
b a s i c a m e n t e a p o s t o u n a
conscientização da popu-
lação e até chegou a apre-
sentar redução nos anos
seguintes, porém, voltou a
disparar nos últimos cinco
anos e em 2019 foram mais
d e 1 . 5 0 0 . 0 0 0 c a s o s , u m
aumento de 488% em relação
a 2018, e com 782 mortes.
	 Para piorar o Aedes
A e g y p t i a i n d a t r a n s -
mite também a Zika e a
Chikungunya, que somadas
apresentaram mais de 142
mil casos em 2019,
com 95 mortes.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
9
Poliomielite
	 Embora existam reg-
istros de casos desde o final
do século XIX, a grande
epidemia de Poliomielite
ocorreu em 1953, quando
r e g i s t r o u u m c o e f i c i e n t e
de 21 casos a cada cem mil
habitantes. É causada pelo
poliovírus e pode infectar
por contato com fezes ou
secreções eliminadas pela
boca de pessoas doentes.
	 A p r i m e i r a va c i n a
c o n t r a a p o l i o m i e l i t e j á
existia desde 1950, mas não
chegou a ser utilizada no
Brasil na época por ser con-
siderada de alto custo. Ela
só foi distribuída pela saúde
pública em 1960, durante
o g o v e r n o d e J u s c e l i n o
Kubitschek. Foi ocorrendo
um aumento progressivo
das vacinações nos governos
que vieram em seguida, até
que em 1989 foi registrado
o último caso no Brasil.
Meningite
	 Uma grande epidemia
que ocorreu na Ditatura teve
uma forte censura para não
ser noticiada. A Meningite
começa a ter os primeiros
casos registrados em 1971,
mas era o começo do regime
militar e o governo enten-
dia que admitir a existên-
cia da epidemia seria prej-
udicial. Com isso, médicos
e i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s
f o r a m p r o i b i d o s d e c o n -
ceder entrevistas, enquanto
o alto escalão negava tudo.
	 A ve r d a d e s ó ve i o
à tona em 1974, quando o
Hospital Emílio Ribas, que
tinha 300 leitos estava com
1 . 2 0 0 p a c i e n t e s i n t e r n a -
dos. Naquela altura, eram
já 67 mil casos pelo país,
sendo que 40 mil somente
em São Paulo. O Governo
então teve que agir, sus-
pendendo aulas e fechando
alguns comércios em São
Paulo, além da desistência
da capital paulista de sediar
os Jogos Pan-Americanos
d e 1 9 7 5 . A i n d a a s s i m ,
somente naquele ano morre-
ram mais de 3 mil pessoas.
	 Só que mesmo assu-
mindo a doença, a Ditadura
seguiu censurando algumas
reportagens, inclusive uma
entrevista com o Ministro
da Saúde da época. A situ-
ação só foi controlada em
7 5 q u a n d o o c o r r e u u m a
c a m p a n h a d e va c i n a ç ã o .
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
10 POLÍTICA
Aids
	 Na década seguinte,
o Brasil viu uma nova epi-
demia, a de AIDS. O primeiro
caso foi registrado em São
Paulo, em 1980 e os números
foram aumentando daí em
diante sem que nada fosse
feito. A primeira medida foi
em 1986, no Governo Sarney,
com a criação do Programa
Nacional de DST e Aids
d o M i n i s t é r i o d a S a ú d e ,
porém, a atuação mesmo
só ocorre com a criação do
SUS, em 1988, e que tem
esta epidemia como pri-
meiro desafio, pois já eram
mais de 4 mil casos no país.
	 N o e n t a n t o , o
M i n i s t é r i o d a S a ú d e s e
recusou a comprar o pri-
meiro antirretroviral, ale-
g a n d o q u e o d i n h e i r o
deveria vir do Ministério
da Previdência. Com isso,
s o m e n t e e m 1 9 9 1 , c o m
Collor, o Brasil adquiriu e
anunciou a distribuição gra-
tuita de antirretrovirais, que
atuam no controle da multi-
plicação do vírus para que
ele não ataque o organismo.
	 A l g u n s a n o s m a i s
t a r d e , c o m F e r n a n d o
Henrique, m 1996, essa dis-
tribuição vira Lei, inclusive
com novos medicamentos e
no ano seguinte o Governo
cria uma Rede Nacional de
Laboratórios para o mon-
i t o r a m e n t o d e p a c i e n t e s
s o r o p o s i t i v o s . T rê s a n o s
depois, o país anunciava a
redução de mortes em 50%.
	 Durante os Governos de
Lula e Dilma, foram adicio-
nados novos medicamentos,
além de campanhas contra as
DST. Atualmente, segundo o
Ministério da Saúde cerca de
900 mil brasileiros têm HIV,
sendo que graças aos medica-
mentos mais da metade não
o transmite, assim como hoje
também conseguem ter uma
vida estável.
Gripe Espanhola e H1N1
	 O B r a s i l e n f r e n t o u
ainda outras duas epidemias,
mas que falei nas páginas
anteiores. Em 1918, foi a
Gripe Espanhola, que matou
mais de 35 mil pessoas. Na
ocasião, apesar de um certo
atraso, o Presidente Delfim
Moreira também decretou
o fechamento de escolas,
comércio, teatros e cinemas.
A epidemia acabou passando
em três meses e de ajuda a
p o p u l a ç ã o , o C o n g r e s s o
havia aprovado uma ampli-
a ç ã o d e 1 5 d i a s a p a r t i r
do fim da epidemia para
o pagamento das dívidas.
	 Já em 2009, ocorreu
a H1N1, conhecida como a
gripe suína, e que matou 2060
pessoas naquele ano. Circula
inclusive em muitas corren-
tes um vídeo em qual Lula,
que era Presidente na época
afirmou que “a gripe não é
do tamanho que ia ser”. No
entanto, a fala é recortada,
pois na frase seguinte ele
aponta que a gripe é grave,
mas que o Brasil estava
tomando cuidado para evitar
que ela se alastre. Além disso,
o momento em que faz esta
declaração, em maio daquele
ano, de fato, a H1N1 até
então apresentava números
bem menores, tanto que a
primeira morte no Brasil
ocorre somente em junho.
	 Até a própria OMS não
tinha certeza do tamanho
que a gripe poderia chegar
e pregava cautela com a
chegada do inverno, que
f o i r e a l m e n t e q u a n d o o
número de casos aumentou.
	 Ainda assim, ocorreu
uma grande campanha de
contenção do vírus, espe-
cialmente no controle dos
aeroportos para viagens que
vinham da América do Norte.
Outra medida adotada foi o
adiamento da volta as aulas,
ampliando as férias de julho
de escolas e universidades.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
11
C O M O S U R G I U A
VA C I N A
	 As vacinas são sub-
s t â n c i a s i n t r o d u z i d a s
no corpo para ativar o
sistema imunológico para
que o nosso organismo
combata vírus e bactérias
e evite o desenvolvimento
da doença. A Organização
Mundial da Saúde (OMS)
estima que cerca de 2
a 3 milhões de mortes
no mundo são evitadas
por causa da vacinação.
	 A primeira vacina
foi produzida no final
do século XVIII. O inglês
Edward Jenner estudou
o caso de pessoas que
t i v e r a m c o n t a t o c o m
varíola bovina e ficaram
imunes a doença na sua
f o r m a m a i s g r a v e , a
varíola humana. Naquele
mesmo ano, em 1796, ele
desenvolveu a vacina, com
concentrados do vírus da
varíola vaccínia (que era
referente a ser da vaca e
que deu origem ao nome).
As pessoas que recebiam
a vacina tinham febres
por alguns dias, mas logo
ficavam boas e imunes.
Vacinação no Brasil:
H i s t ó r i a e n ú m e r o s
	 No Brasil, a vacina
chegou em 1804, trazida
pelo marquês de Barbacena.
Somente 16 anos mais tarde
o país teria o primeiro mapa
a n u a l d e va c i n a ç ã o e m
massa. Só que foi no século
XX que passam a entrar de
vez na vida da maioria dos
brasileiros. Isso porque em
1904 ocorre a obrigatorie-
dade da vacinação contra
varíola, que gera a Revolta
da vacina, pelo números de
pessoas contrárias a esta
decisão.
REVOLTA DA VACINA
	 A revolta da Vacina
ocorreu de 10 a 16 de novem-
b r o d e 1 9 0 4 , n o R i o d e
Janeiro, que era a capital do
país naquela época , graças
a medida de Oswaldo Cruz
para erradicar a Varíola,
que é uma doença infecto-
contagiosa considerada uma
das mais cruéis e catastró-
ficas já existentes, matando
m a i s d e 3 0 0 m i l h õ e s d e
VA C I N A S : H I S T ÓR I A ,
I M P O R T ÂN C I A E D E B AT E
	 O mundo hoje está em desespero com a morte de
milhares de pessoas e outras milhares internadas. Tudo
isso por causa do Coronavírus, uma doença que ainda não
tem remédio e nem vacina. Agora se tudo isso ocorre por
uma doença, imagina um mundo se todas as outras que
vieram antes como Sarampo, Meningite, Poliomielite, Febre
Amarela e outras gripes não tivessem vacinas. Fazer esta
reflexão é fundamental porque até hoje ainda existe um
grupo grande de pessoas que é contra vacina.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
12 IMUNIZAÇÃO
pessoas pelo Mundo. Mais
do que a gripe espanhola,
a tuberculose e até mesmo
as duas Guerras Mundiais.
	 O vírus era transmit-
ido através das vias respira-
tórias, causando febre alta,
dor de cabeça, nas costas
e abatimento. Em seguida,
surgiam erupções vermel-
has pelo corpo, que depois
c a u s a va m c o c e i r a e d o r .
Não existia tratamento e
a sobrevivência dependia
da forma de varíola que a
p e s s o a a d q u i r i a . A m a i s
grave tinha 30% de letali-
dade, enquanto a menor, 1%.
	 No Brasil, Oswaldo
C r u z f o i e s c o l h i d o p e l o
Presidente Rodrigues Alves
para ser chefe da Diretoria
de Saúde Pública em março
de 1903 tendo como missão
acabar com as doenças que
dominavam a cidade e que
inclusive afastavam investi-
mentos, pois os estrangeiros
tinham medo de vir ao Brasil.
	 O sanitarista então
propôs que o governo criasse
uma Lei que obrigasse a
vacinação em todo o país.
Além de dar poderes às
autoridades sanitárias para
entrar nas casas das pessoas,
t a m b é m s e r i a m c r i a d a s
multas para quem se negasse
e a exigência da vacinação
para matrícula nas escolas
entre outras questões. Isso
gerou uma grande insatis-
fação nas pessoas, que acu-
saram a proposta de ferir a
liberdade a individual. A
manifestação também ocorria
por má informação. Estamos
falando de um período em
que não existia sequer rádio
e que a taxa de analfabetismo
era alta, chegando a 65%.
	 Só que além disso, do
mesmo jeito que existe teoria
da conspiração hoje do surg-
imento de uma doença para
determinado país ter vanta-
gem econômica, no passado
parte da população também
tinha medo que isso pudesse
s e r u m a e s t r a t é g i a p a r a
exterminar a população mais
pobre. E eles até tinham
porquê ter receio, afinal,
q u a n d o R o d r i g u e s A l ve s
chega ao poder ele tinha
como plano modernizar o
porto e remodelar a cidade.
A alegação era principal-
mente devido as condições
sanitárias da região, que pela
forma desregularizada que a
cidade cresceu, convivia com
muitas doen ças , fazen do
inclusive com que o Rio de
Janeiro ficasse conhecida
como a “Cidade Pestilenta”.
	 T i n h a u m p o u c o
disso, mas tinha também
um pouco da vontade dos
governantes de afastarem
do local a população mais
pobre, principalmente de
ex-escravos que se insta-
laram na região. Com isso
foram alargadas as ruas,
derrubando barracos e con-
s t r u i n d o a ve n i d a s , c o m o
a Av e n i d a R i o B r a n c o .
	 E p a r a c o m p l e t a r ,
e x i s t i a t a m b é m u m a a l a
militar e uma ala monar-
quista, que também dese-
javam retornar ao poder
e q u e s e a p r o v e i t a r a m
da situação também para
i n f l a m a r a p o p u l a ç ã o .
	 O f a t o é q u e p o r
estes três motivos, o povo
então se rebelou e ocor-
reram quebras de bondes,
d e p r e d a ç ã o d e e d i f í c i o s
e até ataques aos agentes
d e s a ú d e , r e s p o n s á v e i s
pela aplicação da vacina.
	 O g o v e r n o e n t ã o
reagiu com mais violência,
decretou estado de sítio,
suspendeu direitos consti-
tucionais. A revolta acabou
controlada, porém, foram 30
mortos durante a rebelião
e mais 110 feridos. Além
disso 1000 pessoas foram
detidas e 460 deportadas.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
13
A i n d a a s s i m , o g o ve r n o
decidiu revogar a obrigatoriedade
da vacina, mas manteve válida a
exigência do atestado de vacinação
para trabalho, viagem, matrícula
em escolas públicas e hospedagem
em hotéis. E teve como saldo pos-
itivo o fato do Rio de Janeiro ter
conseguido erradicar a varíola. De
3.500 mortes na cidade em 1904,
este número caiu para nove dois
anos depois.
	 Nos anos seguintes foram
aparecendo muitas outras vacinas,
trazendo números expressivos.
Na década de 1970, por exemplo,
tivemos 11.545 casos de polio-
mielite, a paralisia infantil, e que
graças a vacinação ela desapareceu
por completo em 1989. A coque-
luche em 1991 tinha incidência
de 10,6 por 100 mil habitantes e
depois despencou para 0,32 de
1991 para 1999. Os casos de difte-
ria caíram de 495 para 56 no mesmo
período. Já a de meningite eram
de 1.700 casos por ano em 1999 e
reduziu para 23. Resultados impor-
tantes e que salvaram a vida de
muitas pessoas. Na década de 80,
a morte por doenças mais comuns
para crianças de até cinco anos era
sarampo, poliomielite, rubéola,
síndrome da rubéola congênita,
meningite, tétano, que giravam
em torno 5.500 óbitos por ano em
média. Hoje são de apenas 50.
O Zé Gotinha foi criado em 1986, pelo
artista plástico Darlan Rosa, se tornando
símbolo da campanha que ajudou a erradi-
car a poliomielite. Anos depois passou a ser
utilizado para outras vacinas.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
14 IMUNIZAÇÃO
É também uma relação
direta entre o aumento da
cobertura e a redução das
taxas de mortalidade infan-
til, no grupo das crianças
menores de 1 ano. Entre
1997 e 2015, ela caiu de 31,9
por 1.000 nascidos vivos
para 13,8, de acordo com o
IBGE. Além disso, em 1930,
as doenças infeciosas e par-
a s i t á r i a s r e p r e s e n t a v a m
45,7% dos óbitos do Brasil.
Em 2010, o índice despen-
cou para 4,3%, de acordo
com o Ministério da Saúde.
	 Atualmente, o Brasil
é um dos países que oferece
o maior número de vacinas
à população, disponibili-
zando mais de 300 milhões
de doses anuais, com 26
vacinas, protegendo contra
P o l i o m i e l i t e , T é t a n o ,
C o q u e l u c h e , M e n i n g i t e ,
Sarampo, Rubéola, Caxumba,
Febre Amarela, Difteria,
Hepatite, Influenza, HPV e
contra a forma mais grave de
tuberculose.
Grupos Anti-vacina
	 Ainda assim existem
m u i t a s p e s s o a s q u e s ã o
contra as vacinas. Ao longo
da história já foram muitas
teorias, desde a questões
r e l i g i o s a s a a t é c r e n ç a s
que eram formas de exter-
minar a população. Só que
nos últimos anos isso foi
muito influenciada por uma
tese publicada na Revista
Lancet, em 1998 associando
a Tríplice viral ao autismo.
Alguns anos depois, desco-
briu-se que o médico autor
do artigo recebia pagamento
de advogados em processos
por compensação de danos
vacinais. Ou seja, ele levan-
tava uma teoria que poderia
ser usada no tribunal contra
as empresas e órgãos respon-
sáveis pela aplicação.
	 Ao longo desta desc-
oberta, diversas pesquisas
e estudos foram feitos para
provar que não existia qual-
quer ligação das vacinas com
o autismo e o artigo foi até
excluído, mas o estrago já
estava feito, pois resultou
em uma queda de vacinação e
resultando no ressurgimento
de algumas doenças que já
eram tratadas como errad-
icadas, como o Sarampo,
que teve aumento de casos
nos Estados Unidos, Europa
e B r a s i l . S o m e n t e a q u i
foram 10 mil casos em 2018.
	 Outra crítica feita é
que a obrigatoriedade ataca
as liberdades individuais.
No entanto, trata-se de lei.
Imagina você escolher não
pagar mais impostos porque
fere suas liberdades individ-
uais. Isso porque quando
você decide que o seu filho
não seja vacinado, não é só
ele que estará exposto, como
também crianças ao redor que
podem não ter alcançado a
idade certa para a vacinação.
	 No Brasil, uma pes-
q u i s a d o M i n i s t é r i o d a
Saúde em 2014 apontou que
a média de vacinação era
de 81,4%, porém, entre os
mais ricos era de 76,3%. O
fato do número da parcela
da renda mais alta ser infe-
r i o r , m e s m o t e n d o m a i s
acesso e recursos, mostra
que é exatamente a parcela
mais contra a vacinação.
	 E quem fala contra a
vacina não tem ideia do pro-
cesso burocrático que existe
para a aprovação de uma.
São diversas exigências reg-
ulatórias para garantir a
segurança e eficácia. O fab-
ricante tem que fazer aprox-
imadamente 500 testes de
controle de qualidade, em
um processo que costuma
levar em média cerca de 10
anos. Atualmente os órgãos
apontam que elas em alguns
casos causam apenas febres,
dores e vômitos.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
15
Em 2020, o SUS completa 30 anos de existência, tendo sido criado através da LEI nº
8.080, de 19 de setembro de 1990. Só que sua gestação na verdade foi feita ainda na assi-
natura da Constituição de 1988, que estipulava que “a saúde é direito de todos e dever
do Estado...”. Com isso o sistema deveria ser universal, sem cobrar nada, independente
de condição social e deveria ser sustentado pelos três níveis de governo – federal, estad-
ual e municipal.
A I M P O R T ÂN C I A D O S U S
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
16
DIREITO DE TODOS
A ideia era a criação de
um sistema que abrangesse
desde a saúde básica, pas-
sando pela atenção primária
e secundária, até a hospi-
tal de alta complexidade.
Atualmente, 3/4 dos mais
de 200 milhões de habitan-
tes são atendidos pelo SUS,
enquanto o outro 1/4 usa a
rede particular. Nós somos
o único com mais de 100
milhões de habitantes que
oferece este serviço gratuito.
	 Só que nem sempre
foi assim. Muitas gerações
não viveram um Brasil sem
SUS e muitas outras não
lembram como era antes
da criação do mesmo. Até
1990 não existia um setor
público a saúde. O acesso
era ligado a Previdência e
se dedicava apenas a trab-
alhadores formais, ou seja,
quem tinha carteira assi-
nada. Desta forma, a distri-
buição dos recursos para os
estados era de acordo com a
contribuição daquela região.
Além disso, quem não tinha
c a r t e i r a a s s i n a d a d e p e n-
dia de casas de caridade
ou hospitais universitários.
	 Para piorar, durante
o período do regime militar
algumas doenças como a
meningite e a dengue se
intensificaram e ocorreram
um aumento de epidemias
e da mortalidade infantil.
Isso era resultado do baixo
investimento no setor, que
correspondia a apenas 1%
do orçamento da União. Este
foi o primeiro choque de
realidade, no qual mostrou
q u e o c h a m a d o “ m i l a g r e
econômico”, estava longe de
trazer benefícios a popula-
ção, especialmente aos mais
pobres. Segundo a revista do
Centro Brasileiro de Estudos
da Saúde, de 1976, estima-se
que entre 1972 e 1976 mor-
reram 1.417.500 crianças de
causas evitáveis, associa-
das a falta de saneamento,
atendimento ou desnutrição.
	 U m a d a s m e d i d a s
p a r a r e s o l ve r a s i t u a ç ã o
foi a criação do INPS, que
unia todos os órgãos pre-
videnciários que funciona-
vam desde 1930, mas ainda
assim, somente o trabalha-
dor formal continuaria tendo
acesso a saúde. O Sistema,
assim como INAMPS, que foi
criado depois devido a crise
previdenciária, operava basi-
camente através de convênios
com a rede privada. Em 1978,
os 41 hospitais próprios do
I N A M P S f i z e r a m 2 5 3 m i l
i n t e r n a ç õ e s , e n q u a n t o d o
s e t o r p r i va d o , p a g o c o m
dinheiro público fez 6,28
m i l h õ e s d e i n t e r n a ç õ e s .
	 P o r t a n t o , p o r m a i s
que faltem recursos atual-
mente e tenhamos péssimos
governantes cuidando do
setor em diversas regiões,
comparando com o nosso
passado é um grande erro em
não valorizar o SUS, princi-
palmente porqee pouquís-
s i m o s p a í s e s d o M u n d o
possuem uma rede como o
SUS. Em locais como Estados
Unidos, Austrália e grande
parte da Europa o morador
local não tem atendimento
gratuito. Nestes lugares,
caso você passe mal na rua e
seja levado para uma clínica
ou hospital acordará com
uma dívida de algumas cen-
tenas ou milhares de dólares
e não importa se você tem
ou não condições de pagar.
Dos países mais populares,
apenas Reino Unido, França
e Canadá contam com um
sistema universal de saúde
parecido com o brasileiro.
	 At u a l m e n t e , t e m o s
próximo de 13% de desem-
pregados. Além dos mais de
40 milhões de trabalhadores
informais. População esta
que estaria completamente
desassistida, mesmo em meio
a pandemia,se ainda vigo-
rasse os sistemas de saúde
da ditadura ou de outros
p a í s e s d o m u n d o . D e s t a
forma, o que devemos fazer
é cobrar que o SUS receba os
investimentos necessários e
não permitir que políticos
destruam a sua existência
universal e gratuita.
O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0
17
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Como governantes reagiram a pandemias e a diferença entre H1N1 e coronavírus

  • 1. COMO CADA GOVERNANTE REAGIU A PANDEMIAS, EPIDEMIAS E SURTOS. HISTÓRIASUSA Importância do Sistema Público de Saúde brasileiro >>> pag 16Gripe Espanhola O vírus que matou mais do que a primeira Guerra Mundial e tirou a vida de um Presidente do Brasil. >>> pag 4 História das Vacinas Como foi criada a primeira no Mundo, assim como a distribuição no Brasil e os movimentos contrários a vacinação. >>> pag 12 OUTRO LADO DA EDIÇÃO 1CORONAVÍRUS, H1N1, GRIPE ESPANHOLA, VACINAS E H1N1 x CoronavírusEntenda as principais diferenças das duas pandemias e saiba porquê a economia não parou em 2009 da mesma forma que agora. >>> pag 6
  • 2. PRODUÇÃO DOUGLAS NUNES REDAÇÃO NUNES.DOUG@HOTMAIL.COM CONTATO COMERCIAL CONTATO@OUTROLADODAHISTORIA.COM REDES SOCIAIS TWITTER.COM/DOUGNUNES12 INSTAGRAM.COM/CANALOUTROLADODAHISTORIA FACEBOOK.COM/CANALOUTROLADODAHISTORIA SITE OUTROLADODAHISTORIA.COM O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 2 INFO
  • 3. GRIPE ESPANHOLA Conheça a história da pandemia de 1918, que matou mais do que a Guerra Mundial. PAG 4. H1N1 X CORONAVÍRUS Entenda porque tudo teve que parar agora e não foi adotada a mesma postura 10 anos atrás. PAG 6. PANDEMIAS ANTERIORES Veja como cada governante reagiu a pandemias, epi- demias e surtos durante os mandatos. PAG 8. HISTÓRIA DAS VACINAS Saiba como surgiu e quando chegaram ao Brasil, além dos números de vidas salvas com a vacinação. PAG 12. IMPORTÂNCIA DO SUS A história da saúde pública até o surgimento do Sistema único de saúde. PAG 16. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 3ÍNDICE
  • 4. G R I P E E S PA N H O L A O mundo hoje está preocupado com o Coronavírus, que já matou mais de 20 mil pessoas e está espalhado em todos os continentes. Só que quase um século atrás, em 1918, uma outra doença, que ficou conhe- cida como gripe espanhola também foi letal. Relembrar este caso é importante para compreender a gravidade da situação atual e evitar cometer os mesmos erros. No total matou mais de 50 milhões, embora algumas public ações ap on tem u m número ainda maior. De q u a l q u e r f o r m a , t o d o s tratam como uma quanti- dade superior as devido a I Guerra Mundial. O risco da aglomeração Um caso que chama a atenção é que em 28 de setem- bro de 1918 foi organizado um evento na Filadélfia, nos Estados Unidos, com o obje- tivo de arrecadar fundos para as tropas americanas que lutavam na I Guerra Mundial. O e v e n t o o c o r r e u m e s m o c o m e s p e c i a l i s - t a s d e s a ú d e r e c o m e n - dando evitar aglomerações de pessoas para retardar o avanço da doença, o que foi ignorado pelas autoridades do Estado da Pensilvânia. Cerca de 200 mil pessoas foram as ruas e em menos de uma semana depois a cidade já registrava 4.500 mortes. O número no local chegou a 12 mil no total. Nos Estados Unidos inteiro foram cerca de 675 mil. P r i m e i r a m e n t e é importante desfazer uma confusão. A gripe espanhola não surgiu na Espanha. Ela só carrega este nome, pois na época ocorria a I Guerra Mundial e a Espanha era um dos poucos países afetados pela pandemia que tinha posição neutra e com isso, foi a primeira a divulgar casos. N o e n t a n t o , j á s e sabia que a gripe existia nos Estados Unidos e em outros países da Europa, que escon- diam os casos por estarem envolvidas no conflito. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 4 PANDEMIA 1918
  • 5. A Gripe Espanhola no Brasil O vírus chegou ao Brasil também em setembro, através de um navio vindo da Europa e que desembar- c o u p a s s a g e i r o s i n f e c t a- d o s n o R e c i f e , S a l va d o r e no Rio de Janeiro. Em menos de um mês já exis- tiam casos em todo o país, deixando todos os hospi- tais lotados. Até mesmo o Presidente eleito Rodrigues Alves foi infectado e não só não escondeu os exames como alguns fazem, como também acabou morrendo em janeiro do ano seguinte. Todas as classes econômi- c a s a c a b a r a m a t i n g i d a s , criando um cenário devas- tador devido ao volume de mortes em um curto período de tempo. Assim como hoje, na ocasião também decidiram fechar as escolas, comér- c i o , t e a t r o s e c i n e m a s , além de proibir aglomera- ções para evitar que o con- t á g i o a u m e n t a s s e m u i t o mais, porém, na época as condições de comunicação, de higiene e até hospitala- res eram muito piores que as atuais. Além disso, a decisão d e i s o l a m e n t o d e m o r o u , pois na época também sub- estimaram as notícias da gripe espanhola no exterior. S o m e n t e n a c i d a d e de Rio de Janeiro foram mais de 10 mil mortos, com algumas publicações tra- zendo números próximo a 15 mil. Chama a atenção, p r i n c i p a l m e n t e , p o r q u e i s s o r e p r e s e n t a va c e r c a de 15% da população da cidade. Além disso cerca de 600 mil pessoas cheg- aram a serem infectadas. Em todo o Brasil, estima- se que foram 35 mil mortes. Entre as medidas para amenizar os efeitos da crise gerada pela pandemia, o Presidente interino Delfim Moreira baixa um decreto que nenhum aluno repetiria de ano em 1918. O deputado Celso Bayma fez um decreto ampliando em 15 dias o prazo para pagamento das dívidas que venciam no período d a e p i d e m i a . A m e d i d a era exatamente para evitar que comerciantes decretas- sem falência por não conse- guirem honrar os compro- missos devido ao período em que ficassem fechados. N a é p o c a t a m b é m foram noticiados diversos remédios como responsáveis p e l a c u r a , m a s n e n h u m deles foi realmente eficaz. A r e c e i t a m a i s c u r i o s a foi a de limão, alho e mel c o m u p o u c o d e á l c o o l , o que acabou originando a C a p i r i n h a , s e g u n d o o I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e Cachaça. A g r i p e e s p a n h o l a acabou desaparecendo ainda no final de 2018, ocorrendo poucos contágios em dezem- bro, ou seja, quase três meses após o seu inicio. N ã o d á p a r a f a z e r qualquer tipo de compa- ração em relação a como ficou a economia mundial após a Gripe Espanhola, p o is além da p an dem ia, ocorreu também até aquele a n o a P r i m e i r a G u e r r a M u n d i a l e q u e t a m b é m trouxe graves consequên- cias para o mundo todo. E v i d e n t e q u e h o j e tudo está totalmente dife- rente, que o vírus é outro e que as condições médicas e cientificas são bem mel- hores, porém, não dá para embarcarmos nos mesmos erros do passado. Não é possível que correntes de whatsapp e pessoas preocupadas apenas com o lucro das empresas ou quanto o PIB vai subir ou vai cair tenham mais influência que quem estuda o tema e apresenta formas de reduz- irmos o número de mortes. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 5
  • 6. H 1N 1 X C O R O N AV ÍR U S Por que a economia não parou com o H1N1 como agora com o Coronavírus? C o m o t u d o h o j e é jogado em meio a um debate p o l í t i c o , m u i t a s p e s s o a s comparam o Coronavírus com o H1N1, afinal, muitos dos países tinham grupos políticos diferentes no poder em 2009 comparado com atu- almente. Com isso, os apoia- dores dos líderes atuais, especialmente ao do Brasil s e p e r g u n t a m o p o r q u ê de parar tudo agora e não terem defendido o mesmo pouco mais de 10 anos atrás. E m a b r i l d e 2 0 0 9 surgiu o H1N1, do vírus influenza, que havia apa- recido na Gripe Espanhola, em 1918, mas desta vez com um subtipo inédito. Ele foi identificado primeiramente no México e nos Estados Unidos e após quatro meses alcançou mais de 120 países. Assim como o Coronavírus, ele também era transmit- ido pela tosse e espirros. S ó q u e a p r i m e i r a grande diferença está na capacidade de transmissão. Isso porque segundo dados d a O r g a n i z a ç ã o M u n d i a l d a S a ú d e ( O M S ) a p o n t a que a capacidade de trans- missão com H1N1 era de 1,2 a 1,6. Ou seja, se tivessem 10 pessoas infectadas este número subiria para entre 12 e 16. Já o Coronavírus a taxa é de 2,79, porém, alguns estudos chegam a apontar 3. Desta forma, com 10 pessoas infectadas este número sobe para entre 27 a 30, prati- camente o dobro da H1N1. Este volume tão rápido que sobrecarrega os hospitais, fazendo com que os sistemas de saúde pelo Mundo entrem em colapso, como está ocor- rendo na Itália e na Espanha, por exemplo. Isso porque o C o r o n a v í r u s e x i g e 6 5 vezes mais hospitalizações. A c o n t e c e q u e p i o r ainda que o ritmo de con- taminação está a letalidade. Novamente de acordo com a OMS, a taxa do Coronavírus está entre 3,4%. No entanto, algumas entidades consid- eram que este número pode estar elevado devido a falta de testes em toda a popula- ção. Ainda assim, a estima- tiva é que a taxa esteja entre 0,5 a 1%, o que significa que em cada 10.000 pessoas com O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 6 PANDEMIA 2009
  • 7. Coronavírus morrem pelo menos 50. Já o do H1N1 é de 0,02%, ou seja, para cada 10.000 pessoas infectadas, duas morrem. Desta forma, simpli- ficando, o Coronavírus tem uma capacidade de trans- missão duas vezes maior que o H1N1 e mata 25 vezes mais. Levando para números gerais. Em 16 meses de pan- demia de H1N1 ocorreram 493 mil casos e 18,6 mil mortes. O do Coronavírus já passou de 1 milhão de casos e 50 mil mortes e a contagem ainda está em crescimento acelerado e não chegamos sequer a seis meses. E só lem- brando que este número só ainda não está maior porque praticamente todos os países afetados estão em quaren- tena há algumas semanas. Outro ponto impor- tante é que nenhuma pessoa tem imunidade contra o Sars- Cov-2. Ao contrário do H1N1, que afetava menos idosos. Pa r a c o m p l e t a r , a s perspectivas por vacina para a pandemia de 2009 eram muito mais otimistas, porque já havia uma vacina contra o vírus influenza. Era então uma questão de adaptar para o novo subtipo, o que levou cerca de 7 meses, enquanto a do Coronavírus conta com mais de 20 versões em desen- v o l v i m e n t o , p o r é m , p r e - cisarão de muitos mais testes para garantir que funcionem e também buscar formas de produzir em larga quanti- dade e com isso a previsão é de que só fique pronta cerca de 1 ano e meio após o começo do surto. Além disso é um erro dizer que nada foi feito. O b v i a m e n t e n ã o o c o r r e u paralisações nas propor- ções que estávamos vendo agora, mas exatamente pelo o que disse antes, o ritmo de contaminação era muito menor, porém, ainda assim, atitudes semelhantes a atual foram tomadas principal- mente em algumas regiões do México e dos Estados Unidos, as que foram mais atingidas. Até mesmo no B r a s i l a v o l t a à s a u l a s de julho de 2009 também c h e g a r a m a s e r a d i a d a s . Estes são os pontos princi- pais da diferença, porém, o mais importante é entender que não é porque ambos são vírus e são pandemias, que deveremos esperar que sejam tratados de forma igual. Cada vírus, cada pan- demia tem sua particulari- dade e, portanto, cabe aos especialistas apontar qual a melhor forma de que isso não se espalhe. Coronavírus tem uma capacidade de transmissão duas vezes maior que o H1N1 e mata 25 vezes mais. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 7
  • 8. Oswaldo Cruz assume com a missão de livrar o país de uma doença que já havia matado mais de 60 mil pessoas, sendo que 1000 somente em 1902 na cidade do Rio de Janeiro, até então capital federal. C O M O C A D A G O V E R N A N T E R E A G I U A PA N D E M I A S , E P I D E M I A S E S U R T O S O Brasil já enfren- t ou diversas doenças no passado e muitas das vezes com acertos e outras com erros de quem lidera o país e consequentemente a saúde pública. A forma como cada Presidente lidou com a situ- ação foi determinante para o aumento de casos ou para controlar o problema. Febre Amarela e Varíola A primeira epidemia que enfrentamos no período da República foi a Febre Amarela. Na verdade o prob- lema já existia desde que o Brasil era Colônia, com relatos de casos no final do século XVII, mas que retor- nava com força na virada do século XIX para o XX. O vírus da doença era transmitido pelo o Aedes Aegypti, o mesmo vetor da dengue. E o primeiro governo a tomar medidas efetivas contra a doença foi o de Rodrigues Alves. Ele já havia tido febre amarela e inclu- sive perdeu uma das filhas pelo mesmo motivo. E l e e n t ã o n o m e i a O s va l d o C r u z p a r a s e r D i r e t o r - G e r a l d e S a ú d e Pública. Que é uma função q u e p o d e s e r c o n s i d - erada semelhante a de um Ministro da Saúde hoje, só que na época não existia a força de um Ministério, nem a autonomia como em tese deveria ter atualmente. Oswaldo Cruz assume com a missão de acabar com um mal que já havia matado mais de 60 mil pessoas, sendo que 1000 somente em 1902 na cidade do Rio de Janeiro, até então capital federal. O san- itarista, que também ficou conhecido pela campanha de vacinação obrigatória contra a varíola e que foi responsável para erradicar a doença, então cria uma forte campanha de combate a o s m o s q u i t o s . A l é m d e equipes conhecidas como mata-mosquitos que per- corriam diariamente ruas e casas, existia também multas para donos de imóveis que estivessem em condições insalubres. Para conscien- tizar a população também foram distribuídos diver- s o s f o l h e t o s e d u c a t i v o s . A epidemia foi per- dendo força, mas ressurge na década de 20. Desta vez, quem vai ser fundamental no combate a Febre Amarela é a Fundação Rockefeller. Ela pertencia a John Rockefeller, que chegou a ser o homem O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 8 POLÍTICA
  • 9. mais rico do mundo, revolu- cionando o setor do petróleo e que usou parte da fortuna com filantropia, principal- mente em medicina, educa- ção e pesquisas científicas, através da sua Fundação. E em 1923, o Governo Federal, que tinha como Presidente A r t u r B e r n a d e s f a z u m convênio com esta funda- ção, para cooperação em p r o g r a m a s d e e r r a d i c a - ção de endemias, como a febre amarela e a malária. Foi graças a isso, que seria construído um labo- ratório na Fiocruz para fab- ricar a vacina para febre a m a r e l a , p o d e n d o f i n a l - mente controlar o número de casos, que só seguem até os dias de hoje devido ao fato de nem todas as pessoas serem vacinadas. Além disso seguiram também as campanhas p a r a c o m b a t e a o Aedes Aegypti e em 1958, a Conferência Sanitaria Pan- Americana havia declarado que o Brasil estava livre do mosquito. Dengue S ó q u e c o m o t o d o mundo sabe, o Aedes aegypti ressurgiu no Brasil, apa- recendo primeiramente no Pará, em 1967 e em seguida no Maranhão. O governo militar da época não demon- strou condições de enfrentar o problema e isso foi deter- minante para o mosquito então se espalhar por Natal, Rio de Janeiro e foi alcan- çando mais regiões no final da década de 70 e de 80. E m 1 9 8 1 f o i d o c u - mentada a primeira epi- demia de Dengue no Brasil, o c o r r i d a e m R o r a i m a . Em 1986 ocorrem no Rio de Janeiro e em algumas c i d a d e s d o N o r d e s t e . Só que a primeira ação mais efetiva de combate ao problema foi só em 1996, no Governo de Fernando Henrique Cardoso, q u a n d o f o i l a n ç a d o o Programa de Erradicação do Aedes aegypti, que tinha c o m o o b j e t i v o r e p e t i r a missão do passado, de acabar com o mosquito. No entanto, a missão se mostrou pouco efetiva e os números de casos aumentavam ano após ano, chegando a 800 mil em 2002. E m 2 0 0 3 , j á n o Governo Lula, foi criado então o Programa Nacional d e C o n t r o l e d e D e n g u e , que tinha como principais medidas o desenvolvimento de campanhas de informação e mobilização das pessoas e o fortalecimento da vigilân- cia para eliminar criadouros. A c a m p a n h a e n t ã o b a s i c a m e n t e a p o s t o u n a conscientização da popu- lação e até chegou a apre- sentar redução nos anos seguintes, porém, voltou a disparar nos últimos cinco anos e em 2019 foram mais d e 1 . 5 0 0 . 0 0 0 c a s o s , u m aumento de 488% em relação a 2018, e com 782 mortes. Para piorar o Aedes A e g y p t i a i n d a t r a n s - mite também a Zika e a Chikungunya, que somadas apresentaram mais de 142 mil casos em 2019, com 95 mortes. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 9
  • 10. Poliomielite Embora existam reg- istros de casos desde o final do século XIX, a grande epidemia de Poliomielite ocorreu em 1953, quando r e g i s t r o u u m c o e f i c i e n t e de 21 casos a cada cem mil habitantes. É causada pelo poliovírus e pode infectar por contato com fezes ou secreções eliminadas pela boca de pessoas doentes. A p r i m e i r a va c i n a c o n t r a a p o l i o m i e l i t e j á existia desde 1950, mas não chegou a ser utilizada no Brasil na época por ser con- siderada de alto custo. Ela só foi distribuída pela saúde pública em 1960, durante o g o v e r n o d e J u s c e l i n o Kubitschek. Foi ocorrendo um aumento progressivo das vacinações nos governos que vieram em seguida, até que em 1989 foi registrado o último caso no Brasil. Meningite Uma grande epidemia que ocorreu na Ditatura teve uma forte censura para não ser noticiada. A Meningite começa a ter os primeiros casos registrados em 1971, mas era o começo do regime militar e o governo enten- dia que admitir a existên- cia da epidemia seria prej- udicial. Com isso, médicos e i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s f o r a m p r o i b i d o s d e c o n - ceder entrevistas, enquanto o alto escalão negava tudo. A ve r d a d e s ó ve i o à tona em 1974, quando o Hospital Emílio Ribas, que tinha 300 leitos estava com 1 . 2 0 0 p a c i e n t e s i n t e r n a - dos. Naquela altura, eram já 67 mil casos pelo país, sendo que 40 mil somente em São Paulo. O Governo então teve que agir, sus- pendendo aulas e fechando alguns comércios em São Paulo, além da desistência da capital paulista de sediar os Jogos Pan-Americanos d e 1 9 7 5 . A i n d a a s s i m , somente naquele ano morre- ram mais de 3 mil pessoas. Só que mesmo assu- mindo a doença, a Ditadura seguiu censurando algumas reportagens, inclusive uma entrevista com o Ministro da Saúde da época. A situ- ação só foi controlada em 7 5 q u a n d o o c o r r e u u m a c a m p a n h a d e va c i n a ç ã o . O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 10 POLÍTICA
  • 11. Aids Na década seguinte, o Brasil viu uma nova epi- demia, a de AIDS. O primeiro caso foi registrado em São Paulo, em 1980 e os números foram aumentando daí em diante sem que nada fosse feito. A primeira medida foi em 1986, no Governo Sarney, com a criação do Programa Nacional de DST e Aids d o M i n i s t é r i o d a S a ú d e , porém, a atuação mesmo só ocorre com a criação do SUS, em 1988, e que tem esta epidemia como pri- meiro desafio, pois já eram mais de 4 mil casos no país. N o e n t a n t o , o M i n i s t é r i o d a S a ú d e s e recusou a comprar o pri- meiro antirretroviral, ale- g a n d o q u e o d i n h e i r o deveria vir do Ministério da Previdência. Com isso, s o m e n t e e m 1 9 9 1 , c o m Collor, o Brasil adquiriu e anunciou a distribuição gra- tuita de antirretrovirais, que atuam no controle da multi- plicação do vírus para que ele não ataque o organismo. A l g u n s a n o s m a i s t a r d e , c o m F e r n a n d o Henrique, m 1996, essa dis- tribuição vira Lei, inclusive com novos medicamentos e no ano seguinte o Governo cria uma Rede Nacional de Laboratórios para o mon- i t o r a m e n t o d e p a c i e n t e s s o r o p o s i t i v o s . T rê s a n o s depois, o país anunciava a redução de mortes em 50%. Durante os Governos de Lula e Dilma, foram adicio- nados novos medicamentos, além de campanhas contra as DST. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde cerca de 900 mil brasileiros têm HIV, sendo que graças aos medica- mentos mais da metade não o transmite, assim como hoje também conseguem ter uma vida estável. Gripe Espanhola e H1N1 O B r a s i l e n f r e n t o u ainda outras duas epidemias, mas que falei nas páginas anteiores. Em 1918, foi a Gripe Espanhola, que matou mais de 35 mil pessoas. Na ocasião, apesar de um certo atraso, o Presidente Delfim Moreira também decretou o fechamento de escolas, comércio, teatros e cinemas. A epidemia acabou passando em três meses e de ajuda a p o p u l a ç ã o , o C o n g r e s s o havia aprovado uma ampli- a ç ã o d e 1 5 d i a s a p a r t i r do fim da epidemia para o pagamento das dívidas. Já em 2009, ocorreu a H1N1, conhecida como a gripe suína, e que matou 2060 pessoas naquele ano. Circula inclusive em muitas corren- tes um vídeo em qual Lula, que era Presidente na época afirmou que “a gripe não é do tamanho que ia ser”. No entanto, a fala é recortada, pois na frase seguinte ele aponta que a gripe é grave, mas que o Brasil estava tomando cuidado para evitar que ela se alastre. Além disso, o momento em que faz esta declaração, em maio daquele ano, de fato, a H1N1 até então apresentava números bem menores, tanto que a primeira morte no Brasil ocorre somente em junho. Até a própria OMS não tinha certeza do tamanho que a gripe poderia chegar e pregava cautela com a chegada do inverno, que f o i r e a l m e n t e q u a n d o o número de casos aumentou. Ainda assim, ocorreu uma grande campanha de contenção do vírus, espe- cialmente no controle dos aeroportos para viagens que vinham da América do Norte. Outra medida adotada foi o adiamento da volta as aulas, ampliando as férias de julho de escolas e universidades. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 11
  • 12. C O M O S U R G I U A VA C I N A As vacinas são sub- s t â n c i a s i n t r o d u z i d a s no corpo para ativar o sistema imunológico para que o nosso organismo combata vírus e bactérias e evite o desenvolvimento da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 2 a 3 milhões de mortes no mundo são evitadas por causa da vacinação. A primeira vacina foi produzida no final do século XVIII. O inglês Edward Jenner estudou o caso de pessoas que t i v e r a m c o n t a t o c o m varíola bovina e ficaram imunes a doença na sua f o r m a m a i s g r a v e , a varíola humana. Naquele mesmo ano, em 1796, ele desenvolveu a vacina, com concentrados do vírus da varíola vaccínia (que era referente a ser da vaca e que deu origem ao nome). As pessoas que recebiam a vacina tinham febres por alguns dias, mas logo ficavam boas e imunes. Vacinação no Brasil: H i s t ó r i a e n ú m e r o s No Brasil, a vacina chegou em 1804, trazida pelo marquês de Barbacena. Somente 16 anos mais tarde o país teria o primeiro mapa a n u a l d e va c i n a ç ã o e m massa. Só que foi no século XX que passam a entrar de vez na vida da maioria dos brasileiros. Isso porque em 1904 ocorre a obrigatorie- dade da vacinação contra varíola, que gera a Revolta da vacina, pelo números de pessoas contrárias a esta decisão. REVOLTA DA VACINA A revolta da Vacina ocorreu de 10 a 16 de novem- b r o d e 1 9 0 4 , n o R i o d e Janeiro, que era a capital do país naquela época , graças a medida de Oswaldo Cruz para erradicar a Varíola, que é uma doença infecto- contagiosa considerada uma das mais cruéis e catastró- ficas já existentes, matando m a i s d e 3 0 0 m i l h õ e s d e VA C I N A S : H I S T ÓR I A , I M P O R T ÂN C I A E D E B AT E O mundo hoje está em desespero com a morte de milhares de pessoas e outras milhares internadas. Tudo isso por causa do Coronavírus, uma doença que ainda não tem remédio e nem vacina. Agora se tudo isso ocorre por uma doença, imagina um mundo se todas as outras que vieram antes como Sarampo, Meningite, Poliomielite, Febre Amarela e outras gripes não tivessem vacinas. Fazer esta reflexão é fundamental porque até hoje ainda existe um grupo grande de pessoas que é contra vacina. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 12 IMUNIZAÇÃO
  • 13. pessoas pelo Mundo. Mais do que a gripe espanhola, a tuberculose e até mesmo as duas Guerras Mundiais. O vírus era transmit- ido através das vias respira- tórias, causando febre alta, dor de cabeça, nas costas e abatimento. Em seguida, surgiam erupções vermel- has pelo corpo, que depois c a u s a va m c o c e i r a e d o r . Não existia tratamento e a sobrevivência dependia da forma de varíola que a p e s s o a a d q u i r i a . A m a i s grave tinha 30% de letali- dade, enquanto a menor, 1%. No Brasil, Oswaldo C r u z f o i e s c o l h i d o p e l o Presidente Rodrigues Alves para ser chefe da Diretoria de Saúde Pública em março de 1903 tendo como missão acabar com as doenças que dominavam a cidade e que inclusive afastavam investi- mentos, pois os estrangeiros tinham medo de vir ao Brasil. O sanitarista então propôs que o governo criasse uma Lei que obrigasse a vacinação em todo o país. Além de dar poderes às autoridades sanitárias para entrar nas casas das pessoas, t a m b é m s e r i a m c r i a d a s multas para quem se negasse e a exigência da vacinação para matrícula nas escolas entre outras questões. Isso gerou uma grande insatis- fação nas pessoas, que acu- saram a proposta de ferir a liberdade a individual. A manifestação também ocorria por má informação. Estamos falando de um período em que não existia sequer rádio e que a taxa de analfabetismo era alta, chegando a 65%. Só que além disso, do mesmo jeito que existe teoria da conspiração hoje do surg- imento de uma doença para determinado país ter vanta- gem econômica, no passado parte da população também tinha medo que isso pudesse s e r u m a e s t r a t é g i a p a r a exterminar a população mais pobre. E eles até tinham porquê ter receio, afinal, q u a n d o R o d r i g u e s A l ve s chega ao poder ele tinha como plano modernizar o porto e remodelar a cidade. A alegação era principal- mente devido as condições sanitárias da região, que pela forma desregularizada que a cidade cresceu, convivia com muitas doen ças , fazen do inclusive com que o Rio de Janeiro ficasse conhecida como a “Cidade Pestilenta”. T i n h a u m p o u c o disso, mas tinha também um pouco da vontade dos governantes de afastarem do local a população mais pobre, principalmente de ex-escravos que se insta- laram na região. Com isso foram alargadas as ruas, derrubando barracos e con- s t r u i n d o a ve n i d a s , c o m o a Av e n i d a R i o B r a n c o . E p a r a c o m p l e t a r , e x i s t i a t a m b é m u m a a l a militar e uma ala monar- quista, que também dese- javam retornar ao poder e q u e s e a p r o v e i t a r a m da situação também para i n f l a m a r a p o p u l a ç ã o . O f a t o é q u e p o r estes três motivos, o povo então se rebelou e ocor- reram quebras de bondes, d e p r e d a ç ã o d e e d i f í c i o s e até ataques aos agentes d e s a ú d e , r e s p o n s á v e i s pela aplicação da vacina. O g o v e r n o e n t ã o reagiu com mais violência, decretou estado de sítio, suspendeu direitos consti- tucionais. A revolta acabou controlada, porém, foram 30 mortos durante a rebelião e mais 110 feridos. Além disso 1000 pessoas foram detidas e 460 deportadas. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 13
  • 14. A i n d a a s s i m , o g o ve r n o decidiu revogar a obrigatoriedade da vacina, mas manteve válida a exigência do atestado de vacinação para trabalho, viagem, matrícula em escolas públicas e hospedagem em hotéis. E teve como saldo pos- itivo o fato do Rio de Janeiro ter conseguido erradicar a varíola. De 3.500 mortes na cidade em 1904, este número caiu para nove dois anos depois. Nos anos seguintes foram aparecendo muitas outras vacinas, trazendo números expressivos. Na década de 1970, por exemplo, tivemos 11.545 casos de polio- mielite, a paralisia infantil, e que graças a vacinação ela desapareceu por completo em 1989. A coque- luche em 1991 tinha incidência de 10,6 por 100 mil habitantes e depois despencou para 0,32 de 1991 para 1999. Os casos de difte- ria caíram de 495 para 56 no mesmo período. Já a de meningite eram de 1.700 casos por ano em 1999 e reduziu para 23. Resultados impor- tantes e que salvaram a vida de muitas pessoas. Na década de 80, a morte por doenças mais comuns para crianças de até cinco anos era sarampo, poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, meningite, tétano, que giravam em torno 5.500 óbitos por ano em média. Hoje são de apenas 50. O Zé Gotinha foi criado em 1986, pelo artista plástico Darlan Rosa, se tornando símbolo da campanha que ajudou a erradi- car a poliomielite. Anos depois passou a ser utilizado para outras vacinas. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 14 IMUNIZAÇÃO
  • 15. É também uma relação direta entre o aumento da cobertura e a redução das taxas de mortalidade infan- til, no grupo das crianças menores de 1 ano. Entre 1997 e 2015, ela caiu de 31,9 por 1.000 nascidos vivos para 13,8, de acordo com o IBGE. Além disso, em 1930, as doenças infeciosas e par- a s i t á r i a s r e p r e s e n t a v a m 45,7% dos óbitos do Brasil. Em 2010, o índice despen- cou para 4,3%, de acordo com o Ministério da Saúde. Atualmente, o Brasil é um dos países que oferece o maior número de vacinas à população, disponibili- zando mais de 300 milhões de doses anuais, com 26 vacinas, protegendo contra P o l i o m i e l i t e , T é t a n o , C o q u e l u c h e , M e n i n g i t e , Sarampo, Rubéola, Caxumba, Febre Amarela, Difteria, Hepatite, Influenza, HPV e contra a forma mais grave de tuberculose. Grupos Anti-vacina Ainda assim existem m u i t a s p e s s o a s q u e s ã o contra as vacinas. Ao longo da história já foram muitas teorias, desde a questões r e l i g i o s a s a a t é c r e n ç a s que eram formas de exter- minar a população. Só que nos últimos anos isso foi muito influenciada por uma tese publicada na Revista Lancet, em 1998 associando a Tríplice viral ao autismo. Alguns anos depois, desco- briu-se que o médico autor do artigo recebia pagamento de advogados em processos por compensação de danos vacinais. Ou seja, ele levan- tava uma teoria que poderia ser usada no tribunal contra as empresas e órgãos respon- sáveis pela aplicação. Ao longo desta desc- oberta, diversas pesquisas e estudos foram feitos para provar que não existia qual- quer ligação das vacinas com o autismo e o artigo foi até excluído, mas o estrago já estava feito, pois resultou em uma queda de vacinação e resultando no ressurgimento de algumas doenças que já eram tratadas como errad- icadas, como o Sarampo, que teve aumento de casos nos Estados Unidos, Europa e B r a s i l . S o m e n t e a q u i foram 10 mil casos em 2018. Outra crítica feita é que a obrigatoriedade ataca as liberdades individuais. No entanto, trata-se de lei. Imagina você escolher não pagar mais impostos porque fere suas liberdades individ- uais. Isso porque quando você decide que o seu filho não seja vacinado, não é só ele que estará exposto, como também crianças ao redor que podem não ter alcançado a idade certa para a vacinação. No Brasil, uma pes- q u i s a d o M i n i s t é r i o d a Saúde em 2014 apontou que a média de vacinação era de 81,4%, porém, entre os mais ricos era de 76,3%. O fato do número da parcela da renda mais alta ser infe- r i o r , m e s m o t e n d o m a i s acesso e recursos, mostra que é exatamente a parcela mais contra a vacinação. E quem fala contra a vacina não tem ideia do pro- cesso burocrático que existe para a aprovação de uma. São diversas exigências reg- ulatórias para garantir a segurança e eficácia. O fab- ricante tem que fazer aprox- imadamente 500 testes de controle de qualidade, em um processo que costuma levar em média cerca de 10 anos. Atualmente os órgãos apontam que elas em alguns casos causam apenas febres, dores e vômitos. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 15
  • 16. Em 2020, o SUS completa 30 anos de existência, tendo sido criado através da LEI nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Só que sua gestação na verdade foi feita ainda na assi- natura da Constituição de 1988, que estipulava que “a saúde é direito de todos e dever do Estado...”. Com isso o sistema deveria ser universal, sem cobrar nada, independente de condição social e deveria ser sustentado pelos três níveis de governo – federal, estad- ual e municipal. A I M P O R T ÂN C I A D O S U S O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 16 DIREITO DE TODOS
  • 17. A ideia era a criação de um sistema que abrangesse desde a saúde básica, pas- sando pela atenção primária e secundária, até a hospi- tal de alta complexidade. Atualmente, 3/4 dos mais de 200 milhões de habitan- tes são atendidos pelo SUS, enquanto o outro 1/4 usa a rede particular. Nós somos o único com mais de 100 milhões de habitantes que oferece este serviço gratuito. Só que nem sempre foi assim. Muitas gerações não viveram um Brasil sem SUS e muitas outras não lembram como era antes da criação do mesmo. Até 1990 não existia um setor público a saúde. O acesso era ligado a Previdência e se dedicava apenas a trab- alhadores formais, ou seja, quem tinha carteira assi- nada. Desta forma, a distri- buição dos recursos para os estados era de acordo com a contribuição daquela região. Além disso, quem não tinha c a r t e i r a a s s i n a d a d e p e n- dia de casas de caridade ou hospitais universitários. Para piorar, durante o período do regime militar algumas doenças como a meningite e a dengue se intensificaram e ocorreram um aumento de epidemias e da mortalidade infantil. Isso era resultado do baixo investimento no setor, que correspondia a apenas 1% do orçamento da União. Este foi o primeiro choque de realidade, no qual mostrou q u e o c h a m a d o “ m i l a g r e econômico”, estava longe de trazer benefícios a popula- ção, especialmente aos mais pobres. Segundo a revista do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde, de 1976, estima-se que entre 1972 e 1976 mor- reram 1.417.500 crianças de causas evitáveis, associa- das a falta de saneamento, atendimento ou desnutrição. U m a d a s m e d i d a s p a r a r e s o l ve r a s i t u a ç ã o foi a criação do INPS, que unia todos os órgãos pre- videnciários que funciona- vam desde 1930, mas ainda assim, somente o trabalha- dor formal continuaria tendo acesso a saúde. O Sistema, assim como INAMPS, que foi criado depois devido a crise previdenciária, operava basi- camente através de convênios com a rede privada. Em 1978, os 41 hospitais próprios do I N A M P S f i z e r a m 2 5 3 m i l i n t e r n a ç õ e s , e n q u a n t o d o s e t o r p r i va d o , p a g o c o m dinheiro público fez 6,28 m i l h õ e s d e i n t e r n a ç õ e s . P o r t a n t o , p o r m a i s que faltem recursos atual- mente e tenhamos péssimos governantes cuidando do setor em diversas regiões, comparando com o nosso passado é um grande erro em não valorizar o SUS, princi- palmente porqee pouquís- s i m o s p a í s e s d o M u n d o possuem uma rede como o SUS. Em locais como Estados Unidos, Austrália e grande parte da Europa o morador local não tem atendimento gratuito. Nestes lugares, caso você passe mal na rua e seja levado para uma clínica ou hospital acordará com uma dívida de algumas cen- tenas ou milhares de dólares e não importa se você tem ou não condições de pagar. Dos países mais populares, apenas Reino Unido, França e Canadá contam com um sistema universal de saúde parecido com o brasileiro. At u a l m e n t e , t e m o s próximo de 13% de desem- pregados. Além dos mais de 40 milhões de trabalhadores informais. População esta que estaria completamente desassistida, mesmo em meio a pandemia,se ainda vigo- rasse os sistemas de saúde da ditadura ou de outros p a í s e s d o m u n d o . D e s t a forma, o que devemos fazer é cobrar que o SUS receba os investimentos necessários e não permitir que políticos destruam a sua existência universal e gratuita. O u t r o L a d o d a H i s t ó r i a | A b r i l 2 0 2 0 17