O documento discute a importância dos padrões de trabalho para a filosofia lean e melhoria contínua. Defende que padrões de trabalho fornecem previsibilidade, retém conhecimento na empresa e evitam reinvenção desnecessária. Também argumenta que padrões não são incompatíveis com criatividade quando revistos periodicamente e que disciplina e rotinas podem promover inovação.

1. Apesar de ainda ser um aprendiz, já aplico e ensino lean há vários anos... e cada vez mais reconheço que
um dos pilares mais importantes desta filosofia é o trabalho padrão (work standard). O Sr Taiichi Ohno
costumava dizer que o trabalho padrão é a base da melhoria contínua. De facto, faz todo o sentido pensar
assim porque não há edifício lean que se mantenha se os padrões não forem por todos respeitados.
Pessoalmente, acredito mesmo que os países que estabelecem padrões (ou normas) e que as seguem são
aqueles me exibem melhores níveis de desenvolvimento económico e social, são aqueles que melhor se
defendem da aleatoriedade ou do imprevisto.
É difícil encontrar desvantagens para a criação de padrões de trabalho. É graças a eles que tudo se torna
previsível. Com padrões o conhecimento fica retido na empresa e disponibilizado a todos os colaboradores.
Com padrões não há necessidade de "(re)inventar a roda". Padrões são uma enorme segurança para quem
executa e para quem gere. A padronização (e a redução da variabilidade, ou mura) é um meio para
melhorar o desempenho do trabalho, das organizações e das nações, não uma tentativa de desumanização
do trabalho.
Contudo, muitos poderão pensar que os padrões visam criar autómatos, transformar pessoas em meros
executantes ou robots. Nada disso, os padrões não são eternos, podem e devem ser revistos/actualizados.
A adopção de padrões não pode ser entendida como uma ameaça aos processos criativos e inovadores.
Volto de novo ao legado deixado por Deming:
"a padronização não significa que temos de usar todos as mesmas roupas e
comermos todos as mesmas sandwiches, ou vivermos em apartamentos
padronizados e com o mesmo mobiliário. É possível criarmos infinitos modelos de
casas com tijolos padronizados, com placas de soalho padrão e com tubagens e
acessórios com dimensões standard."
Ainda sobre a criatividade, alguém ligado às artes performativas dizia, e com razão, "o improviso dá muito
trabalho". Tem decerto, e agora digo-o eu, muito trabalho de casa, muita disciplina e rotinas (Miles
Davis não era excepção). Padrões e criatividade não são incompatíveis. A criatividade e a inovação podem
ser promovidas através de hábitos (rotinas) disciplinados.
A ideia é simples: variedade sim, variação (mura) não. Variedade é ter possibilidade de escolha, ie, cada
um ter um carro ou uma roupa diferente. Variação é um efeito nefasto que se manifesta entre modelos que
deveriam ser iguais e que pode ser eliminada pela criação e adopção de padrões de trabalho.
João Paulo Pinto, 2015 Nov 03 © www.cltservices.net