Este documento discute a teoria dos gêneros textuais de Bakhtin e propõe uma atividade em sala de aula com artigos de opinião. Primeiramente, apresenta os conceitos-chave de Bakhtin sobre gêneros textuais e sua relação com as esferas sociais. Em seguida, descreve uma sequência didática com estudantes do ensino fundamental que inclui a leitura e produção de artigos de opinião.
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Generos textuais
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ
RETOMADA/CONSOLIDAÇÃO (A PARTIR DA IDÉIA DE PROGRESSÃO EM
ESPIRAL) DAS DISCUSSÕES SOBRE A TEORIA DE GÊNEROS
TEXTUAIS/DISCURSIVOS
MACAPÁ-AP
DEZ/2007
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2. CHARLIE RITTER DE LIMA CARDOSO
MAURISÂNGELA DOS SANTOS NERES
RETOMADA/CONSOLIDAÇÃO (A PARTIR DA IDÉIA DE PROGRESSÃO EM
ESPIRAL) DAS DISCUSSÕES SOBRE A TEORIA DE GÊNEROS
TEXTUAIS/DISCURSIVOS
MACAPÁ-AP
DEZ/2007
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Trabalho apresentado à
Universidade Federal do Amapá
para fins avaliativos na disciplina
Produção de Textos II, do Curso de
Graduação em Letras, ministrada
pela Professora Adelma Barros-
Mendes.
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Compreende-se que se configuram gêneros textuais, à luz da teoria
bakhtiniana, as várias produções textuais circundantes na sociedade e que foram
sócio-historicamente produzidas a partir de necessidades, de atividades sócio-culturais
e de inovações tecnológicas, cada uma na sua esfera específica, chegando
a atingir o leitor que interage com uma ou outra das diversas esferas da
comunicação.
Uma tese de doutorado ou um artigo científico, por exemplo, requerem tanto
de quem os produz tanto do leitor que pretende interagir com eles um alto grau de
conhecimento acerca do assunto neles tratado, só assim ocorrerá aquilo a que
Bakhtin teorizou como atitude ativo/responsiva.
De acordo com Bakhtin os gêneros textuais discursivos circulam em mais
de uma esfera, podendo ser de linguagem mais simples como é o caso dos gêneros
cotidianos, a saber, receita de alimentos; talão de luz, água, telefone; bilhete, cartas
pessoais, ou nas produções de linguagem ou estilo mais formal onde a linguagem
não varia, como no caso dos gêneros da esfera burocrática (ofício, memorando),
esfera científica (teses, livros), esfera jornalística (jornal, charge).
Os elementos se definem a partir do assunto (tema) a ser tratado. Como
exemplo, podemos citar a política, a economia, a segurança, onde a forma de
composição pode variar de acordo com o estilo, pois esta é a forma de linguagem
utilizada para falar do tema ao leitor de tal esfera.
A estabilidade relativa dos gêneros textuais está diretamente ligada à
circulação de textos em várias esferas e estilos como, por exemplo: o tema
jornalístico falando de corrupção pode ser facilmente revertido ao estilo paródia,
satirizando tal atitude referente ao tema.
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Com o advento das inovações tecnológicas, sobretudo na escrita,
diversificou-se a transmissão das idéias e dos pensamentos. O que se dava quase
que exclusivamente pela oralidade, ampliou-se em virtude dos modos de transporte
e de fixação das mensagens, por exemplo, o rádio, a televisão e, hodiernamente, a
internet.
O processo de comunicação prescinde os diferentes suportes, que, embora
ainda em meio a controvérsias, de alguma forma, alteram, sim, um gênero textual.
Pode-se dizer que gênero e suporte se complementam. Um exemplo disso é a
conversa virtual (bate-papo), que por suas particularidades, sobretudo da rapidez
com que se tem que interagir no diálogo, promoveu verdadeiras inovações em
certas palavras, que passaram a apresentar formas típicas desse tipo de gênero. Se
se deseja escrever a palavra “você”, basta digitar “vc”; “axo” em vez de “acho”, “pq”
no lugar de “porque”, pois o internauta que tiver familiaridade com esse tipo de
gênero certamente compreenderá. Se esse mesmo internauta for escrever uma
carta familiar, é pouco provável que utilize as palavras nas formas acima
apresentadas.
Sabe-se que a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) traz
em seu bojo uma série de mudanças nas quais se percebe nitidamente a voz de
Bakhtin e que, uma vez engendradas, promoverão uma nova visão e,
consequentemente, uma nova postura em relação ao que se tem como ensino da
língua materna. Em síntese, os PCN’s colocam que, em vez de insistência nos
exercícios mecânicos e estruturados em frases soltas, de valorizar a gramática
normativa como única possibilidade de expressão da língua e de utilizar o texto
como pretexto, o ensino da Língua Portuguesa deveria priorizar a formação de
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sujeitos pensantes com competência para entender e se expressar nas diferentes
esferas sociais.
Justifica-se, então, desde o ensino fundamental, o trabalho com os
diferentes gêneros que circulam na sociedade. Segundo Marcushi (2001), vivencia-se
uma “explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação” na oralidade e
na escrita, sobretudo na atual fase da cultura eletrônica. Imersos num universo
textual, não se pode ficar alheio a este processo. Assim, o aluno, melhor ainda, o
cidadão precisa conhecer esse universo textual e interagir nele e com ele; precisa
saber que existem gêneros que emanam das esferas jornalística, escolar, religiosa,
literária, cientifica, publicitária, burocrática, cotidiana e artístico-cultural, cada um
com suas especificidades, atendendo a necessidade, a atividades sócio-culturais
repletas de intenções, não muito raras, sutilmente proferidas nos discursos.
Cada uma dessas esferas que compõem a sociedade produz, na sua
dinâmica, gêneros que apresentam características próprias referentes a estilo,
estrutura e intenção. Ao primeiro contato com um gênero de uma esfera com a qual
ainda não se tenha interagido, percebe-se uma limitação, principalmente, do pleno
exercício da cidadania. Com efeito, é grande, por exemplo, a parcela de pessoas
que não conhecem e não conhecerão a Lei Magna ou o Código de Defesa do
Consumidor por serem gêneros provenientes da esfera jurídica e apresentarem uma
linguagem típica e não-habitual da maioria da população.
Dessa forma, cabe também à escola, na qualidade de locus de ensino-aprendizagem
da língua materna, permitir a seus educandos o contato com os
diversos gêneros e, antes de tudo, construir com eles a competência comunicativa
para que possam interagir nas esferas sociais e ter uma postura crítico-reflexiva em
relação aos discursos nelas produzidos.
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Dentre os gêneros que deveriam penetrar no ambiente escola, mesmo no
ensino fundamental, este grupo vê no artigo de opinião um gênero que, devido sua
intenção de produção, estimula a argumentação e a postura crítica.
A atividade a seguir propõe um trabalho com artigos de opinião que poderia
ser elaborado com turmas de 5ª e 6ª séries do ensino fundamental.
Com base numa seqüência didática, o primeiro momento é o momento do
contato com o gênero. É importante que o professor leve para a sala de aula não os
recortes, mas os textos nos seus devidos suportes (jornais, revistas, etc.). Assim, os
alunos já tenham noção da esfera social a que pertencem os textos que lerão, pois,
“a identificação do gênero é um dado valioso para a interpretação do texto”
(BAKHTIN, 1953/1997) e permitem a construção do intertexto, onde estão os
conhecimentos prévios sobre o gênero.
Neste momento, trabalha-se a capacidade de ação. Com a leitura dos
artigos de opinião, vão sendo construídas as idéias de que esses gêneros são
produzidos com a intenção de defender uma opinião acerca de alguma questão
polêmica ou de relevância social e que são basicamente estruturados sobre
argumentos.
Um texto bem interessante (claro, dentre muitos outros) de linguagem
acessível e com uma discussão bem envolvente, principalmente para a idade dos
alunos aos quais está voltada a atividade, é o artigo “Abolir celular pode ser o
primeiro acordo do ano” (Folha de São Paulo, São Paulo, 5 fev. 2004. Folha
Equilíbrio, p. 9), de Rosely Sayão, onde a autora defende a opinião de que escola
não é lugar adequado para levar telefone celular.
Concluído o momento da observação dos modelos, da estrutura, da forma,
da esfera de circulação e dos suportes dos artigos de opinião, os alunos são
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encorajados a escrever seus próprios artigos, supondo, por exemplo, que seus
textos serão publicados num jornal de circulação na cidade ou até mesmo realmente
publicá-los à comunidade escolar num jornalzinho da turma ou num mural-jornal.
O momento seguinte é o da construção textual, da produção dirigida, onde
se trabalham as capacidades discursiva e lingüístico-discursiva, ou seja, os
elementos necessários à formação de um produtor de textos competente:
planejamento, controle do que está escrito, revisão, entre outros.
Pode-se iniciar a produção dos textos com uma questão polêmica do tipo “o
uso do uniforme escolar deve ser obrigatório?”. A partir daí, os alunos são
orientados a levantar opiniões junto à comunidade (alunos, professores, pais de
alunos, administradores e coordenadores escolares, etc.) para conhecer as
diferentes opiniões com o objetivo de embasar a própria e defendê-la.
Após os alunos terem assumido uma posição em relação à questão
proposta, inicia-se a elaboração dos artigos. Eis, aí, um bom motivo para se
trabalhar a gramática, pois surgirão dificuldades relacionadas à coerência textual, à
partição de palavras no final da margem, às concordâncias verbal e nominal,
elementos exigidos de um texto que será publicado, principalmente no ambiente
formal que possui um jornal.
Textos estruturados, é hora de avaliá-los. O aluno precisa analisar se sua
posição está claramente definida, se sua opinião se baseia em argumentos
convincentes e se seu texto provoca no leitor a reflexão sobre o assunto e uma
postura diante dele. Se as respostas a essas questões não forem plenamente
satisfatórias, é importante que se promova a refacção, outro momento importante da
construção de textos, pois é coerente que não se apontem as falhas simplesmente,
mas, acima de tudo, que se apontem horizontes de fluência para os textos.
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Superada a fase de reconstrução dos textos, segue-se a publicação dos artigos,
conforme o definido no planejamento.